Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Programa de Pós-Graduação a Distância Curso de Pós-Graduação lato sensu em FARMACOLOGIA Módulo I Farmacologia Geral e Autonômica Disciplina: Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo – Bases Anatomofisiológicas 234 Sistema nervoso autônomo e homeostase: os caminhos da sua descoberta A parte do sistema nervoso que comanda as funções viscerais do organismo recebe o nome de Sistema Nervoso Autônomo (SNA). O SNA, também referido como sistema nervoso visceral, vegetativo ou automático, tem as funções de manter estável o organismo frente às necessidades de adaptação aos meios internos e externos. Uma vez que o organismo é tal qual uma máquina, que funciona continuamente, para a sobrevivência, há uma necessidade de manter constantes as condições internas, mesmo sob fortes variações do meio externo. Isso é conhecido como Homeostasia, conceito criado pelo fisiologista francês Claude Bernard (1813- 1878) e se refere a essa permanente tendência do organismo de manter a constância do meio interno. É o que outro fisiologista americano, Walter Cannon (1871-1945), denominou “sabedoria do corpo”. A homeostasia se aperfeiçoou bastante durante a evolução, permitindo um grau de independência, cada vez maior, dos animais, em relação ao meio externo em que vivem. A manutenção desse frágil equilíbrio é coordenada por regiões do sistema nervoso, especialmente dedicadas a isso. A rede que controla o organismo, do ponto de vista da homeostasia, é o SNA. Esse sistema ajuda a controlar a pressão arterial, a motilidade e a secreção gastrintestinal, a emissão urinária, a sudorese, a temperatura corporal e muitas outras atividades, sendo que algumas são regidas quase que totalmente pelo sistema nervoso autônomo, e outras só parcialmente. A denominação de SNA foi criada pelo fisiologista britânico John Langley (1853-1925), acreditando que os seus componentes funcionariam em considerável grau de independência do restante do sistema nervoso. O conceito demonstrou-se errado e outros nomes foram propostos. Mas nenhum deles mostrou-se mais apropriado e o nome que prevaleceu, apesar de sua limitação, foi o proposto por Langley. Conforme representado na figura abaixo, o Sistema Nervoso Periférico Eferente pode ser dividido funcionalmente em: 235 a) SN somático: ou sistema nervoso da vida de relação, que garante ao organismo a sua atuação no meio ambiente externo por meio do controle sobre atividade da musculatura esquelética. b) SN visceral: ou sistema nervoso da vida vegetativa que garante ao organismo o controle sobre o meio ambiente interno, regulando a atividade dos órgãos viscerais (glândulas, músculos liso e cardíaco). Nesse caso, os órgãos viscerais são controlados por uma via eferente denominada Sistema Nervoso Autônomo (SNA) constituído de duas divisões anatômica e funcionalmente distintas: simpático e parassimpático. 236 Os órgãos viscerais são inervados por uma cadeia de dois neurônios: um neurônio pré-ganglionar, cujo corpo fica localizado dentro do SNC, e outro neurônio pós-ganglionar, cujo corpo celular fica localizado dentro de um gânglio. Na maioria dos casos, um mesmo órgão visceral possui inervação simpática e parassimpática, cada um exercendo efeitos antagônicos. O SNA é composto por um conjunto de neurônios situados no tronco encefálico e na medula espinhal e apresenta duas divisões clássicas e uma ainda controvertida. A controvertida é a divisão gastroentérica, constituída pelos plexos intramurais, que é uma intrincada rede de neurônios situados nas paredes das vísceras que participam do controle das funções digestivas. As clássicas são a divisão Simpática e Parassimpática. O simpático é recrutado sempre que o organismo encontra-se em uma situação de emergência como lutar-ou-fugir, ou seja, quando tem que se gastar muita energia. Já a atividade parassimpática causa efeitos antagônicos sobre um mesmo órgão inervado pelo simpático e está relacionada às funções de economia e obtenção de energia (repouso e digestão). De qualquer maneira, um determinado estado do organismo é consequência do balanço entre as atividades simpáticas e parassimpáticas que se integram e se complementam. O nível de atividade do SNA é regulado pelas vias aferentes periféricas viscerais, pelo tronco encefálico, hipotálamo, o sistema límbico e outros centros do SNC. Lembre-se que muitas reações emocionais e atividades mentais são acompanhadas de manifestações viscerais. 237 O SNA é a parte do Sistema Nervoso que controla as funções viscerais. Ajuda no controle da pressão arterial, motilidade e secreção gastrointestinal, emissão urinária, sudorese, temperatura corpórea, e muitas outras atividades. Algumas dessas atividades são inteiramente controladas por ele; enquanto outras são somente em parte controladas por ele. Suas principais características são a rapidez e a intensidade com a qual pode alterar as funções viscerais. O sistema nervoso autônomo é capaz de controlar, agindo por meio de fibras nervosas autonômicas rápida e efetivamente, muitas, senão todas, as funções internas. As divisões do SNA Classicamente, o sistema nervoso autônomo é subdividido em dois grandes subsistemas: a divisão simpática e a divisão parassimpática. Esses nomes estranhos derivam da palavra grega que significa “harmonia, solidariedade” e se relacionam à ideia de que sua função é homeostática. 1. O Sistema Simpático (SNS) Tem sua origem em neurônios localizados na medula espinhal, na porção tóraco-lombar. Os axônios dessas células emergem da medula pelas raízes ventrais 238 e se estendem até uma série de gânglios simpáticos que se encontram em diferentes regiões do corpo. Alguns gânglios se localizam no pescoço e no abdome, porém a maior parte se encontra na região torácica. Estes últimos formam a cadeia simpática lateral. As fibras simpáticas dos gânglios viscerais inervam o intestino, os vasos sanguíneos intestinais, o coração, os rins, o baço, e outros. Em troca, as fibras contidas nos nervos espinhais inervam os vasos sanguíneos da pele e dos músculos, os músculos eretores dos pelos e as glândulas sudoríparas. As fibras provenientes do tronco simpático cervical inervam diferentes estruturas da cabeça, incluindo os vasos sanguíneos, os músculos pupilares e as glândulas salivares. Distribuição segmentar dos nervos simpáticos: T1: fibras que vão pela cadeia simpática até a cabeça. T2: fibras que vão ao pescoço. T3 → T6: fibras que vão ao tórax. T7 → T11: fibras que vão ao abdômen. T12 → L2: fibras que vão às pernas. Essa distribuição é aproximada e implica em grau considerável de superposições. A distribuição dos nervos simpáticos para cada órgão é determinada parcialmente pela posição na qual este se originou no embrião. 2. O Sistema Parassimpático (SNP) É formado por fibras contidas nos pares cranianos III, VII, IX e X, e por outras fibras que emergem da região sacra da medula espinhal. Esses nervos podem correr separadamente ou junto com alguns nervos espinhais. O mais importante nervo parassimpático é o vago (pneumogástrico), de ampla distribuição, que transporta as fibras parassimpáticas a praticamente todas as regiões do corpo com exceção da cabeça e das extremidades. 239 Os nervos do sistema parassimpático inervam grande quantidade de estruturas e órgãos incluindo o coração, o músculo liso e alguns vasos sanguíneos, os brônquios, o trato intestinal e a bexiga, além de grande quantidade de glândulas secretórias. O raio de atuação do SNA é bem mais amplo do que o controle do sistema motor somático: o SNA não só controla a motilidade dos órgãos viscerais musculares como também controla o metabolismo tecidual e a secreção das glândulas. Nosgânglios autonômicos, o neurônio pré-ganglionar faz sinapses químicas com os neurônios pós-ganglionares, e estes controlam os órgãos efetores por junções neuromusculares, cujas conexões não são tão bem definidas como nas junções neuromusculares esqueléticas. A membrana pós-sináptica (lisa ou cardíaca) não possui placa motora e os neurotransmissores são secretados em uma ampla superfície, não havendo uma relação de uma fibra nervosa com uma célula muscular como acontece com a unidade motora esquelética. 240 Tanto as células somáticas como as viscerais precedem a atividade mecânica com uma mudança na atividade elétrica (potenciais de ação) na membrana. A figura abaixo mostra a origem das fibras simpáticas e parassimpáticas a partir da medula espinhal e os órgãos por elas inervados: Curiosidade... O sistema nervoso simpático é responsável pela sobrevivência de inúmeras espécies de répteis e primatas. Fator que assegura a postura bípede do homem, permitindo aporte de sangue no encéfalo, na posição ortostática. 241 A terceira divisão doSNA: o plexo entérico Inervação do trato gastrointestinal Entre as camadas musculares do trato gastrointestinal (TGI) está o plexo entérico. São dois plexos situados no TGI e que somam de 80 a 100 milhões de neurônios, quase tanto quanto tem a medula espinhal. Plexo mioentérico ou Plexo de Auerbach: situado entre as camadas musculares, circular e longitudinal. Plexo submucoso ou Plexo de Meissner: entre a mucosa e a camada circular. Estes plexos interconectados constituem o sistema nervoso entérico. O plexo possui neurônios funcionalmente distintos: a) Neurônios sensoriais (quimio e mecanorreceptores). b) Interneurônios. c) Neurônios motores (glandulares e musculares). Como podemos ver na figura, o plexo pode funcionar sozinho baseado na organização de reflexos motores e glandulares. No entanto, é regulado pelo SNA simpático e parassimpático já que os respectivos neurônios pós-ganglionares fazem parte desse plexo. 242 243 Efeitos da estimulação do Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático nos órgãos efetores, com a excitação de alguns órgãos e inibição de outros. Órgão Efeito da estimulação simpática Efeito da estimulação parassimpática Olho: Pupila Músculo ciliar Dilatada Nenhum Contraída Excitado Glândulas gastrointestinais Vasoconstrição Estimulação de secreção Glândulas sudoríparas Sudorese Nenhum Coração: Músculo (miocárdio) Coronárias Atividade aumentada Vasodilatação Diminuição da atividade Constrição Vasos sanguíneos sistêmicos: Abdominal, Músculo Pele Constrição Dilatação Constrição ou dilatação Nenhum Nenhum Nenhum Pulmões: Brônquios Vasos sanguíneos Dilatação Constrição moderada Constrição Nenhum Tubo digestivo: Luz Esfíncteres Diminuição do tônus e do peristaltismo Aumento do tônus Aumento do tônus e do peristaltismo Diminuição do tônus Fígado Liberação de glicose Nenhum Rim Diminuição da urina Nenhum Bexiga: Corpo Esfíncter Inibição Excitação Excitação Inibição Ato sexual masculino Ejaculação Ereção Glicose sanguínea Aumento Nenhum Metabolismo basal Aumento em até 50% Nenhum Atividade mental Aumento Nenhum Secreção da medula supra-renal: adrenalina Aumento Nenhum 244 Em geral, quando os centros simpáticos cerebrais se tornam excitados, estimulam, simultaneamente, quase todos os nervos simpáticos, preparando o corpo para a atividade. Além do mecanismo da descarga em massa do sistema simpático, algumas condições fisiológicas podem estimular partes localizadas desse sistema. Duas das condições são as seguintes: • Reflexos calóricos: o calor aplicado à pele determina um reflexo que passa pela medula espinhal e volta a ela, dilatando os vasos sanguíneos cutâneos. Também o aquecimento do sangue que passa pelo centro de controle térmico do hipotálamo aumenta o grau de vasodilatação superficial, sem alterar os vasos profundos. • Exercícios: durante o exercício físico, o metabolismo aumentado nos músculos tem um efeito local de dilatação dos vasos sanguíneos musculares; porém, ao mesmo tempo, o sistema simpático tem efeito vasoconstritor para a maioria das outras regiões do corpo. A vasodilatação muscular permite que o sangue flua facilmente pelos músculos, enquanto a vasoconstrição diminui o fluxo sanguíneo em todas as regiões do corpo, exceto no coração e no cérebro. Neurotransmissão no Sistema Nervoso Autônomo Uma das principais diferenças entre os nervos simpáticos e parassimpáticos está nas fibras pós-ganglionares, que secretam diferentes neurotransmissores. O neurotransmissor secretado pelos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso parassimpático é a acetilcolina, razão pela qual esses neurônios são chamados colinérgicos. A acetilcolina no SNP atua sobre receptores muscarínicos e nicotínicos. Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático secretam principalmente noradrenalina, razão por que a maioria deles é chamada neurônios adrenérgicos. As fibras adrenérgicas ligam o sistema nervoso central à glândula suprarrenal, promovendo aumento da secreção de adrenalina, substância que 245 produz a resposta de "luta ou fuga" em situações de stress. A noradrenalina e a adrenalina atuam sobre receptores Alfa e Beta. Todos os neurônios pré-ganglionares são colinérgicos, tanto os do SNA Simpático como os do Parassimpático, portanto, a acetilcolina, ou substâncias semelhantes a ela, quando aplicadas ao gânglio excitarão tanto os neurônios pós- ganglionares do Simpático como do Parassimpático. Curiosamente, alguns neurônios pós-ganglionares simpáticos em vez de secretarem noradrenalina, secretam acetilcolina (Ach) como é o caso da inervação das glândulas sudoríparas e dos vasos sanguíneos da musculatura esquelética, cujos receptores são muscarínicos. Também, neste caso, são co-transmitidos o VIP (peptídeo intestinal vasoativo) ou o peptídeo associado ao gene da calcitocina. Nos receptores muscarínicos dos vasos sanguíneos, a Ach causa vasodilatação, estimulando as células endoteliais a produzirem fatores que causam o relaxamento muscular, como consequência da vasodilatação. 246 O esquema abaixo representa as sinapses do SNS e SNP com seus respectivos neurotransmissores e receptores: A Glândula Suprarrenal e o SNS 247 As células cromafins da medula da suprarrenal são neurônios pós- ganglionares sem axônios. Quando o SNA simpático é estimulado, estas células secretam 80% de adrenalina e 20% de noradrenalina, diretamente na corrente sanguínea. A medula adrenal funciona, desta maneira, como uma glândula neuroendócrina, tornando a ação simpática mais difusa e prolongada. Síntese, armazenamento, liberação e inativação dos neurotransmissores do SNA Farmacologia Ilustrada, Howland e Mycek, 2007. 248 Síntese da Noradrenalina e Adrenalina A tirosina é transportada por um transportador ligado ao Na+ para o axoplasma do neurônio adrenérgico, onde é hidroxilada a diidrofenilalanina (DOPA) pela tirosina hidroxilase. Essa é a etapa limitante da velocidade de síntese de noradrenalina e adrenalina. A dopamina é transportada para o interior das vesículas por um sistema transportador de aminas, que também está envolvido na recaptação de noradrenalina pré-formada. A dopamina é hidroxilada para formar a noradrenalina pela enzima dopamina-β-hidroxilase. Na medula da suprarrenal, a noradrenalina é metilada em adrenalina. 249 Liberação de Noradrenalina A chegada do potencial de ação no botão sináptico inicia a entrada de cálcio do meio extracelular para o axoplasma. O aumento de cálcio causa fusãodas vesículas com a membrana celular e liberação do seu conteúdo na sinapse. A noradrenalina liberada das vesículas se difunde pelo espaço sináptico e se liga aos receptores pós-sinápticos no órgão efetor ou a receptores pré-sinápticos no terminal nervoso. Remoção da Noradrenalina da fenda sináptica A noradrenalina pode: a) difundir-se para fora da fenda sináptica e cair na circulação sanguínea; b) ser metabolizada pela catecol-orto-metil-transferase (COMT); c) sofrer recaptação neuronal por um sistema de transporte que bombeia a noradrenalina de volta para o neurônio; d) alternativamente, a noradrenalina pode ser oxidada pela MAO (mono- amino-oxidase), presente na mitocôndria neuronal. 250 Moreno (2008). Receptores Adrenérgicos No sistema nervoso simpático, várias classes de adrenoreceptores podem ser diferenciadas farmacologicamente. Duas famílias de receptores, designadas Alfa (α) e Beta (β), foram inicialmente identificadas com base na resposta aos fármacos bloqueadores específicos e a clonagem de genes revelaram as identidades moleculares de inúmeros subtipos, com ampla variedade de respostas. 251 Os receptores α são divididos em α1 e α2, bem como os β são divididos em β1 e β2 e β3, onde certas substâncias agem sobre uns receptores, mas não sobre outros. A noradrenalina excita, principalmente, os receptores α, com menor intensidade os β, enquanto a adrenalina excita ambos com a mesma intensidade. Observe-se que determinadas funções β são excitatórias, enquanto outras são inibitórias. O mesmo é válido para os receptores α. Portanto, os receptores α e β não estão necessariamente ligados à excitação ou à inibição, e sim à afinidade dos neurotransmissores pelos receptores em um determinado órgão efetor. 252 253 A figura acima representa a afinidade da noradrenalina, adrenalina e isoproterenol pelos receptores α e β adrenérgicos. As aminas simpaticomiméticas são catecolaminas de ocorrência natural (noradrenalina, adrenalina) e drogas que imitam suas ações. A maioria das ações das catecolaminas e dos agentes simpaticomiméticos pode ser classificada em sete grandes tipos: (A) Ação excitatória periférica sobre certos tipos de músculo liso, como os vasos sanguíneos que irrigam a pele, os rins e as mucosas, bem como sobre células glandulares, como as glândulas salivares e sudoríparas. (B) Ação inibidora periférica sobre outros tipos de músculo liso, como os da parede intestinal, da árvore brônquica e dos vasos sanguíneos que suprem a musculatura esquelética. (C) Ação excitatória cardíaca, responsável pelo aumento da frequência cardíaca e da força da contração. (D) Ações metabólicas, como aumento da taxa de glicogenólise no fígado e músculo e liberação de ácidos graxos livres no tecido adiposo. (E) Ações endócrinas, como modulação da secreção de insulina, renina e hormônios hipofisários. (F) Ações sobre o SNC, como estimulação respiratória e, no caso de algumas drogas, aumento do estado de vigília e atividade psicomotora e redução do apetite. (G) Ações pré-sinápticas, que resultam em inibição ou facilitação da liberação de neurotransmissores, como noradrenalina e acetilcolina. 254 Nem todas as drogas simpaticomiméticas apresentam todos os tipos de ações descritas anteriormente com a mesma intensidade. Porém muitas das diferenças nos seus efeitos são apenas quantitativas, por isso as propriedades farmacológicas dessas drogas como classe são descritas detalhadamente no seu protótipo: a adrenalina. Síntese, armazenamento, liberação e inativação dos neurotransmissores do SNP 255 Síntese da Acetilcolina A colina é transportada do líquido extracelular para o citoplasma do neurônio colinérgico por um sistema carreador que co-transporta sódio. A captação da colina é a etapa limitante da síntese da acetilcolina. A acetiltransferase catalisa a reação da colina com a acetil-CoA para formar acetilcolina no citosol. Armazenamento da Acetilcolina em vesículas A acetilcolina é armazenada em vesículas por um processo de transporte ativo acoplado ao efluxo de prótons. A vesícula madura contém não só acetilcolina, mas também ATP e proteoglicanos. Liberação da acetilcolina Quando um potencial de ação propagado pela ação dos canais de sódio voltagem-dependentes chega ao terminal nervoso, abrem-se canais de cálcio voltagem-dependentes na membrana pré-sináptica, causando um aumento da concentração de cálcio intracelular. Níveis elevados de cálcio promovem a fusão das vesículas com a membrana celular e a liberação do seu conteúdo na fenda. A acetilcolina liberada das vesículas se difunde por meio do espaço sináptico e se liga aos receptores pós-sinápticos no órgão efetor ou a receptores pré- sinápticos no terminal nervoso. 256 Degradação da acetilcolina O sinal mediado pela acetilcolina no local efetor termina rapidamente devido à hidrólise da acetilcolina pela enzima acetilcolinesterase, formando colina e acetato na fenda sináptica. A colina pode ser recaptada para o botão sináptico por um sistema de transporte de alta afinidade, onde originará nova molécula de acetilcolina. Receptores Colinérgicos Duas famílias de receptores colinérgicos, designados MUSCARÍNICOS e NICOTÍNICOS, podem ser diferenciados entre si com base em suas diferentes afinidades para fármacos que mimetizam a ação da acetilcolina. a) Receptores Muscarínicos: esses receptores, além de ligarem a acetilcolina, também reconhecem a muscarina, um alcaloide que está presente em certos cogumelos venenosos. Os receptores muscarínicos apresentam baixa afinidade pela nicotina. São diferenciadas subclasses de receptores muscarínicos: M1, M2, M3, M4 e M5. 257 Esses receptores são encontrados em gânglios do sistema nervoso periférico e nos órgãos efetores autonômicos, como coração, músculos lisos, cérebro e glândulas exócrinas. b) Receptores Nicotínicos: são estruturas pentaméricas, que atuam como alvo do tipo canal iônico. Todas as cinco subunidades – α (alfa); β (beta); γ (gama); δ (delta); ε (epsolon) - possuem estruturas semelhantes, mas com 258 leves diferenças. Entre cada subtipo, inclusive, pode haver diferenças moleculares. Sabe-se que existem 09 tipos de subunidades α, 04 tipos de subunidade β, e 01 tipo de cada uma das demais. Os receptores nicotínicos podem ser divididos em três classes principais: - receptores nicotínicos musculares – molécula principal: (α1)2β1δε - localizados na junção neuromuscular esquelética; - receptores nicotínicos ganglionares – molécula principal: (α3)2(β4)3 - responsáveis pela transmissão nos gânglios simpáticos e parassimpáticos; - receptores nicotínicos dos SNC – moléculas principais: (α4)2(β2)3 e (α7)5 espalhados por todo o cérebro, em localização e composição molecular variada. Drogas que atuam sobre o sistema nervoso autônomo 259 Agonistas adrenérgicos ou simpatomiméticos As drogas adrenérgicas atuam sobre receptores que são estimulados pela adrenalina e noradrenalina (catecolaminas). Algumas dessas drogas atuam diretamente sobre os receptores adrenérgicos, ativando-os, sendo denominadas drogas simpatomiméticas. São drogas que, ao entrarem em contato com o organismo, causam as mesmas alterações que a ativação do sistema simpático Outras, entretanto, bloqueiam a ação dos ligantes endógenos nos receptores. Há ainda outras drogas que afetam a função adrenérgica, aumentado a liberação de noradrenalina, conforme representado na figura seguinte. As aminas simpaticomiméticas podem ser classificadas quanto a sua estrutura química (catecolaminas e não catecolaminas) e quanto ao seu tipo deação nos receptores (direta, indireta ou mista) como nos exemplos: De ação direta Catecolaminas: * Dopamina 260 *Adrenalina *Noradrenalina Isoproterenol Dobutamina (*naturais) Não-Catecolaminas: Fenilefrina (alfa); Clonidina (alfa2) Terbutalina (beta2); Isoetarina (beta2) Fenoterol (beta2); Albuterenol (beta2) De ação indireta Anfetamina e Tiramina De ação mista: direta e indireta Efedrina e metaraminol 261 Ao se avaliar a proporção de ações diretas e indiretas de uma amina simpaticomimética, o método experimental mais comum consiste em comparar as curvas de dose-resposta do agente em um tecido alvo particular, antes e depois do tratamento com reserpina. Os agentes cujas ações não são essencialmente alteradas após tratamento com reserpina são classificados como aminas simpatomiméticas de ação direta (por exemplo, noradrenalina, fenilefrina), enquanto os agentes cujas ações são abolidas recebem o nome de aminas de ação indireta (por exemplo, tiramina). Muitos agentes exibem certo grau de atividade simpaticomimética residual após a administração de reserpina; todavia, são necessárias doses mais elevadas dessas aminas para produzir efeitos comparáveis. Essas drogas são classificadas como aminas simpaticomiméticas de ação mista, isto é, possuem ações tanto diretas quanto indiretas. Mecanismos moleculares de ação simpaticomimética Os efeitos das catecolaminas são mediados pelos receptores celulares de superfície. Esses receptores estão acoplados por proteínas G às diversas proteínas efetoras cujas atividades são reguladas por esses efetores. Cada proteína G é um heterotrímero que consiste em subunidades α, β e γ. Proteínas G diferentes possuem subunidades α distintas; uma variação menor tem sido encontrada entre as proteínas β e γ das proteínas G, conforme discutido anteriormente em farmacodinâmica. A proteína G unida ao β1 está em equilíbrio e se encontra em dois estados conformacionais: uma inativa (“R” – com as subunidades α, β e γ unidas) e outra ativa capaz de ativar proteínas G (“R*” – com a subunidade α ligada a um GTP e separada das subunidades β e γ). Na ausência de ligantes, o receptor pode espontaneamente tornar-se R*. Não se sabe se β1 e β2 têm a mesma capacidade de ativação espontânea. Esta ativação aumenta significativamente a contratibilidade 262 cardíaca enquanto que os agonistas β2, em máxima concentração não conseguem aumentar a contratibilidade, mesmo que esta ainda não esteja saturada. Há evidências que a resposta cardíaca à estimulação de receptores β1 diminuiria cronicamente em insuficiências cardíacas. O excessivo funcional do β2 não resulta em hipertrofia cardíaca ou insuficiência cardíaca, porém no β1 sim. As proteínas G importantes para a função dos receptores adrenérgicos são: GS : estimuladora da adenilato ciclase GI : inibidora da adenilato ciclase GQ : acopla os receptores α à fosfolipase C A ativação dos receptores acoplados à proteína G pelas catecolaminas promove a dissociação do GDP da subunidade da proteína G apropriada. O GTP liga-se então a esta proteína G e a subunidade α dissocia-se da subunidade β e γ. A subunidade α ligada a GTP e ativada vai regular, então, a atividade de seu efetor. Alguns efetores de subunidades α ativadas de receptores adrenérgicos incluem adenilato ciclase, GMP cíclico, fosfodiesterase, fosfolipase C e canais iônicos. Estudos provaram que o aumento da infusão de catecolaminas aumenta a expressão do Gi. Catecolaminas Adrenalina A adrenalina é uma das cinco catecolaminas comumente usadas na terapia.: adrenalina, noradrenalina, dopamina, dobutamina e isoproterenol; as três primeiras ocorrem naturalmente, as duas últimas são compostos sintéticos. Conforme explicado anteriormente, a adrenalina é sintetizada da medula adrenal e liberada juntamente com pequenas quantidades de noradrenalina, na corrente sanguínea. Adrenalina interage com receptores alfa e beta. Em baixas doses, o efeito beta 263 (vasodilatação) no sistema cardiovascular predomina, enquanto que em altas doses os efeitos alfa (vasoconstrição) são mais evidentes. Efeitos farmacológicos da Adrenalina a) Cardiovascular A maioria das ações da adrenalina ocorre no sistema cardiovascular. A adrenalina aumenta a força de contração cardíaca (efeito inotrópico positivo: ação β 1) e aumenta a frequência cardíaca (efeito cronotrópico positivo: ação β1). Estes efeitos levam a uma maior demanda de oxigênio no miocárdio. A adrenalina faz constrição das arteríolas da pele, das mucosas, e vísceras (efeitos α 1); e dilata os vasos que irrigam o fígado e a musculatura esquelética (efeitos beta 2). O fluxo sanguíneo renal é diminuído. Ocorre um aumento na pressão sistólica e uma pequena diminuição na pressão diastólica. b) Sistema Respiratório A adrenalina causa uma potente broncodilatação por agir diretamente na musculatura lisa bronquial (ação beta 2). Esta ação alivia todos os sintomas alérgicos ou induzidos pela histamina que provocam broncoconstrição. Em casos de choque anafilático este efeito pode salvar uma vida. Em indivíduos que sofrem de ataque asmático agudo, a adrenalina alivia a dispneia (respiração forçada) e aumenta o volume de gases inspirados e expirados. c) Hiperglicemia A adrenalina tem um efeito hiperglicemiante acentuado. Aumenta a glicogenólise no fígado (efeito beta 2), aumenta a liberação de glucagon (efeito beta 2) e diminui a liberação de insulina (efeito alfa 2). Estes efeitos são mediados pelo mecanismo via AMPc. 264 d) Lipolise A adrenalina inicia a lipólise por meio dos receptores beta do tecido adiposo, que ativam a adenilato ciclase e aumenta o AMPc o que leva ao efeito final de hidrólise dos triacilgliceróis em ácidos graxos livres e glicerol. Usos terapêuticos da Adrenalina a) Broncoespasmo (Asma) A adrenalina é a droga de escolha no tratamento de emergências em que ocorre broncoconstrição e diminuição das trocas gasosas (choque anafilático, ataque agudo de asma). Nestes casos, é usada por via subcutânea que pode ser repetida dependendo do quadro clínico. Porém, o tratamento de asma crônica ou DPOC é feito com agonistas β2 mais específicos como a terbutalina, uma vez que tem ação mais duradoura e causa menos efeitos cardíacos. b) Glaucoma Em oftalmologia, uma solução a 2% de adrenalina pode ser usada topicamente para reduzir a pressão intraocultar em glaucoma de ângulo aberto. Ela reduz a produção de humor aquoso por vasoconstrição dos vasos ciliares. c) Choque anafilático Adrenalina é a droga de escolha para o tratamento de reações de hipersensibilidade Tipo I em resposta a antígenos. 265 d) Em anestésicos locais Na anestesia local pode ser utilizada adrenalina (1:10.000 a 1:200.000), aumentando a duração da anestesia em função da vasoconstrição que provoca, reduzindo o fluxo sanguíneo local na região em que for administrada (reduz a velocidade de absorção do anestésico). A adrenalina age rapidamente, porém produz um efeito de curta duração. Em situações de urgência a adrenalina é administrada por via endovenosa, pode ser dada também por via subcutânea, no tubo endotraqueal, por inalação ou topicamente nos olhos. A administração oral é inefetiva, uma vez que a adrenalina e outras catecolaminas são inativadas por enzimas intestinais. Somente os metabólitos são excretados na urina. Efeitos adversos Local Efeito adverso SNC - Ansiedade, tremores, tensão, cefaleia. Coração - Arritmias, particularmente em pacientes que estejam recebendo digitálicos. Hemorragias - AVC como resultado da elevação da pressão arterial. Pulmões - Edema pulmonar, também pela elevação da pressão e possível extravasamento de líquidos para os pulmões.266 Interações Hipertiroidismo: a adrenalina pode ter seus efeitos cardiovasculares exagerados em pacientes com hipertiroidismo. O mecanismo que está envolvido parece ser o aumento da produção de receptores adrenérgicos que leva a uma resposta hipersensível. Cocaína: na presença de cocaína, a adrenalina tem seus efeitos aumentados. Isto é devido à capacidade da cocaína de inibir a recaptação das catecolaminas no neurônio adrenérgico, assim a adrenalina e noradrenalina permanece mais tempo na fenda sináptica. Noradrenalina A noradrenalina (NE) é um neurotransmissor do sistema nervoso simpático, embora seja esperado que ela atue em todos os tipos de receptores, na prática, quando se administra noradrenalina em doses terapêuticas, os receptores alfa adrenérgicos são mais afetados. Efeitos Farmacológicos da NE Efeitos cardiovasculares: a) Vasoconstrição: A NE causa um aumento na resistência periférica devido a uma intensa vasoconstrição da maioria dos leitos vasculares, incluindo os rins. As pressões sistólicas e diastólicas estão aumentadas. 267 b) Reflexo barorreceptor: Em tecidos cardíacos isolados a NE aumenta a força de contração cardíaca, porém in vivo, pequena ou nenhuma estimulação é produzida. Isto ocorre em virtude do aumento da pressão arterial que induz o reflexo vagal pelos barorreceptores. A bradicardia produzida por este mecanismo é suficiente para anular a ação da NE no coração. Se a atropina (inibidor competitivo da Ach) é administrada antes da NE a estimulação do coração (como taquicardia) é evidente. Usos terapêuticos A NE é usada para tratamento de choque hipotensivo, em casos bem específicos. A dopamina é usada com mais frequência que a NE, uma vez que a dopamina não reduz o fluxo renal como a NE. Isoproterenol É um agonista de ação direta, estimula predominantemente receptores β 1 e β 2 adrenérgicos, sua ação nos receptores α é insignificante. É metabolizado pela COMT, mas não sofre ação da MAO; seu tempo de ação é rápido, pois quando administrado por via oral ou parenteral é rapidamente degradado pela enzima. Efeitos Farmacológicos a) Cardiovasculares Aumenta tanto o inotropismo quanto o cronotropismo em decorrência da permeabilidade para o influxo de sódio e cálcio, há um aumento na despolarização, a fase de repouso para células cardíacas está prolongada. A droga pode causar dilatação arterial, atuando sobre os receptores β2, causando vasodilatação, a pressão diastólica cai, o débito cardíaco eleva-se em consequência do retorno 268 venoso, o débito cardíaco é exacerbado pela ação inotrópica positiva e pela ação cronotrópica positiva. b) Vasos Sanguíneos Atua sobre os receptores β2, causando vasodilatação, com queda da pressão diastólica e aumento do débito cardíaco em consequência do retorno venoso. O débito cardíaco é exacerbado pela ação inotrópica positiva e pela ação cronotrópica positiva. c) Respiratório Ativa β2 e causa relaxamento da musculatura lisa, não é usado como descongestionante nasal. d) Efeito metabólico Causa lipólise associada à estimulação de β1, que ativa a lípase pela ação do AMPc, ocorre degradação de triglicerídeos em glicerol mais ácido graxo. A glicogenólise no fígado sofre aumento com estímulo de β2, o que determina a liberação de glicose na circulação causando hiperglicemia. Indicações Clínicas 1) Bradiarritmias hemodinamicamente não responsivas a atropina. 2) Como prova farmacológica nas arritmias sinusais. 3) Em casos especiais para o tratamento das torsades de pointes das formas adquiridas do QT longo, que não respondem ao sulfato de Mg+ quando um marcapasso transvenoso não pode ser implantado imediatamente. 4) Para desmascarar LQTS em casos especiais. 269 Contraindicações 1) Hipotensão. 2) Parada cardíaca. 3) Doença isquêmica do coração: angina pectoris. Aumenta a demanda do oxigênio e pode aumentar o tamanho do infarto. Potencial dano celular. 4) Taquicardia causada por intoxicação digitálica. Reações Adversas 1) Disritmias. 2) Hipotensão. 3) Angina. 4) Parada cardíaca. 5) Ataque de Stoke Adams. 6) Rubor. Dopamina É o precursor da noradrenalina, catecolamina simpatomimética endógena, exerce efeito inotrópico, principalmente β1. Efeitos Usada em altas doses tem efeito inotrópico positivo, atua sobre β1, causando aumento de pressão. Resistência periférica total não é afetada quando administrada baixas doses, provavelmente por reduzir a resistência arterial regional no mesentério e nos rins, produzindo pequenos aumentos nos outros leitos vasculares. Aumenta a filtração glomerular e o fluxo renal e determina a liberação de noradrenalina nas terminações nervosas 270 Em altíssima dose, atua em α1 adrenérgicos vascular, provocando vasoconstrição. Apesar de ser catecolamina endógena, quando administrada por via oral ou parenteral não atravessa a barreira hematoencefálica. Usos Clíncos Hipotensão arterial. Choque séptico. Oligúria. ICC. Efeitos adversos Náuseas, vômitos. Taquicardia. Arritmias. Dor anginosa. Cefaleia. Hipertensão. Com o extravasamento: necrose isquêmica. Raramente: gangrena de mãos e pés. Dobutamina É derivado sintético da dopamina com propriedade agonista adrenérgica, que atua em receptores β1 preferencialmente, porém atua também em β2, e em pequeno grau em α1, aumentando a força de contração sem aumentar a frequência cardíaca. Possui atividade inotrópica mais intensa que a cronotrópica, com menores níveis de taquicardia. 271 Usos ICC (emergência). Descompensação cardíaca por infarto. Efeitos adversos Hipertensão. Fibrilação. Desenvolvimento de atividade cardíaca ectópica. Pode aumentar a extensão do infarto (aumento do consumo de O2 pelo miocárdio). Agonistas adrenérgicos de ação direta Agonistas de receptores Alfa Adrenérgicos Conforme demonstrado na figura abaixo, os agonistas de receptores Alfa podem ser divididos em agonistas seletivos de α1 ou de α2, ou ainda em agonistas não seletivos de α, que atuam ativando tanto α1 quanto α2. 272 Agonistas α1 Adrenérgicos Seletivos A Ativação de receptores α adrenérgicos na musculatura lisa vascular vai gerar um aumento da resistência vascular periférica, podendo acarretar ou não um aumento da pressão arterial. Estes agonistas podem ser utilizados no tratamento da hipotensão, em função de seu efeito de contração da musculatura vascular, ou no tratamento do choque. Os agonistas α1 adrenérgicos podem ter ação direta ou indireta, parte dos efeitos serão mediados pela liberação de noradrenalina endógena. Exemplo dos de ação direta: Metoxamina e Fenilefrina. Exemplo dos de ação indireta: Mefentermina e Metaraminol. Agonistas de Receptores α1 Seletivos Metoxiamina. Fenilefrina. Nafazolina. Produzem aumento da resistência periférica, com aumento da pressão arterial (PA). O aumento da PA é associado à bradicardia reflexa: usado para redução de arritmias cardíacas. 273 A figura acima demonstra o mecanismo envolvido na vasoconstrição e aumento da pressão arterial. Os agonistas, ao ligarem-se aos receptores α, promovem ativação da cascata de segundos mensageiros que promovem o aumento do influxo de cálcio e maior disponibilização deste para o processo contrátil. Usos Clínicos do Agonistas de α Em casos de: Hipotensão. Taquicardia. Descongestionantes nasais (amplamente usados). Arritmias. 274 Efeitos colaterais Efeitos irritantes - congestão secundária (Efeito Rebote). Nafazolina pode causar sedação em crianças (ação no SNC). Agonistas alfa-adrenérgicos no tratamento do Choque Uma das aplicações dos agonistas adrenérgicosdiz respeito ao tratamento do choque. Diversas modificações fisiológicas estão presentes no paciente chocado, requisitando, por isso, intervenção terapêutica. A medida a ser tomada varia de acordo tanto com o tipo do choque quanto com as propriedades de cada um dos agonistas adrenérgicos existentes. Essa multiplicidade de opções de ação é justificada pela diversidade de alterações metabólicas e orgânicas que cada um deles pode provocar, permitindo com isso o restabelecimento da homeostase, que depende de funções extremamente relevantes tais como a cardíaca e a hemodinâmica. Particular atenção deve ser direcionada às condições em que o paciente se encontra, para que se saibam quais de suas funções corporais estão preservadas. Com essa prevenção, evita-se sobrecarregar algum sistema que já esteja prejudicado pelo choque. Usando um exemplo, pode ser citado o caso em que não deve ser administrado um fármaco com poder inotrópico que aumente a demanda miocárdica de oxigênio em um paciente que já possui uma função cardíaca alterada, como no choque cardiogênico. O fármaco de escolha nessa situação, possuindo ação inotrópica, deve apresentar alguma saída que funcione como um mecanismo de compensação. Duas opções são levantadas: um fármaco que não aumente a demanda de oxigênio, ou um que provoque algum outro meio de equilíbrio, como vasodilatação coronariana. 275 Descongestionantes nasais Os descongestionantes nasais tópicos são medicamentos que podem ser utilizados para o alívio da obstrução nasal no resfriado comum, sinusite, febre, rinite crônica ou aguda, alergias do trato respiratório superior, desvio de septo, hipertrofia das conchas nasais, neoplasias, pólipos nasossinusais e rinite vasomotora. Quando usado nos períodos agudos dos sintomas (uso contínuo de até 5 a 7 dias consecutivos) os pacientes se beneficiam da vasoconstrição realizada, tendo um alívio rápido da obstrução nasal. O problema inicia-se quando seu uso prolongado acarreta uma dependência ao descongestionante. Como consequência, a mucosa torna- se menos responsiva à droga, ocorrendo uma vasodilatação reflexa ou rebote e a esse efeito dá-se o nome de rinite medicamentosa. A vasodilatação secundária ainda não é bem entendida, porém há atualmente três teorias aceitas: 276 A primeira diz que a vasoconstrição prolongada causa hipóxia da mucosa nasal, resultando em hiperemia reativa com vasodilatação severa. A segunda afirma que o uso prolongado do remédio leva a uma queda da noradrenalina endógena e após o desaparecimento do efeito do descongestionante ocorre vasodilatação rebote. A terceira postula que o tempo prolongado de uso estimula a atividade parassimpática, levando a um aumento da permeabilidade vascular e a formação de edema (vasodilatação reflexa). O uso prolongado de descongestionantes nasais também altera a motilidade ciliar, prejudicando, com isso, a defesa imunológica do nariz provida pela função ciliar. Além da rinite medicamentosa, o fármaco também apresenta as seguintes reações adversas já comprovadas: arritmias cardíacas, cefaleia, insônia, irritação nasal, agitação, espirros, taquicardia, tremores e retenção urinária. O seu uso está contraindicado nas seguintes situações: hipertensão arterial; diabetes mellitus; hipotireoidismo; e hiperplasia prostática, 277 pois, pode causar vasoconstrição em outras partes do corpo, aumentando pressão arterial, trabalho cardíaco, glicemia e retenção urinária. No Brasil, os descongestionantes nasais pertencem à classe de medicamentos mais procurados pelos pacientes na automedicação, ocupando a segunda colocação (7% do total). Essa prática parece estar relacionada com o grau de instrução do usuário, com a grande oferta e a facilidade de adquirir o medicamento nas farmácias e drogarias, tendo como consequências o surgimento de enfermidades iatrogênicas e o mascaramento de doenças, como rinites, arritmias e sinusites. Agonistas de Receptores α 2 Seletivos Estas substâncias são utilizadas no tratamento da hipertensão sistêmica. A redução da pressão arterial é proveniente da ativação de receptores α2 adrenérgicos nos centros de controle cardiovascular do Sistema Nervoso Central. Essa atividade é surpreendente uma vez que muitos vasos sanguíneos têm α2 que fazem vasoconstrição. Exemplos de agonista α2: Clonidina, Apraclonidina, Guanfacina, Guanabenz e Metildopa. Embora sejam agonistas, o grupo de drogas que compreende os agonistas de α2 reduz a atividade simpática, uma vez que o receptor α pré-sináptico é responsável pela inibição da liberação de noradrenalina. Clonidina. Guanfacina. Guanabenz. Suprimem o fluxo de atividade do Simpático no SNC nos centros de controle do sistema cardiovascular. Aumentam o tônus Parassimpático. 278 Durante a administração IV pode ocorrer hipertensão fugaz. Evitar uso em emergências hipertensivas (clonidina). Usos Clínicos Tratamento da hipertensão sistêmica. Efeitos colaterais Sedação. Boca seca. Disfunção sexual. Síndrome de abstinência. 279 Uso da Clonidina com droga sedativa e analgésica A Clonidina, um alfa-2 adrenérgico agonista, tem sido usada desde os anos 70, com sucesso, no tratamento de adultos com hipertensão e no auxílio a pacientes com sintomas de abstinência do uso de drogas e álcool por longo período. O interesse na utilização dos agonistas alfa-2 está nos vários efeitos proporcionados por estas drogas, incluindo analgesia, anxiolise, sedação, bloqueio simpático; todos necessários em pacientes cirúrgicos, na dor crônica e outras situações em que estes efeitos sejam necessários. A primeira utilização da clonidina em pediatria está descrita no tratamento da enxaqueca por produzir diminuição na atividade simpática da musculatura lisa vascular. Depois disso, foi usado ao tratamento de distúrbios neuropsiquiátricos. Seu uso, no entanto, se limitou ao tratamento da hipertensão e enxaqueca pelos seus efeitos de sedação e xerostomia. Por ter se mostrado uma medicação pré-anestésica eficiente em adultos, com sedação adequada, redução na utilização de agentes anestésicos e estabilidade hemodinâmica transoperatória; e, consequentemente, diminuição no stress trans e pós-operatório, o interesse em seu uso em crianças levou a publicação de vários trabalhos em anestesia pediátrica após os anos 90, em várias vias de administração. O uso da clonidina como medicação sedativa, por via oral, em crianças está baseada em vários trabalhos em que foi utilizada por anestesistas como medicação pré- anestésica, com o propósito de possibilitar melhores condições na separação das crianças dos pais, facilitar o manuseio na monitorização e aceitação da máscara para indução inalatória na sala de cirurgia. Quando utilizada como medicação pré- anestésica, a clonidina proporciona menores alterações hemodinâmicas durante a entubação endotraqueal, menor utilização de isoflurano e fentanila para manutenção de níveis pressórios mais baixos no transoperatório. Porém, não tem sido correlacionado com diminuição das necessidades de analgésicos no pós-operatório, nem menor tempo de permanência na sala de recuperação.
Compartilhar