Buscar

Projeto Divórcio

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2
UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
Divórcio e Separação Afetiva: Conflitos
Conjugais
Organizado por:
Ricardo Teles Zenha
Rita Pinto Fernandes
Tiago de Kermenguy Serpa Pimentel Ramos
Porto
2021
Divórcio e Separação Afetiva: Conflitos
Conjugais
Índice
INTRODUÇÃO 	7
CAPÍTULO I 	8
1. Enquadramento Conceptual do Divórcio	8
 1.1. Crise do Casamento Contemporâneo - Conjugalidade vs Individualidade 	8
1.2. Modelos de Terapia Familiar 	9
1.2.1. Perspetivas relacionadas com o modelo Psicanalítico	9
1.2.2. Perspetivas Transgeracionais 	9
 1.2.3. Perspetiva Transgeracional de Carl Whitaker	10
 1.3. Família Disfuncional - Do Casamento ao Divórcio	11
 1.3.1. Família Rígida	12
 1.3.2. O Mito do Amor Romântico	13
 1.4. O Processo de Dissolução da Conjugalidade	14
 1.4.1. Separação Conjugal - Impactos da Separação na Saúde dos Indivíduos	14
CAPÍTULO II	15
2. GUIÃO DE ENTREVISTA: TESTE-PILOTO	15
 2.1. Método	16
 2.2. Procedimento	16
CONCLUSÃO	 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	18
Introdução
Amiúde, os laços afetivos familiares são concebidos como vitais alicerces para o desenvolvimento saudável de seus componentes, quer consanguíneos ou não. No entanto, tem-se vindo a notar drásticas transformações ao longo dos tempos quanto à forma de experienciar a afetividade na família ocidental, passando por um modelo de família dita tradicional, intensamente marcada por uma autoridade patriarcal, pela família moderna (séculos XVIII e XX), na qual a responsabilidade dos filhos cabe aos pais e ao estado, atingindo aos horizontes atuais: família pós-moderna, a partir dos anos 60, focalizada nas relações íntimas e de busca pela satisfação sexual (Roudinesco, 2012).
Inevitavelmente, o processo do divórcio desencadeia desvinculação psicológica ao nível conjugal, retomando à tona a nívea esfera individual.
Com efeito, neste estudo, descreve-se como o casal contemporâneo é confrontado por duas forças paradoxais, ou seja, pelas tensões entre individualidade e conjugalidade. Essa compreensão é vital para que possamos não só entender como o projeto conjugal se integra, em que momento esse “eu” passa a ser “nós”, como de igual modo discernir os motivos, consequências da dissolução do matrimônio pelos cônjuges, meios de recuperação psicológica via terapias familiar e de que modo o fenômeno do divórcio se associa intimamente a um sentido de perda de um “eu” e de todo um passado que o compõem.
A individualidade, segundo o dicionário Aurélio (2009, s/p), “é o que constitui ou caracteriza o indivíduo”, nesse sentido seria o modo singular como o homem vivencia, compreende, comunica consigo mesmo e com o que o rodeia, sendo uma substância nuclear para a preservação, manutenção e reconstituição do casamento contemporâneo.
Já, no segundo capítulo, foi realizado um guião de entrevista padrão exequível em campo, num contexto prático. 
Os objetivos a que esse guião propôs debruçar-se foi, em numa situação de campo, caracterizar socio demograficamente o entrevistado; compreender a perceção que o impacto da separação conjugal teve no desenvolvimento individual e interpessoal, nos âmbitos cognitivo e psicossocial; identificar a relação atual entre os indivíduos que se divorciaram e entender o poder de ressignificação pós-divórcio, entre os indivíduos. 
Capítulo I.
1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DO DIVÓRCIO
Esta sequência do estudo vigente, concretiza-se pela efetuação de uma análise qualitativa sobre a qualidade da conjugalidade, atendendo à polivalência das suas características, sem prescindir dos efeitos cognitivos e psicossociais que carrega consigo, em momentos pós-divórcio ou ao longo do processo do divórcio.
1.1. Crise do Casamento Contemporâneo - Conjugalidade vs Individualidade
Não obstante, das existenciais mudanças ao longo do tempo quanto à organização intrafamiliar, os novos processos de vinculação familiar e as razões para tal não se deterioram totalmente dos modelos anteriores. Assim, é possível perceber a similitude entre a rigidez dos antigos papéis de gênero e a busca pela realização pessoal, através do reconhecimento de prioridades individuais, dependentemente do gênero em conta.
Ora, se por um lado os ideais individualistas estimulam a autonomia dos cônjuges, enfatizando que o casal deve sustentar o crescimento e o desenvolvimento espiritual de cada um, por outro, acresce a necessidade de incutir a conjugalidade, ambições e projetos conjugais na vida do casal. A preservação e organização do casamento contemporâneo são muito influenciadas pelos valores do individualismo. Os ideais contemporâneos de relação conjugal enfatizam mais a liberdade e direitos individuais do que os laços de dependência entre eles. Por outro lado, constituir um casal demanda a criação de uma zona comum de interação; a criação de um ambiente afetivo com uma identidade conjugal. Assim, o casal contemporâneo é confrontado, o tempo todo, por duas forças paradoxais a que neste tópico, revela ser por um lado a individualidade e por outro a conjugalidade. Presenceia-se “o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade". 
Quando existe uma incompatibilidade categórica entre essas duas forças, pode despoletar a separação conjugal, que embora possa ser considerado a melhor solução, ele é sempre experimentado como um evento traumático e árduo de suplantar, semelhante à experiência de uma morte familiar (Yárnoz-Yaban, Garmendia, & Comino, 2015). A separação faz germinar nos cônjuges sentimentos de abatimento emocional, em que não é rara a ocorrência de fenómenos depressivos, seguidos de reconfiguração de estilos de vida.
1.2. Modelos de Terapia Familiar
O campo da Terapia Familiar tem vindo a promover a noção de Responsabilidade Relacional. Essa pode ser definida como um método psicoterapêutico que utiliza como meio de intervenção sessões conjuntas com os elementos de uma família, a partir das configurações epistemológicas da ciência, gerando mudanças que redefinem a prática e a postura do terapeuta (as cited in Scielo, 2018).
Existem diversos modelos de intervenção em terapia familiar que estão normalmente interrelacionados com as demais conceções de família, de acordo com cada autor, baseando-se em certos pressupostos teóricos.
Eis, algumas a serem retratadas:
1.2.1. Perspetivas relacionadas com o modelo Psicanalítico
A perspetiva psicanalítica da família deriva das teorias da psicanálise de Freud, em que a figura parental é desvalorizada pela sua ausência permanente no ambiente familiar. Estando o pai desvalorizado e ausente, não possibilitando o fenómeno Edipiano de rivalidade pai-filho, a transmissão cultural entre estes encontra-se comprometida; assiste-se ao fenómeno designado por maternalização da família.
Em 1897, ao abandonar a teoria da sedução, Freud menciona pela primeira vez o complexo de Édipo, estreitamente dependente à questão da morte do pai:
 A lenda grega captou uma compulsão que todos reconhecem porque todos sentiram. Cada espectador foi um dia, em germe, na imaginação, um Édipo e se aterroriza diante da realização de seu sonho transposto na realidade. Estremece diante de toda a dimensão do recalcamento que separa seu estado infantil de seu estado atual.” (Freud, La naissance de la psychanalyse. Paris: PUF, 1991, p. 198).
 1.2.2. Perspetivas Transgeracionais
 Os comportamentos e patologias de uma família pode estar direta ou indiretamente relacionado a algo que ocorreu nas gerações passadas (avós, pais, filhos).
 A perspetiva transgeracional mantém o enfoque na análise de transmissão cultural da família entre diversas gerações, envolvendo aspetos-tipo como padrões, estilos, costumes, segredos, mitos, responsáveis por formar a identidade do indivíduo e da família, bem como caracterizar o seu funcionamento com suas idiossincrasias e transações ao longo da sua história (Rehbein& Chatelard, 2013).
 Na verdade, embora os casais possam demonstrar vontade de estabelecer um tipo novo de relação conjugal, diferente daquela vivenciada por seus pais, normalmente têm dificuldades para lidar com o hábito herdado das famílias de origem; considerando os modelos pré-estabelecidos de conjugalidade (Gomes, 2014). 
 Assim, embora o início da vida conjugal seja constatado como o tempo de maior satisfação conjugal, concomitantemente, é também o período em que ocorrem um grande número de divórcios (Heckler & Mosmann, 2014), o que justifica o empenho em compreender as causas subjacentes à constituição da conjugalidade.
 1.2.3. Perspetiva Transgeracional de Carl Whitaker
 A perspetiva do psicoterapeuta americano Carl Whitaker defende que deve haver uma conjugação entre a esfera individual e a esfera conjugal, ou seja, a pessoa deve crescer tanto a nível individual como a nível relacional. 
 De acordo com o autor Carl Whitaker, não se altera a estrutura familiar, por uma perspetiva estruturalista, mas manipula-se o processo de desenvolvimento das capacidades dos indivíduos e das famílias, por análise terapêutica, no sentido de uma maior criatividade e não de uma adaptação.
 Segundo Whitaker (1981, as cited in Sampaio & Gameiro, 2004), uma família saudável é designada como “um conjunto integrado, não demasiado em fusão que não permita a individualização, nem demasiado disperso, que leve à sensação de isolamento. Cada elemento contacta com uma família intrapsíquica de 3 ou 4 gerações - visão transgeracional da passagem de valores”. 
Ou seja, hoje, inconscientemente contactamos com as nossas gerações anteriores, ao nível psicológico.
 “Marriage is going to be that happy state in which we get all of the nurturance and care and love and empathy and even good advice that we didn't receive from our families.” (Carl A.Whitaker & August Y.Napier, The Family Crucible: The Intense Experience of Family Therapy).
1.3. Família Disfuncional - Do Casamento ao Divórcio
Na conceituada obra, Amor Líquido, o filósofo polonês Bauman (2004) afirma que o “amor líquido” representa a fragilidade dos laços humanos e a série de artimanhas que os seres humanos engendram para substituí-lo, podendo colidir com o advento do divórcio.
A definição de disfuncionalidade é sempre complexa, no entanto a substância comum a todas as famílias disfuncionais é a sobreposição de um ambiente inseguro em vez de seguro, onde as relações parentais e conjugais produzam sofrimento emocional ao invés de incitar o bem-estar psicológico.
Ora, a decomposição da sociedade familiar ocorre mediante uma paulatina, intermitente ou inclusive sucessiva infração dos deveres matrimoniais e participa da própria contingência humana. 
Num grupo familiar disfuncional os modos de interação entre seus membros vão-se cristalizando, quer na forma de distanciamento, ou de excessiva interferência na vida uns dos outros, formando alianças entre alguns membros, quase como que por relações de compadrio, ou transformando outros em mediadoras familiares, bodes expiatórios [geralmente a(s)criança(s)]. 
 Na verdade, há dois meios imprescindíveis pelas quais é possível observar um ambiente disfuncional a pairar sobre as relações conjugais e paternais, embora um seja mais explícita e óbvia a um panorama geral, enquanto que outro se encontra mais implícita, muitas vezes despercebida aos olhares desatentos e alheios.
 
 1.3.1. Família Rígida
 Resulta da existência de estilos parentais ditos autoritários, em que as figuras parentais modelam, controlam e avaliam o comportamento da criança de acordo com regras de conduta estabelecidas e normalmente absolutas (Baumrind, 1966). 
Em norma, essa autoridade está dirigida ao pai da família embora essa rigidez possa ser exercida por qualquer outro membro da família, por exemplo por um filho que crê ser o detentor do papel central, regulador e coordenador da família. 
 Como corolário, esse fenômeno pode levar a problemas psicossociais e graves neuropatias dos elementos familiares. O mais recorrente, é quando há uma excessiva manipulação da normal exuberância infantil, produzindo timidez ou revolta.
 Teoricamente, uma estrutura familiar rígida não permite a autonomia do indivíduo, e subsequentemente contribui para a desarmonia de duas forças antagónicas - o sentido de autonomia e o de fusão. Na adultícia, esses indivíduos, tornam-se como que pessoas esfomeadas, ou seja, tornam-se de tal modo empenhadas em serem amadas que não lhes resta nenhuma energia para amar - característica essa, típica em quem sofre de «disfunção de personalidade dependente passiva», (Peck, 2018, p.93), podendo levar ao divórcio com o seu conjugue.
 1.3.2. O Mito do Amor Romântico
Uma das ilusões que, por vezes, sobrevêm ao casamento e/ou ocorre antes do casamento e prolonga-se para além das suas margens, é a experiência passional que culmina quase sempre no dito mito do amor romântico. Com efeito, esse mito popular fomenta a quimera de que há um só homem destinado a uma só mulher e vice-versa.
No mito do amor romântico, a paixão prepondera. Consequentemente, cria-se a ilusão de que o foco da paixão condensa todas as soluções dos problemas existentes na vida. O outro acaba se tornando uma construção, cujos tijolos foram retirados dos insondáveis terrenos de nossas carências e necessidades (Melo, 2017).
Atente-se ao seguinte cenário tipo, que ilustra com excelência esse mito do amor romântico, fator potencial da destruição de relações maritais e nascimento do divórcio:
 A Sr. A submete-se absurdamente ao marido devido a um sentimento de culpa. ‘Eu não amava verdadeiramente o meu marido quando nos casámos’, diz ela […] O Sr. B lamenta: ‘Estou arrependido de não me ter casado com a Menina C […] Mas não me sentia perdidamente apaixonado por ela, portanto parti do princípio que ela não era a pessoa certa para mim.’ O Sr. e a Sra. F reconhecem que deixaram de estar apaixonados e passam a fazer-se infelizes um ao outro por mútua infidelidade galopante à medida que procuram o ‘verdadeiro amor’” […] (Peck, O caminho menos Percorrido).
Curiosamente, esse prazer sadomasoquista resulta do não entendimento de que o próprio reconhecimento da ausência de paixão podia marcar o início da obra do seu casamento em vez de o fim. 
Mesmo quando os casais reconhecem que a lua de mel terminou, que já não estão romanticamente apaixonados um pelo outro e ainda conseguem empenhar-se na sua relação, continuam a agarrar-se ao mito e tentam adaptar-lhe as suas vidas (Peck, 2018). 
Quando há um vislumbre consciente à cerca da ilusão com que vivem as suas pretensas relações maritais, o impacto psicológico é de tal modo; o medo de transfigurarem os seus mapas da realidade é de tal modo, que amiúde culmina em divórcio, cujas adversidades interpessoais pós-divórcio serão tanto mais acentuadas quanto menor for a recuperação emocional entre os laços conjugais.
1.4. O Processo de Dissolução da Conjugalidade
Matarazzo (2003), caracteriza o processo de divórcio em seis etapas: 1) o divórcio emocional, comummente presente; 2) separação física, a priori, sucede à primeira etapa; 3) separação geográfica; 4) separação familiar, interferência familiar na dissolução conjugal; 5) separação social, quando a permanência é abalada por forças sociais e 6) separação legal, baseia-se na repartição de bens, custódia dos filhos.
 1.4.1. Separação Conjugal - Impactos da Separação na Saúde dos Indivíduos
O psicanalista alemão Erich Fromm (1958) diz-nos que, maioritariamente, a separação conjugal provoca ansiedade e é vista como desencadeadora de outros sentimentos como culpa e vergonha.
 “ser separado é o mesmo que ser desamparado, incapaz de apreender o mundo, as coisas e as pessoas, de modo ativo; significa que o mundo nos pode invadir sem que tenhamos condições para reagir” (Fromm,A Arte de Amar, p.28).
No entanto, essas influências nem sempre são negativas para o bem-estar individual, ou seja, dependentemente da forma como cada ser humano perceciona e sente os impactos afetivos de uma separação, há quem nesse processo vise aperfeiçoar-se e ir à busca de soluções proativas para uma nova vida.
É do conhecimento comum que dimensões da personalidade, como a agradabilidade, facilitam o perdão. Em oposição, o neuroticismo representa-se como um obstáculo.
· Perdão e Ressignificação - Correlatos e influências, pós-divórcio
Ora, na verdade, o perdão frente ao ex-cônjuge, pode derivar positivos significados para o divórcio, integrando-os em uma narrativa coerente, recusando desejos de vingança, desejos de ódio contra o transgressor, possibilitando a canalização dessa energia para novos projetos (Yárnoz - Yaben et.al., 2015). 
Diversos estudos, sinalizam que níveis mais elevados de perdão estão associados a uma melhor adaptação ao divórcio. Yárnoz-Yaben, Comino e Garmendia (2012), encontraram aspetos da adaptação ao divórcio relacionados ao grupo familiar quando o ex-cônjuge é perdoado.
Ora, através da relação com o outro significativo os ex-cônjuges obtêm gratificação pessoal, pela construção de uma cosmovisão benévola enquanto indivíduos.
Assim, o perdão numa relação permite a formação de um estatuto de pertencimento a um grupo social, cumprindo aspetos importantes para a identidade individual e social de cada ex-cônjuge. 
Capítulo II.
2. GUIÃO DE ENTREVISTA: TESTE-PILOTO
2.1. TEMA:
Perceção do adulto ante processo de divórcio, e todas as possíveis implicações cognitivas e psicossociais que gera.
2.2. MÉTODO:
Estudo pautado por uma abordagem qualitativa exploratória, baseada numa entrevista padrão estruturada.
2.3. PROCEDIMENTO:
	Blocos
	Objetivos
	Exemplos de Questões
	Observações
	I. Legitimação da Entrevista
	- Apresentar o entrevistador
- Comunicar ao entrevistado o objetivo da entrevista, bem como a importância da sua colaboração
- Garantir a confidencialidade do entrevistado
	- Enquadramento e objetivo da entrevista
- Confidencialidade
- Formas de registo/pedido de autorização
	Tempo médio: 5 min
Comunicar ao entrevistado o contexto em que a entrevista irá ser dinamizada, de modo empático (projeto de investigação inserido num trabalho relativo aos efeitos cognitivos e psicossociais que o divórcio causa, da UFP)
	II. Caracterização Sociodemográfica
	- Caracterizar o entrevistado no momento atual
- Construir o perfil do entrevistado segundo as características gerais da apresentação
	- Identificação das características sociodemográficas do entrevistado: idade; sexo; profissão; habilidades literárias; estado civil; Idade em que ocorreu o seu divórcio
	Tempo médio: 5 min
Recolha de dados relevantes aos objetivos da entrevista
	III. Avaliação do quotidiano Pessoal e Social
	- Compreender de que forma foi vivido o processo do divórcio
- Analisar os sentimentos presentes nos momentos pós-divórcio, em termos pessoais e sociais
	- Quais foram os momentos/fenómenos potenciais que levaram ao divórcio?
- Como percecionava esses fenómenos antes do divórcio e após o divórcio?
- Ocorriam com muita frequência?
-Sentiu que seria tratado diferentemente pelos seus conhecidos?
-Identificou algum tipo de influência do meio na sua separação conjugal?
- Na sua opinião, o que poderia ter sido diferente na sua relação conjugal?
	Tempo médio: 5 - 15 min
Exploração de informações relevantes para os objetivos da entrevista, ajustando-se às reações dos entrevistados, ao longo da entrevista
Valorizar os silêncios.
Respeitar incondicionalmente os valores do sujeito e conferir liberdade de discurso
	IV. Concluir a Entrevista
	- Agradecer a colaboração e disponibilidade do entrevistado, fundamentais para a consecução da investigação
- Recolher informação não obtida anteriormente e que se afigure importante para a entrevista
	- Agradecimento e valorização do contributo do entrevistado
- Quer referir mais algum aspeto que considere importante e que não tenha abordado?
	Tempo médio: 5 min
Agradecer mais uma vez e valorizar o contributo do/a entrevistado/a
3. Conclusão
É viável consumar que o impacto que cada membro da família pode causar sobre o outro é significativo, impacto esse, despoletado tanto no aspeto positivo como no negativo.
 Existe, todavia, a necessidade de compreender que a relação a dois não pode significar perda de identidade, mas a busca do cultivo da individualidade e da unidade, mesmo dentro das diversidades e adversidades que constituem o casal. Para tal, há que ver as diferenças individuais de cada cônjuge como possíveis fatores únicos, que quando aliados numa mesma rede matrimonial para um mesmo fim, gera saudáveis laços conjugais e subsequentemente um ambiente familiar profícuo. Assim, não só se evita o processo de divórcio, como de igual modo, caso ocorra, quer por pressão social ou individual ou conjugal, amiúde persiste uma relação psicológica satisfatória entre os ex-cônjuges. 
 No entanto, numa relação conjugal desgastada, como é comummente dito em meio psicanalítico, tendencialmente fica complicado pensar que o outro pode ser diferente, mas que, nem sempre, está equivocado. Torna-se difícil compreender os motivos pelos quais ele age de determinada maneira, especialmente quando essa maneira não é aquela pela qual o outro conjugue esperava.
 Como diz Bauman (2004), há um mediador vital que permite conhecer simplesmente pela sua ausência ou não, numa relação conjugal, se os laços afetivos dessa relação conjugal resultam de uma verdadeira afetividade ou, tão somente, de uma reação biológica passional do ser humano. Esse mediador é o amor e não a paixão.
 Somente num meio flexível floresce o amor, pois pressupõem conhecimento dos valores da pessoa amada, buscando a admiração e o respeito, demonstra que a desarmonia é consequência da falta dessas características, ou seja, da falta de amor.
Referências Bibliográficas
Bauman, Z. (2004). Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros: Zahar.
Baumrind, D. (1966). Effects of authoritative control on child behavior. Child Development, 37, 887-907.
Biagi, Berenice Araújo Dantas De, & Rasera, Emerson Fernando. (2018). The construction the relational responsibility in family therapy. Pensando familias, 22(1), 3-17.
Ferreira, A. (2012). Dicionário Aurélio: Positivo.
Freud, S. (1991). La naissance de la Psychanalyse. Paris. (Primeira edição em 1897). Érès.
Fromm, E. (1958). A arte de amar. (Coleção Perspetivas do Mundo): Itatiaia limitada.
Gomes, Heloisa Szymanski Ribeiro. (1986). Terapia de família. Psicologia: Ciência e 
Profissão, 6(2), 29-32.
Heckler, V.I.; Mosmann, C.P. 2014. Casais de dupla carreira nos anos iniciais do casamento: compreendendo a formação do casal, papéis, trabalho e projetos de vida. Barbarói, 41(1):119-147.   
Mattarazzo, M.H. (2003). Amar é preciso (1nd ed.): Record.
Melo, F. (2017). Quem me roubou de mim: o sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa: Nascente.
Peck, S. (2018). O caminho menos percorrido: uma nova psicologia do amor e dos valores tradicionais e do desenvolvimento espiritual (9nd ed., p.93): Editorial Presença.
Rehbein, M. P. & Chatelard, D. S. (2013). Transgeracionalidade psíquica: Uma revisão de literatura. Fractal, Rev. de Psicol., 25(3), 563-584.  
Roudinesco, É. (2012). Jacques Lacan: Passado Presente: Difel.
Sampaio D., & Gameiro J. (2004). Terapia Familiar (5nd ed.): Edições Afrontamento.
Silvestre, M. J., Fialho, I., & Saragoça, J. (2014). Da palavra à construção de conhecimento científico: um olhar reflexivo e meta-avaliativo sobre o guião de entrevista. Comunicação & Informação, 17(2), 119-138.
Whitaker, C.A., & Napier, A. (2017). The Family Crucible: The Intense Experience of Family Therapy: HarperCollins Publishers.
Yárnoz-Yaben, S., Comino, P., & Garmendia, A. (2012). Parental adjustment to divorce and behavior problems in children from divorced families. (pp. 37-47).Yárnoz-Yaben, S., Garmendia, A. & Comino, P. (2015). Looking at the bright side: Forgiveness and subjective well being in divorced spanish parents. Journal Happiness Studies.

Continue navegando