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Júlia Figueirêdo – HM V PALS – INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA NA PEDIATRIA: A insuficiência respiratória (IR) corresponde à incapacidade do sistema respiratório em suprir a demanda por oxigênio/liberação de CO2 do organismo. De acordo com a gasometria arterial, esse quadro pode ser definido como: PaO2 < 60mmHg; PaCO2 >55mmHg; SatO2 <90%. A população pediátrica é mais susceptível ao desenvolvimento precoce de insuficiência respiratória de maior gravidade, pois esse grupo ainda está em processo de amadurecimento morfofuncional. Alguns dos principais predisponentes são: Cabeça proporcionalmente grande, com polo occipital maior; Língua grande, com pouco tônus; Cartilagem cricoide mais estreita; Respiração predominantemente nasal; Incoordenação diafragmática; o Piora com o sono REM. Alterações anatômicas nas vias aéreas superiores Maior metabolismo e consumo de oxigênio; o Promove aumento da frequência respiratória. Complacência aumentada da caixa torácica; Tórax em barril (RN); Ossificação incompleta das costelas e do esterno; Baixo número de fibras musculares tipo I na musculatura acessória; o Esse processo dificulta a expansão máxima da caixa torácica. Maior resistência das vias aéreas; o A fórmula de Poiseuille (R = 8nl/πr4) determina que a redução do raio de uma estrutura eleva sua resistência em 16x. Esquematização da Lei de Poiseuille e a resistência de vias aéreas em crianças e adultos Ventilação colateral pobre em decorrência da imaturidade de poros e canais acessórios; Processo de ventilação colateral, com a ação de canais de Martin e Lambert (laranja e amarelo) ou de poros de Kohn (azuis), deficitária em crianças, o que pode levar a colabamentos Baixa concentração de elastina nos pulmões; Concentração reduzida de surfactante. o Pode favorecer o desenvolvimento de atelectasias. FORMAS DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA: Júlia Figueirêdo – HM V É possível classificar a insuficiência respiratória em diversas categorias, a saber: Por dados da gasometria: Tipo I (hipoxêmica): PaO2 baixa (<60 mmHg) com PaCO2 normal; o O organismo instaura a taquipneia como mecanismo compensatório, havendo manutenção da função normal dos centros respiratórios. Tipo II (hipercápnica): PaO2 baixa (<60 mmHg) associada à PaCO2 elevada (>50mmHg) e ventilação inadequada. As duas modalidades podem ocorrer simultaneamente. Um paciente pode evoluir diretamente para a insuficiência respiratória de tipo II por meio de reações a drogas depressoras do SNC, choque anafilático, obstrução completa de vias aéreas ou, de forma mais lenta, por asma e bronquiolite. Por aspectos anatômicos: Insuficiência respiratória alta: acima da laringe; Insuficiência baixa: abaixo da laringe. Pelo tempo de instalação e duração do quadro: Insuficiência respiratória aguda: persiste por horas ou dias; Insuficiência respiratória crônica: perdura por mais tempo, levando ao desenvolvimento de mecanismos de compensação. Mecanismos de compensação e a insuficiência respiratória De acordo com aspectos fisiológicos: Hipoemia hipoxêmica: há redução da PaO2, de grande relevância para a população infantil; Hipóxia anêmica: marcada pela diminuição da taxa de hemoglobina; Hipóxia circulatória: há diminuição do volume de sangue circulante, comum em traumas ou em quadros de insuficiência cardíaca; Hipóxia histotóxica: ocorre incapacidade celular em realizar o aporte de oxigênio, evidente em intoxicações por monóxido de carbono. A coloração azulada associada à cianose é decorrente da não-saturação de hemoglobina no sangue, surgindo apenas quando já há grande nível de desaturação. As principais causas da IR em crianças são: Pulmonares: atribuídas principalmente a doenças obstrutivas de vias aéreas e à quadros restritivos do parênquima pulmonar; Neurológicas: destacam-se traumas, o uso de medicações sedativas e infecções na placa neuromuscular; Mecânicas: associada à ocorrência de derrame cavitário, ascite e outros distúrbios que causem compressão da caixa torácica; Acometimentos do transporte de gases: relaciona-se ao choque e insuficiência cardíaca, podendo também ser causada por distúrbios metabólicos ou intoxicações; Alterações do metabolismo: a diminuição da concentração sérica de eletrólitos e a alcalose metabólica grave podem levar ao desenvolvimento de quadros de esgotamento respiratório. Júlia Figueirêdo – HM V Principais causas da insuficiência respiratória por sistema APRESENTAÇÃO CLÍNICA E DIAGNÓSTICO DA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA: A identificação do quadro clínico da IR apresenta alguns pontos-chave típicos, ainda que existam peculiaridades próprias das etiologias específicas, já mencionadas. É crucial a análise da frequência respiratória, pois a taquipneia é um sinal precoce de comprometimento respiratório. A evolução para bradicardia ou apneia indica acentuação da gravidade do quadro. Valores de referência para a frequência respiratória em crianças (inversamente proporcional à idade) A ausculta pulmonar também é de grande importância, pois o tipo de ruído identificado pode direcionar as hipóteses diagnósticas quanto à origem da IR. Dessa forma, destacam-se: Estridores: obstruções em vias aéreas superiores; Sibilos: obstrução de vias aéreas inferiores; Crepitos: doenças do parênquima pulmonar; Gemidos: falência respiratória. Principais sintomas associados aos tipos de problemas respiratórios causadores de IR A tiragem intercostal e o uso de musculatura acessória devem ser empregadas como parâmetros acessórios para determinar a gravidade do quadro de IR, pois quanto mais elevada a região acionada, maior o comprometimento respiratório. A presença de aleteo nasal (“batimento das asas do nariz”) também indica comprometimento respiratório. Locais de possível tiragem para avaliação da insuficiência respiratória Os principais exames complementares solicitados para a investigação de quadros de IR são: Radiografia de tórax; Gasometria arterial; Júlia Figueirêdo – HM V o Classifica-se como hipóxia as reduções da PaO2 para além de 80mmHg; o Quedas na saturação para abaixo de 94% só surgem quando a PaO2 estiver <60mmHg; o A diminuição de bicarbonato (HCO3) indica quadro de acidose metabólica, ao passo que a redução da PaCO2 descreve acidose respiratória. É possível haver uma associação entre ambas, gerando acidose mista. Valores de referência da gasometria De acordo com a suspeita diagnóstica, podem ser solicitados triagem infecciosa, dosagem de eletrólitos e tomografias de crânio e tórax. A monitorização associada à verificação da oximetria de pulso é de grande relevância para a avaliação constante dos sinais vitais, detectando precocemente sinais de gravidade. A avaliação adequada de pacientes com insuficiência respiratória deve seguir o protocolo do ABCDE para emergências, de forma a manter o paciente estável até a consolidação do diagnóstico. São avaliados: Abertura de vias aéreas; Respiração (Breathing); Circulação; Disfunção neurológica; Exposição. Protocolo ABCDE, empregado em situações de emergência Após esse período de avaliação inicial, é possível determinar o tipo de comprometimento respiratório, que pode assumir as seguintes denominações: Angústia respiratória: há indícios iniciais de padrão respiratório anormal (taquipneia e sinais de esforço respiratório); Possíveis sinais de esforço respiratório Insuficiência respiratória (já descrita anteriormente); Insuficiência cardiopulmonar: é o “degrau prévio” para uma parada cardiorrespiratória, identificada por meio decianose associada a sinais de esforço respiratório e SatO2 <90% mesmo em uso de oxigênio suplementar em alto fluxo, somado a sinais sistêmicos preditores de complicações nefastas. Alguns sinais de alerta devem ser monitorados em pacientes com insuficiência respiratória, pois são indicativos de possível quadro “pré-PCR”, necessitando, portanto, de intervenção ativa. Os principais indícios de alerta são: Gemidos; Bradpneia ou apneia; Bradicardia; Hipotensão; Júlia Figueirêdo – HM V Cianose; o É tardia, principalmente em pacientes com anemia comórbida; o Define-se cianose central como SatO2 < 75%. Sonolência. Sintomas gerais da IR por sistema comprometido. Os sinais de alerta são dispostos em vermelho CONDUTAS EM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA: A definição da conduta mais adequada a cada paciente será dependente do comprometimento respiratório, extraído os dados coletados na anamnese e exame físico, como mencionado anteriormente, e também da causa específica associada às alterações observadas. Principais condutas terapêuticas associadas às categorias de alterações do padrão respiratório De modo geral, no entanto, os objetivos da terapia aplicada a pacientes com IR são a manutenção da patência de vias aéreas superiores e o suporte de oxigênio ou ventilação adequados à deCânula nasal demanda metabólica individual. Dentre as medidas gerais aplicadas a indivíduos com IR, destacam-se: Colocação do paciente em uma posição de conforto (cabeceira elevada, coxim nos ombros); Diferença entre o posicionamento da criança sem e com o apoio de um coxim nos ombros Realização de manobras de chin-lift (se não há suspeita de trauma) e jaw- thrust; Aspiração de vias aéreas superiores; Remoção de corpos estranhos em pacientes conscientes; Uso de instrumentos que mantenham vias aéreas livres, como cânula de Guedel (orofaríngea) e cânula nasofaríngea. Uso de cânula orofaríngea/de Guedel para manutenção de via aérea (a finalidade das cânulas Júlia Figueirêdo – HM V oro e nasofaríngeas é a mesma, porem a primeira é mais comum em pediatria) O fornecimento de oxigênio pode ser oferecido a pacientes em graus variados de IR, desde que haja suspeita de hipoxemia (ou confirmação do quadro), dividindo-se em mecanismos de baixo e alto fluxo: Dispositivos de baixo fluxo: o Cânula/catéter nasal de baixo fluxo: é utilizada em crianças conscientes, que necessitem de pequenos fornecimentos de oxigênio, porém pode causar ressecamento da mucosa nasal. Apresenta FiO2 de 25 a 40%, com fluxo de 1 a 4L; Posicionamento de um cateter nasal tipo óculos o Máscaras não reinalantes: a FiO2 de 80 a 100%, com fluxo de 10 a 15L; Características da máscara não reinalante o Máscara simples: cria um pequeno vácuo para administração de medicações inaláveis, sendo empregada na nebulização, tem FiO2 de 35 a 50%, com fluxo de 5 a 10L. Criança em uso de máscara facial simples Dispositivos de alto fluxo: tem como objetivo intensificar o aporte gasoso alveolar. Alguns exemplos são: o Máscara reinalante parcial: FiO2 de 50 a 60%, com fluxo de 10 a 12L de oxigênio; Representação esquemática de uma máscara de reinalação parcial, que não apresenta válvula lateral o Máscara de Venturi: FiO2 de 12 a 50% e fluxo de 8 a 15L de O2; Excelente para o manejo da pneumonia, sendo realizado desmame gradual pela mudança de válvulas. Júlia Figueirêdo – HM V Sistema de Venturi e válvulas graduadas para modulação de fluxo o Capacete/hood: próprio para neonatos, tem FiO2 de 25 a 90%, com fluxo de 10 a 15L; Uso de hood para oxigenoterapia neonatal o Cânula nasal: fornece oxigênio aquecido e umidificado, utilizando pressão positiva, empregada principalmente em UTIs. Representação de cânulas nasais de alto fluxo O cálculo da FiO2 (fração inspirada de oxigênio) corresponde a 21% + 4% por litro ofertado. Tipos de instrumentos para oferta de oxigênio Algumas ferramentas mais “avançadas” podem ser empregadas em pacientes com grau de comprometimento mais elevado, como: Uso de ventilação não invasiva, com máscara específica (CIPAP ou BIPAP); Laringoscopia para remoção de corpo estranho; Cricotireoidotomia; Intubação orotraqueal. o Recomendada em pacientes com ECG <9, quando há incapacidade de executar processos de oxigenação e ventilação de forma autônoma; o Não é usada por neonatos; o As indicações para IOT resultantes a gasometria são PO2 < 60 mmHg e/ou pH < 7,2. Posicionamento da criança durante a intubação orotraqueal, com uso de lâmina reta A intubação orotraqueal em pacientes pediátricos faz uso de lâminas retas, para se adequar à estrutura laríngea, bastante anteriorizada e retificada. Cada faixa etária apresentará um tamanho de cânula distinto. Júlia Figueirêdo – HM V Lista de tamanhos de cânulas para intubação de forma proporcional à idade O paciente pode ser estabilizado com o auxílio de uma bolsa-máscara (AMBU) até que sejam estabelecidos pontos de acesso para uma via aérea avançada ou definitiva.
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