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Gestão de Transportes 1ª edição 2017 Gestão de Transportes 3 Palavras do professor A disciplina de Gestão de Transportes tem como objetivo capacitar, você aluno, a desenvolver as atividades relacionadas ao gerenciamento das operações que envolvem transportes dentro da organização. As atividades que envolvem transportes são responsáveis por dois terços dos recursos direcionados à área de logística, sendo de vital importância o correto direcionamento dos recursos, coordenação dos recursos e toma- das de decisões sobre a utilização desses recursos. Nesta disciplina você terá contato, tanto com os conceitos básicos da Gestão de Transportes e sobre sua importância dentro da cadeia de supri- mentos, o qual será apresentado aos modais de transporte, suas caracte- rísticas, vantagens e desvantagens, bem como quanto a visão moderna desta área, tendo contato com conceitos da Logística Enxuta (Lean Logis- tics), e dos novos modelos de transporte e ferramentas voltadas para a gestão dos transportes baseadas nas novas tecnologias. Utilizaremos exemplos práticos, que são vivenciados no cotidiano de todas as pessoas, e que nos permitem enxergar com clareza os aspectos que influenciam as decisões relacionadas a transportes. A cada unidade apresentada, você terá a oportunidade de rever os con- ceitos e fixar a matéria aprendida através de questões propostas. Tam- bém serão apresentados temas e conhecimentos que visam enriquecer o conhecimento do aluno ao longo das Unidades. Ao final desta disciplina esperamos que você, aluno, esteja capacitado a desenvolver atividades na área de Gestão de Transportes, tendo também o conhecimento necessário para as tomadas de decisões relacionadas aos recursos disponíveis para a maior eficiência da área de transportes dentro da organização. Bom estudo! 1 4 Unidade 1 Transporte - Funções e principios aplicáveis Para iniciar seus estudos Nesta Unidade daremos início ao estudo da Gestão de Transportes, con- textualizando este importante tema dentro das atividades da organiza- ção. Vamos abordar o papel dos transportes dentro da cadeia de supri- mentos, apresentando os conceitos e situações práticas, que permitirão identificar a importância dos transportes no dia a dia das organizações. Objetivos de Aprendizagem • Identificar as características de uma cadeia de suprimentos. • Identificar e definir o papel dos transportes dentro da cadeia de suprimentos. • Perceber a importância da gestão de transportes para a melhor performance da gestão de suprimentos.. 5 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis 1. Cadeia de suprimentos A nossa disciplina, Gestão de Transportes, abordará centralmente os conceitos e atividades que envolvem os transportes dentro do processo organizacional. No entanto, para começarmos a falar de transportes, precisamos “enxergar” onde estão os transportes dentro da organização, e qual a sua importância para a organização. Vamos iniciar falando sobre Cadeia de suprimentos, Rede Logística e Gestão Logística, que são todas nomen- claturas atribuídas a um sistema integrado de gestão do fluxo de informações e produtos ou serviços. Primeira- mente, devemos entender algumas das palavras utilizadas com mais frequência: • Sistemas: entendemos por sistemas, um conjunto de elementos; • Integrado: por integrado compreendemos ser algo que faz parte, algo complementar a outro; • Gestão: gestão possui diversas definições, de acordo com os mais conceituados autores. Dessa forma, vamos definir aqui, seguindo a linha de Fayol, gestão como sendo o ato de desenvolver e aplicar os recur- sos da organização em busca de um objetivo pré-determinado. Depois de conhecer as principais definições dos termos que vamos utilizar com frequência e fazem parte da nossa disciplina, podemos compreender melhor sobre o que é Sistema Integrado de Gestão. Figura 1.1 - Sistema Integrado de Gestão. Legenda: A figura ilustra a soma dos três elementos que compõem o Sistema Integrado de Gestão. Fonte: 123rf. Sendo assim, podemos dizer que um Sistema Integrado de Gestão é: Um conjunto de elementos complemen- tares e integrados, que são aplicados de forma organizada, em busca de objetivos pré-determinados. Estes ele- mentos, dentro de uma organização, poderão ser: • Tecnologia; • Pessoas; • Estrutura física; • Cultura organizacional; • Instruções de trabalho. Os Sistemas Integrados de Gestão são recentes, eles têm início na abordagem sistêmica das organizações, quando as mesmas passaram a serem vistas como um organismo complementar, dentro do qual, cada uma de suas partes passa a ser observada, enquanto parte de um todo. Temos atualmente diversos sistemas de gestão. Um exemplo que podemos citar é o Sistema de Gestão Financeira. 6 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Um Sistema de Gestão Financeira pode ser exemplificado como o fluxo na gestão financeira de uma faculdade, que recebe informações da secretaria sobre a quantidade de disciplinas, módulos, etc, que o aluno deseja cursar em um determinado semestre, calcula o valor da mensalidade, passa esta informação a um banco que emitirá um boleto, e, por fim, este banco, após a quitação ou não daquele boleto, informará à faculdade o status do aluno. Podemos observar no exemplo que apresentamos sobre o Sistema de Gestão Financeira, que temos diversos “atores” ou stakeholders envolvidos neste processo, e a participação de cada um deles no processo, de forma organizada, permite à faculdade atingir seu objetivo de quitar compromissos, e o objetivo do aluno, de aprender e ter acesso a uma unidade educacional. LStakeholders São as partes interessadas. Aqueles que impactam e que são impactados por um determinado processo. A expressão em inglês é originária do mercado de ações, e refere-se àqueles que adquirem ações de uma organização, tendo “parte” da empresa. Pos- teriormente percebe-se que todos os interessados e que impactam nas decisões da organi- zação são seus stakeholders. Por exemplo, mesmo sem ter uma ação de uma determinada empresa, o cliente, por “participar” da decisão daquilo que será produzido pela empresa, detém uma participação da mesma. . Glossário Em um processo de gestão diversas atividades são desenvolvidas para que os objetivos sejam cumpridos. No tópico a seguir vamos conhecer um pouco sobre as atividades da cadeia de suprimentos. 1.1. Atividades da cadeia de suprimentos De acordo com Ballou (2006), dentre as atividades envolvidas no processo da cadeia de suprimentos, podemos mencionar algumas atividades que são encontradas na maior parte dos processos, como padronização de ser- viços, transporte, gestão de estoques e fluxo de informação e processamento de pedidos, dentre outras ativida- des chamadas de “suporte”, que nem sempre estarão presentes, como armazenagem, manuseio de materiais, compras, embalagens diferenciadas e manutenção de informações. O Quadro 1.1 apresenta essa relação das atividades principais e das atividades de suporte que estão presentes na cadeira de suprimentos. 7 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Quadro 1.1 - Atividades principais e atividades de suporte da cadeia de suprimentos Atividades Principais Atividades de Suporte Padronização de serviços • Armazenagem. Transporte • Manuseio de materiais Gestão de estoques • Compras Fluxo de informação • Embalagens diferenciadas • Manutenção de informações Legenda: o quadro apresenta duas colunas com a classificação das ativida- des principais e de suporte relacionadas à cadeia de suprimentos. Fonte: Ballou (2011). Para compreender melhor sobre as atividades principais da cadeia de suprimentos, vamos utilizar como exemplo as atividades envolvidas na compra de um tênis pela internet. Vamos lá: a. Padronização de Serviço: a padronização de serviço existe, pois as atividades executadas ao longo do processo de comprasão iguais, tanto para o consumidor que compra o tênis da marca A, quanto para o consumidor que compra o tênis da marca B; b. Transporte: a atividade de transporte se faz presente na cadeia de suprimentos, pois tanto materiais quanto informações devem ser transportados entre as etapas do processo. Ao adquirir um tênis pela internet, o consumidor terá uma expectativa relacionada à entrega, e esta expectativa será totalmente impactada pela atividade de transporte; c. Gestão de Estoques: a gestão de estoque faz parte do processo das organizações, mesmo daquelas orga- nizações que trabalham com os estoques mais reduzidos, pois poderá existir o estoque do trabalho em processo. No caso do nosso exemplo, as informações relacionadas à gestão de estoque devem ser muito precisas, afinal, após a aquisição do produto, nada mais frustrante para o consumidor e comprometedor para a organização, do que ter seu pedido cancelado por falta de gestão de estoque; d. Fluxo de Informação: Esta atividade requer uma atenção maior, pois vivemos em uma sociedade que demanda cada vez mais informações e sempre de forma mais rápida. Se pensarmos em uma promoção do tênis que a organização está vendendo, o fluxo de informação entre o sistema que processa as vendas e a gestão dos estoques deve ter sua performance melhorada continuamente, pois o risco de diversos consumidores adquirirem o produto em um curtíssimo espaço de tempo é muito grande, e as informa- ções devem ter um fluxo contínuo nas duas direções, tanto para a emissão do pedido para o estoque, quanto da disponibilidade do produto para o sistema. 8 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Figura 1.2 ilustra como acontece o fluxo de informações, considerando o nosso exemplo de compra pela internet. Legenda: A figura ilustra o fluxo de informações na compra de um produto pelo consumidor. Fonte: 123rf A partir das informações que apresentamos na Figura 1.2 consideramos que o fluxo de informações em uma compra online feita pelo consumidor apresenta as seguintes ações: 1. Consumidor requisita um produto ao estoque da organização; 2. Estoque informa ao sistema da organização sobre a disponibilidades daquele produto; 3. Sistema “comunica” ao consumidor quando o produto será entregue. Por que algumas atividades são chamadas de Principais e outras de Suporte? Isto se deve ao fato de as atividades principais estarem presentes em quase todas as ações relacionadas à cadeia de suprimentos, já as atividades de suporte, nem sempre aparecerão. FIM DO FIQUE ATENTO!. Agora que conhecemos sobre as atividades da cadeia de suprimentos, podemos compreender melhor como funciona o sistema de gestão logística e a cadeia de suprimentos. Vamos estudar sobre isso no tópico a seguir. 1.2 Sistema de Gestão Logística e Cadeia de Suprimentos Um sistema de gestão logística ou uma cadeia de suprimentos podem ser desenhados de algumas formas, de acordo com o fluxo de informações e atividades que as estruturam. Como exemplos vamos considerar um fluxo mais usual, no qual ao receber um determinado pedido de um setor de vendas da organização, toda uma cadeia 9 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis comece a se movimentar, executando as mais variadas operações, sendo elas: programação de produção, almo- xarifado ou estoque, setor de compras, linha de produção, setor de embalagem e transporte. • Programação de produção: emite uma ordem de produção à linha • Almoxarifado ou estoque: verifica a disponibilidade da matéria-prima para a confecção daquele pedido; • Setor de Compras: requisita materiais junto ao fornecedor, tanto para o atendimento do pedido, caso o mesmo não tenha em estoque, quanto para a reposição, caso o mesmo seja consumido por aquele pedido; • Linha de produção: produz o item a ser entregue ao cliente; • Setor de Embalagem: pode fazer parte da linha de produção, é um setor responsável pelo adequado acondicionamento do item, de acordo com variados fatores como tamanho, peso, modal de transporte, fragilidade, entre outros; • Transporte: responsável pela movimentação do material até o cliente, consumidor, centro de distribui- ção ou armazém; Até aqui, conseguimos apresentar algumas atividades e setores responsáveis por cada uma delas. Alguns autores costumam separar atividades da seguinte forma: • Cadeia de suprimentos: atividades que acontecem dentro da organização, e envolvem o correto supri- mento das atividades, como controle de estoque de matéria-prima, pedido de compra de matéria-prima, programação e produção de bens; • Logística: atividades relacionadas à movimentação dos materiais, interna e externamente, como recebi- mento da matéria-prima, armazenagem, transporte e entrega de pedidos. 2. A função transporte A função transporte pode ser, inicialmente, classificada como o ato de transportar ou levar, um determinado material (matéria-prima, componente, produto em processo, produto acabado, etc) de um local para outro. No entanto, esta simples definição, talvez não nos permita compreender a importância que envolve tal atividade. Por isso, vamos a alguns apontamentos: • Se iniciarmos a abordagem de transporte observando a definição aqui sugerida, a atividade de levar um material de um ponto a outro, pode ser muito ampla, tendo em vista que podemos estar falando de um simples parafuso que fará parte de um grande estoque, até de um coração que será transplantado a um paciente que aguarda por ele há anos. • Dentro de uma organização, temos atividades menos críticas, como o recebimento de resmas de papel para um setor administrativo, e outras mais críticas, como a entrega dos componentes dos motores de uma linha de produção de uma montadora de veículos. Em ambos os casos, termos uma série de prio- ridades a serem atendidas e decisões a serem tomadas, e o papel da função transporte é essencial, pois afetarão diretamente todos os aspectos da operação, como preço, prazo de entrega, qualidade, entre outros. 10 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Sendo assim, podemos dizer que a função transporte, além de ser responsável pela movimentação de materiais e entrega de produtos finais ao consumidor, também exerce um papel fundamental no valor destes materiais e produtos, podendo agregar valor ou não. 3. O papel do transporte em uma cadeia de suprimento Quando mencionamos sobre as atividades desempenhadas na cadeia de suprimentos, ou seja, sobre as ativi- dades desenvolvidas com o intuito de suprir as necessidades do processo produtivo da organização foi possível observar que as atividades dependem de uma movimentação de materiais. Esta movimentação de materiais pode se dar de algumas formas, a depender da característica do processo ou da atividade que está sendo desen- volvida. Abaixo, vamos apresentar alguns exemplos de atividades e o papel do transporte em cada uma delas, para uma melhor visualização. • Fornecimento de matéria-prima: as organizações precisam fornecer aquilo que produzem para outras organizações, ou seja, uma organização compra os materiais, e outra organização os fornece, e este pro- cesso envolverá uma série de fatores como: » Local de entrega; » Prazo de entrega; » Verificação da qualidade da entrega; » Conferência de nota fiscal e material recebido; Este modelo pode também funcionar dentro de uma mesma organização, quando esta possui um centro de distribuição, que entrega para seus pontos de venda ou pontos onde serão processados os itens. Um exemplo interessante é o que acontecem com determinadas rede de lanchonetes que possuem um centro de distribuição, e deste centro de distribuição saem os hambúrgueres para serem apenas finalizados nas lanchonetes, e demais insumos que são utilizados na fabricação dos pratos; • Transporte de produtos em processo de fabricação: Uma mesma organização pode possuir diferentes locais paracada etapa do processo produtivo, e isto ensejará o transporte entre plantas de uma mesma organização, do produto que está em processo. Um exemplo muito interessante deste modelo pode ser observado na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que possui plantas em diversos lugares do Brasil. A planta localizada em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, envia para a planta localizada na Cidade Industrial de Curitiba, no estado do Paraná, chapas de aço. Estas chapas, quando chegam à planta 11 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis no Paraná, são beneficiadas, através de processos de galvanização, entre outras, e, nos últimos anos, a empresa vem fornecendo também a seus clientes, chapas pré-pintadas; • Transporte de produtos acabados a clientes finais: Neste caso podemos citar desde empresas que, após a compra de um produto pelo cliente em sua loja física, irão levar à casa deste cliente, até os cada vez mais comuns sistemas de comércio eletrônico. Observe a Figura 1.3, que apresenta o fluxo de infor- mações em uma cadeia de suprimentos. Figura 1.3 - Cadeia de Suprimentos. Legenda: Funcionamento dos processos de uma cadeia de suprimentos. Fonte: Ballou (2011). A Figura 1.3 nos mostra o envolvimento dos sistemas de transportes em diferentes momentos dos pro- cessos da cadeia de suprimentos em uma organização. Inicialmente temos o transporte de matéria-prima dei- xando o processo do fornecedor e se encaminhando à armazenagem. Em seguida aquela mesma matéria-prima é transportada novamente, mas agora para a indústria, onde será transformada e beneficiada, dando origem a um produto ou um bem. Na sequência, após o processo produtivo, este item é novamente transportado a um armazém do próprio produtor, podendo também, neste caso, ser encaminhado a um centro de distribuição. E finalmente, em uma última etapa, observamos o bem chegando ao consumidor final. O sistema de transportes está sempre presente na cadeia de suprimentos, por isso no tópico a seguir vamos abordar sobre sua importância. 3.1. Importância do sistema de transportes As organizações buscam reduzir seus custos de produção, sem comprometer a qualidade daquilo que estão pro- duzindo, e aumentando o seu mix de produção. Sendo assim, podemos afirmar que as organizações buscam hoje em dia, diferentes formas de atender a diferentes consumidores. 12 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Desde o início do estudo da logística, por meio da análise das operações militares, o trans- porte é fundamental para na movimentação de cargas e materiais. Nos dias de hoje, damos importância também ao transporte de informações e à rapidez dos dados. Será que já che- gamos ou chegaremos, em breve, a um momento no qual o transporte de informações será mais importante que o próprio transporte de pessoas e materiais? A importância dos sistemas de transporte pode ser abordada através de diversos aspectos, dentre eles o econô- mico, o desenvolvimento do país, e o tecnológico ou inovador. Diferentes autores costumam atribuir pesos maio- res a um ou outro fator, dependendo muito da abordagem do estudo. Em nossa disciplina iremos falar de cada um deles, tendo em vista que pretendemos aqui situar nossos alunos e apresentar uma visão global da importân- cia dos sistemas de transportes. Dessa forma, na sequência vamos conhecer os principais aspectos econômicos e mercadológicos na Gestão de Transportes. 3.2 Aspectos econômicos e mercadológicos na Gestão de Transportes Ao falar sobre a importância dos sistemas de transportes de acordo com aspectos econômicos e mercadológicos, podemos observar alguns fatores como a variedade de fornecedores, a redução de custos para o comprador, a ampliação de mercado e a concorrência. Vejamos cada um deles com mais detalhes na sequência. • Variedade de fornecedores: A possibilidade de contar com fornecedores que atendam exatamente àquilo que o cliente da organização deseja, seja qual for sua prioridade, é melhor alcançada quando esta organização vislumbra a possibilidade de contar com diferentes fornecedores, de diferentes localida- des. Um exemplo interessante, neste caso, pode ser atribuído a um importante restaurante localizado na capital paulista, que no final de 2014, conseguiu acesso a uma iguaria chamada “trufa branca de Alba”, através de um fornecedor exclusivo localizado na Itália. Esta especiaria, que é utilizada nos pratos mais chiques e caros do mundo, custa em torno de três mil euros o quilo, e só pode ser transportada em reci- pientes refrigerados. Tal operação jamais seria possível se não houvesse o transporte adequado. Outro exemplo interessante é o de sites chineses que fornecem uma série de itens de diversas localidades, que dificilmente são encontrados em outros países. • Redução de custos para o comprador: O fato de existir a possibilidade de contar com diferentes forne- cedores, em diferentes localidades dentro de um mesmo país ou no mundo, possibilitam às organizações buscar o fornecedor que tenha o menor preço no momento da compra, impactando diretamente esta decisão, no custo do item a ser produzido. Podemos visualizar melhor este exemplo quando nos depara- mos, dentro de um supermercado, com diferentes tipos de azeite de oliva. Os preços são os mais diversos possíveis, e muitas vezes um azeite produzido na região onde estamos comprando pode estar com preço mais elevado que um azeite produzido em outra região do país. A utilização eficiente dos transportes é um dos fatores determinantes na composição do valor de venda, e na possibilidade daquele produto estar em outra região do país. • Ampliação de mercado: No caso da ampliação de mercado podemos observar dois pontos de vista. No primeiro partimos do exemplo anterior, porém agora a partir visão do produtor do azeite de oliva. 13 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Ao contar com sistemas de transportes cada vez mais eficientes e que atingem diferentes localidades, um produtor de um azeite de oliva no estado do Rio Grande do Sul, consegue ampliar o seu mercado e expandir o seu negócio para diferentes regiões do Brasil e também do exterior. A ampliação de mercado também nos permite analisar um negócio do ponto de vista da economia de escala, já que o fato de uma organização ampliar os mercados, acaba gerando um aumento no número de consumidores atingidos e, consequentemente, aumenta o número de produtos nos quais a organização poderá diluir seus custos de produção. Mesmo sabendo que os custos variáveis aumentarão com as quantidades a serem vendidas, os custos fixos sofrerão um impacto positivo com este aumento de produção. Outra questão importante da ampliação de mercado é vista por organizações que ampliam sua atuação, desenvolvendo plantas em outros estados ou países, em busca (no caso de estados de um mesmo país) de melhores condições tribu- tárias e isenções fiscais, ou em busca (no caso de outros países) de melhores ambientes macroeconômi- cos, estabilidade política, etc. É possível citar o exemplo de uma organização brasileira, sediada em Santa Catarina, que desde a década de 1990 passou a investir em plantas ao redor do mundo, buscando reduzir seus custos logísticos, mas também diversificar seu ambiente produtivo, pois, no caso de uma planta localizada em um país que passa por problemas econômicos não favorecer a atividade produtiva de um determinado produto, este pode ser produzido por outra planta, em outro país ou até mesmo continente. • Concorrência: A concorrência é um fenômeno que decorre do item anterior. E um fator importante da concorrência é a redução de preços para o consumidor, e um melhor atendimento às necessidades dos consumidores. A questão do preço pode ser observada no mercado automobilístico, já que com a che- gada das montadoras estrangeiras ao Brasil, principalmente as asiáticas, houve um “controle” maiordo aumento dos preços, tendo em vista a variedade de veículos de mesma categoria ofertada ao consumi- dor. A qualidade também é afetada pela concorrência, tendo em vista que com um número maior de ofertas, o cliente pode buscar aquilo que melhor atende às suas expectativas. A partir dessas situações que descrevem a importância do sistema de transportes para o setor econômico nos permite apontar para a relação existentes entre a gestão de transportes e o desenvolvimento do país. É isso que veremos no tópico a seguir. São diversas as ações que o gestor de transporte deve tomar não é mesmo? Assim, este é um ótimo momento para você visitar o Fórum Desafio e refletir com seus colegas sobre o questionamento apresentado. 3.3 Desenvolvimento do país e sua relação com a Gestão de Transportes Com relação ao desenvolvimento dos países e transportes, a percepção é de Ballou (2012), que aponta a pos- sibilidade de verificar-se através das características do sistema de transportes de um país, se trata-se de um país desenvolvido ou em desenvolvimento. Esta análise é muito importante, e permite visualizarmos com muita precisão a necessidade do desenvolvimento dos sistemas de transportes no país, tendo em vista que os países 14 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis desenvolvidos possuem uma diversificação muito significativa de modais mais eficientes, enquanto os países em desenvolvimento ainda dependem quase que exclusivamente do modal rodoviário. Um exemplo muito interessante a ser citado é a utilização de portos no Brasil e em países europeus, como a Bél- gica. A Bélgica é um país de trinta mil quilômetros quadrados e conta com dez milhões de habitantes, sendo menor que o estado do Rio de Janeiro, em tamanho e número de habitantes. No entanto, a quantidade movimentada pelo porto europeu supera a casa das duzentas milhões de toneladas ao ano, enquanto o principal porto brasileiro, o da cidade de Santos, no litoral paulista, espera chegar em 2016, à marca das cento e dezenove milhões de toneladas. Outra relação importante que podemos fazer sobre o sistema de transporte é com os aspectos tecnológicos, que apresentamos na sequência. 3.4 Aspectos tecnológicos Tendo em vista que as novas tecnologias e inovações avançam rapidamente, os sistemas de transporte acabam sendo uma importante medida do acompanhamento destes avanços. Alguns fatores podem ser abordados com exemplos interessantes para melhor visualizarmos este aspecto na importância dos sistemas de transportes, como as novas formas de compras e o comércio eletrônico. • Novas formas de comprar: Vivemos em uma era do “um toque”. Os consumidores entram em páginas e plataformas voltadas para a aquisição de produtos e serviços, e lhes é possível adquirir com apenas um toque em seu computador ou em seus smatphones. Os métodos tradicionais de compra, nos quais os con- sumidores dirigiam-se às lojas físicas e adquiriam seus bens, vêm dando lugar a formas mais diretas, com uma importância muito maior ao sistema de transporte, pois o processo de compra é feito da residência ou de qualquer lugar, dependendo do transporte o papel do fornecedor; • Comércio eletrônico: De acordo com a plataforma e-bit, nos últimos anos houve um crescimento de mais de cem por cento no comércio eletrônico. Tal crescimento acaba por nos mostrar uma tendência de negó- cio que depende exclusivamente de dois principais fatores: plataforma de compra e ótimos sistemas de transportes. Em muitas situações o consumidor possui a subjetividade em relação ao tempo de entrega, podendo, inclusive, pagar valores mais altos por entregas mais rápidas. Diante de situações como esta, é possível perceber a importância atribuída ao transporte, pelos consumidores, e, consequentemente, a importância que deve ser dispensada pelas organizações aos seus sistemas de transportes. Como podemos observar no Gráfico 1, a evolução do faturamento através do e-commerce entre os anos de 2011 e 2015, foi de mais de 220%, e estes números crescem exponencialmente, de acordo com o desenvolvimento de ferramentas de segurança e a restrição do tempo dos consumidores para se deslocarem a uma loja física, sendo que na própria rede já conseguem todas as informações sobre os produtos, de especialistas ou de outros usuários. 15 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Gráfico 1.1 - Faturamento e-commerce. Legenda: Evolução do faturamento anual através do e-commerce no Brasil entre os anos de 2011 e 2015. Fonte: e-bit 2015. Com o avanço da tecnologia, temos também diversos impactos no transporte, em especial na satisfação do con- sumidor. Vamos falar mais sobre isso no tópico a seguir. 3.5 Impacto dos transportes na satisfação do consumidor É importante ressaltarmos que, quando falamos sobre a evolução do e-commerce, algumas questões que vere- mos ao longo da nossa disciplina estarão relacionadas ao gerenciamento da cadeia logística. Como citamos ainda nesta unidade, a quantidade de processos que envolvem a cadeia logística de uma organização é muito variada, e quando esta organização é voltada para o comércio eletrônico, a precisão tanto das informações quanto da qualidade dos processos é ainda mais importante, pois o todo o negócio é executado sem a possibilidade de “negociação” com o cliente, como acontece na compra física. Uma das ferramentas de apoio às metodologias ativas que podem auxiliar sua prática é o ciclo PLAN – DO – CHECK – ACT (PDCA): Planejar, Dirigir (Fazer), Controlar e Agir. Também pode ser usada a curva ABC, que demonstra o ciclo de alguma situação em gráfico. Outra ferramenta muita utilizada é o Balanced Scorecard, que considera a saúde de uma empresa nas perspectivas financeira, interna, do cliente e do colaborador. Ao adquirir um bem através do comércio eletrônico, a expectativa é gerada, e todos os compromissos contrata- dos deverão ser cumpridos, afinal, devemos entender que uma negociação pautada em “cliques” é taxativa, ou seja, as escolhas do consumidor a partir daquilo que lhe é oferecido, neste tipo de comércio, têm dois aspectos 16 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis distintos, mas que igualmente influenciam a percepção deste consumidor: a qualidade do produto e a qualidade do processo de compra. Como podemos ver nas imagens 1.4 e 1.5, a primeira (Figura 1.4) nos mostra aquilo que o consumidor quer, um determinado produto com características que atendam suas necessidades, como cor, formato, estilo, entre outros. Já a segunda (Figura 1.5) nos mostra um centro de distribuição logística dentro de um porto, e é exatamente este processo que não agrega valor ao produto final, do ponto de vista do consumidor, mas poderá definir as próximas compras naquele fornecedor. Figura 1.4 - Produto Tênis. Legenda: Produto tênis e os fatores que definem sua qualidade para o consumidor. Fonte: By Faguo - Own work, Public Domain, <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6939737>. Figura 1.5 - Centro de distribuição logística. Legenda: A complexidade de um centro de distribuição logística e os diversos fatores que nele influenciam. Fonte: Por Andres Corral - Trabalho próprio pelo carregador, CC BY-SA 4.0, <https://commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=50576731>. A qualidade do produto é a percepção do consumidor em relação ao produto, ou o atendimento ou não das expectativas do consumidor em relação àquilo que ele esperava do produto. E nesta área nossa disciplina não poderá influenciar, pois trata-se de um aspecto influenciado por outras áreas da organização como: Marketing, Vendas, Produção e Qualidade. Podemos perceber a participação destas áreas de acordo com o Quadro 1.2 17 Gestão de Transportes | Unidade de Estudo 1 – Transporte – Funções e princípios aplicáveis Quadro 1.2 - Áreas da organização e impacto nas atividades. Área Impacto Marketing • Mostra ao consumidorque o produto atende à sua necessidade Vendas ou Comercial • Negocia com o consumidor a melhor troca a ser feita (normalmente financeira) para que a organização receba o custo do produto mais a sua margem de lucro, e o consumidor receba um bem ou serviço que atenderá à sua necessidade. Produção • É responsável pela produção do bem, de acordo com as especificações buscadas pelo cliente no momento da compra. Qualidade • É responsável pela garantia de que o consumidor receberá o bem ou serviço de acordo com a negociação executada. Legenda: O quadro apresenta a relação entre áreas da organização e o desenvolvi- mento de suas atividades que impactam no processo de compra do consumidor. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 210-211). Já a qualidade no processo de logístico, daí sim como forma de pagamento, prazo de entrega, horário de entrega, meio de transporte e valor de frete, simplesmente não pode ter falhas para garantir sua qualidade. Mas o quê isso significa? Isso significa que a atividade logística, e aí incluída a atividade de transporte, não agrega valor ao produto final, mas afeta a qualidade do processo de aquisição, que consequentemente poderá afetar a decisão do consumidor de voltar a comprar daquela organização ou naquele site. Esta questão citada anteriormente é muito fácil de visualizarmos quando pensamos, novamente, em um item como um tênis. Todos nós já compramos um tênis, e possivelmente a grande maioria já comprou um tênis pela internet. E quando fomos escolher o tênis, não constava em seus atributos nenhuma referência à rapidez na entrega ou à forma de transporte do tênis. Em poucos casos existe alguma menção à isenção do valor do frete, mas isso não vem sendo utilizado, pois o consumidor já tem conhecimento de que, se não for explicitamente cobrado, este valor estará embutido no preço de venda. Desta forma, confirmamos a ideia de que o transporte não afeta a qualidade do tênis, mas sim do processo de aquisição, e é este processo que afetará, no caso do e-commerce, o retorno do consumidor àquele site. Veremos nas próximas unidades que os modais de transporte e sua utilização dependem das prioridades de cada processo, sendo de fundamental importância o conhecimento por parte do gestor, tanto de um quanto do outro . Agora que você tem ainda mais conhecimento sobre a Gestão de Transportes, visite o Fórum Desafio e continue participando complementando suas respostas sobre o questio- namento apresentado. 18 Considerações finais Nesta unidade introdutória buscamos contextualizar nossa disciplina dentro do processo da organização e, a qual área ou departamento está ligada. Os principais pontos aprendidos nesta unidade foram: • O que é um sistema de gestão, e qual a visão atual do sistema integrado de gestão de transporte: Buscamos explicar quais os elementos que caracterizam um sistema de gestão integrado, para que o aluno consiga visualizar de forma sistêmica a impor- tância desta atividade no funcionamento e ganho de competitivi- dade da organização; • Foram apresentadas as características das atividades que inte- gram a cadeia de suprimentos de uma organização, apresentando a caracterização da atividade de transportes como uma atividade principal. Também foram explicados os aspectos de cada ativi- dade; • Após contextualizar o aluno com relação ao sistema integrado de gestão de transportes e cadeia de suprimentos, foram apresenta- dos os conceitos envolvidos através de um exemplo de movimen- tação de toda a cadeia; • Por fim foram apresentadas aos alunos as importâncias e relações entre a gestão dos transportes, o desenvolvimento econômico dos países, as novas tendências de mercado e sua relação com a gestão de transportes, e o impacto dos transportes na satisfação do consumidor. Referências bibliográficas 19 ALVARENGA, Antônio Carlos; NOVAES, Antônio Galvão. Logística apli- cada: suprimento e distribuição física. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 2010. 194 p. BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2011. 388 p. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. BANOLAS, Rogério Garcia. Mudança. BOWERSOX, Donald J. et al. Gestão Logística da Cadeia de Suprimen- tos. CAIXETA-FILHO, José Vicente; MARTINS, Ricardo Silveira (Org.). Gestão logística do transporte de cargas. São Paulo: Atlas, 2001. 296 p. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações, 7 ed. 6. reimp., Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. E-BIT. Disponível em: <www.ebit.com.br>. Acesso em: 28 dez. 2016. MENCHIK, C. A. Gestão estratégica de transport es e distribuição. Curitiba: IESDE, 2010.
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