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A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL JED BABBIN e traduzido por eduardo levy HERBERT LONDON Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Babbin, Jed A nova guerra contra Israel / Jed babbin e 1. ed. -- Santos : Editora Simonsen, 2015. Título original: The BDS war agains Israel. ISBN 978-85-69041-04-7 1. Árabes palestinos - Israel - Condições sociais 2. Árabes palestinos - Israel - Direitos civis 3. Conflito árabe-israelense 4. Direitos humanos - Palestina 5. Refugiados 6. Relações internacionais I. London, Herbert. II. Título. 15-06388 CDD-327.5694 Índices para catálogo sistemático: 1. Conflito Israel-Palestina : Relações internacionais 327.5694 2. Conflito Palestina-Israel : Relações internacionais 327.5694 Os autores desejam agradecer a Adam Bellow, David Bernstein e ao resto da equipe da Liberty Island Media pela assistência na produção deste livro. Desejamos também agradecer ao rabino Binyamin Sendler e ao General Ion Pacepa por nos permitir usar uma pequena parte do vasto repositório de sabedoria de que dispõem e a Bryan Griffin por sua pesquisa soberba. S U M A R I OPrefácio à edição brasileira................. INTRODUÇÃO................................... A nova guerra contra Israel.................. CAPÍTULO 1 - as raízes políticas e ideológicas do movimento BDS................. o nascimento do BDS............................ CAPÍTULO 2 - refutando as mentiras........... o embuste do apartheid......................... crimes de guerra e genocídio................... o bloqueio de Gaza e os muros.................. o libelo de sangue 2.0 de Barghouti........... limpeza étnica?................................ não existe “direito de retorno”................ CAPÍTULO 3 - a estratégia de Durban, a ONU e a desinformação.............................. CAPÍTULO 4 - o movimento BDS no mundo........ CAPÍTULO 5 - o BDS nos Estados Unidos........ CAPÍTULO 6 - quem financia o movimento BDS?.. CAPÍTULO 7 - implicações para a política externa dos EUA e Israel..................... o processo de paz............................. o futuro da política externa americana........ o futuro da política externa israelense....... EPÍLOGO...................................... APÊNDICE..................................... AGRADECIMENTOS............................... 9 15 23 41 47 55 56 60 67 72 76 89 93 101 113 125 137 142 148 150 163 169 175 P R E F A C I O A E D I C A O B R A S I L E I R A Há alguns anos, trafegando pela Av. Rebouças em São Paulo, deparei-me com uma grande manifestação que ocupava a outra pista da avenida. O trânsito se arrastava lentamente e pude observar, com cuidado, as faixas com reivindicações como: “Salvem Gaza”, “Israel assassino”, etc. Fiquei curioso para descobrir como tanta gente havia se reunido para tal manifestação, e me surpreendi ao descobrir que era uma passeata organizada pelo sindicato dos funcionários do Hospital das Clínicas! Perguntei a mim mesmo que raios que um sindicato de classe tem a ver com uma questão internacional, de dois pequeninos povos do outro lado do globo. Obviamente aquelas pessoas não por Jorge Feffer 10 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N estavam lá por iniciativa própria; havia todo um sistema que propiciou sua ida, sem que os envolvidos estivessem cientes. Não precisei de muito para entender a conexão daquela manifestação com movimentos de esquerda, alimentados por uma ideologia que, por sua vez, utiliza efetivos mecanismos de controle das massas, para atingir objetivos nem sempre óbvios. O movimento conhecido por BDS, a sigla em inglês para Boicote, Desinvestimento e Sanções, espalhou-se pelo mundo com o objetivo de minar o Estado de Israel e as negociações para o estabelecimento de um Estado palestino ao lado de Israel. Ainda que não figure em sua carta, as declarações de seus dirigentes promovem a discussão sobre a legitimidade da solução da partilha de 1947 que, sob os auspícios da ONU, definiu a criação de dois Estados para dois povos na região. Seu objetivo é destruir o Estado de Israel. O antissemitismo já foi definido como “odiar os judeus mais do que o mínimo necessário”, e sua recente onda, por vezes ligada a políticas promovidas por este ou aquele governo israelense, demonstra não ser necessária a presença de judeus para que prolifere. E o anti- sionismo transformou-se na nova arma deste fenômeno. Assim, promovendo mentiras e meias verdades, grupos que nada têm a ver com a disputa dos direitos humanos ou a liberdade de expressão clamam pela exclusão de israelenses das atividades culturais e econômicas, pela 11 expulsão de professores de congressos internacionais, pela proibição de atuação de artistas em atividades culturais e pelo banimento de instituições das mais variadas organizações. Mas a maioria dos engajados no movimento não tem conhecimento de suas atividades; confundem a disputa na Cisjordânia e em Gaza com a situação dos cidadãos árabes em Israel que, aliás, são os únicos a desfrutar de democracia no Oriente Médio e por nada trocariam sua cidadania pela de um Estado palestino. Também são incapazes de diferenciar organizações e indivíduos que lutam para promover o entendimento e a harmonia, classificando a todos os israelenses em uma mesma categoria e promovendo discursos de ódio e confronto. Infelizmente o Brasil não foge desta análise. Aqui a esquerda que em busca da hegemonia abraça qualquer causa, se apropriou de uma suposta bandeira palestina, incorporando elementos antissemitas e anti-sionistas em suas manifestações. Dessas manifestações, participam elementos entusiastas, portando bandeiras e slogans, mas praticamente nada sabem sobre os temas que supostamente estão defendendo, sendo meros instrumentos de manobra de uma estratégia maior. As recentes demandas para excluir empresas israelenses das atividades na Copa de 2016 encontraram prontamente respaldo nos órgãos governamentais, na USP criaram há anos a “Semana da Palestina”, que mobiliza ativistas 12 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N com meias verdades. Felizmente existe ainda alguma resistência, como a de alguns renomados cantores brasileiros que sabiamente rejeitaram o apelo para deturpar sua arte com ingerências políticas maniqueístas. No Brasil, o movimento BDS praticamente não existe. Por quê? Porque não é necessário e provavelmente não seria muito útil, já que a ideologia é tão forte e ativa que a pressão sobre a sociedade para deturpar a questão Israel- Palestina já obtém os resultados desejados. Apesar disso, conhecer o movimento BDS internacional é fundamental, para entender como funciona esta ideologia, quais são suas estratégias e técnicas para atingir os objetivos almejados, usando de todas armas possíveis, sem respeitar nenhum limite ético. Sabendo disso podemos nos precaver, evitando, assim, acreditar em discursos enganosos. Para seus “militantes” trata-se uma guerra e numa guerra as primeiras vítimas são a verdade e o respeito ao ser humano. I N T R O D U C A O por Herbert London A Oxfam America, cujo objetivo é acabar com a pobreza, a fome e a injustiça social, é uma organização de caridade bancada por “cidadãos globais” e alega ser “uma das organizações internacionais de assistência e desenvolvimento social mais eficazes do mundo”. Mas a Oxfam é mais que uma organização de caridade; ela é também um veículo de propaganda para a demonização de Israel. Há pouco tempo, a organização repreendeu uma das suas “embaixadoras globais da boa vontade”, a atriz ScarlettJohansson. O crime? Representar a SodaStream, empresa israelense com instalações na Cisjordânia. A Oxfam alegou que promover o comércio com uma empresa 16 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N sediada em “território ocupado” era errado. Não interessa que o território esteja “sob disputa”; ignore-se também que a SodaStream emprega aproximadamente 500 palestinos; a Oxfam sabe o que é o melhor para a região. Para prestígio da atriz, ela encerrou seu relacionamento com a organização, citando “uma fundamental diferença de opinião no que diz respeito ao movimento de boicote, desinvestimento e sanções [BDS]”. O porta-voz do movimento, Omar Barghouti, expõe com total clareza o objetivo do BDS: “O direito dos refugiados palestinos de retornar a suas casas e terras, de onde foram desalojados e despossados em 1948”. Mas esse direito geral não existe. De acordo com resolução da ONU, Israel foi criado para ser a pátria do povo judeu. A resolução segundo a qual o suposto “direito de retorno” foi criado dizia respeito apenas aos palestinos desalojados pela Guerra de Independência de Israel, não aos milhões de descendentes deles vivendo no momento como “refugiados” permanentes na Jordânia, no Líbano, na Síria e em outros países árabes. Dizer o contrário seria afirmar que a ONU aprovou a destruição da pátria judaica um mês depois de ter aprovado a criação dela. Fosse posto em prática o plano absurdo do BDS— absurdo no fato de que até mesmo o bisneto de um palestino que vive na Jordânia, no Líbano ou na Síria é considerado refugiado—o influxo de quase 5 milhões de “refugiados” faria com 17 que o Estado de Israel deixasse de existir. No entanto, o movimento BDS vem ganhando força, especialmente ao espalhar a alegação de que Israel é um opressor colonial. O que se omite nessa narrativa é que as comunidades judaicas do Iraque, da Síria, do Irã, do Egito e do Iêmen foram expulsas, criando mais de 600 mil refugiados judeus. As injustiças que essas pessoas sofreram não são reconhecidas pelas Nações Unidas e muito menos retratadas pela mídia mundial. Enquanto o Oriente Média se inflama com guerras civis, terrorismo e mentalidade anti-humanista, Israel tornou-se preocupação prioritária de muitos centros de opinião ocidentais. No entanto, trata-se da única sociedade democrática, aberta e verdadeiramente multiétnica da região—o único país onde judeus e árabes se sentam lado a lado no parlamento. É instrutivo o fato de que Omar Barghouti, o ativista do BDS mencionado acima, graduou- se pela Universidade de Tel Aviv. Em verdade, a universidade resistiu a uma petição mundial para expulsá-lo por suas opiniões radicais, apoiando-se nos princípios da liberdade acadêmica e da liberdade de expressão e conferindo-lhe o grau de mestre em filosofia. Onde no mundo muçulmano poderia haver história semelhante? 18 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N A oradora oficial do ano de 2014 da turma de graduação da Technion University Medical School, em Haifa, foi Mais Ali-Saleh, jovem muçulmana criada em uma pequena vila árabe próximo a Nazaré e, mais especificamente, um exemplo vivo em contrário às alegações do BDS de que Israel é um “Estado de apartheid”. Em seu discurso, Ali-Saleh observou que “um boicote acadêmico a Israel é uma atitude passiva que não alcança nenhum dos objetivos que se propõe”. Afirmou ainda que o BDS “perpetra falsidades”, uma vez que as mulheres árabes de Israel têm ali mais direitos, liberdades e oportunidades acadêmicas que em qualquer país árabe, e acrescentou que, na verdade, os países árabes é que deveriam ser pressionados a emular a liberdade acadêmica e a democracia de Israel. Um ponto de vista como esse, no entanto, submerge no oceano diante do proselitismo idealista de pessoas como Roger Waters, ex- líder do Pink Floyd. Em uma entrevista recente, ele afirmou que Israel promove uma “limpeza étnica” como parte de seu “regime racista de apartheid”, traçando também paralelos com o governo de Vichy e a Alemanha nazista. Waters chega mesmo a descrever a matança sistemática de judeus no Holocausto como nada diferente da “matança do povo palestino” e afirma que muitos artistas compartilham de sua opinião, mas têm medo de expressá-la por causa do “poderoso lobby judeu”. As afirmações de 19 Waters, evidentemente, provam que é o exato oposto que ocorre. Mas o artista tem aliados improváveis: judeus com boas intenções, muitas vezes vítimas de péssimos conselheiros, que aceitam a narrativa do BDS. Em alguns casos, trata-se de opiniões ignorantes ou simplistas; em outros, essas posições são apenas uma demonstração de adesão à esquerda—a causa mais recente dos “bons samaritanos” profissionais; para outros ainda, apoiar o BDS é uma maneira de pressionar o governo Netanyahu a ser mais flexível nas negociações territoriais. Quaisquer que sejam as razões, o BDS vem ganhando muitos adeptos entre os judeus americanos, sobretudo nos campi universitários. É importante distinguir entre radicais conscientemente antissionistas, como Norman Finkelstein e Noam Chomsky, e sionistas “bem- intencionados” inclinados à esquerda que acreditam que o movimento BDS vai, na verdade, beneficiar Israel ao acelerar as negociações para uma solução de dois Estados; o New Israel Fund (NIF) [organização judaica norte- americana que pretende promover justiça social em Israel], por exemplo, devota uma parte significativa de seu orçamento ao apoio ao BDS. Embora os capítulos que se seguem não enfatizem essa diferença, é certo que temos consciência dela. No entanto, é o efeito das ações dos vários agentes, e não o que as motivou, que nos interessa. 20 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N Em um artigo recente para o Wall Street Journal, a repórter Lucette Lagnado dissecou a presença do movimento BDS na universidade em que se formou, a Vassar College. Ela cita, por exemplo, um texto publicado em um jornal estudantil de autoria do presidente da Vassar Jewish Union [Associação Judaica de Vassar] que trazia todos os chavões hoje familiares: “atrocidades”, “opressão”, “violência”, “colonial” e o onipresente “apartheid”. Ao mesmo tempo, o chefe do programa de Estudos Judaicos da universidade também expressou apoio ao boicote, demonstrando que o vírus do BDS infectou a academia de formas aparentemente improváveis. Até mesmo algumas organizações do Hillel—a maior associação universitária judaica do mundo—cederam ao ataque, encorajando o debate sobre a própria existência de Israel, posição que viola diretamente o estatuto do Hillel. Sob a bandeira de “um arcabouço diversificado de opiniões”, os estudantes agora debatem abertamente, em um ambiente religioso judaico, se Israel deveria continuar a existir. Mas é claro que a questão não é de debate aberto e diversidade de maneira alguma; se fosse, também veríamos abertura e debate sobre as atrocidades cometidas contra cristãos em países muçulmanos e discussões sobre as diferenças entre os preceitos da sharia e a liberdade que se exerce em Israel. 21 Embora os afetados de antissionismo apresentem sua intolerância não como preconceito, mas como busca por justiça social, resta a pergunta: justiça para quem? Se o pensamento sionista é o pecado original, apenas o desmantelamento do Estado judeu pode redimi-lo. Muitos antissionistas afirmam que não se opõem ao judaísmo, apenas ao Estado de Israel. Mas o principal garantidor da segurança do judaísmo, desde o término da Segunda Guerra Mundial, é a soberania do Estado de Israel. O país não nasceu das cinzas do Holocausto, mas é a última fortaleza contra a repetição dele. Muito embora se faça essa analogia com frequência, o BDS é diferente do movimento de boicotes que derrubou o apartheid na África do Sul—diferente no alvo, diferente na intenção e diferenteno núcleo moral. Mas é como dizia Mao Tsé-tung: uma mentira repetida centenas de vezes se torna verdade. Para uma geração ignorante a respeito do passado, a propaganda do movimento BDS é como erva-dos-gatos: irresistível e prejudicial, criando grandes estragos no caminho. Em verdade, vivemos sob os efeitos desses estragos no momento. A N O V A G U E R R A C O N T R A I S R A E L Os governos de muitos países, ao longo da história, oprimiram o próprio povo, privando-o dos direitos humanos básicos. A França assassinou dezenas de milhares de civis sob o regime do Terror que se seguiu à revolução de 1789, e o mesmo fez a Alemanha do kaiser, na marcha pela Bélgica, em 1914. Mais tarde a Alemanha nazista cometeu o Holocausto, o Camboja de Pol Pot enveredou pelo genocídio e a União Soviética stalinista matou milhões de pessoas via fome e massacres, além de tornar-se um modelo de opressão ao enviar milhares de hordas sem nome para os campos de trabalho forçado no Arquipélago Gulag descrito por Solzhenitsyn. 24 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N Quando tais eventos ocorreram, esses países e governos eram considerados párias cujos únicos “aliados” eram conquistados por via militar, por via ideológica ou por ambas. A China comunista, porém, apesar de ter massacrado milhões de pessoas, recebeu um perdão de facto quando os países ocidentais resolveram fazer vista grossa para o papel dela na história do século XX, para o aumento de seu poder militar e para suas ambições hegemônicas na costa do Pacífico. A verdade é que até pouco tempo depois da Segunda Guerra Mundial, os historiadores não se acanhavam de relatar que os países iam caindo um a um sob o jugo de ditadores, déspotas, párias e terroristas, mas tudo mudou a partir do momento em que a União Soviética conseguiu mascarar seus piores crimes, fazendo com que muitas pessoas, no mundo todo, se deixassem seduzir pelo encanto das falsas promessas, da ideologia fraudulenta e dos fatos mutilados. Os resíduos desse encanto continuam a beneficiar alguns dos piores regimes do mundo, inclusive a própria Rússia neossovética de Vladmir Putin. Ainda nos dias de hoje, a Coreia do Norte continua a matar centenas de milhares de pessoas com a sua versão do Arquipélago Gulag, enquanto o Irã, que é o principal patrocinador do terrorismo mundial, pode estar prestes a estender sua hegemonia a todo o Oriente Médio, graças à sua nascente capacidade nuclear. Contudo, o país continua a desfrutar de um lugar na chamada 25 “comunidade mundial das nações”, livre de sanções e engajando-se em ações diplomáticas calculadas para mascarar o desenvolvimento de armas nucleares. Apesar disso, ainda existem vários países considerados párias—como a própria Coreia do Norte, o Sudão e Cuba, para mencionar só alguns—, punidos por sua conduta com isolamento e sanções econômicas. Eles existem em uma espécie de limbo, suspensos entre as nações que toleram a prática ideológica e a escravização da própria população por parte desses países e aquelas que garantem os direitos humanos básicos ao próprio povo. Israel está em guerra desde que foi criado, pois seus vizinhos árabes, com a exceção do Egito, jamais aceitaram sua existência como nação. O país sofre de pesadas ondas de ataques terroristas de palestinos e de grupos terroristas patrocinados por países como o Irã, a Síria e outros. Essas ondas de terrorismo palestino abrem-se e fecham-se como uma torneira programada para seguir o fluxo dos “processos de paz”, que jamais chegam à paz por uma razão principal: como veremos adiante, os países árabes mantêm os palestinos em um limbo próprio, o único povo do mundo em permanente estado de refugiado. Eles são mantidos em campos, sem direito de cidadania, para que possam ser usados como arma política ou terrorista contra o Estado 26 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N judeu1. Israel não é um país pária, não apoia o terrorismo, não é governado por déspotas nem por ditadores. Seus cidadãos, tanto os judeus quanto os árabes, são igualmente beneficiados pela adoção da democracia e dos direitos humanos. Mas tanto do lado de dentro quanto do lado de fora de suas fronteiras, um movimento de propagandistas e desinformantes trabalha incessantemente para convencer o mundo de que Israel é um país pária tanto quanto a Coreia do Norte ou o Irã. O meio pelo qual procuram fazê-lo é o chamado movimento de “boicote, desinvestimento e sanções”, ou “movimento BDS”, propagado por ativistas palestinos, por governos árabes e por cidadãos europeus que se juntam ao esforço de expulsar Israel da comunidade internacional. Como falharam na tentativa de derrotar Israel por meio do terrorismo e da subversão, os palestinos lançaram, como estratégia secundária, o movimento BDS, cujos objetivos explícitos são: (1) criar boicotes globais às universidades e indústrias israelenses (supostamente apenas as que têm negócios nos territórios palestinos “ocupados”); (2) fazer com que países, bancos e indústrias retirem investimentos dos 1 Em entrevista concedida em 2003 a Jed Babbin, Zia abu Ziad, conselheiro sênior de Yasser Arafat e ex- -ministro de Estado palestino, afirmou que apesar de ter interrompido os ataques terroristas de 1996 a 2000, a Autoridade Palestina os retomou porque não houve ga- nho político suficiente com a interrupção. Ele concor- dou com a premissa de que a AP pode parar o terrorismo quando desejar fazê-lo. http://old.nationalreview.com/ babbin/babbin200311050734.asp. 27 bancos e empresas de Israel e do país como um todo; e (3) obter sanções internacionais contra Israel, sua economia e seu povo. Em seus nove anos de existência, o movimento BDS teve um sucesso impressionante, alcançando apoiadores e simpatizantes em todo o mundo, mas principalmente na Europa e na América do Norte. Na maior parte desse tempo, os cidadãos israelenses e o governo do país foram incapazes de afinar a própria voz em oposição ao movimento. Agora, no entanto, o BDS finalmente começa a ser reconhecido como o que é: uma ameaça estratégica a Israel. Como disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Conferência Diplomática do AIPAC [The American Israel Public Affairs Committee, “comitê de relações públicas israelo-americanas] em março de 2014: A maioria dos ativistas do movimento BDS não busca uma solução de dois Estados para dois povos. Ao contrário, eles admitem abertamente que buscam a dissolução do único Estado do povo judeu. Embora alguns de seus companheiros de viagem mais ingênuos acreditem que ele trabalha pela paz, o BDS não deseja atingir nem a paz nem a reconciliação, muito antes pelo contrário. O movimento impede a paz, porque torna os palestinos mais irredutíveis em suas posições e a conciliação mútua menos provável.2 2 http://www.algemeiner.com/2014/03/04/full-trans- cript-prime-minister-netanyahu%E2%80%90s-speech 28 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N No entanto, os israelenses até hoje não fizeram nenhum estudo completo do movimento, que analisasse os antecedentes, as posições e as estratégias do BDS. Este livro tenta fazer isso, com urgência de propósitos. Como os argumentos do movimento ficaram, em sua maioria, sem resposta, quem não estiver informado dos fatos e da história por trás do conflito israelo-palestino se arriscará a tirar conclusões erradas baseadas em distorções patentes. O objetivo deste livro é, portanto, ajudar a pôr as coisas em seus devidos lugares. O curso de ação escolhido pelo BDS foi conduzir uma campanha política multinacional amorfa que, por parecer-se muito com o movimento contra a guerra do Vietnã, como tal foi encarada e abraçada por ativistas palestinos radicais, por muitos membros do mundo acadêmico e pela comunidade de organizações não-governamentais(ONGs), muitas das quais beneficiárias de doações substanciais de países europeus. O propósito da campanha é relegar Israel ao gueto político reservado aos piores países do mundo. Entretanto, tudo isso é necessário para transformar Israel em pária precisamente porque o país se distingue no Oriente Médio por não ter jamais, com suas próprias ações, adentrado o pequeno clube povoado por Cuba, Síria, Irã e Coreia do Norte. Como os maiores inimigos do Estado judeu são eles próprios ditaduras islâmicas, precisam convencer os outros países de que Israel é tão odioso e perigoso quanto eles. 29 Assim, o movimento BDS tenta pregar em Israel o rótulo de pária que o país jamais recebeu por conta própria, pondo em circulação um número tão grande de falsidades e meias-verdades, que elas parecem verossímeis a despeito dos fatos em contrário. Apesar de apresentar-se sob as vestes de uma campanha humanitária, o BDS não passa, na verdade, de uma investida ideológica à existência de Israel enquanto nação judaica. Trata-se de um ataque assimétrico a um país que parece despreparado para enfrentar seus inimigos nesse terreno ou relutar em fazê-lo. Por isso mesmo, é uma das maiores ameaças que Israel já enfrentou. Há quem classifique o BDS como a “Terceira Intifada”3; para entender por que, é preciso entender as duas primeiras. Como resultado da Guerra dos Seis Dias (1967), que terminou com Israel expulsando as forças árabes pelo rio Jordão, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 2424, que preconizava um tratado de paz segundo o qual o país judeu negociaria a devolução das terras tomadas na guerra em troca da paz com os palestinos e os países árabes. Porém, nos 20 anos que separam a Guerra dos Seis Dias da Primeira Intifada não houve progresso algum em nenhum acordo de paz. 3 Até mesmo pelo colunista do New York Times Thomas Friedman. http://www.nytimes.com/2014/02/05/opinion/ friedmanthe-third-intifada.html?_r=0 4 Disponível em http://unispal.un.org/U.N.ISPAL.NSF/0/ 7D35E1F729DF491C85256EE700686136. http://news.bbc.co.uk/2/hi/329643.stm 30 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N “Intifada” significa “livrar-se” em árabe. O objetivo das intifadas era “livrar-se” da presença de Israel nas estratégicas Colinas de Golan e em áreas da Cisjordânia, territórios que haviam sido conquistadas na Guerra dos Seis Dias; mas os israelenses acreditavam que retornar às fronteiras pré-1967 deixaria o país vulnerável. Os palestinos exigiam não apenas o retorno a essas fronteiras, mas também um Estado Palestino “contíguo”, conectando a Cisjordânia e a Faixa de Gaza; só que criar esse Estado contíguo seria impossível sem partir Israel ao meio. A Primeira Intifada começou em dezembro de 1987, com o ataque palestino a militares e civis israelenses com pedras, coquetéis- molotovs e granadas de mão em protesto contra a presença israelense no território da Cisjordânia.5 Ao final dela, contava-se um total de cerca de 20 mil mortos e feridos de ambos os lados.6 Dos casos fatais, 1.561 eram palestinos e 421 eram israelenses.7 O resultado foi a assinatura, em 1993, do Acordo de Oslo, que prometia ser um grande passo rumo à paz, pois cada um dos lados concordou em reconhecer o outro, a Organização pela Libertação da Palestina comprometeu-se a renunciar ao terrorismo e Israel aceitou trocar terras por paz. 5 http://news.bbc.co.uk/2/hi/329643.stm 6 Ibidem. 7 http://www.btselem.org/statistics/first_intifa- da_tables. 31 Contudo, nenhum dos vizinhos árabes do país judeu participou das negociações nem reconheceu os termos do acordo. A paz durou pouquíssimo tempo. Embora Israel tenha começado a se retirar dos territórios da Cisjordânia, o terrorismo não foi interrompido. Os atentados suicidas se tornaram a principal arma terrorista empregada pelos palestinos.8 A partir de 29 de setembro de 20009, a Segunda Intifada tornava-se uma luta declarada. Por três vezes, desde 2000, primeiros-ministros israelenses tentaram implementar a teoria da “terra por paz” preconizada pela resolução 242 da ONU. Em todas elas, ofereceram aos líderes palestinos um Estado independente em termos muito mais generosos do que a Jordânia e o Egito haviam feito quando eram os controladores de Gaza e da Cisjordânia.10 Em 2000, o então primeiro-ministro israelense, Ehud Barak, aceitou o plano proposto pelo presidente norte-americano, Bill Clinton, que pretendia estabelecer um Estado tanto na Cisjordânia e em Gaza quanto no leste de Jerusalém; mas Yasser Arafat, presidente da Autoridade Palestina, abandonou as negociações e deu início à Segunda Intifada.11 Depois, em 2005, o primeiro-ministro Ariel Sharon 8 http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/7381378.stm 9 Ibidem. 10 Sol Stern, “A Century of Palestinian Rejectionism and Jew Hatred”, Encounter Broadsides (2011), p. 39. 11 Ibidem, p. 40. 32 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N desmanteloutodos os assentamentos judaicos na Faixa de Gaza e redesenhou as fronteiras entre Israel e Gaza de acordo com o que eram antes da guerra de 1967. Mas nos dois anos seguintes os palestinos lançaram uma chuva de mísseis contra civis israelenses a partir de Gaza e elegeram o grupo terrorista Hamas para governar a Faixa de Gaza.12 A seguir, no ano de 2008, o primeiro-ministro Ehud Olmert presenteou o presidente palestino, Mahmoud Abbas, com o mapa detalhado de um Estado palestino composto por Gaza inteira, quase 100% das terras da Cisjordânia e uma Jerusalém formalmente dividida que poderia ser a capital de ambos os países. A oferta de Olmert era condicionada a que os palestinos renunciassem ao “direito de retorno”, que resultaria, se posto em prática, numa maioria árabe-palestina em Israel. Abbas prometeu estudar o plano e retornar para negociações posteriores, mas foi embora com o mapa e nunca mais voltou. A verdade é que já em 2001 os palestinos e seus padrinhos árabes haviam decidido implementar uma nova estratégia de luta, incompatível com a paz e com a boa-fé nas negociações. O terrorismo continuaria a todo vapor, mas cederia o protagonismo no combate a novos métodos. Era, como veremos, o germe do movimento BDS. 12 Ibitem, pp. 40-41. 33 Supostamente consequência de um “apelo” da “sociedade civil palestina” em 2005, o movimento BDS, na verdade, resultou de uma ideia cuja origem foi a reunião conduzida em Teerã, em 2001, como preparação para a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata a realizar-se ainda naquele ano em Durban, na África do Sul. Em Teerã e depois outra vez em Durban, representantes do Irã, dos países árabes, e de vários países que foram colônias no século XIX e em parte do XX reuniram-se para planejar estratégias mediante as quais poderiam expor suas queixas contra o Ocidente. Embora o propósito declarado da reunião fosse procurar maneiras de combater o racismo, o que houve na realidade foi uma orgia de retórica antiamericana e anti-israelense. Para justificar a campanha de boicote, desinvestimento e sanções, os palestinos e seus aliados lançaram uma multidão de acusações espúrias contra Israel, tão absurdas e extravagantes que seriam risíveis se não tivessem atraído tanta atenção na sociedade internacional na década vindoura. Eis alguns exemplos, todos retirados do livro Boycott, Divestment and Sanctions [boicote, desinvestimento e sanções], escrito pelo principal porta-voz do movimento, o ativista palestino Omar Barghouti: ● Israel é “fascista e racista”; ● Israel é um “Estado de apartheid”; 34 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N ● Israel cometerá genocídio contra os palestinos a menos que seja contido pelo movimento BDS; ● Israel comete crimes de guerra contra os palestinos em Gaza desde 2007; ● Leis religiosas básicasdo judaísmo sustentam o massacre e o genocídio de civis não-judeus, inclusive crianças.13 As alegações de Barghouti a respeito das leis religiosas judaicas soam como as daquela infame falsificação antijudaica, Os Protocolos dos Sábios de Sião. Embora se resumam a nada mais que uma coleção de mentiras, distorções e informações falsas, as calúnias de Barghouti são proclamadas como se não houvesse dúvida alguma a respeito de sua veracidade. E é exatamente sobre essas mentiras que o movimento BDS foi erguido. Considere este fato: o BDS alega que deseja apenas que Israel encerre a “ocupação” da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, e o apoio que muitas pessoas em Hollywood, na mídia e na academia dão ao movimento é baseado nessa única proposta. Mas mesmo ela, embora proclamada abertamente, é uma mentira, como Barghouti—assim como muitos outros apoiadores do BDS—já admitiu: 13 Omar Barghouti, Boycott, Divestment and Sanc- tions, Haymarket Books (2011). 35 Se, digamos, a ocupação for encerrada, isso encerraria seu apelo por boicote, desinvestimento e sanções? Não, não encerraria, porque o povo palestino não sofre só com a ocupação. É verdade que Israel ocupa a Cisjordânia, Gaza e obviamente Jerusalém desde 1967, mas a maioria do povo palestino não sofre apenas com a ocupação. Esse povo sofre com a negação de seu direito de voltar para casa. A maioria dos palestinos são refugiados que vivem no exílio e têm negado o direito de voltar para a própria casa e a própria terra, direito este que é sancionado pela ONU, simplesmente porque não são judeus. Israel, com seu sistema próprio de apartheid, insiste em ter uma maioria judaica nesta terra e portanto, depois de promover a limpeza étnica da maioria dos palestinos em 1948 para construir o que é hoje Israel, recusa-se a permitir que eles voltem”14 Alguns apoiadores do BDS têm menos talento que Barghouti para obscurecer os propósitos do movimento. Por exemplo: ● Segundo o conhecido ativista As’ad Abu Khalil, “justiça e liberdade para os palestinos são incompatíveis com a existência do Estado de Israel.”15 ● Para Ahmed Moor, escritor pró-BDS e “Soros fellow”16, “encerrar a ocupação 14 https://www.youtube.com/watch?v=qOBg2t6vscc. 15 http://english.al-akhbar.com/blogs/angry-corner/ critique-norman-finkelstein-bds. 16 Moor é associado à Fundação Paul e Daisy Soros e recebeu uma bolsa de dois anos para estudar na Kennedy School of Government (ver http://www.pdsoros.org/current_ fellows/index.cfm/yr/2012#moor). 36 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N ● não significa nada se não significar a derrubada do próprio Estado judeu”.17 Há ainda velhos esquerdistas remanescentes dos movimentos pela paz da época da Guerra do Vietnã e sua progênie ideológica: ● Roger Waters, ex-membro do Pink Floyd, disse o seguinte a respeito de uma carta que mandou para Stevie Wonder: “Escrevi uma carta para ele dizendo que [fazer um show em Israel] seria a mesma coisa que tocar em uma festa da polícia em Johanesburgo no dia seguinte ao Massacre de Sharpeville, em 1960. Não seria um grande gesto, especialmente considerando que ele é o embaixador da paz da ONU e como tal deveria se comportar.”18 ● Angela Davis, ex-revolucionária comunista e hoje Notável Professora Emérita da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, comentando a resolução de apoio ao BDS da American Studies Association (ASA) [“associação de estudos americanos”], afirmou: “As similaridades entre as leis Jim Crow do passado e as práticas dos regimes contemporâneos de 17 http://mondoweiss.net/2010/04/bds-is-a-lon- g-term-project-with-radically-transformative-potential. html. 18 http://www.rollingstone.com/music/news/ro- ger-waters-calls-for-boycott-of-israel-20130320. (No Massacre de Sharpeville, ocorrido em 1960, na África do Sul, pelo menos 50 pessoas foram assassinadas pela polícia ao protestar pacificamente contra as leis do passe que restringiam os movimentos dos negros.) 37 segregação na Palestina Ocupada tornam esta resolução um imperativo ético para a ASA. Se tivermos aprendido a lição mais importante de Martin Luther King—que a justiça é sempre indivisível— estará claro que um movimento de massa em solidariedade à liberdade palestina já está muito tempo atrasado.”19 ● Quando o Festival de Cinema de Toronto homenageou o aniversário de 100 anos de Tel Aviv, Jane Fonda, Danny Glover, Eve Ensler e outros esquerdistas de Hollywood assinaram uma carta juntando-se a um boicote ao festival, carta que dizia, entre outras coisas, que Tel Aviv foi construída com violência, ignorando “o sofrimento de milhares de ex-residentes e seus descendentes.”20 ● A escritora Alice Walker, franca apoiadora do BDS e participante do esforço de um navio turco para quebrar o bloqueio da Faixa de Gaza, afirmou: “Os assentados [israelenses] são a [Ku Klux] Klan”.21 Israel rejeita o chamado “direito de retorno” dos palestinos porque se os “refugiados” tiverem permissão para retornar o que foi um 19 http://www.theasa.net/from_the_editors/item/asa_ members_vote_to_endorse_academic_boycott/. 20 http://www.israeli-occupation.org/2009-09-05/jane- -fonda-joins-boycott-of-toronto-film-festival-over-homa- ge-to-israel/. 21 http://cifwatch.com/2012/06/22/antisemitism-with- -a-literary-glow-alice-walkers-ugly-caricature-of-israeli- -jews/. 38 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N dia um grupo de cerca de 760 mil pessoas de fato deslocadas será, hoje, um grupo de cerca de 5 milhões de descendentes que retornariam a Israel sob exigência palestina. Em um país cuja população é de menos de 8 milhões de pessoas, das quais cerca de 1,3 milhão já são cidadãos árabes de Israel, a injeção de outros 5 milhões transformaria o país judeu em um país islâmico. Esta cacofonia de falsidades não é respondida, debatida nem sequer questionada na sociedade ocidental em geral. O Ministério das Finanças israelense chegou mesmo a engavetar, ao menos temporariamente, um relatório sobre os efeitos do BDS na economia do país.22 Israel é o único país livre do Oriente Médio, mas seu governo, seu povo e suas instituições econômicas e acadêmicas estão sob ataque ideológico daqueles que desejam destruí-lo. Embora a campanha se revista de expressões como “terminar a ocupação ilegal das terras palestinas”, o que ela deseja é a destruição de Israel. 22 http://www.economist.com/news/middle-e- ast-and-africa/21595948-israels-politicians-sound- -rattled-campaign-isolate-their-country. 39 41 C A P I T U L O 1 A S R A I Z E S P O L I T I C A S E I D E O L O G I C A S D O M O V I M E N T O B D S As raízes ideológicas e intelectuais do movimento BDS remontam a dois fatos históricos. Primeiro, o boicote a Israel que a Liga Árabe mantém desde 1948; segundo, os esforços da União Soviética para provocar o isolamento do Estado judeu e a condenação do sionismo. De acordo com um relatório produzido em 2013 pelo serviço de pesquisas do Congresso dos Estados Unidos (Congressional Research Service, CRS), a Liga Árabe—um grupo de 22 países do Oriente Médio e da África—mantém um boicote a empresas e produtos israelenses desde 1948: 42 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N O boicote possui três camadas. O boicote primário proíbe os cidadãos dos países membros da Liga Árabe de comprar, de vender para ou firmar contratos com o governo israelense e os cidadãos israelenses. O boicote secundário estende o boicote primário a qualquer entidade mundial que tenha negócios em Israel. O Escritório do Boicote Central mantém e distribui para os membros da Liga uma lista negra de empresas que comercializam com Israel. O boicote terciário proíbe que os membros da Liga Árabe, assim como seus cidadãos,comercializem com empresas que lidem com empresas que estejam na lista negra.1 Dado que, segundo o CRS, o boicote foi aplicado de modo esporádico e imposto de modo ambíguo, seu efeito foi indeterminado e praticamente anulado pela lei antiboicote americana, de 1977, que penaliza qualquer empresa dos EUA que adira a boicotes a Israel. Quanto aos esforços da União Soviética para provocar o isolamento de Israel e a condenação do sionismo, eles começaram em meados da década de 60, com o veto a uma resolução da ONU que condenava o antissemitismo.2 Havia sido um grande vexame para o país as derrotas acachapantes que Israel infligiu aos países árabes em 1967 e 1973, pois a potência comunista apoiara a tentativa desses países de destruir o Estado judeu e, em larga medida, 1 https://www.fas.org/sgp/crs/mideast/RL33961.pdf 2 http://jcpa.org/article/the-1975-zionism-is-racism- -resolution-the-rise-fall-and-resurgence-of-a-libel/ 43 os tinha treinado e equipado. O fracasso foi tanto que acabou por levar à expulsão dos conselheiros soviéticos do Egito em 1973. Então, em 1974, a ONU concedeu à Organização para a Libertação da Palestina, de Yasser Arafat— supostamente separada do Fatah, grupo terrorista de Arafat—, status de “observador”, como organização de libertação nacional. Enquanto esses eventos se desenrolavam, ocorriam mudanças, de início imperceptíveis, na imagem que o mundo tinha de Israel. Antes da Guerra dos Seis Dias, e mesmo depois dela, o país era visto como um oprimido batalhador, que saíra de baixo e conseguira resistir a terrorismo, boicotes e tudo o mais que o mundo árabe lhe infligia. A partir de 1973, porém, os países árabes, em conluio com seus patrocinadores soviéticos, começaram a reverter essa percepção, aproveitando-se da máquina de propaganda que o bloco comunista desenvolvera já nos tempos de Stalin. Países e grupos políticos, sobretudo aqueles ligados aos soviéticos, começaram a pintar palestinos e árabes como os oprimidos da história. Israel já não era mais uma democracia amante da liberdade, mas o opressor colonialista dos palestinos inocentes. Ao mesmo tempo, a OLP e outros grupos palestinos lançavam uma terrível campanha de terror contra civis israelenses, que se fez sentir de modo mais evidente nas Olimpíadas de Munique, em 1972. 44 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N O próximo passo veio em agosto de 1975, quando a Organização da Unidade Africana condenou Israel e a África do Sul como “regimes racistas e colonialistas”. Foi apenas porque os Estados Unidos ameaçaram deixá- la que a ONU não colocou em votação pela expulsão de Israel da organização.3 Os esforços dos soviéticos não terminaram aí. Em parceria com a OLP, eles planejaram uma resolução da ONU que condenava o sionismo como racismo. O ex-general romeno Ion Pacepa, o mais graduado oficial de inteligência a desertar da KGB, contou como isso ocorreu. Agindo em nome dos soviéticos e patrocinado pela Cuba de Castro, pelos países do bloco comunista e por uma coalizão de países árabes, Yasser Arafat conseguiu fazer com que se debatesse e votasse, na Assembleia Geral ONU, a resolução “sionismo é racismo”, tendo para isso o auxílio diligente do serviço de inteligência romeno4, que chegou até, entre outras atividades, a comandar a distribuição clandestina de charges antiamericanas e antissemitas do lado de fora do prédio da ONU. No debate sobre a resolução, que ocorreu em 10 de novembro de 1975, o então embaixador americano na ONU, Daniel Patrick Moynihan, 3 Ibidem. 4 Ion Pacepa e Ronald Rychlak. Disinformation WND Books: 2013, pp. 276–77 45 proferiu, talvez, o discurso mais memorável de sua eminente carreira pública. Moynihan previu o que aconteceria se a ONU aprovasse a resolução. Alguns dias antes do discurso, Andrei Sakharov, dissidente soviético e ganhador do Nobel da Paz, dissera que a atitude da ONU daria sanção internacional à abominação do antissemitismo. Moynihan ecoou Sakharov e foi além: À abominação do antissemitismo—como o prêmio Nobel da Paz Andrei Sakharov observou em Moscou alguns dias atrás—concedeu-se o estatuto de sanção internacional. A Assembleia Geral da ONU garante, hoje, anistia simbólica ao assassinato de seis milhões de judeus europeus. A seguir o embaixador expôs uma das verdades essenciais do judaísmo: que ele aceita não apenas aqueles que nasceram na religião, mas qualquer um—a despeito da raça, do credo ou da origem nacional. Por esse critério, o sionismo não pode ser “uma forma de racismo”: Desejo que se entenda que eu estou defendendo aqui um argumento, e um argumento apenas, o de que o que quer que o sionismo seja, ele não é e não pode ser “uma forma de racismo”. Logicamente, o Estado de Israel pode ser, ou pode se tornar, muitas coisas na teoria, inclusive muitas coisas que não são desejáveis, mas ele não pode ser e não pode se tornar racista, a não ser que deixe de ser sionista. 46 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N Moynihan viu a importância da resolução da ONU não apenas por causa do prejuízo que ela causaria a Israel, mas também por causa do prejuízo que causaria à própria organização, que ainda mantinha, até aquele momento, algum vestígio de verdade em seus debates e resoluções. Ele continuou: A proposição a ser sancionada pela Assembleia Geral das Nações Unidas é de que “o sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial”. Ora, isto é uma mentira. Mas como é uma mentira que as Nações Unidas acabaram de declarar ser uma verdade, a verdade real deve ser reafirmada. (...) A mentira terrível que se contou aqui hoje terá consequências terríveis. Não apenas as pessoas começarão a dizer, como aliás já começaram, que as Nações Unidas são um lugar onde se contam mentiras, mas estrago muito mais sério, grave e talvez irreparável se fará à própria causa dos direitos humanos. O estrago surgirá primeiro do fato de que se despirá o racismo do sentido preciso e repugnante que ele, precariamente, retém ainda hoje. Apesar das advertências de Moynihan, a resolução foi aprovada. As raízes do movimento BDS estavam plantadas. Desde então, dúzias de resoluções da ONU foram críticas a Israel, às vezes de modo bem áspero; cerca de quatro dúzias de resoluções anti-israelenses foram vetadas pelos EUA no 47 Conselho de Segurança, o único lugar onde o país ainda tem poder de veto. Só no ano de 2014, foram 21 resoluções desse tipo, enquanto apenas quatro criticavam outros países que não Israel.5 Israel tenta servir de consciência à ONU, mas é constantemente ignorado. Seja o tema o terrorismo patrocinado pelo Estado no mundo árabe, os perigos do programa nuclear iraniano ou a opressão das mulheres e das minorias religiosas no mundo, a voz de Israel é ignorada ou desdenhada pela Assembleia Geral. Os países árabes, a Rússia, a China e muitos outros Estados totalitários mantêm um bloco anti-israelense unificado há anos. o nascimento do BDS O movimento BDS, como observado acima, foi produto de uma conferência da ONU conduzida em 2001 na cidade de Teerã e da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata em Durban, na África do Sul. Conta-se às dezenas de milhares o número de Organizações não-governamentais no mundo. Algumas são instituições de caridade e 5 http://blog.unwatch.org/index.php/2013/11/25/this- -years-22-unga-resolutions-against-israel-4-on-rest-of- -world/ 48 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N assistência social legítimas, mas uma quantidade bem grande delas é simplesmente veículo de ação política. Isso ficou bem evidente em Durban, onde supostamente houve uma conferência global contra o racismo. Antes do começo da conferência, aconteceu uma pré-conferência de ONGs em Teerã. Organizações israelenses foram deliberadamenteexcluídas.6 O principal registro do evento é um artigo escrito para The Fletcher Forum of World Affairs por Tom Lantos, deputado democrata eleito pela Califórnia e primeiro e único sobrevivente do Holocausto a servir no Congresso americano.7 De acordo com o relato de Lantos, a reunião de Teerã ocorreu em fevereiro de 2001, sem delegados nem representantes de ONGs israelenses, porque o Irã se recusava a reconhecer Israel e a conceder vistos a cidadãos israelenses. Não foi permitida a participação nem da Austrália nem a Nova Zelândia, dois apoiadores convictos de Israel, pois suas tentativas de obter credenciais foram bloqueadas pela Organização para a Cooperação Islâmica (OCI, então chamada Organização de Conferência Islâmica), com a Malásia e o Paquistão pressionando pelo voto negativo. A organização, que compreende 57 países, tem entre seus membros a Palestina, que 6 www.ngo-monitor.org/article/ngo_forum_at_dur- ban_conference_ 7 Representative Tom Lantos, “The Durban Deba- cle: An Insider’s View of the World Conference Against Racism,”, The Fletcher Forum, Vol. 26:1 (2002). 49 reconhece como país. Como resultado da reunião, os delegados formularam uma “declaração e plano de ação”, a que Lantos se refere do seguinte modo: A “declaração e plano de ação” com que os delegados concordaram na atmosfera discriminatória de Teerã se resume ao que só pode ser visto como uma declaração dos Estados presentes de sua intenção de usar a conferência como arma de propaganda para atacar Israel. Na verdade, o documento não apenas destaca Israel de todos os outros países—apesar dos conhecidos problemas de racismo, xenofobia e discriminação que existem em todo o mundo—, mas também iguala as práticas do país na Cisjordânia a algumas das mais terríveis práticas racistas do século anterior. Israel, afirma o texto, engaja-se na “limpeza étnica da população árabe na Palestina histórica” e está “implementando um novo tipo de apartheid, um crime contra a humanidade.”. O documento também professa testemunhar “um aumento das práticas racistas do sionismo” e condena o racismo “em várias partes do mundo, assim como a emergência de movimentos violentos e racistas baseados em ideias racistas e discriminatórias, em particular o movimento sionista, que é baseado na superioridade racial”.8 Em uma reunião preparatória para a conferência de Durban, realizada em Genebra, os países islâmicos—Egito, Irã, Iraque, Paquistão, Síria e o observador da Organização para a Libertação da Palestina—insistiram para que se usasse a linguagem formulada em Teerã 8 Ibidem., p. 36. 50 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N e para que sempre que se fizesse referência ao Holocausto, fosse empregado o termo “holocaustos”, a fim de incluir a suposta “limpeza étnica” dos palestinos no território israelense. A coisa foi ainda mais longe, com os delegados da OIC e da OLP insistindo para que a expressão “antissemitismo” fosse relacionada às expressões “práticas racistas do sionismo” e “práticas sionistas contra o semitismo”. Este foi, como antecipado pela conferência de Teerã, o momento que os países árabes escolheram para formalizar sua campanha de desinformação contra Israel. Tudo estava pronto para a conferência na África do Sul. Logo depois que ela começou, as delegações dos EUA e de Israel a abandonaram em protesto, deixando o terreno livre para que a OIC e a OLP fizessem o que quisessem. A reunião se transformou em um circo antiamericano e anti-israelense. Em um artigo publicado no Yale Israel Journal9 em 2006, o professor Gerald Steinberg relatou a ação de cerca de 1.250 ONGs na conferência paralela de Durban que eclipsou completamente as reuniões dos representantes governamentais. De acordo com Steinberg, os personagens principais foram a Human Rights Watch (HRW), a Anistia Internacional, o MIFTA (grupo ativista palestino de Hanan Mishrawi), o Palestinian 9 http://www.ngo-monitor.org/article.php?- viewall=yes&id=1958 51 Committee for the Protection of Human Rights and the Environment [“Sociedade Palestina pela Proteção dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente”] e o South African NGO Committee [“Comitê das ONGs Sul-africanas”]. Steinberg afirma que grupos como esses se beneficiam de um “efeito de halo”—seus nomes pomposos e sua retórica magnânima levam as pessoas a presumirem que são nada mais que defensores apartidários dos direitos humanos. Em consequência, frequentemente se concede a eles grande deferência na mídia e nos círculos políticos, mas o “efeito de halo” costuma apenas mascarar uma agenda radical. Por exemplo, o diretor executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth, defendeu a agenda anti-israelense da conferência, afirmando em uma entrevista: “As práticas racistas israelenses são claramente um tópico apropriado”. Quando representantes de ONGs israelenses tentaram falar, Reed Brody—diretor jurídico da HRW—tratou de expulsá-los. O Fórum das ONGs publicou, como resultado da reunião, uma “declaração”. O “apelo” do movimento BDS em 2005 parece ser uma cópia dela. Há uma seção inteira devotada à Palestina e aos palestinos: ● A seção 419 afirma que a ONU deveria forçar Israel a permitir o “direito de retorno”, a encerrar a “ocupação militar colonial” da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e a se retirar das duas áreas; apela que a ONU reestabeleça a 52 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N resolução que equipara o sionismo ao racismo; e que a organização force Israel a abandonar a ideia de que é um Estado judeu; ● A seção 420 demanda o estabelecimento de um tribunal de crimes de guerra para investigar os crimes de guerra, o genocídio, a limpeza étnica e o apartheid na Cisjordânia e em Gaza; ● A seção 421 clama por mais conscientização e educação sobre o sistema de apartheid e o racismo israelense; ● A seção 422 pede a criação de uma Comissão Especial da ONU sobre o apartheid e outros crimes racistas contra a humanidade perpetrados pelo “regime de apartheid” de Israel; ● A seção 423 clama por programas especiais para acabar com as distorções midiáticas que “desumanizam os palestinos”; ● A seção 424 demanda um movimento contra o apartheid israelense executado da mesma forma que o movimento contra a África do Sul; ● A seção 425 pede que “a comunidade internacional imponha uma política diplomática de isolamento total de Israel como um Estado de apartheid como foi feito no caso da África do Sul, o que significa a imposição de sanções e embargos obrigatórios e abrangentes, o completo encerramento de todas as ligações (diplomáticas, econômicas, sociais, assistenciais, de cooperação e treinamento militar) entre todos os Estados e Israel. Apela ao governo da África do Sul que 53 lidere esta política de isolamento, tendo em mente seu próprio sucesso histórico em opor-se à política debilitante do ‘engajamento construtivo’ no caso de seu próprio regime de apartheid”; ● A seção 426 clama pela condenação dos países que apoiam o “Estado de apartheid israelense” e “sua perpetração de crimes racistas contra a humanidade como limpeza étnica e atos de genocídio”. 10 Esta é a Estratégia de Durban, que poderia com ainda mais exatidão ser chama de “A Estratégia da OIC”. Tudo o que os criadores do movimento BDS precisaram fazer foi mudar algumas palavrinhas dessa “Declaração”— para que não fossem acusados de plagiar o produto do Fórum das ONGs de Durban—e distribuí-la como o apelo da “sociedade civil palestina”, um grupo que jamais é definido. 10 http://i-p-o.org/racism-ngo-decl.htm 55 C A P I T U L O 2 R E F U T A N D O A S M E N T I R A S Na guerra ideológica, cujo objetivo é fazer com que as pessoas mudem suas ideias, o movimento BDS teve uma vantagem de quase dez anos sobre Israel, que com grande atrasado começou a se defender, em 2013. Como disse Mark Twin,a despeito dos fatos “uma mentira pode viajar metade do mundo enquanto a verdade ainda está calçando os sapatos”. Não é que os israelenses tenham sido complacentes, mas eles fazem uma suposição que lhes é bastante prejudicial: a de que tendo testemunhado a criação do país, os justos do mundo se lembrarão desse evento e da intransigência e violência árabe que se seguiu a ele e colocarão 56 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N os acontecimentos presentes em contexto. É uma hipótese ingênua. Por causa dela, infelizmente, nem Israel nem os EUA empreenderam o esforço de contestar as mentiras que estão no centro do movimento BDS. Não é necessário repetir a prova de Moynihan no grande discurso de 1975: a refutação da acusação de que o sionismo é uma ideologia racista é conclusiva. Sionismo não é racismo porque, se fosse, não poderia ser sionismo. Enquanto os judeus aceitarem como membros de sua religião qualquer pessoa de qualquer raça, credo, religião ou etnia, como fazem há quase seis mil anos, a acusação de racismo continuará a ser absurda. Mas e as outras mentiras? o embustre do APARTHEID Rotineiramente, os apoiadores do BDS acusam Israel de ser um Estado de apartheid, o que exemplifica mais uma vez, como veremos, a operação de virar o sentido de uma palavra de ponta-cabeça. “Apartheid”, que significa “separação” na língua africâner, da África do Sul, foi a política estatutária do país de 1948 a 1989. Sob o apartheid, a segregação racial era obrigatória, 57 o casamento inter-racial era proibido, a educação dos negros era controlada e 70% do território eram reservados para uso dos brancos, que tinham também privilégio econômico (na elegibilidade a na contratação para empregos). Os líderes da oposição foram presos e a oposição ao apartheid foi proibida. Compare-se esse cenário com a situação de Israel. Cerca de 21% dos cidadãos do país, mais ou menos 1,7 milhão de pessoas, são árabes1. Trata-se das pessoas que ficaram em Israel depois da Guerra da Independência de 1948 e de seus descendentes. Na época da partilha do território de acordo com a resolução da ONU, elas escolheram, como era seu direito, cidadania israelense em vez de cidadania do Estado árabe (isto é, palestino). Os árabes israelenses têm direito de voto em Israel (inclusive as mulheres árabes), exatamente como determinou a resolução de partilha da ONU, ao passo que o direito de votar era negado aos negros sul-africanos sob o apartheid (e é negado às mulheres em vários países árabes). Os árabes israelenses podem candidatar-se a cargos eletivos, outro direito negado aos negros sul-africanos. O parlamento israelense, chamado de Knesset, 1 http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Socie- ty_&_Culture/arabstat.html 58 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N tem 120 membros; houve árabes entre eles desde a primeira eleição, em 1949, e há, no momento, 12 árabes eleitos.2 Os cidadãos árabes de Israel não podem servir ao exército, devido ao temor de divisão de lealdade. A única desvantagem econômica dos árabes é, portanto, não poder receber os benefícios dos militares israelenses, mas isso os deixa, por outro lado, mais disponíveis para o trabalho, pois suas carreiras não são interrompidas pelo serviço militar obrigatório. Uma das práticas do apartheid era controlar e, pois, limitar a educação dos negros; não há nada semelhante em Israel e há vários estudantes árabes nas principais universidades do país. Por outro lado, as escolas no território controlado pelos palestinos são conhecidos celeiros de propaganda antissemita e são usadas para propósitos ainda mais nefastos, como o ataque de foguete lançado de uma escolar palestina na Faixa de Gaza em novembro de 2007.3 Em um artigo para o New York Times de 31 de outubro de 2011, o juiz sul-africano Richard Goldstone, que liderou uma Comissão 2 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Poli- tics/knesset.html 3 http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsI- D=24593&Cr=palestin&Cr1= 59 de Direitos Humanos da ONU para investigar as alegações, discutidas abaixo, de que Israel cometeu crimes de guerra no conflito de Gaza de 2008-2009, disse o seguinte a respeito da alegação de que o país é um Estado de apartheid: Em Israel não há apartheid. Nada ali chega nem perto da definição de apartheid do Estatuto de Roma de 1998: “Atos desumanos… praticados no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou outros grupos raciais e com a intenção de manter este regime”. Os árabes israelenses—cerca de 20% da população de Israel— votam, constituem partidos políticos, são representados no Knesset e ocupam posições de destaque no país, inclusive na Corte Suprema. Os pacientes árabes jazem ao lado dos judeus nos hospitais israelenses e recebem tratamento idêntico ao deles.4 Dizer que há apartheid em Israel não é apenas mentira; é mentira grosseira. Os fatos são tão claros que qualquer exame deles imediatamente revela a falsidade da afirmação. 4 http://www.nytimes.com/2011/11/01/opinion/israel- -and-the-apartheid-slander.html 60 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N crimes de GUERRA e GENOCÍDIO A campanha israelense no Líbano, em 2006, foi precipitada pelos terroristas libaneses do Hezbollah, que atacaram Israel e sequestraram dois soldados do país, em conluio com os terroristas do Hamas, que, a partir daquele ano, passaram a governar a Faixa de Gaza.5 Esta ação é apenas uma das fontes das acusações de “crimes de guerra”, repetidas despudoradamente, com frequência, a respeito dos ataques militares de Israel aos terroristas da Faixa de Gaza. Barghouti aprofundou-a, afirmando que apenas a destruição da economia de Israel interromperá o genocídio dos palestinos. Em conjunto, são imputações tão vis que para repeti-las é preciso ser voluntariamente ignorante dos fatos. No pesado combate no Líbano em 2006, ficou famosa a prática de “falsografia” do Hezbollah, que consiste em encenar e “photoshopar” fotos de supostos crimes de guerra.6 Funciona assim: membros do grupo e seus simpatizantes na mídia inventaram história de crimes de guerra 5 http://www.nytimes.com/2006/07/14/opi- nion/14young.html 6 http://littlegreenfootballs.com/ 61 que foram reproduzidas em todo o mundo, ilustradas, por exemplo, com fotos que mostravam Israel atacando ambulâncias propositadamente.7 Para produzir “provas” dos crimes de guerra, os terroristas desenterravam e moviam cadáveres, inclusive de mulheres e crianças, para locais que haviam sido atacados por Israel.8 As fotos, alteradas para fazer os ataques parecerem mais severos do que eram, foram reproduzidas por algumas agências de notícias.9 A Reuters, por exemplo, recolheu uma delas depois de descobrir que havia sido alterada.10 A “falsografia” palestina foi apenas uma parte da campanha de desinformação que acompanhou a ação no Líbano. Por exemplo, de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, o exército israelense conduziu a “Operação Chumbo Fundido”, de ataque às forças terroristas do Hamas na Faixa de Gaza. Ela começou com a execução de seu objetivo inicial, a morte do comandante militar do Hamas, Ahmaed al-Jaabari.11 7 http://www.zombietime.com/fraud/ambulance/ 8 http://littlegreenfootballs.com/article/22071_Photo- grapher_Alleges_Unearthing_of_Bodies 9 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/ article/2006/01/26/AR2006012600372.html Ver também http://www.ynetnews.com/arti- cles/0,7340,L-3286966,00.html 10 http://www.ynetnews.com/arti- cles/0,7340,L-3286966,00.html 11 http://www.foreignpolicy.com/articles/2012/11/14/ 62 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N O Hamas é um grupo que, desde 1997, é classificado como grupo terrorista estrangeiro pelo Departamentode Estado americano. No entanto, em 2006, os palestinos o elegeram, por uma ampla maioria, para governar a Faixa de Gaza.12 O Hamas dedica-se à destruição de Israel. De acordo com seu estatuto, “o propósito do HAMAS é criar um Estado Islâmico Palestino nas terras de Israel por meio da eliminação do Estado de Israel através da jihad violenta”.13 Tudo, portanto, que venha do governo do Hamas, dos membros do Hamas, de seus simpatizantes (isto é, a maioria dos palestinos, que escolheram o Hamas para governar Gaza)—o que significa virtualmente tudo que venha da Faixa de Gaza—tem de ser considerado material de propaganda e de informação falsa, ao menos e até que haja prova em contrário. Não se pode confiar em absolutamente nada que o grupo diga a respeito de Israel. No entanto, havia tantas alegações de crimes de guerra na Operação Chumbo Fundido que uma missão especial do Conselho de Direitos operation_cast_lead_20 12 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/ article/2006/01/26/AR2006012600372.html 13 Andrew McCarthy, “The Grand Jihad,” Encounter Books (2010), p. 136. 63 Humanos da ONU, sob chefia do juiz sul- africano Richard Goldstone, foi designada para investigá-las. Como o Conselho tem uma longa história de críticas a Israel, o país se recusou a cooperar. No relatório inicial, a comissão Goldstone acusou Israel de atacar alvos civis intencionalmente e afirmou, corretamente, que os terroristas do Hamas também atacavam alvos civis israelenses.14 Israel se sentiu ultrajado e deu início a investigações próprias. Em consequência dessas investigações e de outras subsequentes às dele, o juiz Gladstone retificou uma parte significativa do relatório original. Em um artigo publicado no Washington Post do dia 1 de abril de 2011, ele admitiu que Israel não havia atacado civis intencionalmente como diretriz política (embora ele não eximisse soldados individuais). O juiz também reafirmou que o Hamas havia, clara e deliberadamente, cometido crimes de guerra. E acrescentou: “Não é preciso nem dizer que os crimes de guerra que afirmamos que o Hamas cometeu foram intencionais—seus foguetes eram lançados indiscriminada e propositadamente sobre alvos civis”.15 Também significativo,, 14 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/ article/2009/09/15/AR2009091503499.html 15 http://www.washingtonpost.com/opinions/recon 64 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N Goldstone afirmou, era que embora Israel tivesse conduzido numerosas investigações sobre as alegações de crimes de guerra, o Hamas não conduzira nenhuma. A conclusão inescapável é que a prática de crimes de guerra é uma diretriz do Hamas e sua liderança estava satisfeita com isso. Em novembro de 2012, durante o combate entre as forças israelenses e terroristas palestinos na Faixa de Gaza, cerca de 1.500 foguetes foram jogados sobre Israel, apontados para locais de concentração de população civil.16 Até mesmo a Human Rights Watch, que demonstrara sua ideologia anti-israelense na Conferência de Durban, em 2001, condenou os ataques como crimes de guerra. Houve baixas civis no Líbano, em Gaza e em outros lugares onde Israel atacou terroristas palestinos? É claro que houve. São tragédias lamentáveis, como foi a das ambulâncias atingidas por um ataque aéreo israelense em 2006. Não se trata, porém, de crimes de sidering-the-goldstone-report-on-israel-and-warcri- mes/2011/04/01/AFg111JC_story.html 16 http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defen- se/human-rights-watch-palestinians-committed-war-cri- mes-during-gazawar.premium-1.489649 65 guerra. Sobre genocídio, é necessário dizer mais que o óbvio, isto é, que genocídio é um anátema para os membros de uma religião que sofreu o Holocausto. Quem quer que visite o Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, vê como são introjetadas as lições do Holocausto nas dezenas de crianças judias que o visitam diariamente, de um modo que torna impensável que os judeus cometam brutalidades similares. E é exatamente por isso que Israel é acusado desse crime pelos proponentes do BDS. Por exemplo, o livro de Barghouti, citando alegações de um artigo da Al Dameer Association for Human Rights [“Associação Al Dameer para os Direitos Humanos”], de Gaza, alega que Israel usou de propósito, na incursão a Gaza, armas tóxicas que causaram um grande aumento na incidência de câncer, defeitos congênitos e abortos espontâneos. Ele afirma: Os crimes acima, a maioria ainda em curso, não ocorrem no vácuo; eles são produto de uma cultura de impunidade, racismo e tendências genocidas que se apossou da sociedade israelense, definindo seu discurso corrente e a abordagem considerada “normal” do “problema palestino”.17 Segundo Barghouti, os crimes de guerra de 17 Supra, Barghouti, p. 40 66 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N Israel consistem em ordenar que soldados disparem indiscriminadamente sobre civis em prédios e bairros residenciais.18 Como mostrado abaixo, em sua abjuração de muitas das alegações do relatório da comissão que presidiu, o juiz Goldstone conclui que Israel não tinha nenhuma política de matar civis intencionalmente e que quando casos de tais crimes ocorriam, eles eram investigados pelas autoridades israelenses responsáveis.19 A Convenção Internacional para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, de 1948, define-o como qualquer um dos seguintes atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso: a) matar os membros do grupo; b) causar sérios danos mentais ou corporais a membros do grupo; c) infligir deliberadamente sobre o grupo condições de vida calculadas para causar sua destruição física no todo ou em parte; d) impor medidas com o objetivo de evitar nascimentos dentro do grupo; ou e) transferir, à força, crianças do grupo para outro grupo.20 18 http://littlegreenfootballs.com/article/22071_ Photographer_Alleges_Unearthing_of_Bodies 19 http://www.washingtonpost.com/opinions/re- considering-the-goldstone-report-on-israel-and-war-cri- mes/2011/04/01/AFg111 20 http://www.icrc.org/applic/ihl/ihl.nsf/ART/ 357-02?OpenDocument 67 Nenhuma das acusações de genocídio contra Israel cita nenhum traço de prova.21 As políticas e ações de Israel jamais tiveram a intenção de destruir os palestinos como grupo, nem no todo nem em parte. Dizer o contrário é, talvez, a mais monstruosa das mentiras dos líderes do BDS. o BLOQUEIO de GAZA e os MUROS Em maio de 2010, forças israelenses interceptaram o navio turco Mavi Marmara em águas internacionais. Com ampla publicidade, a embarcação planejava uma forma de romper o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza, com o objetivo declarado de fornecer suprimentos humanitários.22 Quando os israelenses subiram a bordo, foram, segundo relatos, atacados por passageiros e membros da tripulação. Como resultado, nove pessoas foram mortas. O governo turco protestou e rapidamente recriminações contra Israel rodaram o mundo. 21 http://www.mfa.gov.il/MFA/MFA-Archive/2000/Pa- ges/Terrorism%20deaths%20in%20Israel%20-%201920- 1999.aspx 22 http://www.cnn.com/2010/WORLD/meast/05/31/ gaza.protest/ 68 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N O secretário-general das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, apontou um painel de quarto membros sob direção do britânico Sir Jeffrey Palmer para investigar o ocorrido. Ele chegou a três conclusões fundamentais. Primeira: quando os israelenses subiram a bordo da embarcação, foram recebidos com violência organizada e tiveram de se defender. Segunda: Israel enfrenta “uma ameaça real à sua segurança por grupos militares de Gaza”. Terceira: em resposta a essa ameaça, “o bloqueio naval foi imposto como uma medida de segurança legítima para evitar que armas entrassem em Gaza por via marítima, e sua implementaçãose fez de acordo com os requisitos das leis internacionais”.23 Em suma, o bloqueio marítimo de Gaza é legal de acordo com as leis internacionais. Assim como a cerca que circunda a Faixa de Gaza. E assim como a cerca em volta da Cisjordânia. Do início da Segunda Intifada, em setembro de 2000, até a construção da primeira seção contínua do muro de Gaza, em julho de 2003, cerca de 73 ataques terroristas emanaram de Gaza, matando cerca de 293 israelenses e ferindo outros 1.950.24 Entre agosto de 2003 23 http://www.nytimes.com/2011/09/02/world/mid- dleeast/02flotilla.html?pagewanted=all&_r=0 24 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Pea 69 e junho de 2004, apenas três ataques tiveram sucesso e todos eles ocorreram na primeira metade de 2003.25 Quando Jed Babbin visitou Israel no final de 2003, funcionários do governo lhe disseram que o número de ataques vindos de Gaza caíra para zero. Em 2004, no entanto, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) julgou que era ilegal, sob as leis internacionais, a construção da cerca ao redor da Cisjordânia por parte de Israel.26 O TIJ argumentou que a ação era uma anexação de facto de território palestino e portanto não permitida pela Carta das Nações Unidas. Que haja várias coisas erradas no Tribunal, que é um órgão da ONU, não espanta. Em qualquer época que se examine, vários dos “juízes” que o constituem são de países cujos governos são exatamente aqueles que formam o bloco anti-israelense desde a década de 70. No momento de escrita deste livro, havia entre os quinze juízes ativos pessoas do Marrocos, da Somália e de Uganda, países que não são exatamente exemplares na proteção aos direitos humanos de seus cidadãos nem no respeito às leis por parte dos seus poderes judiciários.27 ce/fence.html 25 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Peace/ fence.html 26 http://www.icj-cij.org/docket/files/131/1671.pdf 27 http://www.icj-cij.org/court/index. 70 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N O TIJ simplesmente ignorou a cláusula da Carta ONU que anula todas as outras. O artigo 51 do capítulo VII afirma: “Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais”.28 O que isso significa é que o direito de Israel à legítima defesa, na ausência continuada de ação do Conselho de Segurança para defendê- lo contra as ameaças que emanam do outro lado das barreiras, torna ambas as cercas, tanto as da Faixa de Gaza quanto as da Cisjordânia, legais sob as leis internacionais. Enquanto os palestinos usarem o terrorismo procedente de Gaza e da Cisjordânia como arma, enquanto se recusarem a reconhecer Israel como Estado judeu, esses muros e cercas são necessários para a segurança dos cidadãos israelenses. A despeito disso, em decorrência da decisão do tribunal, o governo israelense mudou a rota da barreira para eliminar a maioria das intrusões na Cisjordânia a que ele objetou.29 php?p1=1&p2=2&p3=1 28 http://www.un.org/en/documents/charter/ chapter7.shtml [http://www.unicef.org/brazil/pt/resour- ces_10134.htm] 29 http://www.tufi.org.uk/israeli_palestinian_conf 71 Há quem objete que o artigo 51 só pode ser invocado em referência a atos de nações. Isso é uma interpretação errônea da linguagem clara do artigo, que não limita sua aplicabilidade a ataques de uma nação contra a outra. Além disso, os palestinos insistem que são uma nação e a ONU lhes conferiu status pseudonacional como não-membro. Eles não podem ter as duas coisas. É revelador que o TIJ tenha condenado apenas as barreiras israelenses, como se fossem diferentes de todas as outras. O professor Michael Curtis explica que cercas e muros são lugar-comum no mundo todo, usadas para seprar povos em guerra desde o tempo da construção da Grande Muralha da China, passando pela Muralha de Adriano na Roma Antiga, até a Zona Desmilitarizada entre as duas Coreias no presente.30 De acordo com Curtis: Barreiras são muitos comuns. Elas existem em todo o mundo, em todos os continentes, por uma variedades de razões. Algumas, como as da União Soviética e dos países comunistas, especialmente o Muro de Berlim (1961 a 1989), foram criadas para impedir que os lict/security-barrier-briefing.html 30 http://www.americanthinker.com/2011/08/a_fence_for_ defense.html 72 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N cidadãos deixassem o território. Muitas outras existem para impedir que as pessoas entrem no território—seja um país ou uma área particular dele. Ainda outras se estabeleceram para separar as partes envolvidas em um conflito ou para evitar o conflito, como as de Belfast em 1969 e a de Londonderry; de Chipre em 1974; do Kuwait-Iraque em 1991; da Caxemira em 2004; e das duas Coreias em 1953. Outras mais foram erguidas para evitar atividades indesejáveis, como a da Índia para evitar o contrabando de drogas e o terrorismo da Birmânia, ou a da fronteira entre o Cazaquistão e o Uzbequistão. As barreiras contra o terrorismo também são comuns. Delas, as de maior importância são as barreiras construídas pela Rússia contra a Chechênia, pelo Paquistão contra o Afeganistão, pela Malásia contra a Tailândia, pela Índia contra a Birmânia e pelo Egito contra Gaza, em 1979. A condenação pelo TIJ da barreira ao redor da Cisjordânia sem nenhuma palavra sobre outros muros similares desfere o golpe final à credibilidade do tribunal. o libelo de SANGUE 2.0 de BARGHOUTI O incitamento de ódio aos judeus por Barghouti ecoa Os protocolos dos sábios de Sião, o libelo de sangue antissemita da Rússia czarista. Ele afirma: 73 É crucial notar que a interpretação fundamentalista da halachá, ou conjunto das leis judaicas, justifica abertamente massacres, até mesmo genocídio (como no assassinato em massa de civis “não-judeus”, inclusive crianças), no que é chamado de “guerra de vingança” ou “guerra necessária”. Uma guerra de necessidade de acordo com os ensinamentos fundamentalistas seria declarada contra a população “inimiga” inteira, sem poupar ninguém. O único limite é a prática de atos que poderiam, em retribuição, trazer mais prejuízos à comunidade judaica. Assim, se um massacre de, digamos, dez mil gentios causasse a Israel prejuízos que sobrepujassem os “benefícios”, ele deveria ser evitado. Essa é a única consideração permitida em ensinamentos religiosos com esse nível de fanatismo, ensinamentos que se tornaram dominantes entre a comunidade religiosa sionista de Israel e outros lugares e penetraram no pensamento da população israelense de várias maneiras.31 A única referência de Barghouti para essa calúnia é um artigo que ele mesmo escreveu. O rabino Binyamin Sendler, eminente estudioso talmúdico e especialista nas leis religiosas judaicas, investigou as afirmações feitas no livro de Barghouti e concluiu que são inteiramente falsas: 31 Supra, Barghouti, pp. 42–43. 74 A NO VA G UE RR A CO NT RA I SR AE L JE D BA BB IN & H ER BE RT L ON DO N A afirmação de que as leis religiosas do judaísmo permitem ou até mesmo encorajam o assassinato em massa de não-judeus (inclusive crianças) é completamente falsa. O Talmud divide as nações gentias entre idólatras (os “akum”) e gentios religiosos (os “ger toshav”). Os adoradores de ídolos são vistos com grandes suspeitas, no entanto matar um akum é obviamente proibido. (Ver o Tratado Avodah Zarah 13b, Maimônides; leis do assassinato 4:11, 2:11.) Já os pios Ger Toshav devem ser tratados do mesmo modo que os judeus. Há uma exceção à halachá, que diz respeito aos amalequitas, um povo que D-us categorizou como a encarnação do mal e contra o qual a guerra ilimitada