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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CED CURSO DE PEDAGOGIA Thais De Espindola Ramos A RACIONALIDADE TÉCNICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA Florianópolis – SC 2019 THAIS DE ESPINDOLA RAMOS A RACIONALIDADE TÉCNICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Catarina, sob a orientação da Prof. Dra. Maria Helena Michels. Florianópolis (SC) 2019 Dedico Este trabalho ao meu irmão, ao meu pai in memoriam e a todos os professores da escola pública que resistem e lutam dia a dia por uma escola pública laica e de qualidade. AGRADECIMENTOS Ao meu irmão, que sempre foi o ser mais doce e encantador da minha vida, que me inspirou do início ao fim da graduação. Obrigada por existir e resistir comigo desde o seu nascimento, quero que saiba que estarei no chão da escola lutando por você e por todas as crianças da escola pública e pelos seus processos de ensino aprendizagem. Ao Centro Acadêmico de pedagogia (Calpe) por ter me ensinado a lutar pela Universidade Pública e que juntos somos mais fortes, obrigada pela luta continua. Agradeço ao meu companheiro de vida Michael Grando Paim e sua família por acreditarem, ajudarem e me acolherem em suas vidas quando mais precisei. Aos meus avós, Dorvalina Ramos e Lindomar Ramos, por estarem e enfartarem comigo o processo de falecimento do meu pai Luis Fernando Cabreira Ramos, juntos conseguimos ser mais fortes, obrigada pela força, carinho e amor. A minha amiga irmã Renata Soares, que esteve comigo em meu processo de formação desde o cursinho, que me ensinou sobre a militância, sobre o feminismo e que fez com que eu acreditasse que posso lutar pelos meus direitos como mulher, obrigada por ser essa mulher de luta, parceira e companheira mesmo com a distância. Obrigada por tanto, irmã! Agradeço as minhas parceiras de graduação, Jéssica Menezes, Manoella Radajeski e Elisa Garcia por compartilhar amizade e a luta, vocês tornaram esses 4 anos mais leve, obrigada por serem essas mulheres maravilhosas e por estarem comigo neste processo de formação. Vocês são incríveis! A minha amiga Sabrina Del Sardo, por compartilhar a casa, os cafés da tarde, as prosas e por estar presente em minha vida nos momentos mais difíceis. Você é uma mulher incrível, obrigada por tanto! A minha orientadora Drª Maria Helena Michels, que esteve comigo neste processo de escrita e aprendizagem da minha pesquisa. Obrigada por ter dado a oportunidade de trabalhar com você na pesquisa, pelo carinho e pela confiança em meu trabalho. Agradeço a todos os professores que estiveram comigo neste processo de formação, os quais me ensinaram a lutar e resistir por uma Universidade Pública e de qualidade. Obrigada por tanto. Por fim, agradeço a Universidade Pública sem ela este processo de formação não seria possível! RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo analisar como a racionalidade técnica se expressa na formação de professores de Educação Especial nos Cursos Graduação de Licenciatura em Educação Especial no Estado de Santa Catarina. Para tanto buscamos apreender como a área da educação especial discute a racionalidade técnica na formação dos professores; compreender a racionalidade técnica nas proposições dos cursos; analisar como se expressa a racionalidade técnica nos programas das disciplinas dos cursos de licenciatura de educação especial. Como base teórica para nossas reflexões buscamos as contribuições de Bueno (1999), Kassar (1999), Shiroma (2003), Evangelista (2012), Dias (2013), Kassar (2014), Lehmkuhl (2017), Michels (2017), Garcia (2017), Vaz (2017). Nossa pesquisa tem como metodologia análise de documentos. Com a análise dos Projetos Político Pedagógicos de dois Cursos de Licenciatura que formam professores de educação especial, um da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e outro da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES). Ao longo de nossa pesquisa surgiram alguns questionamentos que nos fizeram refletir: modifica-se o caráter técnico da proposta de formação de professores quando essa passa a ocorrer nos Cursos de Licenciatura em Educação Especial em SC? O processo ensino aprendizagem passa a ser a tônica dessa formação no Estado quando da política de inclusão? ou, mesmo com modificação na política para a educação especial se mantém a racionalidade técnica da formação? De acordo com as análises dos documentos ressaltamos que a racionalidade técnica ainda é posta na formação de professores de educação especial, como forma de instrumentalizar este professor, preocupando-se com a técnicas e recursos de acordo com as especificidades dos sujeitos, ocorrendo um esvaziamento teórico no ensino e aprendizagem. Palavra-chave: Racionalidade Técnica; Formação de Professores; Educação Especial. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Apresentação das disciplinas por eixo – FURB ...................................................48 Gráfico 2: Apresentação da carga horária por eixo – FURB..................................................49 Gráfico 3: Apresentação das disciplinas por eixo - UNIMES ..............................................65 Gráfico 4: Apresentação da carga horária por eixo - UNIMES.............................................66 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Produções encontrada no Scielo, ANPED e Google acadêmico ............................21 Quadro 2 - Matriz Curricular do Curso (FURB) ..........................................................................43 Quadro 3 - Disciplina do Eixo Educação Especial (FURB) .......................................................45 Quadro 4 - Disciplinas dos eixos fundamentos da educação, saúde. psicologia, produção textual, linguagem e “outros” (FURB) ............................................................................................47 Quadro 5 - Matriz Curricular do Curso (UNIMES) .....................................................................59 Quadro 6 - Carga Horária das Disciplinas (UNIMES) ................................................................62 Quadro 7 - Disciplinas do Eixo Educação Especial (UNIMES) ................................................62 Quadro 8 - Disciplinas dos eixos fundamentos, produção textual, saúde, linguagem e outros (UNIMES) ...........................................................................................................................................63 LISTA DE FIGURA Organograma 1: Disciplinas do curso de Educação Especial FURB.........................................................49 LISTA DE SIGLAS AEE - Atendimento Educacional Especializado ACAFE - Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACCS - Atividades Acadêmico Científico Culturais ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação BM - Banco Mundial CNE - Conselho Nacional de Educação CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Ensino Superior CONSUNI - Conselho Universitário CAA - ComunicaçãoAlternativa Aumentativa DCNP - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia DME - Divisão de Medidas de Ensino DV - Deficiência Visual DF - Deficiência Física EED - Departamento de Estudo Especializado em Educação EE - Educação Especial FURB - Universidade Regional de Blumenau ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio GEEP - Grupo de Estudos em Educação Especial GEPETO - Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC - Ministério da Educação OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONEESP - Observatório Nacional de Educação Especial PARFOR - Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica PAEE - Professor de Apoio Educacional Especializado PNEEPEI - Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva PPP- Projeto Político Pedagógico PROEN - Pró reitoria de Ensino SciELO - Scientific Electronic Library Online SRM - Sala de Recurso Multifuncionais TEA - Transtorno do Espectro Autista TEACCH – Treatment Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children - Educação para Autistas e crianças com limitações relacionadas a comunicação UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UFSC - Universidade Federal De Santa Catarina UNIMES - Universidade Metropolitana de Santos UNIDAVI - Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí UFSM - Universidade Federal de Santa Maria UFSCar- Universidade Federal de São Carlos UNC - Universidade do Contestado UNOESC - Universidade Do Oeste de Santa Catarina UNIPLAC - Universidade do Planalto Catarinense UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro USP - Universidade De São Paulo UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFT - Universidade Federal do Tocantins UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville UNB - Universidade de Brasília UTP - Universidade Tuiuti do Paraná SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11 1.1 Metodologia ................................................................................................................. 17 1.2 Organização do texto ............................................................................................... 20 2. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: BALANÇO DE PRODUÇÃO E APORTES TEÓRICOS ............................................................................... 22 2.1 O balanço de produção .................................................................................................. 22 2.2 Contexto histórico da formação de professores de educação especial................................... 33 3. A RACIONALIDADE TÉCNICA: ANÁLISE CURRICULAR .......................................... 41 3.1 Análise do Projeto político pedagógico do curso de Educação Especial da FURB ................. 41 3.1.1 Apresentação do curso ................................................................................................ 41 3.1.2 Organização do Curso ................................................................................................ 42 3.1.3 As disciplinas do eixo Educação Especial ..................................................................... 50 3.1.3.1 Categoria Teoria e Prática................................................................................. 51 3.1.3.2 Categoria Estágio ............................................................................................ 54 3.1.3.3 Categoria Específica ........................................................................................ 55 3.2 Análise Projeto Político Pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Especial da UNIMES .......................................................................................................................... 57 3.2.1 Apresentação do curso ................................................................................................ 57 3.2.2 Organização do curso ................................................................................................. 59 3.2.3 As disciplinas do eixo Educação Especial ..................................................................... 67 3.2.3.1 Bloco teorias ................................................................................................... 68 3.2.3.2 Bloco teoria e prática ....................................................................................... 68 3.2.3.3 Bloco Prática .................................................................................................. 70 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 72 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 75 APÊNDICE A - QUADRO DOS OBJETIVOS E EMENTA DAS DISCIPLINAS DO PPP DO CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DA FURB ................................................................. 80 APÊNDICE B - QUADRO DOS OBJETIVOS E EMENTA DAS DISCIPLINAS DO PPP DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL DA UNIMES.......................... 85 APÊNDICE C – ORGANOGRAMA 1: DISCIPLINAS DO CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL FURB ............................................................................................................... 89 11 1. INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) está relacionado ao projeto de pesquisa intitulado “Formação de professores de Educação Especial no Estado de Santa Catarina” que trata da formação de professores de Educação Especial no Estado de Santa Catarina, que busca “apreender quais concepções permeiam a formação de professores para a área de educação especial em Santa Catarina”1. O interesse sobre o tema emergiu logo após frequentar o grupo de pesquisa Grupo de Estudos em Educação Especial - GEEP da Universidade Federal de Santa Catarina, onde tive a oportunidade de aprofundar discussões sobre o tema quando a professora Maria Helena, apresentou sua pesquisa. Desde então estou tendo a oportunidade de aprofundar o estudo e trocar ideias com colegas e professoras que frequentam o mesmo grupo. A presente pesquisa tem como objetivo analisar como a racionalidade técnica se expressa na formação de professores de Educação Especial nos Cursos Graduação de Licenciatura em Educação Especial no Estado de Santa Catarina. Compreendemos que a formação de professores é uma ação fundamentada para transmissão de conceitos, pois, como enfatizam Shiroma e Evangelista (2003, p.85) “não se trata apenas de preparar os professores que irão qualificar futuros trabalhadores, mas de transmitir conhecimentos, valores, postura, forma de ver, ser e estar no mundo”. Esse processo é ainda mais facilitado porque “diferentemente de outros profissionais a quem a população recorre em situações específicas, com os professores tem-se encontro diário” (SHIROMA; EVANGELISTA, 2003 p.85). Segundo Lehmkuhl (2017) na área de educação especial essas questões não se diferem e agregam-se a elas a proposta não só do atendimento educacional, mas também a formação de um professor que atenda suas especificidades dos alunos com deficiência. Temos como pressuposto que a racionalidade técnica está presente nos cursos de licenciatura que formam os professores da Educação Especial. Isso pois compreendemos que as situações da prática educacional são tratadas, nessa formação, como problemas de ordem técnicas e que devem ser resolvidos por procedimentos da mesma ordem. Nesta perspectiva os professores são responsáveis por desenvolver técnicas para que os alunos recebamalgum 1 Projeto de pesquisa coordenado pela Professora Maria Helena Michels do Departamento de Estudos Especializados em Educação (EED). 12 tipo de conhecimento. Através desta perspectiva, debater, questionar e/ou refletir são ações que ameaçam esta estrutura mecânica e tradicional imposta ao professor e a escola, entendida então como transmissora de valores e saberes. Entendemos que racionalidade técnica está presente na formação de professores de educação especial como forma de instrumentalizar este professor, preocupando-se com a utilização de técnicas de acordo com as especificidades dos sujeitos, e não com o ensino aprendizagem de conhecimentos sistematizados construído historicamente. Para Saviani (2008, p. 382). [...] a pedagogia tecnicista buscou planejar a educação de modo que a dotasse de uma organização racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Para tanto, era mister operacionalizar os objetivos e, pelo menos em certos aspectos, mecanizar o processo. Daí a proliferação de propostas tais como o enfoque sistêmico, o microensino, o telensino, a instrução programada, as máquinas de ensinar, etc. Daí também o parcelamento do trabalho pedagógico com a especialização de funções, postulando-se a introdução no sistema de ensino de técnicos dos mais diferentes matizes. Daí, enfim, a padronização do sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados aos quais devem se ajustar às diferentes modalidades de disciplinas e práticas pedagógicas A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n. 9394/96, em seu Artigo 62 (BRASIL, 1996), a formação docente para atuar no ensino básico deve ser realizada em nível superior. Porém, permite que a formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e para quatro primeiras anos do ensino fundamental seja oferecida em nível médio, na modalidade normal. Esta mesma legislação indica que a formação de professores para a educação especial era de responsabilidade do ensino superior, porém permite que esta formação ocorra em nível médio ou em estudos adicionais, oferecidos pelas secretarias estaduais da educação. A escola pública vista pela sociedade capitalista tem como objetivo central em preparar o trabalhador para o mercado trabalho sem a intensificar a sua formação. Em meados da década de 1990, com a intensificação de políticas com vista aos processos de expansão e universalização do ensino, vem-se atribuindo à escola pública o caráter muito mais assistencial, como uma medida de alívio à pobreza, sem pensar o acesso ao conhecimento intensificado como forma de contribuição a produção de uma consciência crítica (VAZ, 2017). Ou seja, quanto mais desqualificada seja a formação deste professor mais este professor se torna instrumental, visto como um objeto de desqualificação. 13 Segundo Bueno (1999) a perspectiva que atribui a falta das condições sociais para a elevação da formação do professor das primeiras séries, contribui com a descaracterização e o desprestígio dos professores dos primeiros anos. Segundo o autor, [...] contribui com a indefinição de uma política nacional de formação docente, por não se tomar posição mínima sobre a docência responsável pela escolarização, à qual têm acesso a maioria das crianças brasileiras, isto é, não conseguimos definir sobre uma questão preliminar, qual seja, em que nível de ensino específico ela deve ser feita; Coloca a formação de professores realizada no ensino médio na posição “eterna provisoriedade”, na medida em que considera que deveria ser efetuada no nível superior; Coloca o problema em uma perspectiva política abstrata e descomprometida, ao atribuir não- assunção da maior qualificação dessa formação a uma genérica “falta de condições”, como se tivessem sendo construída sem a participação de instituições e profissionais do campo da educação (BUENO, 1999, p. 15). O fato de que os dirigentes, os estudiosos e os institutos de formação não assumirem de fato uma posição frente a essa provisoriedade, gerou, segundo Bueno (1999), uma série de práticas que serviu para descaracterização dessa formação, mais do que para uma qualificação da mesma. Em relação formação de professores para a Educação Especial no Brasil, alguns autores mostram que ela inicia-se na década de 1970 junto ao Curso de Pedagogia em habilitação específica, por área de deficiência (MICHELS, 2017). O tecnicismo chega à área de educação especial, exaltando historicamente às técnicas e recursos específicos, já em seu início. A especialização requerida do professor da Educação Especial estava associada à racionalidade técnica, à ideia de eficiência e produtividade empregada na Educação (MICHELS, 2017). Kassar (1999, p.30) afirma que, Em 1971 [com a Lei 5.692/71] o tecnicismo não se apresentava de modo claro para a educação especial, quando apenas é proposto “tratamento especial” aos alunos que necessitam desse serviço, ele torna-se evidente no Parecer do CFE 848/72, que enfatiza a importância da implementação de técnicas e serviços especializados para o atendimento adequado à excepcionalidade. Assim, a habilitação do Curso de Pedagogia direcionada a Educação Especial, organizada pelas deficiências não tem como foco da formação para a apropriação de conhecimento por parte dos alunos. Ao contrário, a base biológica é que define como o aluno sujeito, da educação especial, aprende. Atrelada a essa base biológica, agrega-se às práticas de técnicas tradicionalistas, “retirado dessa relação o caráter histórico e político, ignorando as 14 contradições que constituem a realidade e a sociedade de classes” (FRIGOTTO, 1996 apud RODRIGUES, 2005, p. 5). A formação de professores tem como base a técnica, o cumprimento de instruções e programações de modo geral, aprendendo a fazer para aplicar as técnicas. Para Saviani (2008, p. 382) [...] na pedagogia tecnicista o elemento principal passa a ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posição secundária, relegados que são à condição de executores de um processo [...] A organização do processo converte-se na garantia da eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e maximizando os efeitos de sua intervenção. Nessa perspectiva de formação a prática educacional é tratada como um problema técnico que pode ser resolvido pelo uso considerado correto de instrumentos ou programas de aprendizagem. Na reforma educacional das décadas de 1990 e 2000, no Brasil, a formação de professores foi essencial para a consolidação de ideias e propostas de um modelo neoliberal. Esta reforma, e suas bases, também se refere à Educação Especial Compreendemos que a formação de professores para área da Educação Especial faz parte dessa reforma e está permeada de termos como educação inclusiva, diversidade, respeito às diferenças, equidade, sujeito de direitos, solidariedade e competência, sugerindo que há “novos” encaminhamentos na formação desse profissional. Esses conceitos vão atribuindo sentidos à política educacional e servem para referendar uma perspectiva educacional que vem se tornando hegemônica (LEHMKUHL, 2017, p. 226). Neste contexto, a necessidade de modificar os currículos dos cursos de formação inicial de professores é indicada nas políticas de cunho neoliberal como imprescindível. Com a Resolução CNE/CP 01/2006 das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Pedagogia (2006), extinguem-se as habilitações do Curso que historicamente formava os professores da Educação Especial, ou seja, suprime-se essa formação nos cursos de pedagogia 2. É nos cursos de Licenciaturas em Educação Especial que se passa a formar os educadores especiais em nível de graduação. Estas modificações estão atreladas a outras indicações presentes em documentos como a ResoluçãoCNE 02/1997, o Parecer do CNE 2 Para maior aprofundamento do tema, indicamos a dissertação de Jocemara Triches (2012) intitulada: “Organizações multilaterais e curso de pedagogia: a construção de um consenso em torno da formação de professores”. 15 009/2001, Parecer do CNE 021/2001, a Portaria 1.403/2003, a Lei nº 11.502/2007, o Decreto Lei nº 6.755/2009, que regulamenta a Política Nacional de Formação de Professores da Educação Básica - PARFOR e o Decreto nº 8.752/2016. A Resolução n.2/2001 indica a formação em dois níveis, de acordo com o primeiro parágrafo, do artigo 18º: professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao desenvolvimento de competências e valores para: I - Perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a educação inclusiva; II - Flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades especiais de aprendizagem; Já no terceiro parágrafo do mesmo artigo, apresenta os professores especializados em Educação Especial (EE), como aquele que comprovar: I - Formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo concomitante e associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; II - Complementação de estudos ou pós-graduação em áreas específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio; (BRASIL, 2001b, p. 5). Em 2008 é divulgado no documento Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), que indica que a inclusão dos sujeitos da educação especial nas escolas regulares. Desta forma, os professores formados nos cursos de licenciatura em Educação Especial passam atuar no Atendimento Educacional Especializado (AEE). Ou seja, os professores com formação no Curso de Pedagogia são capacitados para atuar com os alunos da EE em sala de aula regular. Os professores formados nos cursos de Licenciatura em Educação Especial ou aperfeiçoamento irão atuar especificamente no Atendimento Educacional Especializado. No Estado de Santa Catarina essas modificações vão vendo percebidas ao longo do período. Na década de 1980, a formação de professores de educação especial, tem seu primeiro curso implementado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), junto ao Curso de Pedagogia, com duas habilitações específicas (Educação Especial Deficiência Auditiva e Educação Especial Deficiência Mental). A partir de 1996 este mesmo Curso passa 16 a formar tais professores em uma única habilitação – Educação Especial e que formou estes profissionais até a década de 2000. No estado catarinense a formação desse professor passa a ser tratada nos cursos de licenciatura em Educação Especial oferecidos pelas Universidades vinculadas ao Sistema ACAFE - Associação Catarinense das Fundações Educacionais,3 organizados a partir do Programa, Plano nacional de formação de professores da educação básica, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Ministério da educação (PARFOR/CAPEs/MEC) Esta formação ganha destaque nos documentos emanados pelos governos federal e estadual, que a consideraram fundamental para o êxito da própria reforma na perspectiva inclusiva. Atualmente esses cursos já não são oferecidos pelo PARFOR, mas continuam sendo ofertados por universidades pelo Estado. Nesta nova organização, cabe perguntar: modifica-se o caráter técnico da proposta de formação de professores quando essa passa a ocorrer nos Cursos de Licenciatura em Educação Especial em SC? O processo ensino aprendizagem passa a ser a tônica dessa formação no Estado? Ou, mesmo com modificações tão substanciais se mantém a racionalidade técnica da formação? É com essas indagações que construímos o objetivo geral desta pesquisa: analisar como a racionalidade técnica se expressa nos cursos de graduação de licenciatura em educação especial no estado de Santa Catarina. Para tanto, temos como objetivos específicos: - Apreender como a área da educação especial discute a racionalidade técnica na formação dos professores; - Compreender a racionalidade técnica nas proposições dos cursos; - Analisar como se expressa a racionalidade técnica nos programas das disciplinas dos cursos de licenciatura de educação especial. 3 Essas instituições têm como conveniada as Universidades de Ensino Superior, como a FURB- Universidade Regional de Blumenau e UNIMES - Universidade Metropolitana de Santos. 17 1.1 Metodologia Como já mencionado anteriormente, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) compõe o projeto de pesquisa intitulado “A formação de professores de Educação Especial no Estado de Santa Catarina”, que tem como objetivo: apreender aonde vem ocorrendo a formação de professores para a educação especial em Santa Catarina; reunir informações sobre quais níveis (superior ou pós-graduação) estão sendo oferecidos tais formações e quais as esferas administrativas tem se responsabilizado por esta formação; analisar a organização dos currículos (ementas das disciplinas; organização das mesmas na grade curricular; bibliografias utilizadas; formação dos professores formadores) nesta formação. A primeira fase dessa pesquisa contou com levantamento de dados acessando o site do E-mec 4 para analisar os cursos ativos de Licenciatura de Educação Especial, no Estado de Santa Catarina. Com este procedimento encontramos quatorze universidades que oferecem tal curso. Ao finalizar a pesquisa pelo site do E-mec, iniciamos a busca nos sites das 14 instituições procurando documentos como a proposta de curso, carga horária, grade curricular, ementas corpo docente e programa de ensino. Tivemos muita dificuldade em encontrar tais documentos nas páginas das instituições pois a grande maioria não disponibiliza esses materiais em seus siteos. Apenas em três instituições pudemos acessar o Projeto Político Pedagógico :Universidade Regional de Blumenau (FURB), Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) e Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI). Com estes materiais em mãos, observamos que os cursos oferecidos pela FURB e UNIDAVI ocorriam na modalidade presencial e o da UNIMES à distância e optamos então, analisar um curso oferecido na modalidade presencial e um curso oferecido na modalidade à distância, ou seja, o Curso de Educação Especial da FURB e o Curso de Licenciatura em Educação Especial da UNIMES. Optamos então em fazer a análise dos documentos (PPP) desses dois cursos. A pesquisa documental se caracteriza pela pesquisa de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. 4 Site do E-mec: www.emec.mec.gov.br 18 [...] caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, entre outras matérias de divulgação. (OLIVEIRA, 2007, p. 69). Ou seja, os documentos são considerados como fonte principal da pesquisa, podendo ter diferentes sentidos, como por exemplo, no campo da educação que estamos analisando os PPP. Segundo CELARD (2008) a análise de documentos se inicia através de uma análise crítica do contexto, dos autores, interesses, confiabilidade, natureza do texto e conceito chave, ou seja, é um momento de reunir todos estes elementos da problemática ou do quadro teórico. Deste modo a análise documental é desenvolvida a partir das discussões que os temas eos dados nos propõem diante ao documento analisado, incluído o corpo da pesquisa, referências e modelo teórico (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 11). Como processo, uma contribuição interessante para a análise desses documentos parece decorrer da exploração das contradições internas às formulações, posto que os textos evidenciam vozes discordantes, em disputa. É nesse campo de disputas que a hegemonia discursiva se produz. Para Bowe e Ball (apud SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 431) A chave para ganhar a hegemonia é geralmente daquele grupo que consegue estabelecer os parâmetros dos termos do debate, do grupo que consegue incorporar as demandas de outros grupos que estão em competição no interior de seu próprio discurso sobre educação e metas sociais. Desta forma, iniciamos as análises pelo Projeto Político Pedagógico do Curso de Educação Especial da FURB. Inicialmente tratamos das disciplinas e suas ementas que totalizam 44 disciplinas, organizadas em 8 fases, completando 3.3845 horas aula, o que equivale a 192 créditos. Deste total, 486 horas aulas referem-se ao estágio obrigatório; 486 horas aula de prática como componente curricular e 252 horas aula de Atividades Acadêmico Científico Culturais (AACCs). 5 No PPP constam dados divergentes em relação ao total da carga horário do Curso: quando se referem a integralização consta 3.456; quando apresentado a estrutura curricular a carga indicada é de 3.384. Para efeitos desta pesquisa, utilizaremos a carga que consta na estrutura curricular. 19 Desta forma organizamos as disciplinas em dois quadros, para compreender a proposição de curso, buscando analisar a presença ou não da racionalidade técnica do mesmo. Analisamos as disciplinas apresentadas, primeiro com o título e, em seguida, com a leitura das ementas e seus objetivos. Com tal procedimento elegemos 8 eixos que, ao nosso juízo, nos auxiliam nessa compreensão, quais sejam: educação especial, fundamentos da educação, alfabetização e letramento, saúde, produção textual, linguagem e infância, psicologia e o eixo denominado “outros”. O segundo documento analisado foi PPP do Curso de Licenciatura em Educação Especial o da UNIMES, o qual partimos do mesmo encaminhamento de análise já feito com o documento da FURB. Analisando, primeiramente o título das disciplinas e em seguida suas ementas. Neste curso totaliza-se 37 disciplinas, incluindo as disciplinas optativas; as mesmas estão organizadas em 8 fases, completando 2466,636 horas aulas. O estágio obrigatório possui 400 horas aula; 300 horas aulas de atividades complementares; 80 horas aulas de trabalho de conclusão de curso. Em relação a este curso da UNIMES organizamos as disciplinas em 6 eixos que, ao nosso juízo, nos auxiliam a compreender melhor suas proposições, quais sejam: Educação Especial, Fundamentos da educação, produção textual, saúde, linguagem e “outros”. Para melhor compreensão analisaremos o eixo Educação Especial do curso de Educação Especial da FURB o qual está dividido por 3 categorias: teoria e prática, estágio e específica. Está divisão ocorreu a partir da análise das ementas. Já o curso de Licenciatura em Educação Especial da UNIMES as disciplinas específicas de Educação Especial compõem uma única categoria, divididas em três blocos teoria, teoria e prática e prática, devido à análise das ementas. Buscando compreender como e se os intelectuais da área da Educação Especial relacionam racionalidade técnica na formação de professores nos cursos de licenciatura, fizemos balanço de produção acadêmica. A busca por produções referentes ao tema ocorreu através de dois bancos de dados: o portal de periódicos da Scientific Electronic Library Online (SciELO); o portal de busca do 6 2466,63 horas aulas representa a carga horária relógio das disciplinas. 20 Google Acadêmico. Também fez parte desse balanço os trabalhos das reuniões anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).7 Nesses bancos de dados utilizamos três descritores para selecionarmos os trabalhos: Licenciatura em educação especial, formação de professores de educação especial e racionalidade técnica. Em um primeiro momento tentamos utilizar como descritor “formação de professores”, porém encontramos muitos trabalhos com uma ampla abrangência nas temáticas. Buscando refinar mais nossa busca, agregamos o descritor “formação de professores de educação especial”. Com isso encontramos nove trabalhos que foram foco de nossas análises sendo cinco no banco de dados do scielo e quatro no google acadêmico. Já a busca feita no site da ANPED ocorreu nas reuniões realizadas entre os anos de 2008 a 2018, especificamente nos GTS Estado e Política Educacional (GT 05), formação de professores (GT 08) e educação especial (GT 15). A busca nesta associação ocorreu a partir da leitura dos resumos uma vez que, nesta plataforma, não temos a opção de busca avançada com descritores. Com essa metodologia encontramos cinco trabalhos no site da ANPED. Desta forma selecionamos 14 trabalhos, os quais consideramos representantes importantes das discussões que estão sendo propostas nas pesquisas sobre o tema e que será melhor apresentado na parte 2 deste TCC. 1.2 Organização do texto Este trabalho de conclusão de curso está organizado em 4 capítulos. O capítulo 1 (Introdução) apresentamos nossos objetivos e metodologia para o desenvolvimento de nossa pesquisa. Capítulo 2 “Formação de Professores para a Educação Especial: balanço de produção e aportes teóricos” discutimos o contexto histórico da formação de professores de Educação Especial, juntamente com o balanço de produção. Já o capítulo 3 “A racionalidade técnica:” Análise Curricular” tratamos sobre as análises dos projetos políticos pedagógicos do curso de Educação Especial da FURB e o curso de Licenciatura em Educação Especial da UNIMES, buscando como racionalidade técnica se expressa na formação de professores. 7 As buscas ocorrem entre os dias 21 de maio a 17 de junho de 2019. http://36reuniao.anped.org.br/trabalhos/163-trabalhos-gt05-estado-e-politica-educacional 21 O capítulo está dividido em dois momentos, o primeiro momento trazemos a análise do PPP da FURB, o mesmo está organizado em apresentação do curso, organização do curso, a qual trazemos as disciplinas do curso, carga horária, logo após dividimos as disciplinas por eixo, educação especial; fundamentos da educação; saúde; psicologia; produção textual; linguagem e infância e por último o eixo denominado “outros”. Através dos eixos analisamos as ementas de cada disciplinas. O segundo momento trazemos a análise do PPP da UNIMES, trazemos a mesma organizações do PPP da FURB, o que diferencia são os eixos, que estão em menor quantidade e estão denominados como, Educação Especial, fundamentos, produção textual, saúde, linguagem e “outros”. Nas considerações finais indicamos os resultados encontrados a pesquisa tanto do balanço de produção como as análises dos documentos. 22 2. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: BALANÇO DE PRODUÇÃO E APORTES TEÓRICOS Buscando apreender como vem sendo discutido e organizado a formação de professores de educação especial no Brasil, buscamos nessa parte do trabalho apresentar o balanço de produção desenvolvido e alguns aportes teóricos com os quais compartilhamos para a análise dos dados dessa investigação. 2.1 O balanço de produção Este balanço de produção teve como metodologia a busca de textos referente ao tema estudado, nos sites SciELO, ANPED e Google Acadêmico. Logo após as buscas selecionamos 14 trabalhos para análise, os quais veremos a seguir. Para a exposição dos resultados coletados, escolhemos utilizar quadro e, na sequência, análises das produções. Quadro 1 - Produções encontradas no Scielo, ANPEDe Google acadêmico Site de pesquisa Título Autor(es) Data Local de Produção Universidade SciELO A formação de professores para a educação inclusiva e os possíveis impactos na escolarização de alunos com deficiência Mônica de Carvalho Magalhães Kassar 2014 Cad. Cedes, Campinas, v. 34, n. 93, p. 207-224, maio-ago. 2014 UFMS Análise do projeto pedagógico e da grade curricular dos cursos de licenciatura em educação especial Patricia Santos de Oliveira Enicéia Gonçalves Mendes . 2014 Educ. Pesqui., São Paulo, v. 43, n. 1, p. 263-279, jan./mar. 2017 UFSCAR Atendimento educacional especializado: Aspecto da formação do professor Maria silvia Pasian Enicéia Gonçalves Fabiana Cia 2016 Cadernos de Pesquisa v.47 n.165 p.964- 981 jul./set. 2017 UFSCAR 23 Formação inicial de professores na perspectiva inclusiva: levantamento de produções Patricia Aparecida Monico Liz Amaral Morgado Rosimeire Maria Orlando 2018 Psicologia Escolar e Educacional, SP. Número Especial, 2018: 41-48. UFSCAR Política de educação Especial na perspectiva inclusiva e a formação docente no Brasil Rosalba Maria Cardoso Garcia . 2013 Revista Brasileira de Educação v. 18 n. 52 jan.- mar. 2013 UFSC ANPED Formação de professores para a educação inclusiva: Um olhar dos saberes docentes do professor-formador Ana Flávia Teodoro de Mendonça Oliveira Clarissa Martins de Araújo 2012 36ª Reunião Nacional da ANPEd – 29 de setembro a 02 de outubro de 2013, Goiânia-GO UFT UnB Formação inicial de professores e educação especial Denise Rodinski Braga 2009 32ª Reunião Nacional da ANPEd -04 a 07 de outubro de 2009, UTP Formação de professores em educação especial: Os discursos produzidos em textos científicos Leandra Bôer Possa Maria Inês Naujorks 2009 32ª Reunião Nacional da ANPEd -04 a 07 de outubro de 2009, UFSM A formação inicial de professores em interlocução com a perspectiva educacional inclusiva Juliano Agapito Sonia Maria Ribeiro 2015 38ª Reunião Nacional da ANPEd, 01 a 05 de outubro de 2017 UFMA – São Luís/MA UNIVILLE 24 Formação docente inicial na perspectiva da educação inclusiva: Com a palavra, o professor formador Gabriela Maria Barbosa Brabo 2015 37ª Reunião Nacional da ANPEd – 04 a 08 de outubro de 2015, UFSC – Florianópolis UFRGS Google Acadêmico A Educação Especial nos cursos de Pedagogia: considerações sobre a formação de professores para a inclusão escolar Natalia Neves Macedo Deimling 2013 Educação Unisinos 17(3):238-249, setembr/dezem bro 2013 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2 013.173.08 UTFPR A formação de professores para a educação inclusiva: legislação, diretrizes políticas e resultados de pesquisas Márcia Denise Pletsch 2009 Educar, Curitiba, n. 33, p. 143-156, 2009. Editora UFPR UFRRJ Formação de professores e educação especial: reflexões e possibilidades Karina Maldonado Pagnez Rosângela Gavioli Prieto Cássia Geciauskas Sofiato 2015 Olhares, Guarulhos, v. 3, n. 1, p. 32- 57. Maio, 2015 USP O que há de novo na formação de professores para a Educação Especial? Maria Helena Michels 2011 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 24, n. 40, p. 219- 232, maio/ago. 2011 UFSC Fonte: Elaboração própria com base no Portal, Scielo, Google Acadêmico e site da ANPED 25 Os trabalhos encontrados no banco de dados da SciELO, relacionam a formação do professor com a política de perspectiva inclusiva, mas, cada produção apresenta suas peculiaridades. Kassar (2014) traz a referência de analisar características da formação de professores, considerando os programas do governo federal para a formação de um sistema educacional inclusivo. que tem como objetivo central, tratar sobre a educação brasileira, a qual prevê dois tipos de professores para atuação no magistério com aluno com deficiência, os quais são: os capacitados que são considerados professores para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao desenvolvimento de competências e valores; e os especializados que são considerados professores que desenvolveram competências para identificar as necessidades educacionais especiais, para definir, implementar, liderar e apoiar a implementação de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, procedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas, adequadas aos atendimentos das mesmas, bem como trabalhar em equipe, assistindo o professor de classe comum nas práticas que são necessárias para promover a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais. Por fim, a autora destaca que as análises dos resultados encontrados no texto consideram a formação precária para escolarização levando-se em conta as características dos programas de formação e o nível de escolarização dos alunos com deficiências. Oliveira e Mendes (2017) trazem a questão da formação do professor nos cursos de licenciatura em educação especial na perspectiva inclusiva como um modelo ideal para formação de professores especializados. Tendo como objetivo analisar os cursos de licenciatura em educação especial e as disciplinas de cada curso, as autoras analisam seis cursos nas universidades privadas e dois cursos de licenciatura em educação especial de universidades públicas (UFSM e a UFSCar). Tiveram como base de análise o projeto político pedagógico, as ementas e as grades curriculares. Os cursos que ocorrem em parceria com o Parfor (Universidades Privadas) acontecem em regime especial com aulas às sextas e aos sábados, nos períodos de férias escolares, sendo voltados à formação de professores que já atuam na rede regular de ensino, mas que ainda não têm formação superior, formação especializada na área de atuação, não licenciados ou para licenciados que atuem em área distinta da sua formação inicial. Das oito universidades analisadas, seis são particulares (Furb, Unidavi, Unochapecó, UnC, Unoesc e Uniplac) e duas públicas (Ufsm e Ufscar). 26 Destes seis cursos ofertados em universidades privadas, dois têm convênio com o Parfor (Unochapecó, UnC), um com o Fumdes (Uniplac) e outros dois cursos são conveniados com ambos os programas (Unidavi, Furb). Assim, o Parfor e o Fumdes8 configuram-se como os principais programas pelos quais os cursos de educação especial das universidades particulares são oferecidos, o que viabiliza que os mesmos sejam ofertados gratuitamente aos interessados. Por fim, as autoras concluem que o poder público deve se responsabilizar e priorizar de fato a formação inicial do professor de educação especial, garantindo a qualidade e excelência em formação de um ensino público superior. Para tanto, é necessário romper com a dicotomia entre formação inicial e formação continuada e com a valorização evidente desta em detrimento daquela. Pasian, Gonçalves e Cia (2017) ao pensar na formação do professor insere o estudo sobre a formação do professor de educação especial nas salas de recursos multifuncionais – SRM. As autoras trazem que a partir de 2003, o Governo Federal implantou vários programas que, unidos a uma série de ações, objetivavam criar uma política de educação inclusiva. Indicam que em 2008 houve a criação de várias políticas que abordaram o serviçode AEE, o qual deve ser ofertado dentro das Salas de Recursos Multifuncionais SRM, colocando como dever dos sistemas de ensino garantir o acesso ao ensino comum e ao AEE aos educandos Professor de Apoio Educacional Especializado (PAEE). Partem da compreensão de que a política atual objetiva prover aos educandos PAEE acesso à classe comum e destacam a compreensão de que o professor de sala regular não saber lidar com os alunos com deficiência em sala comum, pressupondo de que é fundamental articulação de diálogo entre o professor do SRM e professor de sala regular, para que assim o trabalho pedagógico seja em conjunto. Utilizou-se como instrumento um questionário on-line (survey), com cerca de 84 questões, o qual foi enviado a professores das SRM em âmbito nacional por meio do site do Observatório Nacional de Educação Especial – ONEESP. Por fim as autoras destacam que ao observar as funções destinadas ao professor da SRM, percebe-se que elas são diversas. As respostas apontam para uma visão otimista em relação a sua formação: maioria dos participantes destacou haver a necessidade de mais de um profissional na SRM, bem como cerca da metade dos participantes apontou não se sentir preparado para atuar efetivamente com os alunos que são encaminhados para a SRM. Tendo como alternativa a formação continuada. 8 Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior. 27 Monico, Morgado e Orlando (2018) trazem a formação inicial na perspectiva inclusiva com dois marcos importantes: a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva de 2008 e o avanço de matrículas de pessoas com deficiência no ensino comum. Indicando que durante os anos 80, 90 do século XX e início do século XXI, o Brasil apresentou alguns avanços na tentativa de se universalizar o ensino, quer seja na melhora do fluxo de matrículas, na expansão da Educação Infantil e do Ensino Médio (Mello, 2000), quer na inclusão de alunos da Educação Especial nas redes regulares de ensino, apontando para importantes desafios e uma ressignificação da formação inicial dos professores. Os autores não encontraram muitos estudos acadêmicos sobre a formação inicial na perspectiva inclusiva. Também indicam como marco importante as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior e a formação continuada. Considerando que, embora a política sinalize a importância da formação inicial dos professores na interface inclusiva, as pesquisas são praticamente escassas. Assim, parece que, apesar do aumento do número de matrículas de pessoas com deficiência no ensino comum (Brasil, 2008) e o paradigma inclusivo, desde a década de 1990 ter ganho força e adentrando os portões escolares, as pesquisas sobre formação inicial de professores para atuar no ensino básico parece ter sido relegada a segundo plano. No ano 2000, a Proposta de Diretrizes para formação inicial de professores da Educação Básica em cursos de nível superior (Brasil, 2000) reconhece que a educação básica deve ser inclusiva e que a formação dos professores precisa incluir noções relativas ao atendimento dos alunos público-alvo da educação especial. Por fim, as autoras destacam a necessidade dos Programas de Pós-Graduação construírem um diálogo mais profundo entre a formação inicial de professores e a prática pedagógica na perspectiva da Educação Inclusiva. Garcia (2013) ressalta as mudanças conceituais e estruturais na política de educação especial no Brasil. Tal movimento está relacionada à adoção de uma perspectiva inclusiva para a educação nacional, trazendo a formação docente voltada para as políticas e práticas de formação de professor de educação especial. Dividido em três subtítulo este artigo traz alguns marcos importantes sobre a educação especial, tais como, “a política de educação especial no Brasil na última década”. “A Perspectiva inclusiva na educação especial brasileira”. Por último a “formação de professores e a educação especial brasileira”. O primeiro ponto importante a ser destacado do texto é sobre o contexto histórico e seus “avanços” relacionados às políticas de educação especial. Outro ponto relevante é a dificuldade encontrada entre o AEE e as classes comum, o qual não há uma articulação entre ambos. A 28 autora percebe que o AEE se mantém como paralelo ao trabalho realizado na classe comum, o qual pouco incide sobre o processo de escolarização dos sujeitos da modalidade educação especial. Por fim, ressalta que a importância para esta formação é a certificação, como estratégia de regulação do trabalho. Apropriando-se da discussão de Borowski (2010), a autora indica que a ênfase dessa formação está em formar o professor para aplicar recurso prático diferente para cada uma das deficiências, associada a uma indefinição em relação à perspectiva pedagógica assumida. Os trabalhos encontrados das reuniões Anuais da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), totalizam-se em 5, os quais tratam da formação inicial de professores, formação de professores para a educação inclusiva e formação de professores de educação especial. Oliveira e Araújo (2012) presenta o processo de construção da identidade do aluno docente no curso de formação inicial, a partir dos saberes docentes do professor formador, e se essa identidade construída se aproxima de uma perspectiva inclusiva ou excludente. Desta forma, as autoras utilizaram como dado de pesquisa, uma universidade que se destaca pela preocupação com a educação das pessoas com deficiência. A pesquisa de campo contou com os professores-formadores do curso de pedagogia, os alunos-docentes do referido curso, por intermédio de entrevistas realizadas com os alunos-docentes e professores-formadores e a análise dos os documentos produzidos pelos sujeitos. Através da análise das entrevistas as autoras concluem que a inclusão vai muito além garantir o acesso dos mesmos à educação superior, mas implica num reconhecimento do significado simbólico que essa inclusão tem para a construção da identidade profissional do aluno. As autoras afirmam que s Instituições de Ensino Superior e em particular, os Centros de Educação, podem desenvolver importante papel na melhoria da formação do professor-formador por meio, por exemplo, da ampliação de oferta de disciplinas sobre a temática, tanto na graduação, como nos programas de mestrado. Braga (2009) destaca a formação de professores do Curso de Pedagogia, relacionando teoria e prática na educação. Teve como material para análise documentos nacionais e internacionais relacionados à formação inicial de professores em relação à Educação Especial nas classes do Ensino Regular; realização de trabalho de campo e o levantamento da bibliografia conceitual. O trabalho de campo foi realizado com 24 estudantes do último ano do curso de Pedagogia de uma universidade pública do Estado do Paraná. Quando os alunos 29 foram questionados quanto à possibilidade de ter acesso a livros, artigos, casos ou outros materiais pedagógicos que tratassem da educação especial enquanto graduandos do curso de Pedagogia, dos 24 entrevistados, 23 responderam afirmativamente e um respondeu que não teve este tipo de acesso. Dos 23 entrevistados que responderam afirmativamente, 22 apontaram que esta possibilidade deveu-se ao estudo de textos ou capítulos de livros específicos de educação especial; 23 responderam que tiveram acesso a vídeos que envolviam o tema; 10 consideraram o estudo de textos ou livros de outras áreas, que permitiram o debate acerca da educação especial; oito apontaram para o estudo de casos concretos, e quatro entrevistados relataram a categoria “outros”, a saber: livros inteiros - uma autora em específico (Mantoan); a experiência em escolas da rede municipal e em instituições de educação especial. As respostas foram conduzidas de acordo com quatro eixos:dúvidas de natureza teórica; dúvidas de natureza prática; dúvidas de natureza teórico-prática e dúvidas relacionadas à legislação. A autora destaca que a formação pode se apresentar de forma prática e teórica que precisa ser revista, principalmente modificada relacionados aos documentos e as vivências da prática pedagógica dos professores, pois os documentos afirmam algo que a prática não condiz. Segundo a autora as conquistas e as lutas dos movimentos dos educadores, voltadas para uma formação inicial de professores de qualidade, têm conseguido visibilidade e espaço, e não podem ser desvalorizadas. Reconhece-se que há avanços e um desenvolvimento lento, porém persistente, dos debates. Possa e Naujorks (2009) analisam a formação de professores para a educação especial, de acordo com publicações científicas que ocorreram nos últimos anos, tendo como foco três evidências para uma reflexão. A primeira delas tem como centralidade o discurso acusatório dirigido aos professores da rede oficial de ensino. A segunda anuncia que, ao se discutir os desafios para a implementação de uma política educacional inclusiva não estão em pauta àqueles alunos que trazem histórico de diferença cultural, étnica ou de privações, mas o grupo “alvo” de preocupação é aquele que reúne os nominados “alunos com necessidades educacionais especiais” ou, com deficiências. A terceira evidência foca no questionamento sobre o que seria a formação em educação especial, ou melhor, a formação de um professor de educação especial, tendo em vista que a educação especial é uma área de atuação. Foram utilizadas algumas ferramentas metodologia de meta-análise, tendo como foco principal questionar os enunciados e os efeitos discursivos provocados por estes na formação de professores para a educação especial. Ao analisar as produções as autoras identificam nos textos a ‘perspectiva inclusiva’ e/ou ‘educação inclusiva’. . Indicam que a partir das 30 publicações que digam respeito a formação de professores em educação especial, está determinado o lugar que pode não ser o lugar da educação especial como área de conhecimento e de pesquisa em educação. Destacam também a importância de uma reflexão da educação especial que, em uma perspectiva política, recebe a qualidade/adjetivo de educação inclusiva. Agapito e Ribeiro (2015) apresentam as concepções que os alunos do último ano do curso de pedagogia têm sobre educação inclusiva e diversidade. As autoras trazem como base empírica (sujeitos de pesquisa) 124 acadêmicos, de sete cursos de licenciatura que responderam a um questionário com 24 questões, abertas e fechadas. Os autores concluem que os estudantes concebem educação especial e inclusiva como sinônimos e têm dúvidas ao distinguir seus públicos. Brabo (2015) centraliza sua produção na reestruturação dos cursos de formação docente inicial no ensino superior. Os sujeitos entrevistados por ela foram professores da uma disciplina “Intervenção Pedagógica e Necessidades Educativas Especiais” dos cursos de formação docente inicial em licenciaturas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mais especificamente a Faculdade de Educação (FACED), por se tratar do contexto onde se desenvolvem as disciplinas pedagógicas. A frase: “Não fui preparado para ensinar esse aluno” é repetida muitas vezes ao longo do texto e compõe o objetivo central da análise sobre formação docente inicial. Tal formação seria aquela voltada para o ensino de aluno com deficiência em classe comum na perspectiva da educação inclusiva. A entrevista com os professores da referida disciplina procurou conhecer como eles veem seu trabalho docente e seus alunos no que tange ao tema pesquisado. O autor conclui que uma disciplina “só não faz verão”, pois acredita que existem outras questões envolvidas na temática estudada. Porém, destaca que a disciplina apresenta um potencial de expansão no curso. Dos trabalhos encontrados no banco de dados do google acadêmico destaca-se quatro produções relacionadas a Educação Especial nos cursos de pedagogia, os aspectos da formação com ênfase na inclusão, a política educacional e o discurso político como eixos centrais. Deimling (2013) centraliza o objeto de estudo com a questão relacionada ao espaço reservado à educação especial na formação de professores nos cursos de pedagogia. Tendo como metodologia, um estudo bibliográfico através de um referencial teórico o qual os autores centralizam o curso de pedagogia e a formação de professores como tema, destacam o 31 espaço reservado à Educação Especial na formação docente antes e depois da promulgação da Resolução CNE/CP N° 1/2006. Também discutem a importância dos conhecimentos sobre Educação Especial nos cursos de formação de professores, apresentando o espaço que esses conhecimentos poderiam ter no momento de sua formação inicial. Desta forma a autora apresenta a importância que o professor que atua nas escolas regulares espere de uma escola que denomina como “inclusiva”. Também destaca importância dos conhecimentos básicos sobre a educação especial que o professor deve possuir para que possam atuar colaborativamente com os demais profissionais da educação. Por fim a autora destaca o desafio dos cursos para formar professores que possam desencadear novas atitudes que permitam a compreensão de situações complexas de ensino. Pletsch (2009) destaca alguns aspectos relativos à formação de professores no Brasil, com ênfase para a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais no ensino regular. A autora traz para discussão que é preciso compreender que mudanças na educação, para atender ao paradigma de inclusão educacional, dependem de diversos fatores, como, por exemplo, o contexto social, econômico e cultural em que se insere a escola, as concepções e representações sociais relativas à deficiência e, por fim, os recursos materiais e os financiamentos disponíveis à escola. A formação deve atender às necessidades e aos desafios da atualidade e, para tanto, o professor deve ser formado para mobilizar seus conhecimentos, articulando-os com suas competências mediante ação e reflexão teórico-prática. Destacando que o professor deve valorizar a diversidade no processo de ensino-aprendizagem a autora indica a necessidade de o professor ser capacitado para construir estratégias de ensino, como a adaptação de atividades, não apenas para os alunos que possuem deficiência, mas para todos que estão presentes em sua prática pedagógica. Pagnez, Prieto e Sofiato (2015) discutem os desafios educacionais a respeito à formação inicial e continuada de professores para atuar na educação especial. Expõem a metodologia de trabalho como de cunho bibliográfico, apresentando reflexões acerca da formação de professores de educação especial no Brasil a partir da década de 1970. O texto está dividido em dois momentos: no primeiro destaca o contexto da formação de professores para a educação especial a partir de um resgate histórico pré-diretrizes da pedagogia; no segundo traz as demandas para a formação de professores de classe comum. Destacam que as propostas para a formação de professores em vigência acomodam cursos presenciais, semipresenciais e à distância; muitos se configuram como especialização, denominados genericamente educação inclusiva e que são realizados por instituições privadas de educação superior. 32 Michels (2011) ressalta os discursos inclusivos nas políticas educacionais brasileiras, destacando que a formação de professores está articulada à formação continuada para trabalhar com os alunos com deficiência. Não identifica como foco na formação inicial de professores a articulação entre o AEE e a classe comum. Destaca assim, que este modelo de formação secundariza o processo pedagogo e privilegia o médico-psicológico. A autora observa que a inclusão de alunos considerados comdeficiência pode ser tratada equivocadamente como um problema restrito das competências dos professores, ou seja, o professor é responsabilizado pelo sucesso ou fracasso dos encaminhamentos inclusivos. Este balanço de produção pode nos indicar algumas questões importantes que vale destacar como a compreensão de que uma formação precária para escolarização levando em conta as características dos programas de formação. Nesta questão, Kassar (2014) indica que: O primeiro consiste na característica da atuação do professor: uma sala de recursos multifuncionais requer um professor também multifuncional, que seja capaz de atuar em diferentes frentes, para atender diferentes deficiências. Sua formação não deve, portanto, ser restrita, mas generalista. Outro elemento importante a salientar é o esvaziamento da base teórica e do conteúdo pedagógico na formação que passa a assumir feição gerencial, instrumental, valorizando a educação à distância e a mercantilização da mesma, como apontado por Garcia (2013) quando afirma que: Os AEEs têm assumido uma complementaridade formal, uma vez que não constituem serviços articulados com o trabalho pedagógico desenvolvido na classe comum (Michels; Garcia, 2010). Podemos dizer que em grande medida os modi operandi das salas de recursos, do ponto de vista do trabalho docente ali realizado, se mantêm como paralelo ao trabalho realizado na classe comum, o qual pouco incide sobre o processo de escolarização dos sujeitos da modalidade educação especial. (GRACIA, 2013 p. 09). Com estas indicações é possível afirmarmos que as produções acadêmicas expressam que a racionalidade técnica está presente na formação do professor uma vez que indicam formação secundarizada, instrumentalista, uma formação aligeirada tendo como objetivo trabalhar com identidade docente; relação teoria e prática; concepção sobre o curso de pedagogia/reestruturação de curso de formação, havendo uma centralidade de “encontrar” um certo perfil do professor para a educação especial. 33 2.2 Contexto histórico da formação de professores de educação especial A formação de professores de Educação Especial no Brasil, inicia-se em 1972 como habilitação específica no curso de pedagogia. Essa possibilidade de formação teve início por meio do Parecer do Conselho Federal de Educação nº 252/69, cujo relator foi Valnir Chagas, e que instituiu a formação docente e de especialistas em educação, regulamentando as habilitações de Magistério, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção escolar, dentro do curso de Pedagogia (MICHELS, 2017, p.24). Para Chaves (1980) apud Michels (2017, p.25) “Nesta reforma se indicava a profissionalização do setor educacional com modalidades diferentes, com uma base comum e a profissionalização, a partir das influências do mercado de trabalho, nas habilitações específicas”. Foi através desta reforma que a formação de professores em Educação Especial passou a ser pensada em nível superior. Segundo Bueno (1999, p. 19), “A formação de professores de Educação Especial foi elevada ao nível superior no bojo de reformas ocorridas no final dos anos 60 e início dos 70, tendo por princípio a maior especialização exigida por esse tipo de ensino”. Essa formação nasce então junto ao curso de Pedagogia em habilitação específica, por área de deficiência (MICHELS, 2017). Segundo a mesma autora, o tecnicismo chega à área de educação especial, exaltando historicamente às técnicas e recursos especificíssimos associando-a à racionalidade técnica, à ideia de eficiência e produtividade empregada na Educação (MICHELS, 2017). Os cursos de Pedagogia que passaram a oferecer habilitação específica para a Educação Especial o fizeram mediante a habilitação em educação especial ou por meio de quatro áreas específicas (Deficiência da Audio - comunicação ― ou Deficiência Auditiva ―; Deficiência Física; Deficiência Mental e Deficiência Visual). Tal subdivisão parece fragmentar a própria habilitação, como por exemplo, quanto ao currículo, que seguia uma parte comum, com disciplinas para todas as habilitações e inclusive para as quatro áreas da Educação Especial, e outra parte específica para cada habilitação e diversificada para cada área da Educação Especial. Em outras palavras, a Educação Especial não tinha um currículo único para a área. Havia um currículo específico para cada subárea da Educação Especial (MICHELS, 2017, p.33). 34 De acordo com esta organização curricular, ocorre uma subdivisão, reforçando a área da psicologia com a Biologia, tendo como destaque, desta forma o pedagógico acaba sendo secundarizado. A presença marcante de um modelo médico/biológico observável, principalmente, nas disciplinas relacionadas à Anatomia, Fisiologia, Patologia, entre outras, serviu de base para a implementação de vários cursos de Pedagogia no Brasil. Não menos importante, o modelo psicológico de perspectiva comportamental tem forte visibilidade no currículo que forma os professores para esta área específica (bem como para outras habilitações do curso de Pedagogia). (MICHELS, 2017, p.34). O currículo então afirma a educação especial de acordo com suas especificidades, colaborando para exclusão dos alunos com deficiência fora da Educação Regular. “Parte dessa exclusão pode estar relacionada à formação dos profissionais da Educação, que tinham como pressuposto que as pessoas consideradas deficientes aprendiam e se desenvolviam de maneira distinta das demais pessoas ou que, simplesmente, não poderiam aprender” (MICHELS, 2017, p. 35). No ano de 1980, inicia um segundo curso em nível superior, o qual passa a formar professores de educação especial, o curso de licenciatura em educação especial, ofertado pela a Universidade Federal de Santa Maria. Este curso nasce do curso de pedagogia, porém opta por ser outra licenciatura. Durante os anos 1980, no Brasil, a integração foi a base da formação de professores de Educação Especial. Neste período, a formação do chamado “especialista”, ou melhor, do habilitado em educação especial nos cursos de Pedagogia, centrava-se na possibilidade de inserção dos alunos considerados deficientes na rede regular de ensino (MICHELS, 2017, p.39). Porém, como observado por Dias (2013), a perspectiva biológica também é a base dessa formação, a qual os professores devem planejar de acordo com as especificidades do sujeito, de acordo com o ambiente e estímulo, para que assim ocorra a aprendizagem. Desta forma o aluno assume uma posição secundária e passiva. Se nesta visão o aluno aprende através de estímulos, sendo desconsiderada sua maturação biológica, mas considera que dependendo do estado físico ou psicológico que o aluno se encontra ele não aprende, fica compreendido então, que se este sujeito não aprende, pouco a escola comum pode fazer por ele (DIAS, 2013, p.49). O foco desta concepção é o treinamento baseados em estímulo e resposta, a qual as escolas especiais seriam o lugar mais apropriado para este tipo de trabalho, o qual a meu ver, seria um trabalho não pedagógico, pois o foco central é a apropriação das técnicas e recursos. 35 Assim o processo de ensino e aprendizagem dos alunos da Educação Especial não é pensado para a sala de aula. Na década de 1990, as ideias segregacionitas atrelam-se ao movimento de integração. Esta indica que: [...] em vez de focalizar a deficiência da pessoa, enfatiza o ensino e a escola, bem como as formas e condições de aprendizagem; em vez de procurar, no aluno, a origem de um problema, define-se pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que a escola deve proporcionar-lhe para que obtenha sucesso escolar; por fim, em vez de pressupor que o aluno deva ajustar-se a padrões de “normalidade” para aprender, aponta para a escola o desafio de ajustar-se para atender à diversidade deseus alunos (JANNUZZI, 2004, p.20). A escola então é vista como transformada de conhecimento, assim realçando os métodos de recurso e técnicas utilizadas para a inserção deste aluno na escola regular, estes recursos e técnicas são enfatizados como possibilitadores de conhecimentos necessários, assim atendendo às dificuldades de cada aluno. As habilitações nos cursos de pedagogia, nesse momento, passam a ser mais generalistas, não mais organizadas por deficiência. Porém, a concepção política centrada na utilização de métodos e técnicas permanece nessa formação. Nos anos 2000, com a influência das discussões internacionais, a inclusão passou a ser debate no Brasil. O discurso cônscio dos organismos internacionais como Banco Mundial (BM), Organização das Nações Unida para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) chamam a atenção para a necessidade de políticas sociais inclusivas como estratégias de articular a sociedade civil para combater a pobreza. Destacamos que análise deste discurso se refere a políticas de inclusão como, gerencial, humanitário e pedagogizante (GARCIA, 2004 apud GARCIA 2017, p. 22). As análises apreendidas por Garcia (2004), referente as Diretrizes Nacional para a Educação Especial na Educação Básica e a própria LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), indicam que estes carregam um discurso enfático na defesa ideológica da inclusão escolar. Compreendemos que as políticas de perspectiva inclusiva na educação estão em desenvolvimento no Brasil mediante a inserção escolar gradativa dos sujeitos na escolaridade obrigatória, produzida no confronto estabelecido 36 entre as necessidades do mercado e as demandas da classe trabalhadora, hegemonizados pelos interesses burgueses (GARCIA, 2017, p. 24). Com as Diretrizes Nacional para Educação Especial, então, é reforçada a divisão do trabalho dentro das escolas. Se, anteriormente, os professores especializados em atender os alunos considerados deficientes atuavam fora da escola regular, agora, com a política de inclusão, estes professores deveriam estar dentro das escolas indicando o que deve ser feito pelos professores capacitados. A política de Educação Especial na perspectiva inclusiva no Brasil é veiculada pela ideia dos documentos internacionais. O termo “na perspectiva da educação inclusiva” é associado com mais frequência no período dos dois mandatos do governo Lula (2003/2010) e o primeiro mandato do governo Dilma (2011/2014). Podemos verificar essa apreensão no título do documento que tem por finalidade apresentar as diretrizes para a política de educação especial no Brasil no governo Lula da Silva (BRASIL, 2008), bem como nos debates acadêmicos que tratam da política. Entretanto, nos termos da discussão aqui desenvolvida, consideramos que o documento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001), elaborado como desdobramento dos debates a partir da LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) já carregava em seu escopo um perfil de perspectiva inclusiva, ainda que lançando mão de estratégias parciais e com um discurso menos enfático na defesa ideológica da inclusão escolar (GARCIA, 2017 p.23). Salientamos que a política de perspectiva inclusiva, está relacionada a um processo de inserção escolar dos estudantes da educação especial, o qual tem como interesse, as necessidades do mercado de trabalho e a hegemonização pelos interesses burgueses. Cambaúva (1988), mesmo não se referindo a perspectiva inclusiva, nos ajuda compreender que a Educação Especial vem historicamente tratando da adaptação dos sujeitos à sociedade. Garcia (2017), corroborando com Cambaúva (1988) indica: O sentido primeiro da Educação Especial tem sido (ainda que seus estudiosos venham a negar) a adaptabilidade do excepcional à sociedade. Esta questão levanta mais uma vez dois pontos embutidos na raiz do pensamento da Educação Especial. O primeiro é que o indivíduo é possível modificar-se, no sentido de adaptar-se ou condicionar-se. O segundo é que à sociedade, em não sendo possível a transformação, cabe integrar o primeiro a ela. A síntese desses dois pontos é, de um lado, a perspectiva reformista e não transformadora; de outro, a resignação frente a leis sociais invariáveis. Existe, por certo, a omissão do caráter histórico do homem. É esta visão que a Educação Especial carrega, dado que se apoia em teorias onde a naturalização, o caráter harmônico da sociedade, a necessidade de integração dos seus membros a esta sociedade (no sentido de homogeneização), a autonomia da educação frente à sociedade, são as bases fundantes destas teorias (CAMBAÚVA, 1988, p. 89-90 apud GARCIA, 2017, p.24). 37 Poderíamos questionar então, como nesses encaminhamentos políticos impactam na formação de professores? Poderia essa formação ser apreendida em uma perspectiva reformista? Em 2006, “Ministério da Educação lança as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia” (DCNP) (BRASIL, 2006). Estas diretrizes trazem mudanças importantes para a formação de professores no Brasil e, particularmente, para a formação de professores da educação especial. Tais diretrizes vêm acompanhadas de modificações importantes na política para a educação especial, principalmente a partir da divulgação do documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” (BRASIL, 2008). Logo após 2008, Vaz (2017) observa que, em análise dos documentos publicados, privilegia-se o professor do AEE. Direcionando a formação deste professor para uma determinada especificidade, dando ênfase a deficiência Para atuar no AEE, o professor precisa frequentar o Curso de Aperfeiçoamento de Professores para o Atendimento Educacional Especializado, “oferecido em nível de aperfeiçoamento, com duração de cento e oitenta horas, e em nível de especialização com trezentas e sessenta horas. 87% do curso ocorre na modalidade à distância e 13% presencialmente” (BOROWSKY, 2011, p. 4). Nota-se que precarização está na formação destes professores, sem retorno pedagógico e com esvaziamento teórico, o qual possibilita uma reflexão do caráter social e histórico da escola. Esse novo professor sofre com os mesmos dilemas do professor da sala comum, como a sobrecarga de trabalho e a responsabilização pelo desempenho dos alunos. Segundo Vaz (2017) apesar das especificidades, este professore da educação básica, sofrem com as mesmas políticas de intensificação e precarização, tanto no seu trabalho como na sua formação. “Assim como o modelo de formação está em consonância com as políticas de formação docente, as quais impulsionaram o modelo de cursos a distância, aligeirados e com enfoque pragmático (MAUÉS, 2003, SHIROMA, EVANGELISTA, 2004 VAZ, 2017, apud p.81). Segundo Evangelista (2010) O professor mal preparado torna-se um obstáculo; pouco monitorado constitui um perigo; reconvertido adere ao programa de reforma e o implementa. 38 A formação de professores para a educação especial, então sai do curso de pedagogia e migra para os cursos de Licenciatura em Educação Especial e para os cursos de aperfeiçoamento. Segundo Michels (2017) os professores que atuarão com os alunos sujeitos da educação em sala de aula têm sua formação nos cursos de Pedagogia formando-se capacitados para atender esses sujeitos e os profissionais que irão atuar com estes alunos nos AEE são formados em outra licenciatura em cursos de aperfeiçoamento. Porém, os dois atuam com os mesmos alunos na escola regular. Está formação então ocorre pela exclusão dos processos de ensino e aprendizagem das pessoas com deficiência das escolas regulares, fazendo parte da constituição da área no país a marca assistencialista colocada nas políticas sociais. Seria essa a compreensão de Evangelista e Leher (2012) sobre
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