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Fichamento do texto “A Mundialização E Os Esportes Na Natureza” George Matheus Gonçalves dos Santos 2021 1 Fichamento de resumo A mundialização (internacionalização) dos esportes (DIAS, 2008) O texto inicia como a formação dos esportes da natureza já estava em curso desde o século XIX e como o período após a Segunda Guerra Mundial (SGM) influenciou a criação de novas modalidades. De acordo com o texto, buscar práticas na natureza se trata de um processo de formação de identidades, que é marcado pelo intenso fluxo de ideias, imagens e produtos. O texto trata, em seguida, de como duas atividades distintas em constituição e evolu- ção se cruzaram e deram origem ao processo de massificação e internacionalização dos esportes. São eles: osurfe vindo dos Estados Unidos e o montanhismo de origem europeia. Enquanto o surfe ascendia como um movimento de contracultura, o montanhismo representava a Europa vitoriana, por se tratar de um esporte elitista. Apesar das dife- renças, ambos compartilhavam da sensação de confronto com a natureza, bastante estimulada no século XIX pelo que a filosofia estética chama de sublime. O esqui de neve e as águas do mar foram uma das primeiras combinações. Os esquis foram adaptados para as águas do mar e puxados por um barco amotor, originando o esqui aquático. Depois os esquis foram substituídos por uma prancha, dando origem aowakeboard. Outras combinações foram feitas e transformaram-se em novas modalidades. As pranchas do wakeboardvoltaram para as montanhas e originaram o snowboarding, chamado pelos seus praticantes de “surfe na neve” destacando ainda mais a combi- nação. Esse hibridismo, como destaca o texto, é a característica fundamental dessas novas modalidades. Não só equipamentos, mas a tecnologia de fabricação e os fundamen- tos também foram combinados. Esses esportes expressam um intenso processo de intercâmbio e combinações técnicas simbólicas e materiais, tendo, por base, a busca pela aventura na natureza. Após a SGM, a globalização permitiu que pessoas de lugares e culturas esportivas diferentes conhecessem uns aos outros. Fator que possibilitou o aumento da geração de novas modalidades, através do grande fluxo de ideias e de “produtos culturais”. Gerando, no que lhe concerne, uma massificação dos esportes. Essa massificação foi amplamente explorada nas propagandas comerciais que ape- lavam para o público joveme para as novas modalidades esportivas da natureza. Comerciais que traziam como temas as palavras “aventura”, “radical”, etc. O texto conclui sobre a re-significação doesporte como um “hábito de consumo”. 1 2 Análise crítica do texto O texto apresenta o argumento, logo de início, de que o período após a SGM foi responsável pela mundialização e, consequentemente, maior origem de novas modalidades esportivas que são realizadas na natureza. A influência da globalização sobre a interna- cionalização de esportes e atividades físicas realizadas na natureza está presente desde meados do século XX até os dias atuais, conduzindo, inclusive novas modalidades esporti- vas para as olimpíadas. Entretanto, para saber como esse movimento de mundialização foi suscitado, conhecer sua origem, o modo como influenciou os esportes e como a indústria se aproveitou disso é importante para entendermos o seu rumo na atualidade. A origem desse movimento é contada, pelo autor (DIAS, 2008), no século XVIII. Momento em que a interação lúdica com a natureza passara a ser influenciada pela chamada “doutrina do sublime“ de Longinus. Sobre a doutrina do sublime de Longinus, Cecchinato (2018) diz que: [. . . ] contém dois elementos centrais que serão importantes para a história pos- terior desse conceito: por um lado, o ouvinte ou expectador é humilhado pelo sentimento do sublime e, por outro, é elevado. Ele vai de um espanto terrível até a mais profunda alegria e orgulho, visto que é elevado ao divino e absoluto (CECCHINATO, 2018). Ao final do século XVIII, outros filósofos discutiram acerca do sublime como con- traponto ao belo já descrito pela estética. Edmund Burke explanou na terceira parte da investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo o seguinte: Pois os objetos sublimes possuem dimensões muito grandes, ao passo que os be- los são comparativamente pequenos; a beleza deve ser lisa e polida; o grandioso, áspero e rústico; a beleza deve evitar a linha reta e, contudo, fazê-Io impercepti- velmente; o grandioso, em muitos casos, condiz com a linha reta e, no entanto, quando dela se desvia, é de um modo bem acentuado; a obscuridade é inimiga da beleza; as trevas e as sombras são essenciais ao grandioso; a beleza deve ser leve e delicada; o grandioso requer a solidez e até mesmo as grandes massas compactas (BURKE, 1993, p.130). Dessa forma, o sublime é, segundo Burke, tudo aquilo que a ideia de dor e perigo. Atuando de modo semelhante ao terror e promovendo, de acordo com o filósofo, “a mais forte emoção de que o espírito é capaz” (BURKE, 1993, p.48), que ameaça a nossa energia e saúde. Já Kant, segundo Cecchinato (2018), trata o sublime de modo transcendental, sendo dividido em três partes, como ressalta Assis (2017), sendo: o terrível, que vem com o estremecimento; o nobre, que causa admiração e; o magnifico, que transmite a grandiosidade. Esses e outros filósofos influenciaram a arte e a literatura do século XIX, que passaram a descrever montanhas com muitos acidentes geográficos, mares revoltosos e tempestades furiosas. 2 Figura 1 – Quadro intitulado “Um Navio contra o Mewstone, na Entrada do Plymouth Sound” produzido por William Turner em 1814 J.M.W. Turner, 1814 Voltando ao texto de Dias (2008), o autor descreve que essa mania do sublime além de influenciar autores e pintores, também seduziu as pessoas que, antes conservaram um pavor desses locais inóspitos, agora procuravam essa natureza “selvagem” para viver experiências mais intensas por meio da ameaça e da sensação de perigo iminente. É nesse sentido que as interações com o mar e a montanha, descritos no texto, foram vivênciados. De acordo com Dias (2008), os clubes de montanhismo foram fundados no século XIX na Europa, sendo esta uma das primeiras práticas “institucionalizada” de esportes realizados na natureza. Enquanto isso, no continente americano, uma prática se tornava símbolo da contracultura, esta é chamada de surfe. Essas práticas expõem o praticante a determinados riscos que causam, ao meu entender, essa ameaça e contemplação simultânea, como descrevem os filósofos do século XVIII a respeito do sublime. Quando pensamos no montanhismo, a hipotermia, tempestades, ar rarefeito, falta de suprimentos, demora no resgate, entre outros, são riscos que se apresentam ao praticante. Contudo, penso, qual deve ser a sensação, mesmo com os riscos já mencionados, de se admirar e contemplar, pessoalmente, o horizonte visto do alto do Monte Everest (Figura 2). Segundo o texto de Dias (2008), o montanhismo e o surfe, mesmo possuindo histórias e evoluções distintas, compartilhavam da sensação da iminência de perigo e de confronto com a natureza selvagem. Por possuírem essa característica em comum, foram combinadas. A prancha do wakeboard, que já é resultado da combinação do surfe com o esqui aquático (este sendo a combinação do esqui na neve com o surfe), foi levada às montanhas e originou o snowboard. 3 Figura 2 – Alpinista no Nepal David Pinheiro, 2020 A incompreensão das motivações que levam muitas pessoas a querer praticar esportes que, objetivamente, possam lhes causar privações sérias como fome, sede, calor ou frio extremos, danos físicos importantes e mesmo a morte, intriga e horroriza muitas outras. Adjetivos como “malucos”, “suicidas”, “masoquistas” e “desequilibrados” são suportados pelos praticantes de esportes de aventura com um misto de tolerância e orgulho (ILHA, 2013). A globalização que ocorreu após a SGM, trouxe uma maior conectividade para as pessoas e permitiu que conhecêssemos esportes que não são praticadosno Brasil, por exemplo, devido aos aspectos climáticos, geográficos ou a cultura. Esse acesso e popularização dos esportes permitiu que novas modalidades fossem forjadas a partir da combinação de técnicas, equipamentos ou dos aspectos culturais. Diversas empresas apostaram na tendência jovem e nos esportes de aventura em seus comerciais, influenciando a atual cultura do consumo de esportes. Trazendo as pessoas para os esportes que estão na “moda”. Esse fato da cultura do consumo pode ser estendido para outras áreas das práticas corporais além dos esportes na natureza. Um problema que se destaca é o chamado “analfabetismo esportivo” do Brasil. No que concerne aos esportes, conhecemos pouco a respeito das diferentes modalidades e tipos. Uma questão simples como “cite os esportes que você conhece” pode gerar respostas bastante limitadas. Problema esse causado pelo que Dias (2008) chama de “massificação dos esportes”. Onde a globalização permite o conhecimento de uma infinidade de modalidades, aspectos culturais, técnicos e equipamentos, o etnocentrismo e a cultura do “analfabetismo esportivo” limitam nossos horizontes esportivos, principalmente em relação aos esportes praticados na natureza. 4 Referências ASSIS, H. O sublime de Kant – um estarrecimento perante o inefável. Philosophica, Lisboa, v. 50, p. 151 – 164, 2017. Disponível em: https://repositorio:ul:pt/bitstream/10451/ 40524/1/HugoMiguelValadasAssis_Philosophica_50:pdf. Acesso em: 04/04/2021. BURKE, E. Investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo. Campinas - SP: Papirus : Editora da Universidade de Campinas, 1993. ISBN 85-308-0241-1. Acesso em: 04/04/2021. CECCHINATO, G. Sublime e pintura no primeiro esboço de Sistema de Fichte em comparação com Kant. Tópicos, Revista de Filosofía, n. 54, p. 201 – 214, 2018. Disponível em: http://www:scielo:org:mx/pdf/trf/n54/0188-6649-trf-54-201:pdf. Acesso em: 04/04/2021. DIAS, C. A. G. A mundialização e os esportes na natureza. Conexões, v. 6, n. 1, p. 54 – 66, Jun 2008. Disponível em: https://doi:org/10:20396/conex:v6i1:8637871. Acesso em: 03/04/2021. ILHA, A. O direito ao risco. Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, p. 1 – 11, 2013. Disponível em: http://www:cbme:org:br/novo/wp-content/uploads/2017/01/ O_Direito_ao_Risco_Versao_Integral:pdf. Acesso em: 04/04/2021. 5 https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/40524/1/HugoMiguelValadasAssis_Philosophica_50.pdf https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/40524/1/HugoMiguelValadasAssis_Philosophica_50.pdf http://www.scielo.org.mx/pdf/trf/n54/0188-6649-trf-54-201.pdf https://doi.org/10.20396/conex.v6i1.8637871 http://www.cbme.org.br/novo/wp-content/uploads/2017/01/O_Direito_ao_Risco_Versao_Integral.pdf http://www.cbme.org.br/novo/wp-content/uploads/2017/01/O_Direito_ao_Risco_Versao_Integral.pdf Fichamento de resumo Análise crítica do texto Referências
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