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Conversando sobre o processo de morrer e acerca dos dilemas dos profissionais de saúde 6/11 Século XXI: A morte como uma “falha” no desenvolvimento humano Avanços da medicina e de saneamento básico, uma alimentação mais saudável e uma vida social que favoreça ao aumento na expectativa de vida tem resultado em um processo tardio da morte. A partir de todo esse processo, a morte vem passando a ser encarada como uma “falha no viver”, a morte passa a ser invisível e abstrata e o morrer como uma falha no desenvolvimento e não como um processo natural do fim da vida O idoso e a consciência da finitude... O envelhecimento poderá propiciar o acúmulo de perdas, que significam mortes simbólicas: perde-se o vigor físico, entes queridos, a força das relações emocionais, o convívio social e também o seu valor como pessoa em uma sociedade pautada na produtividade. Alguns idosos enfrentam o envelhecimento e a finitude com um luto antecipado e com desejo de morrer, devido ao medo da dependência e de se tornar um fardo para os familiares. Muitos procuram enfrentar o envelhecimento, as perdas e a finitude buscando conforto espiritual, suporte e aceitação social. Existem outros idosos que buscam a plenitude da vida! A MORTE E O MORRER: novas possibilidades de desenvolvimento? A morte é um fenômeno humano, fenômeno último da vida, mas ainda vida! O pensar a morte, temê-la como acontecimento último da vida impõe ao ser humano a tarefa comprometer-se com a vida com a consciência de torná-la eterna a cada instante, a cada presente, mesmo que esse presente seja apenas um instante! (Sartre, 1999). Impacto do processo de morrer na equipe de saúde e entre os familiares da pessoa cuidada A consciência da finitude não produz temores e sofrimento apenas ao paciente e aos familiares/amigos, mas também a equipe de saúde porque também se defronta/se vê, como que num espelho, toda a fragilidade, vulnerabilidade e mortalidade da vida. Ressonâncias do processo de morrer nos profissionais de saúde Tem a pessoa o direito de decidir sobre sua própria morte, buscando dignidade? Pode-se planejar a própria morte? Os profissionais de saúde, que têm o dever de cuidar das necessidades dos pacientes, podem atender um pedido para morrer? Podem ser interrompidos tratamentos que têm como objetivo apenas o prolongamento da vida, sem garantia da qualidade da mesma? Que direitos devem prevalecer: o da família em querer adiar a morte? Ou da pessoa que está sendo cuidada que não quer prolongar a vida? Ou ainda, do juramento feito pelo profissional de saúde em favor da vida? O que são Cuidados Paliativos? Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos espirituais” (OMS,2002). Não se trata de uma preparação para o morrer com dignidade, mas de como a pessoa quer viver após saber que não há nenhuma possibilidade terapêutica. Mesmo quando não há nada para fazer, tem muito a ser feito O psicólogo na equipe de cuidados paliativos: principais objetivos Conhecer os temores e anseios do paciente: buscando oferecer medidas de apoio pautadas em seus valores culturais e espirituais. Valorizar a autonomia da pessoa que está sendo cuidada: buscando priorizar os direitos desse paciente de fazer suas próprias escolhas, oferecendo informações claras sobre a doença e sua evolução e respeitando seus limites de compreensão e tolerância emocional. Significa, antes de tudo, reconhecer que as decisões são unicamente do paciente e não daqueles que cuidam ou dos que querem proteger. O psicólogo na equipe de cuidados paliativos: principais objetivos Mediar oportunidades para que sejam tratados assuntos pendentes como despedidas, agradecimentos e reconciliações. Facilitar a relação entre profissional de saúde, paciente e familiares. Fases da morte e do morrer descritas por Elizabeth KÜBLER-ROSS O paciente fora de possibilidade terapêutica de “cura da doença” passa por um processo de finitude chamado "processo de morte e morrer", que foi descrito por Elizabeth Kübler-Ross em cinco estágios: Fases da morte e do morrer descritas por Elizabeth KÜBLER-ROSS Negação e isolamento: “não, eu não, não pode ser verdade". O cuidado nesse momento é fazer com que essa negação não se transforme numa negação do tratamento. No próximo momento o paciente se desliga da negação e se apropria mais do isolamento. Raiva: “Por que eu?": Em geral, a raiva é das pessoas que estão à sua volta: dos médicos por não diagnosticarem a tempo da cura, dos familiares, das pessoas que estão sadias, surgindo a revolta e o ressentimento de não ter vivido sua vida de outra forma, dos assuntos inacabados e dos dizeres não falados. A raiva inclui sentimentos de ressentimento, revolta e inveja. Barganha: em que os pacientes tentam fazer acordos para adiar a morte. Prometem bom comportamento com o objetivo de ter adiado o desfecho inevitável. A maioria das barganhas são feitas com Deus, e o paciente traça metas que ainda deseja cumprir em vida. Fases da morte e do morrer descritas por Elizabeth KÜBLER-ROSS Depressão: já não é mais possível negar, sentir raiva ou barganhar. A perda (da vida, das pessoas que ama, dos sonhos não realizados) é inevitável. Aceitação (resignação) apresenta a necessidade que o paciente tem de se perdoar, de perdoar o outro e ser perdoado. As coisas do mundo não importam mais, assuntos corriqueiros, notícia, barulho, não lhe dizem respeito, há uma introspecção para seu mundo interior O modelo de Kübler-Ross tem sido criticado. As etapas não são universais e podem variar na sequência. necessariamente na mesma sequência. Uma pessoa pode oscilar entre raiva e depressão, por exemplo, ou pode sentir as duas coisas ao mesmo tempo. Infelizmente, alguns profissionais da saúde assumem que essas etapas são inevitáveis e universais, e outros acham que fracassarão se não puderem levar um paciente à etapa final de aceitação. Morrer, como viver, é uma experiência individual. Para algumas pessoas, a negação ou a raiva pode ser um modo mais saudável de enfrentar a morte do que a calma aceitação. A descrição de Kübler- Ross, portanto, não deve ser visto como um critério universal ou com a única estratégia para “viver uma boa morte”. Possíveis dilemas dos profissionais de saúde - Distanásia: Prolonga-se a vida do paciente, independente do conforto. Faz-se de procedimentos que que contribuam para a longanimidade do paciente, sem levar-se em consideração se este prolongamento está causando-lhe sofrimento ou não. -Ortotanásia: Não ocorre a ação de interromper a vida do paciente, mas sim a omissão em forçar sua manutenção. Admitem-se cuidados paliativos, a fim de garantir ao paciente o maior conforto possível em seu tempo restante de vida (não é considerado ilícito, mas não existe regulação específica) -Eutanásia: É a prática de interromper, ativamente, a vida do paciente, geralmente em estado irreversível, a fim de cessar seu sofrimento (ato ilícito) -MISTANÁSIA: o doente, na maioria das vezes, sequer consegue ser atendido em uma instituição hospitalar. Morre antes de ser submetido a qualquer tratamento médico ou por erro, negligência ou imprudência médica. (lícito ou ilícito???) Como você pensa/sente essas possibilidades? Indicações COCENTINO, Jamille Mamed Bomfim; VIANA, Terezinha de Camargo. A velhice e a morte: reflexões sobre o processo de luto. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio de Janeiro , v. 14, n. 3, p. 591-599, 2011 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232011000300018&lng=en&nrm=iso>. FERREIRA, Ana Paula de Queiroz; LOPES, Leany Queiroz Ferreira; MELO, Mônica Cristina Batista de. O papel do psicólogo na equipe de cuidados paliativos junto aopaciente com câncer. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 85-98, dez. 2011 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151608582011000200007&lng=pt&nrm=iso> KOVACS, Maria Julia. Bioética nas questões da vida e da morte. Psicol. USP, São Paulo , v. 14, n. 2, p. 115-167, 2003 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642003000200008&lng=en&nrm=iso>. KOVACS, Maria Julia. Sofrimento da equipe de saúde no contexto hospitalar: cuidando do cuidador profissional. O Mundo da Saúde, São Paulo: 2010;34(4):420-429. Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/79/420.pdf KREUZ, Giovana; FRANCO, Maria H.P. O luto do idoso diante das perdas da doença e do envelhecimento - Revisão Sistemática de Literatura. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 69, n. 2, p. 168-186, 2017. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-5267201712&lng=pt&nrm=iso>. MOREIRA, Jacqueline de Oliveira. Mudanças na percepção sobre o processo de envelhecimento: reflexões preliminares. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 28, n. 4, p. 451-456, dez. 2012 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722012000400003&lng=pt&nrm=iso>. RIBEIRO, Mariana dos S. e cols. Estratégias de enfrentamento de idosos frente ao envelhecimento e à morte: revisão integrativa. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2017; 20(6): 880-888. Disponível em:https://www.scielo.br/pdf/rbgg/v20n6/pt_1809-9823-rbgg-20-06-00869.pdf Anexo 1 (extraído do plano de aula 16) → A Psicologia elabora alguns caminhos para que os parceiros auxiliem no processo de luto: (1) compartilhar a dor, compartilhar a memória. (2) não oferecer falso consolo, do tipo: “assim foi melhor, vai passar”. (3) oferecer ajuda prática: cuidar das crianças, oferecer comida. (4) seja paciente, não adianta pressionar para que o luto passe rápido, cada indivíduo tem seu ritmo, (5) sugerir ajuda profissional quando for o caso. Indicação de leitura: Capítulo 19 do livro (PAPALIA, Diane. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2013)
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