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Estudos socioculturais da educação física na Escola de Educação

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Prévia do material em texto

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. � 83
Estudos socioculturais
Claudia Maria GUEDES*
Katia RUBIO*
* Escola de Educação
Física e Esporte da
USP
Introdução
Estudos socioculturais da educação física na Escola de Educação
Física e Esporte: o que foi, o que tem sido e o que deverá ser
Por inspiração de um grande estudioso da edu-
cação e da educação física no Brasil, Fernando de
Azevedo, adaptamos a este artigo o subtítulo de sua
obra pela primeira vez publicada em 1920: “Da
Educação Física: O que ela é, o que tem sido e o
que deveria ser”.
Desde que a educação física surgiu no cenário
nacional como uma necessidade da sociedade bra-
sileira, seja na educação seja na saúde, tem-se pro-
curado compreender e organizar o seu campo do
conhecimento, o qual vem tomando forma desde
os cursos para normalistas no início do século, à
entrada na academia, com os cursos de pós-gradua-
ção na década de 70, até o grande debate dos nossos
dias sobre a conceitualização da educação física en-
quanto área acadêmica e profissão.
É importante que fique claro neste ensaio que
engrossamos um debate, que deverá ainda seguir
por muitos anos, onde tomamos a educação físi-
ca como uma disciplina acadêmica, um curso de
preparação profissional, uma disciplina no cur-
rículo formal e uma profissão. Não entendemos
nenhuma fragmentação nestes conceitos, pelo
contrário, entendemos que eles se inter-relacio-
nam, sendo distintos, porém complementares.
Enquanto disciplina acadêmica, a produção de
conhecimento em educação física ao longo do século
XX e neste início do século XXI, tem-se diversificado
e crescido abruptamente, muitas vezes não sendo
possível uma identificação clara das tantas
contribuições ao estudo do movimento humano.
Outrossim, há ainda uma resistência muito forte
para o entendimento das especificidades
metodológicas e diretrizes teóricas das subáreas que
começaram a fazer parte do cenário das investigações
científicas. Destacaremos neste ensaio a subárea
compreendida como estudos socioculturais do
movimento humano. Embora esta já se encontre
consolidada em diversos países, recebendo a devida
atenção e compreensão por parte da comunidade
acadêmica, com organizações fortes, revistas
científicas de impacto e programas de mestrado e
doutorado; no Brasil é ainda vista com um misto
de desconfiança e preconceito. Isto porque possui
metodologia distinta e perspectiva investigativa de
um fenômeno considerado do âmbito das ciências
biológicas até pouco tempo. Algumas causas desse
quadro são: a) tradicionalmente, a falta de espaço e
treinamento adequado; b) saudosamente, um
exagerado apelo ideológico e a conseqüente falta de
diálogo entre os pesquisadores e finalmente c)
conseqüentemente, uma resistência e incompreensão
das perspectivas teóricas adotadas e também falta
de rigor, por parte de outros, que adotam uma
postura permissiva e acreditam que não é preciso
critério na produção em ciências humanas. Todavia,
surgem no cenário nacional importantes pesquisas
e pesquisadores que têm se dedicado ao crescimento
da área e suas contribuições estão mostrando um
caminho para a consolidação das linhas de pesquisa
e apontando rumos mais claros sobre o que fazemos,
como fazemos e onde queremos chegar.
Na Escola de Educação Física e Esporte da
Universidade de São Paulo, em seus 70 anos, a
subárea de Estudos Socioculturais do Movimen-
to Humano marcou presença desde o primeiro
currículo, ganhou espaço para a investigação aca-
dêmica com a criação do Núcleo de Estudos
Socioculturais do Movimento Humano (NESC)
em 1985 e hoje consolida suas linhas de pesqui-
sa no atual Centro de Estudos Socioculturais do
Movimento Humano (CESMH). Na organização
deste texto intencionamos mostrar em linhas gerais o
desenvolvimento dos estudos socioculturais na
EEFEUSP, o que temos feito e o que pretendemos
para o seu pleno desenvolvimento.
84 � Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp.
GUEDES, C.M. & RUBIO, K.
O início
A subárea de estudos socioculturais começou,
efetivamente enquanto investigação acadêmica, na
Escola de Educação Física e Esporte da Universida-
de de São Paulo, com a professora Maria Alice
Navarro (in memorian) em 1985. A intenção foi
criar um espaço para pesquisas sobre as manifesta-
ções culturais do movimento humano e suas impli-
cações na sociedade. Para isto, se propôs a criação
de um “núcleo” de estudos, pois “laboratório” iden-
tificava as pesquisas que envolviam testes e criação
de situações “reais” para a coleta de dados, e esta
não era a meta e metodologia adequada aos estudos
propostos pela professora. Os primeiros trabalhos de-
senvolvidos pelo núcleo estavam relacionados com as ques-
tões pertinentes ao folclore e as manifestações do fenômeno
movimento humano nesta prática cultural.
Nesta época, a educação física passava por con-
tundentes mudanças com a criação do bachare-
lado. Assim como, havia a determinação de uma
nova estrutura curricular do Ministério da Edu-
cação, que exigia um percentual eqüitativo de
disciplinas atendendo a quatro categorias para a
formação profissional: conhecimento do ser hu-
mano (25%), conhecimento da sociedade (25%),
conhecimento filosófico (25%) e conhecimento
técnico (25%). As sugestões para as disciplinas
de “conhecimento da sociedade” e “conhecimento
filosófico” trazem para área (não só na USP, mas
nas tantas outras escolas e faculdades de Educa-
ção Física) as contribuições da Sociologia, Eco-
nomia e Administração, Antropologia e Filosofia
(História da Educação Física e Psicologia Social
já existiam na grade curricular).
Com o inesperado falecimento da Profa. Maria
Alice Navarro, o NESC deixou de cumprir o que
havia se proposto em seu projeto de criação e co-
meçou a abrigar grupos de estudos de outras
temáticas não relacionadas à área biológica. Passou
a fazer parte do NESC, o Grupo de Estudos em
Educação Física Escolar e os Grupos de Estudos em
Educação Física não Escolar, descaracterizando a
proposta inicial do núcleo, restringindo sua inten-
ção de investigação.
Apenas em 1998 o NESC retomou suas diretrizes
básicas, passando por uma reformulação interna e
adotando como estrutura cinco áreas básicas de
Estudo: Estudos Sociológicos do Movimento
Humano, Estudos Antropológicos do Movimento
Humano, Estudos Históricos do Movimento
Humano, Estudos Filosóficos do Movimento
Humano e Estudos em Psicologia Social do
Movimento Humano. Embora pareça estanque essa
estrutura proporcionou a emergência de vários de
temas de interesse que não se viam
compartimentalizados em nenhuma área,
demonstrando o caráter transdisciplinar e
interdependente não apenas dos estudos, mas das
áreas de investigação. O termo sociocultural ganhava
abrangência na Educação Física como um todo e
fincava sua base dentro da EEFEUSP. De 1998 a
2000 o NESC produziu 18 projetos de pesquisa,
que foram desde monografias de conclusão de curso
e pesquisas de iniciação científica até orientações
informais em projetos de mestrado e doutorado.
A organização do NESC sob essa estrutura tinha
como preocupação imediata afirmar a vocação dos
estudos socioculturais na Educação Física. As abor-
dagens, contudo, continuavam a seguir as
metodologias adequadas a cada uma das áreas bási-
cas de estudo ou combinar aquelas complementa-
res ao entendimento do fenômeno estudado.
Procuramos sempre uma estratégia que garantisse o
rigor metodológico necessário para o desenvolvi-
mento dos estudos. E para isso, procuramos evitar
a questão paradoxal de carregar as questões basilares
advindas das ciências mães, que mergulhando o
objeto nas questões de ordem teórico-metodológicas
da área, poderia distanciar-se, e por vezes perder-se,
os objetivos de estudo da própria educação física.
A proposta do estudo do movimento humano
a partir de uma abordagem macro social deveria
trazer para a Educação Física argumentos e
metodologias tanto das Ciências Sociais, como
da História, da Filosofia, da Sociologia, da An-
tropologia, da Psicologia e da Pedagogia, direta-
mente relacionados a questõesdo esporte e da
atividade motora ampliando para além do âmbi-
to anátomo-fisiológico a compreensão desses fe-
nômenos (GUEDES, 2000b).
Na área de estudos históricos, as contribuições
estariam voltadas para o entendimento da Educa-
ção Física enquanto disciplina acadêmica, discipli-
na curricular no ensino formal, curso de preparação
profissional e profissão sob o lema de que seria pre-
ciso entender o passado para planejar o futuro. Ou
seja, compreender a História da Educação Física,
significa explicitar seu desenvolvimento, identificar
tendências e aproximar-se da procura maior da Fi-
losofia que é a reflexão, os estudos epistemológicos
e as escolhas para os próximos passos em direção a
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. � 85
Estudos socioculturais
um futuro não tão incerto, nem casual. Além disso,
procurou-se abrir o leque de investigações caracte-
rizando também a linha de pesquisa em história da
atividade motora, evitando assim equívocos
epistemológicos na construção do conhecimento
voltado para o que fosse a área de conhecimento e a
atividade cultural.
A fundamentação teórica para o desenvolvimento
da área de Estudos históricos, vem da compreensão de
que é de uma subdisciplina e se caracteriza pela busca
da evolução do esporte, jogos e exercícios físicos na
cultura e informações do passado, sobre o movimen-
to humano e sua transformação ao longo do tempo
(GUEDES, 2000a).
A área de estudos filosóficos (complementar à in-
vestigação e reflexão de todas as outras), é compreen-
dida como a arte da contemplação, a maior parte da
eterna e sempre vibrante busca da verdade, convidaria
a comunidade da Educação Física para o
questionamento, o pensamento e a especulação como
forma de encontrar o significado de sabedoria e pro-
dução do conhecimento acadêmico (MEIER, 1991). A
Filosofia do Esporte e Atividade Motora buscaria as-
sim, projetos que investigariam as características es-
senciais tanto da atividade motora quando da Educação
Física e seus respectivos significados e valores na expe-
riência humana. Esta área de estudo abrangeria as ques-
tões historicamente universais inerentes ao
envolvimento dos seres humanos com os fenômenos
esportivos e atividade motora. Uma investigação das
perspectivas das várias orientações filosóficas contem-
porâneas, estratégias e metodologias poderiam ajudar
a compreensão da natureza, proposta, significado e
importância desses fenômenos.
Por um longo tempo a Psicologia foi tida pela
Educação Física como o estudo do comportamen-
to humano e animal, atividade de grande impor-
tância para os estudos sobre aprendizagem,
comportamento e desenvolvimento motor. Parale-
lamente a isso, dentro da própria Psicologia as dis-
cussões e pesquisas sobre seu objeto de estudo e
metodologias seguiram acaloradas, indicando que
os valores sociais apresentados no mundo contem-
porâneo, impunham uma diversidade de concep-
ções de humanidade, afirmando uma complexidade
de fenômenos psicológicos exigindo diferentes
metodologias de observação e análise desse fenô-
meno (RUBIO, 2001).
Os fenômenos psicológicos são entendidos como
processos que acontecem no mundo interno e são
construídos ao longo da vida na interação com o
meio social e o ambiente histórico. Nessa perspectiva
admite-se que tais fenômenos não são produções
do sujeito isolado de seu meio, mas de suas relações
sociais, numa constante troca com a cultura e o
momento histórico vivido (BOCK, FURTADO &
TEIXEIRA, 2000). No caminho percorrido pela
Psicologia entre as Ciências Humanas e as Ciências
Naturais foram desenvolvidas várias correntes
teóricas e campos de conhecimento tão distintos,
que é possível afirmar a existência de não uma, mas
várias psicologias. Algumas delas aproximam-se da
Educação Física e do Esporte, colaborando para os
estudos do movimento humano tanto na perspectiva
da fisiologia como do comportamento motor, mas
principalmente na perspectiva dos estudos
socioculturais, tanto no que se refere a aspectos da
subjetividade como na relação entre os indivíduos
nos contextos sociais em ações coletivas.
Por sua vez, os estudos sociológicos deveriam es-
tar voltados para as investigações relacionadas à com-
preensão da atividade motora nos mais diversos
grupos sociais. O conceito adotado vinha de
MACPHERSON e BROWN (1991), autores que defen-
diam a existência de mais significados para a práti-
ca da atividade motora e dos esportes, do que apenas
regras, técnicas, estratégias, benefícios físicos,
performance ou personalidades envolvidas. Diante
destas afirmações, assumimos que um dos caminhos
para descobrir o significado dessas ações motoras
na sociedade, seria através do conceito de sociolo-
gia da atividade motora e esporte, o qual incentiva-
ria a descrição, exposição e interpretação da estrutura
social em que as atividades motoras e esporte acon-
tecem. A interação e o comportamento social dos
grupos envolvidos, ajudariam também a identificar
o que estaria por trás das manifestações de diversas
ações humanas em sociedade. Ou seja, esta área de
estudos envolveria projetos em determinados gru-
pos sociais, buscando a compreensão de sua organi-
zação e estrutura em relação à prática de alguma
atividade motora, os sistemas de relacionamento e
interação humana dela oriundos, com relação ao
gênero, classe social e demais questões envolvendo
a pobreza, a discriminação e a desigualdade.
A área de estudos antropológicos buscou diretrizes
em projetos que pretendiam entender o ser humano
em sociedade, enquanto uma tarefa e dado inerente
para compreender como se manifestam as várias formas
de movimento corporal entre o ritmo, espaço e tempo
das tribos mais distantes às cidades mais cosmopolitas
do mundo. A partir dos estudos de PFEIFFER (1991), e
a compreensão de que a Antropologia da Atividade
Motora e do Esporte não existia como uma
86 � Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp.
GUEDES, C.M. & RUBIO, K.
O que se tem feito
subdisciplina em si, procuramos direcionar os
nossos estudos para a relação entre as estratégias
adaptativas e os valores culturais da atividade motora
em geral e para os esportes e jogos em particular,
tentando reconstruir os padrões de comportamento
de culturas anteriores e dos grupos sociais atuais.
Desta maneira, os estudos antropológicos
complementariam as pesquisas históricas e vice-versa
Para a linha de Estudos Econômicos e
Administrativos, buscávamos alcançar o interesse
acadêmico pelos temas emergenciais desde a questão
do mercado de trabalho às inovações do campo da
administração e sua diversidade na Educação Física.
A criação desta oportunidade de abertura de linhas
investigativas com base nas teorias econômicas e de
administração cobriria a enorme lacuna nos estudos
da educação física voltados à elaboração estratégica
dos currículos em atenção as oportunidades de
emprego, diversificação da atuação profissional,
demanda e oferta, entre outros.
Na atualidade o CESHM é formado por três gru-
pos de estudos e pesquisa – O Grupo de Estudos
em Psicologia Social – GEPSO, o Grupo de Estu-
dos e Pesquisa em História e Antropologia do Mo-
vimento Humano – GEPHAM e o Grupo de
Estudos em Saúde Coletiva.
O GEPSO tem por objetivo estudar e pesquisar
o movimento humano pautado no referencial da
Psicologia Social. Isso representa o pressuposto de
que cada indivíduo aprende a ser humano na rela-
ção com outros seres humanos e também quando
se apropria da realidade e da cultura criadas pelas
gerações anteriores. Como ser social, fruto e pro-
dutor de relações sociais, ele está em permanente
movimento, em constante transformação, apesar de
sua aparência estática. Os conceitos básicos de aná-
lise nesse referencial são a atividade, a consciência e
a identidade, tidos como características essenciais
dos seres humanos, que expressam seu movimento.
Privilegia-se, para tanto, metodologias que contem-
plem a especificidade e complexidade do fenôme-
no, de maneira não reducionista. Propostas como a
dos Estudos Culturais (HALL, 2003), para quema
formação discursiva é o recurso privilegiado para
captação do sentido produzido nos grupos sociais e
o conceito de cultura é seu principal articulador,
têm sido utilizadas com a finalidade de captar as
diversas nuances do objeto pesquisado.
A partir dessa perspectiva o grupo apresenta duas
linhas de pesquisa. A primeira se dedica ao estudo
da Psicologia Social do Esporte, entendendo o
esporte em diversos contextos sendo eles o esporte
de alto rendimento, o esporte escolar, as práticas de
tempo livre, os projetos sociais e a reabilitação dos
quais busca-se analisar elementos e dinâmicas de
ordem individual e/ou coletiva que atuam nesse
universo. A segunda linha de pesquisa é denominada
Imaginário esportivo. Essa vertente busca estudar e
analisar o esporte considerando-o como um dos
maiores fenômenos sociais do mundo
contemporâneo, estabelecendo-se como um campo
privilegiado de estudo e intervenção tanto pelos
aspectos relacionados à performance e ao alto
rendimento, como do ponto de vista educativo. A
amplitude dessa abrangência deve-se, em certa
medida, às várias possibilidades de uso dessa prática.
Reconhecido como uma forma elementar de
socialização até uma variedade profissional, o
esporte compõe o imaginário social, na atualidade,
sendo identificado por elementos como força,
superação de limites, vitória a qualquer preço e
supremacia enquanto valores próprios, refletindo o
modelo social vigente. Tido com um espetáculo
pelos meios de comunicação de massa, seus
protagonistas sofreram profundas transformações
em suas identidades ao longo das últimas décadas:
cidadãos anônimos, dotados de um potencial
biológico privilegiado, tornaram-se figuras míticas,
semi-deuses ou super homens, bastando para isso
uma performance surpreendente como a quebra de
um recorde ou a conquista de uma medalha.
O GEPHAM tem como objetivo desenvolver
estudos construídos epistemológica e
metodologicamente sob as diretrizes da história e
da antropologia sobre o movimento humano. A
orientação dos estudos compreende as duas
disciplinas em suas especificidades e elabora
questões que possam ser respondidas a partir da
interação disciplinar (crossdisciplinar approach). As
investigações sobre o movimento humano e suas
diversas manifestações na cultura, são abordadas em
consonância com o entendimento do contexto e
suas origens de inserção naquele determinado
grupo. Esta forma de abordar o processo cultural,
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. � 87
Estudos socioculturais
procura a produção de conhecimento em que a
interpretação é direcionada pelos dados coletados
na reconstrução do passado para o entendimento
do presente.
A partir desta orientação teórica, o GEPHAM
realiza seus projetos em duas linhas de pesquisa,
sendo a primeira “Pesquisa e Estudos da Evolução
e Características da Atividade Física em Populações
Urbanas”, na qual procuramos entender como a
população de grandes centros envolve-se em
programas de atividade física, sejam eles de iniciativa
pública ou privada; e a segunda linha “História
Cultural dos Esportes, Associações, Clubes e
Instituições de Ensino Superior em Educação
Física”, em que temos alguns projetos em
desenvolvimento no sentido de formar uma
memória nacional do desenvolvimento do esporte
e da atividade física na cidade de São Paulo.
O objetivo do desenvolvimento do CESHM é
a caracterização dos estudos socioculturais do
movimento humano. Para isso, é imprescindível
manter as bases epistemológicas que advém das
ciências sociais e suas respectivas metodologias.
O processo de aumento da produção acadêmica
retém os princípios de qualidade nos projetos em
execução, primando pela excelência. A inserção
internacional é uma meta que já está em fase de
execução, não apenas com publicações, mas com
a colaboração de grupos de universidades
estrangeiras.
Temos, por fim, que destacar que a área de
estudos socioculturais ainda carece de
compreensão pelos pares, mas também se afirma
a cada dia como imprescindível à compreensão
do fenômeno do movimento humano e suas
diversas manifestações.
Considerações finais
Embora a Educação Física tenha construído seu
edifício acadêmico alicerçado em conhecimentos
produzidos em uma perspectiva biológica (TANI,
2000) a produção com enfoque sociocultural vem
ganhando adeptos e força.
O Centro de Estudos Socioculturais do Movi-
mento Humano vem enfrentando o desafio pro-
posto de incrementar estudos e pesquisas em
Educação Física a partir da perspectiva
sociocultural. O ponto de partida para esse desa-
fio, foi dado inicialmente, com a proposição de seu
redimensionamento, a partir da compreensão das
áreas de estudo e linhas de pesquisa. Isto, conse-
qüentemente concomitante com a organização e
sistematização de informações acerca da produção
pelos pares nacionais e estrangeiros. Desta forma,
estas medidas estão ampliando o conhecimento
dessa produção a partir de artigos e ensaios em pe-
riódicos, livros e teses. O incremento da produção
acadêmica e a ampliação dos grupos de estudos com
a participação de estudantes de graduação e pós-
graduação, geram também mais envolvimento e
interesse dos alunos pela área sociocultural. O for-
talecimento dessa nova geração permite ampliação
não apenas da quantidade de trabalhos na área, mas
também de sua qualidade, conquistando com isso
o reconhecimento da comunidade acadêmica.
Que não haja dúvidas sobre a intenção e função
da organização das diversas áreas de conhecimento
no interior dos estudos socioculturais do movimento
humano. A preocupação de seus pesquisadores não
reside em formar antropólogos, sociólogos,
historiadores, filósofos ou psicólogos, mas
proporcionar uma reflexão e compreensão do
movimento humano à luz das diversas áreas das
ciências humanas que pensam e idealizam o ser
humano seja por meio do movimento ou não.
Conforme GUEDES (2000b) em qualquer uma das áreas
das Ciências Sociais, em qualquer momento, os
questionamentos produzidos em seu interior estarão vol-
tados para a compreensão da sociedade. Portanto, não
existe uma tendência em tipologizar disciplinas como An-
tropologia, Sociologia, Psicologia ou História.
É preciso considerar a necessidade de interação e
integração da perspectiva sociocultural na compre-
ensão do fenômeno do movimento humano para
que se possa, de fato, superar o conhecimento res-
trito do movimento, alcançando suas
multidimensões possibilitadas pelas pesquisas em
todo o contexto investigatório da Educação Física.
Esta área de estudos existe e se faz presente à cada
nova publicação, a cada novo projeto de pesquisa, à
cada questão levantada nas conferências acadêmi-
co-científicas. A sua compreensão é uma tarefa de
toda a área, assim como seu reconhecimento e valo-
rização. “ O movimento humano não é um evento
“per se”, ele acontece num determinado contexto,
devido a algum estímulo, tem um significado e traz
consigo marcas indeléveis da personalidade de quem
o executa” (GUEDES, 2004, no prelo, p.21).
88 � Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp.
GUEDES, C.M. & RUBIO, K.
Referências
AZEVEDO, F. Da educação physica: o que é, o que tem sido e o que deverá ser. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1920.
BOCK, A.M.B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2000.
GUEDES, C.M. A educação física e os mistérios de seu tempo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, 2000a.
______. Estudos sócio-culturais do movimento humano. Caderno Documentos, São Paulo, n.4, p.2-17, 2000b.
______. Moinhos de vento ou a energia eólia dos esforços acadêmicos na educação física brasileira. No prelo.
HALL, S. Da diáspora. Belo Horizonte/Brasília: UFMG/UNESCO, 2003.
McPHERSON, B.D.; BROWN, B.A. Physical activity and sociology. In: BOUCHARD, C.; McPHERSON, B.D.;
TAYLOR, A.W. Physical activity sciences. Champaign: Human Kinetics, 1991.
MEIER, M. Philosophy and physical activity. In: BOUCHARD, C.; McPHERSON, B.D.; TAYLOR, A.W. Physical
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PFEIFFER, S.K. Anthropology and physical activity. In: BOUCHARD, C.; McPHERSON, B.D.; TAYLOR, A.W.
Physical activity sciences. Champaign: Human Kinetics, 1991.
RUBIO, K. Psicologia e educação física: do estudos do comportamento ao compromisso social. In.: CARVALHO, Y. M.;
RUBIO, K. (Orgs.). Educação física e ciências humanas. São Paulo: Hucitec, 2001.
TANI, G. Apresentação. Caderno Documentos, São Paulo, n.4, p.1, 2000.
ENDEREÇO
Claudia Maria Guedes
Depto. Pedagogia do Movimento do Corpo Humano
Escola de Educação Física e Esporte /USP
Av. Prof. Mello Moraes, 65
05508-900 - São Paulo - SP - BRASIL

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