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TEORIA E PRÁTICA NO SERVIÇO SOCIAL

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TEORIA E PRÁTICA NO SERVIÇO SOCIAL: UMA REFLEXÃO SOBRE A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Falar sobre desafios nos remete a dinâmica do cotidiano da prática profissional do assistente social e, é claro, ao debate sobre a relação teoria e prática frente ao contexto socioeconômico e político brasileiro, o que nos leva a pensar como estes desafios perpassam e se manifestam nos diversos campos sócio ocupacional da profissão. Um desses desafios centra na questão dos instrumentais e das competências éticas. Avançando na análise e apreendendo a noção de que a teoria não muda o mundo e que o instrumental é a ferramenta que a práxis contempla implicando, na consolidação das dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa da profissão. O instrumental utilizado pelo assistente social em seu trabalho, não pode ser visto, analisado e aplicado isoladamente, mas, organicamente articulado ao projeto ético-político da profissão (indicação ética que adquire efetividade histórico-concreta quando se tem uma direção político-profissional e que não se limitam a normatizações morais, mas envolvem escolhas teóricas, ideológicas e políticas dos profissionais), fazendo parte de um conjunto maior da profissão e de uma determinada concepção de Serviço Social.
A dimensão ética da profissão está fundada na liberdade concebida historicamente do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica no compromisso com a competência técnica, teórica e política que tem como base o aprimoramento intelectual do/a assistente social que se configura: 
 Pela assunção de atitude investigativa na prática cotidiana, como expressão do inconformismo e da indignação permanente, promovendo crítica reiterada à realidade pelo profissional impulsionando-o para a criação de novas explicações, indo além do limite dado; 
 Pela prioridade de uma nova relação com os usuários dos serviços prestados pelo assistente social, por meio dos quais o profissional pinça as singularidades dos sujeitos com os quais trabalha e, reconstruindo as relações, constrói as particularidades na direção da transformação social; 
 Pelo compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população; 
 Pela publicização dos recursos institucionais, como condição de democratização e universalização;
  Pela participação efetiva dos usuários no processo de formulação da decisão política e no controle dos serviços, programas e atividades realizadas em espaços públicos e privadas; 
 Pela articulação e partilha de propostas e ações com segmentos de outras categorias profissionais e de movimentos sociais, que se solidarizam com as lutas gerais dos trabalhadores (BARROCO, 1995). O instrumental, como conjunto articulado de instrumentos e técnicas substancia a operacionalização da ação e é concebido como estratégia por meio da qual ela se efetiva. É uma instância de passagem que permite que se realize a trajetória que vai da concepção da ação à sua operacionalização (MARTINELLI E KOUMROUYAN, 1994). Outro desafio em destaque tange a condição de exercício da profissão no cotidiano de trabalho frente à manifestação das expressões vinculadas aos desdobramentos da questão social tanto na população usuária dos serviços como no profissional de Serviço Social. Isto aponta para a necessidade do debate específico de experiências, das ações técnicas e dos contextos sociopolítico e econômico de forma analítica e dialética com o intuito de fortalecer os espaços de capacitação, qualificação e defesa do exercício profissional.
É no diálogo travado constantemente entre a essência do indivíduo, seu eu interior, sua subjetividade com a sociedade e com os mundos culturais que o cercam que se formará a sua identidade social.
O objetivo do Serviço Social, constitui-se na prática cotidiana, quando acontecem o reconhecimento e a autonomia dos assistentes sociais pelos demais agentes institucionais. Os agentes institucionais representam os diversos interesses sociais. O assistente social trabalha nas mais diversas organizações institucionais. Em todos os casos, os seus objetivos profissionais se articulam com os objetivos dessas organizações, mas, tanto nas empresas como nas instituições sem fins lucrativos, o assistente social expressa os objetivos da prática num duplo quadro de referência: o discurso escolar e o discurso da organização institucional onde trabalha. O que chama a atenção é que o Serviço Social faz a definição de seus objetivos profissionais no campo teórico.
Pensar sobre a prática profissional é pensar numa relação teoria – prática. Uma relação que ao mesmo é – e deve realmente ser – muito próxima, entretanto – por vez – torna-se equidistante e conflituosa.
O trabalho do assistente social acontece num contexto social que é caracterizado por questões sociais contraditórias e sua prática é definida a partir da questão da identificação do seu objeto que sofrerá a ação, ou seja, a questão social.
A questão social é o cerne do Serviço Social. Isso porque a assistência social é o eixo gerador das desigualdades e da exclusão social, expressas nas situações sociais.
Mas o que é a prática profissional?
A reflexão sobre a prática profissional é o elemento central de uma formação profissional. É com a prática profissional que o assistente social exercita sua profissão e demonstra se construiu os conhecimentos necessários que farão dele um bom profissional.
Assim, podemos entender como a relação teoria x prática acontece e como uma se alimenta da outra possibilitando uma construção profissional coerente.
Portanto, há, na verdade, uma relação íntima entre teoria e prática, pois na primeira define a intencionalidade da prática profissional, constituindo nisto uma unidade dialética, aberta e rica (LOPES, 2008. P. 34).
Dessa forma, o espaço que o profissional irá conquistar é proporcional a qualidade do seu fazer profissional. Assim Guareschi (apud Faustini, 1995, p.21) afirma que a “prática pode ser entendida como uma ação consciente e planejada, ou não consciente e intencional. Além disso, deve ser percebida como uma ação que transforma, que muda ou, simplesmente, reproduz a realidade”.
As práticas profissionais podem ser de diferentes naturezas, a saber:
• prática econômica;
• prática científica;
• prática ideológica;
• prática política.
Essas práticas se desenvolvem nas entrelinhas da sociedade, e perpassam um pelo outro sem que sejam percebidos ou possam ser identificados separadamente. São práticas sociais que identificam tempo e espaço em que acontecem, bem como as formas das relações objetivas e subjetivas entre os sujeitos, meios e objetos.
Essas práticas, sejam quando vistas de forma interligadas ou independentes, tem um significado, uma intencionalidade que justifica as ações humanas. Portanto, podemos concluir que a prática social é correlacionada com o momento e contexto social em que se dá, indicando possibilidades reais de construção ou reprodução de um comportamento e/ou conhecimento.
Dessa forma, ao se refletir sobre a prática profissional, questionamento sobre o como pensar, deve vir antes do o que pensar. Isso irá garantir a apropriação de um método que permite agir sobre a realidade e as demandas sociais da comunidade em que se está inserido.
O Serviço Social se desenvolve num cenário de criação de ambientes propícios a prática profissional, rompe com paradigmas tradicionais e com o senso comum e cria suas raízes em um ambiente político uma vez que incita a participação da sociedade.
Vamos ver algumas ideias de autores sobre o exercício da prática profissional do assistente social:
• Ao ser criada a profissão, foi definida como “prática social”, concebida no âmbito da “ajuda social”. Evoluiu no processo de pensar-se a si mesma e à sociedade, gerando novas concepções e autorrepresentações como “técnica social”, “ação social modernizante” e posteriormente “processo político transformado”. Hoje põe ênfase nas problematizações da cidadania, das políticas sociais em geral e, particularmente,na assistência social (LOPES apud GENTILLI, 2008. p. 36).
• A prática profissional é sinônimo de exercício ou trabalho profissional. Esta prática profissional necessita de saberes que são explicativos da lógica dos fenômenos e outros que são interventivos. Toda prática tem implicações éticas e políticas (LOPES apud GUERRA, 2008. p. 36).
• A prática do serviço social é construída sobre sua dimensão política, pois sinaliza uma:
- direção ética: compreende um caminho a ser seguido, não podendo ser considerada pronta e acabada;
- construção coletiva: construída com os sujeitos;
- competência coletiva: configura-se em transformar a realidade, em que o exercício profissional cotidiano é o exercício político (LOPES apud MARTINELLI, 1994, p. 36).
No Brasil, o Serviço Social foi reconhecido como profissão por volta de 1930, momento em que acontecia um movimento social intenso e com ampla influência da igreja católica. Ele é divido em dois: o serviço social da ajuda e da divisão social do trabalho.
No que se refere a “ajuda” o serviço social estava para um sentido mais humano, de caridade, solidariedade e ajuda ao próximo, coerente assim com os preceitos da Igreja Católica.
Quanto a divisão social do trabalho, o serviço social situava-se na reprodução das relações sociais, sendo “uma estratégia de controle social” (LOPES, 2008).
Assim, a Igreja junto com o Estado criavam estratégias de dominação e rigidez a fim de desmoralizar o movimento social popular que se formava. Ajudavam os menos favorecidos com ajudas materiais com o verdadeiro intuito de exercer sobre estes controle social.
Atualmente esses valores estão sendo revistos e em função disto se fala em questão social e não mais em – apenas – ajudar materialmente os mais empobrecidos.
Segundo Lopes (2008) o processo de trabalho do serviço social se constitui de:
• Objeto - é a questão social propriamente dita. Atualmente o papel do assistente social é político, é de articulador e mobilizador das capacidades dos sujeitos.
• Meio - são os instrumentos utilizados, sejam humanos, materiais, financeiros, capital intelectual, e outros. Também entram nesse arcabouço as entrevistas, relatórios de visitas, análises institucionais e pesquisas.
• Produtos - é o resultado propriamente dito, sejam eles diretos ou indiretos. É o que viabiliza ações gerando efeitos sociais.
• Finalidade - o que é desejado.
Entretanto para que a prática profissional do assistente social seja eficaz e eficiente, com base nos elementos acima brevemente descritos, há algumas dimensões essenciais que devem nortear o trabalho, vejamos:
• Dimensão teórico–metodológica - apropriação dos conhecimentos teóricos a fim de nortear o desenvolvimento da prática. Segundo Lopes (2008) é “necessário capacitar para o exercício da prática sustentada em uma sólida base teórico-metodológica.” Este alicerce criado é o que possibilita a construção de uma rotina profissional e estimula a criação de um ambiente voltado para inovações e processos criativos.
• Dimensão técnica – operativa - viabilizada pelas capacidades dos assistentes sociais em utilizar os instrumentos e elementos que pautam o seu trabalho articulado com a prática profissional formando competências essenciais ao exercício da profissão.
• Dimensão ética – política - envolve as discussões em torno do código de ética do assistente social, legislações pertinentes e bases pedagógicas que norteiam o seu trabalho e – por sua vez – sustentam a concepção de sociedade que estamos dispostos a construir.
Todos esses elementos, vistos de forma sistêmica auxiliam o profissional no processo de reflexão sobre sua prática, o que contribui para a estruturação do processo político das demandas do serviço social.
Segundo Faustini, antes de sermos técnicos que manejam técnicas e instrumentos na ponta da reprodução das relações sociais, temos que ser intelectuais, profissionais teóricos – críticos [...] rompendo com a subalternidade de classe, que também marca nossa história enquanto profissão e contribuindo para emergir novas formas de hegemonia na sociedade (FAUSTINI, 1995. P. 62).

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