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i 1 Herman Hertzberge~ ' LIÇÕES DEARQUITETURA Martins Fontes Este livro reflete o material discutido nas palestras de Hertzberger sobre arquitetura no Universidade Técnico de Delft o partir de 1973 e contém versões elaborados dos notas de palestras anteriormente publicados como "Hei openbore riik" (Domínio público), 1982, "Ruim/e moken, ruim/e laten" /Criando espaço, deixando espaço}, 1984, e "Uitnodigende vorm" (Formo convidativo), 1988. Esta obra/o• publi.cada originalmente em mglis com o rfrulo l.ESSONS FOR STUDENTS IN ARCHfTECTURE por Uügeverij 010 Publishers, Amsterdam, em 1991. Copyright C /991, Uitge~·erlj0J0 Pubhshers. Copynghl C /996, livraria Martins Fontes Editora Lida., São Pauto, para a presente ed1çdo. 1• edição /996 'P- ~diçáo /999 21 tiragem 2006 Revisão da traduçio Lu(s Carlos Borges Revi.sões gráficas Sil\lana Cobucc, Uue A1:naldo Alves de O/i\:e,ro Dinarre Zorzanelli do Sif\.-a Produçio gr.ifica Geraldo Alves Paginação Studio 3 Dese,woh·imento Editorial Dados Internacionais de Catalopção na Publiaição (CIP) (Cintara 8.-atjJw-a do livro. SP, Brasil) Hcmbcrger. Herman Lições de arquilctura / Hcnnan Herubergcr ; !tradução Carlos Eduardo Lima MachadoJ.-21 ccl. -São Paulo: Manins Fontes, 1m. Título origmal: Lcssons for s1udcn1s m archi1ec1ure. B1b!Jografia. ISBN 85-336-1034-3 1. Arquitetura 2. Design arquitetônico 1. Título. 99-1477 fndlccs para catálogo slstt:mállco: 1. Arqui1e1ura 720 2. Design arquitetónico 720 CDD-720 Todos os direitos desta edição para o Brasil reservados à Livraria A-fartins FonJes Editora Uda. Rua Conselheiro Ramalho, 330 01325.()()() São Paulo SP Brasil Te/. (li) 3241.3677 Fax (li) 310/ ./042 e-mail: info@marti11sfon1es.com.br http://www.mar1;nsJon1es.com.br so u q m P'l di \. PREFÁCIO 'les choses ne sont pas difficiles à faire, ce qui est difficile, c'est de nous mettre en état de les laire." [Brancusi) É inevitável que a obra que construímos como arquitetos sirva de ponto de partida para o nosso ensino, e obviamente o melhor caminho para explicar o que se tem a dizer é fazê-lo com base na experiêncio prática: este é, na verdade, o fio condutor deste livro. Em vez de apresentar separadamente cada obra individual e explicar em seguida todos os seus aspectos característicos, os diversos · componentes textuais foram organizados de tal modo que, como um todo, oferecem algo semelhante a uma teoria; é a maneira como os elementos são organizados que transformo a prática em teoria. Quando discutimos nosso próprio trabalho, lemos de nos perguntar o que adquirimos de quem. Pois tudo o que descobrimos vem de algum lugar. A fonte não foi nossa próprio mente, mas a cultura a que pertencemos. E é por isso que a obra dos outros está presente aqui de maneira tão potente à guisa de contexto. Serio possível dizer que este livro contém lições, lições dadas por Bramante, Cerdà, Chareou, Le Corbusier, Duiker & Biivoet, Van Eyck, Gaudí & Juiol, Horta, Labrouste, Pai/adio, Peruzzi, Rietveld, Van der Vlugt & Brinkman, e por todos os outros que me emprestaram seus olhos para que eu pudesse ver e selecionar exatamente o que eu precisava para levar adiante o meu trabalho. Os arquitetos (e não apenas eles) têm o hábito de ocultar suas fontes de inspiração e até mesmo de tentar sublimá-las - como se isto fosse possível. Mas, ao fazê-lo, o processo de proietar se torna nebuloso, ao posso que, ao revelarmos o que nos moveu e estimulou em primeiro lugar, podemos nos explicar a nós mesmos e motivar nossas decisões. Os exemplos e influências que abundam neste livro constituem o contexto cultural dentro do qual um arquiteto trabalha e oferecem uma idéia do alcance dos conceitos e imagens mentais que devem servir como instrumentos (será que o output de idéias de uma pessoa pode ser maior que o input?). Tudo o que é absorvido e registrado por nossa mente soma-se à coleção de idéias armazenadas na memória: uma espécie de biblioteca que podemos consultar toda vez que surge um problema. Assim, essencialmente, quanto mais tivermos visto, experimentado e absorvido, mais pontos de referência leremos para nos a;udar a decidir que direção tomar: nosso quadro de referência se expande. A capacidade para descobrir uma solução fundamentalmente diferente para um problema, i.e., para criar ºum mecanismoº diferente, depende da riqueza de nossa experiência, assim como o potencial expressivo de linguagem de uma pessoa não pode transcender o que é exprimível em seu vocabulário. É impossível dar receitas de como proietar, como todo o mundo sabe. Não tentei fazer isto, e a questão de saber se, de algum modo, é possível aprender a fazer um pro;eto não é tratada aqui. O ob;etivo de minhas ºliçõesº sempre foi estimular os estudantes, despertar neles uma mentalidade arquitetônica que pudesse capacitá-los a fazer seu próprio trabalho; meu obietivo neste livro continua o mesmo. Herman Hertzberger 1 PÚBLICO E PRIVADO Os conceitos de "público" e "privado" podem ser interpretados como a tradução em termos espaciais de "coletivo" e "individual". Num sentido mais absoluto, podemos dizer: pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la. Esta oposição extrema entre o público e o privado - como a oposição entre o coletivo e o individual - resultou num clichê, e é tão sem matizes e falsa como a suposta oposição entre o geral e o específico, o objetivo e o subjetivo. Tais oposições são sintomas da desintegração das relações humanas básicas. Todo mundo quer ser aceita, quer se inserir, quer ter um lugar seu. Todo comportamento na sociedade em geral é, na verdade, determinado por papéis, nos quais a personalidade de cada indivíduo é afirmada pelo que os outros vêem nele. No nosso mundo, experimentamos uma polarização entre a individualidade exagerada, de um lado, e a coletividade exagerada, de outro. Coloca-se excessiva ênfase nestes dois pólos, embora não exista uma única relação humana que nos interesse como arquitetos que se concentre exclusivamente em um indivíduo ou em um grupo, ou mesmo que se concentre de modo exclusivo em todos os outros, ou seja, no "mundo externo". É sempre uma questão de pessoas e grupos em inter-relação e compromisso mútuo, i.e., é sempre uma questão de coletividade e indivíduo, um em face do outro. 12 LIÇÕES DE ARQUIHTURA 'Wenn aber der lndividualismus nur einen Teil des Menschen erfassl so erfasst der Kollektivismus nur den Menschen ais Teil: zur Ganzheil des Menschen, zum Menschen ais Ganzes dringen beide nicht vor. Der lndividualismus sieht den Menschen nur in der Bezogenheit ouf sich selbst, aber der Kollektivismus sieht den Menschen überhaupl nicht, er sieht nur die "Gesellschaft", Beide Lebensanschauungen sind Ergebnisse oder Aeusserungen des gleichen menschlichen Zustands. Dieser Zustand ist durch das Zusammenstromen von kosmischer und sozialer Heimlosigkeit, von Weltangst und Lebensangsl, zu einer Daseinsverfassung der Einsamkeit gekennzeichnet, wie es sie in diesem Ausmass vermutlich noch nie zuvor gegeben hat. Um sich vor der Verzweiflung zu rellen, mil der ihn siene Vereinsamung bedrohl, ergreift der Mensch den Ausweg, diese zu glorifizieren. Der moderne lndividualismus hat im wesenllichen eine imaginiire Grundlage. An diesem Charakter scheitert er, denn die lmagination reicht nicht zu, die gegebene Situation faktisch zu bewiiltigen. Der moderne Kollektivismus ist die fetzte Schranke, die der Mensch vor der Begegnung mit sich se/bst aufgerichtet hat .. . ; im Kolleklivismus gibt sie, mil dem Verzicht auf die Unmittelbarkeit personlicher Entscheidung und Verantwortung, sich se/ber auf. ln beiden Fiillen isl sie unfiihig, den Durchbruch zum Anderen zu vollziehen: nur zwischenechten Personen gibt es echte Beziehung. Hier gibt es keinen onderen Ausweg ais den Aufstond der Person um der Befreiung der Beziehung willen. /eh sehe om Horizonl, mil der Longsomkeit a/ler Vorgiinge der wahren Menschengeschichte, eine grasse Unzufriedenheit heraufkommen. Man wird sich nicht mehr b/oss wie bisher gegen eine bestimmte herrschende Tendenz um anderer Tendenz willen emporen, sondem gegen die falsche Realisierung eines grossen Strebens, des Strebens zur Gemeinschaft, um der echten Realisierung willen. Man wird gegen die Verzerrung und für die reine Geslalt kiimpfen. 1hr erster Schritt muss die Zerschlagung einer falschen Alternative sein, der Alternative "lndividualismus oder Kollektivismus".' !Martin Buber, Das Prablem des Menschen, Heidelberg, 1948, também publicado em Forum 7-1959, p. 249) o e li é G e, e d CC er N ,n su de As pa Url urr ve1 As o, esc chen Jls 1nzes der reh, en md it eh lung [rei/t 'uaJion nur ler gibt on um zont, willen es i der istalt 1er smus obém "Se, porém, o individualismo compreende apenas parte da humanidade, o coletivismo só compreende a humanidade como parte; nenhum deles apreende o todo da humanidade, a humanidade como um todo. O individualismo vê a humanidade apenas na relação consigo mesmo, mos o coletivismo não vê o homem de maneira nenhuma, vê apenas a 'sociedade'. Ambas as visões de mundo são produtos ou expressões da mesma condição humana. Esta condição caracteriza-se pela confluência de um desamparo cósmico e social, de uma angústia diante do mundo e da vida, por um estado existencial de solidão, que provavelmente nunca se manifestaram antes nesse nível. Na tentativa de fugir do desespero trazido pelo isolamento, o homem, como escapatória, procura glorificá-lo. O individualismo moderno possui um fundamento imaginário. Neste aspecto, ele fracassa, pois a imaginação é incapaz de lidar factualmente com uma situação dada. O coletivismo moderno é a última barreira que o homem consJruiu para evitar o encontro consigo mesmo[. .. ]; no coletivismo, com a renúncia à imediaticidade da decisão e do responsabilidade pessoal, ela se rende. Em ambos os casos é incapaz de efetuar uma abertura para o outro: só entre pessoas reais pode haver uma relação real. Não há alternativa, neste caso, a não ser a rebelião do indivíduo em favor da libertação do relacionamento. Veio surgir no horizonte, com a lentidão de todos os processas do história humana, um grande descontentamento. As pessoas não mais se levantarão como fizeram no passado contra certa tendência predominante e a favor de uma tendência diferente, mas contra a falsa realização de um grande anseio, o anseio pelo comunitário, em nome da verdadeira realização. As pessoas lutarão contra a distorção e pela pureza. O primeiro passo deve ser a destruiçiio de uma falsa escolha, a escolha: 'individualismo ou coletivismo'." Os conceitos de "público" e "privado" podem ser vistos e compreendidos em termos relativos como uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e a supervisão de unidades espaciais específicas. DOMÍNIO PÚ&llCO 13 2 DEMARCACÕES , TERRITORIAIS Uma área aberta, um quarto ou um espaço podem ser concebidos como um lugar mais ou menos privado ou como uma área pública, dependendo do grau de acesso, da forma de supervisão, de quem o utiliza, de quem toma conta dele e de suas respectivas responsabilidades. O seu quarto, por exemplo, é um espaço privado em comparação com a sala de estar e a cozinha da casa em que mora. Você tem a chave do seu quarto, do qual você mesmo cuida. O cuidado e a manutenção da sala de estar e da cozinha são basicamente uma responsabilidade compartilhada por todos os que moram na casa, que têm a chave da porta de entrada. Numa escola, cada sala de aula é privada em comparação com o ha/1 comunitário. Este ha/1, por sua vez, é, como a escola em sua totalidade, privado em comparação com a rua. RUAS E RESIDÊNCIAS, BALI ll ·41 Os quartos de vários habitações em Bali são muitos vezes pequenos cosas construídos separadamente, agrupados em volto de uma espécie de pátio interno, no qual se entro por um portão. Depois que atravessamos o portão, não temos o sensação de que estamos entrando numa residência, embora isso seja o que acontece de foto. As unidades separados do residência - área de cozinho, dormitórios e, às vezes, uma câmara mortuário e um berçário - possuem uma intimidade maior e são, certamente, de acesso menos fácil poro um estranho. Deste modo, o coso abrange uma seqüência de gradações distintos de acesso. 14 llÇÕES DE ARQUITETURA • ~ • 1. Dormitório para as pais 2. Altar . 3. Templo familiar 4. Áreo de estar/ convidados 5. Dormitório 6. Cozinha 7. Depósito de arroz 8. Eira Mui extE unic Esse pro, mon emb tend visite Alérr balir área suce: nos e benfc plan ocess ocont o visi lugar, No m dema Muitos ruas em Bali constituem o território de uma família extenso. Nessas ruas estão situadas as casas das diversas unidades familiares, que juntas compõem a família extensa. Essas ruas têm um portão de entrada, que é muitas vezes · provido de uma pequena cerca de bambu encarregada de manter as crianças e os animais do lado de dentro, e, embora sejam basicamente acessíveis a qualquer um, tendemos a nos sentir como intrusos ou, no máximo, como visitantes. Além das diversas nuances nas demarcações territoriais, os bolineses fazem uma distinção dentro do espaço público: a área do templo, que compreende uma série de recintos sucessivos com entradas claramente marcadas, aberturas nos cercas ou portões de pedra (conhecidos como fiandi bentor). Esta área do templo serve como rua e como p/oyground para as crianças. Para o visitante também é acessível como rua - pelo menos quando não estão acontecendo manifestações religio$as -, mas, mesmo assim, o visitante sente certa relutância. Como alguém estranho ao lugar, sente-se honrado por ter permissão de entrar. No mundo inteiro encontramos gradações de demarcações territoriais, acompanhadas pela sensação de acesso. Às vezes o grau de acesso é uma questão de legislação, mos, em geral, é exclusivamente uma questão de convenção, que é respeitada por todos. EDIFÍCIOS PÚBLICOS Os chamados edifícios públicos, tais como o ha/1 do correio central ou uma estação ferroviária, podem !pelo menos durante as horas em que ficam abertos) ser vistos como um espaço de rua no sentido territorial. Outros exemplos de graus diferenciados de acesso ao público estão listados abaixo, mas a lista, naturalmente, pode ser ampliada para incluir outras experiências pessoais: • os pátios quadrangulares das universidades na Inglaterra, como em Oxford e Cambridge; são acessíveis a todos pelos pórticos, formando uma espécie de subsistema de caminhos para pedestres que atravessa todo o centro da cidade. • edifícios públicos, como, por exemplo, o ha/1 do correio, a estação ferroviária, etc. • os pátios de blocos de moradia em Paris, onde a concierge em geral reina suprema. • ruas •fechadas" , encontradas em grande variedade por todo o mundo, às vezes patrulhadas por guardas de segurança privada. DOMINIO PÚBllCO JS Estação Central, Haarlem, Holanda "'""' ...... 6 7 10 11 Rua holandesa, século XIX ALDEIA DE MóRBISCH, ÁUSTRIA (6·8) As ruas na aldeia austríaca de Mõrbisch, perto da fronteira húngara (publicado em Forum 9· 1959), têm portões largos, como os que dão acesso a fazendas - mas aqui dão acesso a ruas laterais ao longo das quais se situam residências, estábulos, celeiros e hortas. Estes exemplos mostram como são inadequados os termos público e privado, enquanto os áreas chamados semiprivodos ou semipúblicos, que muitos vezes estão espremidos no zona intermediário, são equívocos demais poro acomodaros sutilezas que devem ser levados em conto ao projetor cada espaço e cada área. • Onde quer que indivíduos ou grupos tenham o oportunidade de usar portes do espaço público poro seus próprios interesses, e apenas indiretamente no interesse dos outros, o caráter público do espaço é temporária ou permanentemente colocado em questão por meio do uso. Exemplos desse tipo podem ser encontrados em qualquer porte do mundo. Em Bali - mais uma vez usada como exemplo - o arroz é espalhado para secar em amplas áreas dos caminhos 16 l lÇÓES OE ARQUITETURA públicos e até mesmo no meio-fio das estradas de macadame, onde permanece intocodo pelos veículos e pelos pedestres, pois todos estão conscientes da importância da contribuição de cada membro do comunidade paro a colheita de arroz. 19) Um outro exemplo de mistura do público com o privado é o roupa pendurada para secar nas ruas estreitas de cidades do sul da Europa: uma expressão coletiva de simpatia pelo lavagem de roupa de cada família, que fica pendurada numa rede de cabos que atravessa o rua de uma casa a outra. Nápoles u e s d d tr Bl N p fr el lu a es cl se ido é a dodes lº pela ido o Outros exemplos são as redes e navios senda reparados nos cais de aldeias e portos pesqueiros, e o Dogon: a lã estirada na praça da aldeia. O uso do espaço público por residentes, como se fosse "privado", fortalece a demarcação por parte do usuário desta área aos olhos dos outros. A dimensão extra dado ao espaço público por essa demarcação sob a forma de uso paro objetivos privados será discutida detalhadamente mais adiante, mos antes devemos procurar saber quais os conseqüências que traz para o arquiteto. BIBllOTECA NACIONAL, PARIS, 1862-1868 / H. lABROUSTE 11 21 No principal sala de leitura da Biblioteca Nacional em Paris, os espaços de trabalho individual, dispostos um em frente ao outro, são separados por uma "zona" média mais elevada; as lâmpadas no centro dessa prancha fornecem luz para as quatro superfícies de trabalho diretamente odiocentes. Esta zona central é mais acessível do que os espaços de trabalho individual, mais baixos, e tem como cloro objetivo o uso compartilhado por aqueles que se sentam de ambos os lados. EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER (13-191 Há muitos anos, antes de se estabelecer a moda de "escrivaninha lisa", as escrivaninhas dos escritórios eram providas de pranchas que, quando as escrivaninhas eram colocadas uma contra a outra, formavam uma zona central semelhante às que dividem as mesas de leitura da Biblioteca Nacional em Paris. Por meio dessa articulação, reserva-se um lugar para os objetos compartilhados por diversos usuários, tais como telefones e vasos. O espaço sob as pranchas cria uma área maior de armazenamento privado para cada usuário individual. A articulação em termos de maior ou menor acesso (pública) também pode revelar sua utilidade nos detalhes. tN.H'O LATE-. E TMH'O TAASEIIIO J 13 12 U DOM ÍNIO PÚBllCO 17 IJ 16 17 18 19 )8 LIÇÕES DE ARQU ITETUR A Portas de vidro entre espoços igualmente públicos e Que portanto igualmente acessíveis, por exemplo, proporcionam con ampla visibilidade de ambos os lados, de modo que as terr colisões podem ser facilmente evitadas. Portas sem painéis poli transparentes têm de dar acesso a espaços mais privados, pod menos acessíveis. Quando um código desse tipo é adotado de l coerentemente em todo o edifício, é entendido racional ou ord4 intuitivamente por todos os usuários do prédio e assim pode vez, contribuir para esclarecer os conceitos subjacentes à visil organização do acesso. Uma classificação adicional pode por ser obtida mediante a forma dos painéis de vidro, a tipo do acei vidro empregado: semitransparente ou opaco, ou a pad meia-porta. arq, detE por >rc1onam e as painéis ívadas, adotada onal ou ~~m pode ai pode o tipa da Quando, ao projetar cada espaço e segmento, temos consciência do grou de relevância da demarcação territorial e das formas concomitantes dos possibilidades de "acesso" aos espaços vizinhos, podemos expressar essas diferenças pelo articulação de forma, material, luz e cor, e introduzir certo ordenamento no projeto como um todo. Isto, por suo vez, pode aumentar o consciência dos moradores e visitantes quanto à composição do edifício, formado por ambientes diferentes no que diz respeito ao acesso. O grou de acesso de espaços e lugares fornece padrões para o projeto. A escolha de motivos arquitetônicos, suo articulação, formo e material são determinados, em porte, pelo grau de acesso exigido par um espaço. DOMÍNIO PÚSIICO 19 20 21 22 23 24 3 DIFERENCIACÃO TERRITORIAL 20 llÇÕES DE ARQU ITE TURA ~. -. - l J!ºSU!'I Escola Montessori, De/ft Hotel Solvay, Bruxelas, 1896/V. Horta {ver também página 84) Ao marcar as gradações de acesso público às diferentes áreas e partes de um edifício em uma planta, obtemos uma espécie de mapa mostrando a "diferenciação territorial". Este mapa mostrará claramente que aspectos de acesso existem na arquitetura, quais são as demarcações de áreas específicas e a quem se destinam, e que espécie de divisão de responsabilidades pode ser esperada no que diz respeito aos cuidados e à manutenção dos diferentes espoços, de modo que essas forças possam ser intensificadas (ou atenuadas) na elaboração posterior da planta. DOhÍN IO PÚS llCO 21 25 26 27 28 29 4 ZONEAMENTO TERRITORIAL 30 22 llÇÕES DE ARQU ITE TURA O caráter de ceda área dependerá em grande parte de quem determina o guarnecimento e o ordenamento do espaço, de quem está encarregado, de quem zela e de quem é ou se sente responsável por ele. arte rnento zela e EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER (3D, 31) Os efeitos surpreendentes obtidos pelos funcionários do Centraal Beheer na maneira como ordenaram e personalizaram o espaço de seus escritórios com cores de sua escolha, vasas e objetos de estimação, não são apenas a conseqüência lógica do fato de o acabamento dos interiores ter sido deliberadamente entregue aos usuários do edifício. Embora a nudez do interior severo e cinzento seja um convite DOM ÍNIO PÚB LI CO 23 31 32 33 óbvio para que os usuários dêem os toques de acabamento ao espaço de acordo com seus gostos pessoais, isto, por si só, não é garantia de que irão fazê·lo. É preciso algo mais para que isso aconteça: para começar, a própria forma do espaço deve oferecer as oportunidades, incluindo as acessórios básicos, etc., para que os usuários preencham os espaços de acordo com suas necessidades e desejos pessoais. Mas, além disso, é essencial que a liberdade de tomar iniciativas pessoais esteja presente na estrutura organizacional da instituição, e este aspecto tem 24 llÇÕES DE AIQU IE1UIA conseqüências muito maiores do que se pode pensar à primeira vista. Pois a questão fundamental é saber quanta responsabilidade a alta direção está disposta a delegar, isto é, quanta responsabilidade será dada aos usuários individuais dos escalões mais baixos. É importante ter em mente que, neste caso, um empenho tão excepcional para investir amor e cuidado no ambiente de trabalho só se tornou possível porque a responsabilidade de ordenamento e acabamento dos espaços foi deixada aos usuários, de maneira muito explícito. Foi graças a isso que as oportunidades oferecidas pelo arquiteto foram efetivamente aproveitodas, gerando um resultado de êxito surpreendente. Mas, se este edifício foi originalmente construído como uma expressão espacial da necessidade de um ambiente mais humano (embora muitos suspeitassem que isso teria sido motivado por considerações relativas ao recrutamento de pessoal!, há no momento uma tendência para a desumanização, em grande parte decorrente de cortes nos custos, que afetam particularmente a quadro de funcionários. Mas pelo menos pode·se dizer que o edifício oferece uma resistêncialouvável a essa tendência, e que, com um pouco de sorte, conseguirão conservar o seu estilo. O que desaponta é que o que pensávamos ser um passo inicial rumo a uma responsabilidade maior para com os usuários revelou ser apenas o último passo que pode ser dado no momento. Hoje, isto é, em 1990, restou muito pouco da decoração expressiva e colorida dos ambientes de trabalho. O apogeu da expressividade pessoal da década de 1970 deu lugar à limpeza e à ordem. Parece que o impulso de expressão pessoal desapareceu e que neste momento as pessoas tendem mais ao conformismo. Talvez em razão do medo diante do crescente desemprego da década de 1980, considera·se mais sensato assumir uma posição menos extrovertida, e os efeitos dessa situação já podem ser vistos na atmosfera fria e impessoal da maioria dos escritórios de hoje. FACULDADE DE ARQUl'ETURA DO MIT, CAMBRIDGE, USA OFICINA DE TRABALHO 1967 (32, 33) O grau de influência que os usuários podem exercer, em casos extremos, sobre seu ambiente de trabalho ou de moradia é claramente demonstrado nos ajustes feitos à arquitetura existente pelos estudantes de arquitetura do MIT. Os estudantes opuseram-se a ter de trabalhar em pranchetas de desenho arrumadas em filas longas e rígidas, todas voltadas na mesma direção. Usando restos de material de construção, eles construíram o tipo de espaço que queriam - no qual podiam trabalhar, comer, dormir e receber seus orientadores. Seria de esperar que cada novo grupo de estudantes desejasse fazer seu próprio ajuste, mas a situação evoluiu de outra maneira. O resultado da feroz disputa com as autoridades locais de prevenção a incêndios foi que todas as estruturas teriam de ser derrubadas, a menos que um sistema completo de sprinklers fosse instalado. Depois que E f V e o A 1T e \ d1 OI rE pi 91 OI va no inf re! OIT sin as: res res em cer nes essa providência foi tomada, a situação tornou-se permanente, e o ambiente, se é que ainda existe, pode ser visto como um monumento ao entusiasmo de um grupo de esludantes de arquitetura. Mas não devemos nos surpreender se tudo já não foi eliminado (ou venha a sê-lo) - o burocracia da administração centralizadora voltou a msumir o controle. A influência dos usuários pode ser estimulada, pelo as menos nos lugares certos, i.e., onde se pode esperar o envolvimento necessário; e como isto depende do grau de acesso, das demarcações territoriais, da os. J ,nta !U à dem o mais litos ) oMIT. oluiu as das um s que organização da manutenção e do divisão de responsabilidades, é essencial que o projetista esteja plenamente consciente desses fatores nas suas gradações adequadas. Nos casos em que a estrutura organizacional impede os usuários de exercerem qualquer influência pessoal em seu ambiente, ou quando a natureza de determinado espaço é tão pública que ninguém se sente inclinado a exercerem influência nele, não há motivo para que o arquiteto tente fazer uma contribuição nesse sentido. No entanto, o arquiteto ainda assim pode tirar vantagem da reorganização que o ato de ocupar um novo edifício sempre requer e tentar exercer alguma influência na reavaliação da divisão de responsabilidades, pelo menos no que diz respeito ao ambiente físico. Uma coisa pode levar à outra. Pelo simples fato de apresentar argumentos capazes de assegurar à alta direção de que delegar responsabilidades pelo ambiente aos usuários não resulta necessariamente em caos, o arquiteto coloca-se em posição de contribuir para melhorar as coisas, e certamente é seu dever fazer pelo menos uma tentativa nesse sentido. ESCOLA MONTESSORI, ÜELFT (34, 35) Uma prancha de madeira acima da porta, com uma largura extra para que sobre ela possam ser colocados objetos - como neste caso entre a sala de aula e o ha/1-, presta-se mais a ser usada se for acessível pelo lado adequado, i.e., pelo lado de dentro da sala de aula. A estante acima pode criar um efeito estético agradável se a vidraça for recuada, mas é improvável que seja usada. EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAL BEHEER (36-391 Embora o cuidado pelos espaços dos escritórios no edifício Centraal Beheer, nos quais cada funcionário tem sua própria ilha particular para trabalhar, seja da responsabilidade dos usuários, nenhum membro do quadro de funcionários sente-se diretamente responsável pelo espaço central do edifício. A área verde neste espaço central é mantida por uma equipe especial (cf. Obras DOMÍNIO PÚBLICO 25 34 35 36 37 1 1 38 39 40 Públicas), e os quadros nas paredes são colocados por uma equipe de profissionais. Estes empregados também fazem seu trabalho com grande dedicação e cuidado, mas há uma diferença de atmosfera marcante entre a área comunitária e os espaços individuais de trabalho com toda a sua diversidade. Nos balcões de lanches deste espaço central, o serviço é feito pela mesmo moça todo dia; o serviço de lanches foi organizado de tal modo que cada garçonete foi alocada num balcão específico. Ela se sentia responsável por aquele balcão e, com o tempo, acabou por considerá-lo seu 26 LIÇÕES OE ARQUITETURA domínio, dando-lhe um taque pessoal. Estes balcões de café já foram removidos, e bancos e máquinas de café foram instalados em seu lugar. Todo o edifício está passando por uma renovação e uma limpeza, e durante este processo um grande número de ajustes será feito para atender aos requisitos de um local de trabalho contemporâneo. CENTRO MUSICAL VREDENBURG 140) A idéia subjacente que teve êxito no Centraal Beheer não se aplica aos balcões de lanches do Centro Musical em Utrecht. Ali a situação varia consideravelmente de um concerto paro outro, com diferentes balcões e diferentes balconistas servindo o público. Já que, no caso, não se esperava uma afinidade especial entre os empregados e os espaços específicos de trabalho, havia motivo suficiente para que as áreas de lanches fossem completadas e inteiramente mobiliadas pelo arquiteto. Em ambos os edifícios - no Centraal Beheer e no Centro Musical - as paredes dos fundos são providas de espelhos. No primeiro, porém, eles foram instalados pelos funcionários e no segundo foram escolhidos pelo arquiteto de acordo com os mesmos princípios gerais que regem todo o edifício. Os espelhos da parede dos fundos permitem que se possa ver quem está à frente, atrás e perto de nós. Eles evocam as pinturas de teatro de Manel 141), que usou espelhos para desenhar o espaço dentro do plano do quadro e, assim, definir o espaço mostrando as pessoas e como estão agrupadas. O Centro Musical tem um quadro de funcionários competente e dedicado que cuida do lugar. café 111 por )Um IÕO e os e ro :lhos. iteto n todo n que ISOU ias e - J O mesmo não pode ser dito, por exemplo, dos vagões de refeição das ferrovias holandesas: os garçons constantemente trocam de trem. Seu único compromisso consiste em deixar o vagão limpo e asseado para o turno seguinte. Imagine como as coisas seriam diferentes se o mesmo garçom trabalhasse sempre no mesmo trem. Embora o vagão-restaurante tenho desaparecido - dos trens holandeses pelo menos-, uma novo forma de serviço surgiu nas viagens aéreas. Mas os refeições servidas nos aviões são mais uma imposição ao passageiro do que um serviço; são servidos em horas que convêm mais à companhia do que ao passageiro (além de serem muito caras, pois erlão incluídos no preço já bastante oito da passagem). Do Lufthansa Bordbuch, 6/88 DO.IÍNIO PÚ Bl lCO 27 S DE USUÁRIO A MORADOR A tradução dos conceitos de "público" e "privado" à luz de responsabilidades diferenciadas torna mais fácil para o arquiteto decidir onde devem ser tomadas medidas para que os usuários/habitantes possam dar suas contribuições ao projeto do ambiente e onde isto é menos relevante. Na organização de um projeto em função de plantas-baixas e de cortes, e tambémde acordo com o princípio dos instalações, podem-se criar os condições poro um maior senso de responsabilidade e, conseqüentemente, também um maior envolvimento no arranjo e no mobiliamento de uma área. Deste modo os usuários tornam-se moradores. ESCOLA MONTESSORI, DELFT 144-47) As solos de aula desta escalo são concebidas como unidades autônomas, pequenos lares, por assim dizer, já que todas estão situadas ao longo do ha/1 da escola, como uma ruo comunitário. A professoro, o "tio", de cada caso decide, junto com os crianças, que aparência terá o lugar e, portanto, qual será o seu tipo de atmosfera. Cada saio de aula também tem seu pequeno vestíbulo, em vez do usual espaço comunitário paro todo a escola, que em geral significa o ocupação total do espaço por filos de cabides e sua inutilização poro qualquer outro fim. E, se cada sola de aula tivesse seu próprio banheiro, isto também 28 llÇÔES DE ARQU ITETURA contribuiria poro aprimorar o sentido de responsabilidade da criança (a proposto foi rejeitado pelas autoridades educacionais sob o pretexto de que seriam necessários banheiros separados paro meninos e meninos - como se fosse assim na coso deles-, o que exigiria o dobro de banheiros). É perfeitamente concebível que os crianças de cada solo mantenham seu "lar" limpo, como os pássaros fazem com seu ninho, dando deste modo expressão à ligação emocional com seu ambiente diário. A idéia Montessori, na verdade, compreende os chamados deveres domésticos como parte do programa diário paro todos as crianças. Assim, dá-se muita ênfase ao cuidado com o ambiente, fortalecendo com isso a afinidade emocional das crianças com o espaço à suo volta. Cada criança também pode trazer sua própria planto paro a sala de aula e cuidar dela. (A consciência do ambiente e o necessidade de cuidar dele ocupam um lugar proeminente no conceito de Montessori. Exemplos típicos são o tradição de trabalhar no assoalho sobre tapetes especiais - pequenas áreas temporárias de trabalha que são respeitados pelos outros - e a importância atribuído ao hábito de arrumar as coisos em armários abertos.) Um passo à frente, no sentido de uma abordagem mais pessoal poro os espaços que circundam diariamente os crianças, incluiria a possibilidade de regular o aquecimento central de cada saio. Isso aumentaria a consciência dos crianças quanto ao fenômeno do calor e ao cuidado que temos de tomar paro nas mantermos aquecidos, ao mesmo tempo em que os tornaria mais conscientes dos usos da energia. Um "ninho seguro" - um espaço conhecido à nosso volto, onde sabemos que nossos coisas estão seguras e onde podemos nos concentrar sem sermos perturbados pelos outros - é algo de que cada indivíduo precisa tonto quanto o grupo. Sem isso, não pode haver colaboração com os outros. Se você não tem um lugar que possa chamar seu, você não sabe onde está! Não pode haver aventuro sem uma base paro onde retornar: todo mundo precisa de alguma espécie de ninho poro pousar. O domínio de um grupo particular de pessoas deveria ser respeitado tanto quanto possível pelos "estranhos". Por esta razão, há certos riscos ligados ao chamado uso multifuncional. Vamos tomar como exemplo uma solo de aula: se é usada poro outros finalidades foro do horário escolar, por exemplo, para atividades da vizinhança, todo o mobília tem de ser deslocado temporariamente e, claro, nem sempre é colocoda de volto o seu lugar adequado. Em tais circunstâncias, figuras de borro modelado deixadas paro secar, por exemplo, podem ser quebrados "acidentalmente" com facilidade, ou então o apontador de lápis de alguém pode desaparecer. fosse os). 1 seu com com das roo o e no le os do de dom olor o !00 Mos, os so ros e dos Isa tros. , você ide de o ser [~''º ano toda Iara, ~º-Em os dor de 45 DOM NIO PÚBl CO 29 46 47 l J t l 1 É importante que os crianças possam exibir os coisas que fizeram, digamos, na ouia de trabalhos manuais, sem medo de que possam ser destruídas, e que possam também deixar trabalhos inacabados sem que haja o perigo de serem retirados ou "arrumados" por "estranhos". Afinal de contas, uma faxina completa feita por outra pessoa pode fazer 30 LIÇÕES DE ARQU ITETURA alguém sentir-se perdido em seu próprio espaço na manhã seguinte. Uma sala de aula, concebida como o domínio de um grupo, pode mostrar sua própria identidade ao resto da escola se lhe for dada a oportunidade de fazer uma exposição das coisas com as quais o grupo está especialmente envolvido (coisas que as crianças fizeram dentro ou fora da sala de aula). Isto pode ser executado de modo informal usando-se a divisória entre o ha/1 e a sala de aula como espaço de exposição e abrindo-se muitas janelas com peitoris generosos na divisória. Um pequeno mostruário (neste caso, até iluminado) é um desafio para o grupo apresentar-se de maneira mais formal. O exterior da sala de aula pode então funcionar como uma espécie de "vitrine" que mostra o que o grupo tem a "oferecer". Desse modo, cada turma pode apresentar uma imagem com que os outros podem se relacionar e que marca a transição entre cada sala de aula e o espaço comunitário do ha/1. hã de Ía l o com ição ESCOLAS APOLLO 148-50) Se o espaço entre os solos de aula foi usado poro criar áreas semelhantes o alpendres, como no escola Montessori de Amsterdom, essas áreas podem servir como lugares de lrabalho adequados onde se pode estudar sozinho, i.e., sem estar no solo de aula mos também sem ficar isolado desta. Esses lugares consistem numa superfície de trabalho com iluminação próprio e num banco encostado o uma porede baixo. Paro regular o contato entre o solo de aula e o ha/1 da maneira mais sutil possível, foram instalados meias·portos, cujo ombigüidade pode gerar o grau adequado de abertura poro o ha/1 e, ao mesmo tempo, oferecer o isolamento necessário o cada situação. Aqui encontramos mais uma vez !como no escola de Delft) o mostruário de vidro contendo o museu-miniaturo e o e~osição da solo de aula. =----L, l' 48 ;9 50 DOM NIO PUSllCO JJ 51 6 O "INTERVALO" O significado mais amplo do conceito de intervalo foi introduzido em Forum 7, 1959 (La plus grande réalité du seuil) e em Forum 8, 1959 (Das Gestalt gewordene Zwischen: the concretization of the in-between) A soleira fornece a chave para a transição e a conexão entre áreos com demarcações territoriais divergentes e, na qualidade de um lugar por direito próprio, constitui, essencialmente, a condição espacial para o encontro e o diálogo entre áreas de ordens diferentes. 32 LIÇÕES DE ~ROUIIETUIA O valor deste conceito é mais explícito na soleira par exce//ence, a entrada de uma casa. Estamos lidando aqui com a encontro e a reconciliação entre a rua, de um lado, e o domínio privado, de outro. A criança sentada no degrau em frente à sua casa está suficientemente longe da mãe para se sentir independente, para sentir a excitação e a aventura do grande desconhecido. Mas, ao mesmo tempo, sentada ali no degrau, que é parte da rua assim como da casa, ela se sente segura, pois sabe que sua mãe está por perto. A criança se sente em casa e ao mesmo tempo no mundo exterior. Esta dualidade existe graças à qualidade espacial da soleira como uma plataforma, um lugar em que os dois mundos se superpõem em vez de estarem rigidamente demarcados. E A u e el ti me A pa ele fil~ por Em en rra par !dando rua, de o está )endente, )e é parte pois sabe 111 casa e ~e existe ] superpõem ... ... ESCOLA MONTESSORI, DELFT 152-56) A entrado de uma escola primária devia ser mais do que uma mero abertura através da qual as crianças são engolidos quando as aulas começam e expelidos quando dos terminam. Deveria ser um lugar que oferecesse algum tipo de conforto poro as crianças que chegam cedo e poro os alunos que não querem ir logo poro casa depois dasaulas. As crianças também têm seus encontros e compromissos. Muros baixos em que se possa sentar são o mínimo a se oferecer; um conto bem obrigado é melhor, mos o melhor mesmo seria uma área coberto poro quando chove. A entrado de um jardim-de-infância é freqüentada pelos pois - ali eles se despedem de seus filhos e esperam por ~es quando as aulas terminam. Os pois que esperam os fillios têm assim uma bela oportunidade poro se conhecer e poro combinar visitas das crianças às casos dos colegas. Em sumo, este pequeno espaço público, como local de encontro paro pessoas com interesses comuns, cumpre uma importante função social. Como resultado da mais recente lronsformoção, em 1981 (56), esta entrada não mais existe. DOMINIO PÚSL CO 33 51 l• 53 55 .16 J7 J9 58 DE ÜVERLOOP, LAR PARA IDOSOS 157, 581 Uma área coberta na porta da frente, o começo da "soleira", é o lugar em que dizemos olá ou adeus aos visitantes, limpamos a neve das botas e penduramos o guarda-chuva. As entradas cobertas para os apartamentos do abrigo De Overloop, em Almere, são equipadas com bancos perto das portas da frente. As portas da frente estão dispostas de duas em duas para formar um alpendre combinado, o qual, porém, é dividido em entradas separadas por uma divisória vertical que se projeta a partir da fachada. As meias-portas permitem a quem esteja sentado do lado de fora manter contato com o interior do apartamento, de modo que se pode pelo menos ouvir o telefone tocar. Esta zona de entrada é vista como uma extensão da casa, como se pode perceber pelos capachos colocados do lado de fora. 34 l l ÇOES Dl ARQU ITETURA Graças à saliência da cobertura, ninguém precisa esperar na chuva até que a porta seja aberta, enquanto a atmosfera hospitaleira do lugar dá a quem chega a sensação de que já está quase dentro da casa. Pode-se dizer que o banco na porta da frente é um motivo tipicamente holandês - pode ser visto em muitas pinturas antigas, mas, no nosso século, Rietveld, por exemplo, criou o mesmo arranjo, completado por uma meia-porta, em sua famosa casa Schrõder. Utrecht, 1924 1591 R a s o n o CC CE es fa e, re e ~ror 1otivo iras criou m sua 1 IIL DE ÜRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS (60) Em situações nas quais possa ser necessário um contato entre o interior e o exterior - num lar para idases, por exemplo, alguns dos moradores passam boa parte de seu tempo na solidão de seus próprios quartos por causa da mobilidade reduzida, esperando que alguém vá visitá-los, enquanto outros moradores que ficam do lado de fora também gostariam de algum contato -, em tais situações, uma boa idéia é instalar portas com duas seções, de maneira que a porte de cimo posso ser mantido aberta e o parte de baixo fechada. Essas "meio-portos" constituem um claro gesto de convite: o porta está aberta e fechada ao mesmo tempo, i.e., suficientemente fechada para evitar que as intenções dos que estão lá dentro fiquem demasiadamente explícitas, mas aberta o bastante para facilitar a conversa casual com quem está passando, o que pode levar a um contato mais íntimo. A concretização da soleira como intervalo significa, em primeiro lugar e acima de tudo, criar um espaço para as boas-vindas e as despedidas, e, portanto, é a tradução em termos arquitetônicos da hospitalidade_ Além disso, a soleira é tão importante para o contato social quanto as paredes grossas para a privacidade. Condições para a privacidade e condições para manter os contatos sociais com os outros são igualmente necessárias. Entradas, alpendres e muitas outras formas de espciços de intervalo fornecem uma oportunidade pcira a "acomodação" entre mundos contíguos. Esta espécie de dispositivo dá margem a certa articulação do edifício em foco, o que requer espaço e dinheiro, sem que sua função possa ser facilmente demonstrável - e ainda menos quantificável -, e, por esse motivo, torna-se muitas vezes difícil de realizar, exigindo esforço e trabalho de persuasão constante durante a fase de planejamento. RESIDÊNCIAS DOCUMENTA URBANA (61 -70) O edifício em forma de meandro, denominado "serpente", é composto de segmentos, cada um deles projetado por arquitetos diferentes. As escadas comunitárias foram colocadas numa situação de ampla luminosidade, bem maior que o do espaço residual costumeiro, em geral de pouca luminosidade. Numa residência para várias famílias, a ênfase não deve recair exclusivamente sobre medidas arquitetônicas destinadas a prevenir o barulho excessivo e a inconveniência dos vizinhos; uma atenção especial deve ser dado em particular à disposição espacial, que pode conduzir aos contatos sociais esperados entre os vários ocupantes de um mesmo edifício. Por conseguinte, atribuímos às escadas mais importância do que de costume. As escadas comunitárias não devem ser apenas uma fonte de aborrecimento no que diz respeito ao acúmulo de sujeira e à limpeza - devem servir também, por exemplo, como um playground para os crianças de famílias vizinhos. Por este motivo, foram projetados com o máximo de luz e abertura, como ruas com telhado de vidro, e podem ser avistados dos cozinhas. Os alpendres de entrado abertos, com duas portos, uma após o outro, expõem ao território comunitário um pouco mais de seus moradores do que os portos fechados tradicionais. Embora, naturalmente, tenha-se tomado cuidado poro assegurar o privacidade adequado nos terraços, as famílias vizinhos não estão de todo isolados umas dos outros. Procuramos projetar os espaças exteriores de tal modo que a vedação necessária roube o mínimo possível dos 00 /.I ÍNIO PÚ &llCO JS óO ól IR r~ L' r r 36 l lÇÔES DE ARQUITETURA • . ..l.:' . ,.:,_. , w. ~ ~ t::!'l,fit Q . . .. • .• .,. :.• il_• • A ·l't. • .• ·• _;• ~• li; rJ Jl _• _ill 1 o 1 62 63 64 65 66 67 condições espaciais para contatas entre os vizinhos. Tal expansão do espaço mínimo requerido para "finalidades de circulação" mostrou-se capaz não apenas de atrair as crianças - serve também como um lugar em que os vizinhos podem se sentar e conversar. Neste caso os moradores lambém providenciaram os equipamentos. Edifício ó direito: O. Steidle, arquiteta. DOM ÍNIO PÚ BLICO 37 68 69 70 Além da tradicional poria da frente, as moradias têm uma segunda porta de vidro que também pode ser trancada e que conduz à escada, obtendo-se assim um espaço de entrada aberto. Uma vez que esse espaço intermediário entre a escada e a poria da frente é interpretado de maneira diferente por pessoas diferentes - i.e., não apenas como parte das escadas mas também como uma extensão da casa -, é usado por alguns como um ha/1 aberto, no qual a atmosfera da casa pode penetrar. Deste modo, dependendo de qual das duas portas é considerada como a verdadeira porta da frente, os moradores podem expor sua 38 LIÇ ÕE S DE ARQU ITETURA individualidade, em geral restrita à intimidade do lar, ao mesmo tempo em que a escadaria perde algo de sua característica de terra-de-ninguém e pode até adquirir u111-0 atmosfera autenticamente comunitária. O princípio do caminho vertical para o pedestre, tal como aplicado no projeto habitacional de Kassel, foi posteriormente elaborado no conjunto habitacional LiMa em Berlim. As escadas desse conjunto conduzem a terraços comunitários nos telhados. No final, decidiu-se que não seria necessário incorporar as varandas para lazer previstas no projeto de Kassel, já que o pátio isolado oferecia o espaço de lazer adequado, especialmente para as crianças mais novas. Fl 111 rar, ao ua Jirir uma do o no n. mão cio r para Grt NAPOlÉON, PARIS, 1849 / M. H. VEUGNY 171-74) A Cité Napoléon, em Paris, foi uma dos primeiros tentativas, e certamente o mais notável, de solução razoável para a problema do distância entre o ruo e o porta da frente num prédio residencial de muitos andares. Este espaço interior, com suas escadas e passarelas,evoco os edificações de vários andores de uma aldeia nas montanhas. Uma razoável quantidade de luz alcanço os andares mais altos através do telhado de vidro. Os moradores dos andores de cimo obrem suas janelos para este espaço interior, e o presença de vasos de plantas mostra, pelo menos, que as pessoas dão valor a esse detalhe. Embora não tenha sido possível - em que pesem as boas intenções dos construtores - transformar esse espaço interior (fechado como é em relação à rua ló fora) numa ruo interna verdadeiramente funcional segundo nossos padrões, não há dúvida de que este exemplo se desloco de maneira brilhante, sobretudo quando se penso em todas aquelas sombrios escadarias construídas desde 1849. O 5 10 íLf1_J DOMÍNIO PÚSllCO 39 71 72 73 71 í 1 1 75 76 77 7 DEMARCACOES PRIVADAS I NO ESPACO PÚBLICO I O conceito de intervolo é a chove para eliminar a divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações territoriais. A questão está, portanto, em criar espaços intermediários que, embora do ponto de vista administrativo possam pertencer quer ao domínio público quer ao privado, sejam igualmente acessíveis para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente aceitável, para ambos os lados, que o "outro" também possa usá-lo. DE DRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS (75-77) Os corredores servem como ruos num edifício que deve funcionar como uma cidade para seus moradores, afetados por sérias limitações, já que o maior porte deles é incapaz de deixar a área sem ajuda. As unidades de habitação situados ao longo desta "ruo" têm, aos pores, áreas semelhantes o alpendres, que, por um lado, pertencem às habitações, mos, por outro, também fazem parte do "ruo". Os moradores colocam suas coisos ali, cuidam deste espaço e com freqüência criam plantas e flores ali, como se este fosse porte de suo próprio coso, uma espécie de varando no nível da ruo. Embora o área do alpendre seja completamente acessível aos transeuntes, permanece como porte da ruo. É extremamente difícil reservar os poucos metros quadrados necessários a um objetivo como esse dentro do infinito rede de regulamentos e normas que se referem às dimensões mínimas e máximos que governam cada um dos aspectos do projeto arquitetônico. No coso dos abrigos sociais, esse aspecto é considerado, 40 LI ÇÕES DE ARQU:IEIURA do ponto de vista administrativo, como uma redução indevido do tamanho do unidade domiciliar, ou como uma expansão indevido do corredor: o funcionalidade de cada metro quadrado é, afinal, medido de acordo com o utilidade quantificável. O amor e o cuidado que os moradores investem neste espaço, que, estritamente, não é porte do apartamento, dependem de um detalhe aparentemente menor, ou seja, o janelo que lhes permite vigiar os objetos que foram colocados lá fora, não só como uma precaução contra o roubo, mos simplesmente porque é agradável poder ver os próprios coisos ou verificar como as plantas vão indo. O arquiteto preciso de uma dose incomum de engenhosidade poro que esta idéia consigo passar pela vigilância cuidadoso dos autoridades responsáveis pelo prevenção de incêndios. Os quadros de luz no "De Drie Hoven" perto dos portos do frente foram instalados em pequenos muretas salientes, de tal modo que se pode colocar facilmente um topete ao lado. o n a p f~ s rei me po COI em As i dem dem cone com povi comi colo. Ore comi da fe à sue incor resto Se o privo em st oumo :cada não é rmite ,ó como r rque é como os nsiga )orlas da tes, de , ao lado. Usando pedaços de tapete, os moradores se apropriam do pequeno espaço assim criado e o equipam, estendendo desta maneira os limites de suo cosa além da parta da frente. Se incorporamos as sugestões espaciais adequadas em nosso projeto, os moradores sentem-se mais inclinados a expandir sua esfera de influência em direção à área público. Até mesmo um pequeno ajustamento, no forma de uma articulação espacial da entrada, pode ser o bostante poro estimular o expansão da esfera de influência pessoal, e, deste modo, a qualidade do espaço público será consideravelmente aprimorada no interesse comum. RESIDÊNCIAS DIAGOON (78-83) O que poderia ser feito com as calçadas nos II ruas residenciais", se coubesse aos moradores a responsabilidade pelo espaço, pode ser imaginado com base na experiência com as calçados em frente às residências Diagoon, em Delft. A área em frente às moradias não foi projetada como jardim; foi simplesmente pavimentada como uma calçado comum e, conseqüentemente, como parte do domínio público, embora, de modo estrito, não o seja. ' L 0J f - D k. áreas pertencentes às diversas casas não foram demarcadas, e o layout não contém nenhuma sugestão de demarcação privada. A pavimentação foi feito com blocos de concreto comum, o que desperto automaticamente associações com uma ruo pública porque os calçadas em geral são pavimentadas com o mesmo material. Os moradores então começaram a remover alguns dos blocos de concreto para colocar plantas no lugar. 11Dessous les povés la plage. 11 O resto dos blocos foi deixado intacto para proporcionar um caminho até a porta ou um espaço para estacionar o corro do família perto da casa. Cada morador usa a área em frente à sua casa de acordo com suas necessidades e desejos, incorporando a parte da área de que necessito e deixando o resto acessível para o uso público. Se o layout tivesse partido da idéia de áreas separadas, privadas, então sem dúvida todos iriam usá-las ao máximo em seu pró.prio benefício, mos surgiria uma divisão irreversivelmente abrupto entre o espaço público e o privado, em vez da zona intermediária que foi criada, uma fusão do território estritamente privado das cosas e da área pública da rua. Nesta área de intervalo, entre o público e o privado, demarcações individuais e coletivas podem superpor-se e os conflitos resultantes devem ser resolvidos mediante um acordo entre as partes. É aqui que cada morador desempenho o papel que revelo o tipo de pessoa que quer ser e, por conseguinte, como desejo que os outros o vejam. Aqui se decide também o que o indivíduo e a coletividade podem oferecer um ao outro. DOMÍNIO PÚBLI CO 41 78 n ao 81 81 83 8• 85 86 MORADIAS LIMA 184-89) O conjunto de moradias LiMa está localizado na ponta de uma área triangular, cuja esquina é ocupada por uma igreja. Os volumes desta igreja não se relacionam claramente com o alinhamento arquitetônico geral. 42 l lÇÕES DE AR,)U IT ETURA Construir nesta ilha triangular implica manter a igreja à parte como uma estrutura destacada e autônoma. O pátio é bastante diferente do tradicional e muitas vezes deprimente pátio berlinense, e sua concepção é a de um espaço público com seis caminhos de acesso para os pedestres, incluindo conexões com a rua e com o pátio vizinho. Estes caminhos para pedestres constituem parte das escadarias comunitários. No centro do pálio há um amplo Ianque de areia dividido em segmentos, cujas laterais foram decoradas com mosaicos pelas próprias famílias dos moradores. Não foi difícil despertar o entusiasmo dos moradores - os quais já estavam profundamente interessados no projeto do pátio - especialmente depois que eles viram as fotografias do parque de Gaudí e as Torres Watt. A ajuda técnica e organizacional foi fornecida por Akelei Hertzberger, que empreendeu vários projetos semelhantes no passado com resultados igualmente bem-sucedidos. No começa, foram principalmente as crianças que contribuíram com seus "ladrilhos", mas logo em seguida os adultos aderiram, trazendo qualquer pedaço de cerâmica que pudessem obter. Ne ate po mo res ,m ai um der nec pra Uni en! ele tra à ílio é 1ente ,, sles 1as de - os lo do fias e ue om da os iica Nenhum arquiteto hoje seria capaz de dedicar tanta atenção a um tanque de areia, nem isto seria necessário, porque é algo quepode ser deixado para os próprios moradores. É difícil imaginar uma maneira melhor de responder ao incentivo oferecido. Mas ainda mais importante é o fato de que o tanque de areia se tornou algo que pertencia a eles e um objeto de seus cuidados: se um fragmento do mosaico cai ou revela ser pontudo demai1, por exemplo, algo será feito sem que haja ne<essidade de reuniões especiais, cartas oficiais ou proces1os contra o arquiteto. Uma área de rua com o qual os moradores estão envolvidos, onde marcas individuais são criadas por eles próprios, é apropriada conjuntamente e transformada num espaço comunitário. DOMÍNIO PÚBLICO 43 87 88 89
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