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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO: - Um dos principais obstáculos no tratamento da hipertensão consiste na natureza em grade parte assintomática da doença, mesmo com elevação pronunciada da pressão arterial - O número e o espectro de agentes disponíveis para tratar pacientes com hipertensão se ampliaram muito no decorrer das últimas 2 décadas - Os fármacos anti-hipertensivos podem ser inicialmente administrados como agentes isolados (monoterapia), porém devido a natureza progressiva da hipertensão leva ao uso de um esquema de múltiplos fármacos - O principal objetivo do tratamento consiste em reduzir a PA medida para níveis na faixa de 120mmHg para a pressão sistólica e abaixo de 80mmHg para a pressão diastólica - A hipertensão é classificada em hipertensão primária (essencial) ou secundária A hipertensão primária (essencial) afeta 90 a 95% da população hipertensa, e a causa responsável pela elevação da PA é desconhecida A etiologia da hipertensão essencial é multifatorial, incluindo fatores tanto genéticos quanto ambientais, como consumo de álcool, obesidade e ingestão de sal A hipertensão secundária refere-se a pacientes cuja elevação de PA pode ser atribuída a uma causa definida. Alguns exemplos de hipertensão secundária incluem hiperaldosteronismo primário, uso de anticoncepcionais orais, doença renal primária e doença renovascular - A PA é determinada pelo produto da frequência cardíaca, volume sistólico e resistência vascular sistêmica - A frequência cardíaca é determinada pela atividade simpática - O volume sistólico depende da carga (pré- carga e pós-carga) e da contratilidade - A resistência vascular sistêmica reflete o tônus vascular agregado das subdivisões arteriolares da circulação sistêmica - A abordagem farmacológica racional no tratamento da hipertensão tanto primária quanto secundária exige uma compreensão da fisiologia da regulação da pressão arterial normal e dos mecanismos possivelmente responsáveis pela hipertensão nesses pacientes PA sistólica (mmHg) PA diastólica (mmHg) Normal < 120 < 80 Pré- hipertensão 120 – 139 80 – 89 Hipertensão de estágio 1 (moderada) 140 – 159 90 – 99 Hipertensão de estágio 2 (grave) ≥ 160 ≥ 100 NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 FUNÇÃO CARDÍACA: - Um mecanismo potencial para a elevação persistente da PA é a elevação primária no débito cardíaco (hipertensão de “alto débito”) - A ocorrência de uma circulação “hipercinética” pode resultar de atividade simpaticoadrenal excessiva e/ou sensibilidade aumentada do coração a níveis basais de reguladores neuro- humorais - O padrão hemodinâmico de hipertensão baseada na bomba (aumento do débito cardíaco com resistência vascular sistêmica normal) é mais frequentemente observado em pacientes mais jovens com hipertensão essencial, com o passar do tempo esse padrão pode evoluir para um perfil hemodinâmico, em que o principal foco da doença parece se deslocar para a vasculatura periférica - Devido ao mecanismo subjacente da hipertensão de alto débito, o tratamento com antagonistas é atraente nessa população de pacientes FUNÇÃO VASCULAR: - A hipertensão baseada na resistência vascular (débito cardíaco normal e aumento da resistência vascular sistêmica) é um mecanismo comum observado na hipertensão do idoso - Nos indivíduos que possuem essa forma de hipertensão, acredita-se que a vasculatura seja muito sensível à estimulação simpática, a fatores circulantes ou a reguladores locais do tônus vascular - A presença de defeitos nos canais iônicos no músculo liso vascular pode causar elevações anormais do tônus vasomotor basal, o que resulta em aumento da resistência vascular sistêmica - A hipertensão baseada na resistência vascular se manifesta como elevação predominante da pressão arterial sistólica - Os estudo realizados demonstram a eficiência dos diuréticos tiazídicos nessa população de pacientes, de modo que esses fármacos constituem o tratamento inicial preferido FUNÇÃO RENAL: - A retenção excessiva de sódio e de água pelos rins é responsável pela hipertensão baseada no volume - A doença parenquimatosa renal, causada por lesão glomerular com redução da massa de néfrons funcionais ou secreção excessiva de renina, pode levar a um aumento anormal do volume intravascular - A ocorrência de mutações nos canais iônicos pode comprometer a excreção normal de Na+ - A doença renovascular (por exemplo, estenose da artéria renal causada por placas ateroscleróticas, displasia fibromuscular, êmbolos, vasculite ou compressão externa) pode resultar em diminuição do fluxo sanguíneo renal. Em resposta a essa redução na pressão de perfusão, as células justaglomerulares aumentam a secreção de renina, o que leva à produção aumentada de angiotensina II e NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 aldosterona. Esses últimos mediadores aumentam tanto o tônus vasomotor quanto a retenção de Na+ /H2O, levando a um perfil hemodinâmico caracterizado por elevação do débito cardíaco e da resistência vascular sistêmica FUNÇÃO NEUROENDÓCRINA: - A disfunção do sistema neuroendócrino — incluindo regulação central anormal do tônus simpático basal, respostas atípicas ao estresse e respostas anormais a sinais provenientes de barorreceptores e receptores de volume intravasculares — pode alterar a função cardíaca, vascular e/ou renal, com consequente elevação da pressão arterial sistêmica - Entre os exemplos de anormalidades endócrinas associadas à hipertensão sistêmica, destacam-se a secreção excessiva de catecolaminas (feocromocitoma), a secreção excessiva de aldosterona pelo córtex da supra- renal (aldosteronismo primário) e a produção excessiva de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo) MANEJO CLÍNICO DA HIPERTENSÃO: - Como o uso de agentes anti-hipertensivos pode ser inconveniente para a vida de um paciente assintomático, o tratamento a longo prazo do paciente hipertenso exige o uso de esquemas farmacológicos, que devem ser individualizados para obter uma boa aderência ao tratamento e eficácia dos fármacos - É necessário considerar o perfil de segurança, o esquema de dosagem e o custo dos agentes 1. A primeira conduta no tratamento da hipertensão é o aconselhamento relativo à importância de mudanças no estilo de vida, como perda de peso, aumento da atividade física, abandono do tabagismo e dieta com baixo teor de gordura e de sódio 2. Usa-se um arsenal de fármacos para tratar a hipertensão sistêmica, porém todos esses agentes exercem, em última análise, seus efeitos sobre a PA através de uma redução no débito cardíaco e/ou na resistência vascular sistêmica 3. As estratégias atualmente empregadas no tratamento da hipertensão consistem: Na redução do volume intravascular com vasodilatação concomitante (diuréticos); Infra regulação do tônus simpático (antagonistas β, antagonistas α1, simpaticolíticos centrais); Modulação do tônus do músculo liso vascular (bloqueadores dos canais de cálcio, ativadores dos canais de K+ ); Inibição dos reguladores neuro-humorais da circulação (inibidores da ECA, antagonistas da AT1 [antagonistas do receptor de angiotensina II]) 4. A redução da PA produzida por esses fármacos é percebida pelos barorreceptores e pelas células justaglomerulares renais, que podem ativar respostas contrarreguladoras que atenuam a magnitude da redução da pressão arterial. Essas respostas compensatórias podem ser consideráveis, exigindo um ajuste da dose e/ou o uso de mais de um agente para obter um controle da pressão a longo prazo NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 REDUÇÃO DO VOLUME INTRAVASCULAR: DIURÉTICOS: - O mecanismo de ação dos diuréticosna hipertensão ainda não está totalmente elucidado - Os diuréticos diminuem o volume intravascular através de um aumento na excreção renal de sódio e água, porém a depleção de volume por si só não pode explicar por completo o efeito anti-hipertensivo dos diuréticos DIURÉTICOS TIAZÍDICOS: - Exemplo: hidroclorotiazida - Constituem os fármacos natriuréticos mais prescritos para o tratamento da hipertensão - Devido suas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas, os tiazídicos são agentes úteis no tratamento da hipertensão crônica - Os tiazídicos possuem alta disponibilidade oral e longa duração de ação - O efeito anti-hipertensivo inicial é mediado pela diminuição do volume intravascular - Os tiazídicos mostram-se efetivos em pacientes com hipertensão baseada no volume, como os que apresentam doença renal primária e pacientes afro-americanos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 - Os tiazídicos induzem uma redução inicial do volume intravascular que tem como efeito reduzir a PA ao diminuir o débito cardíaco. A diminuição do débito cardíaco estimula o sistema renina-angiotensina, levando a uma retenção de volume e atenuação dos efeitos dos tiazídicos sobre o estado do volume - Há uma hipótese de que os tiazídicos exercem um efeito vasodilatador que potencializa a depleção de volume compensada, o que leva a uma redução sustentada da PA. Isso é comprovado pela observação de que o efeito anti-hipertensivo dos tiazídicos é frequentemente obtido em doses mais baixas do que as necessárias para produzir um efeito diurético máximo - Os tiazídicos exercem seus efeitos sobre a PA ao influenciar tanto no débito cardíaco quanto a resistência vascular sistêmica - A Joint National Commission sugere o uso de diuréticos tiazídicos como fármacos de primeira linha para a maioria dos pacientes, a não ser que haja uma indicação específica para outros agente anti-hipertensivo. Isso provém dos resultados de um estudo clínico que observou desfechos favoráveis e uma redução do custo em associação à terapia com tiazídicos DIURÉTICOS DE ALÇA: - Exemplo: furosemida - São raramente prescritos para o tratamento da hipertensão leve ou moderada - Possuem duração relativamente curta (4 – 6h), e apesar da acentuada diurese que ocorre após a sua administração, sua eficácia anti- hipertensiva é modesta - Acredita-se que esse impacto modesto seja devido à ativação de respostas compensatórias envolvendo os reguladores neuro-humorais do volume intravascular e da resistência vascular sistêmica - Existem várias situações clínicas em que os diuréticos de alça são preferíveis aos tiazídicos, como na hipertensão maligna e hipertensão baseada no volume em pacientes com doença renal crônica avançada DIURÉTICOS POUPADORES DE K+ - Exemplo: espironolactona, triantereno, amilorida - São menos eficazes do que os diuréticos tiazídicos e diuréticos de alça - São utilizados em associação com outros diuréticos, com a finalidade de atenuar ou corrigir a caliurese (excreção de K+) induzida por fármaco e o consequente desenvolvimento de hipocalemia - A hipocalemia constitui um efeito colateral metabólico comum dos diuréticos tiazídicos e diuréticos de alça, que inibem a reabsorção de Na+ nos segmentos mais proximais do néfron e aumentam o aporte de Na+ e de água aos segmentos distais do néfron - O aporte distal aumentado de Na+ resulta em aumento compensatório da reabsorção de Na+ no túbulo distal, que está acoplado a um aumento da excreção de K+. Como este último efeito é mediado pela aldosterona, os diuréticos poupadores de K+ atenuam esse efeito e, portanto, ajudam a manter os níveis séricos normais de potássio - A espironolactona é um antagonista dos receptores de aldosterona particularmente efetivo no tratamento da hipertensão secundária causada por hiperaldosteronismo - Os inibidores da ECA (que diminuem a atividade da aldosterona e a excreção de K+) e os suplementos de K+ devem ser diminuídos ou eliminados nos pacientes em uso de diuréticos poupadores de K+, visto que foi relatada a ocorrência de hipercalemia potencialmente fatal em associação ao uso clínico dos agentes poupadores de K+ NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 INFRA-REGULAÇÃO DO TÔNUS SIMPÁTICO: - Os agentes simpaticolíticos utilizados no tratamento da hipertensão possuem dois mecanismos principais: 1. Redução da resistência vascular sistêmica 2. Redução do débito cardíaco - Do ponto de vista clínico, esses agentes são amplamente divididos em antagonistas dos receptores β-adrenérgicos, antagonistas dos receptores α-adrenérgicos e simpaticolíticos centrais ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES Β – ADRENÉRGICOS - Exemplo: propranolol, metoprolol, atenolol - Constituem agentes de primeira linha comumente prescritos no tratamento da hipertensão - Os efeitos cronotrópicos e inotrópicos negativos desses fármacos (e a consequente redução que ocorre na FC, no volume sistólico e no débito cardíaco) são responsáveis pelo efeito anti-hipertensivo inicial dos antagonistas β. Foi também relatada uma diminuição do tônus vasomotor, com consequente redução da resistência vascular sistêmica, com o uso de tratamento mais prolongado - O antagonismo dos receptores β1- adrenérgicos no rim diminui a secreção de renina e, portanto, reduz a produção da angiotensina II. Este último efeito provavelmente predomina, mesmo quando são administrados antagonistas não seletivos dos receptores β - Embora os antagonistas β reduzam a pressão arterial em pacientes hipertensos, esses fármacos tipicamente não produzem hipotensão em indivíduos com pressão arterial normal - O aumento da atividade simpática basal nos pacientes hipertensos pode explicar, em parte, a eficácia dos antagonistas β na redução da pressão arterial nesses indivíduos. Em contrapartida, a ativação basal dos receptores β em indivíduos normais pode ser suficientemente baixa para que os antagonistas do receptor exerçam pouco efeito hemodinâmico - O tratamento com antagonistas β tem sido associado a uma elevação dos níveis séricos de triglicerídios e redução dos níveis de lipoproteínas de alta densidade (HDL) - Os efeitos colaterais não-cardíacos do tratamento com antagonistas β podem incluir exacerbação da intolerância à glicose (hiperglicemia), sedação, impotência, depressão e broncoconstrição - Dispõe-se de antagonistas α-β mistos (por exemplo, labetalol) em formulações tanto orais quanto parenterais A administração intravenosa de labetalol provoca uma redução considerável da PA e tem ampla aplicação no tratamento de emergências hipertensivas O labetalol oral também é utilizado no tratamento a longo prazo da hipertensão Uma vantagem desse fármaco reside no fato de a redução da pressão arterial obtida pela diminuição da resistência vascular sistêmica (através de antagonismo dos receptores α1) não estar associada ao aumento reflexo da frequência cardíaca ou do débito cardíaco (visto que os receptores β1 cardíacos também são antagonizados) que pode ocorrer quando se utilizam agentes vasodilatadores puros como monoterapia ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES Α– ADRENÉRGICOS: - Exemplo: prazosin, terazosin, doxazosin - Os antagonistas α1-adrenérgicos inibem o tônus vasomotor periférico, reduzindo a vasoconstrição e diminuindo a resistência vascular sistêmica - Uma vantagem do uso desses fármacos é a ausência de efeitos adversos sobre o perfil dos lipídios séricos durante o tratamento a longo prazo com antagonistas α1-adrenérgicos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 7 - Em um estudo clínico comparando os diferentes agentes anti-hipertensivos, foi constatada uma incidência aumentada de insuficiência cardíaca no grupo randomizado para o doxazosin - Os antagonistasα-adrenérgicos não-seletivos (por exemplo, fenoxibenzamina, fentolamina) não são utilizados no tratamento a longo prazo da hipertensão, visto que o seu uso prolongado pode resultar em respostas compensatórias excessivas Por exemplo, o antagonismo dos receptores α2-adrenérgicos centrais desinibe o efluxo simpático, resultando em taquicardia reflexa não-oposta - Todavia, esses agentes estão indicados para o tratamento do feocromocitoma SIMPATICOLÍTICOS CENTRAIS: - Os agonistas α2-adrenérgicos metildopa, clonidina e guanabenzo reduzem o efluxo simpático da medula oblonga, com consequente redução da frequência cardíaca, contratilidade e tônus vasomotor. Esses fármacos, que estão disponíveis em formulações orais (a clonidina também está disponível na forma de disco transdérmico), eram amplamente utilizados no passado, a despeito de seu perfil de efeitos adversos desfavorável. A disponibilidade de múltiplos agentes alternativos, bem como a atual tendência a utilizar esquemas de múltiplos fármacos em doses submáximas, diminuiu consideravelmente o papel clínico dos agonistas α2 no tratamento da hipertensão - Os bloqueadores ganglionares (por exemplo, trimetafan, hexametônio) inibem a atividade nicotínica colinérgica nos gânglios simpáticos. Esses agentes mostram-se extremamente efetivos para reduzir a pressão arterial - Alguns agentes simpaticolíticos (por exemplo, reserpina, guanetidina) são captados nas terminações dos neurônios adrenérgicos pós-ganglionares, onde induzem uma depleção a longo prazo do neurotransmissor das vesículas sinápticas contendo norepinefrina. Esses agentes reduzem a pressão arterial ao diminuir a atividade do sistema nervoso simpático. Todavia, a reserpina e a guanetidina desempenham apenas um pequeno papel no tratamento atual da hipertensão, devido a seu perfil de efeitos adversos significativos, que incluem depressão grave (reserpina), hipotensão ortostática e disfunção sexual (guanetidina) MODULAÇÃO DO TÔNUS DO MÚSCULO LISO VASCULAR: - O tônus vascular depende do grau de contração do músculo liso vascular - Os vasodilatadores reduzem a resistência vascular sistêmica, uma vez que atuam sobre o músculo liso arteriolar ou endotélio vascular - Os principais mecanismos de ação dos vasodilatadores arteriais consistem em: Bloqueio dos canais de Ca+ Abertura dos canais de K+ metabotrópicos BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO: - Exemplo: verapamil, diltiazem, nifedipina, anlodipina - São agentes orais amplamente utilizados no tratamento a longo prazo da hipertensão - Os bloqueadores dos canais de cálcio possuem uma variedade de efeitos hemodinâmicos, refletindo os múltiplos locais em que o cálcio está envolvido nos eventos elétricos e mecânicos do ciclo cardíaco e na regulação vascular - Esses fármacos podem atuar como vasodilatadores arteriais, agentes inotrópicos negativos e/ou agentes cronotrópicos negativos - Os agentes da diidropiridina, a nifedipina e a anlodipina, atuam primariamente como vasodilatadores. Por outro lado, os agentes não-diidropiridina, o verapamil e o diltiazem, NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 8 atuam principalmente como agentes inotrópicos e cronotrópicos negativos, com consequente redução da contratilidade do miocárdio, da frequência cardíaca e da condução de impulsos - Por conseguinte, os bloqueadores dos canais de cálcio podem reduzir a pressão arterial através de uma diminuição da resistência vascular sistêmica e do débito cardíaco - Com frequência, os BCC são utilizados em associação com outros fármacos cardioativos, seja como componentes de um esquema anti- hipertensivo de múltiplos fármacos ou para tratamento anti-hipertensivo e antianginoso combinado em pacientes com cardiopatia isquêmica (CI) - Em virtude dos efeitos farmacodinâmicos distintos dos diferentes BCC, os efeitos adversos potenciais da terapia com BCC são específicos de cada agente Os agentes não-diidropiridina devem ser utilizados com cautela em pacientes que apresentam comprometimento da função sistólica VE, visto que esses fármacos podem exacerbar a insuficiência cardíaca sistólica. Esses fármacos também devem ser utilizados com cautela em pacientes com doença do sistema de condução, visto que podem potencializar anormalidades funcionais do nó sinoatrial (SA) e do nó atrioventricular (AV). A cautela em ambas as situações é particularmente relevante para pacientes submetidos a tratamento concomitante com antagonistas β ATIVADORES DOS CANAIS DE POTÁSSIO: - O minoxidil e a hidralazina são vasodilatadores arteriais disponíveis por via oral utilizados no tratamento a longo prazo da hipertensão - O minoxidil é um ativador do canal de K+ metabotrópico que hiperpolariza as células musculares lisas vasculares, atenuando a resposta celular a estímulos despolarizantes - A hidralazina é um vasodilatador menos poderoso, cujo mecanismo de ação permanece incerto - Tanto o minoxidil quanto a hidralazina podem causar retenção compensatória de Na+ e H2O, bem como taquicardia reflexa; esses efeitos adversos são mais frequentes e mais graves com o minoxidil do que com a hidralazina - O uso concomitante de um antagonista β e de um diurético pode atenuar esses efeitos adversos compensatórios - O uso da hidralazina é limitado pela ocorrência frequente de tolerância e taquifilaxia ao fármaco. Além disso, aumentos na dose diária total de hidralazina podem estar associados a uma síndrome de lúpus induzida por fármaco - Em virtude do perfil de segurança mais favorável dos bloqueadores dos canais de Ca2+, o uso do minoxidil é, hoje em dia, em grande parte restrito a pacientes com hipertensão grave refratária a outros tratamentos farmacológicos - A hidralazina (em associação com dinitrato de isossorbida) surgiu atualmente como terapia adjuvante (isto é, em pacientes que já estão sendo tratados com um inibidor da ECA e um antagonista β) no tratamento da insuficiência cardíaca sistólica em pacientes afro-americanos MODULAÇÃO DO SISTEMA RENINA- ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA: - Os bloqueadores do sistema renina- angiotensina-aldosterona incluem os inibidores da ECA (captopril, enalapril, lisinopril) e os antagonistas do receptor de angiotensina (AT1) (losartan, valsartana) Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA): - Impedem a conversão da angiotensina I em angiotensina II mediada pela ECA, resultando NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 9 em diminuição dos níveis circulantes de angiotensina II e de aldosterona - Ao diminuir os níveis de angiotensina II, os inibidores da ECA reduzem a resistência vascular sistêmica e, portanto, diminuem a impedância à ejeção VE - Ao diminuir os níveis de aldosterona, esses agentes também promovem a natriurese e, consequentemente, reduzem o volume intravascular - Os inibidores da ECA também diminuem a degradação de bradicinina, e o consequente aumento nos níveis circulantes de bradicinina provoca vasodilatação - Os inibidores da ECA mostram-se efetivos em pacientes com hipertensão hiper-reninêmica; esses agentes também reduzem a pressão arterial em pacientes com níveis circulantes baixos a normais de renina - A eficiência dos inibidores da ECA como agentes anti-hipertensivos em pacientes com atividade baixa a normal da renina plasmática pode ser devida à potencialização dos efeitos vasodilatadores da bradicinina - O tratamento com inibidores da ECA é tão efetivo quanto o uso de diuréticos tiazídicos ou de antagonistas β no tratamento da hipertensão - Os inibidores da ECA são agentes anti- hipertensivos que parecem ter benefícios exclusivos (por exemplo, diminuição da perda da função renal em pacientes com doença renal crônica) e relativamente poucos efeitos adversos (os inibidoresda ECA não aumentam o risco de hipocalemia nem provocam elevação dos níveis séricos de glicose ou lipídios) - Os inibidores da ECA devem ser administrados com cautela a pacientes com depleção do volume intravascular. Esses pacientes podem apresentar redução da perfusão renal em condições basais, levando a um aumento compensatório da renina e angiotensina II. Esse aumento da angiotensina II constitui um dos mecanismos fisiológicos pelos quais a taxa de filtração glomerular (TFG) é mantida na presença de hipoperfusão renal relativa. A administração de inibidores da ECA a esses pacientes pode romper esse mecanismo auto-regulador, levando ao desenvolvimento de insuficiência renal - Os inibidores da ECA são considerados como agentes preferidos no tratamento do paciente diabético hipertenso, visto que foi constatado que eles retardam o início e a evolução da doença glomerular diabética, através de efeitos favoráveis sobre a pressão intraglomerular ANTAGONISTAS AT1 (BLOQUEADORES DO RECEPTOR DE ANGIOTENSINA): - São agentes anti-hipertensivos orais que antagonizam competitivamente a ligação da angiotensina II a seus receptores AT1 cognatos - Além de seu efeito anti-hipertensivo, esses fármacos também podem diminuir a proliferação reativa da íntima arteriolar - À semelhança dos inibidores da ECA, os antagonistas AT1 mostram-se efetivos na redução da pressão arterial e, algumas vezes, substituem os inibidores da ECA em pacientes com tosse induzida por inibidores da ECA - A tosse, que constitui um efeito colateral comum do tratamento com inibidores da ECA, resulta de um aumento dos níveis de bradicinina induzido por esses fármacos; com frequência, esse efeito colateral leva à não-aderência do paciente ao tratamento ou à sua interrupção. Como os antagonistas AT1 não afetam a atividade da enzima conversora responsável pela degradação da bradicinina, a tosse não constitui um efeito colateral do tratamento com BRA NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 10 MONOTERAPIA E CUITADOS POR ETAPAS: - A monoterapia é o tratamento com um único fármaco - É frequentemente suficiente para normalizar a PA em pacientes com hipertensão leve - Essa abordagem pode melhorar a aderência do paciente ao tratamento e evitar o risco de interações medicamentosas potenciais - Foi constatado que os diuréticos tiazídicos, os inibidores da ECA, os antagonistas AT1, os antagonistas βe os bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) assemelham-se quanto à sua eficácia em reduzir a pressão arterial (cada um deles reduz efetivamente a pressão arterial em 30 a 50% dos pacientes) - O agente ideal é aquele que reduz a pressão arterial do paciente para a faixa ótima, com o menor número de efeitos adversos - A toxicidade dos fármacos está relacionada com a sua dose, e, por conseguinte, o médico deve considerar cuidadosamente o uso de agentes “sinérgicos” em doses mais baixas, particularmente se o controle da pressão arterial for marginal ou inadequado - Um bom exemplo do uso de agentes sinérgicos é a combinação de um diurético tiazídico com um inibidor da ECA. Ao induzir um ligeiro grau de depleção de volume, os diuréticos tiazídicos ativam o sistema renina- angiotensina. Se essa resposta for bloqueada por um inibidor da ECA, o efeito anti- hipertensivo do tiazídico é então potencializado. Além disso, a inibição do sistema renina- angiotensina por si só promove a natriurese. Por fim, a combinação de um tiazídico com um inibidor da ECA diminui a resistência vascular sistêmica - Certas circunstâncias clínicas favorecem o uso inicial de uma classe específica de agentes anti- hipertensivos Os antagonistas β constituem os fármacos de escolha para pacientes com história de infarto do miocárdio (IM) Os inibidores da ECA são recomendados para pacientes com disfunção ventricular esquerda, diabetes e/ou doença renal crônica A hipertensão associada à retenção de volume na síndrome nefrótica responde de modo satisfatório aos diuréticos Os inibidores da ECA também são utilizados na síndrome nefrótica para atenuar o grau de proteinúria - Os cuidados por etapas no tratamento da hipertensão referem-se ao acréscimo gradual e progressivo de fármacos ao esquema terapêutico - A terapia de combinação baseia-se no uso de agentes com mecanismos distintos de ação; além disso, ressalta o uso de doses submáximas dos fármacos na tentativa de minimizar os efeitos adversos potenciais e toxicidades - A redução inicial da pressão arterial média induzida por vasodilatadores arteriais de ação curta, como a hidralazina ou a nifedipina, ativa mecanismos compensatórios, que podem resultar em taquicardia significativa e retenção de Na+ e H2O. A adição de um agente simpaticolítico (por exemplo, metoprolol) e/ou de um diurético (por exemplo, hidroclorotiazida) pode atenuar essas respostas compensatórias POSSÍVEIS FATORES DEMOGRÁFICOS: - Certas classes de agentes anti-hipertensivos são mais efetivas do que outras em populações especiais e as diversas etiologias distintas da hipertensão podem ser mais ou menos prevalentes em diferentes populações PACIENTES IDOSOS: - Os pacientes idosos tendem a responder mais favoravelmente a diuréticos e a bloqueadores dos canais de Ca2+ diidropiridínicos do que a outros agentes anti- hipertensivos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 11 - Os antagonistas β têm mais tendência a causar disfunção do nó SA ou do nó AV ou a comprometer a função do miocárdio nos pacientes idosos; esses efeitos provavelmente estão relacionados com a maior prevalência de doença do sistema de condução e de disfunção sistólica VE nesses pacientes - Os pacientes idosos também têm tendência a apresentar níveis circulantes diminuídos de renina, e há relatos que eles são menos responsivos aos inibidores da ECA PACIENTES DE DESCENDÊNCIA AFRICANA: - A hipertensão em pacientes de descendência africana é mais responsiva a diuréticos e a bloqueadores dos canais de Ca2+ do que a antagonistas β e inibidores da ECA. (Uma notável exceção é a resposta favorável observada em indivíduos afro-americanos jovens ao tratamento com antagonistas β) - Os relatos indicam que alguns indivíduos afro- americanos apresentam níveis circulantes mais baixos de renina, o que pode explicar a observação de que os inibidores da ECA são menos efetivos nesses pacientes - Relatos recentes demonstraram que a prevalência de sensibilidade ao Na+ está consideravelmente aumentada em alguns indivíduos afro-americanos, incluindo tanto a coorte hipertensa quanto a normotensa - Há algumas evidências de uma responsividade diferencial às diversas classes de agentes anti- hipertensivos em coortes asiáticas e hispânicas com hipertensão CRISE HIPERTENSIVA: - O termo crise hipertensiva refere-se às síndromes clínicas caracterizadas por elevações intensas (tipicamente agudas) da pressão arterial - Essa elevação abrupta da pressão arterial pode causar lesão vascular aguda e lesão dos órgãos-alvo - Embora a maioria dos casos de hipertensão grave tenha sido, no passado, designada como “crise hipertensiva” ou “hipertensão maligna”, a prática atual procura diferenciar os pacientes em que a elevação da pressão arterial e a lesão vascular são agudas (emergência hipertensiva) da coorte de pacientes nos quais a evolução temporal da elevação da pressão arterial é mais gradual e a lesão dos órgãos-alvo é crônica e lentamente progressiva - Uma emergência hipertensiva verdadeira é uma afecção potencialmente fatal em que a elevação intensa e aguda da pressão arterial está associada a lesão vascular aguda. Clinicamente, a lesão vascular pode manifestar- se na forma de hemorragias da retina, papiledema, encefalopatia e insuficiência renal aguda (ouaguda superposta à insuficiência renal crônica); com frequência, essa síndrome está associada a insuficiência ventricular esquerda aguda - O tratamento de pacientes com emergência hipertensiva exige uma rápida redução da pressão arterial para evitar a lesão dos órgãos- alvo. As classes de fármacos utilizadas no tratamento dessa emergência incluem vasodilatadores parenterais (por exemplo, nitroprussiato), diuréticos (por exemplo, furosemida) e/ou antagonistas β (por exemplo, labetalol) - Devido ao caráter agudo da síndrome e à necessidade de titular cuidadosamente esses poderosos agentes anti-hipertensivos, os pacientes são hospitalizados para receber tratamento - Uma vez controlado o episódio agudo, a redução subsequente da pressão arterial para a faixa normal do paciente é então empreendida com mais cautela, no decorrer de um maior período de tempo (12 a 24 horas), num esforço de diminuir o risco de hipoperfusão dos órgãos críticos, bem como a extensão da lesão vascular - Embora a hipertensão maligna seja uma emergência médica potencialmente fatal, trata- se de uma expressão incomum da doença NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 12 hipertensiva, que ocorre em bem menos de 1% dos pacientes hipertensos - Os casos de urgência hipertensiva são mais comuns; nessa situação, a elevação da pressão arterial é menos aguda, e a doença dos órgãos- alvo já se encontra presente há algum tempo. As afecções que ilustram a urgência hipertensiva incluem o acidente vascular cerebral ou o IM acompanhado de acentuada elevação da pressão arterial ou a insuficiência cardíaca esquerda aguda com hipertensão grave
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