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CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 1 APRESENTAÇÃO Olá. Permita-me fazer uma breve apresentação. Sou o professor Ronald A. Sharp Junior. Ministro a disciplina Direito Comercial (ou Direito Empresarial ou da empresa, por influência do novo Código Civil). Minha preparação de candidatos para concursos públicos já vem de algum tempo, quando iniciei essa atividade em 1995, no Rio de Janeiro. Além de Direito Comercial, também leciono pontos de Direito Civil e de Direito do Consumidor e publiquei, entre outros, os livros Direito Civil Questões com Gabarito Anotado, Aulas de Direito Comercial e de Empresa ambos da editora Impetus/Campos Elsevier, e Código de Defesa do Consumidor Anotado, da editora Forense Universitária. Também obtive boa experiência no árduo desafio dos concursos: 1º lugar para advogado da CAEMPE – Companhia de Águas e Esgotos do Município de Petrópolis (1992), 1º lugar para advogado do BNDES (1992) e Auditor-Fiscal do Trabalho (1995), cargo que exerço até hoje. O domínio da matéria comercial tem sido um diferencial competitivo nos concursos, já que a disciplina costuma ser cobrada nos concursos para as diferentes carreiras de auditoria, de técnicos e analistas, de consultor legislativo, sem contar aquelas das áreas exclusivamente jurídicas, como juiz, promotor, procurador e defensor, mas normalmente os candidatos a ela não se dedicam com a necessária atenção. Como muitos concursos exigem média mínima em cada matéria, não raro os candidatos conseguem boa pontuação em Direito Constitucional e em Direito Administrativo, por exemplo, mas não conseguem a aprovação justamente pela falta de conhecimento e estudo do Direito Comercial. Isto agora é passado e a sua decisão de iniciar o curso lhe capacitará a superar a matéria e “desfilar” no concurso. Contará para o seu aproveitamento, e muito, a simpatia ou inclinação pela matéria. O Direito Comercial não costuma ter muita ênfase em seu estudo, nem mesmo nas Faculdades de Direito, que se dirá de outros círculos. Por isso, quando se tem que estudá-lo, a maioria (a maioria mesmo) sente enorme aversão. O maior ou menor contato anterior com a matéria tem enorme influência. O Estilo de redação da aula é algo muito subjetivo, pois conhecemos escritores consagrados que agradam a uns e que são simplesmente rejeitados por outras pessoas. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 2 Saiba que quando invocamos a lição de renomados juristas é para darmos peso e autoridade à nossa exposição. É um requisito de cientificidade. A adjetivação a eles serve para amenizar a aspereza do texto, tornando-o mais humano e suscetível aos naturais pendores do temperamento de cada pessoa. É comum gostarmos mais de um ou outro professor ou escritor em que nós nos fundamentamos. A seqüência das aulas acompanha a ordem encontrada nos programas dos concursos, que, aliás, adotam o encadeamento tradicionalmente dado pelas obras doutrinárias e pela disposição das matérias no novo Código Civil, cujos artigos passaram a contemplar a disciplina empresarial. Tudo será apresentado e examinado com um toque amigável e de proximidade, entremeado de perguntas e do desafio de responder a algumas questões reais de concursos. As notas e comentários sobre as questões aparecerão no final de cada aula, para que você tenha a oportunidade de se esforçar para responder corretamente, mas sem ser influenciado pelas explicações. Mas não imagine que teremos durante o curso uma quantidade enorme que questões a serem resolvidas. A razão é simples: nem todos os concursos cobram o direito comercial e, entre os que incluem a disciplina, nem sempre os conteúdos programáticos coincidem ou têm o mesmo foco. Além disso, o Código Civil entrou em vigor em 2003, a nova Lei de Falências, em junho de 2005. Ainda não temos um considerável estoque de questões de concursos que contemple as matérias de acordo com essas novas leis, que alteraram profundamente diversos institutos, inclusive a parte geral os títulos de crédito. Todo o direito societário do Cód. Comercial foi reescrito, todo o direito falimentar foi reformulado, alguns contratos tipicamente mercantis passaram a ser tratados no novo Código Civil. Deixando isso de lado, vamos ser mais específicos e examinar o como o nosso conteúdo programático está dividido: Aula Demonstrativa - Conceito de Direito Comercial e Empresário Conceito de Direito Comercial ou Empresarial Fontes do Direito Comercial Autonomia do Direito Comercial Períodos do Direito Comercial Empresário – conceito, requisitos e impedimentos Auxiliares dos Empresários Atividades Econômicas não empresárias Aula 1 - Elementos da Empresa CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 3 Nome Empresarial Estabelecimento Propriedade Industrial Aula 2 - Obrigações do Empresário Registro Livros Descaracterização do valor probante dos livros Crimes relacionados à contabilidade Balanço Conservação de documentos Aula 3 – Teoria Geral do Direito Societário Noções Gerais Classificação Desconsideração da personalidade jurídica Aula 4 – Sociedades no Código Civil Espécies de Sociedades Dissolução e Liquidação Regras societárias da Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas (Lei Complementar 123/06) Relacionamento entre sociedades Aula 5 - Sociedades por Ações Características Gerais Valores Mobiliários Direitos Essenciais dos Acionistas Órgãos Sociais Responsabilidade dos Administradores Reestruturação Societária Resultados Sociais Aula 6 - Títulos de Crédito I Teoria Geral Aval e Fiança CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 4 Endosso e Cessão de Crédito Aula 7 - Títulos de Crédito II Letra de Câmbio Nota Promissória Duplicata Cheque Protesto Aula 8 – Falência e Recuperação Noções Gerais Princípios da Falência Caracterização do Estado Falimentar Efeitos da Falência Classificação dos Créditos Extinção das Obrigações Espécies de Recuperação Objetivo da Recuperação Excluídos da recuperação Período de Observação Meios de Recuperação Crimes Falimentares Aula 9 - Regimes Saneadores das Instituições Financeiras Liquidação Extrajudicial Intervenção Administração Especial Temporária (RAET) Aula 10 - Direito Empresarial Contratual Princípios da Teoria Geral dos Contratos Mercantis Espécies de Contratos Mercantis Aplicabilidade do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor Comércio Eletrônico Bem, agora visualizado o programa talvez você tenha ficado um pouco assustado com tantos temas novos ou ainda não aprofundados em seus estudos particulares feitos até aqui. Mas não se alvoroce nem se preocupe. Provavelmente seu contato com o Direito Comercial é certamente maior do que você imagina, mais até do que CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 5 com o Direito Civil, pois, como disse o jurista francês Georges Ripert, é mais fácil alguém praticar uma atividade bancária do que precisar dos serviços de um tabelião ou notário para lavrar uma escritura. Isto é fruto da comercialização do Direito Civil, progressivamente impregnado do Direito Comercial, fenômeno que será abordado em nossas aulas. Venha conferir ! CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 6 AULA DEMONSTRATIVA – CONCEITO DE DIREITO COMERCIAL E EMPRESÁRIO SUMÁRIO 1.1 Conceito de Direito Comercial 1.1 Fontes do Direito Comercial 1.2 Autonomia do Direito Comercial 1.3 Períodosdo Direito Comercial 1.4 Empresário – conceito e requisitos 1.5 Auxiliares dos Empresários 1.6 Atividades Econômicas não empresárias Conceito de Direito Comercial Sem querer parecer muito acadêmico, mas apenas dar um tratamento técnico-científico, logicamente encadeado, aos assuntos que serão enfrentados, é bom dizer que todo o conhecimento humano se inicia com a formação dos conceitos.1 Já que é assim, então vamos logo aos conceitos de Direito Comercial ! O Direito é dividido em dois grandes ramos: direito público e direito privado. No Direito Romano já se fazia a distinção entre o direito público e o direito privado. Segundo a Teoria dos Interesses Protegidos, de Ulpiano, o direito público é aquele que concerne ao Estado romano e o direito privado o referente aos interesses dos indivíduos. Na realidade, atualmente se contesta esta suprema divisão (summa divisio), uma vez que o fenômeno jurídico é unitário, sem compartimentos estanques estruturais, possuindo as mesmas fontes e sujeito aos mesmos métodos e características de universalidade, coercibilidade (é assim mesmo que se escreve) e legitimidade. Não encontramos norma isolada, fora do contexto total do direito, o qual, por isso mesmo, deve ser examinado em sua perspectiva global. A divisão tem, portanto, cunho tão-somente didático. Consideraremos para fins didáticos que o direito público regula as relações entre os Estados, a organização e o funcionamento dos Estados e as relações entre o Estado e o indivíduo, este considerado como súdito, como cidadão. 1 Cf. Antônio Joaquim Severino, Metodologia do Trabalho Científico. 22ª edição. São Paulo: Cortez, 2002, p. 188. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 7 No direito público o Estado age na condição de titular da relação jurídica, como sujeito de direito, qualificando-se por sua supremacia de poder. Quando o Estado condena alguém, impõe o pagamento de tributo etc, realiza apreensões de bens, restringe direitos, o faz na condição de sujeito de direito ocupando uma posição marcada pela característica de soberania. A seu turno, o direito privado regula as relações dos particulares entre si, como membros de uma sociedade civil, sem cogitar de qualquer superioridade jurídica. Nesse sentido, mesmo que seja o Estado emitindo um cheque ou comprando um imóvel, a relação jurídica será regida pelas normas do direito privado, porque não estará, aí, praticando ato em posição desnivelada em relação aos particulares. Podemos então dizer: Direito Comercial é o ramo do direito privado que disciplina as atividades dos empresários e dos atos de empresa. Antes do novo Código Civil (NCC), de 2002, o Direito Comercial constituía a disciplina das atividades dos comerciantes e dos atos de comércio. Repare como autores tradicionais apresentavam o conceito de Direito Comercial antes do novo Cód. Civil. O professor Theophilo de Azeredo Santos reuniu alguns deles:2 J. X. Carvalho Mendonça: “o complexo de normas que regulam as relações provenientes da prática de atos de comércio e os direitos e obrigações das pessoas que exercem profissionalmente esses atos – comerciantes e seus auxiliares”. Waldemar Ferreira: ”É o sistema de normas reguladoras das relações entre os homens, constituintes do comércio ou dele emergentes”. João Eunápio Borges: É complexo de normas jurídicas que regulam as relações privadas das indústrias e atividades que a lei considera mercantis, assim como os direitos e obrigações das pessoas que profissionalmente as exercem”. Por que tanto se falava, e ainda se fala a título comparativo, dos atos de comércio? Qual é a sua importância ? Na minha época de faculdade, parecia que a professora nunca mais deixaria de falar nos atos de comércio. Compreendo agora que a explicação está em que os atos de comércio determinavam a matéria mercantil, porque só se considerava mercantil aquilo que correspondesse à noção de ato de comércio. O passo logicamente seguinte era caracterizar o comerciante como aquele que fazia da prática desses atos profissão habitual, com intuito de lucro (revogado art. 4º do Cód. Comercial). Era um sistema que se baseava no Cód. Comercial francês de 1.807 e utilizado com pequenas variações em quase todo o mundo ocidental. 2 Manual de Direito Comercial. 3ª ed.. Rio de Janeiro: 1970, p. 13. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 8 Assim, para saber se alguém era comerciante era preciso ter presente a descrição de atos de comércio dada pelo Regulamento 737/1850, cujo art. 19 arrolava os atos de comércio típicos, subjetivos ou por natureza. Tais atos, praticados de forma habitual, permanente, profissional e com fins lucrativos atribuíam ao seu autor a qualidade de comerciante. Raciocinando- se por exclusão, todos os que não praticassem profissionalmente esses atos continuavam no exercício de uma atividade civil. O conceito de atos de comércio era empírico, prático, casuístico, examinado caso a caso, porque não se tem uma noção científico-doutrinária para estabelecer universalmente o que é ato de comércio. Cada sistema legislativo pode atribuir comercialidade (é assim mesmo que se escreve) a certos atos. Daí a razão pela qual essa teoria é tão combatida, faltando-lhe uma compreensão lógica e demonstrável a partir de premissas gerais. Por isso, a teoria dos atos de comércio foi substituída pela teoria da empresa, não importando a natureza intrínseca do ato para identificar o agente econômico e as normas que lhe são próprias,, mas sim o exercício profissional da atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens ou serviços. A organicidade é que passou a contar, e não a categorização de certos atos. Verificou-se a alteração do critério de delimitação do objeto do Direito Comercial, que deixa de estar baseado no sistema francês dos atos de comércio e passa a considerar como núcleo central a empresa, vale dizer, a atividade produtiva exercida organizadamente. A categoria fundamental do Direito Comercial reside agora na empresa. É dela que partem os institutos, princípios, noções essenciais desse ramo do direito. Na exposição de motivos ao novo Código Civil, escreve Miguel Reale que o tormentoso conceito de ato de comércio é substituído pelo de empresa, assim como o de fundo de comércio cede lugar ao de estabelecimento. Do mesmo modo, empresa pode ser exercida pelo empresário pessoa física ou por uma pessoa jurídica (sociedade empresária). Com o novo Código, todas as sociedades são grupamentos de pessoas para fins econômicos, mas se distinguem em simples e empresárias pelo critério do modo de seu exercício. Atualmente, o que cabe observar é a presença da organização de diversos fatores de produção: mão-de-obra; tecnologia; capital relevante, insumos. Se estiverem organizados sistematicamente, perfazem a caracterização de empresa e de empresário, seja como pessoa física ou jurídica. A empresa, independentemente da matéria de seu objeto, é unidade técnica de produção. Segundo Carvalho de Mendonça,3 a “Empresa é a organização técnico-econômica que se propõe a produzir mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados 3 Direito Comercial Brasileiro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos. 1930, p. 492. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 9 à troca (venda), com esperança de realizar lucros, correndo os riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob a sua responsabilidade”. O empresário é aquele que se interpõe, quefica numa posição de intermediário, entre os fatores de produção e o mercado. Para Raquel Sztajn,4 “A intermediação, origem do direito comercial, não é mais importante por si; interessa a intermediação vinculada à produção em massa, a produção para mercados, a intermediação em mercados, com o que é formada uma teia de relações contratuais, negócios dos mais variados tipos”. O que o novo Código Civil realça é a idéia “atividade”, isto é, uma série de atos variados, coordenados e unificados em razão do mesmo objetivo global, abandonando a visão da simples prática repetida de certos atos previamente catalogados na lei. Preste bastante atenção para expressões como “atividade”, organização”, “organicidade”, que aparecem em questões de concursos, pois todas enfatizam a idéia de superação do conceito de atos de comércio em favor uma atividade estável e impessoal de organização dos fatores produtivos. Mais uma coisa: como se denomina corretamente esse ramo do Direito privado ? Muitos consideram que o certo seria Direito Empresarial. Outros mencionam Direito de Empresa ou dos Negócios. Pessoalmente, apoiado no texto constitucional (CR/88, art. 22, inc. I), prefiro a nomenclatura Direito Comercial, porque assim consta na Constituição, nas linhas de pesquisa de programas de pós-graduação e prevalece na Itália, país que nos serviu de inspiração para o NCC. Na realidade, a questão da nomenclatura é pouco relevante, ganhando destaque o conteúdo da disciplina e premissas em que se baseia, sobre o que terá que se debruçar o estudioso. 1º DESAFIO (ESAF-2004) A recepção do instituto empresa pelo Código Civil resultará em: a) retornar a discussão sobre ato de comércio como intermediação na circulação de mercadorias. b) realçar a idéia de atividade sobre a de ato. c) incorporar novos ofícios e profissões ao campo do direito mercantil. 4 A Teoria Jurídica da Empresa. São Paulo: Atlas. 2004, p. 14-15 CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 10 d) extremar atividades empresariais e não empresariais. e) criar novo sistema de análise da atividade econômica. Embora pouco comentado, ajudar a entender o assunto que o Livro II relativo ao Direito de Empresa no Código Civil era denominado, na versão original do Anteprojeto, “Da atividade negocial”, uma vez o regime jurídico de atividade é distinto daquele de simples atos independentes. Na Parte Geral do NCC, encontramos a disciplina do negócio jurídico para aquelas declarações de vontade isoladas, não relacionadas entre si. Mas quando se trata de um conjunto de atos praticados diuturnamente, interdependentes e dirigidos a uma mesma finalidade, delineia-se a “atividade”, cuja regulamentação é dada pelo Livro do NCC dedicado à empresa. Acabou que o Livro II da Parte Especial passou a indicar, na sua denominação, apenas uma parte do que compreende o seu objeto total, que inclui as atividades econômicas tanto empresárias quanto as não empresárias. Segundo Miguel Reale, ocorreu a figura lingüística da sinédoque, uma espécie de metonímia, que toma o todo pela parte. Isso explica o porquê de o “Direito de Empresa” disciplinar o empresário individual, a sociedade empresária e a sociedade simples, que não possui natureza empresarial. No relatório da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal que aprovou o projeto da nova Lei de Falências e de Recuperação das Empresas, o relator Senador Ramez Tebet destacou a necessidade maior de preservar a atividade empresarial, separando os conceitos de empresa e de empresário. Afirmou o relator: “Não confundir a empresa com a pessoa natural ou jurídica que a controla. A empresa é o conjunto organizado de capital e trabalho para a produção ou circulação de bens ou serviços. Assim, é possível preservar uma empresa, ainda que haja a falência, desde que se logre aliená-la a outro empresário ou sociedade que continue sua atividade em bases eficientes”. Aliás, é no sentido de atividade que a Lei das S/A prevê o atendimento da função social da empresa (art. 116, § único). Do ponto de vista econômico, a empresa possui um conceito unitário, cujos contornos são informados pela teoria econômica. Mas, sob o enfoque jurídico, a doutrina aceitou amplamente a tese do professor italiano Alberto Asquini,5 que em 1943 considerou a empresa um fenômeno jurídico poliédrico, de diversos lados, facetas ou perfis. Praticamente todos os autores de obras de Direito Comercial mencionam a teoria de Asquini, a qual passou a ser um referencial na noção jurídica de empresa e que muito inspirou o Código Civil de 2002. Recomenda-se ao candidato por uma certa ênfase na compreensão das idéias expressadas por Asquini. 5 O artigo intitulado Os perfis da empresa, do prof. Asquini, foi traduzido pelo prof. Fábio Konder Comparato e publicado na Revista de Direito Mercantil nº 104. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 11 Nessa conjuntura, a empresa pode ser estudada sob o perfil subjetivo (titular da empresa), identificando o empresário e os requisitos para ser empresário, o que inclui a sociedade empresária (arts. 966 e 982 do NCC), pelo perfil objetivo ou patrimonial a significar o conjunto de bens utilizado pelo empresário ou pela sociedade empresária para o exercício de sua atividade – o estabelecimento (art. 1.142 do NCC). A empresa pode também ser identificada sob o perfil funcional, ou seja, a empresa é o exercício de uma atividade (um complexo de ações coordenadas voltadas para a mesma finalidade) de produção ou circulação de bens ou serviços, economicamente organizados (art. 1.044 do NCC). É justamente a preservação da atividade empresarial a razão de ser e o objetivo da nova Lei de Falências e de Recuperação. Além destes aspectos, há também o perfil corporativo ou institucional, uma vez que o empresário é aquele que organiza, ordena a mão-de-obra e utiliza o capital para exercer suas atividades (art. 1.169 do NCC). Logo, a empresa não é apenas o profissional individual que sozinho pratica atos de comércio. Deve-se encará-la como uma organização formada não só pelo titular, mas também pelos diferentes vínculos mantidos com seus colaboradores (prepostos, auxiliares ou colaboradores). Para o professor Fábio Ulhoa Coelho,6 “O empresário, no exercício da atividade empresarial, deve contratar empregados. São estes que, materialmente falando, produzem ou fazem circular bens ou serviços”. A seu turno, na mesma linha ensina o professor italiano Alfredo Rocco,7 em obra escrita no início do século passado: “E agora podemos concluir. Em todos os atos que o Código [italiano] qualifica de empresas achamos que o elemento específico constitutivo da empresa, no sentido do código, é o fato da organização do trabalho de outrem... Segundo o código, apenas temos empresa (...) quando a produção é obtida mediante o trabalho de outros, ou por outras palavras, quando o empresário recruta o trabalho, organiza–o , fiscaliza–o, retribui–o e dirige–o para os fins da produção.” A ausência de reunião de todos esses perfis impede a caracterização de empresa. O prof. Arnoldo Wald8 bem sintetiza as faces que formam os perfis de Asquini: (i) objetivo, como estabelecimento. Considera-se o conjunto de bens corpóreos e incorpóreos que o empresário organiza e utiliza para exercer a sua atividade; 6 (Manual de Direito Comercial. 14ª ed. Saraiva. São Paulo: 2003, p. 11). 7 (Princípios de Direito Comercial. Campinas: LZN editora, 2003, p. 222 e 223) 8 Parecer publicado em www.rcpj-rj.com.br, ao qual remetemos o candidato, para aprofundar no exame da temática da empresa. CURSOS ON LINE – DIREITOCOMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 12 (ii) subjetivo, como empresário. Refere-se ao sujeito que desenvolve a atividade econômica de forma organizada; (iii) funcional, como atividade empreendedora. Demonstra propriamente a atividade economicamente organizada. Não importa apenas o ato, mas é relevante o conjunto de atos que se apresentam de forma organizada, e (iv) institucional, pressupõe a existência de uma instituição. Abarca o contexto político. Traz fortes idéias da parceria e da comunhão de interesses que surge entre o empresário e os empregados, isto é, da conjugação de capital e trabalho. O NCC teve forte influência da perspectiva de Asquini, conforme ressaltado por Sylvio Marcondes, redator da parte do Código que veio a compor o Direito de Empresa, no texto da Exposição de Motivos do Anteprojeto. De fato, a definição do art. 966 do NCC relativa ao empresário (perfil subjetivo) é obtida a partir do exercício de uma atividade organizada (perfil funcional), mediante um conjunto de bens (perfil objetivo, art. 1.142) e com o auxílio de prepostos (perfil corporativo, institucional ou hierárquico, art. 1.169). 2º DESAFIO (ESAF-1998) Segundo o ensinamento de Asquini, empresa é fenômeno com perfil poliédrico em que se destaca(m) a(o): a) Organização da produção e do trabalho. b) Perfil objetivo, o subjetivo, o hierárquico e organizacional. c) Pessoa jurídica sociedade mercantil. d) Atividade do empresário ou grupos de pessoas para a obtenção de lucro. e) Fundo de comércio como resultado da mais-valia do trabalho. Fontes do Direito Comercial As fontes são os meios pelos quais se formam ou se estabelecem as normas jurídicas. Indicam a origem ou modo pelo qual surgem as regras jurídicas. No Direito Comercial, elas se dividem em fontes diretas ou primárias e fontes indiretas ou secundárias. Fontes diretas: as fontes que direta e imediatamente formam o Direito Comercial são a Constituição da República (ex.: art. 5º, inc. XXIX), o Código Comercial (3ª Parte, ainda em vigor), as leis e tratados em matéria mercantil CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 13 (ex.: sobre títulos de crédito, sobre direito aeronáutico, sobre marcas e patentes). Como algo verdadeiramente inédito, temos o novo Código Civil, que passou a ser fonte direta, por incorporar a matéria mercantil fundamental, referente ao empresário e à sociedade empresária, alterando o critério de delimitação do objeto desse especial ramo do direito. Antes de seu advento, a lei civil básica (Código Civil) era considerada fonte indireta. Fontes indiretas: são as fontes que também geram as regras do Direito Comercial, mas na falta ou ausência das fontes diretas. Para conhecê-las, devemos recorrer ao art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil, que prevê a analogia, o costume e os princípios gerais de direito. Alguns autores, como Sérgio Campinho,9 citam a jurisprudência, ou conjunto de decisões judiciais reiteradas e uniformes sobre determinado assunto. As recentes alterações no Cód. de Processo Civil (CPC), que criaram a súmula impeditiva de recurso (art. 518, § 1º), o julgamento monocrático dos recursos nos tribunais fundado em súmula ou jurisprudência dominante (art. 557) e a Emenda Constitucional 45 (art. 103-A da CR/88), que introduz a Súmula Vinculante, parecem fortalecer esse raciocínio. Peculiar fonte do Direito Comercial é o costume, o qual pode ser provado por certidão expedida pelas Juntas Comerciais, incumbidas de proceder ao assentamento dos usos e práticas mercantis (art. 8º, inc. VI, da Lei nº 8.934/94). O Decreto nº 1.800/96, que regulamenta a Lei nº 8.934/94, explicita a matéria em seus artigos 87 e 88, prevendo, inclusive a publicação e revisão qüinqüenal. Autonomia do Direito Comercial Afinal, agora que a matéria mercantil consta do Código Civil foi abolida a autonomia do Direito Comercial ? Vivemos atualmente a unificação parcial do Direito Civil e do Direito Comercial, dada pelo novo Código Civil (NCC), que revogou os artigos 1º a 456 do Código Comercial de 1850, Isso corresponde a toda a primeira parte do Código Comercial. Mas isso implica ou representa a perda da autonomia do Direito Comercial? Muitos se deparam com o questionamento. E você, já se perguntou isso? Adianto que a resposta deve ser negativa. Nas palavras de Miguel Reale, Supervisor da Comissão Revisora e Elaboradora do Código Civil, expressas na exposição de motivos, “... a unificação [que é parcial] do Direito Civil e do Direito Comercial, no campo das obrigações, é de alcance legislativo, e não 9 O Direito de Empresa. 2ª ed.. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 10. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 14 doutrinário, sem afetar a autonomia daquelas disciplinas”. Essa autonomia vem afirmada no Enunciado 75 da Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, evento do qual tive a oportunidade pessoal de participar ativamente em suas terceira e quarta edições, cuja redação se reproduz: “Art. 2.045: A disciplina de matéria mercantil no novo Código Civil não afeta a autonomia do Direito Comercial”.10 Sempre que se estuda um novo ramo do Direito (o fenômeno jurídico é uno, mas comporta divisões para facilitar a sua compreensão), importa saber se possui autonomia, que pode ser didática, científica e legislativa. Didaticamente, o Direito Comercial continua integrando os currículos universitários como disciplina própria, igualmente contando com linhas de pesquisas no ensino de pós-graduação. Do ponto de vista científico, o Direito Comercial apresenta características próprias (cosmopolitismo, fragamentarismo, onerosidade presumida, informalidade, celeridade) e deve ser investigado primordialmente de acordo com o método indutivo, que parte do dado particular para obter generalizações, assumindo a função e a estrutura dos institutos importância fundamental na interpretação. Sob o enfoque da autonomia legislativa, a Constituição Federal (nesse ponto a CF ainda não foi alterada!) estatui que compete à União Federal legislar sobre Direito Comercial (CF/88, art. 22, inc. I). E é de se notar que a CF/88 menciona Direito Comercial, e não empresarial, da empresa ou dos negócios. Por este motivo é que se deve privilegiar a nomenclatura Direito Comercial em detrimento de outras. Mas não estranhe se eventualmente o programa do edital ou as questões da prova aludirem à “Direito Empresarial”. No fundo, serão a mesma coisa. Na verdade foi o Direito Civil que se mercantilizou, que se comercializou, que foi impregnado pelo Direito Comercial. Igualmente se fala em mercantilização (é assim mesmo que se escreve) do Direito Público, na voz do jurista italiano Sabino Cassese, passando a adotar técnicas e métodos análogos aos de mercado, em que o diálogo e de negociação preponderam na condução dos assuntos estatais no âmbito da administração pública consensual.11 Embora integre uma parte do Código Civil (Livro II da Parte Especial, a partir do art. 966), o Direito Comercial possui objeto vasto e se caracteriza, além disso, pelos títulos de créditos, marcas e patentes, comércio marítimo, contratos empresariais, atividades financeiras, câmbio e seguros, valores 10 Os Enunciados das Jornadas de Direito Civil promovidas pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal constituem relevante ferramenta de estudo para o candidato. Veja-se em www.cjf.gov.br, selecionando Conselho da Justiça Federal, publicações e enunciados ao novo Código Civil. 11 Cf. Selma Lemme. Valor Econômico, edição de 20.03.06) CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL– CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 15 mobiliários, falência e recuperação, matérias que permanecem fora do novo Código, constando de leis especiais e esparsas, como os títulos de crédito, que contam com várias leis, citando-se a Convenção de Genebra de Títulos de Crédito, a Lei Uniforme; a Lei do Cheque; a Lei de Protestos, a Lei que trata das Cédulas de Créditos Bancários, entre outras. O novo Código até tentou abranger, na redação do anteprojeto, mas não trata especificamente de cheques, de duplicatas, por exemplo. O Código Civil, em matéria de Direito Comercial vai se ocupar das sociedades, com as responsabilidades inerentes a cada tipo, do empresário individual, e alguns institutos bem próximos ao empresário, que é o antigo fundo de comércio (agora chamado de Estabelecimento, art. 1.142 e segs.), os prepostos, (art. 1.169 e segs.) o registro (art. 1.150), o nome empresarial (art. 1.155 e segs.) Esses institutos serão examinados mais adiante e de acordo o programa proposto. Repare você que a importância deles transcende o estudo do Direito Comercial, porque em certa medida serão aplicados até mesmo às associações e fundações, como acontece com a proteção ao nome empresarial, a qual é estendida às denominações de entidades não empresárias (art. 1.155, § único), e com a liquidação das entidades privadas em geral (art. 51, § 2º) Nos contratos, aparece a comercialização do Direito Civil mediante as novas figuras contratuais que o Código Civil não disciplinava, contratos tradicionalmente empresariais, como o contrato de comissão, de corretagem, agência e distribuição. O corpo único da codificação é dado como exemplo na Itália, onde um único código abarca o Código Civil, o Código Comercial e o Código Trabalhista. Com o novo Código Civil (NCC) amplia-se o domínio do Direito Comercial. O âmbito é expandido pela delimitação da matéria de acordo com a teoria da empresa, de maneira a incluir o empresário antes considerado civil, uma vez que este, pelo antigo sistema, não estava inserido no regime jurídico mercantil, como pedir recuperação, falência etc. Uma ou outra decisão é que estendia para o empresário civil a disciplina do direito comercial, como no caso do Colégio Impacto no Rio de Janeiro, que também vendia apostilas. Mas no caso de um produtor rural, o STJ, em 04.04.94, negou o pedido de concordata, considerando que se tratava de atividade tipicamente civil e que a falência e a concordata eram privativos do comerciante.12 Mas isto agora é passado e nos deparamos com uma nova realidade. Vejamos um pouco da evolução do Direito Comercial. 12 “PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL - PEDIDO DE CONCORDATA – EMPRESARIO RURAL. I- Impossível a concessão do beneficio da concordata a produtor rural, já que este exerce atividade civil típica e a falência e concordata aplicam-se privativa a exclusivamente ao comerciante. o juiz não pode conceder o beneficio da concordata preventiva ao não comerciante sob pena de infringindo a lei, substituir-se ao legislador. II - Recurso conhecido e provido.”(STJ - Resp 2492-MG. 3ª Turma, Rel. Min. Waldemar Zveiter, j. em 05.04.94, DJ de 02.05.94) CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 16 Em seus primórdios o Direito Comercial era corporativo – corporações de ofícios, associações, burguesia – mas no seio da sociedade se percebeu que não comerciantes passaram a praticar atos que eram considerados comerciais, como o uso de títulos de crédito, entre eles a letra de câmbio. O Direito Comercial é então ampliado, dado que o risco da atividade econômica, que era restrita ao comerciante, começou também a recair sobre o prestador civil de serviços. A partir daí deu-se início ao processo paulatino de estender a proteção do regime jurídico mercantil àqueles que não eram comerciantes, mas que exerciam a sua profissão com caráter de organização dos diversos fatores de produção. Hoje em dia, a expressão “comerciante”, isoladamente considerada, não nos permite identificar se estamos realmente diante do empresário ou não, uma vez que importa considerar não a comercialidade de certos atos, mas o modo, a maneira, a forma, pelo qual a atividade econômica se desenvolve. Tanto assim que o Direito Comercial, sob a inspiração da teoria da empresa, ampliou-se para abranger o não-comerciante, desde que o exercício de sua atividade seja realizado com a organização dos fatores de produção. 3º DESAFIO (FCC-2005) De acordo com o Código Civil de 2002, a utilização do termo "comerciante" para designar todo aquele a quem são dirigidas as normas de Direito Comercial a) Permanece correta, em razão da adoção, pelo Código Civil, da teoria objetiva dos atos de comércio. b) Perdeu sentido, pois a revogação de parte expressiva do Código Comercial operou a extinção do Direito Comercial. c) Tornou-se equivocada, pois o Código Civil estendeu a aplicação do Direito Comercial a todos os que exercem atividade econômica organizada e profissional, não apenas comerciantes. (D) Permanece correta, em razão da adoção, pelo Código Civil, da teoria da empresa. (E) Tomou-se equivocada, pois os antigos "comerciantes" são hoje denominados "empresários", embora designando os mesmos conceitos. No Brasil, o Dec. 24.150, antiga Lei de Luvas, que regulava apenas os contratos locatícios comerciais, foi revogado pela Lei 8.254/1991, a qual incorporou a tendência já adotada pela jurisprudência e passou a estender ao empresário civil a proteção concedida aos comerciantes quanto à CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 17 renovação compulsória dos contratos de locação (art. 51, § 4º, da Lei. 8.245/91). O STJ tem decisões mostrando que não se trata de fundo de comércio, mas sim de fundo de empresa,13 para abranger não só o comerciante, como também as antigas sociedades civis com fins lucrativos. Atualmente, o fundo de comércio é chamado de “estabelecimento” (art. 1.142 do NCC) e se aplica tanto ao empresário que produz ou circula bens quanto ao que lida com serviços. O prestador de serviços, a exemplo de um médico ou advogado, recebia honorários, porque era uma honra prestar o serviço, que não tinha preço nem valor econômico. Até hoje o prestador de serviços recebe honorários, mas sua atividade não raramente possui o mesmo risco que a atividade empresarial, objetivo de lucro, elevado grau de organização e sofisticação. Em seguida temos a lei 8.434/94 dispondo sobre o registro de empresas mercantis e atividades afins, mostrando a tendência de alargar o domínio do Direito Comercial. Esta lei se refere ao nome do comerciante, como aquele com o qual se identifica na sua atividade, atualmente o nome empresarial. O que tradicionalmente era chamado de nome comercial foi substituído pela referida lei para nome empresarial, sendo esta denominação comum tanto para o antigo comerciante como para o empresário civil. Afinal, não convém fazer distinções entre empresários pelo critério do objeto de sua atividade, adquirindo relevo o modo pelo qual ela é organizada. A própria CF/88, no art. 5º inc. XXIX, fala em nome da empresa, evidenciando, ainda mais, a tendência de o Direito Comercial prestigiar e incorporar a teoria da empresa. Portanto, o fato de estar inserido em determinado diploma não significa a perda da autonomia do Direito Comercial, bastando atentar para existência disseminada de normas heterotópicas (mistas), como normas de Direito Civil inseridas no Código de Processo Civil, por exemplo. Períodos do Direito Comercial 13 Consta do Recurso Especial nº 167.443-RJ, relator o Min. Vicente Leal, julgado em 23.06.98 e publicado do DJ de 17.08.98: “A expressãofundo de comércio é concebida modernamente como fundo de empresa, de vez que abrange o conceito de atividade empresarial (...)” CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 18 Tudo na vida - sejam pessoas, organizações, países, o conhecimento – passa por distintos períodos, nem sempre lineares e constantes, às vezes marcados por marchas e contramarchas. Com o Direito Comercial não foi diferente e teve alguns períodos até chegar ao atual, que é chamado de período subjetivo moderno. Transcorreu um período inicial onde o Direito Comercial era um direito corporativo, classista, só aplicado a uma classe, a uma categoria especifica. Isso se deu com o esfacelamento do Império Romano e a pulverização em vários “Estados”, “nações”, vários feudos, em que cada qual tinha seu critério organizador, regras e autoridades próprias. Não havia mais um Estado centralizador. Cada feudo com seu domínio, poder, cada qual com seu suserano e vassalos e recursos diferentes. Os próprios comerciantes criaram então regras para se relacionarem com outros comerciantes para garantir a fluidez da circulação econômica. Através de suas corporações passaram a criar condições para que eles mesmos, à margem do Estado, pudessem organizar suas atividades. Esse é o chamado período subjetivo. Em seguida o Estado incorporou o Direito Comercial, constituído até então basicamente de regras consuetudinárias, fruto de costumes e convenções. Veio o Código Comercial Napoleônico, de 1807, e adotou a teoria dos atos de comércio. Estabeleceu que eram mercantis determinados atos indicados numa lista e quem fizesse da prática desses atos profissão habitual tornava- se comerciante. Este era o período objetivo. Objetivo porque se o ato estivesse arrolado na lista era reputado mercantil. Chegamos então ao período atual, o período subjetivo moderno, com a contemporânea teoria da empresa. Evoluímos do direito que regulava a mera prática de atos e seus autores para o direito da atividade econômica organizada, que tanto pode abarcar objeto anteriormente civil quanto mercantil, desde que a atividade seja feita de forma estruturada, organizada, articulando os fatores de produção. Passou assim a abranger o empresário civil prestador de serviço, pouco importando o objeto de sua atividade, mas sim a organização dos distintos fatores de produção (capital, mão-de-obra, tecnologia, matéria-prima, insumos) visando ao lucro. O quadro a seguir resume esses períodos. 1O. Período: Subjetivo; classista; corporativista. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 19 Direito Comercial 2o. Período: Objetivo – regula atos praticados por comerciante e não comerciantes, desde que reputados pela lei como mercantis – Teoria Mista. 3o. Período: Subjetivo-moderno - idéia de empresa e as questões a ela relacionadas. A questão do objeto, presa à noção de ato de comércio, perde a importância fundamental do passado e assume função residual, nos casos de atividades intelectuais e rurais (NCC, art. 966, § único, art. 971 e 984), antes consideradas de caráter civil. Vinculado, secundariamente, a uma reminiscência da teoria dos atos de comércio, o NCC preferiu tratar as atividades intelectuais como não são empresárias, quando constituem o objeto-fim ou principal do negócio. O NCC adotou a mesma linha para os rurais (ligados à exploração da terra), estes últimos somente se convertendo em empresários se contiverem organização e forem registrados na Junta Comercial. Sem qualquer registro ou com registro no cartório do registro civil de pessoas jurídicas, os rurais exercem atividade econômicas ou negociais simples, sem caráter empresarial, de acordo com o critério geral do NCC. Já as atividades intelectuais, de natureza artística, literária ou científica, manterão sua natureza não empresária, a menos que essa atividade seja empregada nas operações como elementos ou fatores de produção, e não o próprio serviço ou bem final entregue ao destinatário ou adquirente. 4º DESAFIO (ESAF-2004) A questão relativa aos atos de comércio e sua importância na qualificação das operações negociais mercantis, após a unificação do direito obrigacional, a) Perde relevância uma vez que a figura do comerciante desaparece. b) Equivale à noção de atos de empresa. c) Tem caráter residual em relação às atividades econômicas. d) Explica-se em face da noção de mercado. e) Refere-se a certas operações realizadas em massa. Empresário CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 20 Por que procuramos saber quem é o empresário e como se configura a sociedade empresária? O empresário e a sociedade empresária estão submetidos ao regime jurídico empresarial, o qual possui como característica principal a sujeição à falência e à recuperação judicial e extrajudicial. O uso da expressão empresário se generalizou e muitos gostam, no meio social, de ser reconhecidos como tais (empresários do futebol, de artistas, da moda, industriais, comerciais e, até, empresários da noite). Mas estamos no terreno jurídico e é dentro dessa perspectiva que iremos abordar a compreensão do assunto. O empresário, tal como definido no art. 966 do NCC, é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a criação ou circulação de bens ou serviços. Esse dispositivo considera a pessoa física que organiza e que assume o risco técnico e econômico de sua atividade, enquanto que o art. 982 cuida da pessoa jurídica empresária. No requerimento de sua inscrição na Junta Comercial o empresário informará (art. 968): I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; III - o capital; IV - o objeto e a sede da empresa. A inscrição será tomada por termo, com as indicações estabelecidas acima, no livro próprio, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes. Do artigo 966 extraem-se os seguintes requisitos: - exercício em nome próprio - profissionalidade - atividade econômica - organização - criação ou oferta de bens ou serviços - capacidade e ausência de impedimentos 1) Exercício em nome próprio: trata-se da exploração da atividade econômica diretamente pela própria pessoa física, e não por intermédio de uma sociedade. Não se deve confundir sócio com empresário. O sócio não é empresário como também nunca o foi o comerciante. O sócio pode ser um CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 21 investidor ou empreendedor, mas não é empresário, no sentido jurídico do termo. Quando a lei de falências proíbe o falido não reabilitado de exercer a atividade empresarial refere-se a ser empresário individual, e não a ser sócio em sociedades, qualidade que o falido pode ter, se não for investido em cargo de administração (Lei 10.101/05, art. 181, inc. I e II). O empresário individual registrado na Junta Comercial é pessoa jurídica? Não o é. O registro de empresário individual serve apenas para garantir a regularidade da sua atividade, mas não alterando nem criando novo sujeito de direito, continuando com única personalidade de pessoa natural. Não tem, portanto, autonomia jurídica distinta nem duplo patrimônio. Tampouco goza de limitação de responsabilidade em relação às dívidas contraídas em sua atividade empresarial. A empresa individual constitui a pessoa do empresário que em nome próprio exerce as suas atividades econômicas. Ainda que seja enquadrado como microempresa, não possui o empresário individualpersonalidade distinta daquela que se reconhece à pessoa natural ou física.14 A jurisprudência é bastante elucidativa nesse ponto, conforme as decisões transcritas abaixo em nota de rodapé. No caso de falência do empresário individual, quem vai à falência não é a pessoa jurídica, que aqui não existe, mas sim a própria pessoa física. Convém insistir: a inabilitação do falido de exercer a atividade empresarial (Lei Falências - Lei 11.101/2005 – art. 181, inc. I), limita-se ao empresário individual, não impedindo o falido de ser apenas sócio em sociedades. Repita-se: sociedade e empresário individual não se confundem. A inabilitação decorrente da falência atinge apenas aquele que quer ser empresário individual, o qual não é sócio nem mantém sociedade com outra pessoa. Sócio, como costumo dizer, até mesmo bebezinho pode ser, desde que não exerça a administração. Então, o falido, enquanto não for reabilitado, não pode ser empresário individual, nada impedindo, por outro lado, que tome parte de sociedade na qualidade de sócio apenas, sem exercer o cargo de administrador. 14 “Não é correto atribuir--se ao comerciante individual, personalidade jurídica diferente daquela que se reconhece à pessoa física. Os termos «pessoa jurídica», «empresa» e «firma» exprimem conceitos que não podem ser confundidos. Se o comerciante em nome individual é advogado, não necessita de procuração, para defender em juízo os interesses da empresa, pois estará postulando em causa própria (CPC, art. 254, I).”(STJ, Rec. Esp. 102539, SP, Rel: Min. Humberto Gomes de Barros, Julg. em 12/11/96, D.J. 16/12/96). “A firma individual é mera ficção jurídica, com o propósito de habilitar a pessoa física a praticar atos de comércio, concedendo-lhe em conseqüência algumas vatagens de natureza fiscal. Todavia, daí não se pode extrair a ilação de que há bipartição entre a pessoa natural e a firma por ele constituída.” (TJSP, Ap. Cív. 255981-2, Santa Rita do Passa Quatro, Rel: Des. Ruy Camilo, Julg. em 15/02/95) CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 22 O difícil, talvez seja um paradigma a ser quebrado, é aceitarmos definitivamente que o sócio, para efeitos jurídicos (para concursos inclusive), não é empresário individual, mas apenas investidor, ainda que coopere ativamente para o empreendimento. 5º DESAFIO (TRT-9ª Região)* Leia com atenção. Sobre a constituição por pessoa física de uma empresa individual devidamente registrada na Junta Comercial, é correto afirmar-se que: a) Existem duas personalidades jurídicas distintas: uma, a de pessoa física; outra, a de empresário individual. b) Os patrimônios da pessoa física e da empresa individual são absolutamente separados. c) Não tem a empresa individual patrimônio distinto daquele do seu titular. d) O Direito brasileiro não admite a figura jurídica da empresa individual. * A questão foi adaptada ao novo Código Civil, porque se referia originariamente a uma firma individual 2) Profissionalismo: exige-se a permanência, a habitualidade dos atos de empresa. Descarta-se o exercício esporádico ou eventual da atividade econômica. Perfaz esse requisito a estabilidade nas atividades de caráter sazonal, praticadas de acordo com as estações do ano, por exemplo. 3) Atividade econômica: objetiva resultado econômico positivo e dele se apropria. O conceito de atividade econômica foi utilizado no NCC para distinguir as associações (corporação de pessoas sem fins econômicos - art. 53 do NCC) das sociedades (corporação de pessoas com fins econômicos - art. 981 do NCC). A atividade econômica busca superávits de sua atuação e o recolhimento de seus efeitos entre os titulares. Visa ao emprego da matéria-prima para aumentar o valor dos bens oferecidos ao mercado com a esperança de obter ganhos crescentes. 4) Organização: importa na combinação dos diversos fatores de produção (matéria-prima, mão-de-obra, tecnologia, capital), praticando uma série de atos seqüenciados e interligados visando a um fim. Eis aí a nota distintiva mais importante, porque todos os demais requisitos podem estar presentes em outras atividades e é justamente a presença desse que caracteriza a atividade empresarial. Portanto, dê especial ênfase a este ponto. A organicidade (é assim mesmo que se escreve), mencionada em alguns concursos, significa que as atividades do empresário individual devem CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 23 ser dotadas de organização. Lembre-se do art. 966 do Cód. Civil, que prevê, entre os requisitos do empresário, que a atividade seja organizada. Empresa é a organização dos fatores de produção. Isto é o que se pode depreender da "organicidade". A propósito, a título de ilustração, ensina Fábio Ulhoa Coelho15 que em muitos casos a ausência de uma estrutura de produção impede a configuração de empresa e empresário: “Assim, não é empresário quem explora atividade de produção ou circulação de bens ou serviços sem alguns desses fatores de produção [mão-de-obra, matéria-prima, tecnologia e capital]. O comerciante de perfumes que leva ele mesmo, à sacola, os produtos até os locais de trabalho ou residência dos potenciais consumidores explora atividade de circulação de bens, fá-lo com intuito de lucro, habitualidade e em nome próprio, mas não é empresário, porque em seu mister não contrata empregado, não organiza mão-de-obra. O feirante que desenvolve seu negócio valendo-se apenas das forças de seu próprio trabalho e de familiares (esposa, filhos, irmãos) e alguns poucos empregados, também não é empresário porque não organiza uma unidade impessoal de desenvolvimento de atividade econômica. O técnico em informática que instala programas e provê a manutenção de hardware atendendo aos clientes em seus próprios escritórios ou casa, o professor de inglês que traduz documentos para o português contratado por alguns alunos ou conhecidos deste, a massagista que atende a domicílio e milhares de outros prestadores de serviço – que, de telefone celular em punho, rodam a cidade – não podem ser considerados empresários, embora desenvolvam atividade econômica. Eles não são empresários porque não desenvolvem suas atividades empresarialmente, não o fazem mediante a organização dos fatores de produção.” Repare muito bem: todas as atividades acima são de caráter econômico, mas não são empresárias, justamente por não apresentarem organicidade. Mesmo contando com organização, o NCC estabelece que as cooperativas são sociedades simples, não ostentando legalmente natureza empresária (art. 982, § único). As cooperativas, dentro disso, não se submetem à falência nem à recuperação (art. 1º da Lei 11.101/05), que se aplicam exclusivamente ao empresário individual e às sociedades empresárias. 6º DESAFIO (ESAF-1998) 15 Comentários à nova lei de falências e de recuperação das empresas. São Paulo: Saraiva. 2005, pp. 12 e 13. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 24 O conceito de empresário contém a idéia de ser aquele que: a) Dirige o negócio. b) É o titular do negócio. c) Organiza a produção e a distribuição da riqueza. d) Mantém atividade com recursos próprios. e) Exerce o comércio. 5) Produção ou circulação: é a idéia de fabricação ou intermediação na fabricação de mercadorias ou na prestação de serviços voltados à satisfação das necessidades do mercado. O objeto tanto poderá corresponder àquilo que se considerava mercantil como civil. A questão do objeto perde a relevância do passado e adquire caráter meramente residual, nos casos de atividades intelectuais e rurais (NCC, art. 966, § único, art. 971e art. 984).Ainda por um resquício da teoria dos atos de comércio, o NCC preferiu considerar que as atividades intelectuais não são empresárias, quando constituem o objeto- fim ou principal do negócio. O NCC adotou a mesma linha para os rurais (ligados a exploração da terra, o que era considerado de natureza civil), os quais somente se convertem em empresários se registrados na Junta Comercial. Sem qualquer registro ou com registro no cartório do registro civil de pessoas jurídicas, os rurais exercem atividade econômicas simples, sem caráter empresarial, de acordo com o critério geral do NCC. 6) Capacidade e ausência de impedimentos: o art. 972 requer a capacidade civil plena, nos casos previstos no Código Civil (art. 5º do NCC), e que o empresário individual, não o mero sócio, não esteja impedido por seu ofício ou status profissional, como acontece com os servidores públicos, magistrados, membros do Ministério Público etc. Se violada a proibição de exercer a atividade empresarial em nome próprio, como empresário individual, a transgressão da regra não obsta que o infrator responda pelas obrigações assumidas (art. 973 do NCC), até porque ninguém pode invocar a própria malícia ou torpeza para fugir ao cumprimento de deveres jurídicos. Nada obsta que o impedido de ser empresário individual possa figurar como sócio em sociedades. Novamente se enfatiza que não pode é ser administrador, mas as qualidades de sócio e administrador não se confundem. Podem ser dissociadas e independentes (veja o art. 1.061 do NCC). O menor de 18 anos, emancipado por um das hipóteses do parágrafo único do art. 5º do NCC, pode ser empresário ? Particularmente, penso que não, CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 25 pois passaria a ser empresário sem o temor de responder por crime falimentar, uma vez que a repressão criminal se inclui no regime falimentar e a maioridade penal é atingida somente aos 18 anos (CR/88, art. 228). Nem se diga que estaria então sujeito às medidas sócio-disciplinares do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), tendo em vista que os fundamentos, natureza, finalidades, conseqüências e prazos dessas imposições são inteiramente distintas das sanções penais propriamente ditas. Diz-se que no crime o Estado exerce sua pretensão punitiva e nos atos infracionais (é assim que se escreve) do ECA, a pretensão educativa. Entretanto, na III Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, a comissão temática de Direito de Empresa aprovou o enunciado nº 197, concluindo pela tese afirmativa. Confira a redação da primeira parte do referido enunciado: “197 – Arts. 966, 967 e 972: A pessoa natural, maior de 16 e menor de 18 anos, é reputada empresário regular se satisfizer os requisitos dos arts. 966 e 967.” A capacidade é necessária para iniciar a atividade empresária individual, mas pode o incapaz prosseguir na empresa individual que receba de herança herdou da qual já era titular antes de sofrer um processo de interdição que culminou com a sua incapacidade. Por outras palavras, como deixa certo o enunciado 203 da III Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: “Art. 974: O exercício da empresa por empresário incapaz, representado ou assistido somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte”. A prova da emancipação obtida pelo menor, nos termos do art. 5º, § único, do NCC, e da autorização judicial, e sua eventual revogação, para prosseguir com a empresa individual serão inscritas no Registro Público das Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, além, é claro do registro efetuado no cartório do registro das pessoas naturais (arts. 976 e 9º, inc. II, do NCC). Não propriamente sobre capacidade genérica, mas sobre legitimação, que é uma capacidade especial, chamada de extrínseca, em contraposição à primeira, que é intrínseca, exigida para a prática de certos atos e em função do estado (individual, nacional, familiar) do agente, o NCC traça regras bastante inovadoras, examinadas a seguir. O empresário individual casado que em nome próprio explora a atividade econômica pode atuar sem necessidade de outorga (autorização) do cônjuge, qualquer que seja o regime de bens, podendo alienar ou gravar os bens que ele destinou para o exercício da empresa (art. 978 do NCC). Já com relação a ser sócio, pelo art. 977 os casados não podem celebrar sociedade entre si e com terceiros, se o regime for da comunhão total ou da separação legal obrigatória. A questão aí pertence ao direito de família, para não haver fraude ao regime de bens, no caso da separação obrigatória, nem confusão patrimonial, na hipótese de comunhão universal. De qualquer CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 26 modo, o problema somente atinge as sociedades constituídas após o NCC, uma vez que as anteriores estão protegidas pelo direito adquirido, conforme amplo entendimento doutrinário. Prova disso é o PARECER JURÍDICO DNRC/COJUR Nº 125/03, do Departamento Nacional do Registro do Comércio, datado de 04.08.2003: “essa proibição não atinge as sociedades entre cônjuges já constituídas quando da entrada em vigor do Código, alcançando, tão somente, as que viessem a ser constituídas posteriormente”. E o registro na Junta Comercial, determinado no art. 967 do NCC, é declaratório ou constitutivo da qualidade de empresário? Esse questionamento foi feito em um concurso para o Ministério Público de São Paulo. A resposta é: declaratório. O registro para efeito de personificação, isto é, para criar pessoa jurídica (arts. 45 e 985 do NCC), adquirindo personalidade jurídica segregada de seus membros, é de natureza constitutiva. Agora, para aferir a qualidade de empresário o registro é meramente declaratório. O registro serve para determinar a regularidade do empresário; daí se sabe se ele é ou não regular, para obter as vantagens dessa qualidade. Logo, a qualidade de empresário advém da prática da atividade empresarial com os requisitos do citado art. 966 do NCC, e não do registro, apesar de a lei determinar a sua obrigatoriedade antes do início das atividades. O empresário sem registro, não obstante ser considerado empresário, não poderá ingressar em juízo com o pedido de recuperação judicial nem requerer a homologação da recuperação extrajudicial (Lei Falências - Lei 11.101/2005, arts. 48 e 161). Como já discutimos, não existe empresário rural pessoa física irregular, porque a qualidade de empresário, especificamente quanto ao rural, advém do registro e antes disso ele exerce atividade econômica simples (art. 971 do NCC). Uma vez mais se invoca a autoridade dos enunciados 198 e 199 da III Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: 198 - Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. 199 – Art. 967: A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não da sua caracterização. O NCC cria uma diferença com relação ao produtor rural, que tem a opção de ser ou não empresário. Mas se houver optado por ser empresário poderá registrar-se na junta Comercial (art. 971, NCC). Logo, vamos insistir, em relação ao empresário rural o registro é constitutivo e não existe empresário rural pessoa física irregular. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br27 Outra vez se recorre à credibilidade reconhecida aos citados enunciados: 202 – Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção. A qualificação de empresário, uma vez preenchidos os requisitos apontados, atrai a incidência do regime jurídico empresarial. Significa esse regime estar sujeito a um sistema de registro próprio (Junta Comercial - NCC, art. 1.150), ao processo de execução coletiva caracterizado pela falência e pela recuperação (NCC, art. 1.087 combinado com o art. 1044; e Lei 10.101/2005, art. 1º) e a uma contabilidade formal (NCC, art. 1.179). 7º DESAFIO (TRT-1ª Região-2003) Aponte abaixo o texto afirmativo correto: a) Independentemente de seu objeto, consideram-se empresárias a sociedade simples e as cooperativas. b) O empresário casado precisa da outorga uxória para alienar imóvel que integre o patrimônio da empresa, salvo se casado pelo regime da comunhão parcial de bens. c) O sócio ostensivo da Sociedade em Conta de Participação não pode jamais admitir novos sócios [a matéria contida nessa opção ainda não foi estudada, mas está expressa em termos equivocados, o contrariar o art. 995 do NCC]. d) É facultado aos cônjuges contratarem sociedade entre si, ou com terceiros, desde que o regime da sociedade conjugal não seja o da comunhão universal ou o da separação obrigatória de bens. e) A maioridade civil é atualmente alcançada aos 18 (dezoito) anos, todavia, com esta idade, a autorização paterna ou equivalente, é imprescindível para que seja exercido o direito de ação perante o poder público. [o tema aqui combina Direito Civil e Processual Civil, extravasando o âmbito do Direito Comercial] 8º DESAFIO (Juiz de Direito – PR - 2006) Para o novo Código Civil, empresário é: a) aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços; CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 28 b) a personalidade física; c) o conjunto de bens utilizados pelo empresário no exercício de atividade econômica organizada de fornecimento de bens ou serviços; d) o exercício de atividade econômica organizada de fornecimento de bens ou serviços. Colaboradores ou Auxiliares dos Empresários Os agentes colaboradores não são empresários, mas sim prepostos, uma vez que prestam suas atividades por conta alheia, não possuindo o risco do negócio. Praticam, então, atos em nome e no interesse do empresário. Esses atos, embora praticados pelos prepostos (agentes colaboradores) são imputáveis à própria atuação do empresário. Ou seja, quando os gerentes, vendedores, contabilistas estão agindo, não mediante assunção de risco próprio, mas do exercício de uma atividade cujo risco recaia sobre o empresário, essas atividades são, na realidade, do próprio empresário e não dos agentes, que prestam serviços em seu favor. Os prepostos formam o perfil corporativo ou hierárquico da empresa, segundo Asquini. Lembra-se do que já discorremos nesta aula? Com o NCC, a expressão “gerente” (art. 1.172) passa a ter outro significado, indicando o empregado ou preposto de maior qualificação responsável pelo estabelecimento. É o gerente do supermercado, da agência bancária, do posto de gasolina e tantos outros que nós conhecemos e identificamos. Na linguagem do Código, portanto, o gerente exerce uma função dependente dos órgãos destinados a formar e expressar a vontade de uma sociedade no mundo jurídico, a qual é gerida pela nova figura do “administrador” (arts. 47, 1.011, 1.022, 1.061). Ainda que o gerente eventualmente seja sócio, na condição de gerente estará sob a direção e sujeito às ordens dadas pelos administradores e deliberações coletivas dos sócios, quando decidem em assembléia ou reunião os assuntos relevantes da sociedade. O gerente é preposto, um terceiro que age sob a delegação do empresário individual e da sociedade empresária, enquanto o administrador presenta (é assim que se escreve, segundo as lições de Pontes de Miranda) ou integra a pessoa jurídica, constituindo um órgão seu. O Código Comercial exigia uma carta de preposto para aqueles que praticavam atos em nome do comerciante. Só que com a velocidade das operações, que se processam rapidamente por meios eletrônicos, não tem mais sentido que para todo e qualquer ato se tenha uma carta de preposto. Assentou-se, então, por força da teoria da aparência, que a pessoa estaria habilitada a agir em nome do antigo comerciante. Contudo, o NCC no seu art. 1.169 parece restabelecer a antiga exigência do Código Comercial. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 29 O art. 1.169, do NCC é, portanto, um retrocesso e fere a teoria da aparência. A princípio, este artigo excluiria a responsabilidade empresária pelos atos do preposto não autorizado por escrito (um representante sem habilitação). Mas isso arreda a teoria da aparência ou a relega para um plano secundário. A teoria da aparência está muito ligada à boa-fé e tutela, protege, a confiança objetiva da generalidade das pessoas, uma situação normal do dia-a-dia que não contraria a normalidade das coisas que se sucedem na vida social. O art. 1.174, do NCC também coloca em perigo a teoria da aparência, bem como o art. 47, NCC. Até o advento do NCC, era pacífico que a limitação de poderes não podia ser imposta ao terceiro de boa-fé, mesmo que registrada na Junta Comercial. O NCC, argumentando a contrário sensu, torna oponível a esse terceiro, em detrimento do prestígio alcançado pela teoria da aparência. Mas a teoria da aparência já existia na doutrina e na jurisprudência antes do NCC e o seu advento não pode representar atraso, uma vez que o Direito caminha para a sua evolução, o seu progresso e aperfeiçoamento. Pense nas inúmeras contratações feitas pela Internet. Você já viu a carta de preposto da pessoa com quem negociou ? Certamente que não e passar a exigir essa carta em todos os atos e negócios é praticamente impossível. Deve o empresário se responsabilizar pelos prepostos que contratar, pelas pessoas que indicar, com direito a obter deles o ressarcimento pelos excessos cometidos. A não ser assim, o risco e o ônus dos maus prepostos seriam transferidos para consumidores e pessoas que, de boa-fé, confiaram em quem estava contratando pelos empresários. Agentes Internos: aqueles que possuem um vínculo de dependência, como gerentes, contabilistas e outros auxiliares. O antigo sócio-gerente passou a denominar-se “administrador” (NCC, arts. 1.011 e 1.061), reservando-se o vocábulo “gerente” para o preposto de maior qualificação e responsabilidade que exerce permanentemente as suas funções, na sede da empresa, em sucursal, filial ou agência (NCC, art. 1.177). Os prepostos precisam ter muito cuidado e atenção em relação aos seus atos. No desempenho se suas funções, os prepostos respondem perante o preponente ou empregador pelos danos resultantes de atos culposos que tiverem praticado. Mas já quanto aos danos provocados a terceiros (clientes, por exemplo), responderão solidariamente com empresário preponente pelos atos dolosos (intencionais), nos termos do § único do art. 1.177 do NCC. Agentes Externos: não possuem uma subordinação jurídica ao empresário preponente. São representantes comerciais (Lei nº 4.886/65), leiloeiros, tradutores juramentados, justamente aqueles que vinham também enumerados no art. 35 do Cód. Comercial. A Lei que regula o Registro CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 30 Público de Empresas Mercantis prevê que esses agentes deverão ter matrícula na JuntaComercial (Lei nº 8.934/94, art. 32, inc. I). Atividades Econômicas não Empresárias Quando se fala em atividade econômica deve se ter em mente que é aquela que visa à partilha de resultados, visa a um ganho, lucro ou superávit que será partilhado entre sócios ou titulares. Lembre-se de que quando o novo Código fala em associação, no art. 53, ressalta que é sem fins econômicos, e quando trata das sociedades, no art. 981, diz que é com fins econômicos. Então, o que é esse fim econômico? É a repartição ou apropriação dos resultados do negócio. Há, portanto, atividades econômicas ou negociais de natureza simples, que não se qualificam como empresárias, embora também objetivem lucro. Primeiro, as sociedades simples (NCC, art. 982, caput, parte final), que são aquelas que não reúnem de forma qualificada o capital, a matéria prima, tecnologia e mão-de-obra, estando calcadas na pessoalidade da figura de seus sócios, com poucos empregados ou nenhum, sem uma estrutura, em que não haja uma unidade organizada e dirigida. Essas sociedades, que são constituídas pelos próprios sócios para exercerem eles mesmos o núcleo das atividades operacionais, são de natureza simples. O ex-Ministro da Justiça e da Educação do Governo Vargas, Francisco Campos (apelidado de Chico Ciência, por sua extrema inteligência e conhecimento) salientou na década de 70 que nos pequenos negócios em que predomina a pessoa do titular ou sócio “(...) não se vê a figura abstrata da empresa, a organização técnica, a despersonalização da atividade econômica, que é um elemento fundamental ou essencial ao conceito de empresa”.16 Em seguida temos as firmas individuais simples, que é a mesma firma que o Cartório do Registro Civil de Pessoas Jurídicas já registrava. A firma individual é aquela do sujeito que está estabelecido e que não é necessariamente um autônomo. Por exemplo, uma pessoa física sozinha, sem sociedade com quem quer que seja, e mantém ou explora uma creche. Configura o que a legislação do Imposto de Renda chama de “venda de serviços”. É alguém que está estabelecido, como um barbeiro, que sozinho, sem outros sócios nem empregados, tem uma barbearia, uma papelaria. Existe um negócio estabelecido sem sociedade e sem a organização típica que se exige para a definição de empresa. 16 (apud Rubens Requião, Curso de Direito Comercial, vol. 1, 16ª ed., Saraiva, p. 55) CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 31 A firma individual não possui previsão expressa, esse é um problema com que se tem defrontado, gerando dúvidas. A ela se chega por analogia. Se existe a figura do empresário individual, para aquele que sem ter sociedade se registra na junta comercial como empresário, como a antiga firma, então se a pessoa física estabelecida exerce a atividade econômica, presta serviço sem a estrutura empresarial, por analogia será firma individual simples. A Corregedoria de Justiça do Rio de Janeiro já admitiu essa criação da figura firma individual, possibilitando o seu registro no cartório do registro civil das pessoas jurídicas. Em terceiro lugar, aparecem os profissionais liberais que prestam serviços de natureza predominantemente intelectual, de natureza artística, literária ou científica. É também uma atividade econômica de natureza simples e, portanto, registrada no cartório do registro civil de pessoas jurídicas (NCC, art. 1.150). A pergunta que se deve fazer é se para o exercício do objeto social de cunho científico se exige a formação técnica ou superior. Se a resposta for afirmativa, então será de natureza intelectual. Mesmo que tenham uma estrutura de porte elevado como, por exemplo, as mais conhecidas empresas de auditoria e os grandes escritórios de advocacia, deverão ser registrados no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, porque o exercício da atividade é intelectual. Ocorre a predominância do trabalho intelectual e o Código Civil, no art. 966, § único, quer dizer que toda vez que a intelectualidade estiver situada na atividade-fim isso afasta a empresarialidade e irá caracterizar a atividade como de natureza simples. A intelectualidade somente se converteria em elemento de empresa, permitindo a natureza empresarial, quando representasse um mero componente na organização dos fatores de produção e não o produto ou serviço final em si oferecido ao mercado. Para boa compreensão do assunto, considera-se relevante transcrever o seguinte pensamento do professor Sylvio Marcondes, com a autoridade de redator do Livro II da Parte Especial do Anteprojeto Código Civil de 2002, que culminou no Direito de Empresa:17 Dessa ampla conceituação [de empresário] exclui, entretanto, quem exerce profissão intelectual, mesmo com o concurso de auxiliares ou colaboradores, por entender que, não obstante produzir serviços, como fazem os chamados profissionais liberais, ou bens, como o fazem os artistas, o esforço criador se implanta na própria mente do autor, de onde resultam, exclusiva e diretamente, o bem ou serviço, sem interferência exterior de fatores de produção, cuja eventual ocorrência é, dada a natureza do objeto alcançado, meramente acidental. Portanto, não podem – embora sejam profissionais e produzam bens ou serviços – ser considerados empresários. 17 Problemas de direito mercantil, Max Limonad, 1970, p. 141 CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 32 No mesmo sentido, o professor Arnoldo Wald, catedrático de Direito da UERJ, em parecer de 30.10.04, assim explica a descaracterização de empresa no exercício da atividade de natureza intelectual: Com efeito, a produção derivada da atividade de natureza técnica é intrinsecamente ligada à própria pessoa do técnico, decorrente do seu conhecimento e de sua capacidade técnica e, como tal, independe da existência de estrutura organizada para dar suporte ao exercício da atividade que desempenha. Para não fugir ao recurso argumentativo utilizado nesta aula, proclamam os Enunciado 193, 194 e 195 da III Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: 193 – Art. 966: O exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa. 194 – Art. 966: Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores da produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida. 195 – Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. 9º DESAFIO (ESAF-2002) Com a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2001), o exercício de atividade intelectual será considerado empresarial desde que tenha elemento(s) da empresa que é (são): a) Economicidade e profissionalidade da atividade. b) Atividade voltada para o mercado. c) Continuidade da prática de atos de intermediação. d) Atividade em que o risco é inerente à busca de resultados. e) Organicidade das operações. Depois temos o rural não optante pela Junta Comercial, ou seja, aquele que monta uma sociedade dedicada às atividades agropecuárias. De acordo com os arts. 971 e 984 do NCC, o regime do rural depende do órgão onde escolheu fazer o registro. Se optar pelo registro no cartório das pessoas jurídicas terá natureza simples. Se o fizer na Junta Comercial então será, a partir do registro, empresário. Quem decide não é a lei. É uma opção própria dos sócios que queiram constituir uma sociedade para atuar nesse ramo de negócios. Se quiserem CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD
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