Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CID-10 DSM-5 1 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro Transtornos de Ansiedade Introdução A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra a intersecção entre o físico e o psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, tremores, tensão muscular, aumento das secreções, aumento da motilidade intestinal e cefaleia. Trata-se de um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar ameaças. O medo é a resposta a uma ameaça conhecida, definida; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, vaga. A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações potencialmente danosas ou qualquer ameaça à unidade ou integridade pessoal, tanto física como moral. Dessa forma, ela prepara o organismo para tomar as medidas necessárias para impedir a concretização desses possíveis prejuízos. Portanto, é uma reação natural e necessária para a autopreservação. Não se trata de um estado normal, mas de uma reação. As reações de ansiedade normais não precisam ser tratadas porque são naturais e autolimitadas. Os estados de ansiedade anormais, que constituem síndromes de ansiedade, são patológicos e requerem tratamento específico. Níveis de Ansiedade Transtorno de Pânico O transtorno de pânico caracteriza-se por crises súbitas e imprevisíveis de elevada ansiedade e medo, com taquicardia, sudorese, tontura, dor no peito, falta de ar e sensação de morte ou de perda de controle (ataques de pânico). Para definir o transtorno, devem ocorrer vários ataques de pânico em um período de, pelo menos, 1 mês, sem que haja circunstâncias com perigo objetivo. As crises de ansiedade no pânico duram aproximadamente 10 minutos e costumam ser inesperadas, ou seja, não seguem situações especiais (como na fobia simples ou na fobia social), podendo surpreender o paciente em ocasiões variadas. Todavia, alguns desenvolvem o episódio de pânico diante de determinadas situações pré- conhecidas, como ao dirigir automóveis, diante de grande multidão ou dentro de transportes públicos. Nesse caso, dizemos que o transtorno de pânico é acompanhado de agorafobia. Na presença desta, o transtorno é duas vezes mais prevalente entre mulheres. Neuroendócrino Efeitos de adrenalina, noradrenalina, glucagon, hormônio antidiurético e cortisona Visceral Ansiedade ocorre por conta do sistema nervoso autônomo (SNA), o qual reage exacerbando-se na reação de alarme ou relaxando nas fases de fadiga. Consciência Manifesta-se por meio da consciência das sensações fisiológicas (sudorese, palpitação, inquietação) e de nervosismo ou amendrontamento. CID-10 DSM-5 2 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro São sintomas mais frequentes do transtorno de pânico, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5): 1. Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado; 2. Sudorese; 3. Tremores; 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento; 5. Dor ou desconforto no peito; 6. Náusea ou desconforto abdominal; 7. Sensação de tontura, instabilidade ou desmaio; 8. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (estar distanciado de si mesmo); 9. Medo de perder o controle ou enlouquecer; 10. Medo de morrer; 11. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento, especialmente nos membros inferiores ou nos superiores); 12. Calafrios ou ondas de calor. Epidemiologia Segundo o DSM-5, a estimativa de prevalência de 12 meses para o transtorno de pânico nos Estados Unidos e em vários países europeus é de 2 a 3% em adultos e adolescentes, o que significa uma prevalência alta, sendo ainda mais alta quando os critérios para diagnóstico não são inteiramente preenchidos, ou melhor, se forem consideradas as crises parciais e os quadros de ataques de ansiedade atípicos. O transtorno de pânico, em geral, inicia-se depois dos 20 anos, sendo igualmente prevalente entre homens e mulheres. Portanto, em sua maioria, as pessoas acometidas de pânico são jovens ou adultos jovens e estão na plenitude da vida profissional. Tratamento O tratamento deve ser realizado com antidepressivos, preferencialmente inibidores seletivos da recaptação da serotonina, em dose mais baixa do que a utilizada em casos de depressão. No início do tratamento, pode ser associado um benzodiazepínico de ação rápida ou intermediária, como lorazepam ou alprazolam, para melhora mais rápida das crises. Paralelamente à medicação, deve-se indicar psicoterapia, em especial da linha cognitivo- comportamental, que focaliza a redução dos sintomas e a parada das crises. Transtorno de Ansiedade Generalizada Segundo critérios do DSM-5, o transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preocupação ou ansiedade excessivas, com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível de ansiedade observado. Para o seu diagnóstico, é preciso que outros transtornos de ansiedade, como pânico e fobia social, tenham sido descartados. É necessário também que essa ansiedade excessiva dure mais de 6 meses continuamente e que seja diferenciada da ansiedade normal ou da causada por alguma doença física ou substância. São sintomas presentes no transtorno de ansiedade generalizada, segundo o DSM-5: 1. Dificuldade para relaxar ou sensação de que está a ponto de “estourar”, no limite do nervosismo; 2. Cansaço com facilidade; 3. Dificuldade de concentração e frequentes esquecimentos; 4. Irritabilidade; 5. Tensão muscular; CID-10 DSM-5 3 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro 6. Dificuldade para dormir ou sono insatisfatório. Por fim, um critério presente em todos os transtornos mentais é o prejuízo no funcionamento pessoal ou marcante sofrimento. Epidemiologia Ainda segundo o DSM-5, as mulheres são duas vezes mais acometidas pela ansiedade generalizada do que os homens. A prevalência desse transtorno na população é relativamente alta, em torno de 3% da população geral, sendo também o tipo mais frequente do grupo dos transtornos de ansiedade. Nos períodos naturais de estresse, os sintomas tendem a piorar. As mulheres abaixo de 20 anos são as mais acometidas, podendo, contudo, ter início na infância ou em idades mais avançadas (apesar de a idade avançada diminuir as chances do surgimento de transtornos de ansiedade). Tratamento O tratamento é realizado com antidepressivos e/ou benzodiazepínicos de ação prolongada (diazepam), acompanhado de psicoterapia. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) O transtorno obsessivo-compulsivo consiste na combinação de obsessões e compulsões. Segundo o DSM-5, obsessões são pensamentos recorrentes insistentes caracterizados por serem desagradáveis, repulsivos, contrários à índole do paciente e incontroláveis. Como este perde o controle sobre os pensamentos, muitas vezes passa a praticar atos que, por serem repetitivos, tornam-se rituais. Esses atos objetivam prevenir ou aliviar a tensão causada pelos pensamentos. Assim, as compulsões podem ser secundárias às obsessões. As compulsões são gestos, rituais ou ações sempre repetitivas e incontroláveis. Um paciente que tenta evitá-las acaba submetido a uma tensão muito grande, por isso sempre cede. Não ocorre perda do juízo, e o indivíduo sempre percebe o absurdo ou o exagero do que se está passando; no entanto, como não sabe o que acontece, teme estar enlouquecendo e, pelo menos no começo, tenta esconder seus pensamentos e rituais. No transtorno obsessivo-compulsivo, os dois tipos de sintomas quase sempre estão juntos, mas pode haver a predominância de um em relação ao outro. Epidemiologia Apresenta dois picos de incidência: o primeiro, na infância, e o segundo, em torno dos 30 anos. A incidência é aproximadamente a mesma entre homens e mulheres, com pequenas diferençasde um estudo para outro. Entre as crianças, observa-se o aparecimento um pouco mais comum nos meninos. Sintomas obsessivos mais comuns 1. Sentir medo de contaminar-se por germes; 2. Imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas; 3. Imaginar-se perdendo o controle, realizando violentas agressões; 4. Ter pensamentos sexuais urgentes e intrusivos; 5. Ter dúvidas morais e religiosas; 6. Ter pensamentos proibidos. CID-10 DSM-5 4 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro Sintomas compulsivos mais comuns 1. Lavar-se para descontaminar-se; 2. Repetir determinados gestos; 3. Verificar se as coisas estão como deveriam: porta trancada, gás desligado; 4. Conferir objetos; 5. Contar objetos; 6. Ordenar ou arrumar objetos; 7. Rezar. Tratamento O tratamento é realizado com antidepressivos. No início, podem-se utilizar benzodiazepínicos para o alívio rápido dos sintomas. Destaca-se a importância da psicoterapia, em especial da linha cognitivo-comportamental. Fobia Social Segundo critérios do DSM-5, a fobia social é a intensa ansiedade gerada quando o desempenho do paciente é submetido à avaliação de outras pessoas. Tal ansiedade, ainda que generalizada, concentra-se sobre tarefas ou circunstâncias bem definidas. É comum sentir-se acanhado quando se é observado, o que é, até certo ponto, normal e aceitável. Passa-se a considerar tal vergonha ou timidez como patológicas quando a pessoa começa a sofrer algum prejuízo pessoal por causa dela, como deixar de concluir um curso ou uma faculdade devido a uma apresentação pública ou por não conseguir se expressar diante de um avaliador. Observam-se, dentre os fóbicos, tremores, sudorese, sensação de “bolo na garganta”, dificuldade para falar, mal-estar abdominal, diarreia, tonturas, falta de ar e vontade de sair o quanto antes do local onde está . A preocupação por antecipação desperta a ansiedade antecipatória, fazendo que o paciente, vários dias antes de uma apresentação, sofra ao imaginar-se na situação. As situações que geram maior desconforto aos pacientes, geralmente, são: 1. Escrever ou assinar em público; 2. Falar em público; 3. Dirigir ou estacionar um carro enquanto é observado; 4. Cantar ou tocar um instrumento musical; 5. Comer ou beber em público; 6. Ser fotografado ou filmado; 7. Usar sanitários públicos (mais para homens). Epidemiologia As pessoas mais afetadas pela fobia social são os homens, ao contrário da maioria dos transtornos de ansiedade, que predomina entre as mulheres. A idade média de início do transtorno de ansiedade social nos Estados Unidos, segundo o DSM-5, é 13 anos, e 75% dos indivíduos têm idade de início entre 8 e 15 anos. O transtorno inicia-se com história infantil de inibição social ou timidez. O início na idade adulta é relativamente raro e é mais provável ocorrer após um evento estressante ou humilhante ou após mudanças na vida que exigem novos papéis sociais (por exemplo, casar-se com alguém de uma classe social diferente, receber uma promoção no trabalho). Entre as pessoas que buscam atendimento clínico, o transtorno tende a ser particularmente persistente. CID-10 DSM-5 5 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro Tratamento O tratamento medicamentoso é feito com os benzodiazepínicos ou os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, que permitem recuperação entre 70 e 90%. É pouco provável melhora de 100%, embora algumas pessoas atinjam percentuais bem próximos a esse. Todos os transtornos têm em comum o prejuízo social gerado por eles. Transtorno de Estresse Pós-Traumático O transtorno de estresse pós-traumático, segundo o DSM-5, pode ser entendido como a perturbação psíquica decorrente e relacionada a um evento ameaçador ao paciente, ou sendo este apenas testemunha de uma tragédia. Consiste em um tipo de recordação de revivescência, em que, além de recordar as imagens, o paciente sente como se vivesse novamente a tragédia com todo o sofrimento que ela causou. Para o diagnóstico, é essencial que a pessoa tenha experimentado ou testemunhado um evento traumatizante ou gravemente ameaçador; separação conjugal, repetência e demissão do emprego não são considerados eventos ameaçadores. É necessário também que ela tenha apresentado uma resposta marcante de medo, desesperança ou horror imediatamente após o evento. Após isso, pode passar a ter recordações vivas, intrusivas (involuntárias e abruptas), incluindo a lembrança do que pensou, sentiu ou percebeu enquanto vivia o trauma. Podem ocorrer pesadelos baseados no tema, e as situações que lembram o evento causam intenso sofrimento e são evitadas. Tratamento O tratamento mais efetivo é a psicoterapia, embora antidepressivos também possam beneficiar o paciente.
Compartilhar