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Ensino de Química dos alimentos Componentes vitamínicos e nutracêuticos. Objetivo: Conhecer as funções das substâncias adicionas aos alimentos e aquelas essenciais que ajudam em nossa saúde. Alimento nutracêutico é um termo comercial usado para alimentos funcionais ou produtos alimentícios que podem ajudar a prevenir e tratar doenças. Deve-se notar que o termo nutracêutico, como comumente usado em marketing, não tem definição regulatória. As alegações de propriedade funcional utilizadas nos chamados “alimentos funcionais” estão relacionadas ao papel metabólico ou fisiológico que um nutriente (ex.: fibras) ou não nutriente (ex.: licopeno) tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções do organismo. Os ingredientes fontes dos nutrientes ou não nutrientes relacionados à alegação de propriedade funcional ou de saúde devem ser comprovadamente seguros para consumo humano. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) visando regulamentar esta nova prática no Brasil publicou a portaria nº 398 que estabelece as diretrizes básicas para a análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Os alimentos funcionais contêm compostos bioativos (que são naturalmente encontrados em alimentos) e podem ser classificados de dois modos: quanto à fonte, de origem vegetal ou animal, ou quanto aos benefícios que oferecem, atuando em seis áreas do organismo: no sistema gastrointestinal; no sistema cardiovascular; no metabolismo de substratos; no crescimento, no desenvolvimento e diferenciação celular; no comportamento das funções fisiológicas e como antioxidantes. Existe uma grande variedade de compostos bioativos, alguns exemplos: catequinas encontradas no chá verde reduzem risco de alguns tipos de câncer, assim como o sulfurofano encontrado em brócolis; os ácidos graxos (ômega‐3) presentes em peixes reduzem os triglicerídeos e o colesterol e com isso o risco de doenças cardiovasculares; fitoquímicos encontrados em frutas e vegetais tem atividade antioxidante, entre outras funções. As substâncias antioxidantes, assim como outras substâncias encontradas em plantas, são também denominadas fitoquímicos. Estas substâncias apresentam diferentes mecanismos de atuação no sistema fisiológico. Por exemplos, os antioxidantes, em níveis moleculares ou celulares, servem para desativar espécies reativas chamadas de radicais livres. Os radicais livres são subprodutos naturais de muitos processos dentro das células e entre elas. Esses radicais podem ser também gerados pela exposição a vários fatores ambientais como o tabagismo, a radiação, a poluição e o estresse. Os antioxidantes atuam na remoção dos radicais livres antes que eles tenham a chance de causar algum dano ao corpo. Os flavonoides (Figura 1) apresentam atividade anti-inflamatória e antioxidante. Atuam na redução de risco de doenças crônicas não transmissíveis, redução de risco de doenças neurodegenerativas, melhora do quadro geral na menopausa (isoflavonas). Figura 1. Estrutura molecular de flavonoides. Segundo a ANVISA (Resolução nº 18 de 30/04/1999) toda alegação funcional deve ser embasada em trabalhos científicos. Por exemplo, a alegação sobre o licopeno, encontrado em tomates, (Figura 2): “O licopeno tem ação antioxidante que protege as células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. Figura 2: Estrutura do licopeno Assim, um alimento pode ser considerado funcional se for demonstrado de maneira satisfatória que possa agir de forma benéfica em uma ou mais funções do corpo, além de se adequar à nutrição, de certo modo melhorando a saúde e o bem‐estar, ou reduzindo o risco de doenças. Como vimos na Aula 1, os alimentos possuem em sua constituição várias substâncias importantes para o bom funcionamento do nosso organismo (Figura 3). Dentre estas substâncias temos as vitaminas. Diferentemente dos carboidratos, lipídeos, proteínas e água, esses compostos são necessários em pequenas quantidades no nosso organismo. Esses compostos que funcionam como vitaminas para os seres humanos nem sempre são vitaminas para outros animais. Assim, nos deteremos as vitaminas relacionadas aos seres humanos. Então, vamos chamar de nossas! Nossas vitaminas são classificadas em lipossolúveis e hidrossolúveis. As vitaminas lipossolúveis são A, D, E e K. Já as vitaminas hidrossolúveis compreendem as vitaminas do complexo B e a vitamina B. É interessante entender como a química está presente em tudo! Para absorção das lipossolúveis é fundamental a presença da bile, que possui os sais, verdadeiros sabões, que facilitam a absorção das vitaminas lipossolúveis. Vitamina A (retinol, retinal e quatro carotenoides, incluindo betacaroteno): as fontes são fígado, laranjas, frutas amarelas, folhas, cenouras, abóboras, espinafres, peixe, leite e leite de soja. Sua deficiência causa uma doença com nome muito estranho, nictalopia (xeroftalmia), que é a cegueira noturna pois o retinol participa da bioquímica envolvida nos bastonetes (mais especificamente o 11-cis-retinol), células especializadas do olho que recebem a luz. O excesso de vitamina A pode trazer problemas de alta sensibilidade a luz solar, problemas de pele, etc. Esse fato é comum entre esquimós, onde o consumo de óleo de fígado de bacalhau é grande. Vitaminas do complexo B (Tiamina- B1, Riboflavina- B2, niacina e nicotinamida- B3, ácido pantotênico- B5, piridoxina- B6, biotina- B7, ácido fólico- B9 e cianocobalamina e metilcobalamina- B12): a principal fonte são de origem animal como carnes, leites e ovos. Porém, algumas destas vitaminas do complexo B podemos encontrar em aspargos, feijão, amendoins, folhas, arroz entre outras. A riboflavina por exemplo favorece o metabolismo de gorduras. A falta de vitaminas do complexo B causa anemias pois estas vitaminas estão envolvidas em diversas funções biológicas. Inúmeras pessoas aderem a diversas dietas ou estilos de vida. Dentre eles existem os vegetarianos e, dentre os mais radicais, os veganos. Estes indivíduos geralmente têm deficiência de vitaminas do complexo B. Essas deficiências podem gerar desde problemas físicos (anemias) até problemas neurológicos (Síndrome de Wernicke-Korsakoff). Podemos encontrar a cobalamina em plantas, porém não são “bioacessíveis”, um assunto para próxima aula. Vitamina C (ácido ascórbico): a fonte principal são as frutas cítricas como laranja e acerola. Mas também é encontrado em fígado, corte de carne de pouco valor de mercado mas de grande valor nutricional. A vitamina C atua na hidroxilação do colágeno. O colágeno é uma proteína fibrilar que dá resistência aos ossos, dentes, tendões e paredes dos vasos sanguíneos. Por isso, a falta de vitamina C em indivíduos confinados por meses em navios, na antiguidade, apresentavam escorbuto, que é uma doença caracterizada pelo sangramento de gengivas e mucosas. Essa vitamina é uma poderosa antioxidante, usada como conservante, como já visto. Nos organismos também participa da síntese de moléculas que atuam como hormônios ou neurotransmissores. Vitamina D (colecalciferol-D3 de origem animal, ergocalciferol-D2 de origem vegetal): a deficiência desta vitamina causa raquitismo e osteomalácia, doenças relacionadas a formação óssea. A fonte são ovos, peixes, fígado e cogumelos. Essa pró-vitamina presente nos alimentos (7-hidroxicolecalciferol) necessita de radiação UV para se converter a vitamina no organismo (a colecalciferol) e promover a fixação do cálcio. Portanto, falta de exposição a luz solar pode causar a deficiência de colecalciferol. Atualmente, o excesso de uso de protetores solares têm causado deficiência dessa vitamina, especialmente em mulheres. Vitamina E (alfa-tocoferol): sua deficiência é bastante rara podendo causar infertilidade em homens e aborto em mulheres além de anemia hemolítica em recém-nascidos. As fontes são frutas e vegetais, nozes e sementes, dentreelas alho. Esta vitamina atua praticamente como um conservante no nosso organismo, contra a oxidação! Há inúmeros efeitos positivos de sua ingestão como diminuição de doenças cardiovasculares, Alzheimer e Parkinson. Vejam a estrutura do tocoferol, e como elétrons pedem encontrar ali um “refúgio” e como suas características são de uma molécula lipossolúvel (Figura 3). Vitamina K (filoquilina, menaquinonas): atua na coagulação sanguínea. Ela encontrada em folhas como couve, espinafre e também em gema de ovo e fígado. Figura 3. 1-) Ligação de uma vitamina com o grupo prostético de uma enzima; 2-) Ácido fólico e sua função de transportar grupos metil dentro de uma célula; 3-) Betacaroteno; 4-) Cobalamina; 5-) Piridoxina; 6-) Ácido ascórbico; 7-) Colecalciferol; 8-) Tocoferol; 9-) Menaquinona. Referências BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 16, de 30 de abril de 1999. Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos e ou Novos Ingredientes, constante do anexo desta Portaria. Diário Oficial da União, Poder Executivo, de 3 de dezembro, de 1999. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 18, de 30 de abril de 1999. Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos, constante do anexo desta portaria. Diário Oficial da União, Poder Executivo, de 3 de dezembro, de 1999. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 2, de 7 de janeiro de 2002. Aprova o Regulamento Técnico de Substâncias Bioativas e Probióticos Isolados com Alegação de Propriedades Funcional e ou de Saúde. Diário Oficial da União, Poder Executivo, de 9 de janeiro de 2002. Cardoso, A.L.; Oliveira,G.G. Alimentos Funcionais. 2008. Disponível em:<http://www.nutrijr.ufsc.br/jornal/jornal_eletronico_06-08.pdf>. Acesso em: 2 de maio de 2018. Moraes, F.P.; Colla, L.M. Alimentos funcionais e nutracêuticos: definições, legislação e benefícios á saúde. Revista Eletrônica de Farmácia, v.3, n.2, p. 99112, 2006. Dietary-supplements.info.nih.gov (2013). Vitamin and Mineral Supplement Fact Sheets Vitamin A». Consultado em 3 de agosto de 2017. Hardman, J.G.; et al. (2001). Goodman and Gilman's Pharmacological Basis of Therapeutics 10ª ed. Lieberman, S e Bruning, N (1990). The Real Vitamin & Mineral Book. Nova Iorque: Avery Group.
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