INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL Ariadna de Jesus Evangelista Cristiane Gonçalves de Souza G es tã o IN S T R U M E N T A L ID A D E D O S E R V IÇ O S O C IA L A ria d na d e Je su s E va ng el is ta C ris tia ne G on ça lv es d e S ou za Curitiba 2020 Instrumentalidade do Serviço Social Ariadna de Jesus Evangelista Cristiane Gonçalves de Souza Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. E92i Evangelista, Ariadna de Jesus Instrumentalidade do serviço social / Ariadna de Jesus Evangelista, Cristiane Gonçalves de Souza. – Curitiba: Fael, 2020. 242 p. il. ISBN 978-65-86557-19-0 1. Serviço social I. Souza, Cristiane Gonçalves de II. Título CDD 361.981 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/ Viktoria Kurpas Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social | 7 2. Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético- políticas e técnico-operativas do serviço social | 29 3. Instrumentalidade como mediação na prática do assistente social | 49 4. Planejamento social e sua aplicabilidade na prática do assistente social | 71 5. Metodologias de ação: os instrumentos e técnicas do Serviço Social | 91 6. Ações profissionais, procedimentos e instrumentos de caráter administrativo-organizacional | 119 7. Ações profissionais, procedimentos e instrumentos de caráter de formação profissional, de capacitação e de pesquisa | 135 8. Indicadores sociais no cotidiano profissional do Serviço Social | 157 9. Os espaços sócio-ocupacionais da(o) Assistente Social | 175 10. Condições éticas e técnicas do exercício profissional da(o) Assistente Social – Resolução CFESS n. 493/2006 | 195 Gabarito | 215 Referências | 231 Prezado(a) aluno(a), O objetivo dessa obra é contextualizar diversas possibilidades de intervenção profissional do Serviço Social, bem como pontuar procedimentos que o(a) assistente social deve se apropriar, tendo em vista o desenvolvimento de um exercício profissional compro- metido com o projeto ético-político do Serviço Social. O(a) aluno(a) irá perceber que, no cotidiano profissio- nal, o(a) assistente social não realiza sua intervenção de forma aleatória, ao contrário, tal ação é pautada por um conjunto de conhecimentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico- -operativos, os quais fornecem subsídios para direcionamento das decisões profissionais, que devem ser comprometidas com a perspectiva da qualidade dos serviços prestados à população atendida, nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais. Carta ao Aluno 1 Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social Neste capítulo, objetiva-se compreender o termo instrumen- talidade do Serviço Social, entendendo-o para além do arsenal de instrumentos e técnicas utilizados pelo assistente social em seu agir profissional. Para isso, busca-se refletir sobre a capacidade de atuação do assistente social diante das expressões da questão social, estabelecendo intencionalidade nas respostas às deman- das apresentadas pela classe trabalhadora e pela classe burguesa, visto que o Serviço Social, como profissão, atua na relação con- flituosa desses interesses, que são extremamente divergentes, dado que a burguesia sobrevive da geração de capital e mais- -valia extraída da exploração da força de trabalho. É comum entre os estudantes de Serviço Social, ou mesmo por parte de alguns profissionais, fazer uso da palavra instrumen- talidade, vinculando-a aos instrumentos e técnicas da profissão, como o parecer, o laudo social, a visita institucional, a entrevista, entre outros. Entretanto, é importante compreender que a instru- mentalidade não se limita a essas técnicas, mas também não pode deixá-las de lado. Instrumentalidade do Serviço Social – 8 – A instrumentalidade do Serviço Social articula e mobiliza as dimen- sões: teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, a fim de alcançar objetivos profissionais e sociais. Em outras palavras, para que a efetiva prática profissional se realize, o assistente social precisa conhecer e lançar mão dessas três dimensões. É com uma atuação crítica, cons- ciente e dialética que o profissional estará fazendo uso da instrumenta- lidade. Portanto, este não é um conceito neutro, ele se refere às escolhas profissionais e à capacidade de estabelecer projetos individuais e coletivos que envolvem toda a sociedade (GUERRA, 2012). Para compreender como se dá a atuação profissional com finalidades preestabelecidas, fez-se necessário analisar, preliminarmente, o conceito marxista de trabalho, que se baseia na relação do ser social com a natu- reza. Assim, o primeiro tópico deste capítulo abordará a atuação do assis- tente social entendida com base na definição da categoria trabalho, pois é esta apreensão que permite analisar como o profissional pode estabelecer uma ação proposital e com objetivos delineados. Em seguida, com o objetivo de continuar o desenvolvimento do estudo e facilitar a compreensão da instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social, o capítulo foi dividido em mais dois tópicos, nos quais se utilizam orientações teóricas sobre a instrumentalidade enquanto proprie- dade/habilidade que o Serviço Social vai adquirindo em face dos objetivos alcançados pela profissão; e direcionamentos acerca da instrumentalidade como condição para o reconhecimento social da profissão. 1.1 A prática do assistente social como trabalho e a intencionalidade na atuação profissional Abordar a prática do assistente social como trabalho requer, indispen- savelmente, entender o que se compreende nesta obra acerca da terminolo- gia trabalho. A noção de trabalho adotada neste escrito está fundamentada na obra O capital (1867, Livro I, cap. V), do pensador alemão Karl Marx, quando ele descreve que, “Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza” (MARX, 1996, p. 297). – 9 – Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social Portanto, fez-se necessário analisar a relação do ser social com a natureza, ou seja, compreender a categoria trabalho, a fim de possibilitar a apreensão da prática profissional como trabalho e justificar como se dá a intencionalidade na atuação do profissional de Serviço Social. Para Marx (1996), o trabalho é o que diferencia o ser social dos ani- mais, pois quando o indivíduo entra em contato com a natureza, ele a modifica a partir de uma ação consciente, com o objetivo de promover alterações na realidade para satisfazer necessidades humanas, sejam elas próprias ou de outrem. Contrariamente, quando um animal realiza altera- ções na natureza, isso é feito de modo impensado, não há intencionalidade ou projeção. É importante salientar que todo animal que entra em contato com a natureza realiza alterações para sua sobrevivência. Contudo, na análise da categoria trabalho, não se leva em consideração as ações do homem primitivo, que realizava alterações na natureza de forma instintiva, compreende-se apenas a relação com a natureza pelo ser social, aquele que age de maneira racional e com uma finalidade predefinida. Desse modo, pode-se afirmar que a categoria trabalho é fundante do ser social, uma vez que esta se justifica pela capacidade teleológica exclu- siva do ser social. Logo, o ser social é o único que consegue pensar antes de executar uma ação. Previamente à criação do objeto, ele já havia sido planejado em seu consciente, com formas, tamanhos e finalidade. É essa interferência intencional na realidade