Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Cristiano Morini A disciplina Negócios Internacionais mostrará ao aluno os vários benefícios que a exportação proporciona às empresas brasileiras, apresentando elementos que o capacitarão para a análise de oportunidades no mercado exterior. Serão focados os principais aspectos de análise do mercado de destino das exportações, mostrando onde obter as informações que são vitais para o sucesso nos negócios. O aluno conhecerá como preparar um plano de exportação, as formas de internacionalização, a identificação dos pontos fortes e fracos no plano. As informações permitirão o conhecimento da formação de preço para exportação e as práticas usuais de negociação internacional. G es tã o N E G Ó C IO S I N T E R N A C IO N A IS C ris tia no M or in i IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 Negócios Internacionais Cristiano Morini CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M85n Morini, Cristiano Negócios internacionais / Cristiano Morini. - 1.ed., reimp. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2016. 120 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-387-2993-8 1. Relações econômicas internacionais. 2. Comércio internacional. I. Título. 12-5120 CDD: 337 CDU: 339 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2008 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa Shutterstock.com/Wara1982/Mauro Fabbro Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Por que exportar? | 7 2. Elaborando um plano de exportação | 27 3. Obtendo informações para a exportação: o papel do governo e da internet | 49 4. Negociação e formação de preços no mercado internacional | 71 5. Acordos internacionais de comércio | 89 Gabarito | 109 Referências | 115 Carta ao aluno A disciplina Negócios Internacionais mostrará ao aluno os vários benefícios que a exportação proporciona às empresas brasi- leiras, apresentando elementos que o capacitarão para a análise de oportunidades no mercado exterior. Serão focados os principais aspectos de análise do mercado de destino das exportações, mos- trando onde obter as informações que são vitais para o sucesso nos negócios. O aluno conhecerá como preparar um plano de expor- tação, as formas de internacionalização, a identificação dos pontos fortes e fracos no plano. As informações permitirão o conhecimento da formação de preço para exportação e as práticas usuais de nego- ciação internacional. O aluno entenderá como um acordo interna- cional de comércio pode ajudar uma empresa de um país signatário, bem como a ausência de acordos pode retirar competitividade de seu negócio. A exportação será apresentada de forma desmistificada e alternativa para diluição de risco e aumento do faturamento. Por que exportar? Cristiano Morini1 Introdução Exportar é vender para fora do país, é promover o processo de desnacionalização da mercadoria, transferindo a posse e/ou proprie- dade da mercadoria para uma empresa ou pessoa residente no exterior. Uma empresa ou uma pessoa física poderia se perguntar: por que exportar, se tenho condições de vender para o amplo mercado interno brasileiro? De fato, países com amplo mercado interno não apresentam tanta propensão a exportar como aqueles com mercado interno reduzido. Imaginemos, por exemplo, a Finlândia, com pouco mais de 5 milhões de habitantes, ou o Chile, com aproxi- madamente 16 milhões de pessoas. Finlândia e Chile são países com participação atuante no comércio internacional, mas que têm 1 Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Mestre em Integração Latino-americana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB). Tem experiência na área de Engenharia de Produção, Gerência de Produção, Suprimentos, envolvendo os temas: comércio exterior, negócios inter- nacionais e gestão de cadeias de suprimentos com âmbito global. Organizador do primeiro Manual de Comércio Exterior em língua portuguesa. 1 Negócios internacionais – 8 – um número relativamente pequeno de habitantes. A Nokia, uma empresa finlandesa, teria um pequeno mercado de consumidores se optasse por ven- der somente para os finlandeses. As tradicionais vinícolas Concha y Toro e Undurraga também teriam um pequeno mercado interno se optassem por vender seus vinhos apenas para os chilenos. Com mercados internos reduzidos, há países pequenos que optaram por mercados exteriores para maximizar vendas, faturar mais, diversificar riscos, atrair divisas para o país, elevando o nível de bem-estar da população. Chile e Finlândia são exemplos desses países, que como muitos outros, tal como a Bélgica, produzem mais de 50% da riqueza do país (PIB) advinda das receitas das exportações. Isso significa que, caso o país não exportasse, geraria apenas a metade da riqueza de seu país, de suas empresas e de sua população. O Brasil, um país de dimensões continentais e população de 180 milhões de habitantes, apresenta um mercado interno forte e um elevado PIB, que coloca o país entre os quinze mais ricos do mundo, apesar do baixo PIB per capita (que é a divisão da riqueza total do país pela quantidade de habitantes). Dessa maneira, grande parte das empresas brasileiras não é motivada, naturalmente, à prática da exportação, pelo grande número de consumi- dores brasileiros. Durante muitos anos, o porte das empresas brasileiras que exportam e importam foi caracterizado pela presença de grandes empresas, muitas delas multinacionais, que são mais propensas ao comércio internacional por suas relações com suas matrizes ou unidades de negócios em outros países. Nos últimos anos, no entanto, esse quadro começou a mudar. Um grande número de empresas de porte médio e pequeno, e até microempresas, começaram a participar do comércio exterior brasileiro. A motivação dessas empresas passou a ser a busca por novos mercados, considerando vários ele- mentos positivos, tais como: 2 possibilidade de fazer benchmarking – benchmarking significa observar as melhores práticas do mercado, as referências em termos de qualidade, design, embalagem, produtividade, preço e outros. Vamos pensar em termos contrários, empresas de outros países observando práticas brasileiras como referenciais. O celular pré- pago, por exemplo, cuja concepção se deu no Brasil, foi copiado por – 9 – Por que exportar? vários outros países latino-americanos, porque o Brasil é referência na região em determinados produtos e também referência mundial em outros. No mercado de biocombustíveis, por exemplo, missões empresariais e governamentais de todo o mundo vêm ao país para verificar o que o Brasil tem feito em termos de biodiesel, etanol e veículos flex fuel, por conta da alta dos preços do petróleo; 2 aproveitamento de benefícios fiscais – a legislação brasileira desonera a empresa exportadora de alguns tributos e contribuições, objetivando estimular a prática da exportação. Na exportação, há imunidade de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), não incidência de ICMS (Imposto Estadual de Circulação de Mercadorias), isenção das contribuições do PIS (Programa deIntegração Social) e COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), e isenção do imposto de exportação (neste caso, para a quase totalidade das mercadorias, à exceção de couro em bruto, bebida alcoólica e cigarro, por exemplo). Além disso, há um mecanismo de acúmulo de créditos fiscais de impostos federais, como o IPI, dos itens adquiridos no mercado interno que passaram por industrialização antes de serem exportados. Essas empresas acumulam créditos do imposto que poderão ser utilizados no aba- timento de outros tributos federais. Esses benefícios fiscais con- stituem-se em claro incentivo à prática da exportação, porque a empresa tem condições de ser desonerada de tributos, o que não ocorre se a venda for feita para o mercado interno; 2 melhora da imagem da empresa – é comum verificar que, quando o marketing da empresa objetiva valorizar a imagem do produto, registra na embalagem a expressão “tipo exportação”. Esta expressão denota que, para o consumidor, empresas que exportam e produtos exportados tendem a ser consideradas como de maior qualidade. Isso é muito claro em determinados setores, como o de produção de frutas. As frutas brasileiras com destino à Europa ou Japão pas- sam por padrões de controle de qualidade muito mais rigorosos, observando aspectos fitossanitários mais criteriosos. Quando essa mesma fruta é vendida no mercado interno, o fabricante não tem dúvida em poder vender o melão ou a manga com preços mais Negócios internacionais – 10 – elevados, colocando uma etiqueta com a expressão “tipo expor- tação” ou for export; 2 diversificação de mercados e diluição de risco – imagine um feirante que só venda abacaxi para apenas um cliente. O risco que o feirante está passando é eminente, porque na falta desse cliente ou desse produto o negócio se inviabiliza. Ter vários pro- dutos a serem comercializados para uma grande gama de clien- tes aumenta a possibilidade de sucesso no negócio. Da mesma maneira, podemos pensar em termos de diversificação no mer- cado internacional. Lembrem-se da crise de energia (apagão) que o Brasil passou no início dos anos 2000. O governo federal fez campanha para economia de energia, incentivando a população a trocar as lâmpadas incandescentes (ou comuns) por fluorescentes (ou lâmpadas frias). Pensem o que deve ter ocorrido com a venda dessas lâmpadas comuns e o faturamento desses fabricantes nacio- nais. Há casos de empresas que começaram a exportar as lâmpadas comuns para os países latino-americanos e asiáticos, que não pas- savam por problemas de fornecimento de energia, diversificando os mercados e diluindo o risco de insucesso no negócio com as quedas das vendas no Brasil. Para pensarmos em outro exemplo real, o México, que tem 80% de seus negócios internacionais com os Estados Unidos, vem buscando, desde 1994, a diversificação de mercados, o que se materializou na assinatura de acordos de livre comércio com mais de 40 países, como a União Europeia, Israel e Coreia do Sul, como forma de se tornar menos depen- dente de um único mercado; 2 aumento do faturamento – faturar mais possibilita o autofinan- ciamento da empresa. Possibilita, também, gerar ganhos de escala. Imaginem um determinado modelo de automóvel, por exemplo, o Fiat Doblò. Se a Fiat fosse vender esse modelo somente no mer- cado interno, a fábrica poderia trabalhar em um turno, com várias máquinas paradas. Como a Fiat optou por exportar esse modelo para o mercado latino-americano, a fábrica teve ganhos de escala, passando a trabalhar em dois turnos e com alto aproveitamento de ocupação das máquinas, faturando mais. – 11 – Por que exportar? Podemos visualizar que a exportação é boa para a empresa. E também temos de destacar que a exportação é boa para o país e que países de todo o mundo a estimulam. No caso do Brasil, que possui o real como moeda, há a necessidade de se fazer o câmbio. O real não é uma moeda aceita inter- nacionalmente, ou seja, o real não é uma moeda conversível, como o dólar americano, o dólar canadense, o euro e o iene japonês. Dessa maneira, na exportação, as empresas brasileiras encaminham mercadorias para o exterior e os compradores enviam para o Brasil moedas conversíveis, que são depos- itadas no Banco Central do Brasil e trocadas por reais para serem creditados na conta do exportador. O Banco Central fica com a moeda conversível; o exportador fica com os reais referentes à conversão da moeda estrangeira pelo câmbio da data da operação, porque não é permitido, no Brasil, depósitos e contas em moeda estrangeira. Essa operação faz com que o Banco Central acumule divisas estrangeiras, as quais comporão as reservas internacionais do país. O acúmulo de reservas internacionais é fundamental para um país em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. As reservas são utilizadas pelo país para controlar a flutuação do câmbio em momentos de instabilidade, e são também um importante indicador do “risco país”. No caso do Brasil, seu risco vem diminuindo ano após ano, tornando-o mais atrativo para o investidor estrangeiro. Dessa forma, as exportações ajudam as empresas e contribuem para a saúde financeira do país, permitindo, inclusive, a redução da taxa de juros de longo prazo, o que coloca o país em rota de crescimento, estimula a geração de emprego e aumento da renda. 1.1 O que atrapalha o Brasil a vender lá fora? Apesar de tantos aspectos positivos, ainda é relativamente pequeno o número de empresas exportadoras no Brasil. Há, também, uma concentração das exportações nas mãos das grandes empresas, diferentemente da Itália, por exemplo, em que a participação da pequena empresa na exportação do país representa mais da metade do valor total. Assim, poderemos perguntar: o que atrapalha o país a vender lá fora? Negócios internacionais – 12 – 1.1.1 Falta de cultura exportadora O fato de termos um imenso país, um mercado grande em termos de população, o mesmo idioma de norte a sul, grande quantidade de recursos naturais, imensa costa marítima e rios caudalosos propícios para a pesca, sol o ano todo em todas as regiões, solo fértil, grandes áreas planas próprias para a pecuária, ausência de guerras, faz do país uma área amistosa e acolhedora, autossuficiente em vários aspectos. Essas características contribuíram para que o país não desenvolvesse uma cultura voltada para o exterior. Com a globalização dos mercados e o acirramento da competição com o desenvolvi- mento do capitalismo, o país é inserido nas cadeias de suprimentos globais. Corporações multinacionais instalam-se no Brasil em busca de sucesso nos negócios no mercado interno. Essas indústrias, buscando redução de custos e melhores padrões de qualidade, estimularam os negócios de importação e exportação que, associados a outros negócios brasileiros que se internaciona- lizaram, formaram um conjunto de experiências em exportação. Essas experiências começaram a se difundir amplamente no início dos anos 1990, quando o país reduziu impostos de importação, passou por um choque de competitividade com a importação de maquinário, passou a ter uma moeda estável e o comércio mundial atingiu seus maiores volumes de negócios. Assim, podemos dizer que a cultura exportadora brasileira é recente e ainda está em construção. Neste sentido, é importante deixar registrado o papel dos Encontros de Comércio Exterior (Encomex12), promovidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com o objetivo de sensibilizar os empresários nacionais de empresas de pequeno e médio portes para os benefícios da exportação. É bom lembrar que os países europeus têm essa cultura de exporta- ção fortemente arraigada em seus negócios, considerando que são países de proporções territoriais pequenas, clima e solos nem sempre propícios, que demandam mercadoriasque não possuem internamente, além da proximi- dade física que facilita o contato e os negócios com outros países. Há também um estímulo natural para o estudo de línguas estrangeiras, pela necessidade de comunicação. 2 O site: <www.encomex.desenvolvimento.gov.br>, traz uma imensa quantidade de informa- ção para a empresa que quer se iniciar na exportação. – 13 – Por que exportar? 1.1.2 Desconhecimento dos benefícios fiscais Esse é outro aspecto que atrapalha o Brasil a vender lá fora. O pequeno empresário desconhece grande parte da legislação fiscal, não só as obrigações como os seus benefícios. Grande parte dos pequenos empresários nacionais têm dificuldade em formar preço para vender para o mercado nacional, porque desconhece a legislação fiscal federal e estadual. De fato, a legisla- ção brasileira é densa e altamente dinâmica, o que torna difícil, ao pequeno empresário, principalmente, adaptar-se e acompanhar as mudanças. Estudos do Sebrae mostram que o desconhecimento da legislação fiscal e a dificuldade em formar preço são algumas das principais causas de insucesso nos negócios dentro do próprio Brasil. Se isso acontece no mercado interno, a dificuldade aumenta no caso da exportação, pela falta de informação. A legislação prevê o acúmulo de créditos fiscais para a empresa que adquire mercadorias no mer- cado interno e as exportam. Formar preço para a exportação deve considerar a desoneração dos impostos que costumamos pagar internamente, além do elemento cambial, que pode causar uma outra dificuldade ao exportador, que terá que converter o valor em reais de sua mercadoria para a moeda estrangeira. 1.1.3 Visão imediatista Todo negócio visa à obtenção de lucro, que o viabiliza. Na exporta- ção, a conquista do mercado geralmente é mais lenta, porque exige maior condição de preparação e maior necessidade de obtenção de informação do mercado de destino. Internamente, temos mais condições de conhecer o gosto do consumidor, porque, inclusive, fazemos parte da mesma cul- tura dele. Quando falamos do mercado externo, a empresa se defronta com situações desconhecidas em termos de concorrência, normas de defesa do consumidor, padrões culturais e outras, que exige da empresa um tempo maior de observação e estudo do mercado. Uma indústria brasileira de toa- lhas que vende muito no país, teve dificuldades de emplacar na França. As toalhas simplesmente não vendiam. Após realizarem pesquisa com consu- midores locais, perceberam que não era a qualidade da toalha que estava em jogo, mas o seu tamanho. Os consumidores franceses gostam de usar toalhas de tamanho muito grande, para enrolarem no corpo ao saírem do banho. Essa é uma característica cultural, de hábito do consumidor francês. Após adaptação do tamanho do produto, as vendas emplacaram. Negócios internacionais – 14 – Desta forma, se a empresa que começar a exportar pensar que poderá ter o retorno sobre o investimento em tempo muito curto, isso não acontecerá no mercado estrangeiro, que exige adaptação, observação e cuidados diferen- tes do mercado local. A paciência é uma virtude imprescindível, ainda mais considerando o mercado estrangeiro. 1.1.4 Pouca informação Adicionado às características dos itens anteriores, faltam informações em nível geral para a empresa que objetiva exportar. Informações referentes à legis- lação comercial do país de destino, clima, número de idosos, taxa de analfa- betismo, propensão do país aos negócios internacionais, itens mais demanda- dos, geografia, língua. Se fizermos, por exemplo, a seguinte pergunta: quanto conhecemos dos países que também falam a língua portuguesa? Quanto conhecemos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste? Esses países são um mercado “natural” para os produtos brasileiros, principalmente os paí- ses africanos. Em Angola e Moçambique, por exemplo, Globo e Record são canais abertos para a população, o que significa que uma propaganda que uma empresa faça nesses canais no Brasil, também o fará para esses países. As nove- las brasileiras são referência. Isso significa que o custo de divulgação da marca e do produto no mercado de destino praticamente é nulo nesses casos. De fato, é grande o número de consumidores angolanos e moçambicanos que buscam xampus, sabonetes, produtos de toucador, cosméticos e produtos evangélicos brasileiros, e quase sempre não encontram nos pontos de venda. Que oportu- nidade desperdiçada por falta de informação! As oportunidades são muitas também para materiais de construção. Angola e Moçambique são países que passam por um grande desenvolvimento imobiliário. Para se ter uma ideia, Moçambique importa cimento e tijolo da África do Sul, por não possuir fabricantes competitivos internamente. 1.1.5 Câmbio valorizado Como foi informado no item “desconhecimento dos benefícios fiscais”, o câmbio é um fator adicional na formação de preço. Falar em câmbio é sem- pre um aspecto relativo, porque “estar forte” deve ser entendido com relação ao histórico da posição do real frente à moeda estrangeira. – 15 – Por que exportar? O real forte faz com que os produtos brasileiros percam competitividade de preço no exterior. Por isso, a importância das empresas agregarem valor (e não preço!) no produto exportado, inovando e buscando competitividade em termos de qualidade, design, moda, materiais. A alternativa para a indústria de confecções brasileira, frente à concorrência asiática e centro-americana, é inovar em termos de design, sem querer competir em preço. Vários países centro-americanos fizeram acordos com os Estados Unidos, o que permite a eles exportar produtos têxteis e confecções sem que o impor- tador americano pague imposto de importação, o que os tornam mais bara- tos que os concorrentes brasileiros. Quando não conseguimos competir com preço por causa da competitividade de acordos comerciais que outros países possuem, ou por causa do real valorizado que faz com que as mercadorias brasileiras custem mais em dólar, a alternativa é inovar e agregar valor. 1.1.6 Diferenças culturais e de idiomas O país, por suas dimensões continentais, como enfatizamos, tem menos propensão à internacionalização. O estudante brasileiro aprende inglês na escola, mas não é forçado a praticá-lo. Na Finlândia, por exemplo, são ensina- dos na escola o finlandês, o sueco (língua do país de fronteira) e o inglês. São três línguas completamente diferentes umas da outras, mas que o finlandês é forçado a utilizar em sua vida. O Brasil, é cercado de países que falam espanhol, nem por isso o bra- sileiro sabe falar espanhol, porque o imenso território o isola. Diz-se que, quando necessitamos de alguma coisa, nós nos esforçamos por obtê-la. A falta de necessidade de interação com os países de fronteira fez com que o brasi- leiro, em geral, não precisasse falar espanhol, e, quando precisava, adaptava a linguagem para o que deu origem ao termo “portunhol”, uma “língua” em que se mesclam palavras em português e em espanhol. Felizmente, essa realidade está mudando nos negócios, o que tem evi- tado gafes nas negociações. Há palavras e expressões em espanhol que têm significado diferente em português. Aquele que não entende bem a língua espanhola pode ter interpretação diferente ao ouvir a frase: “el durazno está muy exquisito”, cujo significado é “o pêssego está muito gostoso”. Negócios internacionais – 16 – 1.2 Aspectos a analisar no mercado de destino das exportações Tendo em vista a superação desses elementos que atrapalham o país a vender para o exterior, podemos identificar aspectos que respondem a seguinte questão: para onde exportar? Essa resposta refere-se a características que a empresa deve analisar no mercado de destino. É importante reforçar que o exportador está na origem e, o importador, no destino das mercadorias. Uma empresa que tenha se conscientizadoda importância da exporta- ção, e tenha superado as barreiras iniciais para tanto, poderá começar a anali- sar mercados de destinos, verificando as possibilidades de negócios existentes. Por onde começar? Um bom início do trajeto é obter informações em câmaras de comércio, embaixadas, trading points, associações comerciais, entidades de classe, sindicatos e órgãos governamentais. Grande parte dessa informação é gratuita. Outra medida inicial é a participação em feiras seto- riais no Brasil e no exterior. Após o contato com essas entidades e a participação em feiras interna- cionais, é necessário analisar os seguintes aspectos fundamentais, apresenta- dos a seguir. 1.2.1 Tendências internacionais Há tendências específicas para cada setor e há tendências genéricas. O comércio eletrônico, por exemplo, é uma tendência para grande parte dos negó- cios internacionais. Disponibilizar informações em uma página da internet, com dados dos produtos, serviços pós-venda, especificações técnicas, formas de contato e compra pela internet pode ser vital para um negócio internacional. Há tendências mais específicas, também, como o comércio de produtos orgânicos ou mercadorias produzidas sob determinadas condições naturais e produzidas de maneira socialmente sustentada. Na Europa, o comércio de pro- dutos orgânicos é avançado, e é conhecido como comércio justo (fair trade). A OXFAM (<www.oxfam.org>), por exemplo, é uma organização inglesa que estimula e certifica produtos de todo o mundo para o comércio justo. – 17 – Por que exportar? A proteção do meio ambiente é outra tendência internacional, gerando a necessidade de produtos certificados, sem destruição do meio ambiente. Na Europa, todo produto de madeira precisa ser certificado e recebe um “selo verde” para atestar que a madeira é de manejo sustentado, advindo de área reflorestada. 1.2.2 Normas de defesa do consumidor e especificações técnicas Cada país tem suas normas de proteção do consumidor e respectivas especificações técnicas, muitas vezes também associadas a questões cultu- rais. Em Israel, há normas de defesa que produziram especificações técni- cas na área de alimentos. Todo alimento comercializado para Israel precisa obter a certificação Kosher, que segue a tradição judaica do Talmud. A certi- ficação Kosher exige padrões de higiene de altíssimo nível. Os McDonald´s locais possuem inclusive pratos segundo os padrões Kosher. Este é o lado local da globalização! Para os países árabes, há também normas relacionadas à alimentação, como o Certificado Halal. Toda carne de ave que o Brasil exporta para os países árabes segue rigorosamente essas regras. Os árabes compravam aves da Dinamarca, mas após uma lei dinamarquesa exigir que a ave deveria ser atordoada por um choque elétrico antes do abate, o que contraria as normas Halal, os árabes optaram por comprar do Brasil. No Brasil, as aves são abati- das com o peito voltado para Meca (cidade sagrada do Islã) e degoladas com uma faca afiada, com o animal desperto, de cabeça para baixo, o que permite que maior quantidade de sangue escorra, deixando a carne mais limpa. 1.2.3 Marca A marca é um sinal distintivo de uma empresa, podendo ser um sím- bolo e/ou uma palavra que a identifique em seu ramo de atividade econô- mica (MINERVINI, 2005). O registro de marca deve ser feito em cada país. Assim, é possível que uma marca brasileira já tenha sido registrada em outro país. Como o controle do registro é local, vale o critério da precedência: o primeiro a registrar tem o direito sobre ela. Negócios internacionais – 18 – Existe um acordo internacional que permite um único depósito do registro da marca para ser válido em quase oitenta países, chamado de Protocolo de Madri (de 1989), mas o Brasil não é signatário. O órgão res- ponsável pelo registro de marcas no país é chamado de Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). É preciso fazer uma consulta ao INPI referente a marcas, bem como registrar todo produto estrangeiro que será comercializado no país. Do mesmo modo, ao exportar uma mercadoria para o exterior, é neces- sária a pesquisa da marca no país de destino, para evitar multas. Por tentar evitar problemas, aconselha-se a adoção de marca em língua portuguesa ou “abrasileirada”, que, dificilmente, já terá sido registrada em outro país. Como exemplo, a Alpargatas manteve a marca Havaianas para as sandálias que são vendidas em quase todo o mundo. A palavra “havaianas” é uma palavra por- tuguesa, que dificilmente já teria sido registrada por outra. 1.2.4 Embalagem do produto final A embalagem final para o consumidor também deve ser adaptada para o mercado de destino. Além da necessidade do cumprimento das normas de defesa do consumidor, é importante se atentar para o uso das cores. No Brasil, nossa norma de defesa do consumidor exige a colocação do prazo de fabricação e validade em alimentos, e dados do fabricante, mas nada temos de restrições com relação a cores. A utilização de determinadas cores em embalagens para serem vendidas em determinados países pode ser proibida ou não aconselhável por questões legais, de hábitos e de cultura. O estudo das cores gerou a elaboração de uma teoria, chamada de Teoria das Cores, que apresenta aspectos favoráveis e desfavoráveis na utilização das cores em diferentes países (CARNIER, 1996). Na Inglaterra, por exemplo, não se aconselha embalagens na cor púrpura ou violeta. Naquele país, o revestimento interno dos caixões de defunto é na cor púrpura, o que provoca uma indesejada associação. Na Malásia, nada pode ser amarelo, porque esta é a cor do rei malaio. No México, o verde e o branco, cores da bandeira, devem ser evitados nas embalagens, porque são cores de um símbolo nacional. – 19 – Por que exportar? 1.2.5 Ciclo de vida do produto De fundamental importância, a análise do ciclo de vida do produto per- mitirá identificar os mercados em que não teremos condições de exportação, por conta da distância ou de sua inviabilização em termos de custos de trans- porte e distribuição. Como viabilizar a exportação de produtos de ciclo de vida curto, como flores? No interior de São Paulo, existe a cidade das flores, chamada Holambra, ou Holanda brasileira. Holambra exporta flores para vários países da Europa, contando com um sistema de distribuição que é vital para seu negócio. Todo a cadeia de distribuição deve levar até 24 horas para as flores che- garem em algum ponto de venda na Europa. O processo logístico considera o tempo zero o momento da chegada do avião. Do horário previsto de che- gada do avião, contam-se para trás o tempo de transporte de Holambra ao aeroporto de Viracopos, o tempo de carregamento do caminhão, o tempo de empacotamento e o tempo de colheita, tudo de maneira sincronizada. Da chegada da aeronave em Viracopos até o descarregamento de sua carga, proveniente de outro país, processa-se o despacho aduaneiro de expor- tação das flores. Os fiscais tratam cargas perecíveis de maneira prioritária. Desembaraçadas, as cargas de flores são carregadas no avião, que levam em média 12 horas de voo até o destino. No destino, devem ser previstos o tempo do despacho aduaneiro na importação e o tempo da distribuição local. Se, após análise do sistema de distribuição, verificar-se que o produto de ciclo de vida curto não chegará no destino nas condições esperadas, é aconse- lhado pesquisar outro destino que viabilize a exportação. 1.2.6 Perfil geográfico, econômico, social e político A observação do perfil do país é outro elemento de análise. Países com clima muito frio demandam produtos tropicais, como frutas e verduras. Países sem saída para o mar demandam sal. Países mais ricos economicamente com- pram de tudo, porque a renda maior permite maiores gastos e investimentos. A figura 1 apresenta uma anamorfose (ou imagemdisforme) do mapa-múndi em termos de renda ou Produto Nacional Bruto (PNB). Se considerarmos o tamanho do país em termos de renda, tentando manter o formato original, teremos a figura 1. Negócios internacionais – 20 – Figura 1 – Anamorfose do mapa-múndi em termos do PNB. (Fonte: Moscow State University, 1996, apud SPERS; SPERS, 2006) Mas, se considerarmos como importante o destino das exportações para países com maior população, porque é maior o número de consumidores, podemos visualizar, na figura 2, que a grande densidade populacional do mundo encontra-se na Ásia. Figura 2 – Anamorfose do mapa-múndi em termos de densidade populacional. (Fonte:MOSCOW STATE UNIVERSITY, 1996, apud SPERS; SPERS, 2006) – 21 – Por que exportar? As características da sociedade em termos de religião e organização social também nos fornecem indicadores de análise. Uma boa fonte de consulta é o Banco Mundial (<www.worldbank.org>). 1.2.7 Concorrência local Para sabermos como formar preço de exportação é fundamental termos informações sobre a concorrência local. Podemos descobrir os nossos concor- rentes em determinado país, consultando listas telefônicas, catálogos setoriais, câmaras de comércio e revistas especializadas que nos fornecerão informações genéricas. Com os nomes dos concorrentes, a pesquisa pode se iniciar com a análise das informações disponíveis no site institucional. 1.2.8 Acordos internacionais A existência de acordos comerciais entre países propicia desoneração dos impostos de importação, com a consequente rebaixa dos preços para o impor- tador. Os acordos são do tipo multilaterais (como os da Organização Mundial do Comércio), regionais (como os dos blocos econômicos, Mercosul, Nafta e União Europeia) e bilaterais (entre dois países, como os acordos entre Chile- China, Estados Unidos-Austrália). A existência de acordos indica a predisposição dos países a facilitarem o comércio entre eles, praticando o livre comércio, ou comércio sem barreiras. Além dos acordos citados anteriormente, há também um tipo de acordo no âmbito da UNCTAD (agência da ONU para comércio e desenvolvi- mento), denominado Sistema Geral de Preferências (SGP). O SGP pro- porciona uma redução do imposto de importação em determinados países (membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE), quando o produto é originário de país em desenvolvimento. Por exemplo, se o Brasil, país em desenvolvimento, for vender determinado produto que consta na lista do SGP do Canadá (país membro da OCDE), o importador canadense pagará o imposto de importação de entrada no Canadá com redução, o que beneficiará o exportador brasileiro que terá mais condições de vender sua mercadoria para aquele mercado. A lista de mercadorias que consta no SGP do Canadá pode ser consultada diretamente na embaixada do Negócios internacionais – 22 – Canadá. A consulta é feita por classificação fiscal. Caso o produto do exporta- dor esteja nas listas de SGP dos países desenvolvidos (cada país tem sua lista), o Banco do Brasil emite um certificado denominado “Form A”. Este documento, que será solicitado pela empresa exportadora, permite ao importador se benefi- ciar da redução tarifária na entrada em seu país. Ampliando seus conhecimentos Para ganhar mesa judaica, indústria abre seus segredos (GÓMEZ; MARTINEZ, 2006) Fazer parte da seleta lista de produtos kosher – consumidos pela comunidade ortodoxa – tornou-se um importante desafio para a indústria de alimentos, mesmo que isso signifique abrir suas portas e segredos industriais. Pepsico, Dr. Oetker, Leite Nilza, Bauducco e Garoto são algumas das empresas que já despertaram para esse nicho de mercado, que atinge também consumidores não judeus extremamente exigentes. “O selo kosher é visto como um atestado de qualidade por outras comunidades”, diz o vice-presidente de vendas e marketing da Vilma Alimentos, Cezar Tavares. Entrar nesse universo, no entanto, não é fácil. Afinal, as empresas pre- cisam revelar aos rabinos todos os ingredientes e fornecedores envolvidos no processo. Caso sejam aprovados, a fábrica ainda tem que receber, a cada ano, uma visita de um religioso para certificar o produto. Alimentos kosher também podem exigir mudanças no pro- cesso produtivo. Uma das normas mais rígidas estabelece que as linhas de produção sejam radicalmente higienizadas para evitar mistura com resíduos de alimentos não certifica- dos. “Em geral, isso encarece o custo de produção e reduz a – 23 – Por que exportar? produtividade”, diz José Ricardo Cicone, gerente de expor- tação da Garoto. A fabricante de leite Nilza, que vende leite kosher pelo dobro do preço do leite comum – cerca de R$3 o litro – teve que modificar a rotina de sua unidade em Ribeirão Preto (SP) para produzir leite com o selo. Isso porque o processamento desse produto precisa ser feito duas vezes por semana, de manhã, após a lavagem das máquinas, antes que outro leite passe pelo equipamento. Outra diferença, segundo o diretor industrial da Leite Nilza, Marcelo Nogueira, é que a fábrica precisa esperar mais tempo pela entrega do leite, ordenhado na presença de um judeu, representante do rabino. Para ter controle sobre a qualidade do leite, os religiosos também se encarregam de escolher a fazenda onde isso acontece. Antes do descarregamento, são feitas orações por cerca de meia hora. O leite deve ficar no máximo quatro horas estocado antes do processamento, enquanto o leite comum pode esperar até 48 horas pelo procedimento. Segundo Nogueira, a empresa pro- duz cerca de 50 mil litros de leite kosher por mês, o que repre- senta menos de 1% do volume total da companhia. A mineira Vilma Alimentos aproveitou que só havia um achocolatado em pó produzido no Brasil com o selo, o Toddy, para entrar no negócio. A empresa obteve a cer- tificação para achocolatados e macarrão em agosto do ano passado. Os produtos estão sendo vendidos inicialmente em Brasília e São Paulo e já existem planos de exportar para Israel, segundo o vice-presidente de vendas e marketing, Cezar Tavares. Ele estima que as vendas da Vilma Alimentos aumentarão em 1,2 mil toneladas somente com produtos kosher, o que representa um avanço, ainda que modesto (0,5%) nas ven- das. “Passamos a ver este aspecto religioso como uma boa Negócios internacionais – 24 – oportunidade de mercado”, diz Tavares. Segundo ele, nos Estados Unidos metade da produção kosher é consumida por não judeus. Só na América Latina, segundo ele, a comuni- dade judaica é composta por mais de 450 mil pessoas. A Vilma Alimentos está tentando certificar outros produtos, mas, por enquanto, enfrenta algumas dificuldades para obter o selo para sopas e refrescos. Um dos entraves é que a sopa leva aroma de carne, e todos os ingredientes de origem ani- mal sofrem mais restrições. O refresco sabor de laranja tam- bém não conseguiu aprovação. Mas, neste caso, a razão foi diferente: o fornecedor do aroma de laranja não autorizou a vistoria dos rabinos em sua fábrica. “Muitas empresas, princi- palmente as maiores, se negam a revelar seus segredos indus- triais”, diz Tavares. A Pepsico – que tem certificado para salgadinhos Elma Chips, para o atum Coqueiro e para Toddy – vê também muçulma- nos, adventistas do sétimo dia, vegetarianos e pessoas com intolerância à lactose como potenciais consumidores kosher. Devido à oferta reduzida de sobremesas e guloseimas nacio- nais com selo kosher, a Dr. Oetker decidiu certificar seus pro- dutos, como flans e pudins, atendendo a pedidos da própria comunidade, segundo a gerente de garantia de qualidade, Andréia Venson. Ela prevê que até metade da linha receberá o selo nos próximos meses. Ao contrário da Dr. Oetker, a Garoto e a Bauducco não têm planos de estender a certificação para umalinha muito grande de mercadorias. Ambas estão focando no consumidor internacional, que está disposto a pagar por um produto mais elaborado. Certificada pelo Kof-K – rabinato de Nova York, com delegados no Brasil –, a Garoto concentrou-se em fabri- car grandes barras de chocolate (com 2,5kg e 5kg), utilizadas para fazer as “gotinhas” que vão nos tradicionais cookies ameri- canos. “Vendemos 3,5 mil toneladas por ano para os Estados Unidos”, diz Cicone. – 25 – Por que exportar? O executivo acredita no potencial desse mercado, mas observa que há algumas linhas que não compensam fazer “kosherizados”, porque não há escala e é impossível repassar todos os altos custos de produção. “Se pararmos uma linha de bombom apenas para higienizá-la segundo os padrões kosher, deixaremos de produzir 3,5 milhões de unidades em apenas um dia”. A Bauducco, que tem certificadas as linhas de torradas e waffer, também focou-se no mercado americano, para quem só fabrica por encomenda, segundo Cláudio Fontes, diretor comercial. Em alguns casos, a produção não precisa de adaptações para receber o selo. Este foi o caso da fabricante de açúcar orgânico Native, que recebeu o selo kosher há seis anos. De acordo com o gerente comercial Hélio Silva, as vendas desse tipo de produto estão concentradas em lojas de alto padrão, como Casa Santa Luzia, o Emporium São Paulo e o Pão de Açúcar. Atividades 1. Considere que você é diretor/sócio de uma empresa ou que você tem boas chances de convencimento de seu superior a colocar a empresa na rota de exportação. Para isso você precisa apresentar bons argu- mentos de convencimento de seu sócio ou superior. Aponte a alterna- tiva que melhor corresponda a este objetivo. a. Vamos deixar de vender para o mercado nacional e atender so- mente o mercado estrangeiro. b. Temos como faturar mais e aproveitar os benefícios fiscais ofere- cidos à empresa exportadora. Negócios internacionais – 26 – c. Nosso concorrente está exportando e temos que começar a lucrar rápido no mercado exterior. d. Já temos uma linha de produtos competitiva, o que nos habilita a vender para qualquer mercado. 2. Exemplifique como uma questão cultural pode dar origem a uma norma de defesa do consumidor ou a uma especificação técnica. 3. Marque as asserções com verdadeiro (V) ou falso (F). ( ) O Brasil é benchmarking em setores como biocombustíveis. ( ) Na exportação, o empresário é desonerado dos tributos federais, mas tem que recolher o ICMS, que é controlado pelo governo do estado. ( ) A prática da exportação também beneficia o país, e não só a empresa, porque traz mais divisas estrangeiras para compor as re- servas internacionais. ( ) O câmbio valorizado ajuda o exportador a ter competitividade de preço. ( ) Câmaras de comércio e embaixadas são importantes fontes de in- formação para oportunidades de negócios. ( ) O registro de uma marca efetuado no Brasil vale em todo o mundo. ( ) Os acordos internacionais que os países assinam contribuem para o aumento do fluxo comercial entre eles. Elaborando um plano de exportação Introdução O processo de internacionalização da economia brasileira e das empresas brasileiras é relativamente recente. No ano de 2008, completaram-se 200 anos do comércio exterior brasileiro, marcado pela abertura dos portos às nações estrangeiras. Anteriormente, o comércio praticado pela terra brasilis era marcado pela relação metrópole-colônia, com a exploração dos recursos naturais da colô- nia pela metrópole, sem poder ser caracterizado, de fato, como comércio internacional. A partir de 1808, começa a ser contabilizado o comércio exterior do Brasil, mas não se pode falar em internacionalização da economia brasileira. A aduana ou alfândega, apresentava um caráter protecionista, característica aliás, alternada por momentos de maior abertura, que persistiu até a política de substituição de importações nos anos 1960. Esta política, voltada para o fortalecimento da economia brasileira, com o desenvolvimento de uma base fabril mais sólida e com maior geração de empregos que à época de Visconde de Mauá e de Getúlio Vargas, marcou um período em que foi desfavorecida a importação de produtos. 2 Negócios internacionais – 28 – O caráter protecionista da aduana brasileira proporcionava um ele- mento de repulsão do investimento estrangeiro, que não poderia contar com a importação de insumos e mercadorias, devido às altas taxas de importação no Brasil. Essa política continuou durante o período militar brasileiro (1964- 1984), marcado pelo endurecimento político e fechamento da economia. As tentativas de internacionalização de companhias brasileiras nessa época configuram-se em tarefas de heróis, e particularmente de empresas grandes e trading companies (o papel das tradings será esclarecido adiante). Em outras partes do mundo, como no Chile, o regime político militar também foi marcado pelo endurecimento político, mas ao contrário do Brasil, nesse período ocorreu o início da abertura da economia com redução dos impostos de importação já na década de 1970. Nos Estados Unidos e Europa Ocidental, desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), foi iniciado um intenso processo de internacionalização da economia, marcado pela liberaliza- ção econômica que sustenta o que conhecemos hoje como globalização, com os estados abrindo-se ao fluxo internacional de bens, serviços e capitais. É de 1945 para cá que podemos falar em um período de franco desen- volvimento de corporações multinacionais, beneficiadas pela abertura eco- nômica das grandes economias mundiais e pela busca de novos mercados consumidores, em um ambiente favorecido pelos acordos firmados a partir da Conferência de Bretton Woods. Bretton Woods definiu uma nova ordem internacional, caracterizada pelo estabelecimento de um novo padrão monetário internacional e pelo início das operações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BIRD), além dos acordos de comércio no âmbito do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, sigla em inglês). O GATT evoluiu para a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, com ampla rede de acordos multilaterais de comércio que visaram ao estabeleci- mento de um mundo mais aberto aos negócios, mais estável e previsível. Podemos perceber que, enquanto as principais economias mundiais se abriam ao comércio internacional a partir do final dos anos 1940, e o Chile em 1970, o Brasil tardou seu processo de abertura, e consequente internacio- nalização das empresas nacionais, para o início dos anos 1990, com Collor de Melo. – 29 – Elaborando um plano de exportação 2.1 Formas de internacionalização Internacionalizar-se significa expor a empresa aos negócios com outros países, e não se limita à comercialização de seus produtos e serviços, mas também, à transferência de suas próprias unidades produtivas, instalando-se em outras economias. O avanço da internacionalização da produção, o aumento da con- corrência internacional e a maior integração entre as estruturas produti- vas das economias nacionais são características da globalização produtiva (GONÇALVES et al., 1998). Os casos de internacionalização da produção são notórios do público, como as americanas IBM, Coca-Cola e Intel, as japonesas Sony e Canon, a holandesa Philips, a cingapuriana Flextronics, as brasileiras Petrobras, Vale, Gerdau, Votorantim e Embraer. Mas não são ape- nas as grandes empresas que se internacionalizaram. Cada vez mais empresas de todos os portes optam por uma ou outra forma de internacionalização. A seguir identificamos algumas formas de internacionalização mais conhecidas. 2.1.1 Exportação A transferência da propriedade de uma mercadoria de uma empresa (ou pessoa física) sediada no Brasil para uma empresa sediada noexterior, configura-se em venda direta, que é o primeiro e mais usual tipo de interna- cionalização. A legislação brasileira também permite a exportação temporá- ria (sem transferência da propriedade), para os casos de envio ao exterior de materiais para exposições, competições, mostras, conserto, reparo ou manu- tenção, além de exportação sem saída física da mercadoria do país, chamado de exportação ficta (pouco conhecida e pouco utilizada). No entanto, o tipo mais comum de exportação é propriamente um tipo de venda direta, com a empresa iniciando-se no processo de internacionalização. As exportações de mercadorias brasileiras muitas vezes se deparam com forte concorrência no exterior e ausência de tradição, como são os casos das vinícolas brasileiras Miolo, Salton e Sidra Cereser. Os produtos brasileiros não têm tradição neste ramo no exterior, mas, mesmo assim, a Miolo e a Salton enfrentam a concorrência e exportam os espumantes brasileiros com sucesso Negócios internacionais – 30 – para Alemanha, Estados Unidos, França, Noruega e República Tcheca. A Sidra Cereser exporta para os países da América. Em determinados casos, a exportação também pode ser realizada de forma simplificada, via correios, em serviço denominado Exporta Fácil. Esse serviço permite a exportação de mercadorias com determinadas dimensões de volume e até um determinado limite em dólares por embarque. É aconselhá- vel para mercadorias de pequenas dimensões e para empresas que exportam em pequenas quantidades. A operação é simples e desburocratiza o processo. A cidade de Limeira, no interior de São Paulo, polo de bijuterias, uti- liza com muita frequência o serviço do Exporta Fácil. São inúmeras pequenas empresas que produzem bijuterias e exportam para vários destinos. A bijuteria, por ser de pequeno volume e peso, é adequada para a utilização do serviço. 2.1.2 Trading companies As tradings são uma forma de internacionalizar a empresa brasileira, mas a operação caracteriza-se em um tipo de venda indireta para o exterior. A trading company é uma empresa que compra mercadorias em um mercado e revende para outro, podendo, inclusive, ser uma empresa industrial. Prestam um serviço ao comércio exterior. Sua origem se deu no Japão, com as Sogo Sosha (empresas comerciais responsáveis por colocar os produtos no mer- cado). As tradings atuam no Brasil desde 1976, e têm contribuído, em média histórica, com aproximadamente 15% do total das exportações brasileiras. A figura 1 apresenta o tipo de venda direta e indireta. Figura 1 – Exportação direta e exportação indireta. Trading company Empresa no exteriorEmpresa no Brasil venda indireta venda direta É importante destacar que a venda de mercadoria à trading company é considerada “equiparada à exportação”, com suspensão dos tributos até a comprovação da devida saída da mercadoria do país, o que deve ocorrer em – 31 – Elaborando um plano de exportação um período não superior a seis meses. O documento utilizado para a compro- vação da operação chama-se memorando de exportação. 2.1.3 Filial de vendas A abertura de filial de vendas no exterior constitui-se em outra forma de internacionalização e configura-se como uma exportação de uma empresa sediada no Brasil para sua filial ou unidade de negócios no exterior. A expor- tação cumpre os mesmos procedimentos, não havendo qualquer tipo de pri- vilégio para o comércio dessa natureza. A filial mantém-se ligada ao mesmo capital de sua matriz. 2.1.4 Filial de produção Constitui-se na abertura de uma planta em outro país, como uma forma de conquista de mercado mais arrojada. Segundo Minervini (2005, p. 150), o objetivo da uma filial de produção “pode ser procurar superar proibições às importações ou evitar pagar impostos elevados”, além de reduzir custos com a utilização de mão de obra e matérias-primas locais. Antes de uma empresa se instalar no exterior, já houve a fase de conhecimento do mercado de destino, geralmente com exportação direta ou com parceria com represen- tantes estrangeiros. Após o período de teste inicial, com a exportação direta, a empresa pode decidir investir e instalar-se no exterior, devido ao potencial de vendas. Foi assim que a empresa japonesa Honda Automóveis inseriu-se no mercado brasileiro. Inicialmente, começou exportando modelos para o país e testando o gosto do consumidor brasileiro. Com o tempo, conhecendo o mercado e as tendências dos negócios no país, optou por investir em planta própria, pelo potencial de vendas no mercado brasileiro. A “aposta” deu resul- tado. A fábrica da Honda em Sumaré, São Paulo, trabalha em plena capaci- dade, produzindo os modelos Honda Civic e Honda Fit, líderes de vendas em seus segmentos no país. A empresa brasileira Marcopolo, produtora de carrocerias de ônibus e veículos comerciais leves é uma empresa que possui filial de produção no México, Colômbia, África do Sul e Portugal, e estuda a entrada em mercados como Rússia e Índia via joint ventures. Negócios internacionais – 32 – 2.1.5 Representante de vendas A exportação direta ou filial de vendas podem ser substituídas por um repre- sentante no exterior. O representante pode ser indicado por uma câmara de comér- cio, e pode ser exclusivo ou não. A vantagem de um representante é o conheci- mento que esta pessoa tem do mercado de destino, o que pode facilitar em termos de definição de tendências, preço, barreiras, distribuição. É muito indicado para o setor de máquinas e equipamentos, porque, neste caso, o representante também pode prestar o serviço de pós-venda e assistência técnica. Também é utilizado no caso da internacionalização da Natura na Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela: um grupo de brasileiros trabalha no recrutamento e coordena- ção das revendedoras/consultoras que vendem por catálogo. 2.1.6 Joint venture Constitui-se em um tipo de parceria, que pode acontecer tanto interna- mente no país como com pessoas jurídicas em outros países. A joint venture caracteriza-se por um tipo mais avançado de relacionamento, como o do repre- sentante de vendas e a empresa representada. É estabelecida pela associação de duas empresas para a exploração de algum negócio que dificilmente seria alcançado por elas separadamente. A participação não precisa ser de 50%- 50%. Uma empresa pode entrar com o know-how e a outra com as instalações físicas, por exemplo. Uma das formas mais utilizadas de entrada na China é justamente via joint venture, porque a China exige que o capital estrangeiro, ao se instalar no país, associe-se com empresas chinesas. Foi assim no caso da Caterpillar, maior produtora mundial de máquinas rodoviárias, instalou-se na China em joint venture com o grupo Xuzhou Construction Machinery. 2.1.7 Agente de vendas e agente de compras O agente recebe uma comissão sobre o volume de negócios realizado. Na venda, atua como um “caixeiro viajante”, representando empresas e ofe- recendo produtos dos mais variados em outros mercados. O agente de ven- das auxilia a empresa que tem um produto e que não conhece determina- dos mercados. A rede de relacionamentos do agente em outros países facilita seu trabalho e não onera a empresa exportadora, que paga uma comissão para cada negócio fechado. Na exportação no Brasil, o Siscomex (Sistema – 33 – Elaborando um plano de exportação Integrado de Comércio Exterior) que registra as operações comerciais com o exterior para fins fiscais, cambiais e aduaneiros, permite o registro da comis- são do agente de vendas. Na compra, o agente atua como um escritório do importador, conforme as orientações do importador, buscando produtos e fornecedores em qualquer lugar do mundo. O agente de compras facilita a forma da empresa nacional se tornar uma exportadora e iniciar seu processo de internacionalização. Empresas de porcelanatocomo Eliane, Cecrisa e Portobello utilizam agentes de vendas para o Oriente Médio como forma de internacionalização de seus pisos cerâmicos. 2.1.8 Franquia Forma muito difundida atualmente, permite ampliar os negócios origi- nais tanto interna como internacionalmente, com a garantia de padroniza- ção do layout, produtos, serviços e fornecedores, permitindo ao consumidor, contar com a previsibilidade de produtos e padrões de qualidade oferecidos. Nos negócios internacionais, o franqueado (que é o que obtém o direito de praticar o mesmo negócio dentro da padronização), pode ter um certo limite de adaptação, considerando as especificidades locais. Um dos exemplos mais conhecidos de franquia é o McDonald´s que, no México, serve seus hambúr- gueres já adicionados com uma pimenta padrão, além de oferecer doses extras de pimenta para os paladares mexicanos mais exigentes. O consumo de pimenta no México e na Índia é muito grande e muito arraigado à cultura alimentar da população, a ponto de, no México, haver cobertura de pimenta para os sorvetes. A franquia deve, assim, se adaptar às condições locais, mesmo tendo que seguir normas de padronização que garantem o sucesso do sistema de franquias. Exemplos de sucesso de franquias brasileiras que se internacionalizaram podem ser visualizadas no caso da escola de idiomas Wizard (Estados Unidos, Japão e Portugal), do restaurante fast food Spoleto (Espanha e México), Livraria Nobel (Portugal, Espanha, México e Angola) e a fabricante de cal- çados, bolsas e acessórios Carmen Steffens (presente com lojas na Arábia Saudita, Estados Unidos, México, Paraguai e Portugal; e presente com fran- quias na Alemanha, Argentina, Austrália, Estados Unidos, Japão e México). Negócios internacionais – 34 – 2.2 Consórcios de exportação Com o apoio da APEX (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos), os pequenos empresários podem se organizar em consórcios para inserir-se no exterior. A APEX organiza os chamados Programas Setoriais Integrados (PSI), que promovem ações de capacitação tecnológica, gestão da qualidade (ações de qualificação e certificação) e prospecção de merca- dos, como é o caso do PSI da Borracha do Rio Grande do Sul, em parceria com as entidades APEX, ANFAB (Associação Nacional dos Fabricantes de Artefatos de Borracha) e SINBORSUL (Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha do Rio Grande do Sul). Outro exemplo é o consórcio Flor Brasil, que transformou em exportadores os fabricantes de biquínis de Brasília. Os consórcios são indicados para regiões que possuem concentração de indústrias de determinado ramo de atividades, que favorecem também a for- mação de arranjos produtivos locais (APLs). A integração setorial de deter- minado número de empresas facilita a busca por capacitação e formação de consórcios de exportação, que apresenta as vantagens de redução de custos de promoção comercial, ganhos de escala e aproveitamento de oportunidades que não seriam possíveis se buscadas individualmente. 2.3 Como elaborar um plano de exportação Para a elaboração do plano de exportação, será utilizada a metodolo- gia da Fundação Dom Cabral e do APEX (Programa Multiplicar Estadual, 2008), de forma adaptada. Essa metodologia é baseada em uma lista de verificação de etapas e ações a serem desenvolvidas para o cumprimento do objetivo: propor um projeto aplicativo ou um plano de exportação exequível. Esta lista pode ser resumida da seguinte forma: 2 sensibilizar a empresa para as oportunidades de negócios no exterior; 2 elaborar um pré-diagnóstico da empresa; 2 definir a situação idealizada para exportação (na visão do empresário); 2 analisar a situação atual; – 35 – Elaborando um plano de exportação 2 definir as ações a realizar; 2 definir os objetivos estratégicos com o empresário; 2 planejar (com o empresário) – ações, projetos e investimentos requeridos; 2 preparar um esboço de plano de exportação (e discuti-lo com o empresário); 2 preparar um cronograma das ações mês a mês, a fim de implemen- tar o plano de exportação; 2 preparar a versão final do plano de exportação. Com base nestes elementos, passamos a esclarecer o seu detalhamento. A sensibilização do empresário para a exportação é o passo inicial para a proposi- ção de um plano. O plano pode não prosperar se o empresário não colaborar no fornecimento de informações da situação da própria empresa. Se o empre- sário estiver motivado e convencido da importância da exportação, a primeira etapa foi cumprida para o início da preparação de um plano, partindo-se para o pré-diagnóstico da empresa. No pré-diagnóstico, a empresa deve fornecer as seguintes informações: 2 razão social e endereço; 2 principais executivos; 2 histórico da atuação, número de funcionários, ano de fundação; 2 principais produtos comercializados, por classificação fiscal (NCM1) e aplicação; 2 área de atuação no mercado brasileiro; 2 área de atuação no mercado estrangeiro (se houver); 2 principais concorrentes; 2 dados econômico-financeiros; 1 Nomenclatura Comum do Mercosul: é uma lista de produtos ordenados conforme o Sistema Harmonizado (SH). Considera a matéria-prima constituinte, emprego, aplicação etc. Negócios internacionais – 36 – 2 informações complementares (outras informações relevantes, como a existência de determinada certificação ou prêmio obtidos; alta regulamentação do mercado para a prática comercial/industrial). Concluído o pré-diagnóstico, passamos a definir, com o empresário, a situação idealizada para exportação em termos de percentual do faturamento a ser obtido com exportação, o tempo de preparação ideal para o início das atividades, a definição de quais produtos serão exportados, ainda com base em uma situação idealizada. Baseando-nos nesta visão, partimos para a análise da situação atual, veri- ficando os pontos existentes, como apresenta o quadro 1: Quadro1 – Diagnóstico das características existentes Pontos fortes da empresa Algo que a empresa possui que a coloca em boas condições de com- petitividade (produtos bons, orga- nização interna, pessoas...). Pontos fracos da empresa Características da empresa que tra- dicionalmente não funcionam como o desejado, que tendem a rejeitar novos comportamentos e mudanças. Forças favoráveis no mercado (ou pontos fortes para o ramo de atuação da empresa) Aquelas forças que contribuem para que o negócio prospere, as razões do ambiente externo que beneficiam a empresa. Forças desfavoráveis no mercado (ou pontos fracos para o ramo de atuação da empresa) As forças que se constituem em ameaças para o sucesso do negócio pelas características do mercado. Com base neste diagnóstico, é possível identificar ações que podem forta- lecer os pontos fortes e minimizar ou anular os pontos fracos. Um ponto fraco identificado como “ausência de um profissional compe- tente para vendas internacionais” pode ser minimizada ou anulada com uma ação de treinamento da equipe ou de contratação de novo profissional de vendas. “Um sistema não preparado para emitir notas fiscais de exportação” pode ser solucionado com uma ação de adaptação ou troca de sistema. Um ponto forte como “design inovador de determinado produto” pode ser potencializado com uma ação de promoção de vendas que enal- teça esta característica. Outro ponto forte como “boa e rápida comunicação – 37 – Elaborando um plano de exportação interna” pode ser fortalecido pela ação de promoção de palestras e informa- tivos sobre os novos mercados conquistados ou uma possível bonificação para os colaboradores. As ações podem vir acompanhadas da definição de seu grau de impor- tância (importante ou muito importante, com a definição da ordem de prio- ridades) e do seu grau de urgência (definindo uma escala de prazospara que não se banalize a utilização do termo “urgência”). Com relação às forças, um aspecto favorável para o ramo de atividade da empresa pode ser uma tendência nova, como a produção de mercadorias bio- degradáveis, que coincida com a linha de produtos da empresa. Uma empresa que fabrique plásticos biodegradáveis ou fotodegradáveis está em um ramo de atividade em que há forças favoráveis no ambiente externo que estimularão o sucesso no negócio. Por outro lado, se a empresa produz um item que agrida o meio ambiente, como as fabricantes de sacolas plásticas convencionais, derivadas do petróleo, enfrentarão forças que cada vez mais desestimularão o negócio da empresa, pela necessidade de proteger o meio ambiente que se degenera por sua utilização não sustentada. Após esta etapa, é importante definir com o empresário os objetivos estra- tégicos a serem atingidos, bem como o investimento disponível para se atingir os objetivos. Os objetivos devem ser compatíveis com o investimento. Um empresário não pode querer definir um objetivo de ser tornar líder no seg- mento se não tiver condições de investimento para implementar as ações que poderiam levar a isso. Quanto demandará de recursos para que a empresa possa investir em materiais promocionais e catálogos em inglês (ou outras línguas), para a produção de um site em inglês, para a participação em feiras internacionais (participar em quantas feiras em um ano? Participar como visitante ou expo- sitor?), para estruturar um departamento de exportação próprio, para anular a concorrência, para surpreender o cliente, para superar barreiras técnicas e tan- tas outras. Essas questões devem ser compatíveis com o capital a ser investido, definido em um calendário de dispêndios, mês a mês, de maneira factível. Negócios internacionais – 38 – O quadro 2 apresenta um esboço das ações a serem desenvolvidas no plano de exportação. Quadro 2 – Esboço de ações/tempo de realização/investimento requerido Ações Responsável pela execução Mês e ano em que a ação deverá ser realizada Investimento requerido (mês a mês) 1. 2. 3. 4. e outras... Já partindo para a finalização do plano de exportação, também devem ser definidas a forma de internacionalização a ser utilizada e qual produto a ser escolhido, de uma linha existente, que será o pioneiro para a atividade da exportação da empresa para determinado mercado, decisão esta que será subsidiada pela análise já realizada dos pontos fortes e fracos. Essas decisões são também chamadas de decisões de marketing, porque envolvem a questão do composto mercadológico: produto (qual produto para qual mercado?), preço (como formar preço para exportação? Como estão os concorrentes?), distribuição (o ciclo de vida do nosso produto comporta a venda para mercados tão distantes?) e promoção (o que devemos ressaltar do nosso produto/empresa para o consumidor estrangeiro?). Outra decisão deve ser pautada pela questão legal: fazer ou não fazer um contrato internacional de compra e venda? Antes de tomar essa decisão por si só, a empresa deve analisar a contraparte importadora. Dependendo do nível de relacionamento com a outra parte, a empresa pode optar por não fazer um contrato de compra e venda, e simplesmente exigir uma carta de crédito. No entanto, é aconselhável a realização de tal contrato, porque é nele que estarão definidos tudo o que se negociou, em todos os sentidos. A assinatura do contrato pelas duas partes, no país importador e exportador, em dois ou – 39 – Elaborando um plano de exportação mais idiomas igualmente válidos, com o aval de uma câmara de comércio, é instrumento que causa tranqüilidade nas relações estrangeiras. Nesse momento, poderíamos perguntar o seguinte: onde obter infor- mações sobre câmaras de comércio? Onde obter informações sobre feiras? Quais são os potenciais mercados consumidores do nosso produto? Como obter informações sobre preço da concorrência? Como podemos saber sobre barreiras técnicas? 2.4 Onde obter informações? Informação é a base de uma negociação e elemento vital para o negó- cio. Várias são as fontes que podemos buscar. Entidades de classe, associa- ções e sindicatos de classe, por exemplo, são fundamentais para a obtenção de informações sobre acordos internacionais setoriais, concorrência, nível de preços. No Brasil, as empresas de um determinado setor ou ramo de atividade estão organizadas em uma associação, entidade ou sindicato de classe que representam e defendem os interesses do grupo. As indústrias de máquinas e equipamentos dispõem da ABIMAQ (vide texto complementar), as indús- trias de pisos e revestimentos cerâmicos da ANFACER, as têxteis da ABIT, as de embalagem da ABRE, as de plásticos da ABIPLAST, a indústria de componentes para veículos automotores está organizada no SINDIPEÇAS, e assim por diante. Essas entidades possuem um imenso conjunto de informações sobre o setor, seja internamente no país, seja com relação à concorrên- cia de outros países. A ABIMAQ, por exemplo, possui escritório na China desde 2006 para observar o mercado de onde advém o maior número de produtos concorrentes. Essas organizações, em maior ou menor grau, estudam os mercados e captam informações sobre estatística de produtos estrangeiros exportados para o país, principais fabricantes, preço da concorrência, divulgam e auxi- liam a obtenção de oportunidades comerciais no exterior, benefícios fiscais para o setor, defesa comercial, certificado de origem, cursos e seminários espe- cíficos, participação em feiras no Brasil e no exterior, organização de viagens Negócios internacionais – 40 – de negócios e oferecem pesquisas de mercado para os associados, por país e por produto (por classificação fiscal). Aconselhamos a navegação nos sites da ABIMAQ (<www.abimaq.com.br>) e FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, <www.fiesp.org.br>). A participação em feiras internacionais no Brasil e no exterior é um primeiro passo para se iniciar no mercado estrangeiro. A participação ini- cial pode ser realizada como visitante, e posteriormente como expositor. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior disponibiliza o calendário brasileiro de feiras e exposições em seu site (<www.desenvolvi- mento.gov.br>). Sobre eventos no exterior, a APEX complementa esta infor- mação (<www.apexbrasil.com.br>). As câmaras de comércio são outra forma de obtenção de informações sobre oportunidades comerciais. Essas entidades, que representam o inte- resse de pessoas jurídicas no âmbito do direito privado, prestam orientações jurídicas, culturais, aduaneiras, buscam parceiros, consultam sobre a ido- neidade de potenciais clientes, oferecem pesquisas de mercado, assistência técnica, registro de marcas, traduções e intérpretes, organizam reuniões de negócios, cursos, seminários, feiras, orientações sobre certificados de origem, descontos em hospedagem e passagens aéreas, orientação sobre a obtenção de vistos e outros. Algumas câmaras de comércio atuantes no Brasil são as dos Estados Unidos, da China, da Espanha, da França, da Holanda, da Inglaterra, da Itália, do Japão, do México, do Paraguai e da Venezuela. Existem também câmaras de comércio que representam regiões de um país, como a Câmara de Comércio Brasil--Baía de Tampa, Flórida, e outras. Além dessas entidades uma outra forma de obtenção de informação, no tocante específico à questão de barreiras técnicas, é via INMETRO. O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial é uma autar- quia do governo federal criada em 1973. Nos últimos anos, o INMETRO passou a oferecer o serviço gratuito chamado de “Alerta Exportador”, apre- sentando exigências técnicas por países e por produtos, além das barreiras téc- nicas propriamente ditas. O INMETRO é o órgão brasileirocredenciado na OMC para a observância do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio, sendo chamado de Ponto Focal. – 41 – Elaborando um plano de exportação Um exemplo de exigência técnica é a marcação CE no comércio de mer- cadorias dentro da Comunidade Europeia. A Marcação CE significa que o produto está em conformidade com os requisitos comunitários. “Não se des- tina a fins comerciais. Não é marca de qualidade, nem de origem. Significa apenas o cumprimento da lei por parte do fabricante” (INMETRO, 2008). A sigla “CE” deve ser aposta pelo fabricante de forma visível, legível e indelével em produtos novos, usados, importados e alterados substancialmente, antes de serem comercializados no mercado europeu, conforme diretriz específica (INMETRO, 2008). A marcação CE pode ser visualizada com facilidade em produtos eletrônicos em geral. No site do INMETRO também podem ser realizadas pesquisas sobre mercados de destino por mercadorias, verificando a existência ou não de bar- reiras técnicas ao comércio, conforme imagem a seguir. Disponível em: <www.inmetro.gov.br>. Negócios internacionais – 42 – Ampliando seus conhecimentos Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) Canal comércio exterior O texto refere-se ao programa Joint Venture da ABIMAQ aos seus associados,visando sua inserção no mercado internacional (ABIMAQ, 2008) O que é o programa joint venture? O nascimento dessa ação deu-se pela preocupação e acom- panhamento do setor empresarial brasileiro no avanço das modalidades comercial e tecnológica mundiais, e tem como objetivo o fortalecimento da imagem do Brasil como um dos principais fabricantes e exportadores de máquinas e equipa- mentos no mundo. Como poderá observar, não nos atemos somente ao tema joint venture, pois entendemos que para uma empresa reali- zar essa operação ela necessita se preparar, e muitas vezes a solução pode ser encontrada em programas e ações já existen- tes no Brasil, disponíveis em diversos Ministérios, ou mesmo por programas já disponibilizados pela ABIMAQ, como o Export Check-up. As parcerias com as autarquias brasileiras surgiram da necessi- dade de levar ao conhecimento das empresas os programas de desenvolvimento industrial existentes hoje no Brasil, e incentivá-las a utilizá-los, fortalecendo o papel da ABIMAQ como interlocutor entre governo e setor privado. – 43 – Elaborando um plano de exportação Objetivo do programa 2 Tornar o Brasil um país mais competitivo na produção de máquinas e equipamentos com maior tecnologia e especialização, com agregação de valor, visando facilitar a manutenção e expansão do Brasil no mercado mundial; 2 Desenvolvimento tecnológico do parque industrial bra- sileiro de máquinas e equipamentos com programas de joint venture entre empresas, utilização de centros de tec- nologia e de programas de desenvolvimento tecnológicos brasileiros e estrangeiros; 2 Exportação de tecnologia nas áreas em que já se obtém know-how. Justificativa do programa Atento ao processo de internacionalização, o governo brasi- leiro está trabalhando para o fechamento de novos acordos internacionais com os mais variados países e blocos econô- micos, onde não podemos deixar de destacar que, além de questões como o imposto de importação, há aspectos como o desenvolvimento tecnológico de cada um desses mercados para os diferentes segmentos. Como diversos países estão trabalhando para o desenvolvi- mento de acordos internacionais com os mais diversos interes- ses, torna-se cada vez mais difícil tanto a manutenção de mer- cados já desenvolvidos ao longo dos anos, como a entrada em novos mercados. As regras e imposições que estão sendo implantadas nos atu- ais modelos comerciais e as exigências mercadológicas locais, influenciam, inclusive, na possibilidade de utilização dos acor- dos comerciais nos quais o Brasil é signatário ou mesmo para obtenção de benefícios de concessões específicas de tercei- ros países como o SGP. Negócios internacionais – 44 – Para combater essas dificuldades é necessária a modernização de nossa indústria, tanto na tecnologia dos produtos como no conhecimento e na utilização das regras de negociações internacionais, possibilitando competitividade e melhoria no posicionamento estratégico empresarial, na ampliação da base exportadora, ou mesmo na defesa do mercado nacional. A identificação de empresas estrangeiras para o estabele- cimento de parcerias com empresas brasileiras deste setor e vice-versa permite, assim, um outro canal para ganho de competitividade e de tecnologia para ambos os países, além do desenvolvimento de uma modalidade comercial não usual hoje no Brasil, que é a de tecnologia. Portanto, acreditamos que os acordos de cooperação tecno- lógica e respectivos programas disponíveis hoje na Europa, Japão e outros, poderão contribuir, e muito, para o sucesso de nossas ações nessa área. Público-alvo Pequenas e médias indústrias de máquinas e equipamentos. Ações previstas 1. Programas de joint venture Identificação dos programas brasileiros e internacionais de Joint Venture, e sua disponibilização ao setor, incluindo a melhor forma de sua utilização. 2. Tecnologia O objetivo é criar um banco de dados, convênios e capaci- tação interna para orientação sobre os diversos recursos exis- tentes hoje na obtenção de tecnologia. Devemos destacar o papel dos centros de tecnologia e dos programas brasileiros e estrangeiros de capacitação tecnológica. O projeto prevê a criação de Normas Técnicas Brasileiras de produtos específi- cos, quando necessário. – 45 – Elaborando um plano de exportação 3. Gestão empresarial A gestão empresarial tem por objetivo adequar a empresa para a realização de parcerias. Esta etapa necessitará de um apoio incessante da divisão de modernização tecnológica. 4. Jurídico Desenvolvimento de um banco de dados contendo informa- ções e esclarecimentos sobre a melhor rotina a ser adotada nesses processos. Destaca-se a necessidade de desenvolvi- mento de parcerias com escritórios especializados para pos- sibilitar um atendimento direto e rápido quando necessário. 5. Formação É responsável pelo suporte e preparação técnica da equipe gerenciadora e mantenedora do processo. 6. Informação É responsável pelo gerenciamento das informações, avaliação das necessidades e proposição de soluções para o bom anda- mento do projeto. 7. Financiamento Será uma importante ferramenta no auxílio às empresas para pro- cessos de investimentos internos, voltados principalmente para sua capacitação tecnológica e de gestão. Já existem diversos produtos com esses fins disponíveis no mercado, e sua função neste programa será de orientação às empresas interessadas. 8. Promocional A promoção deverá ser o ponto central para o sucesso deste projeto, sendo também, a parte mais dispendiosa, pois dependerá da confecção de diversos materiais específicos, bem como, viagens, apresentações etc. Negócios internacionais – 46 – 9. Parcerias para suporte operacional às empresas (identificação de em- presas especializadas – custos por conta do usuário) As parcerias serão responsáveis pela função de apoio em áreas que a ABIMAQ não detém know-how, ou mesmo, condição técnica para sua implementação. Algumas vezes essas parcerias deverão estar diretamente ligadas a outras ações acima previstas, como modernizações tecnológicas, jurídicas etc. Questionário 1. Razão social: 2. Nome fantasia: 3. Contato: 4. Endereço: 5. Telefone/fax: 6. E-mail: 7. Home page: 8. Ano de fundação: 9. Número de funcionários: 10. O produto de seu interesse tem certificação ou marca de conformidade? 11. A empresa possui certificação de sistemas de qualidade (ISO 9000/ISO 14000).
Compartilhar