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A relação entre a angústia e a responsabilidade Por Vilma Felipe da Costa Desde os primórdios, o homem tem sido objeto de estudos da ciência e de observação da filosofia. Aristóteles o descreve como um ser que precisa viver em comunidade, que é falto de coisas e de outras pessoas, é imperfeito e carente, e sua completude se dá nas relações com seus pares. Para ele,a finalidade maior dessa relação é a felicidade, ou seja, alcançar o bem soberano. Para o filósofo existencialista Jean Paul Sartre, o homem é corpo e consciência, é um ser em relação: relação entre consciência e corpo, relação com o mundo que o cerca, relação com a exterioridade. Ou seja, o homem é um ser-no-mundo. Para ele, não existe mundo sem homem nem homem sem mundo (SARTRE, 1968). O mundo só se constitui, se organiza, através do homem; uma vez que este estabelece sentidos, propósitos, organizando assim, a realidade, tornando-a humana. Da mesma forma, por estar inserido em um mundo cheio de possibilidades tanto sociais quanto sociológicas, cada indivíduo faz parte de uma certa sociedade, em determinado local e tempo, isto também o torna humanizado. Portanto, compreende-se que o ser humano é dotado de autonomia e detém o poder sobre as questões que o afetam. Logo, o homem é auto responsável, não para fechar-se na individualidade, mas para abrir-se ao coletivo, pois, ao ser responsável por si, é também responsável pelos outros. Todos partilhamos da mesma condição humana que é universal, e nesta universalidade se baseiam os projetos humanos, visto que a existência humana se constrói perante ultrapassar,negar ou acomodar-se a esses limites. Sendo o homem auto-responsável, a culpa por suas frustrações, desilusões e fracassos, não pode então ser transferida para nenhuma condição ou causa substancial externa a si. O Homem é o que ele faz de si. Na busca pelo construir-se, é necessário ter uma postura de atitude ativa por parte do indivíduo. Sua existência se dá ao lançar-se para o futuro, tendo consciência de que para lá avança, ou seja, o homem é responsável direto por aquilo que é. Por isso não é fácil tomar decisões e fazer escolhas. Pois, ao escolher a si, o homem escolhe aos outros. Ao arvorar o que é bom para si, para sua individualidade como normas de conduta, moralidade, etc, o homem propõe a sua escolha para a humanidade, partindo do princípio que, se é bom para si, é bom para os outros. Sua responsabilidade, portanto, passa a ser pelo coletivo, não mais pelo individual. Afinal, as decisões individuais são exemplo e ponto de partida para as decisões de toda a humanidade. No entanto, quando com nossos atos criamos o homem que desejamos ser, concomitantemente, criamos uma imagem do homem que julgamos que deve ser. A angústia é um sentimento que permeia as emoções humanas, está presente principalmente quando estamos prestes a fazer uma escolha, a tomar uma decisão. Pois não temos certeza de que estamos fazendo a melhor escolha ou tomando a decisão mais acertada. Porém, a angústia tratada aqui, não é aquela que causa estancamento como nos casos de algumas patologias, mas um estado natural do homem que tem responsabilidade, que existe e naturalmente se constrói. O homem é livre, porém pesa sobre si a responsabilidade intrínseca dessa liberdade, afinal, estando no mundo, é responsável por tudo o que fizer. A liberdade é integrante do “ser” do homem. Portanto, impreterivelmente fazemos uma escolha, mesmo quando escolhemos não escolher. Esta possibilidade muitas vezes nos leva ao desespero,que nada mais é que a ação sem esperança, pois tudo o que se tem é o desconhecido, indeterminado e totalmente livre, isso torna o homem vulnerável a incorrer no erro de tomar uma decisão ou apoiar alguma ação que venha a ser contraproducente posteriormente. Com isso, muitas vezes o ser humano é tomado por uma preocupação que lhe tira o sono, uma ansiedade que o impossibilita de viver e agir no presente, no aqui e agora, pois o futuro lhe causa medo e desassossego. Portanto, cabe a cada um, no presente, dar a sua parcela de contribuição para o futuro, com tranquilidade, sem a excessiva preocupação de como ele será. Portanto, esteja cada um incumbido do seu existir da melhor forma possível no tempo que lhe compete, consciente da sua responsabilidade para com a humanidade. Vilma Felipe da Costa é Psicóloga, Teóloga, palestrante, pós graduanda em Psicologia Humanista Existencial Fenomenológica e Docência do Ensino Superior. Colunista colaboradora da revista Curitiba Suburbana.
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