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Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. � 83 Estudos socioculturais Claudia Maria GUEDES* Katia RUBIO* * Escola de Educação Física e Esporte da USP Introdução Estudos socioculturais da educação física na Escola de Educação Física e Esporte: o que foi, o que tem sido e o que deverá ser Por inspiração de um grande estudioso da edu- cação e da educação física no Brasil, Fernando de Azevedo, adaptamos a este artigo o subtítulo de sua obra pela primeira vez publicada em 1920: “Da Educação Física: O que ela é, o que tem sido e o que deveria ser”. Desde que a educação física surgiu no cenário nacional como uma necessidade da sociedade bra- sileira, seja na educação seja na saúde, tem-se pro- curado compreender e organizar o seu campo do conhecimento, o qual vem tomando forma desde os cursos para normalistas no início do século, à entrada na academia, com os cursos de pós-gradua- ção na década de 70, até o grande debate dos nossos dias sobre a conceitualização da educação física en- quanto área acadêmica e profissão. É importante que fique claro neste ensaio que engrossamos um debate, que deverá ainda seguir por muitos anos, onde tomamos a educação físi- ca como uma disciplina acadêmica, um curso de preparação profissional, uma disciplina no cur- rículo formal e uma profissão. Não entendemos nenhuma fragmentação nestes conceitos, pelo contrário, entendemos que eles se inter-relacio- nam, sendo distintos, porém complementares. Enquanto disciplina acadêmica, a produção de conhecimento em educação física ao longo do século XX e neste início do século XXI, tem-se diversificado e crescido abruptamente, muitas vezes não sendo possível uma identificação clara das tantas contribuições ao estudo do movimento humano. Outrossim, há ainda uma resistência muito forte para o entendimento das especificidades metodológicas e diretrizes teóricas das subáreas que começaram a fazer parte do cenário das investigações científicas. Destacaremos neste ensaio a subárea compreendida como estudos socioculturais do movimento humano. Embora esta já se encontre consolidada em diversos países, recebendo a devida atenção e compreensão por parte da comunidade acadêmica, com organizações fortes, revistas científicas de impacto e programas de mestrado e doutorado; no Brasil é ainda vista com um misto de desconfiança e preconceito. Isto porque possui metodologia distinta e perspectiva investigativa de um fenômeno considerado do âmbito das ciências biológicas até pouco tempo. Algumas causas desse quadro são: a) tradicionalmente, a falta de espaço e treinamento adequado; b) saudosamente, um exagerado apelo ideológico e a conseqüente falta de diálogo entre os pesquisadores e finalmente c) conseqüentemente, uma resistência e incompreensão das perspectivas teóricas adotadas e também falta de rigor, por parte de outros, que adotam uma postura permissiva e acreditam que não é preciso critério na produção em ciências humanas. Todavia, surgem no cenário nacional importantes pesquisas e pesquisadores que têm se dedicado ao crescimento da área e suas contribuições estão mostrando um caminho para a consolidação das linhas de pesquisa e apontando rumos mais claros sobre o que fazemos, como fazemos e onde queremos chegar. Na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, em seus 70 anos, a subárea de Estudos Socioculturais do Movimen- to Humano marcou presença desde o primeiro currículo, ganhou espaço para a investigação aca- dêmica com a criação do Núcleo de Estudos Socioculturais do Movimento Humano (NESC) em 1985 e hoje consolida suas linhas de pesqui- sa no atual Centro de Estudos Socioculturais do Movimento Humano (CESMH). Na organização deste texto intencionamos mostrar em linhas gerais o desenvolvimento dos estudos socioculturais na EEFEUSP, o que temos feito e o que pretendemos para o seu pleno desenvolvimento. 84 � Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. GUEDES, C.M. & RUBIO, K. O início A subárea de estudos socioculturais começou, efetivamente enquanto investigação acadêmica, na Escola de Educação Física e Esporte da Universida- de de São Paulo, com a professora Maria Alice Navarro (in memorian) em 1985. A intenção foi criar um espaço para pesquisas sobre as manifesta- ções culturais do movimento humano e suas impli- cações na sociedade. Para isto, se propôs a criação de um “núcleo” de estudos, pois “laboratório” iden- tificava as pesquisas que envolviam testes e criação de situações “reais” para a coleta de dados, e esta não era a meta e metodologia adequada aos estudos propostos pela professora. Os primeiros trabalhos de- senvolvidos pelo núcleo estavam relacionados com as ques- tões pertinentes ao folclore e as manifestações do fenômeno movimento humano nesta prática cultural. Nesta época, a educação física passava por con- tundentes mudanças com a criação do bachare- lado. Assim como, havia a determinação de uma nova estrutura curricular do Ministério da Edu- cação, que exigia um percentual eqüitativo de disciplinas atendendo a quatro categorias para a formação profissional: conhecimento do ser hu- mano (25%), conhecimento da sociedade (25%), conhecimento filosófico (25%) e conhecimento técnico (25%). As sugestões para as disciplinas de “conhecimento da sociedade” e “conhecimento filosófico” trazem para área (não só na USP, mas nas tantas outras escolas e faculdades de Educa- ção Física) as contribuições da Sociologia, Eco- nomia e Administração, Antropologia e Filosofia (História da Educação Física e Psicologia Social já existiam na grade curricular). Com o inesperado falecimento da Profa. Maria Alice Navarro, o NESC deixou de cumprir o que havia se proposto em seu projeto de criação e co- meçou a abrigar grupos de estudos de outras temáticas não relacionadas à área biológica. Passou a fazer parte do NESC, o Grupo de Estudos em Educação Física Escolar e os Grupos de Estudos em Educação Física não Escolar, descaracterizando a proposta inicial do núcleo, restringindo sua inten- ção de investigação. Apenas em 1998 o NESC retomou suas diretrizes básicas, passando por uma reformulação interna e adotando como estrutura cinco áreas básicas de Estudo: Estudos Sociológicos do Movimento Humano, Estudos Antropológicos do Movimento Humano, Estudos Históricos do Movimento Humano, Estudos Filosóficos do Movimento Humano e Estudos em Psicologia Social do Movimento Humano. Embora pareça estanque essa estrutura proporcionou a emergência de vários de temas de interesse que não se viam compartimentalizados em nenhuma área, demonstrando o caráter transdisciplinar e interdependente não apenas dos estudos, mas das áreas de investigação. O termo sociocultural ganhava abrangência na Educação Física como um todo e fincava sua base dentro da EEFEUSP. De 1998 a 2000 o NESC produziu 18 projetos de pesquisa, que foram desde monografias de conclusão de curso e pesquisas de iniciação científica até orientações informais em projetos de mestrado e doutorado. A organização do NESC sob essa estrutura tinha como preocupação imediata afirmar a vocação dos estudos socioculturais na Educação Física. As abor- dagens, contudo, continuavam a seguir as metodologias adequadas a cada uma das áreas bási- cas de estudo ou combinar aquelas complementa- res ao entendimento do fenômeno estudado. Procuramos sempre uma estratégia que garantisse o rigor metodológico necessário para o desenvolvi- mento dos estudos. E para isso, procuramos evitar a questão paradoxal de carregar as questões basilares advindas das ciências mães, que mergulhando o objeto nas questões de ordem teórico-metodológicas da área, poderia distanciar-se, e por vezes perder-se, os objetivos de estudo da própria educação física. A proposta do estudo do movimento humano a partir de uma abordagem macro social deveria trazer para a Educação Física argumentos e metodologias tanto das Ciências Sociais, como da História, da Filosofia, da Sociologia, da An- tropologia, da Psicologia e da Pedagogia, direta- mente relacionados a questõesdo esporte e da atividade motora ampliando para além do âmbi- to anátomo-fisiológico a compreensão desses fe- nômenos (GUEDES, 2000b). Na área de estudos históricos, as contribuições estariam voltadas para o entendimento da Educa- ção Física enquanto disciplina acadêmica, discipli- na curricular no ensino formal, curso de preparação profissional e profissão sob o lema de que seria pre- ciso entender o passado para planejar o futuro. Ou seja, compreender a História da Educação Física, significa explicitar seu desenvolvimento, identificar tendências e aproximar-se da procura maior da Fi- losofia que é a reflexão, os estudos epistemológicos e as escolhas para os próximos passos em direção a Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. � 85 Estudos socioculturais um futuro não tão incerto, nem casual. Além disso, procurou-se abrir o leque de investigações caracte- rizando também a linha de pesquisa em história da atividade motora, evitando assim equívocos epistemológicos na construção do conhecimento voltado para o que fosse a área de conhecimento e a atividade cultural. A fundamentação teórica para o desenvolvimento da área de Estudos históricos, vem da compreensão de que é de uma subdisciplina e se caracteriza pela busca da evolução do esporte, jogos e exercícios físicos na cultura e informações do passado, sobre o movimen- to humano e sua transformação ao longo do tempo (GUEDES, 2000a). A área de estudos filosóficos (complementar à in- vestigação e reflexão de todas as outras), é compreen- dida como a arte da contemplação, a maior parte da eterna e sempre vibrante busca da verdade, convidaria a comunidade da Educação Física para o questionamento, o pensamento e a especulação como forma de encontrar o significado de sabedoria e pro- dução do conhecimento acadêmico (MEIER, 1991). A Filosofia do Esporte e Atividade Motora buscaria as- sim, projetos que investigariam as características es- senciais tanto da atividade motora quando da Educação Física e seus respectivos significados e valores na expe- riência humana. Esta área de estudo abrangeria as ques- tões historicamente universais inerentes ao envolvimento dos seres humanos com os fenômenos esportivos e atividade motora. Uma investigação das perspectivas das várias orientações filosóficas contem- porâneas, estratégias e metodologias poderiam ajudar a compreensão da natureza, proposta, significado e importância desses fenômenos. Por um longo tempo a Psicologia foi tida pela Educação Física como o estudo do comportamen- to humano e animal, atividade de grande impor- tância para os estudos sobre aprendizagem, comportamento e desenvolvimento motor. Parale- lamente a isso, dentro da própria Psicologia as dis- cussões e pesquisas sobre seu objeto de estudo e metodologias seguiram acaloradas, indicando que os valores sociais apresentados no mundo contem- porâneo, impunham uma diversidade de concep- ções de humanidade, afirmando uma complexidade de fenômenos psicológicos exigindo diferentes metodologias de observação e análise desse fenô- meno (RUBIO, 2001). Os fenômenos psicológicos são entendidos como processos que acontecem no mundo interno e são construídos ao longo da vida na interação com o meio social e o ambiente histórico. Nessa perspectiva admite-se que tais fenômenos não são produções do sujeito isolado de seu meio, mas de suas relações sociais, numa constante troca com a cultura e o momento histórico vivido (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2000). No caminho percorrido pela Psicologia entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais foram desenvolvidas várias correntes teóricas e campos de conhecimento tão distintos, que é possível afirmar a existência de não uma, mas várias psicologias. Algumas delas aproximam-se da Educação Física e do Esporte, colaborando para os estudos do movimento humano tanto na perspectiva da fisiologia como do comportamento motor, mas principalmente na perspectiva dos estudos socioculturais, tanto no que se refere a aspectos da subjetividade como na relação entre os indivíduos nos contextos sociais em ações coletivas. Por sua vez, os estudos sociológicos deveriam es- tar voltados para as investigações relacionadas à com- preensão da atividade motora nos mais diversos grupos sociais. O conceito adotado vinha de MACPHERSON e BROWN (1991), autores que defen- diam a existência de mais significados para a práti- ca da atividade motora e dos esportes, do que apenas regras, técnicas, estratégias, benefícios físicos, performance ou personalidades envolvidas. Diante destas afirmações, assumimos que um dos caminhos para descobrir o significado dessas ações motoras na sociedade, seria através do conceito de sociolo- gia da atividade motora e esporte, o qual incentiva- ria a descrição, exposição e interpretação da estrutura social em que as atividades motoras e esporte acon- tecem. A interação e o comportamento social dos grupos envolvidos, ajudariam também a identificar o que estaria por trás das manifestações de diversas ações humanas em sociedade. Ou seja, esta área de estudos envolveria projetos em determinados gru- pos sociais, buscando a compreensão de sua organi- zação e estrutura em relação à prática de alguma atividade motora, os sistemas de relacionamento e interação humana dela oriundos, com relação ao gênero, classe social e demais questões envolvendo a pobreza, a discriminação e a desigualdade. A área de estudos antropológicos buscou diretrizes em projetos que pretendiam entender o ser humano em sociedade, enquanto uma tarefa e dado inerente para compreender como se manifestam as várias formas de movimento corporal entre o ritmo, espaço e tempo das tribos mais distantes às cidades mais cosmopolitas do mundo. A partir dos estudos de PFEIFFER (1991), e a compreensão de que a Antropologia da Atividade Motora e do Esporte não existia como uma 86 � Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. GUEDES, C.M. & RUBIO, K. O que se tem feito subdisciplina em si, procuramos direcionar os nossos estudos para a relação entre as estratégias adaptativas e os valores culturais da atividade motora em geral e para os esportes e jogos em particular, tentando reconstruir os padrões de comportamento de culturas anteriores e dos grupos sociais atuais. Desta maneira, os estudos antropológicos complementariam as pesquisas históricas e vice-versa Para a linha de Estudos Econômicos e Administrativos, buscávamos alcançar o interesse acadêmico pelos temas emergenciais desde a questão do mercado de trabalho às inovações do campo da administração e sua diversidade na Educação Física. A criação desta oportunidade de abertura de linhas investigativas com base nas teorias econômicas e de administração cobriria a enorme lacuna nos estudos da educação física voltados à elaboração estratégica dos currículos em atenção as oportunidades de emprego, diversificação da atuação profissional, demanda e oferta, entre outros. Na atualidade o CESHM é formado por três gru- pos de estudos e pesquisa – O Grupo de Estudos em Psicologia Social – GEPSO, o Grupo de Estu- dos e Pesquisa em História e Antropologia do Mo- vimento Humano – GEPHAM e o Grupo de Estudos em Saúde Coletiva. O GEPSO tem por objetivo estudar e pesquisar o movimento humano pautado no referencial da Psicologia Social. Isso representa o pressuposto de que cada indivíduo aprende a ser humano na rela- ção com outros seres humanos e também quando se apropria da realidade e da cultura criadas pelas gerações anteriores. Como ser social, fruto e pro- dutor de relações sociais, ele está em permanente movimento, em constante transformação, apesar de sua aparência estática. Os conceitos básicos de aná- lise nesse referencial são a atividade, a consciência e a identidade, tidos como características essenciais dos seres humanos, que expressam seu movimento. Privilegia-se, para tanto, metodologias que contem- plem a especificidade e complexidade do fenôme- no, de maneira não reducionista. Propostas como a dos Estudos Culturais (HALL, 2003), para quema formação discursiva é o recurso privilegiado para captação do sentido produzido nos grupos sociais e o conceito de cultura é seu principal articulador, têm sido utilizadas com a finalidade de captar as diversas nuances do objeto pesquisado. A partir dessa perspectiva o grupo apresenta duas linhas de pesquisa. A primeira se dedica ao estudo da Psicologia Social do Esporte, entendendo o esporte em diversos contextos sendo eles o esporte de alto rendimento, o esporte escolar, as práticas de tempo livre, os projetos sociais e a reabilitação dos quais busca-se analisar elementos e dinâmicas de ordem individual e/ou coletiva que atuam nesse universo. A segunda linha de pesquisa é denominada Imaginário esportivo. Essa vertente busca estudar e analisar o esporte considerando-o como um dos maiores fenômenos sociais do mundo contemporâneo, estabelecendo-se como um campo privilegiado de estudo e intervenção tanto pelos aspectos relacionados à performance e ao alto rendimento, como do ponto de vista educativo. A amplitude dessa abrangência deve-se, em certa medida, às várias possibilidades de uso dessa prática. Reconhecido como uma forma elementar de socialização até uma variedade profissional, o esporte compõe o imaginário social, na atualidade, sendo identificado por elementos como força, superação de limites, vitória a qualquer preço e supremacia enquanto valores próprios, refletindo o modelo social vigente. Tido com um espetáculo pelos meios de comunicação de massa, seus protagonistas sofreram profundas transformações em suas identidades ao longo das últimas décadas: cidadãos anônimos, dotados de um potencial biológico privilegiado, tornaram-se figuras míticas, semi-deuses ou super homens, bastando para isso uma performance surpreendente como a quebra de um recorde ou a conquista de uma medalha. O GEPHAM tem como objetivo desenvolver estudos construídos epistemológica e metodologicamente sob as diretrizes da história e da antropologia sobre o movimento humano. A orientação dos estudos compreende as duas disciplinas em suas especificidades e elabora questões que possam ser respondidas a partir da interação disciplinar (crossdisciplinar approach). As investigações sobre o movimento humano e suas diversas manifestações na cultura, são abordadas em consonância com o entendimento do contexto e suas origens de inserção naquele determinado grupo. Esta forma de abordar o processo cultural, Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. � 87 Estudos socioculturais procura a produção de conhecimento em que a interpretação é direcionada pelos dados coletados na reconstrução do passado para o entendimento do presente. A partir desta orientação teórica, o GEPHAM realiza seus projetos em duas linhas de pesquisa, sendo a primeira “Pesquisa e Estudos da Evolução e Características da Atividade Física em Populações Urbanas”, na qual procuramos entender como a população de grandes centros envolve-se em programas de atividade física, sejam eles de iniciativa pública ou privada; e a segunda linha “História Cultural dos Esportes, Associações, Clubes e Instituições de Ensino Superior em Educação Física”, em que temos alguns projetos em desenvolvimento no sentido de formar uma memória nacional do desenvolvimento do esporte e da atividade física na cidade de São Paulo. O objetivo do desenvolvimento do CESHM é a caracterização dos estudos socioculturais do movimento humano. Para isso, é imprescindível manter as bases epistemológicas que advém das ciências sociais e suas respectivas metodologias. O processo de aumento da produção acadêmica retém os princípios de qualidade nos projetos em execução, primando pela excelência. A inserção internacional é uma meta que já está em fase de execução, não apenas com publicações, mas com a colaboração de grupos de universidades estrangeiras. Temos, por fim, que destacar que a área de estudos socioculturais ainda carece de compreensão pelos pares, mas também se afirma a cada dia como imprescindível à compreensão do fenômeno do movimento humano e suas diversas manifestações. Considerações finais Embora a Educação Física tenha construído seu edifício acadêmico alicerçado em conhecimentos produzidos em uma perspectiva biológica (TANI, 2000) a produção com enfoque sociocultural vem ganhando adeptos e força. O Centro de Estudos Socioculturais do Movi- mento Humano vem enfrentando o desafio pro- posto de incrementar estudos e pesquisas em Educação Física a partir da perspectiva sociocultural. O ponto de partida para esse desa- fio, foi dado inicialmente, com a proposição de seu redimensionamento, a partir da compreensão das áreas de estudo e linhas de pesquisa. Isto, conse- qüentemente concomitante com a organização e sistematização de informações acerca da produção pelos pares nacionais e estrangeiros. Desta forma, estas medidas estão ampliando o conhecimento dessa produção a partir de artigos e ensaios em pe- riódicos, livros e teses. O incremento da produção acadêmica e a ampliação dos grupos de estudos com a participação de estudantes de graduação e pós- graduação, geram também mais envolvimento e interesse dos alunos pela área sociocultural. O for- talecimento dessa nova geração permite ampliação não apenas da quantidade de trabalhos na área, mas também de sua qualidade, conquistando com isso o reconhecimento da comunidade acadêmica. Que não haja dúvidas sobre a intenção e função da organização das diversas áreas de conhecimento no interior dos estudos socioculturais do movimento humano. A preocupação de seus pesquisadores não reside em formar antropólogos, sociólogos, historiadores, filósofos ou psicólogos, mas proporcionar uma reflexão e compreensão do movimento humano à luz das diversas áreas das ciências humanas que pensam e idealizam o ser humano seja por meio do movimento ou não. Conforme GUEDES (2000b) em qualquer uma das áreas das Ciências Sociais, em qualquer momento, os questionamentos produzidos em seu interior estarão vol- tados para a compreensão da sociedade. Portanto, não existe uma tendência em tipologizar disciplinas como An- tropologia, Sociologia, Psicologia ou História. É preciso considerar a necessidade de interação e integração da perspectiva sociocultural na compre- ensão do fenômeno do movimento humano para que se possa, de fato, superar o conhecimento res- trito do movimento, alcançando suas multidimensões possibilitadas pelas pesquisas em todo o contexto investigatório da Educação Física. Esta área de estudos existe e se faz presente à cada nova publicação, a cada novo projeto de pesquisa, à cada questão levantada nas conferências acadêmi- co-científicas. A sua compreensão é uma tarefa de toda a área, assim como seu reconhecimento e valo- rização. “ O movimento humano não é um evento “per se”, ele acontece num determinado contexto, devido a algum estímulo, tem um significado e traz consigo marcas indeléveis da personalidade de quem o executa” (GUEDES, 2004, no prelo, p.21). 88 � Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, p.83-88, ago. 2004. N.esp. GUEDES, C.M. & RUBIO, K. Referências AZEVEDO, F. Da educação physica: o que é, o que tem sido e o que deverá ser. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1920. BOCK, A.M.B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2000. GUEDES, C.M. A educação física e os mistérios de seu tempo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, 2000a. ______. Estudos sócio-culturais do movimento humano. Caderno Documentos, São Paulo, n.4, p.2-17, 2000b. ______. Moinhos de vento ou a energia eólia dos esforços acadêmicos na educação física brasileira. No prelo. HALL, S. Da diáspora. Belo Horizonte/Brasília: UFMG/UNESCO, 2003. McPHERSON, B.D.; BROWN, B.A. Physical activity and sociology. In: BOUCHARD, C.; McPHERSON, B.D.; TAYLOR, A.W. Physical activity sciences. Champaign: Human Kinetics, 1991. MEIER, M. Philosophy and physical activity. In: BOUCHARD, C.; McPHERSON, B.D.; TAYLOR, A.W. Physical activity sciences. Champaign:Human Kinetics, 1991. PFEIFFER, S.K. 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