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Mico 19:30 l 21/05/2020 Micoses sistêmicas e oportunistas Micoses profundas são causadas por fungos dimórficos (no meio ambiente, na forma filamentosa, e parasitam transformando-se em leveduras; com virulência individual e inerente a cada espécie) ou levedura saprófita. O tropismo desses fungos são os órgãos internos, com porta de entrada sendo o sistema respiratório primeiro órgão infectado, portanto, é o pulmão. Essas doenças não são infectocontagiosas (não há transmissão homem- homem, homem-animal), apesar de serem muito infecciosas. Com exceção de C. neoformans, os outros fungos causadores de micoses sistêmicas são dimórficos. Paracoccidioidomicose – Paracoccidioides brasiliensis. Micose de início pulmonar, manifestações também na pele, mucosas e gânglios; doença infecciosa de evolução aguda, subaguda ou crônica. A principal via de infecção é a inalatória e acomete principalmente o homem (90% casos, o estrógeno auxilia no impedimento da transformação do fungo). Formas clínicas: assintomática, pulmonar aguda e crônica e disseminada. As manifestações clínicas são: Paracoccidioidomicose-infecção – não seguida de doença. Formação do complexo primário (CP) fúngico e regressão discreta (hipersensibilidade IV e anticorpos transitórios); Paracoccidioidomicose- doença – infecção primária ou reativação. Leveduras do CP iniciam um processo inflamatório inespecífico e quando fagocitadas atingem os gânglios linfáticos do pulmão o diagnóstico da forma aguda é difícil (pode confundir facilmente com tuberculose); a forma crônica se caracteriza por tosse, dispnéia, expectoração mucopurulenta, dor torácica e febre baixa. A doença, em sua fase crônica pode ser de duas maneiras Unifocal: enfermidade restrita a um único órgão ou sistema (pulmão), menos frequente; Multifocal: expressão clínica clássica, mais frequente. Associação de lesão mucosa e/ou cutânea e quadro pulmonar específico. O diagnóstico é feito por exame direto do espécime clínico (diagnóstico de rotina) materiais muito espessos: misturar com uma gota de KOH 10%, aquecer levemente após a colocação da lamínula, e acultura é feita em ágar Sabouraud Glicose, uma parte da amostra em 25°C (filamentosa, “pipoca estourada”) e outra em 37°C. O tratamento é feito por meio de antifúngicos ativos: Anfotericina B; sulfadiazinas e drogas do grupo azólicas (muitos efeitos colaterais nas três drogas), além de retirada de imunossupressores. Histoplasmose – Histoplasma capsulatum ou H. Duboisii. Presente em solos com vegetais em decomposição e dejetos de aves e morcegos (nitrogênio das fezes enriquece o solo), mas esses fungos não parasitam morcegos. A transmissão da doença é por meio da inalação do fungo ao mexer em terra rica em filamentos fúngicos, limpar galinheiros ou viveiros ou penetrar em cavernas habitadas por morcegos. Acomete humanos, animais silvestres e domésticos. Exigências do fungo: 17° - 24°C, invernos curtos e não rigorosos; pluviosidade entre 500-2500 mm/ano; altitude em torno dos 1500m; solos férteis (ácidos) e com cobertura vegetal. Transformação da fase M (Micelial) para L (Leveduriforme) é inibida pelo 17-β-estradiol e por dietiestilbestrol (bloqueio da síntese de proteínas). Não é inibida por testosterona ou 17-αestradiol. As manifestações clínicas são: Histoplasmose Infecção – quadro assintomático com resolução espontânea. 1/3 dos infectados pode desenvolver calcificações nodulares pulmonares; Histoplasmose infecção sintomática pulmonar aguda – quase sempre decorre da exposição a focos altamente infectantes (espeleólogos). Tende se ser autorresolutivo; Histoplasmose disseminada aguda-subaguda – infância e adolescentes (rara). Progressão do complexo primário, particularmente para órgãos ricos em células do sistema monocíticofagocitário; Histoplasmose pulmonar crônica do adulto – pacientes masculinos, idosos e com doença pulmonar obstrutiva de base; Histoplasmose multifocal crônica do adulto – Mais comuns das formas clássicas. Típica do sexo masculino e caracteriza-se pela presença de lesões pulmonares (reativação endógena). O diagnóstico por exame direto do espécime é muito escasso para diagnosticar, mesmo pela coloração de Giemsa, por isso é feita biópsia onde são observadas as células ovaladas do fungo. É realizado cultivo (ágar Sabouraud com clorafenicol) e microcultivo (ágar batata) do material biológico, em 35° e 37°C. Fase filamentosa e Fase leveduriforme O fungo é parasita intracelular de macrófagos e monócitos, com parede espessa, células pequenas, com citoplasma retraído em colorações de tecido, dando impressão de cápsula. O tratamento, para quando não há regressão espontânea, é por meio de anfotericina B (histoplasmose pulmonar: febre + de 3 semanas, formas disseminadas e pulmonar crônica). Na contraindicação de anfoterecina B utiliza-se Itraconazol. Coccidioidomicose – Coccidioides immitis. Fungo geofílico de clima semiárido e desértico. Abundante logo que uma estação seca sucede uma chuvosa e também encontrado em tocas de tatus. Fungo sapróbio presente no solo de áreas desérticas e semidesérticas com maior incidência em trabalhadores rurais. Negros, filipinos e grávidas: predileção a contrair a doença disseminada; Cães e gatos sintomáticos: 100% letalidade; Doença crônica, caquetizante, anorexia progressiva e comprometimento pulmonardispnéia e tosse. Os principais sintomas notados são pneumonia aguda em 40 % dos casos e 5 % quadro pulmonar crônico cavitário – semelhante à tuberculose. A disseminação é linfo-hematogênica. O diagnóstico segue fielmente a epidemiologia do local, sintomas clínicos, resposta a coccidioidina e detecção de anticorpos. Ao microscópio são observados esférulas no material clínico; a cultura é feita em ágar Sabouraud com clorafenicol, em laboratório de nível III, e cresce com aspecto de algodão. A cultura fecha o diagnóstico. O tratamento é por meio de Anfotericina B, Miconazol, cetoconazol e itraconazol (tem resultados limitados). Cryptococcus sp – levedura encapsulada e saprófita, ubíqua, que causa micose sistêmica com foco inicial (tropismo) no sistema nervoso central (meninges). A porta de entrada do fungo é pela via respiratória. A cápsula tem características nomeáveis: 90% de glucuronoxilomana (GXM) e 10% galactoxilomanana (GalXM) e manoproteínas (MP). No meio ambiente a levedura encontra-se sem cápsula. As manifestações clínicas são diferentes entre a criptococose oportunista (paciente imunocomprometido), que se mostra como doença, e a criptococose primária, como infecção. O diagnóstico é feito por exame direto do material com coloração de tinta nanquim (bem característico), e a cultura da levedura é feita em meio CGB (Canavanina Glicina Azul de bromotimol) a 37°C. Também é realizado diagnóstico imunológico: detecção de Ags capsulares (GXM) em fluídos corpóreos (prova de Aglutinação do látex) porém: Reações falso-positivas – fator reumatóide, Trichosporon beigelli, Penicillium sp e H. capsulatum. As micoses oportunistas são causadas por fungos na maioria saprófitas e não considerados patogênicos, devendo haver, obrigatoriamente, correlação da clínica / laboratório. Os pacientes acometidos são: imunocomprometidos ou com comprometimento das barreiras inatas (como antibioticoterapia e granulocitopenia prolongada no tratamento de neoplasias e transplantados). Candidíase: é a mais frequente infecção fúngica oportunista. No homem o habitat é a mucosa digestiva e por contiguidade a mucosa vaginal. Na pele se traduz por uma doença pré-existente. Somente as espécies capazes de crescer a 37oC são patogênicas ao homem, que formam estruturas filamentosas (hifas e pseudohifas) que impedem a fagocitose e produzem metabólitos capazes de desencadear hipersensibilidades tipo I e IV. Há produção de enzimas como lipase e proteinase e a imunossupressão decorrente da grandequantidade de manana circulante. Candidíase Intertriginosa – resultam frequentemente de vulvovaginites ou balanopostite, como também de exsudação excessiva e maceração em obesos, alcoólatras e diabéticos. As lesões são eritematosas, úmidas com bordas mal definidas e escamosas. Onicomicose – (unha) Infecções do tipo onyxis: modificações de origem infecciosa na própria lâmina ungueal. Quadro se inicia próximo à base da unha onde a queratina é mais mole. Modificação na coloração da unha; Infecções do tipo perionyxis: tumefação inflamatória, purulenta da região da pele que circunda a unha. Candidíase Oral – achados variáveis desde quadros localizados (estomatites) até formas graves e generalizadas. Pseudomembranosa: “sapinho”; Atrofia aguda: lesão secundária a um quadro de pseudomembranosa, caracterizando-se por eritema visível no dorso da língua; Hiperplasia crônica ou leucoplásica: aparecimento de placas de coloração branca, fortemente aderidas à cavidade oral, principalmente na língua, bochechas e lábios, com forte aderência à mucosa; Queilites angular: “boqueira” – início por maceração no ângulo de junção do lábio superior com o inferior. Vulvovaginites – população aumenta e provoca uma vaginite intensa e irritante, com descarga vaginal caseosa que pode ser acompanhada por uretrite e disúria, simulando infecção do trato urinário. Balanospotite – início na glande podendo apresentarse como um discreto eritema pruriginoso após relação sexual ou aparecimento de vesículas ou pústulas com conteúdo branco-cremoso. Candidíase sistêmica – sintomatologia infecciosa localizada que disseminouse a outros órgãos por via hematogênica ou com origem exógena com disseminação (infusão de líquidos contaminados). Sintomatologia cardíaca, digestiva, respiratória, hepática, renal, ocular e do sistema nervoso central. O diagnóstico é por meio de exame direto, cultura, tubo germinativo (C. albicans e C. dubliniensis) e assimilação de carboidratos. Na cultura são vistas colônias cremosas ou pastosas, moles, brancas ou brancoamareladas, de crescimento rápido (48 a 72 hs), pequenas, cheiro de fruta fermentada, algumas com franjas nas bordas. Em microscópios são observadas leveduras unicelulares com brotamento e filamentos septados. Ágar fubá com Tween 80: presença de células soltas, filamentos e C.albicans produz clamidoconídeos; Na presença de soro humano ou soro de cavalo, C.albicans produz tubo germinativo. Candidíases alérgicas – lesões cutâneas do tipo vesiculosas a lesões eczematóides nos espaços interdigitais das mãos e em outras partes do corpo. O tratamento é por corticoides e no diagnóstico laboratorial exame direto e a cultura são sempre negativos. O tratamento se dá por drogas antifúngicas como nistatina, anfotericina B, cetoconazol, itraconazol e fluconazol. Aspergilose – Aspergillus sp. Fungo de meio ambiente, contamina laranja. São fungos cosmopolitas, presentes na natureza em restos orgânicos, solo, ar, diversos veículos líquidos, superfície de seres vivos; grande quantidade de conídeos pequenos, lisos ou rugosos veiculados pelo ar. Principal via de transmissão: respiratória e causam além de processos infecciosos, doença através de mecanismos de hipersensibilidade e de toxicidade crônica, pela ingestão de metabólitos. Manifestações: aspergilose cutânea, otomicose aspergilar, onicomicose aspergilar, aspergiloma ou bola fúngica, aspergilose pulmonar invasiva, sinusite aspergilar, aspergilose imunoalérgica e micotoxicose. Cutânea: resultante de traumatismo ou queimaduras. Lesões polimórficas com nódulos, pápulas, abcessos subcutâneos, granulomas e lesões necrosantes; Otomicose: infecção secundária do conduto auditivo externo de pacientes com lesão eczematosa e uso de antimicrobianos e corticóides. A.niger seguido de A.fumigatus; Onicomicose: não são queratinofílicos mas em unhas traumatizadas, com lesões eczematozas, em pacientes com psoríase utilizam resíduos orgânicos como fonte nutricional; Aspergiloma ou Bola Fúngica: Conídeos pequenos ao se instalarem na cavidade pulmonar encontram boas condições nutricionais e boa aeração; Aspergilose broncopulmonar alérgica: formação de moldes mucosos com filamentos aspergilares (eosinofilia e aumento de IgE); Alveolite alérgica extrínseca: broncopneumopatias de repetição seguida de insuficiência respiratória por fibrose pulmonar. (inalação contínua de conídeos- ocupacional); Micotoxicoses: intoxicação crônica por metabólitos ou micotoxinas. O gênero Aspergillus sp produz aflatoxinas capazes de causar quadros de intoxicação com sintomatologia hepática. Cereais contaminados. O tratamento se dá por limpeza rigorosa (otomicoses), remoção cirúrgica das unhas, cirurgia e uso de antifúngicos (aspergilomas), remoção dos fatores predisponentes (imunoalergias e micotoxicoses). Fusariose – Fusarium sp. Saprófita de solo, água e plantas. As manifestações clínicas envolvem: acometimento superficial (pacientes imunocompetentes e imunodeprimidos), quadros invasivos (apenas pacientes imunodeprimidos). Principais quadros clínicos: ceratites, micetomas, comprometimentos ungueais, formas cutãneas e fusariose disseminada. Ceratites – acomete principalmente agricultores, jovens com história de traumatismo acidental da córnea. Mais frequente e causada, além pela contaminação por Fusarium sp., por uso indiscriminado de colírios com corticóides. Micetoses – nódulo subcutâneo fechado no pé, não aderente, que fistuliza liberando líquido serosanguinolento viscoso. Onicomicoses – raras e superficiais. Cutânea – pele queimada e úlceras: 3º lugar das infecções. Disseminada – Estão mais frequentes em pacientes imunodeprimidos e são fatais. Lesões múltiplas e necróticas da pele estão presentes e tem como órgãos alvo: pulmão, rins, olhos, fígado, baço, dentre outros. Hemoculturas positivas diferenciando de aspergilose.
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