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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 Estudo das Propriedades Hidráulicas das Misturas entre Solo e Elevados Teores de Emulsão Asfáltica Aplicadas à Barragens Carlos Gutierrez Farias Pereira Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, gutympe@hotmail.com Silvrano Adonias Dantas Neto Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, Silvrano@gmail.com Ammanda Aragão Abreu Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, ammanda02@gmail.com RESUMO: Esta pesquisa foi realizada com intuito de estudar o comportamento hidráulico de misturas entre solo e elevados teores de emulsão asfáltica cujos resultados permitem sua utilização, por exemplo, na execução em barragens. A metodologia empregada consistiu na coleta e caracterização de um solo arenoso por meio de ensaios realizados em laboratório; na compactação das misturas utilizando-se diferentes metodologias de compactação, com teores de emulsão variando entre 13% a 28%; e a realização de ensaios de permeabilidade a carga variável para a identificação das variáveis que influenciam no comportamento hidráulico das misturas estudadas. Os resultados mostraram que houve uma diminuição do coeficiente de permeabilidade das misturas solo-emulsão em relação a amostra de solo compactada e que existe uma dependência do coeficiente de permeabilidade com a massa específica aparente da mistura solo-emulsão. De forma geral, os resultados obtidos nos ensaios foram satisfatórios, pois observa-se que houve a estabilização do solo, caracterizada pela diminuição do coeficiente de permeabilidade das misturas entre solo e emulsão em relação às amostras de solo compactadas. PALAVRAS-CHAVE: barragem, solo, emulsão asfáltica, permeabilidade. 1 INTRODUÇÃO Na construção de uma barragem, geralmente enfrentam-se restrições quanto à disponibilidade de materiais adequados para sua execução, seja do ponto de vista quantitativo ou qualitativo. Tendo em vista que o material para ser utilizado em um barramento necessita apresentar condições satisfatórias de impermeabilização, resistência e deformabilidade, é cada vez mais comum o estudo da utilização de novos materiais em barragens, como por exemplo o uso de materiais betuminosos. Segundo Falcão (2003) e Guimarães (2012), estes estudos são mais direcionados à utilização do tipo CBUQ em núcleos impermeáveis de barragens zoneadas. De uma forma geral, pode-se considerar que a estabilização de materiais granulares com emulsão asfáltica é uma alternativa atrativa, pois aumenta as opções de materiais utilizáveis na execução de barragens, uma vez que utiliza equipamentos simples, proporciona a possibilidade de redução da espessura do núcleo impermeável do barramento e, por possibilitar a utilização de materiais que antes não satisfariam às condições exigidas, pode diminuir as distâncias de transporte dos materiais das jazidas. Este trabalho tem por objetivo avaliar a influência da adição de emulsão asfáltica a um solo arenoso nas propriedades hidráulicas das misturas resultantes. Pelo fato de que em estudos anteriores sobre o comportamento hidráulico das misturas entre solo e teores de emulsão de até 8% em peso, não ter sido observado um ganho significativo em termos de diminuição da XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 permeabilidade das misturas obtidas, muito em função do aumento da macroporosidade das misturas (Jacintho, 2005, 2010), neste trabalho, os teores de emulsão utilizados variam de 13% a 28%. Com isto, pretende-se verificar, se a utilização de elevados teores de emulsão asfáltica, produz uma maior homogeneidade nas misturas, e consequentemente, uma redução da permeabilidade dos solos de forma a permitir sua utilização como material de construção de barragens. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Compactação das misturas entre solo e elevados teores de emulsão asfáltica Lima (2016) e Dantas Neto et al. (2016) estudaram procedimentos de dosagem e compactação em misturas confeccionadas com um solo classificado segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS) como SP-SM (areia siltosa mal graduada) e teores de emulsão variando entre 13% e 31% em massa. A metodologia empregada por ambos os autores consistiu em misturar uma emulsão asfáltica do tipo RL-1C (ABEDA, 2010) com o solo, após o mesmo ser submetido a um processo de secagem em estufa, a 100°C, sem adição de água na emulsão e nem ao solo, que é um procedimento observado em trabalhos como Gondim (2008) e Santos (2009). Lima (2016) afirma que utilizou tal procedimento pelo fato dos ligantes asfálticos serem materiais hidrófobos, nos quais a presença da água na superfície dos grãos minerais poderia prejudicar a adesividade do asfalto residual às partículas de solo, prejudicando, assim, o processo de estabilização da mistura. A Figura 1 mostra os resultados obtidos por Dantas Neto et al. (2016) para a variação da massa específica aparente com o teor de emulsão asfáltica de misturas compactadas empregando- se a metodologia Proctor, na energia normal, e com a compactação feita imediatamente (PNI), e 24 horas (PN24) após a mistura do solo com a emulsão asfáltica. Estes resultados mostram que a massa específica aparente dos materiais compactados imediatamente após a mistura entre o solo e a emulsão asfáltica apresentaram uma maior massa específica aparente do que aquela compactada na energia Proctor normal 24 horas após a realização da mistura. Os autores atribuem isto à rigidez no filme betuminoso que envolve os grãos de solo nas misturas compactadas após a ruptura da emulsão asfáltica (PN24) em relação àquelas nas quais a ruptura não ocorreu, e o ligante ainda apresentava baixa viscosidade. Figura 1. Curvas de compactação de misturas entre solo e emulsão asfáltica compactadas na energia Proctor normal (Dantas Neto et al., 2016). Na Figura 2 são apresentados os resultados obtidos por Lima (2016) para a variação da massa específica aparente com o teor de emulsão asfáltica de misturas empregando-se diferentes metodologias de compactação – Proctor e Marshall –, e compactadas 24 horas após a mistura entre os materiais constituintes. Estes resultados mostram que o aumento da energia de compactação produz uma maior deformação do filme betuminoso que envolve os grãos de solo, possibilitando assim a sua maior compactação, expressa, pelo aumento no valor da massa específica aparente das misturas. Também é observado que em todos os casos, as misturas atingiram a massa específica aparente máxima nos mesmos teores de emulsão. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 Figura 2. Influência da energia de compactação nos valores da massa específica aparente das misturas entre o solo e elevados teores de emulsão (Lima, 2016). 2.2 Influência da adição de emulsão asfáltica na permeabildade da mistura solo-emulsão Poucos são os trabalhos que tratam do estudo das propriedades hidráulicas das misturas solo- emulsão. Dentre os trabalhos existentes, pode-se citar a contribuição de Jacintho (2010), que estudou a influência da adição de até 8%, em massa, de emulsão asfáltica do tipo RL-1C a diferentes tipos de solos na permeabilidade das misturas solo-emulsão obtidas. Jacintho (2010) obteve os seguintes valores para o coeficiente de permeabilidade dos solos compactadosna energia Proctor normal, e utilizados na confecção das misturas solo- emulsão estudadas: Solo do tipo SC: k20 = 1,8x10-5 cm/s; Solo do tipo SM: k20 = 1,2x10-6 cm/s; Solo do tipo CL: k20 = 1,2x10-7 cm/s. Na Figura 3 é apresentada a variação dos valores obtidos para o coeficiente de permeabilidade das misturas confeccionadas com o solo classificado como SM em função do teor de emulsão asfáltica adicionado. De forma geral, os resultados apresentados por Jacintho (2010) não permitem concluir qual o efeito da adição da emulsão asfáltica no coeficiente de permeabilidade do material obtido. Ora, observa-se uma diminuição da permeabilidade, ora, um aumento nos seus valores, não havendo uma tendência clara. Em alguns casos, os aumentos da permeabilidade observados são atribuídos ao aumento da macroporosidade das misturas devido ao fato de que as partículas mais finas se unem ao entrarem em contato com a emulsão asfáltica formando conglomerados no interior da mistura, e aumentando assim os seus vazios, e consequentemente, a sua permeabilidade. Figura 3. Variação do coeficiente de permeabilidade das misturas solo-emulsão confeccionadas com o solo SM em função do teor de emulsão adicionado (Jacintho, 2010). 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Amostras de solo utilizadas As amostras de solo utilizadas foram coletadas no Campus da Universidade Federal do Ceará – UFC, no sítio de coordenadas UTM 3°45’7,5”S e 38°34’21,9W (datum SIRGAS 2000), no município de Fortaleza – CE. Foram feitas um total de três coletas em períodos diferentes devido ao grande número de ensaios realizados, e misturas solo-emulsão utilizadas neste trabalho. Os ensaios de caracterização e compactação das amostras coletadas foram realizados no Laboratório de Mecânica dos solos e Pavimentação (LMSP) da UFC, de acordo com as seguintes normas técnicas: NBR 6459/1984 – Solo – Determinação do limite de liquidez (Método de Ensaio), NBR 7180/1984 – Solo – Determinação do limite de plasticidade (Método de ensaio), DNER – ME 093/94 – Solos – Determinação da densidade real, NBR 7181/1984 – Solo – Análise granulométrica (Método de ensaio), NBR 7182/1986 – Solo – Ensaio de compactação (Método de ensaio), NBR 6457/1986 – Amostras de Solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização (Método de Ensaio), e DNER – ME 107/94 – Mistura betuminosa a 1,0E-07 1,0E-06 1,0E-05 1,0E-04 0 2 4 6 8 10 k 2 0 °C ( cm /s ) Teor de emulsão (%) Sem cura Estufa Estufa e imersão Solo do tipo SM XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 frio, com emulsão asfáltica – ensaio Marshall. As Figuras 4 e 5 mostram as curvas granulométricas das amostras coletadas, e as curvas de compactação obtidas nas energias Proctor normal e modificada, respectivamente. Figura 4. Curvas de distribuição granulométrica dos solos utilizados. Figura 5. Curvas de compactação do solo. Na Tabela 1 é apresentado o resumo dos resultados obtidos nos ensaios de caracterização e compactação das amostras de solo ensaiadas. De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que o solo utilizado na confecção das misturas entre solo e emulsão asfálticas estudadas é classificado como uma SM (areia siltosa) de acordo com os critérios do SUCS. Tabela 1. Propriedades geotécnicas do solo. Parâmetros Valor Massa específica aparente seca máxima na energia Proctor Modificada (g/cm2) 1,97 Massa específica aparente seca máxima na energia Proctor Normal (g/cm2) 1,86 Limite de liquidez, em % NL Limite de plasticidade, em % NP Densidade real dos grãos 2,65 Classificação SUCS SM 3.2 Emulsão Asfáltica Nesta pesquisa para a confecção das misturas estudadas foi utilizada uma emulsão asfáltica catiônica de ruptura lenta (RL-1C), cujos resultados obtidos nos ensaios de caracterização estão mostrados na Tabela 2. Este tipo de emulsão foi escolhida para que se pudesse ter um tempo suficiente de envolvimento dos agregados durante a operação da mistura sem que haja ruptura da emulsão. Tabela 2. Resultados dos ensaios de caracterização da emulsão asfáltica. Ensaios Realizados IBP/ABNT Especificações Resultados Viscosidade Saybolt – Furol, sSF, a 50°C (MB 581/71) Máx. 70 44 Peneiração, 0,84mm, % em peso (MB 609/71) Máx. 0,10 0,01 Resíduo, % em peso (MB 6568/84) Mín. 60 63,2 3.3 Procedimentos de mistura entre o solo e a emulsão asfáltica O procedimento utilizado para a mistura entre o solo e a emulsão asfáltica foi definido por Lima (2016). O procedimento adotado consistiu em: destorroamento do solo com auxílio do almofariz e mão de gral; homogeneização da amostra; utilização do repartidor de amostras para a redução do material até que se obtenha uma amostra representativa; secagem em estufa a 100°C por um período, no mínimo, de 24 horas; resfriamento do solo à temperatura ambiente; pesagem da emulsão asfáltica na quantidade correspondente; colocação da emulsão asfáltica no solo; e mistura manual do solo com a emulsão asfáltica por aproximadamente 5 (cinco) minutos. Os teores de emulsão asfáltica utilizado neste estudo foram: 13%, 16%, 19%, 22%, 25% e 28%. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 3.4 Compactação das misturas solo-emulsão Para a realização dos ensaios de compactação no laboratório das misturas entre solo e elevados teores de emulsão foram empregados dois tipos de procedimentos, um utilizou a metodologia Proctor, baseado na NBR 7182/86 – Solo – Ensaio de compactação, nas energias normal e modificada, e o outro a metodologia Marshall, conforme a norma DNER – ME 107/94 – Mistura betuminosa a frio, com emulsão asfáltica – ensaio Marshall. Em todas as metodologias, a compactação foi realizada imediatamente, e após 24 horas da mistura entre o solo e a emulsão asfáltica, resultando num total de 5 tipos de misturas diferentes, conforme mostrado na Tabela 3. Tabela 3. Procedimentos adotados para a compactação das misturas. Metodologia de compactação Código Temperatura de compactação Condições de compactação Proctor Normal PNI aprox. 25°C Imediata Proctor Modificado PMI aprox. 25°C Imediata Proctor Modificado PM24 aprox. 25°C Após 24 horas da preparação da mistura Marshall MI aprox. 25°C Imediata Marshall M24 aprox. 25°C Após 24 horas da preparação da mistura 3.5 Ensaio de permeabilidade Os ensaios de permeabilidade foram realizados utilizando um permeâmetro de carga variável, de acordo com norma NBR 14545/2000 – Solo – Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a carga variável, para a amostra de solo e misturas entre solo e a emulsão asfáltica. Tal método de ensaio deve ser utilizado nas situações em que o material ensaiado apresenta mais de 10% de material passante na peneira nº 200, como é o caso, do solo utilizado para a confecção das misturas estudadas. Os corpos de prova das misturas entre o solo e a emulsão utilizados nos ensaios de permeabilidade foram confeccionados utilizando-se três teores de emulsão conforme os resultados dos ensaios de compactação. Foi utilizado o menor valor do teor de emulsão, o teor de emulsão correspondente à máxima massa específica aparente, e por fim, o teor de emulsão máximo dentre os considerados. Tal procedimento visa avaliar a influência do teor de emulsão no coeficiente de permeabilidade das misturas para as energiasde compactação consideradas. Os corpos de prova das misturas solo-emulsão foram moldados de forma a apresentar 9,95 cm de diâmetro e 4,95 cm de altura, compactados dinamicamente em 3 camadas, de forma a apresentar a massa específica aparente para cada teor de emulsão determinada no ensaio de compactação. Em todos os ensaios realizados, a saturação dos corpos de prova das misturas solo emulsão foi atingida promovendo o fluxo de água nas misturas por meio da aplicação de uma elevada carga hidráulica, garantida por meio da aplicação de pressão de ar comprimido às amostras dentro do permeâmetro. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Compactação das misturas estudadas Na Figura 6, ao analisar os resultados das misturas que foram compactadas com a mesma energia, porém com procedimentos diferentes, por exemplo, Marshall imediato (MI) com o Marshall após 24 horas da preparação da mistura (M24), observa-se que a massa específica aparente máxima do procedimento MI é maior do que a massa específica aparente do procedimento M24 no mesmo intervalo do teor de emulsão empregado. Isso ocorreu pelo fato de que a compactação torna-se mais difícil para a mistura após 24 horas devido à rigidez do filme betuminoso após a ruptura da emulsão asfáltica. Por esse motivo, tem-se um valor menor da massa específica aparente para o procedimento M24 em relação ao procedimento MI. Além disso, é notório que o teor ótimo da emulsão do procedimento M24 é maior do que do XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 procedimento MI pelo fato da rigidez ser maior do filme betuminoso. Figura 6. Curvas de compactação das misturas entre solo e elevados teores de emulsão com diferentes tipos de energia de compactação. Quanto às análises da curva de compactação Proctor modificado imediato (PMI) em comparação com a curva de compactação Proctor modificado após 24 horas da preparação da mistura (PM24), observa-se que o comportamento de ambas metodologias são similares aos resultados das curvas de compactação Marshall. Porém, para o procedimento PM24 tem-se uma variação bem menor da massa específica aparente em relação ao procedimento PMI, isto é explicado pelo fato de que a utilização da energia modificada do ensaio de compactação Proctor não é suficiente para deformar o filme betuminoso da mistura. Tal fenômeno já foi também observado nos trabalhos de Lima (2016) e Dantas et al. (2016). 4.2 Resultados e discussões sobre o ensaio de permeabilidade Na Figura 7, encontram-se os resultados dos ensaios de permeabilidade das misturas confeccionadas na metodologia Marshall imediato (MI), Marshall 24h após a preparação da mistura (M24) e Proctor modificado imediato (PMI). Também, é apresentado o resultado do coeficiente de permeabilidade do solo para fins comparativo, onde o mesmo foi preparado para o ensaio de permeabilidade utilizando o teor ótimo de umidade e a massa específica aparente seca do ensaio de compactação realizado com a energia modificada. Pode-se observar que o resultado do coeficiente de permeabilidade (k20) da amostra compactada utilizando o procedimento Marshall imediato (MI) é menor do que o coeficiente de permeabilidade da amostra preparada pelo procedimento Marshall 24 horas (M24). Isso pode ser explicado pelo fato de que no procedimento M24 não possua energia suficiente para diminuir os vazios da mistura ocasionado pela rigidez do filme betuminoso que envolvem os grãos na compactação. Por outro lado, no Marshall imediato o k20 é menor, pois no ato da compactação a energia é suficiente para reaproximar as partículas da mistura solo-emulsão. Desta forma, os vazios da amostra diminuem, uma vez que no procedimento MI não teve ainda tempo para a ocorrência da ruptura da emulsão asfáltica na mistura, pois somente após este tempo que forma o filme betuminoso. Também, observa-se que somente houve a estabilização, ou seja, uma diminuição do coeficiente de permeabilidade da mistura que fosse menor do que o valor do coeficiente de permeabilidade do solo para a amostra preparada pelo procedimento M24 e pelo procedimento PMI, a partir de um certo valor de teor de emulsão asfáltica. Isso pode ser explicado pelo fato da energia de compactação não ter sido forte suficiente para diminuir a deformação do solo mesmo utilizando o procedimento PMI ou isso pode ter ocorrido devido ao filme betuminoso apresentar uma rigidez muito elevada. Além disso, outro fato relevante que se pode concluir desses resultados é que amostra preparada pelo procedimento MI venha a ser mais homogênea do que o procedimento M24, pois apesar da curva de compactação do Marshall imediato (Figura 6) ter apresentado um grande gradiente na massa específica aparente, no intervalo do seu respectivo teor ótimo até 28% de emulsão asfáltica adicionada, na Figura 7 é mostrado que houve uma variação do coeficiente de permeabilidade (k20), mas não tão grande quanto ao procedimento M24. Isso foi ocasionado porque o primeiro ponto do procedimento M24 teve um valor muito alto do seu k20, chegando a ser até menor do que o k20 do próprio solo. Isso pode ter sido causado pela formação dos grumos, uma vez que os corpos de XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 prova permaneceram 24 horas à espera da compactação. Desse modo, a mistura torna-se mais heterogênea. Figura 7. Variação do coeficiente de permeabilidade (k20) em função do teor de emulsão (%). Na Figura 8 é observado que há uma grande dependência do coeficiente de permeabilidade (k20) com a massa específica aparente para os mesmos teores de emulsão utilizados. De uma forma geral, isso é devido a uma maior quantidade de material que ocupa o mesmo volume de espaço, que indica um menor volume de vazios diminuindo assim o k20. Convém ressaltar que para isso ocorrer é necessário que haja uma maior energia de compactação, como é destacado na Figura 8. Figura 8. Variação do coeficiente de permeabilidade (k20) em função da massa específica aparente. 4.3 Análises de fluxo Neste trabalho a influência da adição da emulsão asfáltica ao solo no seu comportamento hidráulico foi avaliada por meio de simulações numéricas do fluxo de uma barragem de seção homogênea, com altura de aproximadamente 10 metros, e taludes de montante e jusante com inclinações 2(H):1(V), conforme ilustrado na Figura 9. Figura 9. Geometria da barragem utilizada nas simulações numéricas de fluxo. Para a realização das simulações numéricas foi adotado para o solo de fundação da barragem um coeficiente de permeabilidade de 8 x 10-9 m/s. Os coeficientes de permeabilidade para o material constituinte do aterro compactado foram de 2 x 10-7 m/s e 2 x 10-9 m/s, para o solo e para a mistura entre o solo e a emulsão asfáltica, respectivamente, ambos obtidos a partir dos ensaios laboratoriais realizados. A mistura entre o solo e a emulsão foi aquela com teor de emulsão de 16%, e compactada após a sua confecção utilizando-se a metodologia Marshall (MI), pois foi a que apresentou maior massa específica aparente, conforme mostrado nos resultados dos ensaios de compactação. Todos os materiais foram considerados como isotrópicos, e as equações de fluxo foram resolvidas utilizando-se o Método dos Elementos Finitos pelo software Slide 7.0. As Figuras 10 e 11 mostram as vazões de percolação e as distribuições dos gradientes hidráulicos para a barragem considerandoo corpo do aterro formado pelo solo SM e pela mistura MI, respectivamente. A Tabela 4 mostra o resumo dos principais parâmetros obtidos nas análises de fluxo para as situações analisadas. Os resultados mostram que a utilização da mistura entre o solo e 16% de emulsão asfáltica (MI) levou a uma redução significativa tanto da vazão de percolação, como dos gradientes hidráulicos máximos, indicando uma melhoria do comportamento hidráulico do barramento. Tal melhoria, se dá basicamente pela grande redução provocada no coeficiente de permeabilidade da mistura MI em relação ao valor obtido para o solo SM, mostrando assim, um dos benefícios da estabilização do solo com a utilização de um elevado teor de emulsão asfáltica, se comparado aos valores utilizados em 1,00E-09 1,00E-07 1,00E-05 1,00E-03 5 15 25 35 k 2 0 (c m /s ) Teor de emulsão (%) MI M24 PMI PM-solo 13% 16% 28% 13% 22% 28% 13% 17% 28% 1,00E-09 1,00E-07 1,00E-05 1,00E-03 1,8 1,9 2 2,1 k 2 0 (c m /s ) Massa específica aparente (g/cm³) MI M24 PMI XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 trabalhos anteriores, como os de Jacintho (2005, 2010), etc. Figura 10. Distribuição dos gradientes hidráulicos na barragem considerando o material do aterro como sendo o solo SM. Figura 11. Distribuição dos gradientes hidráulicos na barragem considerando o material do aterro como sendo a mistura solo-emulsão (MI). Tabela 4. Resumo dos resultados das análises de fluxo. Parâmetro Solo SM Mistura MI Vazão (l/dia) 11,92 0,53 Gradiente máximo 0,6 0,2 5 CONCLUSÕES A partir dos resultados obtidos nos ensaios de compactação realizados com a mistura solo- emulsão, pode-se concluir que os mesmos foram similares aos resultados obtidos por Lima (2016). Desta forma, foi possível comprovar que a compactação do solo com a adição da emulsão asfáltica é mais eficiente com o emprego de energias de maior elevação, pois as mesmas são capazes de induzir deformações no filme betuminoso que envolve o grão dos solos proporcionando, assim, uma maior massa específica aparente. Ao analisar os resultados dos ensaios de permeabilidade, pode-se concluir que houve uma estabilização do material ao adicionar a emulsão asfáltica, ou seja, para todos os procedimentos realizados aconteceu uma diminuição do coeficiente de permeabilidade da mistura ao adicionar a emulsão asfáltica, mostrando que quanto maior o teor de emulsão na mistura menor é o coeficiente de permeabilidade (k20). Além disso, destaca-se que a utilização de elevados teores de emulsão asfáltica contribuiu para uma melhor distribuição do ligante na massa de solo, que por sua vez levou a uma maior homogeneidade, promovendo uma redução da permeabilidade do material em relação ao solo, e melhorando o comportamento hidráulico das barragens analisadas. AGRADECIMENTOS A empresa Asfalto Nordeste pelo apoio à pesquisa, através do fornecimento de amostras de emulsões asfálticas. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6457/1986: Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2000. ______. NBR 6459/1984: Solo – Determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984. ______. NBR 7181/1984: Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. ______. NBR 7182/86: Solo – Ensaio de Compactação. Rio de Janeiro, 1986. ______. NBR 7180/1984: Solo – Determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 1984. ______. NBR 6568/1984: Emulsão Asfáltica – Determinação do resíduo de destilação de emulsão asfáltica. Rio de Janeiro, 1984. ______. MB 581/1971: Emulsão Asfáltica – Viscosidade “Saybolt-Furol” de emulsões asfálticas. Rio de Janeiro, 1971. ______. NBR 609/1971: Emulsão Asfáltica – Determinação da peneiração de emulsões asfálticas. Rio de Janeiro, 1971. ______. NBR 14545/2000 – Solo – Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a carga variável. Rio de Janeiro, 2000. 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Congresso Brasileiro de Mecânica dos solos e Engenharia ? ? ? ? ? ?????? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ??????? ? ? ? ? ? ? ? 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 2.4013e-007 m3/s 0.1 0.2 0.2 0.6 ? ? ? ? ? ?????? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ??????? ? ? ? ? ? ? ? 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 10.61 6.1931e-009 m3/s 0.1 0.3 0.2 0.2 XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 Geotécnica (COBRAMSEG). Falcão, P. R. F. (2003). Aplicação de Misturas Betuminosas em Barragens de Terra e Enrocamento. 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