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Universidade Federal do Amazonas Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia QUÍMICA ANALÍTICA CLÁSSICA PROFESSORES ORGANIZADORES FABIANA MARIA MONTEIRO PASCHOAL MARGARIDA CARMO DE SOUZA VALDOMIRO LACERDA MARTINS ITACOATIARA-AM 2020 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................ 6 Capítulo 1 – Introdução a Química Analítica ..................................................................................................... 7 1.1 Introdução .................................................................................................................................................. 7 1.2 Algumas áreas de aplicação ........................................................................................................................ 7 1.3 Estágios de uma Análise Quantitativa ......................................................................................................... 7 1.4 Classificação dos métodos analíticos .......................................................................................................... 9 1.4.1 Com base no tamanho da amostra ....................................................................................................... 9 Capítulo 2: Erros e tratamento de dados analíticos – Estatística aplicada a Química Analítica ........................ 11 2.1. Algarismos significativos .......................................................................................................................... 11 2.1.1 Regras para se determinar o número de algarismos significativos ....................................................... 11 2.1.2 Regras para arredondamento............................................................................................................. 11 2.1.3 Algarismos significativos do resultado de um cálculo .......................................................................... 11 2.2 Média e Mediana ...................................................................................................................................... 12 2.3. Exatidão (Acurácia) e Precisão ................................................................................................................. 13 2.4 Erro e Exatidão.......................................................................................................................................... 14 2.4.1. Erro absoluto de uma medida, E ........................................................................................................ 14 2.4.2. Erro relativo, ER ................................................................................................................................. 14 2.5 Tipos de erros ........................................................................................................................................... 15 2.5.1 Erros Sistemáticos (determinados) ...................................................................................................... 15 2.5.2 Erros Aleatórios (indeterminados) ...................................................................................................... 16 2.6 Tratamento Estatístico de Erros Aleatórios ............................................................................................... 17 2.7 Amostras e Populações ............................................................................................................................. 17 2.8 A Média da População µ e a Média da Amostra ........................................................................................ 17 2.9 Desvio Padrão da População, ................................................................................................................. 18 2.10 Área sob uma curva gaussiana ................................................................................................................ 18 2.11 Desvio padrão da amostra e outras medidas da Precisão ....................................................................... 19 2.12 Confiabilidade de s como uma medida de precisão................................................................................. 20 2.13 Combinação de Dados para Melhorar a Confiabilidade de s ................................................................... 20 2.14 Desvio Padrão de resultados Calculados ................................................................................................. 21 2.15 Rejeição de Dados ................................................................................................................................... 21 2.16 Limites de Confiança e Intervalo de Confiança ........................................................................................ 22 2.17 Comparação de resultados ...................................................................................................................... 24 2.18 Teste t de Student ................................................................................................................................... 25 2.19 Teste F .................................................................................................................................................... 26 Capítulo 3: SOLUÇÕES AQUOSAS DE SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS ................................................................. 28 3.1 Introdução ................................................................................................................................................ 28 3.2 Classificação da solução de acordo com a solubilidade ............................................................................. 28 3.3 Formas de expressar a concentração das soluções.................................................................................... 29 3.3.1 Concentração comum......................................................................................................................... 29 3.3.2 Percentagem em massa, ppm e ppb ................................................................................................... 30 3.3.3 Concentração em quantidade de matéria ou concentração molar (molaridade) .................................. 31 3.3.4 Relação entre concentração comum, título, densidade e concentração molar ..................................... 31 3.3.5 Concentração Normal ou normalidade ............................................................................................... 32 3.3.5.1 Equivalente-grama .......................................................................................................................... 32 3.4 Mistura de Soluções .............................................................................................................................. 33 Capítulo 4: CONCEITOS E TEORIAS FUNDAMENTAIS ....................................................................................... 34 4.1 ELETRÓLITOS E NÃO-ELETRÓLITOS ............................................................................................................ 34 4.1.2 Classificação de eletrólitos.................................................................................................................. 34 4.3 TEORIAS SOBRE ÁCIDOS E BASES .............................................................................................................. 34 4.3.1 Teoria de arrehenius .......................................................................................................................... 34 4.3.2 Teoria de Brnsted-Lowry (Teoria Protônica) .................................................................................... 34 4.3.3 Teoria de Lewis ..................................................................................................................................35 4.4 ESPÉCIES ANFIPRÓTICAS ........................................................................................................................... 35 4.5 SOLVENTES ANFIPRÓTICOS ....................................................................................................................... 35 4.6 AUTOPROTÓLISE ....................................................................................................................................... 36 4.7 FORÇAS DE ÁCIDOS E BASES ..................................................................................................................... 36 4.8 CLASSIFICAÇÃO DO SOLVENTE .................................................................................................................. 36 Capítulo 5: Equilíbrio Químico ........................................................................................................................ 38 5.1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 38 5.2 A LEI DA AÇÃO DAS MASSAS ..................................................................................................................... 38 5.3 EXPRESSÃO DA CONSTANTE DE EQUILÍBRIO ............................................................................................. 39 5.4 O SIGNIFICADO DA CONSTANTE DE EQUILÍBRIO ....................................................................................... 40 5.5 FATORES QUE AFETAM O EQUILÍBRIO QUÍMICO ....................................................................................... 40 5.5.1 Efeito da composição ......................................................................................................................... 41 5.5.2 Efeito da temperatura ....................................................................................................................... 41 5.5.3 Efeito da concentração ....................................................................................................................... 41 5.5.4 Efeito do catalisador .......................................................................................................................... 42 5.6 TEORIA DA DISSOCIAÇÃO ELETROLÍTICA ................................................................................................... 42 5.6.1Estudo dos eletrólitos fracos em solução ............................................................................................. 42 5.6.2 Estudo dos eletrólitos fortes em solução ............................................................................................. 43 5.7 ATIVIDADE E COEFICIENTE DE ATIVIDADE ................................................................................................. 44 5.8 FORÇA IÔNICA I ou ............................................................................................................................... 45 5.9 COEFICIENTE DE ATIVIDADE ...................................................................................................................... 45 Capítulo 6: Equilíbrio ácido-base em solução aquosa...................................................................................... 47 6.1. IONIZAÇÃO DA ÁGUA .............................................................................................................................. 47 6.2 EXPOENTE HIDROGENIÔNICO (pH) ........................................................................................................... 48 6.3 RELAÇÃO ENTRE Kw, pH e pOH ................................................................................................................. 49 6.4 SOLUÇÕES AQUOSAS DE ÁCIDOS E BASES FORTES .................................................................................... 49 6.4.1 Soluções aquosas de ácidos fortes ...................................................................................................... 50 6.4.2 Soluções aquosas de bases fortes ....................................................................................................... 51 6.5 RELAÇÃO ENTRE Kw, Ka e Kb ...................................................................................................................... 52 6.6 SOLUÇÕES AQUOSAS DE ÁCIDOS E BASES FRACAS.................................................................................... 52 6.6.1 Soluções aquosas de ácidos monopróticos fracos ................................................................................ 52 6.6.2 Soluções aquosas de bases fracas ....................................................................................................... 54 6.7 SOLUÇÃO TAMPÃO ................................................................................................................................... 55 6.7.1 Propriedades das soluções tampão ..................................................................................................... 55 6.7.2 Importância das soluções tampão ...................................................................................................... 55 6.7.3 Cálculo do pH de uma solução tampão ............................................................................................... 56 6.7.3.1 Cálculo do pH de uma solução de um ácido fraco e seu sal ............................................................... 56 6.7.3.2 Cálculo do pH de uma solução de uma base fraca e seu sal .............................................................. 57 6.7.4 Eficiência da solução tampão ............................................................................................................. 58 6.7.4.1 Depende da concentração dos reagentes ......................................................................................... 58 6.7.4.2 Capacidade Freadora ...................................................................................................................... 59 6.8 ANÁLISE VOLUMÉTRICA ............................................................................................................................ 60 6.8.1 Vantagens da análise volumétrica ...................................................................................................... 61 6.8.2 Requisitos da reação volumétrica ....................................................................................................... 61 6.8.3 Preparo da solução padrão ................................................................................................................ 61 6.8.3.1. Requisitos da Substância Padrão Primário ...................................................................................... 61 6.8.4 Classificação dos métodos volumétricos ............................................................................................. 62 6.9 VOLUMETRIA DE NEUTRALIZAÇÃO ........................................................................................................... 62 6.9.1 Cálculo de resultados na volumetria de neutralização ......................................................................... 62 6.9.2 Fundamento do uso dos indicadores ................................................................................................... 63 6.9.3 Titulação de ácido forte com base forte .............................................................................................. 64 6.9.3.1. Curva De Titulação ......................................................................................................................... 64 6.9.4 Cálculo do erro da titulação ................................................................................................................ 65 6.9.5 Titulação de base forte com ácido forte .............................................................................................. 65 6.9.6. Titulação de ácido fraco com base forte.............................................................................................65 6.9.6.1. Curva de titulação .......................................................................................................................... 65 6.9.7.1. Curva de titulação .......................................................................................................................... 67 6.9.8. Fatores que afetam a curva de titulação ............................................................................................ 68 6.9.8.1. CONCENTRAÇÃO DOS REAGENTES .................................................................................................. 68 6.9.8.2. Força do ácido ................................................................................................................................ 68 6.9.8.3. Força da base ................................................................................................................................. 69 6.9.9. Titulação de ácidos polipróticos fracos............................................................................................... 69 CAPÍTULO 7: eQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE E PRECIPITAÇÃO......................................................................... 70 7.1 SOLUBILIDADE DOS PRECIPITADOS........................................................................................................ 70 7.1.1 Precipitados Cristalinos ...................................................................................................................... 70 7.1.2 Precipitados coloidais ......................................................................................................................... 70 7.2 A SOLUBILIDADE DEPENDE DE VÁRIOS FATORES ...................................................................................... 70 7.2.1 Pressão .............................................................................................................................................. 70 7.2.2. Temperatura ..................................................................................................................................... 70 7.2.3. Composição do solvente .................................................................................................................... 71 7.2.4. Natureza e concentração de outros materiais .................................................................................... 71 7.3 PRODUTO DE SOLUBILIDADE .................................................................................................................... 72 7.4APLICAÇÕES DO PRODUTO DE SOLUBILIDADE ........................................................................................... 73 7.4.1 EFEITO DO ÍON COMUM ..................................................................................................................... 73 7.4.2 EFEITO DO ÍON ESTRANHO (EFEITO SALINO) ....................................................................................... 75 7.5 PRECIPITAÇÃO FRACIONADA .................................................................................................................... 75 7.6 FORMAÇÃO DE PRECIPITADOS .................................................................................................................. 76 7.7 PRECIPITAÇÃO DE SULFETOS ..................................................................................................................... 77 7.8 tITULAÇÃO ................................................................................................................................................ 78 7.8.1.Construção da Curva de Titulação ...................................................................................................... 78 7.8.2 Fatores que Afetam a Curva de Titulação............................................................................................ 79 7.8.2.1 Concentração dos Reagentes ........................................................................................................... 79 7.8.2.1 Solubilidade do Precipitado Formado ............................................................................................... 79 7.8.3 Detecção do ponto final ..................................................................................................................... 79 7.8.3.1 MÉTODO DE MOHR ......................................................................................................................... 79 7.8.3.2 Cálculo da Quantidade do Indicador – método de Mohr ................................................................... 80 7.8.3.3. MÉTODO DE VOLHARD ................................................................................................................... 80 Capítulo 8: Equilíbrio de complexação ............................................................................................................ 81 8.1. TITULAÇÕES COMPLEXOMÉTRICAS COM EDTA ........................................................................................ 81 8.2 CALCULO DA CONSTANTE DE FORMAÇÃO CONDICIONAL ......................................................................... 84 8.3 EFEITO DO PH EM TITULAÇÕES COM EDTA ............................................................................................... 84 8.4 Importância do pH em titulações com EDTA ............................................................................................. 85 Capítulo 9: Equilíbrio de Oxidação-Redução ................................................................................................... 86 9.1. NATUREZA DAS REAÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO ............................................................................... 86 9.2 PILHAS OU CÉLULAS ELETROQUÍMICAS ..................................................................................................... 86 9.2.1. CÉLULAS GALVÂNICAS..................................................................................................................... 87 9.2.2. FUNÇÃO DA PONTE SALINA ............................................................................................................. 88 9.2.3. NOMENCLATURA E REPRESENTAÇÃO DAS CÉLULAS ......................................................................... 88 9.3 POTENCIAIS DE ELETRODO ........................................................................................................................ 89 9.3.1 ELETRODO PADRÃO DE HIDROGÊNIO – EPH........................................................................................ 89 9.3.2 CÁLCULO DA f.e.m. DE UMA CÉLULA GALVÂNICA................................................................................ 90 9.3.3 EQUAÇÃO DE NERNST ........................................................................................................................ 90 9.3.4 POTENCIAL PADRÃO DE ELETRODO, Eo ............................................................................................... 92 9.3.5 CÉLULAS DE CONCENTRAÇÃO ............................................................................................................. 93 9.4 CONSTANTES DE EQUILÍBRIO DAS REAÇÕES REDOX.................................................................................. 93 9.5 TITULAÇÃO ............................................................................................................................................... 94 8.5.1 CURVA DE TITULAÇÃO ....................................................................................................................... 94 9.5.2 INDICADORES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO .............................................................................................. 94 9.5.3 SOLUÇÕES PADRÕES E PADRÕES PRIMÁRIOS ...................................................................................... 95 Capítulo 10: ANÁLISE GRAVIMÉTRICA ............................................................................................................. 96 10.1.Introdução ............................................................................................................................................. 96 10.2. Gravimetria por volatilização ................................................................................................................. 96 10.3. Tipos de água nos sólidos....................................................................................................................... 96 10.3.1 Água essencial ................................................................................................................................. 96 10.3.2. Água não-essencial ......................................................................................................................... 97 10.4. Gravimetria por precipitação ................................................................................................................. 97 10.4.1. Requisitos para que uma reação de precipitação possa ser usada em gravimetria ............................ 97 10.4.2. Requisitos da forma de pesagem ..................................................................................................... 97 10.5. Formação dos Precipitados .................................................................................................................... 98 10.5.1. Tipos de precipitados ....................................................................................................................... 98 10.5.2. Mecanismos de Precipitação ........................................................................................................... 98 10.5.3. Etapas de Formação do precipitado ................................................................................................. 99 10.5.3.1. Nucleação .................................................................................................................................... 99 10.5.3.2. Crescimento dos cristais ............................................................................................................... 99 10.5.4. Técnicas para Precipitação Lenta ................................................................................................... 100 10.5.5. Suspensões Coloidais ..................................................................................................................... 100 10.5.5.1. Características das Suspensões Coloidais .................................................................................... 100 10.5.6. Envelhecimento dos Precipitados ou digestão ................................................................................ 101 10.5.7. Contaminação dos precipitados ..................................................................................................... 101 10.5.7.1. Coprecipitação ........................................................................................................................... 102 10.5.7.2. Pós-precipitação ........................................................................................................................ 102 10.6. Cálculos na Análise Gravimétrica ........................................................................................................ 102 Exercícios – Capítulo 2 – Erro e tratamento estatístico ................................................................................. 104 Exercícios – Capítulo 3 – Soluções ................................................................................................................. 106 Exercícios–Capítulo 6– Equilíbrio ácido-base em solução aquosa ................................................................. 109 Exercícios – Capítulo 9 – Equilíbrio de oxidação-redução .............................................................................. 116 Exercícios – Capítulo 10 – Gravimetria .......................................................................................................... 118 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 120 APRESENTAÇÃO Este curso tem como objetivo apresentar e discutir os fundamentos teórico- práticos da química analítica qualitativa e quantitativa. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Introdução a Química Analítica 7 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO A QUÍMICA ANALÍTICA 1.1 INTRODUÇÃO A Química analítica envolve a separação, identificação e quantificação das espécies químicas presentes em uma amostra. Ela pode ser dividida em Química Analítica Qualitativa e Química Analítica Quantitativa. Para diferenciar a análise qualitativa da quantitativa, examinemos a seguinte afirmação: meu chocolate em barra preferido contém 33% de gorduras e 47% de açúcar. Além de conter alta energia, o chocolate tem uma energia extra a partir do efeito estimulante da cafeína e do seu precursor bioquímico, a teobromina. Pode-se observar que nesta afirmação ambas as informações quantitativas e qualitativas são citadas. A análise qualitativa estabelece a identidade química das espécies presentes em uma amostra (gorduras, açúcar, cafeína, teobromina). A análise quantitativa determina as quantidades relativas das espécies, ou analitos, em termos numéricos (33% de gorduras e 47% de açúcar). Os analitos são os componentes de uma amostra a ser determinados (gorduras, açúcar, cafeína e teobromina). A barra de chocolate contém outros componentes que não são os analitos, estes são denominados de matriz ou matriz da amostra. A matriz, ou matriz da amostra, são todos os outros componentes da amostra na qual o analito está contido. 1.2 ALGUMAS ÁREAS DE APLICAÇÃO Na Figura 1 é mostrado o papel central da química analítica. Todos os ramos da química baseiam-se nas suas ideias e técnicas, bem como outras áreas do conhecimento, demonstrando assim a sua importância e abrangência de aplicações em diversas áreas (Indústria – cosméticos, alimentos, medicamentos, etc; Medicina; Legislação dos governos; Meio Ambiente, etc.). Essa natureza interdisciplinar da análise química a torna uma ferramenta vital em laboratórios médicos, industriais, governamentais e acadêmicos em todo o mundo. 1.3 ESTÁGIOS DE UMA ANÁLISE QUANTITATIVA Uma análise química completa envolve uma série de etapas e procedimentos, tais como: Escolha do método O químico deve conhecer todos os métodos disponíveis e só então decidir qual o mais adequado para o seu problema. Para tanto é necessário fazer uma pesquisa sobre as metodologias adotadas para a determinação do analito de interesse. Na escolha do método deve-se considerar os seguintes aspectos: Exatidão – concordância entre uma medida e seu valor verdadeiro. Precisão – concordância em uma série de medidas (reprodutibilidade). Tempo de análise e custo - economia UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Introdução a Química Analítica 8 Limite de detecção – é a quantidade mínima do analito que pode ser detectada. Seletividade – levam em consideração as interferências de outras espécies químicas na sua análise. Esta interferência pode ser para mais (erro positivo) ou para menos (erro negativo). Figura 1.1 – Papel central da química analítica e sua interdisciplinaridade de aplicações Fonte: SKOOG, et al (2006, p. 3) Amostragem É a obtenção de uma pequena quantidade de amostra cuja composição represente exatamente o todo do material que está sendo analisado (amostra representativa). Depende do tamanho e da natureza física da amostra. Para gerar informações representativas, uma análise precisa ser realizada com uma amostra que tem a mesma composição do material do qual ela foi tomada. Quando o material UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Introdução a Química Analítica 9 é amplo e heterogêneo, grande esforço é requerido para se obter umaamostra representativa. Processamento da amostra Sob certas circunstâncias, às vezes nenhum processamento é necessário antes da etapa de medida. Na maior parte das vezes, porém, devemos processar a amostra de alguma forma. A primeira etapa é, muitas vezes, a preparação da amostra de laboratório. Remoção de Interferentes (mascaramento) Quando o método não é seletivo inclui-se uma etapa de remoção de interferentes. Calibração e Medidas da concentração Todos os resultados analíticos dependem de uma medida final X de uma propriedade física ou química do analito. Essa propriedade deve variar de uma forma conhecida e reprodutível com a concentração cA do analito. Idealmente, a medida da propriedade é diretamente proporcional à concentração. Isto é, CA= kX , em que k é uma constante de proporcionalidade. Com duas exceções, os métodos analíticos requerem a determinação empírica de k com padrões químicos para os quais CA é conhecido. O processo de determinação de k é então uma etapa importante na maioria das análises; essa etapa é chamada calibração. Tratamento dos dados Cálculo dos resultados analíticos e avaliação estatística destes. Apresentação dos resultados Impressão dos resultados, impressão de gráficos e arquivamento dos resultados. 1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS ANALÍTICOS 1.4.1 Com base no tamanho da amostra Macro – para quantidades de amostra superiores a 0,1g. Meso – para quantidades de amostras entre 10-2 e 10-1g. Micro – para quantidades de amostras entre 10-3 e 10-2g. Submicro – para quantidades de amostras entre 10-4 e 10-3g. Ultramicro – para quantidades de amostras inferiores 10-4g. Com base na medida final Gravimétrico – a determinação final é uma medida exata do peso do analito ou algum composto quimicamente relacionado a ele. Volumétrico – determina-se o volume de solução necessário para completar a reação. Físico-químicos – métodos baseados na medida de alguma propriedade física ou química. Necessitam de instrumentos especiais para fazer a medida e são UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Introdução a Química Analítica 10 conhecidos como métodos instrumentais. Exemplos: espectroscopia de emissão, espectroscopia de absorção atômica, espectroscopia de absorção molecular nas regiões ultravioleta e visível. Com base na cronologia Clássicos – são os métodos de análise mais antigos: gravimetria e volumetria. Modernos – são os métodos físico-químicos (instrumentais). Com base na propriedade física medida Classificação Geral Subclassificação Propriedade física Métodos Clássicos - Gravimetria e titulometria gravimétrica - Titulometria volumétrica - Massa - Volume Métodos Ópticos - Espectroscopias de emissão e fluorescência (raio X, UV, visível); fotometria de chama; - Espectroscopia de absorção atômica; espectroscopia de absorção molecular (raio X, UV, Visível e IV) - Turbidimetria; nefelometria - Refratometria - Polarimetria - Emissão de radiação - Absorção de radiação - Espalhamento da radiação - Refração da radiação - Rotação de radiação Métodos Eletroanalíticos - Potenciometria - Condutometria - Polarogafria; amperometria - Coulometria - Potencial elétrico - Condutância elétrica - Corrente de difusão - Quantidade de eletricidade Métodos diversos - Método de condutividade térmica - Espectroscopia de massa - Métodos radioquímicos - Condutividade térmica - Relação carga-massa - Desintegração radioativa UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 11 CAPÍTULO 2: ERROS E TRATAMENTO DE DADOS ANALÍTICOS – ESTATÍSTICA APLICADA A QUÍMICA ANALÍTICA 2.1. ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS São os dígitos necessários para expressar o valor de uma dada grandeza determinada experimentalmente ou um resultado calculado, de modo que apenas o último algarismo seja duvidoso. 2.1.1 Regras para se determinar o número de algarismos significativos a. Os zeros são significativos quando fazem parte do número e não são significativos quando são usados para indicar a ordem da grandeza, ou seja, zeros situados à esquerda de outros dígitos não são significativos, pois nestes casos são usados apenas para indicar a casa decimal. Exemplo 2.1: 0,15016; 0,015016; 0,0015016; 0,00015016 todos têm _____algarismos significativos b. Zeros colocados a direita só são significativos se forem resultado de uma medida. Não são significativos se apenas indicam a ordem da grandeza de um número. Exemplo 2.2: 2,00 ± 0,01g quando transformados para mg é _____________mg c. Não confundir número de algarismos significativos com casas decimais. Exemplo 2.3.: 0,0069870 – tem _______algarismos significativos e ________ casas decimais. 2.1.2 Regras para arredondamento a Se o dígito que segue o último algarismo significativo for menor que 5, o dígito a ser arredondado permanece inalterado. Exemplo 2.4: Apresentar os seguintes valores com 3 algarismos significativos 0,5742__________1,2345___________15624____________ 210000____________ b. Se o dígito que segue o último algarismo significativo for maior ou igual a 5, o dígito a ser arredondado é aumentado em uma unidade. Exemplo 2.5: Apresentar os seguintes valores com 3 algarismos significativos 0,5746___________1,2355__________15674____________ 20091___________ 2.1.3 Algarismos significativos do resultado de um cálculo a. Adição e Subtração – a soma ou a diferença deverá conter tantas casas decimais quantas existirem no componente com o menor números delas. Exemplo 2.6: Apresentar o resultado das seguintes operações com o número correto de algarismos significativos 2,2+0,1145 = ______________ 6,80– 2,636= ______________ UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 12 b. Multiplicação e Divisão – o resultado deverá conter tantos algarismos significativos quanto estiverem expressos no componente com o menor número de significativos. Exemplo 2.7: Apresentar o resultado das seguintes operações com o número correto de algarismos significativos 25,11 x 0,1041 = _____________ 0,104642 : 24,98 =____________ 2.2 MÉDIA E MEDIANA Uma vez que uma única análise não fornece informações sobre a variabilidade dos resultados, geralmente os químicos utilizam entre duas e cinco porções (réplicas) de uma amostra para realizar um procedimento analítico completo. Os resultados individuais obtidos para um conjunto de medidas raramente são iguais, assim sendo, normalmente consideramos que o “melhor” resultado é o valor central do conjunto. Normalmente, a média ou a mediana é usada como valor central do conjunto de réplicas de medidas. A medida mais amplamente usada como valor central é a média, também chamada média aritmética, n xxxx x n .....321, mostrada na equação 2.1. N x x N i i _ (2.1) em que xi representa os valores individuais de x, que perfazem o conjunto de N réplicas de medidas. A mediana é o resultado central quando as réplicas de dados são organizadas de acordo com uma sequência crescente ou decrescente de valores. Existe um número igual de valores que são maiores e menores que a mediana. Para um número ímpar de resultados, a mediana pode ser avaliada diretamente. Para um número par de resultados, a média do par central é usada. Em casos ideais, a média e a mediana são idênticas, mas quando o número de medidas do conjunto é pequeno, normalmente seus valores diferem. Exemplo 2.8: Seis porções iguais de uma solução aquosa contendo uma concentração “conhecida” de 20,00 ppm de ferro(III) foram analisadas exatamente da mesma forma e obteve os seguintes resultados: 19,4; 19,5; 19,6; 19,8; 20,1 e 20,3 ppm de ferro (III). Calcule a média e a mediana. Média:, Fedeppm N x x N i i 8,1978,19 6 3,201,208,196,195,194,19_ Como o conjunto contém um número par de medidas, a mediana é a média do par central: Fedeppmmediana 7,19 2 8,196,19 UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 13 2.3. EXATIDÃO (ACURÁCIA) E PRECISÃO A função do analista é obter resultados os mais próximos possíveis dos valores verdadeiros através da utilização de métodos analíticos. Para tanto é necessário conhecer a exatidão e precisão do método que usaram, e também as fontes de erros que podem afetar os resultados. Exatidão e precisão são conceitos distintos. A Figura 2.1 ilustra as diferenças entre exatidão e precisão. Observe que a exatidão mede a concordância entre um resultado e o valor aceito, isto é, entre uma medida e o valor verdadeiro ou mais provável da grandeza. A precisão, por outro lado, descreve a concordância entre os vários resultados obtidos da mesma forma, ou seja, é a concordância em uma série de medidas de uma dada grandeza. Podemos determinar a precisão medindo as réplicas da amostra. A exatidão é com frequência mais difícil de ser determinada porque o valor verdadeiro é geralmente desconhecido. Então, um valor aceito precisa ser utilizado em seu lugar. Podemos observar na Figura 2.1 que os resultados podem ser precisos sem ser exatos e exatos sem ser precisos. A Figura 2.1 resume os resultados obtidos na determinação de nitrogênio em dois compostos puros. Os pontos mostram os erros absolutos de réplicas de resultados obtidos por quatro analistas. Figura 2.1 – Erro absoluto na determinação de nitrogênio por micro-Kjeldahl. Cada ponto representa o erro associado a uma única determinação. Cada linha vertical rotulada (xi _ xv) representa o desvio médio absoluto do conjunto de dados, do valor verdadeiro Fonte: SKOOG et al (2006, p. 87) Observe que os resultados dos analistas são: Analista 1: precisos e exatos; Analista 2: imprecisos e exatos; Analista 3: precisos e inexatos; Analista 4: imprecisos e inexatos. A exatidão é expressa em termos do erro absoluto ou erro relativo. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 14 2.4 ERRO E EXATIDÃO O termo erro tem dois significados ligeiramente diferentes. Em primeiro lugar, os erros referem-se às diferenças existentes entre um valor medido e o valor “verdadeiro” ou “conhecido”. Em segundo, o erro geralmente denota a incerteza estimada, associada a uma medida ou a um experimento. 2.4.1. Erro absoluto de uma medida, E É a diferença entre o valor medido e o valor verdadeiro. O erro absoluto apresenta a unidade da medida e possui sinal e é definido pela equação 2.2. E= Xi – Xv (2.2) Onde : E= erro absoluto; Xi=valor medido; Xv= valor verdadeiro ou aceito 2.4.2. Erro relativo, ER É a relação entre o erro absoluto e o valor verdadeiro. O erro relativo é adimensional e comumente expresso em % (102), equação 2.3, mas pode ser expresso em partes por mil (ppmil, 103) ou partes por milhão (ppm, 106), dependendo da magnitude do resultado. 100 X E E V R (2.3) O erro informa sobre a exatidão da medida. Quanto maior o erro menor a exatidão. Exemplo 2.9: Considere os resultados de seis réplicas de determinações de ferro em amostras aquosas de uma solução padrão contendo 20,00 ppm de ferro(III), mostrado na Figura 2.2 (Valores utilizados no exemplo 2.8). Determine o erro absoluto e relativo. R=- 0,2; -1%. Figura 2.2: Determinações de Ferro (III) em uma solução aquosa de concentração conhecida Fonte: SKOOG et al (2206, p. 84) UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 15 2.5 TIPOS DE ERROS 2.5.1 Erros Sistemáticos (determinados) São erros que podem ser evitados ou cuja origem pode ser determinada. Existem três tipos de erros sistemáticos: (1) Erros instrumentais – causados pelo comportamento não ideal de um instrumento, por calibrações falhas ou pelo uso de condições inadequadas. São erros relacionados com as imperfeições dos instrumentos, aparelhos volumétricos e reagentes. Exemplos: Balança e vidrarias sem calibração ou mal calibradas, pipetas, buretas e frascos volumétricos podem conter ou dispensar quantidades levemente diferentes daquelas indicadas em suas graduações. Em muitos casos, erros desse tipo são detectáveis e corrigíveis. (2) Erros de método – surgem do comportamento químico ou físico não ideal de reagentes e de reações em uma análise. Exemplos: solubilização de precipitados, decomposição de um precipitado durante a calcinação, a lentidão de algumas reações, a incompletude de outras, a instabilidade de algumas espécies, a falta de especificidade da maioria dos reagentes e a possível ocorrência de reações laterais que interferem no processo de medida, um pequeno excesso de reagente necessário para provocar a mudança de cor do indicador que acusa o final da reação em uma análise volumétrica. Os erros inerentes a um método são, frequentemente, difíceis de ser detectados e, consequentemente, são os mais sérios entre os três tipos de erros sistemáticos. (3) Erros pessoais – muitas medidas demandam julgamentos pessoais e por isso pode resultar em erros pela falta de cuidado, falta de atenção ou limitações pessoais do analista. Exemplos: secagem incompleta da amostra antes da pesagem, perda de material durante a análise, a estimativa da posição de um ponteiro entre duas divisões de uma escala, a cor de uma solução no ponto final de uma titulação ou o nível de um líquido em relação à escala graduada de uma pipeta ou bureta. Julgamentos desse tipo são muitas vezes objeto de erros sistemáticos, unidirecionais. Por exemplo, uma pessoa pode estimar a posição de um ponteiro de maneira consistentemente mais alta, outra pode ser ligeiramente lenta no disparo de um cronômetro e uma terceira pode ser menos sensível a mudanças de cor. Um analista que é insensível a mudanças de cor tende a usar excesso de reagente em uma análise volumétrica. Os procedimentos analíticos sempre devem ser ajustados para que qualquer limitação física conhecida do analista não provoque erros pequenos e irrelevantes. Uma fonte universal de erros pessoais é o prejulgamento, ou tendência. A maior parte de nós, não importa quão honestos sejamos, tem a tendência de estimar leituras de escalas na direção da melhoria da precisão em um conjunto de resultados. Alternativamente, podemos ter uma noção preconcebida do valor verdadeiro de uma medida. De forma inconsciente, fazemos que os resultados se mantenham próximos a esse valor. O viés numérico é outra fonte de erros pessoais que varia consideravelmente de pessoa para pessoa. O viés numérico mais frequente encontrado na estimativa da posição de um ponteiro em uma escala é a preferência pelos números 0 e 5. Também é UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 16 comum o prejulgamento favorecendo números pequenos em relação aos maiores e os números pares, em relação aos ímpares. 2.5.2 Erros Aleatórios (indeterminados) Estes erros se manifestam na forma de pequenas variações nas medidas de uma amostra, feitas em sucessão pelo mesmo analista. São erros cuja origem não pode ser detectada. Quando se faz um número suficientemente grande de observações, estes erros assumem a distribuição da curva gaussiana mostrada na Figura 2.3. Figura 2.3 – Distribuição da curva normal (Gaussiana) Fonte: SKOOG et al (2006, p. 104) A equação 2.4 mostra a forma de uma curva gaussiana: 22 2/2/)( 222 zx ee y (2.4) A Figura 2.3 mostra uma curva de erro normal, onde o desvio é dado pela equação 2.5, que mostra o desvio da média de um dado. z = (x-µ)/ (2.5) onde: z é o desvio da média de um dado (x) µ é a média da população é o desvio padrão da população A inspeçãode curvas de erro deste tipo mostra que: A média verdadeira da população, µ, divide a curva em duas metades simétricas; Desvios positivos e negativos são igualmente prováveis; Desvios pequenos em torno da média acontecem com maior frequência do que os grandes; A média aritmética é o valor mais provável, na ausência de erros sistemáticos. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 17 2.6 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DE ERROS ALEATÓRIOS Podemos utilizar métodos estatísticos para avaliar os erros aleatórios discutidos na seção anterior. Normalmente baseamos as análises estatísticas na premissa de que os erros aleatórios contidos em resultados analíticos seguem uma distribuição gaussiana, ou normal. 2.7 AMOSTRAS E POPULAÇÕES Tipicamente, em um estudo científico, inferimos informações sobre uma população ou universo a partir de observações feitas em um subconjunto, ou amostra. Uma população é a coleção de todas as medidas de interesse para o analista, enquanto uma amostra é um subconjunto de medidas selecionadas a partir da população. Em muitos dos casos encontrados na química analítica, a população é conceitual. Considere, por exemplo, a determinação de cálcio em um reservatório de água de uma cidade, para medida da dureza da água. Aqui, a população é o número de medidas muito grande, quase infinito, que poderia ser feito se analisássemos todo o reservatório de água. Da mesma forma, na determinação da glicose no sangue de um paciente diabético, hipoteticamente poderíamos fazer um número extremamente grande de medidas se usássemos todo o sangue. O subconjunto da população selecionado para análise em ambos os casos é a amostra. Novamente, inferimos características da população a partir daquelas da amostra selecionada. 2.8 A MÉDIA DA POPULAÇÃO µ E A MÉDIA DA AMOSTRA Os estatísticos consideram útil saber diferenciar entre a média da amostra e a média da população. A média da amostra é a média aritmética de uma amostra limitada retirada de uma população de dados. Isto é, a média da amostra _ x é definida como a soma dos valores medidos dividida pelo número de medidas. A média da população µ, em contraste, é a verdadeira média para a população. Na ausência de erros sistemáticos, a média da população também é o valor verdadeiro para a quantidade medida. Para enfatizar a diferença entre as duas médias, particularmente quando N for pequeno, x difere de µ porque um pequeno número de dados pode não representar exatamente sua população. Na maioria dos casos não conhecemos µ e precisamos inferir seu valor a partir de _ x . A diferença provável entre x e µ decresce rapidamente à medida que o número de medidas que perfazem a amostra aumenta; normalmente, uma vez que N atinge 20 a 30, essa diferença é desprezível. A média da amostra é mostrada na equação 2.1. A equação 2.6, semelhante a equação 2.1, é usada para calcular a média da população: N x N i i (2.6) UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 18 onde: µ é a média da população xi é o valor de cada medida N é o número total de medidas para a população. 2.9 DESVIO PADRÃO DA POPULAÇÃO, O desvio padrão da população , que é uma medida da precisão de uma população de dados, é fornecido pela equação 2.7. N x N i i 1 2)( (2.7) Na ausência de erros sistemáticos, a área sob uma curva gaussiana, mostra o comportamento do desvio populacional 2.10 ÁREA SOB UMA CURVA GAUSSIANA A figura 2.4 mostra que, não obstante sua largura, 68,3% da área sob uma curva gaussiana, para uma população, estão contidos em um desvio padrão (±1) em relação à média µ. Assim sendo, aproximadamente 68,3% dos valores que constituem a população situam-se entre esses limites. Além disso, aproximadamente 95,4% de todos os dados estão dentro do intervalo de ±2 em relação à média e 99,7% estão dentro do intervalo de ±3. As linhas tracejadas verticais encontradas na Figura 2.4 revelaram as áreas limitadas pelos intervalos ±1, ±2 e ±3. Por conta das relações de áreas como essas, o desvio padrão para uma população de dados torna-se uma ferramenta útil de previsão. Por exemplo, podemos afirmar que existem 68,3% de chances de que a incerteza aleatória de qualquer medida não seja superior a ±1. De maneira similar, existem 95,4% de chances de que o erro seja menor que ±2 e assim por diante. O cálculo da área sob uma curva gaussiana é dado pela equação 2.8: dz e área z 2 2/2 (2.8) O resultado do cálculo da área, isto é, da integral para cada valor de . Figura 2.4. Área sob uma curva gaussiana (a) ±1, (b) ±2 e (c) ±3. (a) (b) (c) UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 19 Fonte: SKOOG et al (2006, p. 107-108) 2.11 DESVIO PADRÃO DA AMOSTRA E OUTRAS MEDIDAS DA PRECISÃO A equação utilizada na determinação do desvio padrão da população pode ser modificada quando for aplicada a uma pequena amostra de dados. Assim, o desvio padrão da amostra s é dado pela equação 2.9: 1 )( 1 2 _ N xx s N i i (2.9) Onde: N – 1, é o número de graus de liberdade. s representa uma estimativa imparcial do desvio padrão da população . O quadrado do desvio padrão é chamado de variância, s2 que também é usada para relatar a precisão dos dados. Uma outra forma de expressar a precisão é o desvio padrão relativo(RSD), equação 2.10. x s RSD (2.10) Esta medida é frequentemente expressa em percentagem e é conhecida como coeficiente de variação (CV), equação 2.11. x s CV 100 (2.11) A média de uma série de medidas, x , é uma estimativa mais confiável da média verdadeira, µ, do que a dada por uma única medida. Quanto maior o número de medidas, N, mais próxima do valor verdadeiro estará a média. A estimativa do desvio padrão da média, ou seja, o erro padrão da média absoluto é dado pela equação 2.12. N s s x _ (2.12) O desvio (erro) padrão da média relativo é dado pela equação 2.13. 100 x s s xRx (2.13) O espalhamento ou faixa, w, é outro termo usado para descrever a precisão de um conjunto de réplicas de resultados. É dado pela diferença entre o maior valor e o menor valor do conjunto. Exemplo 2.10: As análises de uma amostra de minério de ferro deram os seguintes resultados para o teor (%) de ferro: 7,08; 7,21; 7,12; 7,09; 7,16; 7,14; 7,07; 7,14; 7,18; 7,11. Calcule a média, o desvio padrão, o coeficiente de variação, o erro padrão da média UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 20 absoluto e relativo e a faixa destes resultados. Respostas: 7,13%; ±0,04%, 0,6%; ±0,01; 0,2%; 0,14%. Exemplo 2.11: Os seguintes resultados foram obtidos para réplicas da determinação de chumbo em uma amostra de sangue: 0,752; 0,756; 0,752; 0,751 e 0,760 ppm de Pb (partes por milhão). Calcule o desvio padrão, o coeficiente de variação e a faixa. R. S=0,004 ppm Pb 2.12 CONFIABILIDADE DE S COMO UMA MEDIDA DE PRECISÃO Vários testes estatísticos que são usados para testar hipóteses, a fim de produzir intervalos de confiança para resultados e para rejeitar dados anômalos. A maioria desses testes baseia-se no desvio padrão da amostra. A probabilidade de que esses testes estatísticos forneçam resultados corretos aumenta à medida que a confiabilidade de s se torna maior. À medida que N aumenta, para valores maiores que 20, s se torna uma estimativa melhor do desvio padrão da população, , e essas quantidades podem ser consideradas idênticas para a maioria dos propósitos. 2.13 COMBINAÇÃO DE DADOS PARA MELHORAR A CONFIABILIDADE DE S Se dispomos de vários subconjuntosde dados, podemos ter uma estimativa melhor do desvio padrão da população pela combinação dos dados do que usando apenas um conjunto de dados. Novamente, precisamos supor as mesmas fontes de erros aleatórios para todas as medidas. Essa consideração é geralmente válida se as amostras possuem composição similar e tenham sido analisadas exatamente da mesma forma. Também precisamos considerar que as amostras sejam aleatoriamente retiradas da mesma população e tenham assim um mesmo valor para s. A estimativa combinada de s, a qual chamamos scomb, é uma média ponderada das estimativas individuais. A equação 2.14 é usada para calcular o desvio padrão combinado scomb para t conjuntos de dados. t N k k N j j N i i comb NNNN xxxxxx s .... .....)()()( 321 1 2 1 _ 1 2 1 _ 1 2 1 _ 321 (2.14) Onde: N1 é o número de resultados contidos no conjunto 1, N2 é aquele do conjunto 2 e assim por diante. O termo Nt é o número total de conjuntos de dados que estão sendo combinados. Um grau de liberdade é perdido para cada um dos subconjuntos. Assim, o número de graus de liberdade para o s combinado é igual ao número total de medidas menos o número de subconjuntos. Exemplo 2.12: Os níveis de glicose são monitorados rotineiramente em pacientes que sofrem de diabetes. As concentrações de glicose em um paciente com níveis levemente elevados de glicose foram determinadas em meses diferentes por meio de um método UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 21 analítico espectrofotométrico. O paciente foi submetido a uma dieta com baixos teores de açúcar para reduzir os níveis de glicose. Os seguintes resultados em mg/L foram obtidos durante um estudo para determinar a eficiência da dieta: Mês 1 (1108, 1122, 1075, 1099, 1115, 1083, 1100); Mês 2 (992, 975, 1022, 1001, 991), Mês 3 (788, 805, 779, 822, 800); Mês 4 (799, 745, 750, 774, 777, 800, 758). Calcule a estimativa do desvio padrão combinado para o método. R: 19mg/L 2.14 DESVIO PADRÃO DE RESULTADOS CALCULADOS Quando estimamos o desvio padrão a partir de dois ou mais dados experimentais, cada qual com um desvio padrão da amostra conhecido, usamos as relações matemáticas apresentadas na Tabela 2.1. Exemplo 2.13: Considere os seguintes cálculos: a) +0,50(±0,02) +4,10(±0,03) – 1,97(±0,05) = b) )04,0(97,1 )0001,0(0050,0)02,0(10,4 c) )4,0(3,42)]51(1030)10(820[ )001,0(050,0)]2,0(6,11)2,0(3,14[ Tabela 2.1: Propagação de erros em cálculos aritméticos Fonte: SKOOG et al (2006, p.118) 2.15 REJEIÇÃO DE DADOS O cálculo de parâmetros estatísticos a partir de um conjunto de dados, tem, por si só, pouco valor. Na análise dos resultados deve-se levar em conta: (a) a confiabilidade dos resultados e (b) a comparação com o valor verdadeiro ou com outros conjuntos de dados. Um ponto importante é a rejeição de resultados. Um dado só pode ser rejeitado quando isto for sugerido pela aplicação de um teste estatístico adequado ou quando houve UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 22 uma razão química ou instrumental muito óbvia que justifique sua exclusão. Com frequência é preciso resistir à tentação de eliminar um resultado que “parece” ruim, sem justificativas plausíveis. Para rejeitar ou não um ou mais dados pode-se fazer uso do TESTE Q. O valor de Q pode ser calculado usando-se a equação 2.15. Esse valor é comparado com o valor de Q tabelado, Tabela 2.1. valormenorvalormaior próximomaisvalorsuspeitovalor Qcalc | (2.15) Se Qcalc>QTab, o valor suspeito deve ser rejeitado. Exemplo 2.14. A análise de cádmio em poeira deu como resultados: 4,3; 4,1; 4,0 e 3,2µg.g-1. (a)Verifique se algum resultado deve ser rejeitado com limite de confiança de 90%. (b) Se as mesmas medidas forem testadas para um limite de confiança de 95%, algum resultado deverá ser eliminado. (c) O analista resolve fazer mais 3 medidas, ficando com os seguintes resultados: 4,3; 4,1; 4,0; 3,2; 4,2; 3,9 e 4,0µg.g-1. Neste caso, algum resultado deve ser rejeitado com limite de confiança de 90%. Tabela 2.1. Coeficiente de Rejeição Q, com limite de confiança de 90% e 95%. Fonte: BACCAN et al (2004) Exemplo 2.15: Os seguintes resultados foram obtidos para réplicas da determinação de chumbo em uma amostra de sangue: 0,752; 0,756; 0,752; 0,751 e 0,860 ppm de Pb. Verifique se algum resultado deve ser rejeitado. Com limite de 95%. 2.16 LIMITES DE CONFIANÇA E INTERVALO DE CONFIANÇA Já foi visto que os erros indeterminados seguem a curva normal de distribuição. A análise estatística da curva, mostrada na Figura 2.4, revela que: 68 % das medidas estarão no intervalo ; 95 % das medidas estarão no intervalo ; 99,7 % das medidas estarão no intervalo. No de observações Q90% Q95% 3 0,94 4 0,76 0,83 5 0,64 0,72 6 0,56 0,62 7 0,51 0,57 8 0,47 0,52 9 0,44 0,49 10 0,41 0,46 UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 23 Na tabela 2.2. é mostrado os limites que encerram cada uma dessas áreas são chamados LIMITES DE CONFIANÇA e que o intervalo coberto pela área é o INTERVALO DE CONFIANÇA. Tabela 2.2: Dados da análise estatística da curva gaussiana Limite de Intervalo de Nível de Confiança Confiança Confiança 68 % 95 % 99,7 % Fonte: BACCAN et al (2001) Para um determinado nível de confiança: x, onde x é um fator que depende apenas do nível de confiança desejado. A Tabela 2.3 apresenta os valores de x. Tabela 2.3. Probabilidade de ocorrência de desvios em termos de x z=(Xi-µ)/ Probabilidade de um desvio menor que(±)z 0,0 0 1,0 68% 2,0 95,5% 3,0 99,7% Geralmente o intervalo de confiança de uma média é de maior interesse. O intervalo de confiança estima a faixa na qual a média verdadeira poderá ser encontrada. Os limites deste intervalo de confiança, conhecidos como limites de confiança, são dados pela equação 2.16. N z X (2.16) Essa equação só pode ser utilizada se o valor de é conhecido. Para um pequeno número de medidas, o fator z é substituído pelo fator t, conhecido como t de Student. A tabela 2.4 apresenta os valores de t para vários graus de liberdade e vários níveis de confiança. Para um determinado nível de confiança o intervalo de confiança é dado pela equação 2.17. N ts xparaIC (2.17) Onde: x é a média; t é um parâmetro que depende do número de graus de liberdade (N-1) e do nível de confiança desejado. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 24 Tabela 2.4. Valores de t de Student para vários níveis de probabilidade Fonte: SKOOG et al (2006, p 136) Exemplo 2.16: O teor de carboidratos de uma glicoproteína (proteína com açúcares fixados a ela) foi determinado como 12,6; 11,9; 13,0; 12,7 e 12,5g de carboidratos por 100 g de proteína através de análises repetidas. Calcule o intervalo de confiança de 50% e 90% para o teor de carboidrato. Para 4 graus de liberdade e um nível de confiança de 50% t= 0,741 Resolução: Para 50% = N ts xparaIC = 34 0 4 1,05,12 5 )4,0)(741,0( 5,12 paraIC Conclusão: Isto significa que existe 50% de confiança de que o valor verdadeiro, µ, do teor de carboidratos na glicoproteína está no intervalo 12,54±0,11 ou seja, a média real está dentro do intervalo 12,41 e 12,67g. Exemplo 2.17: A média de 5 observações do teor de Cl- em uma água potável é 29 ppm com um desvio padrão de 3,4 ppm. Quais os limites confiança da média a 95 %? Exemplo: 2.18: Um químico obteve os seguintes dados para o teor alcoólico de uma amostra de sangue: % de C2H5OH: 0,084;0,089 e 0,079. Calcule o intervalo de confiança a 95%. 2.17 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS A comparação dos valores de um conjunto de resultados com o valor verdadeiro ou com os valores de outros conjuntos de resultados permite verificar a exatidão e a precisão do método analítico, ou se ele é melhor do que outro, podendo assim, ajudar na escolha do método. Para comparar resultados dois métodos estatísticos muito usados são: t de Student e teste F. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 25 2.18 TESTE T DE STUDENT Este teste é usado para amostras pequenas. Seu propósito é: 1. Comparar a média de uma série de resultados com um valor de referência e exprimir o nível de confiança associado ao significado da comparação; 2. Testar a diferença entre as médias de dois conjuntos de resultados, 1x e 2x . O valor de t, para comparar a média com um valor de referência, é obtido através da equação 2.18. s Nx tcal (2.18) Onde: µ é o valor verdadeiro (valor de referência); x é a média das medidas; N é número de medidas; s é o desvio padrão O valor encontrado é relacionado a um conjunto de valores de t tabelado (Tabela 2.4), nas quais se expressa a probabilidade P do valor de t estar dentro de certos limites de confiança. Se tcalculado > ttabelado os resultados são considerados diferentes, isto é, a diferença é significativa. Exemplo 2.19: A média de 12 determinações é 8,37 e o valor verdadeiro é 7,91. Verifique se este valor é significativo para um desvio padrão igual a 0,17% . R: 9,37 O valor de t, para testar a diferença entre as médias de dois conjuntos, é obtido pela equação (teste t normal): 21 2121 nn nn s xx t comb cal (2.19) Lembrando que scomb é dado pela equação 2.14, que quando ajustada para dois conjuntos de dados é reescrita como a equação 2.14a. 2 )1()1( 2 )()( 21 2 2 1 2 1 21 1 2 2 1 2 1 21 NN nsns NN xxxx s s N j j N i i comb (2.14a) Exemplo 2.20: A massa média de um gás, obtido do ar, é de 2,31011±0,000143( para N1=7 medidas). A massa média do gás, obtido de fontes químicas, é 2,29947±0,00138 (N2=8 medidas). No nível de confiança de 95% os dois resultados são considerados diferentes? R: 20,2. Uma outra forma de testar a diferença entre as médias de dois conjuntos, usar o teste t para dados pareados, esse teste usa o mesmo procedimento do teste t normal, exceto que analisa pares de dados. O valor de t para dados pareados pode é obtido pela equação 2.20. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 26 Ns d t d calc 0 __ (2.20) Onde: __ d é a diferença média igual a Ndi ; ds é o desvio padrão da diferença; 0 - a hipótese nula, frequentemente igual a zero. Exemplo 2.21: Um novo procedimento automático para a determinação de glicose em soro sanguíneo (Método A) será comparado com o método estabelecido (Método B). Ambos os métodos são realizados em amostras de sangue dos mesmos pacientes para eliminar variabilidades entre os pacientes. Os resultados que seguem confirmam uma diferença entre os dois métodos em um nível de confiança de 95%? R: 4,628 Conclusão: como tcalc>tTab (2,57) para um nível de confiança de 95%, concluímos que as médias são diferentes, isto é, os métodos fornecem resultados diferentes. Exemplo 2.22: Aplique o teste t normal para calcular se há diferença entre as médias dos resultados dos dois métodos do Exemplo 2.21. R. 0,176. Conclusão: como tcalc<tTab (2,23) para um nível de confiança de 95%, concluímos que as médias não são diferentes, isto é, os métodos fornecem resultados semelhantes. Observação: O uso do teste t pareado permite focalizar nas diferenças, nesse caso especifico, a grande variabilidade dos resultados do teor de glicose entre os pacientes mascara as diferenças de interesse entre os métodos. 2.19 TESTE F Para comparar as variâncias (ou desvios padrão) de duas populações, um teste estatístico simples, chamado de teste F, pode ser utilizado. Por exemplo, o teste t normal demanda que os desvios padrão dos conjuntos de dados, que estão sendo comparados, sejam iguais. O teste F pode ser utilizado para avaliar essa consideração sob a condição de que as populações sigam uma distribuição normal (gaussiana). Ele também é empregado na comparação de mais de duas médias de populações. Os métodos usados para múltiplas comparações estão contidos na categoria geral da análise da variância, muitas vezes conhecida pelo acrônimo ANOVA. O teste estatístico básico usado pela ANOVA é o F. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica – Erros e tratamento de dados analíticos 27 Através do teste F podemos saber se dois desvios-padrão são “significativamente” diferentes entre si. F é o quociente entre os quadrados dos desvios-padrão: 2 2 2 1 s s Fcalc (2.20) Se Fcalc > Ftab então a diferença é significativa. O desvio-padrão maior é sempre o numerador, de modo que F1. Os valores de Ftab são mostrados na Tabela 2.5. Observe que são fornecidos dois graus de liberdade, um associado ao numerador e outro associado ao denominador. Exemplo 2.23: Um método padrão usado na determinação dos níveis de monóxido de carbono (CO) em misturas gasosas é conhecido, a partir de centenas de medidas, por ter um desvio padrão de 0,21 ppm de CO. Uma modificação do método gera um valor de s de 0,15 ppm de CO para um conjunto de dados combinados, com 12 graus de liberdade. Uma segunda modificação, também baseada em 12 graus de liberdade, tem um desvio padrão de 0,12 ppm de CO. Ambas as modificações são significativamente mais precisas que o método original? A precisão da segunda modificação é significativamente melhor que a da primeira? R: 1,96; 3,06; 1,56 Tabela 2.5: Valores críticos de F para um nível de confiança de 95% Fonte: SKOOG et al (2006, p. 147) UFAM/ICET – Química Analítica Clássica –Soluções aquosas de substâncias inorgânicas 28 CAPÍTULO 3: SOLUÇÕES AQUOSAS DE SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS 3.1 INTRODUÇÃO No nosso dia-a-dia encontramos muitas substâncias químicas. Muitas delas como misturas homogêneas, isto é, seus componentes estão misturados uniformemente no nível molecular. Misturas homogêneas são chamadas de soluções. As soluções podem ser gases, líquidos ou sólidos. Cada uma das substâncias em uma solução é chamada de componente da solução. Normalmente, o componente em maior quantidade é o solvente, e os demais componentes são chamados de soluto. Neste capítulo nos deteremos principalmente nas soluções líquidas, particularmente, as soluções aquosas de substâncias iônicas por sua importância na química e no dia-a-dia. Exemplos de soluções formadas por: gás e líquido: refrigerantes, água com gás líquido e líquido: álcool comercial, água oxigenada sólido e líquido: soro fisiológico ( sal e água), água sanitária (hipoclorito de sódio e água) A água por ser o solvente mais utilizado é conhecido como solvente universal. As soluções onde a água é o solvente são chamadas de soluções aquosas. 3.2 CLASSIFICAÇÃO DA SOLUÇÃO DE ACORDO COM A SOLUBILIDADE Quando um soluto sólido começa a se dissolver num solvente, a concentração de partículas do soluto na solução aumenta, bem como as chances de colidir com a superfície do sólido. Essa colisão pode fazer com que a partícula do soluto se religue ao sólido. Esse processo, que é o oposto da dissolução é chamado de cristalização. Desse modo, dois processos opostos ocorrem em uma solução em contato com um soluto não dissolvido. Quando as velocidades desses processos opostos tornam-se iguais, um equilíbrio dinâmico é estabelecido. Uma solução em equilíbrio com o soluto não dissolvido é saturada. A quantidadede soluto necessária para formar uma solução saturada em certa quantidade de solvente é conhecida como solubilidade. Por exemplo, a solubilidade do NaCl em água a 0oC é 35,7g por 100ml de água. Essa é a quantidade de NaCl que se dissolverá, sob essas condições, formando uma solução estável. A solução obtida é denominada de solução saturada, pois contém a máxima quantidade de soluto dissolvida numa dada quantidade de solvente a uma determinada temperatura. Se adicionarmos mais NaCl, este não se dissolverá e depositar-se-á no fundo do recipiente onde a solução estiver contida. A parte não dissolvida é chamada de corpo de fundo ou corpo de chão. Uma solução de NaCl que contenha menos de 35,7g de NaCl em 100 ml de água a 0oC é denominada de solução insaturada porque tem a capacidade de dissolver mais soluto. As soluções insaturadas são estáveis. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica –Soluções aquosas de substâncias inorgânicas 29 As soluções que contém maior quantidade de soluto do que é necessário para formar uma solução saturada são chamadas de supersaturadas. Por exemplo, se adicionarmos uma quantidade maior do que 35,7 g de NaCl em 100 ml de água sob aquecimento e agitação, é possível que todo o soluto se dissolva, porém essa solução é instável. 3.3 FORMAS DE EXPRESSAR A CONCENTRAÇÃO DAS SOLUÇÕES A concentração é sempre, qualquer que seja a forma de expressão adotada, uma relação entre as quantidades de soluto e solvente. A concentração pode ser expressa qualitativamente ou quantitativamente. Os termos diluída e concentrada são usados para descrever uma solução qualitativamente. Quando a solução é diluída significa que há uma pequena quantidade de soluto, por outro lado, quando o soluto está em grande quantidade a solução é concentrada. Há várias formas de expressar quantitativamente a concentração das soluções. Aqui serão apresentadas: concentração comum, percentagem em massa, concentração em quantidade de matéria (molaridade) e concentração normal. 3.3.1 Concentração comum Indica a massa do soluto presente num determinado volume de solução. É dada pela equação 3.1. V m C (3.1) Onde: m = massa do soluto V = Volume da solução Unidades de volume: L, ml, cm3, dm3, dl Lembrando que: 1 l = 1dm3= 1000 ml = 1000 cm3 Exemplo 3.1: Ao abrir o resultado de um exame de sangue realizado num laboratório de análises clínicas, o paciente encontra a seguinte informação: Glicose, soro (Método Enzimático glicose-oxidase) RESULTADO VALORES DE REFERÊNCIA 87mg/dL 75 a 110mg/dL Qual o significado do resultado? Exemplo 3.2.: Ao preparar um copo suco de fruta de 200 ml foi usado adoçante. Verificou- se que no suco preparado continha 58mg de aspartame. Qual a concentração de aspartame no suco (a) mg/ml (b) mg/l (c) g/l (d) g/ml? Exemplo 3.3.: O oxalato de cálcio, CaC2O4, é encontrado nas folhas de espinafre, nas sementes de tomate, e é um dos constituintes das pedras formadas nos rins (cálculo renal). Uma amostra de 25cm3 de uma solução aquosa de oxalato de cálcio contém 0,2625g desse sal. Qual é a concentração em g/ml do oxalato de cálcio na solução? UFAM/ICET – Química Analítica Clássica –Soluções aquosas de substâncias inorgânicas 30 Não confundir concentração comum, C, com Densidade, d. A densidade não expressa a concentração, pois ela relaciona a massa da solução com o volume da solução. Em geral a densidade é expressa em g/ml, sendo calculada pela equação 3.2. v m d (3.2) Onde: m= massa da solução V= volume da solução. Exemplo 3.4.: Qual a diferença entre concentração e densidade? Exemplo 3.5.: Foram preparados 200 ml de soro caseiro, dissolvendo-se 2,0 g de sal em 200g de água. Calcule a densidade e a concentração da solução em g/l. 3.3.2 Percentagem em massa, ppm e ppb O título, , de uma solução relaciona a massa do soluto com a massa da solução. E é calculada pela equação 3.3. m m1 (3.3.) Onde: m1 = massa do soluto m é a massa da solução = m1 + m2 (massa do solvente) O título , de uma solução onde o soluto e o solvente são líquidos, relaciona o volume do soluto com o volume da solução. Assim obtemos a equação 3.4. 21 1 VV V (3.4) A percentagem em massa ou em volume (P) é obtida através da equação 3.5 pela multiplicação do título, , por 100. P = x 100 (3.5) Assim, uma solução de ácido clorídrico que é 36% de HCl em massa contém 36g de HCl para cada 100g de solução. Do mesmo modo, a gasolina que é uma mistura contendo dentre outros substâncias 24% em volume de álcool anidro, contem 24 ml de álcool anidro em 100 ml de amostra. As concentrações de soluções muito diluídas são expressas em partes por milhão, ppm, definida pela equação 3.6. 6 21 1 10x mm m ppm (3.6) Assim, 1ppm corresponde a 1mg do soluto por 1kg de solução (mg/kg). Como a densidade da água é 1g/ml, 1kg de solução aquosa diluída terá um volume muito próximo a 1l. Assim 1ppm também corresponde a 1mg de soluto por 1l de solução (mg/l). UFAM/ICET – Química Analítica Clássica –Soluções aquosas de substâncias inorgânicas 31 Para soluções ainda mais diluídas, usa-se o partes por bilhão, ppb. O ppb é dado pela equação 3.7. 9 21 1 10x mm m ppb (3.7) Assim: 1ppb = 1µg/l Exemplo 3.6.: (a) Calcule a percentagem em massa de NaCl em uma solução contendo 1,50g de NaCl em 50,0g de água. (b) Uma solução alvejante comercial contém 3,62% em massa de hipoclorito de sódio(NaClO). Qual é a massa de NaClO em uma garrafa contendo 2.500g de solução alvejante. R. 2,91%; 90,5g de NaClO 3.3.3 Concentração em quantidade de matéria ou concentração molar (molaridade) É a quantidade em mols do soluto presente num determinado volume da solução, expresso em litros. A equação 3.8 define a molaridade. V n C , a unidade é o mol.l-1 (3.8) Onde n = quantidade de matéria do soluto, número de mols, dado pela equação 3.9. MM m n (3.9) Onde: m = massa do soluto; MM = massa molar V = volume da solução Usaremos a letra M para diferenciar a concentração comum, C, da concentração molar, M. Portanto, reescrevendo a equação 3.8 temos: V n M (3.8a) Exemplo 3.7.: Se numa análise de sangue constata-se a presença de 345mg de sódio em 100ml de plasma. Qual a concentração em mol/l? R. 0,15 mol.l-1 Exemplo 3.8.: O Soro fisiológico contém 0,900g de NaCl em 100ml de solução. Qual a concentração em mol/l? R. 0,151 mol.l-1 3.3.4 Relação entre concentração comum, título, densidade e concentração molar Relacionando as equações 3.2, 3,3, 3.5 e 3.8a encontramos a equação 3.10. MM dP M 10.. (3.10) Exemplo 3.9.: O ácido acético no vinagre é aproximadamente 3% em massa. Sabendo-se que a massa molecular do ácido acético é 60g/mol e que a densidade é 1,0g/ml. Qual a concentração molar do ácido acético no vinagre? R. 0,50mol.l-1. UFAM/ICET – Química Analítica Clássica –Soluções aquosas de substâncias inorgânicas 32 Exemplo 3.10.: Foi utilizado 41,0ml de solução de ácido sulfúrico concentrado (d=1,83g.ml-1 e 93,2% em massa) para preparar um 1l de solução. Qual a concentração em quantidade de matéria da solução preparada? R. 0,713mol.l-1 Exemplo 3.11.: Qual a massa de NaOH necessária para preparar 500ml de uma solução 0,2mol.l-1? R. 4g Exemplo 3.12.: Partindo da solução anterior, (a) que volume será usado para preparar 100 ml de uma solução 0,1 mol.l-1? (b) Qual a massa de NaOH presente nesta solução? R. 50ml; 0,4g 3.3.5 Concentração Normal ou normalidade Expressa o nº de equivalentes, no eq., do soluto contidos em 1 L (: n. eq.l-1) de solução ou o número de miliequivalentes (n. meq/ml). A concentração Normal é da pela equação 3.11 )( . º lV eqn N ou )( .º mlV meqn N (3.11) Onde:
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