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28 Capítulo 03 Necromaquiagem NECROMAQUIAGEM A palavra “necro” vem do grego nekrós que exprime a noção de morte ou cadáver. Daí surge a palavra necromaquiagem que significa maquiagem em cadáver. A necromaquiagem é um conjunto de técnicas de estética e maquiagem utilizada para dar aparência saudável a pessoas falecidas. Utilizam-se maquiagens convencionais e antes dela algumas técnicas de Reparação Facial para disfarçar rupturas cutâneas, edemas, etc. Além de ser uma arte, este procedimento é feito para que os entes queridos vejam o falecido como eles o conheciam, com uma pele bonita e aparentemente saudável. O cadáver precisa ter a melhor imagem possível deixando assim a família um pouco mais confortável com a situação. A ocasião solene pede uma necromaquiagem discreta, para deixar a aparência saudável e bem cuidada. Dependendo do pedido dos entes pode-se fazer uma necromaquiagem aperfeiçoada, com cores mais vivas ou vibrantes, isto varia de acordo com a característica da pessoa. Não podemos alterar a imagem, ela tem que ser mostrada como era em vida, para que as pessoas a conheçam. Portanto, se ela usava cores fortes nos olhos e lábios, que seja feito de acordo como era. O objetivo não é alterar nada nem para melhor, nem para pior, e sim resgatar a aparência verdadeira. Qualquer trabalho feito em um cadáver é chamado NECRO, e por isto, não existe maquiagem em cadáveres e sim necromaquiagem. Para atuar nessa área é preciso conhecer princípios básicos de maquiagem tradicional além de técnicas específicas. Algumas pessoas morrem 29 depois de um longo tempo de internação hospitalar ou mesmo em um acidente que deforma partes do rosto. Em caso de morte violenta e desfiguração, é indicado conciliar a Necromaquiagem com a Reparação Facial para ser possível restaurar a forma e ficar como era em vida. Uma regra que deve ser seguida é não mudar as características físicas do morto, se a pessoa tem um nariz grande, não pode ser reduzido através das técnicas ou se há uma pinta no rosto, não poderá ser escondida. Profissionais que atuam com Necromaquiagem são chamados Necromaquiadores. Este profissional pode atuar por conta própria ou em funerárias, cemitérios, necrotérios, entre outros. A profissão de necromaquiador causa muita curiosidade nas pessoas. Se tornou ao longo do tempo uma profissão muito procurada para ser exercida por causar admiração, pois é uma profissão que transforma, devolve a identidade de um ser humano e é essa profissão que faz com que traumas psicológicos possam ser evitados, ameniza a dor e o sofrimento dos familiares. Essa profissão que ajudou a quebrar tabus de que a morte é uma coisa feia, macabra, tema de filme de terror e de que as pessoas que vão ao velório não dormem a noite, pois a pessoa falecida causa medo e perturbações por causa de sua aparência. A HISTÓRIA DA MAQUIAGEM A maquiagem é um adereço indispensável para muitas mulheres, utilizada em ocasiões como festas, cerimônias e também no dia a dia. Muitos cosméticos, além da função estética, protegem, hidratam e nutrem a pele porque muitos possuem em suas composições: minerais, vitaminas, hidratantes e filtro solar. Essa popularidade vem do Egito Antigo, época dos faraós, quando a maquiagem era utilizada principalmente por estética. Os olhos maquiados eram muito valorizados, pois dessa forma, não se olhava direto para o deus sol. Cleópatra, símbolo de beleza da época, lançou moda com seus banhos de leite e tratamentos com argila. A pele branca era o ideal de toda mulher, ela utilizava também uma tintura azul no colo e rosto, para dar aspecto translúcido. A necessidade da beleza fez com que os gregos e romanos também fizessem o uso de artifícios para se sentirem mais belos. Com a queda do Império Romano a maquiagem perdeu sua força, pois era relacionada com o comportamento. No século XVIII foi associada à bruxaria e às prostitutas, na tentativa de acabar com o costume na Inglaterra. No século XX surgiu o batom e virou febre entre as mulheres nos anos 30, que começavam a sair para trabalhar e ficavam mais independentes, desenvolvendo o gosto pela maquiagem. A moda se tornou aceita rapidamente devido à influência da mídia e por ser ditada por grandes 30 atrizes de cinema, como Marylin Monroe. Os produtos utilizados pelos povos antigos atravessaram os tempos dando origem aos nossos cosméticos de hoje, como o rímel, delineador, blush, batom, etc. A moda permanece e a indústria da maquiagem cresce dia após dia e com ela as pesquisas, fazendo com que novos produtos cheguem ao mercado cada vez mais rápido. As mulheres hoje não dispensam mais o uso da maquiagem, seja uma básica ou uma produção mais elaborada, todas utilizam pelo menos um item de maquiagem. Gastam seu tempo e seu dinheiro com esse item que já não é mais considerado apenas estético pois se tornou um cuidado básico pessoal necessário. Mas esse não é mais um privilégio feminino, homens estão aderindo cada vez mais. A maioria opta por produtos básicos para disfarçar imperfeições ou tirar o brilho do rosto, como corretivos e pós. Na Europa já existem indústrias cosméticas específicas para homens e é um mercado que tende a crescer. Isso é mais um sinal que a maquiagem, que é um item tão importante para mulheres de todas as idades, está prestes a dominar o mundo masculino também. 1.2 A MAQUIAGEM NO BRASIL Segundo pesquisas feitas no Brasil, referente à venda de cosméticos no ano de 2010, o Brasil já representava cerca de 53% de venda de cosméticos, ficando em 3º lugar em mercado consumidor do mundo, perdendo para índia e China. Em 2011, o Brasil ocupou o 2º lugar, perdendo apenas para os Estados Unidos. Hoje, as mulheres incluem os gastos com salão de beleza em seu orçamento mensal, no mínimo é gasto em torno de R$ 80,00 (oitenta reais) com corte de cabelos, escova, tintura e maquiagens. As visitas ao salão de beleza são regulares e elas ainda adquirem outros produtos dentro do próprio salão, por exemplo, um xampu que foi aplicado no salão e deu um resultado bom, já é forte candidato a ser levado para casa e usado e no dia a dia. E assim vemos vários salões de beleza com prateleiras cheias, com estoque de produtos e com um detalhe: custam bem mais caro que os produtos vendidos em lojas de cosméticos, pois são considerados de nível profissional e quase sempre possuem a mesma composição de produtos que são mais em conta. Pesquisas realizadas em 2012 apontam que se uma família sofre uma crise financeira, como um desemprego, o primeiro gasto a ser cortado seria o gasto com lazer, bares e restaurantes. Se não houvesse solução, então cortariam o custo com salões de beleza e/ou investimentos com a aparência. Isso nos mostra o quanto a aparência é importante, já não é mais considerada como coisa supérflua, tornou-se um gasto 31 necessário, um investimento indispensável. A maioria da população feminina é independente, tem seu próprio trabalho e por serem profissionais que lidam com o público, ou que estão em contato constante com outras pessoas, necessitam estar com boa aparência, visto que é um fator que influencia na contratação de um funcionário para uma empresa. Através desses dados e pesquisas, torna- se evidente que as pessoas investem muito em aparência e higiene pessoal. Quando ocorre a morte, a pessoa já não pode mais escolher ou expressar desejos, outros escolhem por ela e na maioria das vezes julgam sem importância, pois não estão dispostos a pagar pelo trabalho de um profissional qualificado para que a última imagem seja semelhante àquela de quando a pessoa estava viva e feliz. Com certeza se a pessoa pudesse escolher, seu desejo seria de que ninguém a visse na sua última despedida com meu cheiro, desarrumada ou pálida e que não sentissem nojo ou causasse medo nas pessoas, má impressão ou pensamentos negativosreferentes à família dela por não terem se preocupado, deixando-a acabar assim. São apenas três eventos importantes ao longo de uma vida humana: o primeiro é o nascimento, onde pessoas visitam o bebê, dão as boas vindas, mimam, elogiam, dão presentes, pegam no colo, fazem chá para confraternizar e apresentar a criança à população. O segundo é o casamento, um evento onde a noiva pode saber muito bem se maquiar e se arrumar, porém, neste dia tão especial e para que esteja bela neste dia tão marcante, ela inclui esses gastos no orçamento do casamento. E por fim, a morte, onde todos vem se despedir e ocorre o momento do desapego, onde será a última vez que uma mãe, uma irmã, um pai, os amigos e familiares poderão beijar e abraçar aquele ser amado, prestarão homenagens, e mostrarão à população que ali é a única e última oportunidade de dizer adeus. A última despedida deve ser calorosa, com demonstrações de afeto e a pessoa falecida deve ser vista como uma vitrine pois sua imagem será a última a ficar na memória dos entes queridos. Este é um trabalho para pessoas atualizadas e capacitadas profissionalmente. Funerárias ou agentes com pensamentos ultrapassados de que isto não é necessário não estão acompanhando o mercado brasileiro, porque fazer só o básico, que seria o tamponamento, a tanatopraxia, a reconstrução facial e a necromaquiagem, não está mais nos planos do brasileiro, o qual está cada vez mais exigente. No velório é onde se mostra o serviço funerário, porque profissionais como esteticistas, cabeleireiros e maquiadores não estão preparados para fazer esse trabalho em pessoas mortas tão bem quanto o fazem nos vivos, até porque é necessário amar a profissão e ter uma base psicológica que não seja afetada, além de produtos 32 que podem ser parecidos no uso, mas na pessoa falecida é muito diferente, existe o empecilho de um corpo entrando em processo de decomposição, pele morta que necessita ser tratada com técnicas adequadas, pois se não, os cosméticos não proporcionarão o efeito esperado, devido à falta de calor e a textura diferenciada. MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A NECROMAQUIAGEM PINCÉIS O segredo de uma perfeita maquiagem não está somente na escolha de bons produtos, e cores compatíveis, mas também na escolha dos pínceis. Além de causar um efeito aveludado, os pincéis na maquiagem garantem perfeição no acabamento, seja nos olhos, na boca ou nas maçãs do rosto além de proporcionar uma maquiagem durável. Um maquiador profissional chega a trabalhar com no mínimo 12 pincéis diferentes, os modelos de pincéis são muitos, e no caso da Necromaquiagem não é necessário ter todos, como são de preço caro podemos ter pelo menos quatro unidades que são as mais importantes: para o pó facial, para o blush, para a sombra e para o batom. Somente estes já facilitarão muito o trabalho do necromaquiador. A limpeza destes pincéis é fundamental para sua conservação. Podemos lavar normalmente com xampu de cabelos ou sabonete líquido e deixar secar naturalmente antes do próximo uso. Não aplicamos base líquida e nem corretivos na pele com pincel, pois faz endurecer as cerdas, caso venha a ser utilizado ele deve ser lavado, higienizado imediatamente após o uso para que não venha a danificar e endurecer as cerdas. LIMPEZA DE PELE A limpeza de pele é um procedimento inicial em Necromaquiagem, é essencial para um 33 procedimento bem-sucedido. O objetivo desta limpeza é fazer a assepsia da pele, ou seja, retirar profundamente todos os produtos ou resíduos da pele (oleosidade, sangue, secreção, etc...) Para que os cosméticos fixem facilmente e não haja bactérias exteriores, para que também consigamos um acabamento perfeito e livre de impurezas. O demaquilante é um produto ideal para fazer esta assepsia. Demaquilante é um produto usado para retirar resíduos de cosméticos da pele, visto que ele limpa profundamente os poros, mesmo após ter a pele lavada com água e sabão é extremamente importante utilizar o demaquilante porque a lavagem convencional não consegue o mesmo efeito. Antes de iniciarmos a Necromaquiagem é essencial que a pele esteja bem limpa e completamente seca. HIDRATAÇÃO FACIAL O segredo da Necromaquiagem está no uso do creme hidratante facial, não pode ser creme corporal pois ele tem uma oleosidade maior, já o creme facial tem a quantia necessária de oleosidade para hidratar em específico a pele do rosto. A pele morta já não tem mais a mesma aderência, já não há mais calor e nem é fácil de deslizar sobre a pele os cosméticos que possuímos, afinal estes cosméticos foram feitos para agir em pele de pessoas vivas. Após a assepsia da pele, é fundamental usarmos um creme hidratante que vai ter como função deixar a pele hidratada e formar uma camada deslizante, onde facilitará a aderência dos demais produtos que serão utilizados no procedimento. Por isso o sucesso de uma Necromaquiagem está na hidratação da face. CORRETIVO FACIAL 34 O corretivo, como seu próprio nome diz, serve para corrigir os defeitos da pele, como manchas, olheiras, espinhas, sinais, cicatrizes, entre outros. Convém lembrar mais uma vez que na necromaquiagem não se esconde manchas de nascença, cicatrizes antigas da pessoa, pintas e outros, pois, na necromaquiagem temos que deixar a pessoa falecida com a feição que as pessoas a conheciam em vida. Este corretivo em bastão simples, já é feito em forma de batom para facilitar a aplicação, aplicaremos ele diretamente na pele, sem o uso do pincel. Usaremos o corretivo comum para neutralizar hematomas e manchas. Para cada tipo de pele existe uma cor de corretivo deve-se avaliar o tom da pele da pessoa para aplicar o corretivo equivalente corretamente. Sempre estão divididos em pele clara, morena ou negra e seus vários tons de cada uma. Cabe ao profissional treinado saber diferenciar o tom a ser usado. No mínimo o profissional necromaquiador precisa ter 5 tons diferentes, do mais claro ao mais escuto, caso seja necessário um meio tom é possível misturar cores e aproximar do tom desejado. BASE LÍQUIDA A base serve para deixar sua pele de cor uniforme, caso haja imperfeições, ela prepara a pele para receber o pó compacto e fixá-lo, tornando a pele uniforme e escondendo pequenas imperfeições, por exemplo, uma manchinha. DUO CAKE O duo cake nada mais é que um produto 2 em 1, pó e base cremosa compactados juntos em um só produto, que dá praticamente o mesmo efeito só que ajuda na economia do tempo. Caso haja necessidade, pode se utilizar um outro pó compacto sobre o duo cake para cobrir melhor 35 alguma imperfeição. PÓ COMPACTO Tem a finalidade de completar a base e ajuda a uniformizar a pele, além de controlar o brilho da pele, tornando-a mais aveludada e prolongando a duração da maquiagem. A escolha da cor é fundamental para ficar perfeita. PÓ FACIAL O pó fácil deve ser usado no mesmo tom da base, que são os chamados “translúcidos”, a diferença entre pó fácil e pó compacto está no que o pó facial dá certa transparência na pele, não altera a cor natural da face, ele é aplicado com esponja, ao contrário do pó compacto que facilmente se aplica com pincel. Para a necromaquiagem o ideal a ser utilizado é o pó compacto, pela fácil aplicação e melhor cobertura das imperfeições. PANCAKE O pancake é uma mistura também de pó e base, 2 em 1, que dá como acabamento uma pele uniformizada. Ele é mais utilizado em peles morenas à negras e é o único produto corretivo a 36 base de água. Usa-se de uma esponja úmida para a aplicação do mesmo. LÁPIS O lápis é usado simplesmente para corrigir algumas falhas e imperfeições nas sobrancelhas. BLUSH Com o blush deve-se ter o cuidado de utilizá-lo em pequenas quantidades nas maçãs do rosto e se desejar nas pálpebras, para causar um efeito bem natural e saudável. Deve-se tomarcuidado para que a pessoa não fique com o efeito “palhaço” e sua melhor forma, para aplicação na necromaquiagem é a compacta e não em creme. BATOM CREMOSO Jamais utilize batons cintilantes ou de cores fortes. Os melhores tons para este tipo de maquiagem são os cremosos e de cor clara, mas, o ideal mesmo é o famoso “cor-de-boca”. 37 BRILHO LABIAL “ROLL-ON” Este pode ser usado tanto na mulher quanto no homem, ele apenas dá um efeito molhado dando brilho aos lábios. O roll-on facilita a sua aplicação, mas caso opte por um cremoso, a aplicação poderá ser feita com um pincel e no caso dos homens, pode-se utilizar manteiga de cacau como substituição. OBJETIVO: Dar ao cadáver uma aparência saudável. Amenizar imperfeições, corrigir marcas causadas por acidentes, suturas e possíveis hematomas. Esta técnica visa aproximar a aparência da pessoa falecida a sua condição natural, reduzindo efeitos da idade e marcas de enfermidades e acidentes, permitindo uma última apresentação confortante à família e amigos. ÉTICA PROFISSIONAL O trabalho do necromaquiador é feito para os familiares, respeito e consideração são fundamentais. O profissional desta área deve tratar o corpo como gostaria de ser tratado, ou como gostaria que tratassem em ente querido seu. 38 EPI Luvas de procedimento Touca descartável Máscara Avental * Para o trabalho em IML é exigido Carteira de Vacinação em dia. MATERIAIS: Pincéis Esponjas Cotonetes Lenços de Papel Toalha descartável Gaze Tesoura Lâmina de Barbear Pinças Agulha e Linha Cola Algodão Álcool Massa Moldável Hidratante em gel Corretivos Base Pancake Panstick Pó Compacto Sombras Lápis de Olhos Lápis de Sobrancelha Máscara de Cílios Cílios Postiços Lápis de Boca Batom Blush Pente/Escova Spray Fixador Gel Lixa de Unha Palito de Unha Acetona Base/Esmalte 39 TEORIA DA COR 40 VARIAÇÕES DE HEMATOMAS: PROCEDIMENTOS O Tamponamento é o primeiro procedimento a ser tomado. Se o mesmo não estiver bem feito, 41 deverá ser totalmente refeito. Qualquer vazamento que venha ter ao longo do velório, causará danos às técnicas de necromaquiagem. FECHAMENTO DE OLHOS Esta técnica visa garantir que olhos semi-abertos ou abertos fiquem fechados. FECHAMENTO DA BOCA Garante o fechamento da boca, evitando impressão desagradável durante o velório. Sutura. HIGIENIZAÇÃO DA PELE Remove resíduos de sangue e vazamento. Com algodão embebido no álcool, passar por toda extensão do rosto, pescoço e orelhas. SOBRANCELHAS Verificar se estas estão devidamente depiladas e se os fios estão no comprimento adequado. Quando houver necessidade, depilar os fios sobressalentes e cortar os que estão fora do comprimento normal. Pentear e se necessário passar rímel incolor para fixação dos fios. Se houver falha, preencher delicadamente dando fundo a sobrancelha. BARBA Fazer o uso da Lâmina de barbear quando for necessário. Passar de cima para baixo e vice- versa. 42 HEMATOMAS: Usar o corretivo na cor oposta. SUTURAS: Cobrir com massa moldável e nivelar à pele. TIRO: Fazer preenchimento com algodão, deixando um pouco mais baixo que o nível da pele e preencher com massa moldável, nivelar à pele. 43 FERIMENTOS: Se houver corte aberto, dependendo da profundidade e abertura, suturar. Se for raso, secar bem e colar. Cobrir com massa moldável. TRAUMAS: Em caso de traumas, temos várias classificações. Quando for trauma muito grande, o ideal é ter conhecimento em Reconstrução facial, pois, sem o conhecimento profundo das técnicas pode acarretar em problemas no velório. 44 UNIFORMIZAÇÃO DA PELE O primeiro passo é verificar a tonalidade da pele para escolha correta da cor da base a ser utilizada. Aplicar uma quantidade da base no dorso da mão para depois trabalhar com esponja ou pincel. Espalhar bem a base no rosto, pescoço e orelhas de forma que fique bem uniforme. Após o uso da base, passar o pó facial (cor adequada à pele). Também com o uso da esponja, passar o pó facial espalhando uniformemente. Para conferir o acúmulo de resíduos indesejáveis, passar um pincel (grosso) como se estivesse espanando. Para uma duração longa, no caso de velório mais prolongado ou translado, usar o pancake no lugar da base. O uso do pancake é feito com esponja úmida. É preciso muito cuidado para o uso do pancake, pois ele deixa marcas se não for manuseado corretamente. LUZ E SOMBRA Luz - Aproxima, aumenta - Sombra - Afasta, diminui 45 SOMBRA Como o objetivo é deixar o falecido com aparência natural, iremos sempre trabalhar com cores neutras e suaves. Não é recomendado o uso de cores fortes e cintilantes. Nos cantos internos dos olhos e abaixo das sobrancelhas, trabalhar com sombra clara. A partir da parte central da pálpebra, aplicar a cor desejada e finalizar nos cantos externos com a cor mais escura. Trabalhar sempre esfumaçando a sobreposição das cores para não deixar marcas. As cores serão utilizadas somente no côncavo dos olhos. A máscara deve ser aplicada nos cílios sem deixar acúmulo. Geralmente será utilizado a máscara incolor para efeito natural. BLUSH O blush deve ser aplicado na região que fica corada naturalmente. Para esfumaçar a cor, fazer movimentos circulares sobre a pele. BATOM O batom deve ser aplicado naturalmente sobre os lábios. Evite cores fortes. A melhor escolha é cor tom boca. CABELOS É comum que os cabelos sejam penteados para trás. Para garantir que fiquem alinhados, passar spray ou gel. MÃOS Tudo que tiver exposto deve receber atenção. EX: Se houver hematomas nas mãos, proceder com a técnica para cobertura. Pode-se oferecer cuidados com as unhas. 46 NECROMAQUIAGEM passo a passo É a técnica a ser usada para cobrir as imperfeições, marcas de acidentes, violências, e feições mórbidas. Avalie o aspecto facial: Separe os materiais que irá utilizar e as cores de acordo com a tonalidade da pele Faça a limpeza da pele com o demaquilante, caso não o tenha, poderá ser substituído por algum produto de loção de limpeza do tipo leite de rosas, leite de colônia e etc. 47 Aplique o produto com o algodão no rosto todo, até pescoço e se necessário colo, a fim de limpar e tirar resíduos, sujeiras ou secreções, tendo uma pele completamente limpa e preparada para receber o próximo passo. Aplique um creme hidratante facial por todo o rosto, a pele de uma pessoa sem vida, fica ressecada, a maquiagem pode não fixar bem, dando aspecto indesejado! Avalie as sobrancelhas, sendo que elas são fundamentais na simetria do rosto, para uma maquiagem perfeita, as sobrancelhas devem estar bem feitas, no mínimo os resíduos de pelos que cresceram recentemente devem ser retirados, com todo cuidado para não afiná- la, trazendo o aspecto de higiene e cuidado pessoal da pessoa, como era quando em vida. 48 Utilize uma pinça boa, pois desta forma os pelos serão retirados com precisão, sem beliscar a pele, e se não tiver prática, somente tire o excesso na parte inferior, nunca em cima! Aplique corretivo facial em bastão, apenas onde houver manchas, pequenos defeitos, criando uma camada neutralizadora, e lembre-se de não cobrir pintas e manchas de nascença. Aplique base líquida em quantidade suficiente para cobrir com uma camada leve a pele nos pontos principais, nariz, bochecha, testa e queixo e espalhe bem com as mãos até que a pele esteja uniforme. Não se esqueça da testa onde se inicia o cabelo, deve ser bem aplicado para que não fiquem marcas e tons diferentes. Aplique o pó compacto da cor da pele, uniformemente, inclusivenas pálpebras, queixo e pescoço, se necessário, caso não tenha a cor correta, pode ser improvisado usando um tom a menos NUNCA um tom a mais. 49 Dê sempre preferência ao blush em pó, pois em creme é mais difícil de espalhar e manusear, aplique na maça do rosto, e não exatamente na bochecha, aplique bem de leve para que não fique muito vermelho, temos que dar aspecto “corado”, “sadio”. Aplique um pouco de blush sobre as pálpebras também, bem de leve, para dar o aspecto de sadio. Para os olhos, escolhe uma sombra clara, não cintilante ou com gliter, dê preferência às cores simples como tons pastéis, marrons claros, use somente outras cores caso for à pedido dos familiares para combinar com a roupa ou acessórios, ou por ser a cor preferida da pessoa, etc. Comece aplicando bem rente aos cílios, e vá esfumaçando com o pincel, clareando mais a cima perto da sobrancelha. As falhas que houver corrija-as com um lápis ou sombra opaca na cor marrom claro. Ajeite as 50 sobrancelhas com um rímel incolor, penteie-as para que fiquem consideravelmente perfeitas e aplique o rímel incolor também nos cílios para que fiquem com aspecto natural e não carregado como seria com o rímel escuro, e para que qualquer vestígio de sombra, base ou pó que tenha ficado neles seja retirado. Aplique batom nos lábios com pincel, para que obtenha uma cobertura completa. Escolha uma cor mais próxima ou cor de boca. O ideal seria utilizar um batom da própria pessoa, fazendo com que seu aspecto seja o mais próximo que a pessoa tinha em vida. Após o batom é importante o uso do brilho labial roll-on ou o gloss, ele fará com que os lábios não fiquem ressecados, tenha brilho e aspecto natural. Tenha atenção na escolha deste gloss, alguns contem gliter, são gosmentos ou cintilantes. Pode se misturar o batom com um pouquinho de hidratante facial e aplicar com o pincel de boca levemente ou com as pontas dos dedos. Dê preferência ao gloss e brilho labial transparente simples, pode-se utilizar manteiga de cacau em substituição e em homens. VEJA O RESULTADO FINAL: ANTES DEPOIS 51 Aspecto pálido, feio, mal cuidado Aspecto saudável e natura NECROMAQUIAGEM INFANTIL As pessoas não aceitam muito maquiagem em criança, mesmo em vida, quando é necessário fazer para irem a alguma festa, meninas como damas de honra em casamentos, concursos de beleza infantil, modelo infantil, e mesmo assim ainda são usadas técnicas da maquiagem, de maneira bem simples e rápida, para não pesar muito no rosto e para não tirar a feição angelical da criança. Se os pais dificilmente aceitam maquiagem na criança quando em vida, a necromaquiagem será difícil também de ser aceita, caso não seja deixado bem claro que é uma técnica usada para reparar o rosto e para trazer a aparência saudável da criança, uma maquiagem quase transparente, sem nada carregado, apenas para corrigir defeitos na pele, manchar, olheiras e tornar confortável e menos doloroso o impacto de ver uma criança falecida, que por si só já é muito impactante. Por isso segue de maneira bem simples e clara, um passo a passo de necromaquiagem infantil, expondo o excelente resultado alcançado, querendo assim “quebrar tabus”, e mostrar que com profissionalidade o resultado alcançado é perfeito e a aceitação pelas famílias de tornará mais frequente devido à qualidade do trabalho e resultado final. PASSO A PASSO: Os passos da necromaquiagem infantil são os mesmo da necromaquiagem usada em um adulto, porém, vocês verão que é bem mais rápida e simples, pois alguns passos são cortados, devido à diferença e necessidades entre a pele de uma criança e a de um adulto. O primeiro passo é sempre analisar a aparência da face para separar os materiais que serão 52 utilizados. Logo após, iniciamos a limpeza facial. Nesta criança foi feita a assepsia com o produto Leite de Colônia, que pode ser usado também no lugar do demaquilante, pois limpa profundamente a pele além de deixar um cheio bem agradável. Faça a limpeza passando o produto com algodão até notar que não saia mais impurezas no algodão. E após, aplique um creme hidratante facial, também com algodão em movimentos circulares para que a pele absorva bem. Depois aplique apenas o pó compacto facial, no tom da pele, com um pincel largo, distribuindo bem. Caso haja necessidade, aplique antes o corretivo, apenas no local a ser corrigido, não há necessidade de usar base em creme, apenas o pó já ajuda e não deixa carregado. Aplique sempre enfatizando a zona T da face que são a testa, nariz e queixo. Aplique um blush em pó, nunca o cremoso. Nesta criança está sendo usado o tom rosado, se for uma criança de pele mais morena, utilize sempre um tom vermelho. Aplique nas maças do 53 rosto, bem de leve, e também com o mesmo pincel das pálpebras. Com outro pincel corrija o Blush nas pálpebras, da mesma maneira que se aplica a sombra, bem de leve para apenas dar um aspecto corado. Passe um batom cor de boca, ou no máximo rosa claro, bem de leve para que não fique artificial. Contorne os lábios com o próprio batom, da mesma maneira que se contorna com o lápis labial e aplique o gloss incolor para dar o acabamento. 54 Aplique o rímel incolor nos cílios, penteando-os bem. VEJA O RESULTADO FINAL ANTES DEPOIS CUIDADOS PARA GARANTIR UM BOM TRABALHO: ✓ É imprescindível alguns cuidados na hora de executar o serviço: ✓ Respeitar informação dada pelos familiares. ✓ Atenção aos detalhes. ✓ Atenção ao manusear o material em cima do corpo. ✓ Proteção do corpo , urna e ornamentação. ✓ Ao finalizar, verificar aos pés 55 Capítulo 04 A evolução no processo de embalsamento Resumo A Tanatopraxia chegou ao Brasil no ano de 1994, inspirado por técnicas de tratamento de corpos de autoridades que recebiam especial atenção para seus longos velórios e sepultamentos. A civilização do Egito Antigo surpreende o mundo até os dias atuais com a tecnologia aplicada nos processos de mumificação, pois se acreditava que os faraós após a morte se tornariam deuses e viveriam a imortalidade. No decorrer da evolução da humanidade foram quebrando inúmeros tabus no que diz respeito ao tratamento a ser dado aos corpos dos defuntos. Eis que o embalsamento veio a substituir o processo de mumificação, e atualmente, muitas técnicas ainda são discutidas, por exemplo destacamos as faculdades de medicina no Brasil que na conservação das peças anatômicas utilizam o formaldeído ou a glicerização. Quanto a preparação dos corpos, para velórios e sepulta- mentos, a tanatopraxia e a tanatoestética hão de ocupar cada vez mais espaços de destaque e dominar mercados no Brasil e no Mundo no que diz respeito a “mercantilização da morte”. Em nosso país a atividade de tanatopraxista está inserida entre as funções dos agentes funerários, uma realidade que merece ser avaliada diante das complexas técnicas da tanatopraxia e da tanatoestética. Objetivo O presente estudo objetiva apresentar a técnica de tanatopraxia como um processo evolutivo do já consagrado embalsamento praticado pela humanidade desde a antiguidade. Por meio desse estudo, esperamos poder fornecer aos nossos docentes e instrutores mais uma poderosa fonte de conhecimento para o desenvolvimento das atividades propostas por nosso curso e, também, possibilitar a pesquisadores e estudantes para a consulta técnica, desde que, respeitando-se os princípios éticos e morais, seja citada a fonte. Introdução Para entender o processo de tanatopraxia, se faz necessário ter o entendi- mento do milenar processo de embalsa- mento praticado pelos povos na antigui- dade e medieval. Aqui iniciamos nossas buscas a partir do Antigo Egito. Osíris era o deus mais popular, pois simbolizava o próprio Nilo e seu nome estava ligado a uma lenda queconta que seu irmão, Set, o assassinou e o cortou em pedaços. Depois, Isis, mulher de Osíris, carinhosamente conseguiu reunir cada parte do corpo do esposo e as enfaixou. Assim, Osíris voltou à vida, mas foi afastado do mundo terreno e passou a habitar a morada dos deuses, onde os mortos eram julgados de acordo com a vida que levavam na Terra. 56 A crença em uma vida depois da morte e a formação da alma entre os egípcios explicou o costume do embalsamento dos cadáveres. O povo no antigo Egito acreditava que o homem possuía duas almas, Ba e Ka. A segunda alma era o elo com o corpo, podendo entrar em estágio de decomposição. Para evitar o sofrimento ou a destruição do Ka, era costume o embalsamento dos cada- veres. Depois de todo o processo de embalsamento, a múmia era colocada em um sarcófago, ao lado do qual eram depositados objetos pessoais do morto e estatuetas que o simbolizavam. As múmias egípcias foram e ainda continuam sendo mistério para muitos antropólogos e arqueólogos. Elas são famosas pelo fato de, depois de milênios, muitas delas, ainda se encontrarem de forma quase perfeita. No período pré-dinástico da história egípcia, aproximadamente 3.100 anos a.C., eles "enterravam seus mortos geralmente desnudos e sem qualquer prática de mumificação, em fossas superficiais cavadas nas areias do deserto, em posição fetal, com a cabeça na direção sul e a face voltada para o ocidente". A conservação de alguns corpos aconteciam de maneira natural, um conjunto de fatores contribuíam para isso: a areia quente e seca do deserto, que desidratava o corpo; a falta de contato com o ar ambiente e a alta temperatura diurna do deserto; as baixas temperaturas noturnas, que contrastavam com as diurnas. Todos esses fatores serviam para conservar lentamente o corpo de forma natural. Ao ter contato com esses corpos naturalmente conservados, o povo alimentou a crença, que já tinham, na vida após a morte. Precisava, então, dominar uma técnica artificial de tratamento desse corpo para que pudesse melhor atingir seu objetivo. Segundo o historiador grego Heródoto, considerado o pai da história, os egípcios faziam uso de técnicas de diferentes métodos de preservação, que iria variar de acordo com a classe sócio- econômica do morto. Com o aumento do poder dos faraós no Egito, a mumificação tornou-se privilégio de poucos. Passou a ser destinada principalmente àqueles que seriam tornados deuses após a morte. A cada cidadão seria dado um tratamento diferente de acordo com sua importância na organização deste império. Inicial- mente, realizavam-se procedimentos, que começavam três dias após a morte, exclusivamente para as pessoas ricas e poderosas. A família levava o corpo para os embalsamadores, que trabalhavam às margens do rio Nilo devido à grande necessidade de água, colocavam o corpo sobre uma mesa de pedra ou de madeira ou de pedra com detalhes de alabastro. Ao redor da grande mesa havia vasos menores para depositar os órgãos do morto. Em seguida, o corpo era lavado, e os órgãos internos retirados. Cada um deles era envolto em um pano de linho e colocado dentro de um dos quatro vasos sobre a proteção dos deuses chamados Filhos de Hórus, representados nas tampas destes recipientes. O único órgão interno que permanecia com o corpo era o coração, pois não se podia separar um do outro, uma vez que nele residiam os sentimentos, a consciência e a vida. O corpo era coberto com natrón, um tipo de sal que desidratava o corpo em mais ou menos 35 a 40 dias. As cavidades eram preenchidas com limo (qualquer alga, filamentosa ou não, que forme massas verdes na água doce) ou serrim (espécie de qualquer planta ou grão para alimentação do gado), secos e desidratados, provenientes do rio Nilo. O corpo era então costurado com linho ou placa de cera. Quando se tratava de um rei, uma chapa de ouro era utilizada para o fechamento de seu corpo. A múmia era lavada nas águas do Nilo, ungida com bálsamos aromáticos e vestida adéqua- damente. Em seguida, era envolta em tiras de linho impregnadas de resina (goma arábica). Um sacerdote vestindo uma máscara do deus Anúbis, num ritual secreto, recitava as fórmulas de encanta- mento adequado. Por fim, era posto um sarcófago dentro de outro e entregue aos familiares para se dar sequência ao ritual fúnebre. No 57 momento do funeral, a múmia e os jarros com seus órgãos eram levados do local do embalsamamento até a tumba, onde seriam sepultados. A demonstração de reverência das pessoas, geralmente, era o choro. Dentro da tumba ocorriam as cerimônias religiosas, preparando a pessoa para a outra vida, a vida eterna. Na Roma Antiga, os rituais fúnebres também estavam ligados a preocupação com a estética. O cadáver era lavado com água quente, perfumado e vestido com uma toga ornada com as insígnias de que o morto era possuidor. Por influência grega, era de costume colocar na boca do defunto uma moeda destinada ao pagamento do caronte, barqueiro de um dos rios do inferno. Após ficar exposto em um leito no átrio, onde seriam colocadas as flores e coroas, o morto era levado em ataúde aberto num cortejo acompanhado por flautistas, tocadores de trombetas e carpideiras, especialmente contratadas para chorar e fazer o elogio do finado. Em relação aos túmulos, percebe- se uma tendência à individualização das sepulturas. Era comum, desde a Roma Antiga, que cada pessoa tivesse um local de sepultura marcado por uma inscrição, inclusive os escravos. Isto significava o desejo de se conservar a identidade do túmulo e a memória do desaparecido. Porém, havia muita diferença entre o enterro do rico e o do pobre na Roma Antiga. Os pobres eram enterrados ou incinerados sem muitos ritos, mas, mesmo assim, havia as columbárias, sepulturas condignas construídas entre os associados. Já nos funerais dos ricos, primeiramente o cortejo se dirigia ao fórum, onde se fazia um discurso fúnebre (laudatio). Em algumas ocasiões era comum a máscara de cera, que representava o antepassado do morto. O cemitério situava-se fora dos muros da cidade, onde acontecia o sepultamento ou a incineração na própria tumba, na qual se depositava também objetos de uso pessoal e alimentos. Em seguida, era feito um banquete fúnebre, próximo à sepultura, iniciando para a família um rigoroso luto de nove dias (novena), sucedido de alguns sacrifícios de animais. Na tradição judaico-cristã as atitudes diante da morte revelam que a morte era considerada um trespasse, uma fase. A crença era a de que os mortos dormiam e que a morte na realidade seria um descanso. Esse sono seria despertado no dia bem aventurado da ressurreição da carne. Portanto, o cuidado com o corpo era de suma importância. Conforme podemos perceber na Bíblia sagrada: “Os vossos mortos e o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus mortos.” (Isaías, 26,19). Tendo em vista a idéia futura de uma ressurreição do corpo, era essencial que o corpo fosse sepultado ao invés de ser incinerado, prática mais comumente utilizada pelos bárbaros germânicos e por alguns romanos. A boa aparência do corpo também era essencial, pois esse mesmo corpo iria ressuscitar e precisava ser bem conservado. Foi essa a tradição herdada pela cristandade medieval. Apesar da invasão germânica sobre o mundo romano, não foi a pratica de incineração própria dos germanos indo- europeus que vingou no ocidente e sim a tradição judaico-cristã de enterramento. No século VI, cria-se um costume de se enterrar o defunto também nas igrejas e isso aproximou os mortos das cidades. Os sarcófagos de pedras muitas vezes possuíam, além do nome, um retrato do morto em seu momento de vida. Porém, com o tempo esse tipo de sepultura desapareceu e elas se tornam cada vez mais anônimas, devido ao enterroad sanctos, em que o defunto era abandonado na igreja onde ficaria até a ressurreição. Ao analisar os ossos humanos recuperados na antiga aldeia medieval britânica Wharram Percy, em North Yorshire antropólogos da Universidade de Southampton concluíram que entre os séculos XI e VIV os corpos dos mortos eram mutilados para 58 que não voltassem para importunar os vivos. Documentos da época ofereciam soluções para lidar com os mortos que poderiam querer vingar-se dos vivos, entre elas, decapitação e a fogueira. A mutilação deveria ocorrer pouco tempo após a morte, quando os ossos estavam ainda suaves ao corte. Os 147 pedaços de ossos analisados estavam enterrados em valas comuns, longe da igreja e do cemitério. Relacionando a importância dos velórios na Idade Média, percebemos que havia um grande medo de ser enterrado vivo. Vários reis e rainhas faziam apelos para que fossem apenas enterrados, ou que seu corpo fosse aberto para embalsamamento, vinte e quatro ou até quarenta e oito horas após o falecimento. Entre os séculos XV e XIX muitos escravos mortos nos navios negreiros eram simplesmente jogados ao mar. Durante o século XVIII, com o advento do Iluminismo, a sociedade começou a se influenciar por uma concepção extremamente racional e cética, levando a uma laicização da morte por pelo menos dois motivos básicos: por questão de economia, pois os rituais fúnebres (missa e funeral) custavam muito caro e, tomando por base uma visão racional e céptica, seriam considerados gastos desnecessários; e por questão de saúde, pois, por recomendações médicas, levavam-se em conta doenças que eram transmitidas por miasmas ou vapores provenientes do cadáver decomposto que causavam várias doenças endêmicas, sendo com isso necessária a mudança. Era preciso criar cemitérios extramurais, desvinculados das igrejas. Essa laicização da morte seria um dos motivos que fizeram com que os enterros passassem a ser feitos em cemitérios fora dos âmbitos urbanos. Após a revolução popular contra os cemitérios, na França, foi promovido um concurso pela Academia de Arquitetura Francesa de projetos sobre cerimônias e organização de cemitérios. Os projetistas em sua maioria criticaram o sistema tradicional de enterro e imaginaram cemitérios gramados e arborizados, cemitérios-jardim para serem visitados como lugar de tranquilidade e meditação, marcando um novo tipo de culto aos mortos. Por isso, precisaria de um ambiente que favorecesse essa nova imagem da morte, que a tornava sinônimo de descanso, de algo bom que aconteceu. A aparência do lugar onde os mortos descansariam também era muito importante, pois confirmava essa nova concepção humana de tratamento do morto como uma pessoa que descansaria em paz. O embalsamamento faz parte da evolução da chamada tanatopraxia. Nos Estados Unidos, os primeiros métodos de embalsamamento começaram no início do século XIX, nas escolas de medicina. Para servir como estudo, o corpo deveria permanecer mais tempo sem se decompor, pois isso prejudicava a análise e, consequentemente, o aprendizado. Em 1846, o Dr. Ellerslie Wallace, professor de Anatomia da Jefferson Medicai College, na Filadélfia, desenvolveu um produto químico composto por zinco e cloreto para preservação de matéria orgânica. Vale salientar que muitas dessas combinações possuíam venenos mortais como, por exemplo, o arsênico. Após a Guerra de Secessão (1861- 1865), nos Estados Unidos, o embal- samamento passou a ser muito utilizado pela indústria funerária crescente, mobilizando com isso a economia americana e desenvolvendo uma consciência profissional. Com essa evolução da técnica de embalsamar, surgiu a tanatopraxia, que podemos entender como uma técnica que consiste na conservação, higienização e restauração de cadáveres humanos. A técnica da tanatopraxia é um método utilizado mundialmente. Dessa forma, o procedimento utilizado no Brasil é igual ao que se utiliza na Europa ou 59 nos Estados Unidos, por exemplo. As formas de estabilizar ou retardar a decomposição de matéria orgânica existentes hoje são distintas, e cada uma tem característica específica cujos resultados são igualmente diferenciados. Este é, portanto, um método moderno e eficaz de conservação que utiliza líquidos conservantes com concentração máxima do formol em 8%, injetado através de máquinas apropriadas, com regulagem de pressão e vazão, através de artérias junto ao triângulo de escarpa ou carótida, podendo ser feito multiponto conforme a necessidade de cada caso. Em média se utilizam 8000 ml de líquido por corpo, ocorrendo a drenagem do sangue durante o processo de injeção. O cadáver fica com aparência saudável, coloração epidérmica rosada, sem marcas de livores mortis, ou seja, roxos nas extremidades e posterior abdominal. O tecido epidérmico ganha uma espécie de celulite, há ganho de massa muscular, ficando pernas e braços mais grossos e flexíveis, boca e olhos fechados, posição do corpo normalmente reto, abdome normal para negativo, devido à aspiração toraco-abdominal que retira sangue e gases. Após esse processo, que utiliza a abertura de orifício ao lado do processo xifóide (umbigo), ainda há a introdução de cerca de 500 ml de liquido conservante neste local. O tempo médio desse preparo é de 2 horas. A tanatopraxia chegou a Brasil no ano de 1994, e, é realizada em ambiente equipado apropriadamente (tanatório), desenvolvida por técnicos habilitados, chamados de tanatopraxistas, e especialmente treinados, inclusive em tanato- estética e necromaquiagem. A tanatoestética, ou seja, os cuidados dispensados ao cadáver para devolver sua cor e aparência natural, através de cosméticos e cuidados estéticos em geral, visando a sua melhor apresentação, tem tido uma grande aceitação em nossa sociedade contemporânea. Antes não era assim. A primeira brasileira (na verdade luso-brasileira) a ter maquiagem mortuária, que é um dos itens da tanato- estética, foi a cantora Carmen Miranda, em 1955, nos Estados Unidos, onde foi embalsamada, vestida e maquiada para ser sepultada no Brasil. Acontece que a maquiagem mortuária nos Estados Unidos já estava consolidada desde aquela época, era muito comum. Lá os rituais fúnebres são mais longos do que os brasileiros e a conservação do corpo e de uma boa fisionomia do morto exigiram que este segmento da maquiagem se desenvolvesse de maneira profissional. Os maquiadores americanos especializados usam técnicas de embalsamamento e de recomposição de pele em casos de acidente. Eles utilizam um jatinho aerógrafo de maquiagem, com massas e produtos, segundo o maquiador Ulisses Rabelo, que afirma nunca ter visto um trabalho desse tipo no Brasil, nem pessoas que o façam. Retomando a história do sepultamento de Carmem Miranda, ela não pôde ser enterrada maquiada, pois ao chegar ao Brasil, bem pintada, e usando batom e vestido vermelhos, o rosto da artista teve que ser de maquiado, por determinação do padre que encomendaria o corpo. Isso demonstra tanto o conservadorismo do nosso país nessa época como também a influência do catolicismo ao longo da história da morte. No Brasil, acontecia frequentemente, que o corpo saía do hospital com um tamponamento tradicional, que deveria ser feito de forma que os principais orifícios, nariz, boca e ânus, não vazassem sangue. Em seguida, o corpo era levado para a funerária, onde o defunto era vestido, ornamentado com flores e onde também era feita 60 uma limpeza superficial, geralmente de alguma mancha. Em geral, essa superficialidade no tratamento do cadáver implicava problemas devido ao fato de que o processo biológico de decomposição seria mais intenso e mais rápido. Então, como podemos perceber, o corpo não era entregue pronto para o velório à família pelo hospital, mas com um tratamento aparente, que os médicos chamam de "fazer o pacote". Na Indonésia, aindanos dias atuais, os corpos dos mortos são tratados a base de uma solução de formoldeído e água e nas casas de seus parentes permanecem por períodos que podem a ultrapassar a 1 ano. Discussão Falar sobre a morte geralmente implica desconforto, porque soa como se fosse um convite a pensarmos sobre nossa vida, quem somos, como nos constituímos. O fato de termos a consciência da finitude nos possibilita atribuir maior sentido à vida e ao tempo que ainda temos para aproveitá-la de forma plena. Porém, estar ciente desta condição pode ser muito angustiante e paralisar o sujeito diante da reflexão da sua própria existência (Câmara, 2011). A morte é considerada o último estágio do desenvolvimento humano e pode ser entendida como um evento biológico que encerra uma vida. Porém, pensá-la apenas por esta perspectiva, a partir da cessação dos batimentos cardíacos, resulta obsoleto. A morte é muito mais do que um fato biológico - é um processo construído socialmente, que não se diferencia das outras dimensões das relações sociais. É um evento capaz de gerar nos seres humanos muito sofri- mento, seja naquele que está à beira da morte, seja naqueles que estão à sua volta (Brêtas, Oliveira & Yamaguti, 2006). De fato, a morte constitui um evento inevitável, sendo um tema pouco abordado e evitado. Contudo, sob o manto da invisibilidade, existem pessoas que, cotidianamente, lidam com a morte em razão de seu fazer profissional. Comumente, quando se fala em profissionais que lidam com a morte, costuma-se olhar diretamente a realidade hospitalar, em que, normalmente, profissionais da saúde, como médicos e enfermeiros, convivem com tal fato. Nesse sentido, percebe-se que há maior interesse científico com esses trabalhadores que lidam diretamente com a morte no hospital, questão que fica evidenciada diante do grande número de estudos existentes (Almeida & Cardozo, 2012; Bandeira, Cogo, Hildebrandt, & Bradke, 2014; Duarte, Almeida, & Popim, 2015; Kuster & Bisogno, 2010; Magalhães & Melo, 2015; Marques, Veronez, Sanches, & Higarashi, 2013; Medeiros, Azevedo, & Oliveira, 2014; Salimena, Ferreira, & Melo, 2015; Santos & Hormanez, 2013). Câmara (2011) ressalta que as profissões que lidam diretamente com a morte acabam por se tornar um grande tabu, pois denunciam o que não se quer ver, nem aceitar. Quando se trabalha com a morte como ofício, inevitavelmente, denunciam-se as formas mais variadas de sofrimento, histórias e dores. Para Ruiz e Cavalcante (2007), responsabilizar-se pelo cuidado da morte e do corpo morto e ganhar dinheiro com tal atividade pode soar de extrema crueldade, principalmente porque, naquele momento, as pessoas estão vivenciando uma experiência dolorosa. Vivemos em uma sociedade na qual temos consciência de que devemos pagar pelos serviços que consumimos em nosso dia a dia. Contudo, pagar pelos serviços funerários costuma ser visto como não adequado porque consiste em um ato de mercantilização da morte. Entretanto, é preciso destacar que este tipo de 61 serviço vem crescendo no mercado, buscando especialização, procurando oferecer novos produtos e inovações (Câmara, 2011). No que se refere à cultura funerária, percebe-se que passou por muitas mudanças, tornando-se um segmento cada vez mais caro e complexo. Começaram a surgir no mercado novos produtos e serviços, sendo esses acompanhados pelos avanços tecnológicos e industriais de uma cultura direcionada para o consumo. Dentre esses avanços tecnológicos podemos destacar os serviços de Tanatopraxia. Diante da Legislação Brasileira os serviços de Tanatopraxia é uma das atribuições do agente funerário, porém, o avanço tecnológico vem tornando a prestação desse serviço uma atividade complexa e dotada de cuidados ambientais e biológicos em função dos ambientes adequados para tal atividade, que realizam os cuidados com o corpo, aplicação de formoldeído e a maquiagem. O Conselho Regional de Enfermagem de Sergipe publicou um Parecer Técnico que trata sobre a competência do Enfermeiro em ser responsável técnico pelo serviço de gerenciamento de resíduos provenientes de procedimentos relacionados a atividade de Tanatopraxia em empresa prestadora deste serviço. No referido parecer os procedimentos de conservação de restos mortais humanos e/ou Tanatopraxia poderão ser executados por profissionais com escolaridade mínima de 2ª grau e com qualificação especifica comprovada (agente funerário conforme código 5165 CBO/MTE), desde que sejam supervisionados pelo responsável técnico. O responsável técnico pelo estabelecimento que procedam a conservação dos restos mortais humanos e/ou tanatopraxia deve ser médico regular- mente no Conselho Regional de Medicina e possuir certidão de responsabilidade técnica expedida por esse conselho. Os proprietários de estabeleci- mentos funerários congêneres são responsáveis legais pelos procedimentos e atividades realizadas no estabelecimento. Para o funcionamento do estabelecimento, além de cumprir as exigências municipais fazendárias as empresas prestadoras de serviços de Tanatopraxia, Conservação de Restos Mortais Humanos, Higienização e/ou Tamponamento é obrigatória dispo- rem do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) elaborado e implantado em conformidade com a RDC ANVISA Nº. 306/2004, Resolução CONAMA Nº. 358/2005 e outros atos que vierem a substituí-las ou completa- las. O Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente. O gerenciamento deve abranger todas as etapas de planejamento dos recursos físicos, dos recursos materiais e da capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo destes resíduos. Todo gerador deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), baseado nas características dos resíduos gerados respeitando a sua classificação, e esta deve ser estabelecido nas diretrizes de manejo dos RSS. Os 62 PGRSS a ser elaborado deve ser compatível com as normas locais relativas à coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde, estabelecidos pelos órgãos locais responsáveis por esta etapa. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária classifica os estabelecimentos funerários e congêneres, as empresas públicas ou privadas que desenvolvam qualquer uma das seguintes atividades: a) Remoção de Restos Mortais Humanos: medidas e procedimentos relacionados à remoção de restos mortais humanos, em urna funerária, bandeja ou embalagem específica, desde o local do óbito até o Estabelecimento Funerário, adotando-se todos os cuidados de biossegurança necessários para se evitar a contaminação de pessoas e/ou do ambiente. b) Higienização de restos mortais humanos: medidas e procedimentos utilizados para limpeza e antissepsia de restos mortais humanos, com o objetivo de prepará-los para procedimentos de conservação, inumação ou outra forma de destino; c) Tamponamento de restos mortais humanos: uso de tampões para vedação dos orifícios do cadáver; d) Conservação de restos mortais humanos: empregos de técnicas, através das quais os restos mortais humanos são submetidos a tratamentos químicos, com vistas a manterem-se conservados por tempo total e permanente ou previsto, quais sejam, o embalsamamento e a formolização, respectivamente. e) Tanatopraxia: emprego de técnicas que visam à conservação de restos mortais humanos, reconstrução de partes do corpo e embelezamento por necromaquiagem; f) Ornamentação de Urnas funerárias: consistemna colocação de flores, véus e adornos decorativos e religiosos, conforme tradições e orientação religiosa; g) Necromaquiagem: consiste na execução de maquiagem de cadáveres, com aplicação de cosméticos específicos; h) Comércio de artigos funerários: exposição para venda de artigos funerários, tais como urnas funerárias (caixões), objetos decorativos e religiosos; i) Velório: consiste nas honras fúnebres, conforme tradições e orientação religiosa. Ato de velar cadáveres; j) Translado de restos mortais humanos: todas as medidas relacionadas ao transporte de restos mortais humanos, em urna funerária, inclusive aquelas referentes à sua armazenagem ou guarda temporária até sua destinação final. Devemos observar, também, o uso de cadáveres para fins de ensino e pesquisa. Estes são regularizados de acordo com a Lei 8501/92. Esta Lei prevê que cadáver não reclamado junto às autoridades pública, no prazo de 30 dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de estudo e pesquisa de caráter científico. O Código Civil Brasileiro relata que após a morte diversos direitos de personalidade são perdidos, porém o único mantido é o direito à honra, umbilicalmente associado à natureza humana. Dessa forma, o respeito ao cadáver deve ser mantido, algo que é reforçado pela famosa “Oração ao Cadáver Desconhecido”, de autoria de Karl Rokitansky. Os docentes possuem a função de conscientizar os acadêmicos sobre o respeito 63 perante o cadáver, pois aquele corpo antes da morte construiu uma história influenciada por vários senti- mentos humanos e que agora continua o seu legado servindo a sociedade de uma outra maneira, algo que deve ser honrado. Diante da dificuldade na aquisição de novos cadáveres pelas Faculdades de Medicina no Brasil, a solução adotada de imediato é adoção de métodos eficazes de conservação de cadáveres. Constatou-se que o principal método de conservação adotado pelas Faculdades de Medicina no Brasil é a formolização. Isso se deve ao fato desse método ter um custo menor e conservar por um tempo bem prolongado, ou seja, um bom custo e benefício. Entretanto, possui uma alta toxicidade, que provoca irritação no bulbo ocular, nas vias aéreas superiores, desconforto respiratório e efeito carcinogênico. Outro método de conservação de peças anatômicas utilizadas nas Faculdades é a glicerinação apesar do alto custo, todas as faculdades que a utilizam, não planejam mudar tal processo de conservação. Sabe-se que as peças glicerizadas são mais fáceis de se manusear e apresentam menor intensidade de peso e cheiro, devido à diminuição de vapores prejudiciais aos manipuladores e excelentes resultados estéticos e morfológicos. Já nas instituições que utilizam o formol, mesmo com as suas desvantagens, 60,7% não planejam alterar o método. Acredita-se que isso se deve ao fato do formaldeído ainda possuir algumas qualidades, tais como baixo custo, rápida penetração e adequada conservação por longo período. Entretanto, uma quantidade considerável dos docentes das faculdades que utilizam a formolização estão insatisfeitos e uma boa parte pretende mudar tal método de conservação, por conta da insalubridade do formol, pois o uso do formaldeído é prejudicial a saúde, em que os principais afetados são os docentes, pesquisadores e técnicos de laboratórios, ou seja, aqueles que estão em contato por longos períodos. Para escolher a melhor forma de conservação das peças anatômicas, vários fatores são analisados: os custos, a toxicidade, a técnica, o manuseio das peças no pós-preparo, a necessidade de manutenção da morfologia e coloração a mais próxima possível do estado real e o odor. Assim, por conta da insalubridade do formol, o principal método almejado pelas faculdades, que planejam alterar a metodologia de conservação, é a glicerinação. Com a tanatopraxia as coisas mudaram no ramo funerário, porque solucionou o problema de quem precisava de um velório mais estendido sem que o corpo entrasse em processo de decomposição antes do enterro. "A tanatopraxia é um serviço de qualidade indiscutível." A tanatopraxia pode ser feita para todos os casos de morte, seja por enforcamento, por afogamento, acidente automobilístico, queda. Para todos estes casos existe tratamento específico. Podemos dividir a tanatopraxia em três níveis básicos, nos quais variam a técnica e os líquidos utilizados. A tanatopraxia nível um é recomendada para casos em que o velório durará aproximadamente doze horas, levando em consideração a hora do falecimento. É um trabalho simples, porém indispensável. A tanatopraxia nível dois é recomendada para velórios que ultrapassarão as doze horas de duração. Esse método é o tradicional, mais utilizado, pois se destina a pessoas vítimas de morte natural, acontece pela infusão do líquido formodeíldo no sistema circulatório. Já a tanatopraxia nível três é recomendada para casos necropciados, ou seja, examinados pelos médicos. Geral- mente se destina às pessoas que morreram em casa 64 ou no hospital sem assistência médica, ou que morreram em casa ou no hospital sem que os médicos conseguissem diagnosticar a causa da morte. Quando o médico tem dúvida sobre a causa da morte, ele envia o corpo para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Através do exame é que o médico vai definir a causa do falecimento. Porém, quando se trata de morte violenta (acidentes, enforcamento, suicídio, arma de fogo, arma branca), o corpo não é mais tratado pelo SVO, e sim pelo IML, Instituto Médico Legal, pois esse corpo foi necropsiado e retirados fragmentos dos órgãos para se fazer a autópsia. Quando isso ocorre, torna-se mais trabalhoso fazer a infusão do líquido conservante pelo sistema circulatório que apresenta rompimentos de artérias, veias e vasos. No interior do corpo humano adulto há uma ramificação muito extensa de aproximadamente cinquenta mil quilômetros de veia e artérias, que, quando um de seus vasos é rompido, ocorrem infiltrações em alguns lugares. Dessa forma, um rompimento em algum lugar pode gerar problemas sérios a outros lugares do corpo, como inchaços, equimoses, vazamento de líquidos, entre outros. É interessante lembrar que o embalsamamento substituiu a mumificação, e hoje percebe-se que aos poucos a tanatopraxia está substituindo o embalsamamento. Por isso acreditamos ser a tanatopraxia o que há de mais moderno no mercado funerário no mundo contemporâneo. Isso se deve ao fato de que, apesar de semelhante ao embalsamento, a tanatopraxia é bem menos agressiva que os outros procedimentos, além de ser mais eficaz. A aceitação da tanatopraxia vem crescendo, principalmente nas grandes cidades. A média de casos de utilização da tanatopraxia é de aproximadamente 5 a 6 vezes por dia, por turno de 12 horas. À noite essa média cai para 2 ou 3 casos. Ainda existem muitos questionamentos a respeito do que é feito no corpo do falecido através da tanatopraxia. O tratamento do corpo assemelha-se a um procedimento cirúrgico, e, assim como são poucos os casos em que o médico permite a família entrar na sala de cirurgia, o tanatopraxista também procede da mesma forma no tanatório, principalmente em casos delicados em que se precisou de maiores cuidados. Como já havíamos falado, a tanatopraxia é acompanhada da tanatoestética, que cuida da aparência do corpo morto. A maquiagem mortuária tem pouca saída, as pessoas ainda não a solicitam muito. Geralmente, pessoas de classes mais abastadas são quem mais utilizam este tipo de serviço, subtende-se pelo fato de serem mais vaidosas e quererem que o corpo tenha uma boa apresentação em público no velório. Porém, vale salientar que há um grande cuidado para que seja algo bem discreto, nada chamativo nem extravagante, pois se trata de um funeral e de sentimentos que ali estão envolvidos. Outro caso de comum utilização dentro da tanatoestéticaé a da restauração facial. Muito comum em acidentes automobilísticos em que vidros trespassam tecidos da face ou quando há perda de parte do lábio, vítimas de PAF (perfuração por arma de fogo), perfurações de diversas naturezas ou até mesmo suicídio. Utilizando as técnicas da tanatoestética, é possível deixar essas marcas imperceptíveis. E isso é muito importante para o velório e para a apresentação do morto em público. Também conhecida como necromaquiagem, consiste na reparação da pele da pessoa falecida, por meio de técnicas de maquiagem. O objetivo principal é minimizar os efeitos de marcas de 65 enfermidades e acidentes, devolvendo ao falecido a aparência e tons naturais, dando a impressão de que está dormindo, proporcionando assim, conforto aos entes queridos. “A preocupação da aparência, sem marcas que tragam tristes lembranças, terá um efeito psicológico confortante junto à família e amigos” (BRANCO. FERNANDES. GRIFFO, 2003 p. 89). Essas técnicas servem para amenizar os traços mortais e aliviar as dores da família. Apenas os casos em que há uma grande perda de tecidos podem não ser solucionados. Outro caso comum é quando há doação de órgãos, e principalmente da córnea, em que há uma grande agressão à região do rosto, pois o médico não retira apenas a córnea para a doação, e sim todo o globo ocular. Em lugar do globo ocular, uma grande quantidade de gazes e algodão é enxertada e daí uma grande quantidade de vasos é rompida e sangram excessivamente, causando uma enorme olheira que através da tanatopraxia será solucionada. Conclusão Podemos concluir que desde o início da civilização em todas as regiões e continentes os povos desenvolveram por meio da sua fé uma relação entre a vida e a morte, e também, reencarnação, eternidade, ressurreição e os riscos da alma penar sobre a Terra ou que o espírito do defunto retorne para perseguir outras pessoas. No tempo contemporâneo a tanatopraxia e a tanatoestética vem suprir uma necessidade da própria sociedade em propiciar aos seus entes queridos um ultimo cuidado garantindo uma aparência saudável, higiene e assepsia, livre dos odores e dos riscos de contaminação. 66 Capítulo 05 Conservação de Pecas Anatômicas em Soluções 1. INTRODUÇÃO A anatomia é considerada um ramo da ciência ocupada com a forma, a disposição e a estrutura dos tecidos e órgãos que compõem o organismo. É uma disciplina que faz parte da matriz curricular de cursos relacionados às Ciências Biológicas (BRAZ, 2009). As observações das estruturas tridimensionais são consideradas fundamentais ao aprendizado (FORNAZIERO & GIL, 2003). Cursos laboratoriais possuem grande importância científica para a educação em geral, levando a uma evolução significativa tanto na parte acadêmica quanto na aprendizagem dos estudantes (YASSER & TOLBA, 2009). Para possibilitar seu estudo por tempo superior ao de autólise e sem a ação de microrganismos, é necessário o uso de métodos de fixação e preservação (WEIGLEIN, 2002). Para que não ocorra a autólise dos espécimes, suas propriedades químicas devem ser alteradas, ou seja, impedindo que a matéria orgânica que os compõe se transforme em um meio próprio para o desenvolvimento de microrganismos (RODRIGUES,1998). A preocupação quanto à conservação de peças anatômicas existe há mais de 5 mil anos, pois o uso de peças cadavéricas naturais são indispensáveis para o ensino, sendo um método utilizado em todo o mundo, devido à contribuição no aprendizado prático melhorando as habilidades aplicativas, assimilativas e compreensivas da disciplina preparando os estudantes para uma situação real, além do caráter cientifico acadêmico. A conservação tem como objetivo preservar da maneira mais próxima possível, a morfologia e características das peças como são nos animais vivos, tal como consistência, coloração e flexibilidade. Nos dias de hoje, podemos contar com uma grande variedade de técnicas que auxiliam na preservação dos tecidos animais para estudo (KIMURA & CARVALHO, 2010). Os laboratórios de anatomia recebem para estudo cadáveres inteiros, parte destes ou vísceras isoladas. Esses materiais são fixados para evitar a deterioração dos tecidos e preservar os elementos úteis aos estudos. A função da fixação é manter os tecidos firmes, insolúveis e protegidos contra a deterioração (RODRIGUES, 1998). A fixação através do formol é a técnica mais utilizada para a conservação de espécimes. O formaldeído é o fixador e conservante mais utilizado, comumente em solução aquosa a 10%. Por ser barato e penetrar rapidamente nos tecidos, é amplamente utilizado nos laboratórios de anatomia (RODRIGUES, 1998). Produzido através da oxidação catalítica do metanol o formaldeído é encontrado no
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