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Fichamento de resumo e análise crítica do artigo: DIAS, C. A. G. A mundialização e os esportes na natureza. Conexões, v. 6, n. 1, p. 54 66, Jun 2008.

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Fichamento do texto “A Mundialização E Os Esportes Na Natureza”
George Matheus Gonçalves dos Santos
2021
1 Fichamento de resumo
A mundialização (internacionalização) dos esportes
(DIAS, 2008)
O texto inicia como a formação dos esportes da natureza já estava em curso desde
o século XIX e como o período após a Segunda Guerra Mundial (SGM) influenciou a
criação de novas modalidades. De acordo com o texto, buscar práticas na natureza
se trata de um processo de formação de identidades, que é marcado pelo intenso
fluxo de ideias, imagens e produtos.
O texto trata, em seguida, de como duas atividades distintas em constituição e evolu-
ção se cruzaram e deram origem ao processo de massificação e internacionalização
dos esportes. São eles: osurfe vindo dos Estados Unidos e o montanhismo de origem
europeia.
Enquanto o surfe ascendia como um movimento de contracultura, o montanhismo
representava a Europa vitoriana, por se tratar de um esporte elitista. Apesar das dife-
renças, ambos compartilhavam da sensação de confronto com a natureza, bastante
estimulada no século XIX pelo que a filosofia estética chama de sublime.
O esqui de neve e as águas do mar foram uma das primeiras combinações. Os
esquis foram adaptados para as águas do mar e puxados por um barco amotor,
originando o esqui aquático. Depois os esquis foram substituídos por uma prancha,
dando origem aowakeboard.
Outras combinações foram feitas e transformaram-se em novas modalidades. As
pranchas do wakeboardvoltaram para as montanhas e originaram o snowboarding,
chamado pelos seus praticantes de “surfe na neve” destacando ainda mais a combi-
nação.
Esse hibridismo, como destaca o texto, é a característica fundamental dessas novas
modalidades. Não só equipamentos, mas a tecnologia de fabricação e os fundamen-
tos também foram combinados. Esses esportes expressam um intenso processo de
intercâmbio e combinações técnicas simbólicas e materiais, tendo, por base, a busca
pela aventura na natureza.
Após a SGM, a globalização permitiu que pessoas de lugares e culturas esportivas
diferentes conhecessem uns aos outros. Fator que possibilitou o aumento da geração
de novas modalidades, através do grande fluxo de ideias e de “produtos culturais”.
Gerando, no que lhe concerne, uma massificação dos esportes.
Essa massificação foi amplamente explorada nas propagandas comerciais que ape-
lavam para o público joveme para as novas modalidades esportivas da natureza.
Comerciais que traziam como temas as palavras “aventura”, “radical”, etc. O texto
conclui sobre a re-significação doesporte como um “hábito de consumo”.
1
2 Análise crítica do texto
O texto apresenta o argumento, logo de início, de que o período após a SGM foi
responsável pela mundialização e, consequentemente, maior origem de novas modalidades
esportivas que são realizadas na natureza. A influência da globalização sobre a interna-
cionalização de esportes e atividades físicas realizadas na natureza está presente desde
meados do século XX até os dias atuais, conduzindo, inclusive novas modalidades esporti-
vas para as olimpíadas. Entretanto, para saber como esse movimento de mundialização foi
suscitado, conhecer sua origem, o modo como influenciou os esportes e como a indústria
se aproveitou disso é importante para entendermos o seu rumo na atualidade.
A origem desse movimento é contada, pelo autor (DIAS, 2008), no século XVIII.
Momento em que a interação lúdica com a natureza passara a ser influenciada pela chamada
“doutrina do sublime“ de Longinus. Sobre a doutrina do sublime de Longinus, Cecchinato
(2018) diz que:
[. . . ] contém dois elementos centrais que serão importantes para a história pos-
terior desse conceito: por um lado, o ouvinte ou expectador é humilhado pelo
sentimento do sublime e, por outro, é elevado. Ele vai de um espanto terrível
até a mais profunda alegria e orgulho, visto que é elevado ao divino e absoluto
(CECCHINATO, 2018).
Ao final do século XVIII, outros filósofos discutiram acerca do sublime como con-
traponto ao belo já descrito pela estética. Edmund Burke explanou na terceira parte da
investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo o seguinte:
Pois os objetos sublimes possuem dimensões muito grandes, ao passo que os be-
los são comparativamente pequenos; a beleza deve ser lisa e polida; o grandioso,
áspero e rústico; a beleza deve evitar a linha reta e, contudo, fazê-Io impercepti-
velmente; o grandioso, em muitos casos, condiz com a linha reta e, no entanto,
quando dela se desvia, é de um modo bem acentuado; a obscuridade é inimiga da
beleza; as trevas e as sombras são essenciais ao grandioso; a beleza deve ser
leve e delicada; o grandioso requer a solidez e até mesmo as grandes massas
compactas (BURKE, 1993, p.130).
Dessa forma, o sublime é, segundo Burke, tudo aquilo que a ideia de dor e perigo.
Atuando de modo semelhante ao terror e promovendo, de acordo com o filósofo, “a mais
forte emoção de que o espírito é capaz” (BURKE, 1993, p.48), que ameaça a nossa energia
e saúde. Já Kant, segundo Cecchinato (2018), trata o sublime de modo transcendental,
sendo dividido em três partes, como ressalta Assis (2017), sendo: o terrível, que vem
com o estremecimento; o nobre, que causa admiração e; o magnifico, que transmite a
grandiosidade. Esses e outros filósofos influenciaram a arte e a literatura do século XIX,
que passaram a descrever montanhas com muitos acidentes geográficos, mares revoltosos
e tempestades furiosas.
2
Figura 1 – Quadro intitulado “Um Navio contra o Mewstone, na Entrada do Plymouth Sound”
produzido por William Turner em 1814
J.M.W. Turner, 1814
Voltando ao texto de Dias (2008), o autor descreve que essa mania do sublime além
de influenciar autores e pintores, também seduziu as pessoas que, antes conservaram
um pavor desses locais inóspitos, agora procuravam essa natureza “selvagem” para viver
experiências mais intensas por meio da ameaça e da sensação de perigo iminente. É nesse
sentido que as interações com o mar e a montanha, descritos no texto, foram vivênciados.
De acordo com Dias (2008), os clubes de montanhismo foram fundados no século
XIX na Europa, sendo esta uma das primeiras práticas “institucionalizada” de esportes
realizados na natureza. Enquanto isso, no continente americano, uma prática se tornava
símbolo da contracultura, esta é chamada de surfe.
Essas práticas expõem o praticante a determinados riscos que causam, ao meu
entender, essa ameaça e contemplação simultânea, como descrevem os filósofos do século
XVIII a respeito do sublime. Quando pensamos no montanhismo, a hipotermia, tempestades,
ar rarefeito, falta de suprimentos, demora no resgate, entre outros, são riscos que se
apresentam ao praticante. Contudo, penso, qual deve ser a sensação, mesmo com os riscos
já mencionados, de se admirar e contemplar, pessoalmente, o horizonte visto do alto do
Monte Everest (Figura 2).
Segundo o texto de Dias (2008), o montanhismo e o surfe, mesmo possuindo histórias
e evoluções distintas, compartilhavam da sensação da iminência de perigo e de confronto
com a natureza selvagem. Por possuírem essa característica em comum, foram combinadas.
A prancha do wakeboard, que já é resultado da combinação do surfe com o esqui aquático
(este sendo a combinação do esqui na neve com o surfe), foi levada às montanhas e originou
o snowboard.
3
Figura 2 – Alpinista no Nepal
David Pinheiro, 2020
A incompreensão das motivações que levam muitas pessoas a querer praticar
esportes que, objetivamente, possam lhes causar privações sérias como fome,
sede, calor ou frio extremos, danos físicos importantes e mesmo a morte, intriga
e horroriza muitas outras. Adjetivos como “malucos”, “suicidas”, “masoquistas” e
“desequilibrados” são suportados pelos praticantes de esportes de aventura com
um misto de tolerância e orgulho (ILHA, 2013).
A globalização que ocorreu após a SGM, trouxe uma maior conectividade para
as pessoas e permitiu que conhecêssemos esportes que não são praticadosno Brasil,
por exemplo, devido aos aspectos climáticos, geográficos ou a cultura. Esse acesso e
popularização dos esportes permitiu que novas modalidades fossem forjadas a partir da
combinação de técnicas, equipamentos ou dos aspectos culturais.
Diversas empresas apostaram na tendência jovem e nos esportes de aventura
em seus comerciais, influenciando a atual cultura do consumo de esportes. Trazendo as
pessoas para os esportes que estão na “moda”. Esse fato da cultura do consumo pode ser
estendido para outras áreas das práticas corporais além dos esportes na natureza.
Um problema que se destaca é o chamado “analfabetismo esportivo” do Brasil. No
que concerne aos esportes, conhecemos pouco a respeito das diferentes modalidades
e tipos. Uma questão simples como “cite os esportes que você conhece” pode gerar
respostas bastante limitadas. Problema esse causado pelo que Dias (2008) chama de
“massificação dos esportes”. Onde a globalização permite o conhecimento de uma infinidade
de modalidades, aspectos culturais, técnicos e equipamentos, o etnocentrismo e a cultura do
“analfabetismo esportivo” limitam nossos horizontes esportivos, principalmente em relação
aos esportes praticados na natureza.
4
Referências
ASSIS, H. O sublime de Kant – um estarrecimento perante o inefável. Philosophica,
Lisboa, v. 50, p. 151 – 164, 2017. Disponível em: https://repositorio:ul:pt/bitstream/10451/
40524/1/HugoMiguelValadasAssis_Philosophica_50:pdf. Acesso em: 04/04/2021.
BURKE, E. Investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e
do belo. Campinas - SP: Papirus : Editora da Universidade de Campinas, 1993. ISBN
85-308-0241-1. Acesso em: 04/04/2021.
CECCHINATO, G. Sublime e pintura no primeiro esboço de Sistema de Fichte em
comparação com Kant. Tópicos, Revista de Filosofía, n. 54, p. 201 – 214, 2018.
Disponível em: http://www:scielo:org:mx/pdf/trf/n54/0188-6649-trf-54-201:pdf. Acesso em:
04/04/2021.
DIAS, C. A. G. A mundialização e os esportes na natureza. Conexões, v. 6, n. 1, p. 54 –
66, Jun 2008. Disponível em: https://doi:org/10:20396/conex:v6i1:8637871. Acesso em:
03/04/2021.
ILHA, A. O direito ao risco. Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, p. 1
– 11, 2013. Disponível em: http://www:cbme:org:br/novo/wp-content/uploads/2017/01/
O_Direito_ao_Risco_Versao_Integral:pdf. Acesso em: 04/04/2021.
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https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/40524/1/HugoMiguelValadasAssis_Philosophica_50.pdf
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/40524/1/HugoMiguelValadasAssis_Philosophica_50.pdf
http://www.scielo.org.mx/pdf/trf/n54/0188-6649-trf-54-201.pdf
https://doi.org/10.20396/conex.v6i1.8637871
http://www.cbme.org.br/novo/wp-content/uploads/2017/01/O_Direito_ao_Risco_Versao_Integral.pdf
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