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A hora de jogo diagnostica Ana Maria Efron, Esther Fainberg, Yolanda Kleiner, Ana Maria Sigal e Pola Woscoboinik Psicodiagnóstico Prof.ª Ms. Adriana de Oliveira Barbosa Introdução A hora do jogo diagnóstica constitui um recurso ou instrumento técnico que o psicólogo utiliza dentro do processo psicodiagnóstico. A atividade lúdica é uma forma de expressão própria. Trata-se de instrumentalizar as possibilidades comunicacionais para conceituar a realidade da criança. Ao oferecer um espaço de brincar em um enquadramento cria-se um ambiente estruturado em função das variáveis internas de sua personalidade que expressa parte do seu repertório reatualizando no aqui e agora um conjunto de fantasias e relações de objeto que irão se sobrepor ao campo do estímulo. Diferença entre a hora do jogo diagnóstica e a hora do jogo terapêutica 1. hora do jogo diagnóstica: engloba um processo que tem começo, desenvolvimemento e fim em si mesma; 2. hora do jogo terapêutica: é um elo a mais em um amplo continuum no qual novos aspectos e modificações estruturais vão surgindo pela intervenção do terapeuta. Na atividade lúdica a mediação das fantasias é feita pelos brinquedos; Há uma comunicação do tipo espacial, no qual são incluídos mais elementos do processo primário através de princípios como a condensação, a atemporalidade e deslocamento atuados no próprio brincar. A Hora do jogo diagnóstica é precedida de entrevista com os pais em que se elabora as instruções que serão dadas às crianças. No primeiro contato com as crianças essas instruções são reformuladas de forma clara e precisa. A hora diagnóstica propicia um vínculo transferencial breve, cujo objetivo é o conhecimento e a compreensão da criança. Sala de jogo e materiais A sala do jogo será um quarto não muito pequeno com mobiliário escasso para dar liberdade de movimento a criança, com paredes e pisos, preferencialmente, laváveis. Deve dar possibilidade do uso de água pela criança; Os elementos devem estar expostos na mesa de forma que permita que a criança faça sua própria ordenação de acordo com seus conteúdos internos sem, no entanto, parecer um ambiente caótico; Deve-se ter uma caixa ou cesto que funcionará como depositário da produção que o entrevistado queira deixar ao final da hora. Com relação aos brinquedos deve-se considerar: Erikson: seleciona os brinquedos em função das respostas específicas que provocam; Pela funcionalidade do brinquedo: diferentes tamanhos, texturas e formas; Ex. para facilitar o jogo agressivo: revolveres, espadas de borracha e sacos de areia.para estimular a área comunicativa: telefones, lápis de cor, etc. Escola Kleiniana: não há critério unificado e utiliza-se material não estruturado: madeiras de diversos tamanhos, tintas, barbante, ,lã. Pedaços de pano, tesoura sem ponta, fitas elásticas... Critério intermediário: Oferece brinquedos de tipos diferentes, tanto estruturados quanto não estruturados, possibilitando a expressão sem que a experiência se torne invasora. Material da caixa de brinquedo: Folha de papel, lápis preto, de cor e giz de cera, tesoura sem ponta, massas de modelar coloridas, borracha, cola, apontador, papel glacê, barbante; Dois ou três bonequinhos com articulações e tamanhos diferentes; Família de animais e selvagens e domésticos; Dois ou três carrinhos de tamanhos diferentes e aviõezinhos; Xicarás, pires colherinhas; Cubos de tamanho médio; Trapinhos, giz e bola. Obs. Material de boa qualidade em bom estado e que não coloque em risco a integridade física do psicólogo ou da criança. Instruções que devem ser apresentadas a criança de forma breve e compreensível; : Definição de papéis Limitação do tempo e do espaço Material a ser utilizado Objetivos esperados Esclarece que deve utilizar os materiais que estão sobre a mesa como quiser em um tempo determinado e nesse lugar. Papel do psicólogo Papel passivo, como observador e ativo na medida em que sua atenção flutuante permite-lhe compreender e formular hipóteses; Participar da atividade, caso o entrevistado solicite; Fazer uma sinalização explicitando aspectos dissociados manifestos, sem portanto realizar interpretações que apontam o conteúdo latente. Estabelecendo limites, quando necessário; A função específica consiste em: observar, compreender e cooperar com a criança. Análise dos Indicadores 1. Escolha dos brinquedos 2. modalidades de brincadeiras 3. personificação 4. motricidade 5. criatividade 6. capacidade simbólica 7. tolerância a frustração 8. adequação a realidade 1. Escolha dos brinquedos 1. de observação à distância; 2. dependente 3. evitativa 4. dubitativa 5. de irrupção brusca sobre os objetos 6. de irrupção caótica e impulsiva 7. de aproximação 2. modalidades de brincadeiras É a forma como o ego manifesta sua função simbólica. Dentre as modalidades pose detectar: a) plasticidade: pode se manifestar de diferentes maneiras: expressando a mesma fantasia ou defesa através de mediadores diferentes ou uma riqueza interna por meio de poucos elementos que cumprem diversas funções. b) rigidez: utilizada frente a ansiedades muito primitivas para evitar a confusão e através da impossibilidade de modificar os atributos outorgados ao objeto. c) estereotipia ou perseverança: modalidade mais patológica de funcionamento egóico manifestando uma desconexão com o mundo externo. Típico de crianças psicóticas e com lesões orgânicas. 3. Personificação Capacidade de assumir e atribuir papéis de forma dramática. Ocorre de diferente forma em cada período evolutivo ; Como elemento comum a todos os períodos evolutivos normais, possibilita a elaboração de situações traumáticas, a aprendizagem de papéis sociais, a compreensão do papel do outro e o ajuste de sua conduta em função disso, favorecendo o processo de socialização e de individuação. Possibilita avaliar o equ8ilíbrio existene entre o ego, o superego e o id. 4. Motricidade Permite ver a adequação da motricidade da criança em relação à etapa evolutiva que atravessa; Em cada etapa há pautas previsíveis que respondem ao desenvolvimento neurológico, psicológico e ambientais que devem ser observadas. A observação de elementos motores favorecem a detecção de danos neurológicos que podem ocorrer em conjunto com fatores psicológicos e/ou ambientais. 5. Criatividade Criar é unir ou relacionar elementos dispersos num elemento novo e diferente que exige um ego plástico; Esse processo tem uma finalidade deliberada: descobrir uma organização bem-sucedida, gratificante e enriquecedora, produto de um equilíbrio adequado entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. A criança age sobre os brinquedos para conseguir os fins propostos. A nova configuração tem uma conotação de surpresa ou de descobrimento para a criança e é acompanhada de um sentimento de satisfação. 6. Tolerância a frustração É detectada pela possibiidade de aceitar as instruções com as limitações que elas impõem e pelo desenvolvimento da atividade lúdica considerando a maneira como enfrenta as dificuldades inerentes da atividade proposta. Importante avaliação a nível diagnóstico, mas fundamental no que concerne ao prognóstico. A tolerância a frustração está intimamente relacionada ao princípio do prazer e da realidade. 7. Capacidade simbólica O brincar é uma forma de expressão da capacidade simbólica e a via de acesso a fantasias inconscientes. A criança consegue, pelo brincar a emergência de fantasias através de objetos suficientemente afastados do conflito primitivo e que cumprem o papel de mediadores. Na capacidade simbólica valoriza-se não só a possibilidade de criar símbolos, mas analisamos também a dinâmica de seu significado. M. Klein, ao se referir à capacidade simbólica, diz que o “simbolismo constitui não só o fundamento de toda fantasia e sublimação, mas é sobre ele que se constrói a relação do sujeito com o mundo exterior e a realidade em geral.” Através da capacidade simbólica pode-se avaliar a) a riqueza simbólica b) a capacidade intelectual c) a qualidade do conflito d)a adequação à realidade
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