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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO ANA MARIA SOARES MAIA A ANSIEDADE DO CANDIDATO À RENOVAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO FRENTE Á AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA CIDADE DE FORTALEZA MACEIÓ - AL 2014 UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO ANA MARIA SOARES MAIA A ANSIEDADE DO CANDIDATO À RENOVAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO FRENTE Á AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA CIDADE DE FORTALEZA Monografia Apresentada a Universidade Paulista/UNIP, Como Parte dos Requisitos Necessários Para A Conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” Em Psicologia do Trânsito. Orientador: MACEIÓ - AL 2014 ANA MARIA SOARES MAIA A ANSIEDADE DO CANDIDATO À RENOVAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO FRENTE Á AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA CIDADE DE FORTALEZA Monografia Apresentada a Universidade Paulista/UNIP, Como Parte dos Requisitos Necessários Para A Conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” Em Psicologia do Trânsito. APROVADO EM ____/____/____ ____________________________________ ORIENTADOR: ____________________________________ BANCA EXAMINADORA ____________________________________ BANCA EXAMINADORA DEDICATÓRIA À Deus, pelo dom da minha vida. AGRADECIMENTOS A Deus por se fazer presente durante toda a minha caminhada. Ao meu pai, por seu apoio e amor incondicional. À minha mãe, viva em meu coração. Ao meu marido, meu grande amor e porto seguro. À minha filha, pelo sorriso que transforma meu dia. À minha sogra, pelo exemplo de dedicação à Psicologia. Aos meus familiares, professores, amigos de profissão, amigos de infância, obrigada por acreditarem nos meus sonhos. ”Foi o tempo que dedicastes à tua rosa que a fez tão importante” Antoine de Saint-Exupéry. RESUMO A sociedade moderna, principalmente os moradores das áreas urbanas, vive sob pressão dos diversos compromissos e também das complicações impostas pela malha urbana. A ansiedade é um dos fatores psicológicos que são diagnosticados diante dessa realidade e, por vezes, pode se tornar determinante na tomada de decisão diante do trânsito. Nesse contexto, esse trabalho objetiva-se a avaliar a ansiedade e conhecimento sobre os testes de Avaliação Psicológica (AP), aplicados pelo DETRAN, dos condutores candidatos a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na cidade de Fortaleza. O instrumento de coleta de dados foi um questionário composto por cinco perguntas, sobre a ansiedade do candidato perante a Avaliação Psicológica, e também sobre o conhecimento dos mesmos com relação a esse instrumento. Os resultados apontam que os candidatos, em sua maioria, não se consideram pessoas ansiosas (60%), mas diante dessa situação, 37% afirmaram apresentarem medo, 23% inquietação, 17% inibição e impulsividade, cada, e 7% insegurança, como sintomas psicológicos de ansiedade. Todos os candidatos afirmaram considerar a AP importante para o processo de renovação da CNH, mesmo que, 57% desses entrevistados não possuam nenhum conhecimento sobre os testes aplicados pelo DETRAN, e também que 67% não temam ser reprovados nesse processo. Chegamos à conclusão de que a maioria dos entrevistados não se considera ansiosos diante do processo de renovação da CNH, e também desconhecem a importância da AP, todavia, consideram importante o instrumento para renovação da CNH. Recomendamos que novos trabalhos sejam realizados nessa linha de pesquisa para que se possa avaliar o nível de conhecimento da população sobre a importância da AP para o trânsito. É importante que também sejam desenvolvidas campanhas educativas de educação para o trânsito no intuito de melhorar as informações nesse âmbito. Palavras-chave: Ansiedade, Avaliação Psicológica, Carteira Nacional de Habilitação, Trânsito ABSTRACT Modern society, especially urban residents, lives under pressure from various commitments and also the complications imposed by the urban fabric. Anxiety is one of the psychological factors that are diagnosed before this reality and sometimes can become decisive in decision making on the go. In this context, this study aims to assess the knowledge and anxiety about tests of Psychological Assessment (PA), applied by the DETRAN, candidate drivers renewal of Driver's License (DL) in the city of Fortaleza. The data collection instrument was a questionnaire consisting of five questions about the candidate's anxiety before the Psychological Assessment, and also on a knowledge of them regarding this instrument. The results show that candidates, mostly, do not consider themselves anxious people (60%), but in this situation, 37% reported experiencing fear, anxiety 23%, 17% inhibition and impulsivity, each, and 7% insecurity, as psychological symptoms of anxiety. All candidates said they consider important to the process of renewal of DL PA, even though 57% of those surveyed do not have any knowledge about the tests applied by the DETRAN, and also 67% fear not being deprecated in this process. We concluded that the majority of respondents did not consider themselves anxious before the renewal process of DL, and also unaware of the importance of the AP, however, important to consider the instrument to renew the DL. We recommend that further work be done in this line of research to be able to assess the level of knowledge of the population about the importance of PA for transit. It is also important that educational campaigns for traffic education in order to improve the information in this framework are developed. Keyword: Anxiety, Psychological Assessment, Driver's License, Traffic LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 Nível de escolaridade dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH......................................................................31 Gráfico 2 Profissão dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH..............................................................................................32 Gráfico 3 Estado civil dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH..............................................................................................32 Gráfico 4 Faixa etária dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH..............................................................................................33 Gráfico 5 Tempo de CNH dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH..............................................................................................34 Gráfico 6 Categoria da CNH dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH................................................................................................35 Gráfico 7 Opinião dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH, a sua ansiedade...............................................................................35 Gráfico 8 Sintomas psicológicos apresentados pelos entrevistados diante da ansiedade...............................................................................37 Gráfico 9 Conhecimento dos entrevistados sobre os testes psicológicos aplicados pelo Detran................................................................38 Gráfico 10 Resposta dos entrevistados a temer a reprovação na Avaliação Psicológica....................................................................................38 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................112. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................13 2.1 A Psicologia no contexto do Trânsito.....................................................13 2.2 O Trânsito...................................................................................................15 2.3 A Psicologia do Trânsito e o Exame Psicológico...................................16 2.4 Agressividade no Trânsito........................................................................20 2.5 O Trânsito em Fortaleza............................................................................25 2.6 A ansiedade na avaliação psicológica do trânsito.................................25 3. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................29 3.1Ética.............................................................................................................29 3.2Tipo de Pesquisa........................................................................................29 3.3Universo.......................................................................................................29 3.4 Sujeitos e Amostra....................................................................................30 3.5 Instrumento de Coleta de Dados..............................................................30 3.6 Procedimentos para Coleta de Dados.....................................................30 3.7 Procedimentos para Análise dos Dados.................................................30 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................31 5. CONCLUSÃO................................................................................................39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................40 ANEXO..............................................................................................................43 APENDICE........................................................................................................44 11 1. INTRODUÇÃO Nossa sociedade é predominantemente urbana, mais da metade da população do mundo vive em uma metrópole e, em 2050, é muito provável que esse contingente chegue a dois terços (LINDENBERG, 2014). Estudos indicam que memória e a atenção podem ser prejudicadas por ambientes urbanos. Pessoas que moram em metrópoles têm maior propensão a sofrer de ansiedade e depressão; o risco de desenvolver esquizofrenia também aumenta consideravelmente. Pesquisas apontam que a probabilidade de desenvolver algum transtorno emocional grave é de duas a três vezes maior em crianças nascidas em ambiente urbano do que em parentes que vivem no interior ou em regiões mais periféricas (LINDENBERG, 2014). O trânsito nas áreas urbanas é bastante complexo e expõe os seus protagonistas a níveis elevados de estresse, que por vezes causam alterações comportamentais desses. Na vivência das situações geradas pelo ato de transitar é despertado um determinado nível de ansiedade nos indivíduos, que varia de acordo com cada um, em virtude de um sentimento de perigo despertado pelas circunstâncias da via, do veículo ou do homem (VIECILI, 2003). A Avaliação Psicológica é um instrumento que busca identificar distúrbios comportamentais visando diminuir a violência do trânsito através da correção do problema ou não concessão da CNH ou renovação do condutor. Diversas pesquisas comprovam que há um desconhecimento dos testes utilizados pelos órgãos competentes em avaliar os fatores psicológicos dos condutores pela população geral, condutores ou não. No entanto, na literatura não são encontrados estudos suficientes que relacionem a ansiedade com o processo para obtenção ou renovação da CNH. Esta pesquisa mediu a ansiedade do candidato momentos antes do mesmo se submeter à avaliação psicológica para fins de renovação da CNH. Também foi avaliado o conhecimento dos candidatos à renovação da CNH com relação aos testes psicológicos impostos pelo DETRAN no intuito de identificar distúrbios comportamentais nos condutores ou candidatos à primeira habilitação. 12 Adotou-se como metodologia de pesquisa a revisão de literatura, concretizada por meio de leitura de livros, artigos, periódicos, textos e apostilas sobre o tema. Também foi realizada, como forma de enriquecer o referencial teórico, uma pesquisa de campo com aplicação de questionário junto a uma população de motoristas, com o propósito de identificar características de ansiedade. 13 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A Psicologia no contexto do Trânsito O presente trabalho propõe-se abordar a ansiedade frente à avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) como forma de preencher uma lacuna de conhecimentos existente na área e assim contribuir para a construção de um trânsito mais humano e seguro. Para tal, faz-se necessário situar o momento em que a psicologia foi aplicada ao estudo dos transportes terrestres, tendo sido inicialmente empregada nas ferrovias e, posteriormente, à circulação sobre rodas em meados do século XX, mais precisamente na década de 1920. Nesse período, se deu a gestação da Psicologia científica no Brasil e foram criadas as condições iniciais para o desenvolvimento da mesma como ciência e profissão. A evolução da psicologia do trânsito no Brasil pode ser compreendida em quatro grandes etapas sendo elas: o período das primeiras aplicações de técnicas de exame psicológico até a regulamentação da psicologia como profissão, a consolidação da Psicologia do Trânsito como disciplina científica, o desenvolvimento da psicologia do trânsito em vários âmbitos como também sua presença marcante no meio interdisciplinar e a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503, de 23/09/97) que proporcionou uma maior sensibilização da sociedade e dos próprios psicólogos do trânsito na discussão sobre políticas públicas de saúde, educação e segurança relacionadas à circulação humana. Vale ressaltar nesse contexto o setor de transportes como origem do campo de atuação da psicologia do trânsito, sendo esse um dos primeiros setores do mundo social do trabalho em que houve a aplicação da Psicologia, realizada ainda por profissionais não especializados, mas precursores neste tipo de empreendimento onde se pode destacar a figura do engenheiro Roberto Mange na seleção e orientação de ferroviários, em São Paulo, que se constituiu num marco potencial ao desenvolvimento da Psicologia do Trânsito. 14 O ano de 1962 marcou a história da psicologia do trânsito, pois a partir desse momento uma lei federal tornou obrigatória a realização de exame psicotécnico por todas as pessoas que requisitassem a carteira de motorista. Desde então, a avaliação psicológica no contexto do trânsito tem sido o centro de várias discussões que visam estudar os procedimentos e instrumentos que vêm sendo empregados para avaliação de candidatos à carteira de habilitação. Desde seu início, o processo de avaliação psicológica para o trânsito foi designado "Exame psicotécnico", entretanto, a partir da publicação do novo Código Brasileiro de Trânsito de 1998, a expressão foi substituída por "Avaliação psicológica pericial". De acordo com a resolução CONTRAN nº 168/2004, a avaliação psicológica é sempre uma exigência: na obtenção da CNH, na renovação da mesma, caso o condutor exerça serviço remunerado de transporte de pessoas ou bens, na substituição do documento de habilitação obtido em país estrangeiro; ou, ainda, por exigência do perito examinador. A partir de então, importantes mudanças ocorreram em relação à capacitação do profissional para trabalhar na área. Entre elas destaca-se o fato de as avaliações passarem a ser realizadas somente por psicólogos que possuíssem curso de capacitação específicopara a função de perito examinador de trânsito com carga horária mínima de 120 horas/aula. Essas mudanças têm feito com que essa área venha se firmando, cada vez mais, como uma especialização da psicologia. O DETRAN é parte integrante do Sistema Nacional de Trânsito e foi criado em 21 de setembro de 1966 pelo Decreto-lei 5.108 que instituiu o segundo Código Nacional de Trânsito. Em 23 de fevereiro de 1967, aquele decreto foi alterado pelo Decreto-lei nº 237, sendo efetivamente regulamentado em 16 de janeiro de 1968, por meio do Decreto-lei 62.127. Devido essa nova organização do sistema de trânsito, cada estado brasileiro procedeu à criação do seu DETRAN, seja pela estruturação do serviço que anteriormente não existia, seja pela reestruturação do serviço administrativo de trânsito existente (segue algumas denominações antigas dos serviços de trânsito dos estados: Diretoria do Serviço de Trânsito em São Paulo, Serviço de Trânsito no Rio de Janeiro, Departamento do Serviço de Trânsito no Paraná, Serviço Estadual de 15 Trânsito em Belo Horizonte). Esta modificação ocorreu na maioria dos estados nas décadas de 1960 e 1970. De acordo com aquela regulamentação, os Departamentos de Trânsito deveriam dispor de uma série de serviços a fim de realizar suas atribuições, dentre eles o serviço médico e psicotécnico. Esta exigência reconheceu a importância dos fatores psicológicos na segurança viária, principalmente para serem avaliados no processo de habilitação; além do mais, ampliou o mercado de trabalho para o psicólogo, cuja profissão havia sido regulamentada em 1964. Os Departamentos de Trânsito (DETRANs) assumiram, e ainda assumem, um importante papel na institucionalização e expansão da psicologia brasileira enquanto profissão, ao abrir espaço para o trabalho dos psicólogos e, mais recentemente, por meio do credenciamento de profissionais e clínicas de psicologia terceirizadas, devido ao aumento da demanda pela carteira de habilitação. Em função disso, poucos estados possuem atualmente apenas uma clínica conveniada (p.ex., Rio Grande do Norte e Ceará) e/ou os próprios psicólogos dos DETRANs realizam a avaliação psicológica. É importante ressaltar que o século XXI apresenta-se como um período onde se faz urgente a construção de novas referências e pesquisas cientificamente comprometidas para que a psicologia possa progredir nas questões relativas à circulação humana. 2.2 O Trânsito A psicologia do trânsito é uma "área da psicologia que investiga os comportamentos humanos no trânsito, os fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam e o alteram" (Conselho Federal de Psicologia, 2000, p. 10). Ferreira (1986) compreende trânsito como “movimento, circulação, afluência de pessoas ou de veículos; tráfego” (p.1702). De acordo com Rozestraten (1988), o sistema de trânsito funciona por uma série bastante extensa de normas e construções e é composto de vários subsistemas, dentre 16 os quais se destaca: o homem, a via e o veículo. O homem é o sistema mais complexo e, portanto, tem maior chance de desorganizar o sistema como um todo. Plonka (2000) aponta o trânsito como um sistema muito abrangente para ser trabalhado de forma tão restrita e com atuações superficiais. O tema deve ser aprofundado não somente por psicólogos atuantes na área do trânsito, mas por todos os psicólogos, levando-se em consideração que essa área se relaciona com diversas outras da psicologia como a área clínica, a área organizacional, a área social/comunitária e a área escolar. 2.3 A Psicologia do Trânsito e o Exame Psicológico Rozestraten (1988) afirma que a metodologia usada no estudo da psicologia do trânsito é científica à medida que procura descobrir relações existentes entre estímulos e comportamentos. O autor indica que a obtenção do grau de veracidade científica depende principalmente de três fatores: o grau de controle que se tem sobre os estímulos; a relação que o estímulo tem com a realidade do trânsito e o tamanho da amostra e sua adequação em relação ao problema estudado. Segundo o autor, o acidente pode ser visto como o mote para o estudo da psicologia do trânsito. O comportamento humano é o principal propiciador dos acidentes de trânsito, por isso, convém estudar as causas de seu mau funcionamento e quais as ações que podem levar a um desajustamento do sistema homem-veículo-via, como a ansiedade por exemplo. Alchiere (1999) cita que o exame psicológico no trânsito para obtenção de carteira de motorista sempre foi obrigatório e, para a maioria das pessoas, esse exame é sinônimo de psicotécnico. O autor esclarece que o primeiro registro de obrigatoriedade nos exames psicológicos foi na avaliação para o ingresso nas forças armadas de oficiais alemães, em 1927. De acordo com o autor supracitado, há uma diferença entre exame psicotécnico e avaliação psicológica. O primeiro traz uma definição de “uma forma de avaliação psicológica obrigatória, presente nas seleções de pessoal, 17 nos concursos públicos e nos exames psicológicos para obtenção da CNH”. Por sua vez, a avaliação psicológica é definida por Alchiere (1999) como sendo “associada ao trabalho clínico e diagnóstico limitada na grande maioria dos casos numa atividade individual” (p. 208). O termo psicotécnico tende a ser substituído por avaliação psicológica. Campos (1951) assinala que na história da psicologia há tentativas de atenuar os acidentes de trânsito com o emprego da seleção por meio de testes psicológicos. A primeira experiência nesse intuito foi realizada em 1912 pelo alemão Hugo Munsterberg, radicado nos Estados Unidos. Paulatinamente, os métodos de seleção foram aperfeiçoados por Tramm na Alemanha, Lahy na França, Mira na Espanha e Viteles nos Estados Unidos. É importante, entretanto atentar para o que assevera Hantower (1986) quando afirma que “nem todos os motoristas que se envolvem em acidentes com falhas humanas apresentam traços que podem ser detectados em testes psicológicos” (p.26). A autora comenta que a avaliação psicológica só é capaz de localizar pessoas claramente inaptas para dirigir, pois os testes não permitem avaliações precisas e só podem eliminar (temporariamente) candidatos no extremo da curva de aptidão. Torna-se, portanto, indispensável refletir acerca das condições em que os testes têm sido aplicados atualmente nos mais diversos espaços onde se fazem presentes. Alves (1999) menciona a má qualidade dos exames realizados, em que os testes não são aplicados em condições ambientais favoráveis, os aplicadores não são psicólogos ou estagiários de psicologia e há erros na aplicação dos mesmos. Weschler (1999) afirma: Infelizmente, muitos psicólogos responsabilizam à situação econômica do país ao se submeterem a condições pouco éticas na prática do exame psicotécnico. Vários exemplos podem ser dados destas condições, como o uso de instrumentos fotocopiados ou deteriorados, ambientes e mobiliários inadequados para uma avaliação psicológica etc. Mais grave ainda é quando o psicólogo aceita a situação de delegar a tarefa da avaliação psicológica para outra pessoa que não possua a formação em psicologia, o que desvaloriza totalmente a prática da profissão e traz danos irremediáveis para a vida do indivíduo avaliado”. (Weschler, 1999, p. 231 e 232) 18 A mesma opinião é compartilhada por Hatakka (2003) quando aponta a existência de incertezas acerca dos ganhos em segurança, garantia de qualidade e quanto à efetividade e validade de tal atividade psicológica, já que uma das dificuldades da área diz respeito aos poucos estudos que são realizados, principalmente no que se refere aos instrumentos psicológicos utilizados no contexto do trânsito, não específicos para esse fim. Santos (2011) aponta, com respeito à avaliação psicológica, as váriascríticas referentes à forma como podem ser realizadas, minimizando ou até desconsiderando o impacto que causam nas pessoas a ela submetidas, sendo essa ideia de incerteza associada a falta de controlabilidade vinculadas à avaliação psicológica no trânsito uma razão para o aumento da ansiedade dos candidatos ao se submeterem à mesma. Apesar de os instrumentos utilizados para a avaliação pericial terem recebido um parecer favorável do CFP, determinado pela Resolução no 025/2001, esse fato isolado não é suficiente para garantir que esses instrumentos tenham validade para o contexto específico do trânsito, conforme enfatiza Wechsler (2001) ao afirmar que testes psicológicos têm sido utilizados na área de seleção de motoristas, mas não têm caminhado junto à pesquisa e produção de material para esse uso. A dificuldade em realizar essa avaliação de forma confiável ocorre, segundo Rozestraten (2000), em parte pelo fato de que o psicólogo de trânsito é considerado muitas vezes como mero aplicador de testes, enquanto deveria, pelo menos, questionar a fidedignidade e validade desses instrumentos em relação ao motorista. Sampaio e Nakano (2011) consideram como princípio o fato de que conduzir um veículo não é um direito do cidadão, mas uma concessão, que pode ser feita desde que ele atenda a diversos critérios, como ter condições físicas e características psicológicas adequadas às categorias da Carteira Nacional de Habilitação (conforme a complexidade e o tipo de veículo), conhecer as leis de trânsito e ter noções de mecânica e domínio veicular (Governo Federal, 1998). Nesse contexto, as investigações dos fenômenos psicológicos, ou seja, tanto das capacidades gerais como das específicas do indivíduo, são de suma importância, pois facilitam indicadores que auxiliam o processo de tomada de decisões em relação às condições que determinam se o sujeito encontra-se apto ou inapto para dirigir naquele dado momento. 19 Considerando esse fato, uma dificuldade observada pelos profissionais que utilizam a avaliação psicológica no trânsito refere-se à falta de critérios para considerar um candidato apto, inapto ou mesmo temporariamente inapto (LAMOUNIER; RUEDA, 2005). Tal situação deriva da inexistência de um perfil claramente definido para a função do motorista. Gerhard (2003) corrobora essa percepção afirmando que, se existisse um perfil definido que apontasse a propensão a acidentes, "deveríamos ser capazes de responder a uma simples questão: quais seriam as características peculiares dos motoristas propensos a acidentes?". Contudo, esse questionamento, até o momento, continua sem resposta. Nesse sentido, Risser (2003) salienta que o caminho de validação desse processo passaria pela definição de como os motoristas deveriam se comportar (imaginar algo como um "perfil", semelhante ao "perfil profissional" produzido na psicologia do trabalho), verificando posteriormente se as pessoas testadas se comportam de acordo com esse perfil e se esse comportamento é eficiente em relação aos acidentes (de forma que as pessoas com resultados satisfatórios nos testes deveriam ter bom êxito em relação a não se envolver em acidentes). Risser (2003) ainda coloca uma questão, para ele difícil de responder: "um bom desempenho no diagnóstico e seleção de motoristas teoricamente aumenta a segurança no trânsito e um desempenho ruim tem influência negativa sobre a segurança no trânsito?". Seguindo o mesmo raciocínio, Aberg (2003) ainda discute se seria possível identificar pessoas perigosas com base nas informações obtidas por testes e, supondo que isso seja possível, questiona se essa informação pode ser usada para ações preventivas em nível individual. Duarte (2011) propõe, nesse caso, pesquisar o perfil psicológico de condutores que cometem muitas infrações, ou que se envolvem sistematicamente em acidentes, e contrastá-lo com o perfil dos motoristas cujo comportamento no trânsito pode ser considerado exemplar. Ao pesquisarem variáveis de personalidade relacionadas a acidentes de trânsito, como mudanças de vida, subjetividade, estresse físico, agressão, ansiedade e abuso de álcool, Selzer e Vinokur (1974) concluíram que o único fator de correlação altamente significativo foi a agressão, embora tenham identificado outros fatores, tais como mudanças de vida e estresse, com correlações também significativas. “Para autores de orientação psicanalítica, o 20 automóvel é um instrumento autodestruidor ideal, sobretudo para os indivíduos que pretendem camuflar sua motivação suicida” (Dotta, 1998, p.83). Quando um motorista dirige seu veículo em velocidade acima do permitido, está cometendo uma infração considerada gravíssima e que o torna suscetível a sofrer algum tipo de acidente. Esse motorista geralmente está consciente dos riscos que corre, mas, provavelmente, não está consciente dos motivos inconscientes, que o levam a correr esse risco. 2.4 Agressividade no Trânsito Minicucci (s.a) aponta que a agressividade, sob um olhar psicanalítico, apresenta elementos inconscientes que envolvem sentimento de autopunição e que podem, como fator de personalidade, predispor a pessoa a acidentes. Nesse sentido, o desejo de destruir um carro pode representar o próprio desejo de destruir-se. Daí a relevância de se pensar acerca dos critérios utilizados na escolha dos testes que serão aplicados nos candidatos à carteira de habilitação. Duarte (2011) instiga a inquietação que ronda essa problemática questionando: serão os testes psicológicos atualmente utilizados sensíveis suficientes para detectar essas condutas? São eficazes e eficientes esses instrumentos psicológicos aplicados para avaliação psicológica na obtenção da Carteira Nacional de Habilitação? Ou são essas exigências meras formalidades? Silva (2008) apresenta a resolução CONTRAN Nº 267, de 15 de fevereiro de 2008, que revogou a resolução nº 080/94 e que indica seis processos psíquicos que devem ser aferidos por métodos e técnicas psicológicas, a saber: tomada de informação, processamento de informação, tomada de decisão, comportamento, auto avaliação do comportamento e traços de personalidade. Podem ser utilizadas técnicas e instrumentos, tais como entrevistas diretas e individuais, testes psicológicos, dinâmicas de grupo, escuta e intervenções verbais. Ao final do processo, o candidato poderá ser considerado apto, quando apresentar desempenho condizente para a condução de veículo automotor, inapto temporário, quando não apresentar 21 desempenho condizente para a condução de veículo automotor, porém, passível de adequação, ou, ainda, inapto, quando não apresentar desempenho condizente para a condução de veículo automotor. A referida resolução ressalta ainda que todos os documentos utilizados na avaliação psicológica deverão ser arquivados conforme determinação do CFP. Esse autor aponta que o impacto dessa resolução pode ser observado, por exemplo, em algumas mudanças na nomenclatura dos processos psíquicos avaliados, no aumento da carga horária do curso de Capacitação para Psicólogo Perito Examinador de Trânsito, nos requisitos necessários ao credenciamento junto aos DETRANS e, também, na expressão do resultado da avaliação psicológica. Em uma tentativa de solucionar a dificuldade da inexistência de um perfil descritor do motorista, o Conselho Federal de Psicologia (2000, p. 3), com a Resolução CFP no 012/2000, realizou uma tentativa de sistematização mais objetiva das características do condutor que é submetido à avaliação pericial, embora reconhecendo "a impossibilidade de estabelecer um perfil diferenciado para condutores amadores e profissionais, o que será objeto de investigações futuras". Nessa resolução, ficou determinado que o perfil psicológico do candidato à CNH e do condutor de veículos automotores deve considerar: nível intelectual capazde analisar, sintetizar e estabelecer julgamento diante de situações problemáticas (somente para as categorias C, D e E), nível de atenção capaz de discriminar estímulos e situações adequados para a execução das atividades relacionadas à condução de veículos, nível psicomotor capaz de satisfazer as condições práticas de coordenação entre as funções psicológicas e audiovisiomotoras, personalidade, respeitando as características de adequação exigidas por cada categoria e nível psicofísico, considerando a possibilidade de adaptação dos veículos automotores para os deficientes físicos. Nota-se que a resolução citada não determina quais seriam esses "níveis capazes" e não faz menção aos pontos de corte que deveriam ser adotados (SAMPAIO; NAKANO, 2011). Christ (2003) apoia que os padrões de desempenho estabelecidos devem se ajustar de acordo com a atividade que o motorista irá realizar: dirigir sem passageiros exige menos do que dirigir um ônibus de transporte coletivo, de modo que atender a padrões de desempenho não seria, no entanto, uma 22 precondição suficiente para dirigir adequadamente. Essas precondições resultariam, para o autor, de uma rede complexa que envolve capacidades, atitudes e hábitos, de forma que um procedimento de seleção deveria também buscar avaliar os riscos de segurança que resultam dessas interações. De acordo com Christ (2003), essas complexas interações dificilmente são totalmente definidas por coeficientes matemáticos fornecidos pelos testes, mas estes se tornam úteis na medida em que auxiliam no estabelecimento de uma suposição detalhada sobre o que é importante para um comportamento adequado. Como exemplo cita o fato de que os testes psicológicos de desempenho e os testes de personalidade são uma boa fonte de informação, uma vez que uma personalidade bem equilibrada é um alicerce para um comportamento adequado em geral e também no trânsito. Entretanto, outros autores chamam a atenção para o fato de que poucos estudos levam a uma comprovação de que uma pessoa com determinado traço de personalidade vai necessariamente apresentar esses comportamentos no trânsito, de maneira que a utilização desses instrumentos também não tem um caráter preditivo de envolvimento dessas pessoas em acidentes de trânsito (Rozestraten, 2000). Opinião similar é defendida por Silva e Alchieri (2007) ao afirmarem que as pesquisas sobre a personalidade de motoristas são escassas e superficiais, de forma que um avanço na área só será possível por meio dos seguintes fatores: desenvolvimento de melhores instrumentos de avaliação e de “perfil de motoristas”, amostra mais representativa da população investigada e ação conjunta ou parcerias entre instituições de ensino, responsáveis pelo transporte coletivo e individual e empresas de transporte. Os problemas que envolvem a escassez de estudos sobre a utilização dos testes psicológicos não são os únicos. Os obstáculos advindos da falta de adequação dos instrumentos, em razão principalmente da carência de pesquisas que comprovem sua eficácia nesse contexto, é outro fato que tem chamado a atenção nas análises sobre a avaliação no contexto do trânsito. Segundo Silva e Alchieri (2008) a composição da amostra apresenta-se inadequada, já que a maior parte dos estudos desenvolvidos baseia-se em amostras de candidatos à habilitação apenas, isto é, de pessoas não habilitadas. Essa verificação levanta um questionamento: "Como avaliar os candidatos a condutores com base em uma tabela cujos dados foram obtidos 23 com pessoas não habilitadas?". Segundo esses autores, há poucas referências acerca de motoristas profissionais, motoristas acidentados, infratores e motoristas já habilitados, mas não profissionais. Hatakka (2003) ratifica essa preocupação e acrescenta que os efeitos e as predições levados em consideração não deveriam ser limitados somente por relações com acidentes, como é feito na maioria dos estudos internacionais. Para o autor, os acidentes não podem ser usados como medidas precisas por causa principalmente de questões como sub-registros e a qualidade não satisfatória dos bancos de dados. De acordo com Risser (2003), o critério de acidente não seria válido e fidedigno por si só. Outro ponto fundamental diz respeito à teoria que embasa o instrumento psicológico. Adánez e Oakland (1999) ressaltam que o início de um instrumento é caracterizado pela teoria que o embasa, que sustenta sua ação e dá sentido à interpretação que se faz de seus resultados. Alchieri e Noronha (2011) asseguram ainda que sem representar uma definição teórica, os resultados de um teste serão simplesmente números absolutos, sem interpretação psicológica. Assim, um ponto crucial na leitura de um manual de teste é a exposição da revisão teórica do fenômeno psicológico que o autor ou a editora apresentam. Alchieri e Noronha (2011) acrescentam que sem conhecer as teorias e suas recentes avaliações o profissional fica impotente diante do resultado da avaliação e não pode realmente ter certeza sobre o que o teste está medindo. Sob essa mesma perspectiva deve ser reconhecida a validade do teste. Os autores supracitados discorrem que a validade é a maneira de compararmos a medida obtida de outra forma com aquela resultante do teste que empregamos. Assim, quando um teste é construído o autor deve prioritariamente definir o que ele está pretendendo avaliar, ao que se denomina validade de construto, caracterizar o que está medindo neste conceito, que é a validade de conteúdo, e, por fim, como ele opera a comparação desta medida com outro indicador, a validade de critério. Eles prosseguem expondo que outro ponto a ser analisado para que se utilize um determinado teste em uma dada avaliação é o grau com que ele mede sem variar na medida. A essa propriedade dá-se o nome de fidedignidade. Ela se refere a estabilidade que o teste tem em manter o seu 24 resultado depois de um certo tempo. Vale ressaltar que todos os testes devem apresentar esses indicadores (validade e precisão) e as estratégias ou formas empregadas pelo autor para sua avaliação. Sem esses critérios não é possível dizer se o teste difere de qualquer outro, como por exemplo, daqueles apresentados habitualmente em revistas. Por fim, Alchieri e Noronha (2011) destacam a padronização do instrumento, ou seja, as condições padronizadas na pesquisa pelo autor e definidas para a aplicação do teste (instruções), para operacionalizar o material (tipos de materiais necessários) e, aquela mais conhecida dos psicólogos, a padronização dos resultados (a correção e as normas ou tabelas de normas). Entretanto, o mais importante é ter o conhecimento sobre qual amostra o autor se baseou para afirmar que o resultado é fiel ao que se propõe medir. As amostras devem ser representativas da população no que diz respeito à cultura, idade, sexo, nível de escolaridade, procedência, níveis socioeconômicos e, sobretudo, devem ser atuais. Não se deve conceber, assevera Alchieri e Noronha (2011), que uma avaliação seja embasada em instrumentos psicológicos não adaptados ou com normas desatualizadas. Caso o manual de um instrumento não apresente as normas apropriadas para a população que se está testando, é indicado que o profissional pondere a sua utilização. A questão da qualidade dos testes vem sendo repensada por pesquisadores, órgãos e instituições que se dedicam ao estudo da avaliação psicológica no Brasil. Na última década, os avanços têm sido notórios, embora modificações ainda se façam necessárias. Especialmente no que se refere à qualidade dos testes, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001, 2003) tem se mobilizado em um processo de análise dos instrumentos disponíveis no mercado psicológico nacional (ALCHIERI E NORONHA, 2011). Indo além do exame psicológico, Rozestraten (1988) adverte que a psicologia do trânsito éum estudo científico do comportamento dos usuários, construtores, fiscais e mantenedores dos diferentes ambientes públicos e, de modo geral, de todos os comportamentos relacionados com o trânsito. Nenhuma sociedade consegue agir com eficácia sobre a complexa problemática de trânsito sem aperfeiçoar seus profissionais no sentido de prepará-los para compreenderem e atuarem na educação dos usuários de 25 forma preventiva, ao invés de focalizar suas ações exclusivamente na questão corretiva. 2.5 O Trânsito em Fortaleza Lima (2001) cita a pesquisa “Trânsito de Fortaleza nos últimos dez anos” realizada em Fortaleza, capital do estado do Ceará, que traz dois dados estatísticos importantes: a violência no trânsito nos finais de semana motivada pelo consumo de álcool e os chamados “pontos negros”, denominação de locais onde corriqueiramente ocorre elevado número de acidentes. Para os que insistem em dirigir alcoolizados, o novo Código Nacional de Trânsito prevê apreensão da Carteira de Habilitação, apreensão do veículo, multas altas, entre outros procedimentos. No entanto, sabe-se que a capital do Ceará é uma cidade praiana, festeira, possui uma realidade específica e, portanto, necessita de um trabalho de orientação e fiscalização mais rigorosa no que diz respeito ao uso da direção nos finais de semana, principalmente nos típicos pontos de encontro semanais (praias, casas de show, dentre outros). É importante a realização de blitze, num primeiro momento, educativas e, posteriormente, punitivas, bem como ações educativas que visem à conscientização popular sobre a construção coletiva de um trânsito mais seguro para todos no decorrer de todo o ano e não somente durante a Semana do Trânsito, como geralmente ocorre. 2.6 A ansiedade na avaliação psicológica do trânsito A ansiedade é um estado potencialmente ameaçador que, quando enfrentado, pode levar o indivíduo a apresentar respostas eficientes de luta, fuga ou mecanismo psicológico de defesa para abrandá-lo. Em transtorno de ansiedade, de acordo com o CID-10, há uma variabilidade grande dos sintomas dominantes, estando entre as queixas comuns e contínuas as palpitações, 26 tremores, sudorese, nervosismo, desconforto epigástrico, tensão muscular, sensação de cabeça leve e tonturas, além de uma série de outras sensações. O DSM-IV apresenta como sintomas de ansiedade a irritabilidade, perturbação de sono ou sono insatisfatório, fatigabilidade, inquietude ou sensação de estar com os nervos à flor da pele, tensão muscular e dificuldade em concentrar-se ou sensação de branco na mente. Aponta, ainda, que a ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. A ansiedade possui correspondentes psicológicos e fisiológicos. Com relação aos efeitos da ansiedade no contexto psicológico observa-se confusões e distorções perceptivas que podem comprometer o aprendizado, a concentração, a memória e, dessa forma, dificultar a capacidade de associação (Kaplan e Sadock, 1993, p. 414). No caso de um estímulo ser percebido de forma distorcida em virtude de uma descarga ansiógena, Viecili (2011) afirma que as soluções encontradas pelo indivíduo para a situação dada estarão baseadas na percepção errônea do real, levando a uma ação que pode não ser a mais adequada na situação de trânsito. A autora afirma ainda que a ansiedade leva a uma alteração dos processos psíquicos. Uma forte descarga de ansiedade pode provocar problemas de memória e o motorista ou pedestre pode ficar sem saber se comportar frente à situação, pode provocar distorções da atenção deslocando o foco e levando a distrações; os objetos ou situações podem ser percebidos como próximos ou distantes, rápidos ou lentos demais, diferentemente do que de fato o são. Pode-se inferir com isso que uma descarga ansiógena pode provocar reações inadequadas no âmbito dos processos psicológicos: pensamento, percepção, memória, aprendizagem, atenção. De acordo com May (1980), a ansiedade é um termo que se refere a uma relação de impotência, incerteza e falta de controlabilidade existente entre a pessoa e o ambiente ameaçador, e os processos neurofisiológicos decorrentes dessa relação. O mesmo autor diz ainda que a ansiedade constitui a experiência subjetiva do organismo numa condição catastrófica, que surge na medida em que o indivíduo, diante a uma situação, não dá conta das exigên- cias de seu meio e sente uma ameaça à sua existência ou aos valores que 27 julga essenciais. O autor diz ainda que a ansiedade é um sentimento que acompanha um sentido geral de perigo, advertindo as pessoas de que há algo a ser temido. Refere-se a uma inquietação que pode traduzir-se em manifestações de ordem fisiológica e de ordem cognitiva. A avaliação psicológica obrigatória para fins de renovação da CNH de condutores profissionais pode se apresentar aos mesmos sob uma percepção de perigo. Para May (1980), a natureza da ansiedade pode ser entendida quando se indaga o que é ameaçado na experiência que produz ansiedade, no caso dos condutores em questão o que está ameaçado é o trabalho, fonte de renda dele e da família. O homem primitivo vivenciava a ansiedade como uma advertência de ameaça a sua vida, uma vez que animais selvagens rondavam o seu ambiente em busca de alimento. A ansiedade desempenhou um papel importante no desenvolvimento da capacidade de nossos antepassados para pensar e criar símbolos e ferramentas que ampliassem seu alcance protetor. Atualmente, as ameaças não se encontram nos dentes e garras de animais carnívoros, mas no plano psicológico, e, portanto, intangível. Já não se é presa fácil de tigres e leões, mas vítima de danos causados ao amor-próprio ou da ameaça de derrota frente aos desafios que se apresentam. A forma de ansiedade mudou, mas a experiência mantém-se praticamente a mesma. May (1980) afirma que a ansiedade tem um significado. Embora parte desse significado possa ser destrutiva, outra parte pode também ser construtiva. Viecili (2011) aborda a presença da ansiedade podendo ocorrer de duas formas distintas, sendo elas: normal e patológica. A ansiedade normal e patológica distinguem-se pelo tipo e efeito no comportamento do indivíduo (Kaplan e Sadock, 1993; Masci, 1999). Dessa forma, a avaliação depende da proporcionalidade que são apresentados o perigo e o grau de paralisação da pessoa frente à situação. “A boa ansiedade é proporcional às dificuldades e, promove o enfrentamento saudável”. A má ansiedade é desproporcional à dificuldade e/ou improdutiva diante das dificuldades” (Masci, 1999). Assim sendo, a “boa ansiedade” tem funções adaptativas que facilitam e protegem o indivíduo. Ela pode agir como um alerta a uma situação de ameaça interna ou externa, proporcionando a preservação, preparando o organismo para ações visando extrair ou minimizar a ameaça. A ansiedade é essencial à condição humana. Sem ela falta a vitalidade primordial à existência humana, aquela que 28 impulsiona, que alivia o tédio, aguça a sensibilidade e garante a presença da tensão, necessária à vida. Quando deixa de existir ansiedade, a luta finda e a depressão pode sobrevir. De acordo com May (1980) a ansiedade é a experiência do Ser afirmando-se contra o Não – Ser e, sob essa perspectiva, buscamos compreender como a ansiedade se apresenta nos condutores profissionais que serão avaliados psicologicamente no DETRAN de Fortaleza, se impulsionando ou paralisando, contribuindo ou dificultando nesse processo que obrigatoriamente antecede à renovação da CNH. De acordo com Viecili (2011), dentre os comportamentos emocionais do homem, a ansiedade aparece como um fator relevante na situação de trânsito por intervir na capacidade cognitiva e perceptual dos indivíduos.Os estudos sobre a ansiedade ganharam destaque no âmbito da ansiedade pela necessidade de explicar a natureza dos comportamentos ansiógenos. 29 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Ética A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais conforme determina o Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº 93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos: A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa a Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao responder o questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram entrevistados 30 condutores da cidade de Fortaleza que estavam no processo de renovação de CNH. 3.2 Tipo de Pesquisa O trabalho foi realizado com uma pesquisa de campo, coleta de dados (questionário em anexo), e levantamento bibliográfico que fomentará dados qualitativos por meio da revisão bibliográfica. 3.3 Universo O presente estudo abrangeu os condutores da cidade de Fortaleza-CE. A pesquisa se deu numa clínica credenciada pelo Detran/CE. 30 3.4 Sujeitos da Amostra A amostra foi composta por condutores, de diversas categorias, que se dirigiram a clínica para uma das etapas do processo de renovação de CNH. 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados Construiu-se um instrumento estruturado, um questionário com perguntas objetivas de múltipla escolha. O questionário era composto por cinco perguntas, sobre a ansiedade do candidato perante a Avaliação Psicológica, e também sobre o conhecimento dos mesmos com relação essa Avaliação. 3.6 Plano para Coleta dos Dados Ao chegarem à clínica os alunos fizeram os procedimentos rotineiros para renovação da CNH e foram convidados a responder o questionário da presente pesquisa. Em seguida, os alunos assinaram o TCLE e responderam o questionário. 3.7 Plano para a Análise dos Dados Os dados foram digitalizados e analisados com auxílio de um software de planilha eletrônica para o tratamento estatístico. Quanto a parte qualitativa recorreu - se a análise de conteúdo enquanto técnica para dar sentido as falas dos sujeitos entrevistados. 31 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente item apresenta os resultados da pesquisa realizada em Fortaleza-CE com os candidatos a renovação da CNH. A pesquisa objetiva-se a avaliar a ansiedade e o conhecimento dos candidatos com relação a Avaliação Psicológica. Os condutores participantes são todos do sexo masculino, com faixa etária predominante de 31 a 50 anos, e grande parte é casado, possui o ensino médio, CNH categoria AB e são motoristas. O Gráfico 1 mostra as informações dos candidatos relativas ao grau de escolaridade. Com base nos dados notamos que, 63% dos candidatos possuem o ensino médio, 23% o ensino fundamental e apenas 14% o ensino superior. Gráfico 1. Nível de escolaridade dos entrevistados, candidatos à renovação da CNH Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 O Gráfico 2 mostra a grande quantidades de candidatos que possuem como profissão motorista (63%), sendo os demais candidatos de profissões variadas, tais como, entregador, vigia, cobrador, etc. 24% 63% 13% Fundamental Médio Superior 32 Gráfico 2. Profissão dos entrevistados, candidatos à renovação da CNH Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 A leitura do Gráfico 3 nos mostra que 60% dos entrevistados são casados, 33% solteiros e apenas 7% são divorciados. Gráfico 3. Estado civil dos entrevistados, candidatos à renovação da CNH Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 63% 37% Motorista Outros 33% 60% 7% Solteiro Casado Divorciado 33 Com relação à faixa etária dos entrevistados, 57 % estão enquadrados na faixa entre 31 e 50 anos, 23% têm acima de 50 anos, 13 estão na faixa entre 22 e 30 anos e os 7% restantes estão na faixa entre 18 e 21 anos (Gráfico 4). As informações do Gráfico 4 mostram que os dados dos condutores a renovação são opostos aos de primeira habilitação. A faixa etária de predominância, na maioria dos trabalhos que abordam a importância da Avaliação Psicológica para primeira Habilitação, é de 18 a 21 enquanto a registrada nessa pesquisa, com candidatos a renovação, foi de 31 a 50. Gráfico 4. Faixa etária dos entrevistados, candidatos à renovação da CNH Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 O Gráfico 5 mostra os dados dos entrevistados com relação ao tempo de habilitação. Notamos que 57% dos candidatos já possuem habilitação a mais de 6 anos, porém a menos de 10. 17% dos entrevistados possuem mais de 10 anos de CNH, 16% tem a carta entre 3 e 5 anos e 10% a menos de 3 anos. É notório que a menor percentagem de renovações são daqueles condutores que menos anos tem de CNH. 7% 13% 57% 23% 18 - 21 22 - 30 31 - 50 > 50 34 Gráfico 5. Tempo de CNH dos entrevistados, candidatos à renovação da CNH Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 Quanto a categoria da CNH dos entrevistados nessa pesquisa, o Gráfico 6 mostra as percentagens da distribuição entre as categorias. Notamos que a maior percentagem tem CNH categoria AB (47%), seguido pela categoria AD (20%). Com 10% estão às categorias D e E, seguidas por A (7%), AE e B, cada uma com 3%. Nessas circunstâncias, notamos que a maioria dos candidatos almeja de imediato, a classificação para a categoria C, uma vez que esses candidatos possuem CNH categoria AB. Com as informações do Gráfico 6 são encerradas as informações relativas a dados pessoais dos usuários. Nos próximos gráficos serão discutidos as informações relativas a pesquisa propriamente dita, ou seja, levantamentos sobre a ansiedade e conhecimento dos entrevistados com relação a Avaliação Psicológica. 10% 17% 56% 17% < 3anos 3 a 5 anos 6 a 10 anos > 10 anos 35 Gráfico 6. Categoria da CNH dos entrevistados, candidatos a renovação da CNH Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 O Gráfico 7 mostra as respostas dos entrevistados pelo fato de serem ansiosos. 60% dos entrevistados não se consideram pessoas ansiosas, enquanto 40% disseram ser ansiosas. Gráfico 7. Opinião dos entrevistados, candidatos à renovação da CNH, quanto a sua ansiedade Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 7% 47% 20% 3% 3% 10% 10% A AB AD AE B D E 40% 60% SIM NÃO 36 Diversos trabalhos apontam que grande parte dos motoristas que dirigem nas grandes cidades estão propensos a apresentar um comportamento ansioso na direção veicular, que pode ser identificado através de reações ou situações de tomadas de decisões no trânsito, fato provocado, nos dias atuais, pelos fatores que envolvem a vida moderna como a pressa, agitação, horários a serem cumpridos e tensão (Batista, 2012). De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV, 2002) – ansiedade é uma sensação desagradável de apreensão e inquietação, acompanhada pelos sintomas corporais como taquicardia, sudorese, tremores, palpitações, mãos frias, dentre outros. É um sinal de alerta que serve para avisar sobre um perigo iminente, podendo ser uma resposta normal ou patológica, dependendo de sua intensidade e duração. O Gráfico 8 apresenta a reação dos entrevistados ao se sentirem ansiosos. Notamos que 37% dos entrevistados reagem com medo às situações diante da ansiedade. A inquietação foi o segundo sintoma psicológico apresentado pelos entrevistados diante da ansiedade, seguido pela impulsividade e inibição, ambas com 17%, e em menor quantidade, 6%, a insegurança. Resultados do trabalho de Batista (2012), afirmam que os principais sintomas psicológicos apresentadospelos entrevistados ansiosos foram nervosismo e agitação, ambas com 40%, seguidas por medo e afobação, ambas com 10%. Quando indagados sobre a importância da Avaliação Psicológica no processo de renovação da CNH, 100% dos candidatos afirmaram que está ferramenta é de grande importância. Segundo Batista (2012), a avaliação psicológica é dinâmica e configura- se fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com o propósito de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo. “Trata-se de um estudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins aos quais a avaliação destina-se” (CFP, 2007, p.05). 37 No âmbito do trânsito, geralmente, o intuito da avaliação psicológica é a previsão de comportamento inadequado a partir de variáveis psicológicas levantadas pelos testes. Gráfico 8. Sintomas psicológicos apresentados pelos entrevistados diante da ansiedade Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 Apesar de 100% dos candidatos afirmarem que a Avaliação Psicológica é de grande importância para o processo de renovação da CNH, 57% dos deles afirmaram não saber nada sobre os testes psicológicos utilizados no Detran (Gráfico 9). Outro ponto que nos chama atenção, é o resultado das entrevistas realizadas com relação aos usuários temerem a reprovação na Avaliação Psicológica, quase 70% afirmou não temer a reprovação (Gráfico 10). 37% 23% 16% 7% 17% Medo Inquieto Impulsividade Insegurança Inibição 38 Gráfico 9. Conhecimento dos entrevistados sobre os testes psicológicos aplicados pelo Detran Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 Gráfico 10. Respostas dos entrevistados quanto ao temor da reprovação na Avaliação Psicológica Fonte: Dados da pesquisa. Fortaleza, 2014 57% 33% 7% 3% Nada Informações de Terceiros Informações Coletadas da Internet Sem Resposta 33% 67% SIM NÃO 39 5. CONCLUSÃO Dentro do contexto geral podemos afirmar que os condutores participantes são todos do sexo masculino, com faixa etária predominante de 31 a 50 anos, e grande parte é casado, possui o ensino médio, CNH categoria AB e são motoristas. Diante dos resultados apresentados no item anterior, notamos que quanto aos objetivos específicos da pesquisa, os candidatos, em sua maioria não se consideram pessoas ansiosas (60%), mas diante dessa situação, 37% afirmaram apresentarem medo, 23% inquietação, 17% inibição e impulsividade, cada, e 7% insegurança, como sintomas psicológicos de ansiedade. Sobre a importância da Avaliação Psicológica, 100% dos candidatos afirmaram considerá-la importante para o processo de renovação da CNH, mesmo que, 57% desses entrevistados não possuam nenhum conhecimento sobre os testes aplicados pelo Detran, e também que 67% não temam ser reprovados nesse processo. Notamos que o desconhecimento do processo da Avaliação Psicológica é bastante expressivo para os candidatos a renovação da CNH, mesmo esse sendo uma ferramenta de grande importância para identificar distúrbios comportamentais dos condutores e assim evitar algumas ações que são potenciais a causar acidentes de trânsito. Com relação à ansiedade dos condutores entrevistados, apesar de afirmarem não ser ansiosos, diante dessas reações apresentam reações que podem levar a inibição de tomadas de decisões corretas para evitar acidentes, ou ainda a propiciarem situações perigosas. Recomenda-se que outros trabalhos sejam realizados para avaliar em maior quantidade e com outros instrumentos a ansiedade dos condutores, não apenas candidatos a renovação, mas os de primeira habilitação. Também seria interessante e de extrema importância, campanhas informativas sobre a importância dos testes psicológicos aplicados pelo Detran. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERG, L. Problemas relacionados com a seleção de motoristas e a validade de testes. In: RISSER, R. (Org.). Estudos sobre a avaliação psicológica de motorista. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p. 25-32. ALCHIERI, J.C, NORONHA, A. Caracterização técnica dos instrumentos psicológicos utilizados na avaliação psicológica do trânsito. In: HOFFMANN, Maria Helena; CRUZ, Roberto Moraes; ALCHIERI, João Carlos. Comportamento Humano no Trânsito. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. Cap. 18, p. 241-259. ALCHIERI, J.C. Dilemas do Psicotécnico: exame psicotécnico ou avaliação psicológica?. 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