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Farmacodermias Definição: reações cutâneas a medicamentos. Drogas mais comuns: · Penicilinas (especialmente as aminopenicilinas) · Sulfonamidas · Anticonvulsivantes aromáticos (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital) · AINEs do grupo dos oxicams (piroxicam, tenoxicam) · Butazonas (fenilbutazona) · IECA · Hidralazina · Alopurinol Tipos de farmacodermia Tipos mais comuns Frequência relativa Exantema induzido por drogas 45-75% Urticária/angioedema 20-25% Eritema pigmentar fixo 10% Eritema multiforme (fixo) 5-6% Outras erupções < 5% Fisiopatologia Não alérgicas: · Superdosagem (ex. necrose por derivados do ergot) · Fatores individuais (ex. idiossincrasia e intolerância) · Efeitos colaterais (ex. alopecia pelo uso de citostáticos) · Alteração do equilíbrio ecológico (ex. candidíase vaginal após corticoterapia ou antibioticoterapia); · Teratogenicidade (ex. focomelia por talidomida) · Fototoxicidade (ex. tetraciclina, dapsona, psoralenos) · Interações medicamentosas (ex. inibindo ou estimulando a metabolização pelo citocromo p450). Alérgicas: · Reação tipo I: imediata (após 30-60 min), mediada por IgE, provocando degranulação de mastócitos e basófilos, liberando histamina, prostaglandinas e leucotrienos. Representada por urticária, angioedema e reação anafilática. · Reação tipo II: citotoxidade mediada por anticorpos (IgG e IgM). · Reação tipo III: mediada por imunocomplexos. Exemplificada pela vasculite cutânea e a doença do soro. · Reação tipo IV: mediada pela imunidade celular (LT helper). Exemplificada pela dermatite de contato. Eritema polimorfo Drogas mais comuns: · Sulfonamidas · Penicilinas · Quinolonas · Cefalosporinas · Anticonvulsivantes aromáticos · Alopurinol · AINEs Na maioria das vezes não é causado pela exposição a essas drogas, mas sim pela infecção pelo vírus herpes-simplex (eritema multiforme herpético). · As lesões surgem geralmente até 6 dias após o herpes labial recorrente. Manifestações clínicas · Erupção eritematosa de início súbito, distribuição simétrica, raramente pruriginosa, predominando na porção extensora dos membros, mãos e pés, face e eventualmente mucosa oral. · Em alguns casos, o rash progride centripetamente para o tronco. · Uma vez estabelecida, o rash cutâneo é estável e desaparece espontaneamente após 1-3 semanas, com um curso extremamente benigno. · As lesões podem ser de várias morfologias. · Aspecto mais comum: lesões eritematopapulares arredondadas, bordos bem definidos, tamanhos variados (poucos milímetros a 2 cm), que podem ou não apresentar confluência. · Muitas dessas lesões apresentam bordas edematoeritematosas e centros violáceos ou pigmentados ou podem ter características purpúricas. · As lesões clássicas são as lesões em alvo ou lesões em íris, que são fundamentais para o diagnóstico. · Caracterizam-se por terem anéis concêntricos alternados, cada um com uma morfologia ou cor diferente. As lesões típicas são elevadas e possuem três ou mais anéis. · Lesões mucosas: são vistas em 70% dos casos, apresentando- se nos lábios, cavidade bucal, palato, gengiva e genital. · São lesões enantematosas, erosadas ou esbranquiçadas, geralmente dolorosas. Tratamento: geralmente não necessita ao devido seu curso autolimitado. Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise epidérmica tóxica Definição: constituem espectros de uma mesma doença, sendo a NET uma forma mais grave do que a SSJ. · Ambas são definidas pelo acometimento de duas ou mais áreas de mucosa (oral, ocular, genital), exantema eritematoso disseminado contendo lesões em alvo atípicas e lesões bolhosas que geram desnudamento cutâneo (escaldamento). Classificação · SSJ: casos com <10% de pele desnudada. · NET: casos mais graves, com >30% de pele desnudada. · Overlap SSJ-NET: pacientes intermediários com 10-30% de pele desnudada. Etiologia Drogas mais comuns: · Sulfonamidas · Penicilinas · Quinolonas · Cefalosporinas · Anticonvulsivantes aromáticos · Alopurinol · AINEs A SSJ pode ser causada por agentes infecciosos, destacando-se o Mycoplasma pneumoniae. Fisiopatologia São caracterizadas por necrose de queratinócitos que resultam no descolamento da epiderme. Manifestações clínicas Síndrome de Stevens-Johnson Estágio prodrômico (1-14 dias): febre, mal-estar, cefaleia, coriza, angina (comprometimento orofaríngeo), mialgias, artralgias (síndrome gripal) e eventualmente vômitos e diarreia. Quadro cutâneo · Começa com uma erupção eritematosa maculopapular, por vezes morbiliforme, aparecendo no tronco e na face e progredindo centrifugamente para as extremidades. · Algumas lesões individuais são lesões em alvo atípicas, achatadas, com centro violáceo ou pigmentado e halo eritematoso. · As lesões são dolorosas e tendem à confluência, especialmente na face, no pescoço e no tórax anterior, que podem apresentar um eritema difuso e bolhas, ocasionalmente hemorrágicas. · Sinal de Nikolsky positivo: descolamento da epiderme após tração manual. Este sinal é precoce e aparece antes de surgirem as áreas de desnudamento espontâneo. · As áreas de eritema confluente podem originar áreas desnudas, desprendendo epiderme necrótica, com aspecto de escaldadura. Lesões mucosas · Duas ou mais membranas mucosas estão envolvidas, entre oral, ocular e genital. · Na mucosa oral (estomatite), os lábios, cavidade bucal, palato e língua podem apresentar lesões. · O quadro começa com queimação labial e oral, evoluindo com edema, eritema e bolhas que logo se rompem, deixando erosões vermelho hemorrágicas, cobertas por pseudomembranas branco acinzentadas e úlceras rasas aftosas. · As lesões orais são bastante dolorosas. · Pode ocorrer acometimento de gengiva, faringe, laringe e até esôfago e traqueia. · O envolvimento genital quase sempre inclui lesões erosivas (após rotura de bolhas hemorrágicas) ou purulentas, ocupando a vulva, a vagina ou a glande e a fossa navicular, podendo levar a retenção urinária e parafimose. · As lesões oculares são potencialmente graves e podem deixar sequelas. · Há conjuntivite (olho vermelho) e queimação ocular, evoluindo para vesiculação, erosões dolorosas e lacrimejamento bilateral. · Em casos mais graves, surgem conjuntivite purulenta, pseudomembranas, úlceras da córnea, uveíte anterior e panoftalmite. · A intervenção de um oftalmologista na fase precoce é fundamental para o tratamento dessas lesões, Necrólise epidérmica tóxica · Também é comum a fase prodrômica · Surge um rash cutâneo eritematoso morbiliforme, com ou sem lesões-alvo atípicas, predominando na face e no tronco e evoluindo para confluência. · Ao longo de 4-5 dias, as lesões cutâneas transformam-se em grandes bolhas flácidas que deixam grandes áreas cutâneas desnudas, que aparecem como erosões gotejantes serosas intensamente eritematosas. · O desnudamento atinge 30-90% da superfície corporal e assemelha-se a um grande queimado por escaldadura. · O acometimento das mucosas é extenso e grave, Diagnóstico: alterações laboratoriais inflamatórias e distúrbios hidroeletrolíticos. Escore de gravidade SCORTEN · Descolamento da epiderme > 10% · Idade > 40 anos · Presença ou ausência de neoplasias · FC > 120 bpm · Dosagem da ureia > 28 mg/dL · Glicemia > 252mg/dL · Bicarbonato sérico > 20 mg/dL Diagnóstico diferencial Diferenças entre SSSS e NET SSSS NET Etiologia Esfoliativa (toxina) do S. aureus grupo II, fagótipo 71 Fármacos e soros Idade preferencial Crianças Adultos Clivagem histológica Intraepidérmica Subepidérmica Sinal de Nikolsky Positivo, inclusive em pele aparentemente sã Positivo, apenas na pele comprometida Curso e prognóstico Breve (4 dias) Bom, se tratado Protraído (15 dias) Grave Tratamento Antibióticos e cuidados hidreletrolíticos Imunoglobulina e cuidados hidreletrolíticos Tratamento · Reposição hidroeletrolítica, guiada pelos sinais vitais, hematócrito e eletrólitos séricos · Nutrição enteral (a maioria dos pacientes não tolera ingestão oral) · Asseio traqueobrônquico · Medidas oftalmológicas preventivas (lubrificantes oculares, limpeza eremoção de adesões) · Debridamento da pele necrótica apenas quando terminar a progressão da doença (fase estável), recobrindo-se as lesões com gaze embebida em soro fisiológico ou curativos hidrocoloides · O uso de corticoides em dose alta (1mg/kg/dia de prednisolona) é bastante controverso. · O uso de antibioticoterapia sistêmica profilática não é preconizado. Sindrome de hipersensibilidade (DRESS) Definição: É uma síndrome rara, potencialmente grave, que aparece entre 2-6 semanas após exposição à droga, sendo mais comum com os anticonvulsivantes aromáticos, especialmente a fenitoína e o alopurinol. Manifestações clínicas · O paciente apresenta-se inicialmente com febre, mal-estar, linfadenopatia e erupção cutânea morbiliforme, que pode se tornar confluente e progredir para uma dermatite esfoliativa. · Manifestações hematológicas típicas são eosinofilia e linfocitose atípica. · Envolvimento de órgão interno é esperado, com acometimento hepático em 60-80% dos pacientes. · Outros achados seriam nefrite e pneumonite intersticiais. · A presença de importante adenopatia cervical, axilar, intratorácica e retroperitonial com febre caracteriza a síndrome do pseudolinfoma típica da fenitoína. Tratamento: Após a suspensão do medicamento envolvido, que é a principal medida terapêutica a ser estabelecida, a melhora ocorre gradualmente dentro de 6-9 semanas. · Podem ser utilizados corticosteroides sistêmicos (1-1,5mg de prednisona ou equivalente), devendo ser mantido até absoluto controle da doença (4 a 6 semanas) antes de se iniciar uma redução lenta e gradual. · Em caso de piora do quadro, deve-se considerar pulso de corticosteroide ou uso de imunoglobulina.
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