Buscar

Teoria Geral do Processo - Aula 5 - Jurisdição

Prévia do material em texto

Teoria Geral do Processo
Aula 5: Jurisdição
Jurisdição: Conceito e historia 
Como se sabe, a jurisdição, ou jurisdictio, em latim, traduz-se na “ação de dizer o direito”, ou seja, declarar quem tem o bom direito. 
Atualizando essa definição, podemos dizer, hoje em dia, que jurisdição é a atividade de resolver, adequadamente, os conflitos mediante a observância dos princípios constitucionais. 
Historicamente, a jurisdição era atrelada ao Estado, de modo que só o Poder Judiciário, numa visão tradicional, poderia exerce-la. Hoje, contudo, compreende-se o termo de forma mais ampla, incluindo-se nesse contexto a conciliação, a mediação e arbitragem.
Contudo, ainda hoje, o termo tem forte conexão com o Poder Judiciário, já que a maior parte dos conflitos ainda continua sendo levada diretamente ao conhecimento do magistrado.
Finalidades da jurisdição
A doutrina tradicional indica como finalidades da jurisdição as seguintes: 
1. Pacificação social por meio de critérios justos;
2. Educação da população;
3. Autolimitação do Estado, a fim de preservar direitos individuais;
4. Garantia da participação dos cidadãos nos destinos da sociedade política;
5. Atuação da vontade concreta da lei.
A essa relação devemos acrescentar: 
A. Prestação da tutela necessária ao detentor do direito material;
B. Fixação de teses jurídicas por meio de precedentes, que se tornarão fonte formal do direito;
C. Busca da efetiva pacificação dos conflitos. 
Características da Jurisdição
As principais características da jurisdição são A inercia, a substitutividade e a natureza declaratória.
Inércia: A inércia dos órgãos jurisdicionais está relacionada à sua própria natureza de órgão voltando ao fim do último da pacificação social, porquanto o exercício espontâneo da atividade acabaria fomentando conflitos e divergências onde não existiam. 
Substitutividade: Ademais, o juiz substitui as partes na atividade de dirimir conflito entre elas instaurado, agindo com imparcialidade. 
Natureza declaratória: Por fim, a natureza declaratória significa que, no exercício da função jurisdicional. O Estado declara direitos preexistentes, que serão então reconhecidos por decisão judicial. 
 
Como limite ao exercício da jurisdição, podemos apontar a competência, ou seja, o espaço do qual o magistrado pode exercer seu poder (assim, por exemplo, um juiz cível não pode jugar causas penais ou trabalhistas; um juiz federal não pode jugar questão que diga respeito apenas aos estados e municípios);
Princípios da Jurisdição 
Princípio da investidura: Está ligado à forma de ingresso dos legitimados a exercer o poder. O juiz precisa estar investido na função jurisdicional para exercer a jurisdição, ou seja, ele precisa, no Brasil, ter sido aprovado em um concurso público de provas e títulos, como estabelece o art. 37, II, da CF.
Princípio da territorialidade: O juiz só pode exercer a jurisdição dentro de um limite territorial fixado na lei. A exceção a esse limite está prevista apenas no art. 60 do CPC/2015, segundo o qual a competência do juiz prevento prorroga-se para a parte do imóvel que esteja localizado em Estado, comarca, seção ou subseção judiciária diversos, e no art. 255 do CPC/2015, que prevê que atos de citação, intimação, notificação, penhora e quaisquer atos executivos poderão ser cumpridos pelos oficiais de Justiça em comarcas contíguas, que não aquela da competência do juízo. 
Princípio da improrrogabilidade: Não é possível prorrogar a atribuição prevista para determinada classe de juízes e tribunais de uma jurisdição para outra, ressalvados os casos expressamente previstos na Constituição e na lei.
Princípio da indeclinabilidade: Consiste no fato de que o juiz não pode se furtar a julgar a causa que lhe é apresentada pelas partes. Trata-se da chamada proibição de o juiz proferir o non liquet, ou seja, afirmar a impossibilidade de julgar a causa por inexistir dispositivo legal que regula a matéria. Esse princípio está previsto no art. 140 do CPC/2015.
Princípio da indelegabilidade: Essa vedação se aplica integralmente no caso do poder decisório, pois violaria a garantia do juiz natural. Há, porém, hipóteses em que se autoriza a delegação de outros poderes judiciais, como o poder instrutório, poder diretivo do processo e o poder de execução das decisões. São exemplos os casos previstos no art.102, I, m e no art. 93, XI, ambos da CF.
Princípio da inafastabilidade da apreciação pelo Poder judiciário (Art. 5º, XXXV, da CV): Um dos mais importantes princípios para o presente estudo, que se fundamenta na ideia de que o direito de ação é abstrato e não se vincula à procedência do que é alegado.
Princípio do Juiz natural: Consiste na exigência da imparcialidade e da independência dos magistrados. Essa garantia deve alcançar, inclusive, o âmbito administrativo, tanto em relação aos juízes dos tribunais administrativos quanto às autoridades responsáveis pela decisão de requerimentos nas repartições administrativas.
Ademais, em um desdobramento logico do princípio do juiz Natural e do princípio da improrrogabilidade, é vedado o exercício da jurisdição a quem dela não esteja previamente investido, segundo a lei e a Constituição.
Critérios de classificação da jurisdição 
Finalmente, falemos um pouco sobre os critérios de classificação da jurisdição. Esses critérios servem para facilitar o estudo a partir da sistematização de algumas questões.
Quanto à pretensão, a jurisdição pode ser classificada como civil ou penal.
Em relação ao critério hierárquico em que ela é exercida, será superior e inferior, que, em regra, corresponderia aos tribunais e juízes, refletindo o modo de estruturação da Justiça do país. A essa classificação relaciona-se o princípio do duplo grau de jurisdição, segundo o qual toda decisão deve estar sujeita a, pelo menos, um recurso.
A jurisdição, academicamente, poderia também ser classificada quanto à submissão ao direito positivo, de modo a dividir-se em direito e de equidade. 
Observação: No Brasil, é adotada a jurisdição de direito, cumprindo ao magistrado decidir de acordo com o ordenamento jurídico, cabendo algumas exceções somente quando houver expressa autorização legal.
O julgamento por equidade pauta-se pelo uso de critérios não contidos em qualquer norma jurídica, sendo indispensável, contudo, o respeito à impessoalidade. O CPC/2015, em seu art. 140, parágrafo único, é expresso em dizer que “O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.”
Ainda, quanto ao órgão que exerce a jurisdição: Comum ou especial. A jurisdição comum pode ser federal ou estadual (ou do Distrito Federal), enquanto a especial pode ser do trabalho, militar ou eleitoral. Nesse critério, a base é se o órgão aplica o direito material comum (civil, comercial, administrativo, penal) ou especial (trabalhista, penal militar ou eleitoral).
Quanto à existência ou não da lide ou quanto à forma: Contenciosa ou voluntária. A distinção entre a jurisdição contenciosa e a voluntária, embora sobreviva, perdeu muito de sua importância, especialmente em sistemas processuais como o nosso, que adotam procedimentos praticamente idênticos em ambas as modalidades de jurisdição.
 
Jurisdição voluntaria 
A chamada jurisdição voluntária é aquela em que o juiz se limita à gestão pública dos interesses privados. Diante da ausência de lide e partes, o que se tem é tão somente um negócio jurídico-processual envolvendo o juiz e os interessados.
Nesse sentido, tem por caráter predominante a atividade negocial, uma vez que, diferentemente da jurisdição contenciosa, não substitui a vontade das partes; aqui, o juiz atua apenas para dar eficácia ao negócio almejado pela parte interessada, tendo, portanto, natureza constitutiva.
Atenção!!: A jurisdição contenciosa é exercida em face de um litígio, quando há controvérsia entre as partes. Já a voluntária é exercida quando o Estado-juiz se limita a homologar a vontade dos interessados, não havendo interesses em conflito.
Importante: A doutrina nacional clássica afirmava que a jurisdição voluntária não constituiriatípica função jurisdicional, nem ao menos seria voluntária, pois sua verificação decorreria de exigência legal, com o intuito de conferir validade a determinados negócios jurídicos escolhidos pelo legislador.
Hoje a controvérsia está superada na medida em que a jurisdição voluntária, apesar de não estar baseada na existência de um conflito, tem sua relevância pela necessidade de homologação judicial daquele acordo, quer seja em razão da existência de um direito indisponível, quer seja pelo interesse de um menor um incapaz.
São exemplos de jurisdição voluntaria: Nomeação de tutores e curadores, homologação de separação judicial, emancipação e alienação judicial dos bens de menor, autenticação de livros comerciais, aprovação dos estatutos das fundações, retificação dos atos do registro civil, além de várias outras atividades criadas, recentemente, pelo legislador brasileiro.
Desjudicialização
Desjudicialização é o fenômeno pelo qual o próprio legislador, expressamente, autoriza que determinadas questões sejam retiradas da via judicial, a fim de que sejam resolvidas administrativamente, normalmente como o apoio na estrutura cartorária ofertada pelas serventias extrajudiciais (cartórios de títulos e documentos, por exemplo)
O primeiro grande marco da desjudicialização no Brasil se deu com o divórcio e o inventário extrajudicial, introduzidos pela Lei n. 11.441/2007. Com isso, foi permitido “aos maiores, capazes, sem filhos menores, com bens ou não, que se utilizassem dessa via de forma facultativa e célere para regularizar a situação de término da sociedade conjugal ou para inventariar e repartir os bens deixados pelo de cujus”.
O art. 1.071 do CPC/2015 autoriza a desjudicialização do procedimento de usucapião. A postulação pode ser dirigida diretamente ao cartório do registro de imóvel, incorporando-se o rito para a usucapião na Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/1973, art. 216-A).
Com o art. 1.071, além de outros dispositivos, o CPC/2015 consolida o movimento de desjudicialização. Outras passagens do Código que tratam do tema são: 
Art. 517 – Divisão e demarcação de terras;
Art. 703, § 2º - Homologação de penhor legal; 
Art. 733 – Divorcio, separação e extinção de união estável pela via consensual;
Art. 610, § 1º - Inventario e partilha;
Art. 384 – Ata notarial. 
Cooperação internacional 
A cooperação internacional também é uma ferramenta que ocupa posição de destaque no CPC, na medida em que vivemos em um mundo cada vez mais globalizado e conectado.
“No brasil, a cooperação internacional tem previsão na própria Constituição Federal de 1988, que estabelece a competência do Superior Tribunal de Justiça para processar e julgar a homologação de sentenças estrangeiras, e para a concessão de exequatur às cartas rogatórias (Art. 105, I da Constituição Federal de 1988). [...]
O novo Código de Processo Civil imcorporou na legislação infraconstitucional a regulamentação que já era prevista no regimento do Superior Tribunal de Justiça para a homologação da sentença estrangeira e para as cartas rogatórias, e trazendo de forma expressa a previsão do auxílio direto em matéria jurisdicional. ”
As modalidades de cooperação tratadas no CPC/2015 são: 
Auxilio direto e Carta rogatória.

Continue navegando