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Catalogação Descritiva Ana Cláudia Gouveia Araújo Curso Técnico Biblioteca Educação a Distância 2015 EXPEDIENTE Professor Autor Ana Cláudia Gouveia Araújo Design Instrucional Deyvid Souza Nascimento Maria de Fátima Duarte Angeiras Renata Marques de Otero Terezinha Mônica Sinício Beltrão Revisão de Língua Portuguesa Letícia Garcia Diagramação Izabela Cavalcanti Coordenação Hugo Carlos Cavalcanti Coordenação Executiva George Bento Catunda Coordenação Geral Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra Conteúdo produzido para os Cursos Técnicos da Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, em convênio com o Ministério da Educação (Rede e- Tec Brasil). Agosto, 2015 A663c Araújo, Ana Cláudia Gouveia. Catalogação Descritiva: Curso Técnico em Biblioteca: Educação a distância / Ana Cláudia Gouveia Araújo. – Recife: Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, 2015. 114 p.: il. 1. Educação distância. 2. Catalogação. 3. Catalogação Descritiva. I. Araújo, Ana Cláudia Gouveia. II. Título. III. Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco. IV. Ministério da Educação. V. Rede e-Tec Brasil. CDU – 025.45 Sumário Introdução .............................................................................................................................................. 5 1.Competência 01 | Saber Manipular Registros e Representações do Conhecimento para Organização de Acervos Bibliográficos: Conceitos e Finalidades do Controle Bibliográfico Universal e da Catalogação .................................................................................................................................... 7 1.1 Controle Bibliográfico Universal (CBU) .......................................................................................................8 1.1.1 Políticas para o Controle Bibliográfico Universal .................................................................................. 13 1.1.2 Agência Bibliográfica Nacional .............................................................................................................. 15 1.1.2.1 Depósito Legal .................................................................................................................................... 16 1.1.2.2 International Standard Book Number (ISBN) e International Standard Serial Number (ISSN) .......... 18 1.1.2.3 Catalogação na Publicação ................................................................................................................. 31 1.1.3 Catalogação: Conceitos, Funções e Tipos de Catálogos........................................................................ 34 1.1.3.1 Funções da Catalogação e Tipos de Catálogos .................................................................................. 37 2.Competência 02 | Saber Organizar o Acervo da Biblioteca de Acordo com os Elementos de Catalogação para Descrição Física de Objetos Informacionais (AACR2R) ........................................... 52 2.1 O Código de Catalogação Anglo-Americano ............................................................................................ 52 2.1.1 Descrição Bibliográfica .......................................................................................................................... 59 2.1.1.1 Níveis de Detalhamento da Descrição ............................................................................................... 62 2.1.1.2 Pontos de Acesso ............................................................................................................................... 66 2.1.2 Como Catalogar? ................................................................................................................................... 76 3.Competência 03 | Operar Elementos da Catalogação em Ambientes Digitais: Formatos de Intercâmbio de Dados Bibliográficos e Catalográficos ......................................................................... 89 3.1 Catalogação Automatizada e Descrição de Objetos Digitais ................................................................... 89 3.1.1 Formato MARC ...................................................................................................................................... 90 3.1.1.1 Registro Bibliográfico ......................................................................................................................... 91 3.1.2 Resource Description and Access – Descrição e Acesso de Recursos ................................................... 99 3.1.3 Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos ........................................................................... 101 3.1.4 Metadados .......................................................................................................................................... 103 Conclusão ........................................................................................................................................... 109 Referências ......................................................................................................................................... 110 Minicurrículo do Professor ................................................................................................................. 114 5 Introdução A Biblioteconomia, juntamente com a Museologia, Arquivologia e Gestão da Informação, está inserida na grande área chamada Ciência da Informação. Esta última busca refletir teoricamente sobre os processos de produção, tratamento, disseminação e uso da informação. Cada uma das áreas anteriores citadas atua desenvolvendo elementos que viabilizem a efetivação dos processos mencionados. A Biblioteconomia se apresenta como área que contribui para a ação prática desses processos, desenvolvendo técnicas de tratamento informacional e formas de disseminar a informação produzida na sociedade, permitindo o uso da informação pelos usuários que a procuram. Dentre as disciplinas que viabilizam o tratamento da informação, a Catalogação Descritiva é uma delas. Catalogar é uma atividade desenvolvida na Biblioteconomia que tem como objetivo identificar, descrever fisicamente o objeto informacional com fins de que seja localizado pelo pesquisador. Portanto, é relevante que o profissional que desenvolve esta atividade, bem como outras na nossa área, reflita sobre o fim social da sua atuação. A disciplina Catalogação Descritiva será apresentada em três competências: 1) Saber manipular registros e representações do conhecimento para organização de acervos bibliográficos: conceitos e finalidades do Controle Bibliográfico Universal e da catalogação; 2) Saber organizar o acervo da biblioteca de acordo com os elementos de catalogação para descrição física de objetos informacionais (AACR2r); 3) Operar elementos da catalogação em ambientes digitais: formatos de intercâmbio de dados bibliográficos e catalográficos. Convidamos vocês, futuros Técnicos em Biblioteca, ao aprendizado teórico e troca de informações no ambiente virtual de aprendizagem para que possamos desenvolver cada vez melhor nossas habilidades como profissionais da informação. Salientamos que este material não busca ser conclusivo, visto que estamos sempre em processo de evolução. Todavia, traz embasamento 6 teórico relevante para a prática da catalogação nas unidades informacionais em que vocês já trabalham ou em que venham a atuar, jamais esquecendo que o comportamento ético é a estrutura maiorpara o desenvolvimento de qualquer atividade na profissão que escolhemos para nossas vidas. Bons estudos! 7 1.Competência 01 | Saber Manipular Registros e Representações do Conhecimento para Organização de Acervos Bibliográficos: Conceitos e Finalidades do Controle Bibliográfico Universal e da Catalogação Organizar é uma atividade inerente ao ser humano. Desde os primórdios, vemos que a humanidade se preocupou em categorizar as coisas, relacionando-as de forma consensual a partir de princípios/regras/acordos o mais universais. Com a evolução social, a contemporaneidade nos apresenta novos padrões de sistematização, impulsionando-nos a utilizar a inter e a transdisciplinaridade para atingirmos a eficiência nos processos de organização. Parte da história e mudanças ocorridas na organização da informação será tratada neste caderno da disciplina Catalogação Descritiva, que é do ramo da Representação da Informação e esta atua como elemento fundamental para viabilizar a Recuperação da Informação (RI) por parte dos usuários de qualquer unidade informacional. Em termos gerais, trataremos informação nessa disciplina como o conhecimento registrado em algum objeto informacional: livro, periódico, CD, DVD, manuscrito, partitura musical, mapa, ambiente digital, dentre outros. Em outras palavras, o paradigma adotado na presente disciplina é que o conhecimento reside na mente. Ele é pessoal, intransferível e constituído de informação (presença e ausência), sentimento, experiência de mundo, ou seja, o conjunto da percepção humana. A partir do momento em que esse conhecimento é registrado, torna-se uma potencial informação que, se assimilada, pode se transformar em novos conhecimentos e em inovação. É comum, atualmente, ouvirmos falar da explosão informacional. Escutando isso, não devemos nos limitar ao mundo digital, onde há um excesso de informação produzida que não conseguimos acompanhar. Pensemos também no início do livro: era bem mais fácil acompanhar o que estava sendo escrito no mundo no período da Antiguidade, por exemplo. Mas esse acesso era privilégio para poucos. Entretanto, depois do surgimento da imprensa, cresceu o processo de produção e se tornou mais difícil acompanhar as publicações que surgiam. Competência 01 8 Até o surgimento da imprensa, a produção de livros ocorria de forma mais limitada. Com o crescimento da produção bibliográfica, surgiu a necessidade de registrar o que era publicado mundialmente para viabilizar um Controle Bibliográfico Universal (CBU) - Universal Bibliographic Control (UBC). Dentre os mecanismos e ferramentas utilizados para viabilizar o CBU, destacamos a descrição física dos objetos informacionais, ou seja, a Catalogação Descritiva. Portanto, nesta competência, vamos conhecer o Controle Bibliográfico Universal (CBU), seus objetivos, finalidades, perspectivas históricas. Além disso, vamos estudar a Catalogação como disciplina responsável pela descrição física dos objetos informacionais em seus diversos suportes: livro, manuscritos, áudio, vídeo, etc. Em continuidade, será abordado sobre intercâmbio de dados, tratando sobre MARC 21 e padrão de metadados, demonstrando exemplos de inserção de dados no Sistema Pergamum utilizando o MARC 21, e inserção de dados no sistema DSpace, utilizando o padrão de metadados Dublin Core. Portanto, serão discutidos os temas: Controle Bibliográfico Universal, seu histórico, o que é e para que serve; Catálogo e Catalogação, apresentando uma breve história, os tipos de catálogos existentes; O Código de Catalogação Anglo-Americano, as áreas de descrição e alguns exemplos, apresentando formatos de fichas catalográficas manuais para propiciar o entendimento da inserção de dados em catálogos automatizados, utilizando o formato MARC 21 de intercâmbio de dados. Abordaremos também sobre os novos conceitos relacionados à catalogação descritiva, trazendo informações sobre os Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR) e dos Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade (FRAD), bem como as novas regras trazidas pelo Resource Description and Access (RDA). Por fim, apresentaremos informações teóricas sobre metadados e o software de gerenciamento de conteúdos digitais DSpace, utilizados para repositórios institucionais. 1.1 Controle Bibliográfico Universal (CBU) Desde a Antiguidade, tentou-se catalogar os livros que existiam nas bibliotecas. A reunião de livros Competência 01 9 em uma biblioteca ou residência era organizada para fins de localização do livro referente ao assunto almejado como acontece até hoje, porém de formas diferentes. Segundo Pinho (2010), o interesse em organizar o conhecimento não é novo, pois já ocorria desde a Antiguidade, o que fez com que as bibliotecas se tornassem instituições de guarda desse saber registrado e com interesses de preservá-lo e socializá-lo. O autor acrescenta também que A famosa Biblioteca de Alexandria, que reunia inúmeras obras de muitas partes do mundo, inspirou a criação de catálogos e bibliografias com o intuito de controlar o que se havia publicado [...] com o aumento da circulação das obras, tornou-se necessária a criação de instrumentos capazes de classificar, identificar e hierarquizar o conhecimento disponível (PINHO, 2010, p. 5). A produção desses catálogos e bibliografias nos primórdios das bibliotecas é atividade que deu início ao que chamamos de Controle Bibliográfico Universal (CBU). Atividade considerada muitas vezes como utópica, podemos definir o CBU, de forma simples, como aquele que registra/controla os documentos publicados no mundo inteiro (sobre as diversas áreas do saber), a fim de torná-los disponíveis teoricamente, ou de forma prática, fazendo com que o usuário possa obter o documento físico conforme necessário. O conceito de controle bibliográfico é inerente às atividades das bibliotecas, desde o início destas instituições. Embora nem sempre assim denominado, podemos delinear um começo para o controle bibliográfico juntamente com o aumento das coleções e seu controle local – efetivado pelos catálogos, instrumentos presentes desde Alexandria –, passando pelo refino da ideia com a formulação das bibliografias, e chegando ao Répertoire Bibliographique Universel de Otlet no final do século XIX. Nesta linha de tempo, as perspectivas sobre o que é e como realizar o controle bibliográfico foram amadurecendo e crescendo junto com as unidades de informação e a produção de materiais, impressos ou não (GRINGS; PACHECO, 2010, p. 77). Competência 01 10 O princípio dos sistemas de organização da informação em bibliotecas pode ser reconhecido para Calímaco 250 a.C., na elaboração dos PINAKES, em que registrava o número de linhas de cada obra, juntamente com as palavras iniciais e os dados bibliográficos dos autores, uma das primeiras iniciativas de organização da informação de que se tem memória (PINHO, 2010). Várias foram as tentativas de reunir a produção do conhecimento em âmbito mundial. Apresentaremos alguns exemplos (Quadro 1), em ordem cronológica, de atividades desenvolvidas com a finalidade de reunir as publicações mundiais. Salientamos que as tentativas foram realizadas sem planejamento, o que dificultou seu efetivo funcionamento. QUANDO ONDE QUEM CARACTERÍSTICAS 250 a.C. Biblioteca de Alexandria Calímaco Catálogo com 120 rolos de papiro – considerado um marco no CBU APÓS O ADVENTO DA IMPRENSA Século XVI Europa Conrad Gesner Biblioteca Universalis, obra que contemplava apenas obras em hebraico, latim e grego. 15 mil títulos de mais ou menos 3 mil autores. Se considerar também o apêndix de 1555 que essa bibliografia registrou, supõe-se que tenha correspondidoapenas a uma quinta parte da produção bibliográfica europeia até o ano de 1997 Séculos XVIII e XIX Europa Michael Maittaire (1668- 1747); o alemão Gottieb Georgi no século XIX e o francês Jacques Charles Brunet (1780-1867) Limitaram-se à produção tipográfica da Europa Ocidental. 1890 Zurique Concilium Bibliographium Pretendia controlar a literatura mundial da área de ciências biológicas, deixando de produzir seus registros em 1940 Começo do século XX International Catalogue of Scientific Literature Intenção de cobrir a literatura científica em geral lutando para sobreviver durante 17 anos quando deu fim à publicação. 1895 Bruxelas Instituto Internacional de Bibliografia Tinha como objetivo a reunião da produção bibliográfica mundial em forma de catálogo em fichas, onde era indicada também a localização física da obra. Répertoire Bibliographique Universal, foi como ficou conhecido este catálogo que chegou a reunir cerca de 20 milhões de fichas, representando o acervo de bibliotecas americanas e europeias, dando fim às atividades, devido a dificuldades financeiras. Quadro 1 – Tentativas realizadas para um controle bibliográfico universal Fonte: O autor, 2015. Competência 01 11 Como podemos perceber, os catálogos desenvolvidos nas bibliotecas foram os principais instrumentos de controle e registro das publicações dos acervos ou coleções. Além disso, percebemos também que após a invenção da imprensa começaram a ser desenvolvidas as tentativas de registrar a totalidade dos documentos publicados no mundo a partir de bibliografias universais (CAMPELLO, 2006). A diferença entre os CATÁLOGOS e as BIBLIOGRAFIAS é que os primeiros representam o acervo de uma unidade informacional: biblioteca, museu, arquivo, etc. As bibliografias reúnem objetos informacionais de qualquer origem institucional ou geográfica. Com o passar do tempo, outras tipologias documentais surgiram. Primeiramente, os periódicos científicos e depois os relatórios técnicos, anais de congresso, materiais audiovisuais, publicações e comunicações eletrônicas, dentre outros. Como consequência dessa diversidade, ficou mais complexo realizar um controle bibliográfico mundial. Com isso, a partir de 1970, tal atividade foi institucionalizada através da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e da Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliográficas (IFLA), que vêm desenvolvendo o Controle Bibliográfico Universal (CBU) - Universal Bibliographic Control (UBC). Conforme Marques (200-), o CBU tem como principal objetivo “promover um sistema mundial de controle e permuta de informações bibliográficas, de modo a facilitar a disseminação a nível nacional e internacional de dados bibliográficos sobre todas as publicações editadas em todos os países”. Pensemos no CBU da seguinte forma: Em mecânica, um controle é um mecanismo através do qual as energias de uma máquina podem ser orientadas para a obtenção de um determinado fim com um mínimo de esforço. De maneira semelhante, os controles bibliográficos são Competência 01 12 aqueles mecanismos utilizados para orientar a energia intelectual na extração, a partir da totalidade da informação registrada, daquelas porções relevantes para uma determinada tarefa, com a maior rapidez e economia (EGAN; SHERA, 19--, p. 1). Aqui, não devemos imaginar que o Controle Bibliográfico quer controlar tudo que é publicado para exercer poderes diante dessa ação, mas pensemos na importância que ele tem para a preservação da memória local e mundial e na colaboração que dá a outras atividades realizadas nas unidades de informação, como por exemplo, a seleção e aquisição de novos materiais. Portanto, em sua atuação profissional de catalogação, pense sempre que ela contribui não apenas para a simples localização de um item informacional ou a manutenção dos catálogos atualizados, mas para permitir a preservação da memória coletiva e impulsionar novas ações nesse sentido. Figura 1 - Rede Memorial Fonte: http://redememorial.org/ Já que tratamos sobre Memória, vamos visitar o site da Rede Memorial Nacional, rede que nas- ceu aqui em Pernambuco na primeira Conferên- cia sobre Tecnologia, Cultura e Memória, reali- zada pela Universidade Federal de Pernambuco em parceria com o Instituto Ricardo Brennand: http://redememorial.org.br/ Além disso, visite também o site do Projeto Memória do Mundo da UNESCO: www.unesco .org/new/en/communication-and-information/ flagship-project-activities/memory-of-the- world/homepage/ Apesar de serem programas que tratam da pre- servação predominantemente de documentos históricos, consideramos importante citar aqui. Para que o CBU seja efetivo, é preciso que seja adotada uma política internacional, que deve ser seguida pelas políticas definidas em cada país. A UNESCO e IFLA estabelecem alguns critérios que, segundo as instituições, serão mais eficazes para que o controle bibliográfico funcione. Tais políticas consistem, predominantemente, em adotar padrões de descrição dos objetos informacionais tendo como objetivo a cooperação bibliográfica, permitindo assim a troca de informações e o intercâmbio de dados. É importante salientarmos que, apesar dos esforços empreendidos, o CBU não é tarefa fácil e que Competência 01 http://redememorial.org/ http://redememorial.org.br/ 13 já foi plenamente realizada, pois são diversos os fatores que impedem que ele seja eficiente, dentre eles os interesses políticos que inviabilizam algumas comunicações entre os países, bem como as dificuldades internas de cada Agência Bibliográfica Nacional, como falta de recursos humanos e financeiros para desenvolver as atividades necessárias, dentre outros aspectos. 1.1.1 Políticas para o Controle Bibliográfico Universal Para que o controle bibliográfico funcione, é preciso a colaboração de cada nação, que fica como responsável por desenvolver práticas baseadas em padrões internacionais que permitam controlar a produção bibliográfica nacional, a fim de viabilizá-lo de forma mais ampla. Campello (2006) complementa que cada país atuaria como responsável pela descrição bibliográfica padronizada e pela divulgação das publicações através da bibliografia nacional. Ao estabelecer o CBU, os órgãos responsáveis previam que este seria um projeto de longo prazo, em que cada nação faria, progressivamente, uso de novas tecnologias de informação para aperfeiçoar o controle bibliográfico no seu âmbito de ação. O programa CBU fundiu-se com outros projetos: Em 1990, o programa CBU, já então sob a responsabilidade da IFLA, fundiu-se com o projeto International MARC e recebeu o nome de Universal Bibliographic Control and International MARC (UBCIM), refletindo a importância fundamental da padronização da descrição bibliográfica para os objetivos do CBU. Em 2003, esse programa foi substituído pelo IFLA-CDNL Alliance for Bibliographic Standards (ICABS). Seis bibliotecas nacionais formam atualmente a aliança, cujos objetivos são a coordenação e o fomento de atividades nas áreas de controle bibliográfico de todos os tipos de recursos e formatos relacionados e de protocolos padronizados. Constitui uma ação estratégica que busca, de maneira prática, estabelecer e coordenar atividades nessas áreas (CAMPELLO, 2006, p. 14). Competência 01 14 A autora supracitada também acrescenta que os objetivos específicos do programa CBU são: 1. Coordenar atividades voltadas para o desenvolvimento de normas e de práticas de controle bibliográfico e de recursos, inclusive metadados, identificadores persistentes e normas de interoperabilidade;2. Apoiar o intercâmbio internacional de recursos bibliográficos, promovendo, desenvolvendo e testando a manutenção de metadados e de formatos padronizados; 3. Assegurar a promoção de novos padrões; 4. Funcionar como centro referencial para informações sobre todas as ações da IFLA nessa área; 5. Organizar seminários e oficinas de trabalho; 6. Aperfeiçoar a comunicação dentro da comunidade (CAMPELLO, 2006, p. 14). Como os países devem atuar isoladamente para contribuir com essa ação maior que é o CBU? Quais políticas os países devem seguir para a implantação de um controle bibliográfico nacional e, assim, permitir o CBU? Os órgãos responsáveis pelo CBU definem as seguintes diretrizes: Funcionamento de uma Agência Bibliográfica Nacional (ABN), responsável pelo controle e divulgação dos dados bibliográficos de cada publicação editada no país; Realização do Depósito Legal; Catalogação na publicação, seguindo regras aceitas internacionalmente; International Standard Book Number (ISBN) e International Standard Serial Number (ISSN); Padronização da catalogação descritiva, adotando parâmetros internacionais e promovendo o intercâmbio automatizado de dados bibliográficos e digitais, cuja interpretação se dê independentemente do idioma do registro. Competência 01 15 1.1.2 Agência Bibliográfica Nacional Conforme mencionamos, cada país deve ser responsável pelo controle bibliográfico nacional. Para isso, é necessária a implantação de uma Agência Bibliográfica Nacional (ABN), que a UNESCO recomenda que seja um setor da biblioteca nacional dos diversos países, visto que as bibliotecas nacionais já desempenhavam as principais atividades concernentes a uma ABN. Compete à ABN a [...] coordenação dos mecanismos que, implementados em âmbito nacional, facilitam os processos de captação e registro bibliográfico dos documentos, possibilitando o acesso eficiente a informações produzidas no país. São eles: o depósito legal; os registros bibliográficos que, reunidos, formam a bibliografia nacional; as normas que proporcionam a uniformização dos registros (ISBDs); os números de identificação de documentos, (ISBN e ISSN); os programas de catalogação na publicação (CIP) e de disponibilidade de publicação (UAP). (CAMPELLO; MAGALHÃES, 1997, p. 67). No Brasil, a Biblioteca Nacional, sediada no Rio de Janeiro, é o órgão responsável pelo CBU, juntamente com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), que é o responsável pelo Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas (CCN), além de sediar a Agência Brasileira do ISSN e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), que opera juntamente com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), programa de catalogação na publicação mais antigo do país (CAMPELLO, 2006). As atividades concernentes à ABN são: Preparar os registros oficiais e completos de cada nova publicação editada, de acordo com normas catalográficas internacionais; Divulgar esses registros, com maior rapidez possível, na bibliografia nacional; Controlar o depósito legal e o cumprimento da respectiva lei; Competência 01 16 Manter catálogos coletivos nacionais; Atuar como agência central de catalogação; Manter o programa de catalogação na publicação; Manter os centros de atribuição de números padronizados para documentos: ISBN, ISSN, etc. Coordenar o intercâmbio de registros bibliográficos com ABNs de outros países. (CAMPELLO, 2006). Nem sempre as BNs funcionam como ABNs, porém, dois pontos que coincidem entre as atividades das ABNs e Bibliotecas Nacionais são: Controle do depósito legal; Produção de fichas catalográficas na publicação. Em continuidade às diretrizes definidas pelo CBU, portanto, apresentaremos informações agora sobre o Depósito Legal, ação em que cada país deve definir qual órgão será responsável, a fim de evitar duplicação de serviço. 1.1.2.1 Depósito Legal Estabelecido por lei, o Depósito legal é a exigência de se efetuar a entrega a um órgão público (geralmente a Biblioteca Nacional) de um ou mais exemplares de toda publicação editada em um país, considerando seus limites geográficos. Constitui uma das formas mais utilizadas para captar material para a elaboração da bibliografia nacional e formar a coleção que propiciará a preservação da memória cultural de uma nação. (CAMPELLO, 2006). No Brasil, o depósito legal é realizado pela Fundação Biblioteca Nacional. O Depósito Legal é definido pelo envio de um exemplar de todas as publicações Competência 01 17 produzidas em território nacional, por qualquer meio ou processo, segundo as Leis nº 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Tem como objetivo assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional. Nele estão inclusas obras de natureza bibliográfica e musical (BRASIL, c2006a). Estabelecido inicialmente a fim de garantir privilégios a algumas bibliotecas reais, foi nos últimos 60 anos que o depósito legal teve seu objetivo claramente relacionado à construção das bibliografias nacionais e, apesar de ser considerado algumas vezes como uma forma discriminatória de confisco dos bens privados, atua como elemento fundamental para a preservação da memória em diversos países (CAMPELLO, 2006). Atualmente, além da legislação federal, existem duas leis estaduais sobre depósito legal: a de Pernambuco (Lei nº 12.435, de 6/10/2003) e a de Santa Catarina (Lei nº 11.074, de 11/6/1999). Biblioteca Nacional – Depósito Legal | www.bn.br/biblioteca-nacional/deposito-legal Lei nº 10.994, de 14/12/2004 | www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2004/lei/l10994.htm Lei nº 12.192, de 14/01/2010 – Depósito Legal de obras musicais | www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12192.htm A partir do depósito legal realizado, é gerado um número padronizado normalizado internacional que garante a propriedade intelectual de obras avulsas, conhecido como International Standard Book Number (ISBN), que vamos estudar a seguir. Este número também é definido na Biblioteca Nacional, sediada no Rio de Janeiro. Antes de saber o que é o International Standard Book Number (ISBN), que tal fazer um passeio virtual na Biblioteca Nacional? www.youtube.com/watch?v=8P0yu-LEkiE Competência 01 http://www.bn.br/biblioteca-nacional/deposito-legal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10994.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10994.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12192.htm http://www.youtube.com/watch?v=8P0yu-LEkiE 18 1.1.2.2 International Standard Book Number (ISBN) e International Standard Serial Number (ISSN) O ISBN é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora, individualizando-os, inclusive, por edição. O sistema numérico é convertido em código de barras, eliminando as barreiras linguísticas e facilitando a circulação e comercialização das obras. É também utilizado para identificar software e livros eletrônicos (e- books). (BRASIL, c2006b). Criado em 1967 por editores ingleses, o sistema passou a ser amplamente empregado, tanto pelos comerciantes de livros quanto pelas bibliotecas, até ser oficializado, em 1972, como norma internacional pela International Organization for Standartization - ISO 2108/1972. (BRASIL, c2006b). Conforme Campello (2006), existe uma agência internacional, a quem compete coordenar e supervisionar o sistema ISBN a nível mundial, e agências nacionais em cada país membro. A agência internacional está sediada em Berlim e, no Brasil, a Biblioteca Nacional éa responsável por atribuir o número de identificação aos livros publicados no país desde 1978. Portanto, a Fundação Biblioteca Nacional atua como Agência Bibliográfica Nacional (ABN) e Agência Nacional do ISBN. O número de ISBN é único para cada publicação e edição, não se repetindo em outra edição. A versatilidade deste sistema de registro facilita a interconexão de arquivos e a recuperação e transmissão de dados em sistemas automatizados, razão pela qual é adotado internacionalmente. O ISBN simplifica a busca e a atualização bibliográfica, concorrendo para a integração cultural entre os povos (BRASIL, 2006a). Competência 01 19 O ISBN deve ser atribuído à: Publicações impressas, softwares e livros eletrônicos; A cada volume com título independente; A cada um dos volumes que integrem uma obra com mais de um volume e ao conjunto completo da obra (coleção); A toda reedição. No Brasil, a Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003: "Institui a Política Nacional do Livro", que determina: Capítulo III - "Da Editoração, Distribuição e Comercialização do Livro"; Art. 6° - Na editoração do livro, é obrigatória a adoção do Número Internacional Padronizado, bem como a ficha de catalogação para publicação; Parágrafo Único. O número referido no caput deste artigo constará Da quarta capa do livro impresso. (BRASIL, 2003). Acesse a Lei no Link: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.753.htm Além de aparecer na parte inferior da quarta capa, o ISBN deve vir no verso da folha de rosto, na parte inferior da lombada (no caso de livros de bolso), nas etiquetas do produto (quando o livro é publicado como CD-Rom), junto com o título (no caso de publicações na internet), nos créditos (em filmes ou vídeos). Competência 01 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.753.htm 20 Você sabe o que é a quarta capa? Figura 2 – Localização do ISBN na quarta capa do livro Fonte: Waller, 1996. O ISBN contém 13 dígitos e deve ser escrito ou impresso, precedido pela sigla ISBN, e cada segmento ser separado por hífen. ISBN Competência 01 21 Figura 3 – Impressão do número ISBN Fonte: BRASIL, 2006. A partir de 01 de janeiro de 2007, o número internacional padronizado passou a ter 13 dígitos. Foi acrescentado o código 978, que identifica o produto livro e o número de controle foi recalculado. Leia mais em: www.isbn.bn.br/website/isbn-treze-digitos E quais são as obras que recebem ISBN e as que não recebem? Publicações que Recebem ISBN 1. Agendas com texto de grande predominância de texto e/ou texto e fotografias (muito mais texto/conteúdo do que espaço para anotações, que tem que ser ínfimo, ou seja, quase nenhum); 2. Anais, seminários, encontros....(recebem ISBN para cada volume e recebem ISSN pelo título da série, que permanecerá o mesmo para todas as partes ou volumes da série. Quando um ISBN e um ISSN são atribuídos à mesma publicação, devem estar claramente identificados); 3. Artigos de uma publicação em série específica (não a publicação em série na sua totalidade): quando os artigos individuais forem separadamente disponibilizados por um editor, estes estarão qualificados como publicações e receberão um ISBN; 4. Aulas e cursos em vídeo somente se forem educacionais e comercializados (enviar o Competência 01 http://www.isbn.bn.br/website/isbn-treze-digitos 22 material para análise da Agência); 5. Capítulos individuais separados e disponibilizados pelo editor; 6. Catálogos de exposição; com textos explicativos; 7. Diário de bordo vinculado estritamente a projetos educacionais – ensino fundamental; 8. Discursos; 9. Guias; 10. Livros em fita cassete, CD, DVD (audiolivros); 11. Livros impressos; 12. Mapas (especificando a escala); 13. Publicação infanto-juvenil (jogos e passatempos que contenham atividades educacionais) (é obrigatório o envio de tais publicações para análise da Agência); 14. Publicações em braille; 15. Publicações eletrônicas, na Internet ou em suportes físicos (fitas lidas por máquinas, disquetes ou em CD Rom); 16. Software educacional ou instrutivo; 17. Relatórios (que são públicos); 18. Cópias digitalizadas de publicações impressas; 19. Cadernos, diários, álbum de bebê, livro de bebê (SOMENTE RECEBERÃO ISBN SE CONTIVEREM TEXTOS SIGNIFICANTES E EXPLICATIVOS). (é obrigatório o envio de tais publicações para análise da Agência)(norma válida a partir de setembro de 2014). Publicações que não recebem ISBN 1. Agendas (pura e simplesmente); 2. Aulas, cursos (em vídeos) exceto educacionais; 3. Apostilas de concursos; 4. Álbum de figurinhas sem nenhum texto, pacotes de figurinhas; 5. Álbum de bebê, álbum de gestante; álbum de figurinhas (sem texto explicativo e significativo); 6. Almanaques (é periódico); Competência 01 23 7. Anais de uma instituição (ex: Anais da Biblioteca Nacional); 8. Anuários ( é periódico); 9. Boletins informativos eletrônicos ou impressos; 10. Cadernetas escolares; cadernos de programação de congressos... 11. Calendários; 12. Cartas astronômicas; 13. Cartilhas de informação; 14. Catálogos para divulgação de livros; 15. Catálogos de exposição de fotos sem nenhum texto explicativo; 16. Catálogos, prospectos e folhetos de propaganda comercial, industrial ou turística, cartazes de propaganda; 17. CD de música, CD de jogos; 18. Diários (bebês, gestantes, de viagem, etc.) – Somente receberão ISBN se contiverem textos significantes e explicativos e com pouco espaço para escrita (é obrigatório o envio de tais publicações para análise da Agência – norma válida a partir de setembro de 2014) 19. Documentários; 20. Documentos pessoais, cartões de felicitações; 21. Encartes; guias internos de instituições; 22. Estatutos, balanços de sociedades e de diretorias de empresas; 23. Gravação de som musical; 24. Guias telefônicos, programas de cursos, espetáculos e exposição; 25. Homepages; 26. Impressões e publicações artísticas, sem página de rosto e nem texto; 27. Jornais, revistas, publicações com periodicidade; 28. Jogos, passatempos 29. Livretos com instruções para inscrições de cursos, prêmios; 30. Mapas de guia de turismo, de metrô, de localização de ruas; 31. Material de divulgação de prestação de serviços ou de informação sobre a evolução de determinado ramo da indústria ou do comércio, qualquer tipo de impresso para promoção comercial de produtos ou serviços; Competência 01 24 32. Mudança na cor de capa ou tipo de letra da publicação (já editada), correção ortográfica; 33. Música impressa; 34. Palavras cruzadas, sudoku, passatempos, jogos, etc.; 35. Palestras em vídeo; 36. Partituras musicais, plantas topográficas; 37. Prestação de contas em exercício; 38. Publicações de caráter efêmero: guias telefônicos, programas de cursos, espetáculos e exposições; 39. Publicações em folhas soltas que sejam atualizadas constantemente; 40. Reimpressão pura e simples (sem alteração no texto); 41. Relatórios internos; 42. Tabelas de horários, tarifas; documentos pessoais, cartões de felicitações...; 43. Trabalhos de final de cursos: teses, monografias, dissertações. Alguns profissionais da informação podem vir a trabalhar em editoras ou como editores de livros e precisarão saber como solicitar o ISBN na Biblioteca Nacional. Acesse o site e leia atentamente todos os passos necessários para retirar o número internacional padronizado. Quem sabe um dia você também vai querer publicar um livro de forma independente e precisará saber como funciona? Vamos lá? www.isbn.bn.br/website/ Já o International StandardSerial Number (ISSN) ou Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas é a numeração padronizada para identificação de periódicos. Surgiu em 1967, durante a 16ª Conferência Geral da UNESCO e da Assembleia Geral do Conselho Internacional de Uniões Científicas (ICSU). (CAMPELLO, 2006). Em 1972, mediante acordo da UNESCO com o governo francês, foi criado o International Serials Data System (ISDS), em que a função principal do sistema era o cadastramento dos periódicos e a atribuição de número padronizado a cada título, que passaria a ter código de identificação único, sendo distinguido de modo inequívoco de outras publicações. (CAMPELLO, 2006). Competência 01 http://www.isbn.bn.br/website/ 25 A autora supracitada (2006) acrescenta que, na década de 1990, o ISDS organizou-se em rede, com o nome de ISSN Network, que reunia 76 centros nacionais. Esses centros tinham a responsabilidade de atribuir o ISSN aos periódicos publicados no país e manter os registros correspondentes. Ao aprovar pelo seu comitê de documentação a ISO 3297-1975, a ISO decidiu considerar o ISSN uma norma que fixa diretrizes para o uso padronizado do ISSN. Essa norma define periódico como publicação editada em partes sucessivas, numeradas em sequência cronológica e com previsão de continuidade. (CAMPELLO, 2006). Ainda segundo Campello (2006), a atribuição do ISSN é feita com base no seguinte: • a cada publicação seriada se atribui um único ISSN, que está ligado à forma padronizada do título-chave; • um ISSN só pode ser alocado uma única vez; se um periódico encerrar sua publicação, seu ISSN se manterá vinculado a ele, sem ser reutilizado; • no caso de mudança de título, um novo ISSN será atribuído ao periódico; • o ISSN pode ser atribuído a livros publicados em coleções; nesse caso os livros receberão o ISSN que identifica a coleção como um todo, além do ISBN que identificaria cada volume individualmente; • suplementos, seções, subséries, edições em outros idiomas podem receber ISSN próprios; • mudanças de editora, lugar de publicação, periodicidade e política editorial não requerem a atribuição de novo ISSN, mas devem ser comunicadas ao centro nacional para atualização do cadastro do periódico. A sugestão da agência internacional é que o ISSN seja colocado na parte superior direita da capa e no verso da folha de rosto de cada fascículo, junto com as informações gerais sobre o periódico. Deve vir também junto ao registro de catalogação na publicação, que estudaremos mais adiante no item 2.1.4. Competência 01 26 Desde 1984, o ISSN está integrado ao EAN-13, o sistema de código de barras mais amplamente usado no mundo. Para a construção da simbolização em barras, utiliza-se o prefixo 977, que indica a categoria da publicação, anteposto ao ISSN. São acrescentados os números correspondentes ao código de preço e dois dígitos variáveis. (CAMPELLO, 2006, p. 86). Você sabia que já são mais de um milhão de registros de ISSN no mundo? E que anualmente são registrados mais de 60 mil. LEIA MAIS em: www.issn.org/ No Brasil, a instituição responsável por atribuir o ISSN é o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) que produziu listas de periódicos de 1950 a 1987. Além dessa atribuição, o IBICT também é responsável pela organização e manutenção do Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas. Desde 1975, o IBICT vem desenvolvendo as funções de Centro Nacional da Rede ISSN. Em 1980, o IBICT se estabeleceu como Centro Brasileiro do ISSN (CBISSN), por meio de acordo firmado entre o Centro Internacional do ISSN e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao qual era vinculado à época. Assim, o IBICT passou a ser o único membro no Brasil responsável pela atribuição do código ISSN junto aos usuários em geral e editores em particular (INSTITUTO..., 201-). “A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem participado desse mecanismo de controle bibliográfico de periódicos. Aprovou a NBR 10525/1988, que fixa diretrizes para promover e reunir o uso do ISSN.” (CAMPELLO, 2006, p. 86). A NBR 10525 está em sua segunda edição, publicada em 2005. O uso do ISSN é padronizado pela ISO 3297 (International Standards Organization). Competência 01 http://www.issn.org/ 27 Por ser um código único, o ISSN identifica o título de uma publicação seriada du- rante todo o seu ciclo de existência (fase de lançamento, circulação e encerramento da revista), seja qual for o idioma ou suporte físico utilizado (impresso, online, CD-ROM e demais mídias). O ISSN é composto por oito dígitos distribuídos em dois grupos de quatro dígitos cada, ligados por hífen e precedido sempre por um espaço e a sigla ISSN. Exemplo: ISSN 1018-4783. (INSTITUTO..., 201-). O Centro Brasileiro do ISSN afirma que, ao solicitar o ISSN, é importante observar: Um ISSN é intransferível, ou seja, ele nunca pode ser utilizado por outro título, sendo exclusivo do título ao qual foi atribuído; Qualquer mudança no título do periódico deve ser informada ao Centro Brasileiro do ISSN (CBISSN), que irá avaliar a necessidade ou não de atribuição de novo ISSN ao periódico; Títulos editados em diferentes suportes físicos deverão ter seu próprio ISSN, ou seja, um ISSN para cada formato; Caso a publicação seja editada em diferentes idiomas, cada uma delas deverá ter seu próprio ISSN (excetuando-se as publicações multilíngues); Para publicação online em diferentes idiomas, que utilizam a mesma URL, será atribuído um único ISSN. O ISSN é atribuído também a Anais de Congressos, Seminários, Encontros, etc., mas nunca é atribuído a páginas ou a outras peças promocionais de eventos, mesmo que sejam eventos científicos. Neste caso, um único ISSN será atribuído a todas as edições, desde que não haja alteração no título ou no tipo de suporte físico. Mudança na numeração do evento não é considerada alteração de título, não sendo necessária a atribuição de novo ISSN; Folders, cartazes, hotsites e blogs de Anais de Congressos, Seminários e Encontros não recebem ISSN; Quando uma publicação com o mesmo título é editada em diferentes formatos (meios físicos), cada uma deverá receber um numero de ISSN próprio – um novo ISSN. No entanto, o mesmo ISSN deverá ser utilizado para diferentes formatos de arquivo (ASCII, PostScript, Competência 01 28 Hipertexto, PDF) da mesma publicação online; Publicação que traz no exemplar múltiplas formas físicas, como por exemplo: uma publicação impressa acompanhada de CD-ROM e/ou gravação de vídeo, um único ISSN será atribuído à publicação. Não será atribuído ISSN: Para websites comerciais, páginas pessoais na web, páginas da web que contenham apenas links para outras URLs; Para publicações em PDF, cuja página (URL), seja disponibilizada com a extensão PDF. Para folders, cartazes, hotsites e blogs. Transferência de titularidade: No caso de transferência de titularidade, isto é, mudança da editora ou do autor coorporativo, o CBISSN deverá ser informado por meio de correspondência devidamente assinada por ambas às partes e com assinaturas autenticadas em cartório. Para mais informações, que tal acessar o site do Centro Brasileiro do ISSN? www.ibict.br/informacao-para-ciencia-tecnologia-e-inovacao%20/centro-brasileiro-do-issn O ISSN identifica o periódico no todo, seja impresso ou disponível na internet. Existem outros sistemas de identificação numérica para outros tipos de materiais: música (ISMN) e audiovisual (ISAN). E “atualmente, começam a surgir sistemas destinados a identificar publicações da internet. O Digital Object Identifier (DOI) ou Identificador de Objetos Digitais é um sistema numérico que permite a identificaçãoúnica e precisa de informação veiculada na internet.” (CAMPELLO, 2006, p. 90). O ISSN identifica o periódico no todo, já o DOI registra cada artigo de um periódico, por exemplo. Competência 01 http://www.ibict.br/informacao-para-ciencia-tecnologia-e-inovacao%20/centro-brasileiro-do-issn/atribuicao-do-issn-1/resolveuid/99ffecda18b268143a8614ce57fae6d5 http://www.ibict.br/informacao-para-ciencia-tecnologia-e-inovacao%20/centro-brasileiro-do-issn 29 Com o advento da internet, cresceu o uso das tecnologias da informação e da comunicação. Com isso, fez-se necessário identificar numericamente os objetos digitais. Vamos conhecer melhor o que é o DOI? Conforme Campello (2006, p. 91) afirma que Administrado pela International DOI Foundation, o sistema foi lançado em 1997, na Feira Internacional do Livro, em Frankfurt, e, até o momento, milhões de números foram fornecidos pelas DOI Registration Agencies nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Austrália. Tendo surgido no mundo editorial, o sistema atualmente é mais utilizado por editoras tradicionais que trabalhavam com materiais impressos e hoje oferecem paralelamente seus produtos na internet. Tal número pode ser atribuído à: Artigo de periódicos; Verbetes de enciclopédias; Imagens; Livros eletrônicos, etc. Competência 01 30 Figura 4 – Exemplo do código DOI da Revista Ciência da Informação Fonte: Bergo, 2007. Conforme podemos perceber, o DOI do artigo consta abaixo da identificação de volume, número, local e ano da revista. Apesar de ser em inglês, vale a pena você visitar o site da International DOI Foundation (IDF): www.doi.org/ Estudamos, portanto, alguns aspectos que contribuem para o Controle Bibliográfico Universal, porém, ainda precisamos abordar a respeito de um dos principais que é a catalogação na publicação. O número do ISBN de um livro, por exemplo, aparece na ficha catalográfica dele, que fica no verso da folha de rosto. Competência 01 http://www.doi.org/ 31 1.1.2.3 Catalogação na Publicação A catalogação na publicação ou catalogação na fonte é a maneira mais tradicional para identificar os objetos informacionais a fim de que sejam localizados e, além disso, colaborar com o CBU. Você deve ter livros em casa ou já pegou livro emprestado em alguma biblioteca, não é verdade? Caso não tenha feito, não hesite em fazer. Vai lhe fazer um bem imenso! Mas voltando ao nosso assunto, você já teve a curiosidade de olhar os créditos do livro e as outras informações que há no verso da folha de rosto? Caso não tenha feito, não tem problema. Faremos juntos agora. A Figura 5 apresenta a folha de rosto do Livro intitulado “Queen nos bastidores: minha vida com a maior banda de rock do século XX”, do autor Peter Hince. O livro traz na folha de rosto a catalogação na publicação com os dados descritivos referentes à obra. Competência 01 32 Figura 5 - Verso da folha de rosto de livro Fonte: Hince, 2012. Competência 01 33 Segundo Campello (2006, p. 70), A ideia de catalogação na publicação surgiu em 1853, com o nome de catalogação na fonte (cataloguing in source, em inglês) quando alguns bibliotecários norte- americanos, entre eles Charles Jewett (1816-1868), bibliotecário da Smithsonian Institution (EUA) e um dos maiores defensores da catalogação cooperativa, perceberam as vantagens de se catalogar um livro uma única vez e antes de sua publicação, evitando que centenas de bibliotecários executassem a mesma tarefa, com desperdício de tempo e recursos. A autora também afirma que, ao longo dos anos, surgiram projetos no sentido de uniformizar a catalogação na publicação e, em 1971, a Biblioteca do Congresso norte-americano (Library of Congress - LC) retomou um projeto antigo, desta vez com o nome de catalogação na publicação – cataloguing-in-publication, cuja sigla CIP identifica atualmente os programas de catalogação prévia na maioria dos países que a adotam (CAMPELLO, 2006). A recomendação da UNESCO é que os programas de catalogação na publicação sejam vinculados à bibliografia nacional, ou seja, a ABN se encarregaria pela catalogação na publicação. No Brasil, entretanto, como já afirmamos anteriormente, a instituição responsável pela CIP é a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), conforme Figura 6. Figura 6 – Detalhe de ficha catalográfica de livro Fonte: Hince, 2012. Competência 01 http://www.cbl.org.br/telas/servicos/regulamento-ficha.aspx http://www.cbl.org.br/telas/servicos/regulamento-ficha.aspx 34 As fichas catalográficas apresentam informações relacionadas à obra: autoria, título, local de publicação, editora, ano de publicação, nº ISBN, assunto da obra (palavras-chave) e outras informações relevantes, também chamadas de metadados (na verdade, metainformação) ou atributos. Mas quem define como deve ser a apresentação dessas informações? Quem define qual a pontuação a ser utilizada entre cada informação (por ex.: entre o título e o autor, existe uma barra). E quando não há autor, como fazer a ficha? Quando o autor é um evento ou instituição? Estudamos tudo isso na disciplina Catalogação Descritiva, também chamada de Representação Descritiva. Mas antes de respondermos essas questões, iremos abordar um pouco sobre a história da Catalogação e os tipos de catálogos existentes. 1.1.3 Catalogação: Conceitos, Funções e Tipos de Catálogos A Catalogação, também conhecida como Representação Descritiva, é disciplina estudada na Biblioteconomia e serve para padronizar a descrição física dos objetos informacionais. Figura 7 – Catálogo antigo de fichas do Memorial Denis Bernardes/UFPE Fonte: O autor, 2015. Competência 01 35 Alguns de vocês não tiveram a oportunidade de pesquisar em fichas de catálogos manuais, apenas conhecendo os catálogos automatizados, ou seja, os sistemas de informação como o Pergamum, Sophia, Aleph, Minibiblio, etc. Aqui não vamos nos aprofundar nesses sistemas, pois vocês verão na disciplina de “Automação de Bibliotecas”. O nosso foco serão as regras para catalogação de objetos informacionais, sejam fisicamente (em fichas) ou em sistemas de informação. Utilizaremos alguns exemplos de entradas de dados no Sistema Pergamum na videoaula e indicaremos tutoriais de inserção de dados no Sistema Minibiblio, ambos na competência 3. O Pergamum é um sistema pago, todavia, existem outros gratuitos que podem ser utilizados. A utilização de sistemas de bibliotecas automatizados, na maioria das vezes, requer uma estrutura de servidor de armazenamento de dados e de rede, ou seja, é preciso que a instituição tenha uma estrutura mínima de tecnologia e, pelo menos, um analista de sistemas que atue interdisciplinarmente com o profissional da biblioteca (profissional da informação) para o primeiro gerenciar os detalhes relacionados às questões tecnológicas e o segundo definir parâmetros sob o ponto de vista informacional, pensando sempre nas necessidades do usuário final. Como já afirmamos, a Catalogação Descritiva é a disciplina que trata da descrição física dos objetos informacionais a fim de permitir a recuperação da informação pelos usuários. Ela é parte da Organização da Informação. E o mais importante a considerar é: ninguém cataloga para si. Catalogamos para atender a uma demanda social de localizar a informação de forma precisa para que esta seja transformada em novos conhecimentos e em inovação. Então,considere sempre que os livros e outros materiais da biblioteca ou unidade informacional são para serem disponibilizados ao público, não são nossos e não são para serem apenas etiquetados, carimbados e guardados, mas para serem disseminados, utilizando-se de recursos tecnológicos que permitam isso. A organização da informação envolve a descrição física (catalogação) e descrição temática (classificação e indexação). As duas últimas dizem respeito ao conteúdo informacional do documento, ou seja, assunto e conceitos relacionados. Aqui, o nosso objeto de estudo é a catalogação. Para a descrição de conteúdo, vocês entenderão melhor nas disciplinas de Competência 01 36 “Representação Temática” e “Indexação, Resumo e Linguagem Documentária”. Mas o que é catalogação na Biblioteconomia? A Catalogação, ou Representação Descritiva, pode ser definida como um conjunto de informações que simbolizam um registro do conhecimento. Tecnicamente é denominada a representação de um item (MEY; SILVEIRA, 2009). Entendamos catalogação não apenas como uma prática realizada com livros impressos, mas que engloba registros do conhecimento existentes em outros formatos, como fotografia, filmes, gravações sonoras, manuscritos, documentos administrativos de empresas, escritórios de advocacia, enfim, estejam eles em formato físico ou disponíveis em ambiente digital. Quando pensamos na palavra catalogar, remetemos a outro termo que é sistematizar ou descrever. A sistematização/descrição da informação contida em bibliotecas ou outras unidades de informação remonta à Antiguidade e tomou rumos mais precisos já no século XIX, quando Charles Ami Cutter publicou sua Rules for a dictionary catalog - Regras para um catálogo dicionário. Cutter também criou um esquema de classificação e uma tabela representativa de sobrenomes, esta utilizada até hoje. Vamos estudar esta tabela de nomes mais adiante. O primeiro evento no sentido da normalização e padronização a nível internacional na catalogação foi realizado na Conferência de Paris ou Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação em 1961. Após este evento, vários códigos foram modificados e foram incorporadas as modificações recomendadas pela conferência. (MEY; SILVEIRA, 2009). Também nesta década, a partir do advento da tecnologia e dos serviços computacionais, foi desenvolvido o projeto MARC (Machine Readable Cataloging) e do MARC II, ou seja, o início de processos de catalogação utilizando recursos tecnológicos, não sua automação propriamente dita (MEY; SILVEIRA, 2009). Após surgimento de várias regras para catalogação, em vários países, foi publicada em 1967 a Competência 01 37 primeira edição das Anglo-American cataloguing rules (AACR) – Código de Catalogação Anglo- Americano, traduzida para o português apenas em 1969. (MEY; SILVEIRA, 2009). Conforme as autoras, às AACR seguiu-se uma segunda edição, as AACR2 (1978), também traduzida no Brasil (1983-85). Porém, a uniformidade estava longe de ser alcançada [...] Editaram-se, após as AACR2, uma segunda edição revista, as AACR2r (1988) e várias emendas e revisões, até 2005. Houve nova tradução brasileira, publicada em 2004. Acredita-se que esta edição brasileira permaneça em uso ainda por alguns anos, embora se aguardem para breve dois novos códigos: Resource Description and Access (RDA) [Descrição e acesso aos recursos], em substituição às AACR, e o International Cataloguing Code [Código Internacional de Catalogação]. (MEY; SILVEIRA, 2009, p. 79, grifo nosso). Estudaremos formato MARC e RDA na competência 3. Nesta última, também abordaremos sobre Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR). 1.1.3.1 Funções da Catalogação e Tipos de Catálogos Mey e Silveira (2009, p. 10-11), apresentam as funções da catalogação para que esta atinja seus objetivos. São elas: Integridade: Significa fidelidade, honestidade na representação, transmitindo informações passíveis de verificação. Por exemplo, se não há certeza da data de publicação, o catalogador acrescenta um ponto de interrogação [?], indicando sua dúvida. Rio de Janeiro: Editora X, [1975?] Competência 01 38 Clareza: Significa que o código utilizado deve ser compreensível aos usuários. Por exemplo, se estivermos em uma biblioteca infanto-juvenil, os termos representativos dos assuntos deverão adequar-se ao público: PÁSSAROS (e não ORNITOLOGIA) Precisão: Significa que cada uma das informações só pode representar um único conceito, sem dubiedades ou dúvidas. Por exemplo, 1984 como data de publicação só pode identificar a data de publicação: Rio de Janeiro: Editora X, 1984. Lógica: Significa que as informações devem ser organizadas de modo lógico. Por exemplo, na descrição de um registro do conhecimento, vai-se do mais importante (título e autor) para o mais detalhado (dados de publicação e paginação, entre outros). Consistência: Significa que a mesma solução deve ser sempre usada para informações semelhantes. Uma grande professora gaúcha de catalogação, Gladis W. do Amaral, costumava dizer “Errem com consistência”, isto é, sejam coerentes mesmo no erro. Por exemplo, se a biblioteca decide gerar pontos de acesso alternativos pelo prenome, deverá fazê-lo para todos os autores: Jorge Amado e Amado, Jorge Márcio Souza e Souza, Márcio etc. Já mencionamos aqui a catalogação na fonte. Mas há outra que consideramos relevante mostrar para vocês: É a catalogação cooperativa. Conforme Campello (2006, p. 68), Competência 01 39 O pioneiro na catalogação cooperativa foi o bibliotecário Charles Jewett (1816- 1868), que, em 1850, em um encontro da American Association for the Advancement of Science propôs que a biblioteca da Smithsonian Institution (EUA) funcionasse como biblioteca nacional. Ele receberia dados catalográficos de bibliotecas do país e coordenaria um serviço de catalogação cooperativa que resultaria em um catálogo coletivo das bibliotecas cooperantes. O projeto de Jewett não se realizou, porém, em 1901, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (Library of Congress - LC), que assumiu a posição de biblioteca nacional, começou a impressão e venda de fichas catalográficas para quaisquer bibliotecas que solicitassem este serviço, verificando-se uma tentativa substancial de padronização de descrição de informação no que diz respeito à catalogação de objetos informacionais. (MEY; SILVEIRA, 2009). Esse serviço da LC foi reafirmado na década de 1960 ao passar a utilizar o computador na produção dos registros bibliográficos, quando foi criado, então, o formato MARC como padrão para registro e intercâmbio de dados catalográficos, que deu um novo impulso à catalogação e passou a ser utilizado em diversos países. Estudaremos o formato MARC na competência 3. Com a automação, foi possível a criação de vários consórcios entre bibliotecas, mas esta rede criada ainda tinha âmbito de ação restrito. Com o tempo, algumas redes expandiram-se, como foi o caso da Online Computer Library Center (OCLC), que, em 2006 fornecia serviços para mais de 50 mil bibliotecas de 84 países. O padrão proposto pelo LC MARC deu origem também a padrões MARC desenvolvidos em vários países, tais como UK MARC, no Reino Unido, CANMARC, no Canadá, e formato CALCO e IBICT no Brasil. Saiba mais sobre em: http://bibliodata.ibict.br/indexmodelo.asp?modelo=quemsomos.htm Balby (1995 p. 30), citada por Santos (2005, p. 3), pautada na ideia de Jewett de uma obra ser catalogada uma única vez em seu país de origem, afirmou o seguinte para explicar a importância da catalogação cooperativa: Competência 01 http://bibliodata.ibict.br/indexmodelo.asp?modelo=quemsomos.htm 40 uma bibliotecajamais deveria catalogar novamente um material que já foi catalogado por outra biblioteca. Para cada material que chega à mesa do catalogador, é necessário saber antes se alguém, em algum lugar do país ou do mundo já o catalogou; se o material já tiver sido catalogado, todos os esforços devem ser enviados para se ter acesso a essa informação e aproveitá-la. A catalogação cooperativa é bastante difundida atualmente pela facilidade da tecnologia em permitir a comunicação entre os sistemas que utilizam os mesmos padrões e protocolos de interoperabilidade, ou seja, intercâmbio de informações em espaço digital. Portanto, se você utilizar na biblioteca em que você trabalha um sistema que se ‘comunica’ com outros sistemas, você não precisará realizar a catalogação de todos os livros começando do zero. É possível minimizar os esforços recuperando os dados da catalogação já realizada por outra instituição da rede e apenas revisar para deixar conforme as necessidades de informação do usuário. Caso não utilize nenhum sistema, pesquise primeiramente nas Bibliotecas: Library of Congress (EUA), Biblioteca Nacional (Brasil), British Library (Londres), Biblioteca de Toronto (Canadá), dentre outras para catalogar algum item. Algumas dessas citadas constam no Catálogo da Rede Pergamum, onde é possível você pesquisar em qual delas está o item que você precisa descrever e, assim, considerar a catalogação realizada sem precisar criar uma catalogação nova. Podemos verificar um exemplo disso quando vamos catalogar um livro no Sistema Pergamum. Para iniciar, pesquisamos inicialmente se o livro já foi catalogado por alguma biblioteca que faz parte da Rede Pergamum, acessando o Catálogo da Rede Pergamum no endereço: www.pergamum .pucpr.br/redepergamum/consultas/site_CRP/pesquisa.php Competência 01 41 Figura 8 – Captura de tela do Catálogo da Rede Pergamum Fonte: www.pergamum.pucpr.br/redepergamum/consultas/site_CRP/pesquisa.php Ao selecionar na caixa ao lado de Z39.50 e digitar na busca o termo que deseja pesquisar, tal termo não será apenas pesquisado em 01 (uma) biblioteca, mas em todas que fazem parte da Rede. O que é o Z39.50? É um protocolo de comunicação entre computadores desenhado para permitir pesquisa e recuperação de informação – documentos com textos completos, dados bibliográficos, imagens, multimeios – em redes de computadores distribuídos. Sistemas com protocolo Z39.50 propiciam a realização de pesquisa em vários sistemas de informação distribuídos por meio de única interface de busca. Durante o processo de catalogação, o bibliotecário não pode esquecer que não está elaborando o catálogo para si, mas para o usuário real (aquele que frequenta a biblioteca) e aqueles em potencial (que não sabem nem da existência da biblioteca, mas que podem precisar dela um dia). Competência 01 http://www.pergamum.pucpr.br/redepergamum/consultas/site_CRP/pesquisa.php 42 Lembre-se de que o catálogo será instrumento para o usuário final ter acesso aos conteúdos informacionais, refletir sobre eles e transformá-los em novos conhecimentos. Qual o significado de catálogo? Quais são seus objetivos? Conforme Mey e Silveira (2009, p. 12), “a palavra tem origem no grego κατα [kata] (de acordo com, sub, baixo ou parte) e o sufixo λογος [logos] (ordem, razão). Assim, ‘catálogo’ pode significar ‘subjacente à razão’ ou ‘de acordo com a razão’, correspondendo à palavra latina ‘classificar’”. Portanto, catálogo É um meio de comunicação que veicula mensagens sobre os registros do conhecimento, de um ou vários acervos, reais ou ciberespaciais, apresentando-as com sintaxe e semântica próprias, e reunindo os registros do conhecimento por semelhanças para os usuários desses acervos. O catálogo explicita, por meio de mensagens, os atributos das entidades e os relacionamentos entre elas. (MEY; SILVEIRA, 2009, p. 12). Segundo o Código de Catalogação Anglo Americano, na sua segunda edição (AACR2), catálogo é uma lista de materiais, bibliográficos ou não, que fazem parte de uma coleção, biblioteca ou grupo de bibliotecas, ordenada de acordo com um plano definido. De acordo com a Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação (2009), citado por Mey e Silveira (2009), os objetivos do catálogo são: Competência 01 43 Figura 9 – Objetivos do catálogo Fonte: Mey; Silveira (2009, p. 13) E quais são os tipos de catálogos existentes? Para facilitar nossa visualização, criamos um quadro com os tipos de catálogos (manuais e automatizados) e falaremos brevemente de cada um deles. A lógica da organização e da própria existência dos catálogos se assemelha em ambos os casos, porém, as formas de inclusão e de apresentação divergem bastante. Apesar do uso predominante das tecnologias da informação na nossa área, algumas bibliotecas ainda mantêm seus catálogos manuais, visto que nem todas possuem computadores ou conexão com a internet no Brasil. A Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco é um exemplo disso. Diante da instabilidade do sistema automatizado que utilizam, preferem não descartar os catálogos de fichas manuais e os alimentam com regularidade. Competência 01 44 Existem vários tipos de catálogos, tanto internos às unidades informacionais, quanto externos. Veremos um resumo deles trazido por Mey; Silveira (2009, p.187-211). A partir das autoras, criamos o Quadro 2 para facilitar a identificação dos tipos de catálogos existentes, porém, indicamos que vocês leiam o capítulo 8 do livro intitulado “Catalogação no plural” para saber as características de cada um. CATÁLOGOS TIPOS MANUAIS (EM FICHAS) INTERNOS OU AUXILIARES De autoridade de nomes De assuntos ou de autoridade de assuntos De números de classificação De títulos Decisório De registro Oficial Topográfico EXTERNOS Alfabético Catálogo-dicionário Catálogo dividido Sistemático AUTOMATIZADOS Atualmente os mais utilizados, através de softwares pagos ou gratuitos. Quadro 2 – Tipos de Catálogos Fonte: O autor, 2015 Os catálogos mais comuns que ficavam disponíveis para o público realizar a consulta eram de Autor, Título e Assunto. Então, o usuário precisava saber uma dessas informações para realizar sua busca no catálogo manual. Associadas à atividade de Catalogação, estão também as de Classificação e Indexação dos registros Competência 01 45 de conhecimento. Trazemos novamente exemplo de ficha catalográfica do livro de Peter Hince para demonstrar o que estamos falando. Para a Classificação do assunto do livro foram utilizadas as Classificações Decimais de Dewey e Universal. E o que chamamos indexação está localizado no inferior da ficha catalográfica, área chamada de Pista. Figura 10 – Exemplo de classificação e indexação de um item na ficha catalográfica Fonte: Hince, 2012. Na ficha da figura 10, a classificação e indexação são expostas respectivamente da seguinte forma: Classificação CDD 927.8166 CDU 929:78.067.26 Se você ainda não teve oportunidade de aprender classificação, não se preocupe que aprenderá na disciplina Representação Temática, portanto, citamos agora apenas para você entender melhor. Quando a ficha tiver com o número de classificação, refere-se à área de conhecimento a que o livro pertence (seu assunto). Competência 01 46 Indexação Está representada na ficha no local em que chamamos pista: 1. Mercury, Freddie, 1946-1991. 2. Hince, Peter. 3. Queen (Conjunto Musical). 4. Músicos de rock – Inglaterra – Biografia. 5. Rock – Inglaterra – História.I. Título. Se você ainda não teve oportunidade de aprender indexação, não há problema, pois terá oportunidade ao longo do curso. Refere-se ao assunto do item também, porém, mais especificamente, quais termos o descrevem, quais palavras-chave representam o que o item trata. Precisamos apenas citar aqui para que vocês possam diferenciar a catalogação das outras duas disciplinas. Como podemos perceber, ela é acompanhada pelo número de classificação, que se refere ao assunto da obra, ou seja, de que seu conteúdo trata. Para definir este número, é preciso utilizar códigos de classificação que existem na Biblioteconomia. Eles são abordados na disciplina Representação Temática. Nós aqui só precisamos mencionar o número de classificação, que consta na ficha catalográfica (catalogação na fonte). É através dele que encontramos o item fisicamente no acervo. O número de classificação, também chamado de notação de assunto, é definido a partir de um código que contém as grandes áreas do conhecimento e suas subdivisões. Neste código, o bibliotecário pesquisa e define o número relativo ao assunto do objeto informacional, de forma a reunir na estante todos os itens de um mesmo assunto. Agora, trazemos o exemplo de outra ficha, pertencente ao Catálogo que mostramos na Figura 6, localizado no Memorial Denis Bernardes/Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Competência 01 47 Figura 11 – Exemplo de ficha catalográfica com dados de localização Fonte: Catálogo de fichas do Memorial Denis Bernardes/UFPE, 2015. Foto do autor. Na figura 11, o código de classificação 017.11 está acompanhado por outro código alfanumérico (B823c), que juntos, formam o número de chamada da obra ou número de localização. Este número a que estamos nos referindo é a notação do autor. Notação de autor É o código que representa o autor no objeto informacional e compõe seu número de classificação. Como estabelecer a notação do autor? A notação de autor é definida utilizando-se a Tabela de Cutter-Sanborn. Você pode encontrá-la em: www.davignon.qc.ca/cutter1.html Competência 01 http://www.davignon.qc.ca/cutter1.html 48 Figura 12 – Captura de tela da Tabela de Cutter-Sanborn Fonte: www.davignon.qc.ca/cutter1.html Na tabela, as iniciais dos sobrenomes são organizadas alfabeticamente e os números em ordem decimal. O número de notação do autor é composto por: Primeira letra do sobrenome do autor, em letra maiúscula; Número do autor retirado da tabela de Cutter-Sanborn; Primeira letra do título da obra, em letra minúscula. Por exemplo: O livro intitulado Catalogação no Plural, de Eliane Serrão Alves Mey e Naira Christofoletti Silveira, é sobre catalogação. Para definir a notação do autor, precisamos ir à tabela Competência 01 http://www.davignon.qc.ca/cutter1.html 49 no endereço que já fornecemos para vocês e procurar o código dado às iniciais do sobrenome MEY. Mas vocês podem me perguntar: E o sobrenome Silveira, não é considerado? Quando temos mais de um autor em um livro, o ponto de acesso principal para a catalogação é o primeiro autor mencionado na folha de rosto do livro e o outro autor é o ponto de acesso secundário. Iremos estudar sobre Pontos de Acesso na competência 2. Bem, pesquisando na tabela na letra M, identificamos, portanto, que o número para MEY é 612. Com isso, a notação do autor será: M612c. O c (minúsculo) vem do título da obra: Catalogação no plural. Em caso de obras que não têm autoria e o ponto de acesso principal é pelo título, o código de Cutter corresponderá à primeira palavra do título que não seja artigo. Exemplo: Título do livro que não possui autoria: A criança perdida (título fictício) Desconsidera-se o artigo (A) e procura o número correspondente às iniciais da palavra Criança, que consta na tabela de Cutter como: 928. Então, o número de Cutter será C928, e não constará a letra minúscula referente ao título, pois a entrada já foi pelo título. Quando se tratar de Biografia, o número da Tabela de Cutter será referente ao sobrenome do biografado, e não do autor que escreveu a biografia. Quanto à autobiografia, o número de Cutter será apropriado ao sobrenome do próprio autor. A notação de autor foi criada para distinguir obras da mesma área do conhecimento, pois Competência 01 50 acontecem muitas coincidências de número de classificação para duas obras distintas, mas que são sobre o mesmo assunto. Com o número de Cutter, é possível distinguir entre duas ou mais obras. É fato que pode acontecer de haver coincidências de número de classificação, número de Cutter e letra inicial do título, mas é exceção. Nós mencionamos que a Catalogação Descritiva está dentro da etapa de tratamento da informação. Entretanto, não podemos pensar que o tratamento informacional só ocorre no ambiente biblioteca. A gestão da informação nas empresas é processo fundamental para a tomada de decisões. Diante disso, a empresa necessita de informação externa e interna para o processo decisório e, assim, o profissional da informação pode atuar no tratamento e fornecimento destas informações. A gestão da informação consiste nas atividades de busca, identificação, classificação, processamento e disseminação da informação. A identificação e o processamento se encaixam no que chamamos de catalogação descritiva na Biblioteconomia. Inicialmente, os sistemas de informação nas organizações se baseavam em técnicas de arquivamento e recuperação de informações de grandes arquivos. Atualmente, com os avanços tecnológicos, é possível atuar na implantação de sistemas de gerenciamento eletrônico de documentos (GED), que permitem gerenciar desde a conversão dos documentos analógicos em digitais, quanto os fluxos e processos de trabalho da organização. Tais documentos precisam ser identificados a fim de serem encontrados. Nesta disciplina, não vamos nos aprofundar nos processos e técnicas desenvolvidos no ambiente organizacional, vamos apenas citar alguns aspectos. Nosso foco é a catalogação descritiva de registros do conhecimento presentes nas bibliotecas físicas ou em espaço digital. Bem, chegando ao final da competência 1, alertamos a todos que a Catalogação Descritiva faz parte do processo de tratamento da informação na Biblioteconomia. Além disso, catalogar requer seguir regras e padrões internacionais de descrição de registros do conhecimento, regras essas que vamos conhecer na segunda competência estudando o Código de Catalogação Anglo- Competência 01 51 Americano, em sua segunda edição. Competência 01 52 2.Competência 02 | Saber Organizar o Acervo da Biblioteca de Acordo com os Elementos de Catalogação para Descrição Física de Objetos Informacionais (AACR2R) 2.1 O Código de Catalogação Anglo-Americano Nesta competência, vamos estudar sobre pontos de acesso citados na competência 1. Entretanto, não é apenas isso: aprenderemos sobre as áreas de descrição bibliográfica, noções básicas para catalogação de materiais bibliográficos e audiovisuais baseada no Código de Catalogação Anglo- Americano em sua segunda edição (AACR2), bem como Formato MARC 21 para dados bibliográficos. Por fim, trataremos sobre padrões de metadados utilizados para descrever teses e dissertações (MTD-BR) no ambiente digital e o Dublin Core, padrão de metadados amplamente utilizado para descrição de objetos informacionais em ambiente digital. Vamos lá? Figura 13 – Biblioteca desorganizada Fonte: www.culturamas.es/wp-content/uploads/2015/06/biblio.jpg
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