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Semiologia e Métodos de Avaliação da Dor (Escalas) | Larissa Gomes de Oliveira. 1 DOR SEMIOLOGIA E MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA DOR (ESCALAS). A dor pode surgir em qualquer local do corpo, e pode ter diversas causas, de acordo com o seu tipo. A determinação do tipo de dor é muito importante para o médico, pois ajudará a determinar o melhor tipo de tratamento para cada pessoa. Para identificar o tipo, o médico faz uma análise dos sintomas juntamente como exame físico, dando um foco importante ao relato do paciente, já que existe um limiar da dor e esse limiar é diferente em cada indivíduo. SEMIOLOGIA DA DOR É preciso buscar a localização da dor, a irradiação (se segue trajeto de um nervo), a qualidade/caráter (evocada ou espontânea, hiperpatia, hiperalgesia), duração (se houve pausa ou não), evolução (do início até o momento presente), relação com funções orgânicas, fatores desencadeantes e agravantes, fatores atenuantes (como condições de melhora), manifestações concomitantes. É importante também considerar doenças pregressas, injúria por trauma, infecções, relação com câncer, distúrbios metabólicos, doença vascular, predisposição genética, entre outras situações. Tratamentos anteriores e distúrbios psicológicos (como depressão e ansiedade) devem ser incluídos no estudo. ➔ Localização: se refere à região onde o paciente sente a dor. ➔ Irradiação: A dor pode ser localizada, irradiada ou referida. O reconhecimento da localização inicial da dor e de sua irradiação pode indicar a estrutura nervosa comprometida. A dor irradiada pode surgir em decorrência do comprometimento de praticamente qualquer raiz nervosa, podendo ser o território de irradiação predito pelo exame do mapa dermatomérico. Já a Dor referida é a dor sentida pela pessoa num local diferente daquele onde é produzido o estímulo que causa a dor. • Exemplos de dor referida: Apêndice: dor na região epigástrica; Vesícula, fígado: dor na escápula e no ombro; Ureter: dor na virilha e genitália externa; Coração: dor na face medial do braço. ➔ Qualidade ou caráter: Para que seja definida a qualidade ou o caráter da dor, o paciente é solicitado a descrever ou dizer que tipo de sensação e emoção ela lhe traz. Primeiramente, deve-se definir se essa dor é espontânea e/ou evocada. • Dor evocada é aquela que ocorre apenas mediante algum tipo de provocação. • Alodínia é uma sensação desagradável, dolorosa, provocada pela estimulação tátil, sobretudo se repetitiva, de uma área com limiar aumentado de excitabilidade. Semiologia e Métodos de Avaliação da Dor (Escalas) | Larissa Gomes de Oliveira. 2 A alodinia caracteriza-se por dor causada por um estímulo que normalmente não provoca dor. envolve uma mudança no sentido da dor, da qualidade de uma sensação, seja de que tipo for. Estímulos sensoriais que em situações normais não provocam dor. • Hiperpatia é uma sensação desagradável, mais dolorosa que a comum, provocada pela estimulação nóxica (estimulação de nociceptor), sobretudo a repetitiva, de uma área com limiar de excitabilidade aumentado. • Hiperalgesia é a resposta exagerada aos estímulos aplicados em uma região que está com reduzido limiar de excitabilidade, que pode se manifestar sob a forma de dor a estímulos inócuos ou de dor intensa a estímulos leves ou moderadamente nóxicos. • A dor espontânea, por sua vez, pode ser constante ou intermitente. • Dor constante é aquela que ocorre continuamente, podendo variar de intensidade, sem nunca desaparecer completamente. A dor intermitente é aquela que ocorre episodicamente, sendo sua frequência e duração bastante variáveis. ➔ Intensidade: É um componente extremamente relevante da dor, aliás, é o que apresenta maior importância para o paciente. A avaliação da dor é feita considerando-a como experiência subjetiva, com a escala (1-10) da dor para verificar a intensidade (0-3 é leve, 4-6 é moderada e 7-10 é grave). ➔ Duração: Inicialmente, se determina com a máxima precisão possível a data de início da dor. Quando ela é contínua, calcula-se sua a duração de acordo com o tempo transcorrido entre seu início e o momento da anamnese. Se é cíclica, interessa registrar a data e a duração de cada episódio doloroso. Se é intermitente e ocorre várias vezes ao dia, é suficiente que sejam registrados a data de seu início, a duração média dos episódios dolorosos, o número médio de crises por dia e de dias por mês em que se sente dor. Dependendo de sua duração, a dor pode ser classificada como aguda ou crônica. ➔ Evolução: Se trata de uma característica semiológica de extrema relevância, que nos revela a maneira como a dor evoluiu, desde o seu início até o momento da anamnese. Sua investigação é iniciada por seu modo de instalação: se súbito ou insidioso. É também relevante definir a atuação do fator causal e o início da sensação dolorosa. A dor neuropática pode se iniciar semanas, meses ou mesmo anos após a atuação do fator causal em mais da metade dos casos. Já o início da dor nociceptiva é sempre simultâneo ao da atuação do fator causal. Durante sua evolução, pode haver as mais variadas modificações na dor. O não reconhecimento da forma inicial de apresentação da dor (caso o paciente só seja visto tardiamente) torna o diagnóstico mais difícil. ➔ Relação com funções orgânicas: Essa relação é avaliada de acordo com a localização da dor e os órgãos e estruturas situados na mesma área. ➔ Fatores desencadeantes ou agravantes: São os fatores que desencadeiam a dor, em sua ausência, ou que a agravam, se estiverem presentes. As funções orgânicas estão entre eles, porém uma série de outros fatores podem ser determinados. Devem ser procurados, Semiologia e Métodos de Avaliação da Dor (Escalas) | Larissa Gomes de Oliveira. 3 pois, além de nos ajudarem a esclarecer a enfermidade subjacente, seu afastamento constitui parte importante do tratamento escolhido. ➔ Fatores atenuantes: São aqueles que aliviam a dor, como algumas funções orgânicas, posturas ou atitudes que resguardam a estrutura ou órgão onde essa dor é originada, distração, ambientes apropriados, medicamentos, fisioterapia, acupuntura, bloqueios anestésicos e procedimentos cirúrgicos. O paciente deve ser interrogado sobre quais desses fatores aliviaram sua dor. No caso dos medicamentos, os nomes, as doses e o período em que foram usados devem ser anotados. ➔ Manifestações concomitantes (simultâneas): várias manifestações clínicas associadas à dor e relacionadas com a enfermidade de base são de grande valia para o diagnóstico, ainda mais quando outros dados como sexo, idade, doenças prévias e hábitos de vida são considerados. EXAME FÍSICO O exame físico geral do paciente deve avaliar o paciente na sua integridade e, especificamente, tradando-se de um paciente com dor é necessário investigar, sobretudo, o sistema neurológico por meio de: ▪ Avaliação do sistema motor: inspeção da força muscular, do tônus e dos movimentos; ▪ Avaliação do sistema somatossensitivo: dor, temperatura e toque (comprometimento de fibras finas); pressão, posição e vibração (componentes de fibras grossas); ▪ Exame do sistema nervoso autônomo: pode indicar lesão de fibras finas amielínicas. São averiguadas as mudanças de temperatura na pele, a sudorese, as reações pilomotoras, as alterações tróficas (cabelos, unhas e pele) e os níveis pressóricos. Deve ser observada a aparência geral do paciente. A aparência e cor da pele, a distribuição da gordura e dos pêlos, evidências de perda de peso, magreza, fraqueza, atitudes anormais, contrações, contraturas ou deformidades, atrofias ou hipertrofias, expressão facial e a presença de rubor ou palidez, suor, dilatação pupilar, lágrimas, tremores, tensão muscular ou aparência ansiosa, amedrontada ou deprimida são importantes manifestações de dor, que devem ser percebidas.Deve ser feito também o exame de outras regiões. EXAME DA REGIÃO DOLOROSA Após essa inspeção geral, a região específica envolvida na queixa de dor deve ser examinada. 1. Inspeção: A inspeção da área fornece dados definitivos que podem ser correlacionados com a anamnese e com as informações obtidas por meio da palpação, percussão e testes especiais. A aparência e a cor da pele que recobre a área dolorosa devem ser examinadas cuidadosamente, observando a presença de manifestações tróficas, hipertricose, hiperidrose, cianose ou rubor, cutis anserina (pele arrepiada) e evidências visíveis de espasmo muscular. Semiologia e Métodos de Avaliação da Dor (Escalas) | Larissa Gomes de Oliveira. 4 2. Palpação: A palpação da região fornece mais informações sobre a dor. A sensibilidade profunda pode ser provocada com maior sucesso pela palpação digital, utilizando o dedo médio para exercer pressão profunda e firme sobre o local doloroso. A área sensível é mapeada e os segmentos neurais envolvidos são identificados. Se houver qualquer dúvida em relação à existência de uma base patológica para a dor do paciente, os achados podem ser confirmados ou descartados por meio de repetidas palpações. Se isso for realizado enquanto o paciente estiver distraído, a evocação da dor sempre na mesma região é indicativa de algum processo patológico. Durante a palpação da região essas evocações de dor devem estar relacionadas com manifestações subjetivas (sintomas) e objetivas (sinais) do distúrbio doloroso, e deve-se determinar se existem discrepâncias entre elas. O comportamento subjetivo de dor pode se manifestar através de caretas, gemidos, gritos, contorções e outras expressões verbais e não- verbais. ESCALAS DE AVALIAÇÃO DA DOR Dentre eles destacam-se as escalas numéricas, nas quais utilizam-se categorias numéricas; as escalas verbais, nas quais utilizam-se categorias adjetivais e as escalas analógicas-visuais, nas quais há possibilidade de julgamentos visuais numa dimensão tomada como padrão. Há vários questionários de qualidade de vida, e existe uma escala que fala sobre cinesiofobia que é a escala Tampa para Cinesiofobia. Ela tem 17 questões e um score de discordo totalmente, para concordo totalmente e os pacientes respondem questões como “tenho medo que eu me machuque se fizer exercício” ou então “se eu tentasse superar esse medo, minha dor aumentaria”. É muito importante avaliar se o paciente sofre de cinesiofobia porque alguns pacientes deixam de fazer atividades simples por medo de sentir dor. Existe uma escala importante também que é a Escala de Pensamento Catastrófico sobre a Dor. Ela é composta por 13 questões e varia de mínima a muito intensa. E tem questões como “a preocupação durante todo o tempo com a duração da dor é”, “o sentimento de não poder prosseguir é”, “o sentimento que a dor é terrível e que não vai melhorar é” É importante detectar se o paciente tem ciesiofobia ou pensamento catastrófico sobre a dor para que seja tratada, reabilitado, pois muitos pacientes com esses problemas começam a ter medo de fazer coisas normais do dia a dia como andar. Existem escalas utilizadas para mensurar a dor subjetiva do paciente. Há a escala visual analógica onde tem um traço de 0 a 10 cm e o paciente marca na escala quanto ele acha que sente de dor, e aí é mensurado com uma régua em cm a quantidade de dor que esse paciente sente. Há a escala qualitativa, que ele escolhe entre as opções “sem dor” até “dor máxima”. Há também a escala verbal numérica que é a mais utilizada em estudos, ela vai de 0 a 10, em que o paciente escolhe um número que representa a dor dele, em que: Semiologia e Métodos de Avaliação da Dor (Escalas) | Larissa Gomes de Oliveira. 5 ▪ Dor fraca intensidade menor que 3 ▪ Dor moderada: de 4 a 6 ▪ Dor intensa: de 7 a 9 ▪ Dor insuportável: intensidade 10 Há também as escalas de faces que representa a dor dele. Escala Comportamental Avalia a expressão fácil, movimentação dos membros e adaptação a ventilação mecânica. Inventário Breve da Dor (IBD) Criada por McGill 1975, tem sido bastante usado até hoje para avaliação da dor aguda. O Inventário Breve da Dor (IBD) é um instrumento para a avaliação da dor, inclui um diagrama para anotar a localização da dor, perguntas a respeito da intensidade da dor (atual, média, e a pior usando a escala de avaliação de 0 a 10). Corresponde a uma avaliação ampla da dor, com descritores que são divididos em quatro grupos: 1. sensorial discriminativo 2. afetivo motivacional 3. avaliativo cognitivo 4. miscelânea. Esse instrumento corresponde a 78 descritores divididos nos 4 grandes grupos. Ao final é gerado o MPQ, conhecido como Índice Quantitativo da Dor. São instrumentos que apresentam maior fidelidade na avaliação da dor, por avaliarem aspectos emocionais, sociais, duração da dor, exame físico, funcionalidade física e social, aspectos cognitivos e culturais e história da dor. Escala de Avaliação da Dor Relembrada (Memorial Pain Assessment Card - MPAC) Este instrumento tem como objetivo realizar uma avaliação breve da intensidade da dor, de seu alívio e do estresse psicológico por ela. Esta escala é composta por oito descritores de dor e três escalas analógicas visuais que tem como finalidade medir a intensidade da dor, o alívio e os sentimentos ligados à ela.
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