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Herman_Hertzberger_Licoes_de_Arquitetura

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Prévia do material em texto

i 
1 
Herman 
Hertzberge~ 
' 
LIÇÕES DEARQUITETURA 
Martins Fontes 
Este livro reflete o material discutido nas palestras de 
Hertzberger sobre arquitetura no Universidade Técnico de 
Delft o partir de 1973 e contém versões elaborados dos 
notas de palestras anteriormente publicados como "Hei 
openbore riik" (Domínio público), 1982, "Ruim/e moken, 
ruim/e laten" /Criando espaço, deixando espaço}, 1984, e 
"Uitnodigende vorm" (Formo convidativo), 1988. 
Esta obra/o• publi.cada originalmente em mglis com o rfrulo 
l.ESSONS FOR STUDENTS IN ARCHfTECTURE 
por Uügeverij 010 Publishers, Amsterdam, em 1991. 
Copyright C /991, Uitge~·erlj0J0 Pubhshers. 
Copynghl C /996, livraria Martins Fontes Editora Lida., 
São Pauto, para a presente ed1çdo. 
1• edição /996 
'P- ~diçáo /999 
21 tiragem 2006 
Revisão da traduçio 
Lu(s Carlos Borges 
Revi.sões gráficas 
Sil\lana Cobucc, Uue 
A1:naldo Alves de O/i\:e,ro 
Dinarre Zorzanelli do Sif\.-a 
Produçio gr.ifica 
Geraldo Alves 
Paginação 
Studio 3 Dese,woh·imento Editorial 
Dados Internacionais de Catalopção na Publiaição (CIP) 
(Cintara 8.-atjJw-a do livro. SP, Brasil) 
Hcmbcrger. Herman 
Lições de arquilctura / Hcnnan Herubergcr ; !tradução Carlos 
Eduardo Lima MachadoJ.-21 ccl. -São Paulo: Manins Fontes, 1m. 
Título origmal: Lcssons for s1udcn1s m archi1ec1ure. 
B1b!Jografia. 
ISBN 85-336-1034-3 
1. Arquitetura 2. Design arquitetônico 1. Título. 
99-1477 
fndlccs para catálogo slstt:mállco: 
1. Arqui1e1ura 720 
2. Design arquitetónico 720 
CDD-720 
Todos os direitos desta edição para o Brasil reservados à 
Livraria A-fartins FonJes Editora Uda. 
Rua Conselheiro Ramalho, 330 01325.()()() São Paulo SP Brasil 
Te/. (li) 3241.3677 Fax (li) 310/ ./042 
e-mail: info@marti11sfon1es.com.br http://www.mar1;nsJon1es.com.br 
so 
u 
q 
m 
P'l 
di 
\. 
PREFÁCIO 
'les choses ne sont pas difficiles à faire, ce qui est difficile, 
c'est de nous mettre en état de les laire." 
[Brancusi) 
É inevitável que a obra que construímos como arquitetos 
sirva de ponto de partida para o nosso ensino, e 
obviamente o melhor caminho para explicar o que se tem a 
dizer é fazê-lo com base na experiêncio prática: este é, na 
verdade, o fio condutor deste livro. Em vez de apresentar 
separadamente cada obra individual e explicar em seguida 
todos os seus aspectos característicos, os diversos 
· componentes textuais foram organizados de tal modo que, 
como um todo, oferecem algo semelhante a uma teoria; é a 
maneira como os elementos são organizados que 
transformo a prática em teoria. 
Quando discutimos nosso próprio trabalho, lemos de nos 
perguntar o que adquirimos de quem. Pois tudo o que 
descobrimos vem de algum lugar. A fonte não foi nossa 
próprio mente, mas a cultura a que pertencemos. E é por 
isso que a obra dos outros está presente aqui de maneira 
tão potente à guisa de contexto. Serio possível dizer que 
este livro contém lições, lições dadas por Bramante, Cerdà, 
Chareou, Le Corbusier, Duiker & Biivoet, Van Eyck, Gaudí & 
Juiol, Horta, Labrouste, Pai/adio, Peruzzi, Rietveld, Van der 
Vlugt & Brinkman, e por todos os outros que me 
emprestaram seus olhos para que eu pudesse ver e 
selecionar exatamente o que eu precisava para levar 
adiante o meu trabalho. Os arquitetos (e não apenas eles) 
têm o hábito de ocultar suas fontes de inspiração e até 
mesmo de tentar sublimá-las - como se isto fosse possível. 
Mas, ao fazê-lo, o processo de proietar se torna nebuloso, 
ao posso que, ao revelarmos o que nos moveu e estimulou 
em primeiro lugar, podemos nos explicar a nós mesmos e 
motivar nossas decisões. 
Os exemplos e influências que abundam neste livro 
constituem o contexto cultural dentro do qual um arquiteto 
trabalha e oferecem uma idéia do alcance dos conceitos e 
imagens mentais que devem servir como instrumentos (será 
que o output de idéias de uma pessoa pode ser maior que 
o input?). 
Tudo o que é absorvido e registrado por nossa mente 
soma-se à coleção de idéias armazenadas na memória: 
uma espécie de biblioteca que podemos consultar toda vez 
que surge um problema. Assim, essencialmente, quanto 
mais tivermos visto, experimentado e absorvido, mais 
pontos de referência leremos para nos a;udar a decidir que 
direção tomar: nosso quadro de referência se expande. 
A capacidade para descobrir uma solução 
fundamentalmente diferente para um problema, i.e., para 
criar ºum mecanismoº diferente, depende da riqueza de 
nossa experiência, assim como o potencial expressivo de 
linguagem de uma pessoa não pode transcender o que é 
exprimível em seu vocabulário. É impossível dar receitas de 
como proietar, como todo o mundo sabe. Não tentei fazer 
isto, e a questão de saber se, de algum modo, é possível 
aprender a fazer um pro;eto não é tratada aqui. 
O ob;etivo de minhas ºliçõesº sempre foi estimular os 
estudantes, despertar neles uma mentalidade arquitetônica 
que pudesse capacitá-los a fazer seu próprio trabalho; meu 
obietivo neste livro continua o mesmo. 
Herman Hertzberger 
1 PÚBLICO E PRIVADO 
Os conceitos de "público" e "privado" podem ser 
interpretados como a tradução em termos espaciais de 
"coletivo" e "individual". 
Num sentido mais absoluto, podemos dizer: pública é 
uma área acessível a todos a qualquer momento; a 
responsabilidade por sua manutenção é assumida 
coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é 
determinado por um pequeno grupo ou por uma 
pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la. 
Esta oposição extrema entre o público e o privado - como 
a oposição entre o coletivo e o individual - resultou num 
clichê, e é tão sem matizes e falsa como a suposta oposição 
entre o geral e o específico, o objetivo e o subjetivo. Tais 
oposições são sintomas da desintegração das relações 
humanas básicas. Todo mundo quer ser aceita, quer se 
inserir, quer ter um lugar seu. Todo comportamento na 
sociedade em geral é, na verdade, determinado por papéis, 
nos quais a personalidade de cada indivíduo é afirmada 
pelo que os outros vêem nele. No nosso mundo, 
experimentamos uma polarização entre a individualidade 
exagerada, de um lado, e a coletividade exagerada, de 
outro. Coloca-se excessiva ênfase nestes dois pólos, embora 
não exista uma única relação humana que nos interesse 
como arquitetos que se concentre exclusivamente em um 
indivíduo ou em um grupo, ou mesmo que se concentre de 
modo exclusivo em todos os outros, ou seja, no "mundo 
externo". É sempre uma questão de pessoas e grupos em 
inter-relação e compromisso mútuo, i.e., é sempre uma 
questão de coletividade e indivíduo, um em face do outro. 
12 LIÇÕES DE ARQUIHTURA 
'Wenn aber der lndividualismus nur einen Teil des Menschen 
erfassl so erfasst der Kollektivismus nur den Menschen ais 
Teil: zur Ganzheil des Menschen, zum Menschen ais Ganzes 
dringen beide nicht vor. Der lndividualismus sieht den 
Menschen nur in der Bezogenheit ouf sich selbst, aber der 
Kollektivismus sieht den Menschen überhaupl nicht, er sieht 
nur die "Gesellschaft", Beide Lebensanschauungen sind 
Ergebnisse oder Aeusserungen des gleichen menschlichen 
Zustands. 
Dieser Zustand ist durch das Zusammenstromen von 
kosmischer und sozialer Heimlosigkeit, von Weltangst und 
Lebensangsl, zu einer Daseinsverfassung der Einsamkeit 
gekennzeichnet, wie es sie in diesem Ausmass vermutlich 
noch nie zuvor gegeben hat. Um sich vor der Verzweiflung 
zu rellen, mil der ihn siene Vereinsamung bedrohl, ergreift 
der Mensch den Ausweg, diese zu glorifizieren. Der 
moderne lndividualismus hat im wesenllichen eine 
imaginiire Grundlage. An diesem Charakter scheitert er, 
denn die lmagination reicht nicht zu, die gegebene Situation 
faktisch zu bewiiltigen. 
Der moderne Kollektivismus ist die fetzte Schranke, die der 
Mensch vor der Begegnung mit sich se/bst aufgerichtet 
hat .. . ; im Kolleklivismus gibt sie, mil dem Verzicht auf die 
Unmittelbarkeit personlicher Entscheidung und 
Verantwortung, sich se/ber auf. ln beiden Fiillen isl sie 
unfiihig, den Durchbruch zum Anderen zu vollziehen: nur 
zwischenechten Personen gibt es echte Beziehung. Hier gibt 
es keinen onderen Ausweg ais den Aufstond der Person um 
der Befreiung der Beziehung willen. /eh sehe om Horizonl, 
mil der Longsomkeit a/ler Vorgiinge der wahren 
Menschengeschichte, eine grasse Unzufriedenheit 
heraufkommen. 
Man wird sich nicht mehr b/oss wie bisher gegen eine 
bestimmte herrschende Tendenz um anderer Tendenz willen 
emporen, sondem gegen die falsche Realisierung eines 
grossen Strebens, des Strebens zur Gemeinschaft, um der 
echten Realisierung willen. 
Man wird gegen die Verzerrung und für die reine Geslalt 
kiimpfen. 1hr erster Schritt muss die Zerschlagung einer 
falschen Alternative sein, der Alternative "lndividualismus 
oder Kollektivismus".' 
!Martin Buber, Das Prablem des Menschen, Heidelberg, 1948, também 
publicado em Forum 7-1959, p. 249) 
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obém 
"Se, porém, o individualismo compreende apenas parte da 
humanidade, o coletivismo só compreende a humanidade 
como parte; nenhum deles apreende o todo da 
humanidade, a humanidade como um todo. 
O individualismo vê a humanidade apenas na relação 
consigo mesmo, mos o coletivismo não vê o homem de 
maneira nenhuma, vê apenas a 'sociedade'. Ambas as 
visões de mundo são produtos ou expressões da mesma 
condição humana. 
Esta condição caracteriza-se pela confluência de um 
desamparo cósmico e social, de uma angústia diante do 
mundo e da vida, por um estado existencial de solidão, que 
provavelmente nunca se manifestaram antes nesse nível. 
Na tentativa de fugir do desespero trazido pelo isolamento, 
o homem, como escapatória, procura glorificá-lo. 
O individualismo moderno possui um fundamento 
imaginário. Neste aspecto, ele fracassa, pois a imaginação 
é incapaz de lidar factualmente com uma situação dada. 
O coletivismo moderno é a última barreira que o homem 
consJruiu para evitar o encontro consigo mesmo[. .. ]; no 
coletivismo, com a renúncia à imediaticidade da decisão e 
do responsabilidade pessoal, ela se rende. Em ambos os 
casos é incapaz de efetuar uma abertura para o outro: só 
entre pessoas reais pode haver uma relação real. 
Não há alternativa, neste caso, a não ser a rebelião do 
indivíduo em favor da libertação do relacionamento. Veio 
surgir no horizonte, com a lentidão de todos os processas 
do história humana, um grande descontentamento. 
As pessoas não mais se levantarão como fizeram no 
passado contra certa tendência predominante e a favor de 
uma tendência diferente, mas contra a falsa realização de 
um grande anseio, o anseio pelo comunitário, em nome da 
verdadeira realização. 
As pessoas lutarão contra a distorção e pela pureza. 
O primeiro passo deve ser a destruiçiio de uma falsa 
escolha, a escolha: 'individualismo ou coletivismo'." 
Os conceitos de "público" e "privado" podem ser 
vistos e compreendidos em termos relativos como uma 
série de qualidades espaciais que, diferindo 
gradualmente, referem-se ao acesso, à 
responsabilidade, à relação entre a propriedade 
privada e a supervisão de unidades espaciais 
específicas. 
DOMÍNIO PÚ&llCO 13 
2 DEMARCACÕES , 
TERRITORIAIS 
Uma área aberta, um quarto ou um espaço podem ser 
concebidos como um lugar mais ou menos privado ou 
como uma área pública, dependendo do grau de 
acesso, da forma de supervisão, de quem o utiliza, de 
quem toma conta dele e de suas respectivas 
responsabilidades. 
O seu quarto, por exemplo, é um espaço privado em 
comparação com a sala de estar e a cozinha da casa 
em que mora. Você tem a chave do seu quarto, do 
qual você mesmo cuida. O cuidado e a manutenção da 
sala de estar e da cozinha são basicamente uma 
responsabilidade compartilhada por todos os que 
moram na casa, que têm a chave da porta de entrada. 
Numa escola, cada sala de aula é privada em 
comparação com o ha/1 comunitário. Este ha/1, por sua 
vez, é, como a escola em sua totalidade, privado em 
comparação com a rua. 
RUAS E RESIDÊNCIAS, BALI ll ·41 
Os quartos de vários habitações em Bali são muitos vezes 
pequenos cosas construídos separadamente, agrupados em 
volto de uma espécie de pátio interno, no qual se entro por 
um portão. Depois que atravessamos o portão, não temos o 
sensação de que estamos entrando numa residência, 
embora isso seja o que acontece de foto. As unidades 
separados do residência - área de cozinho, dormitórios e, 
às vezes, uma câmara mortuário e um berçário - possuem 
uma intimidade maior e são, certamente, de acesso menos 
fácil poro um estranho. Deste modo, o coso abrange uma 
seqüência de gradações distintos de acesso. 
14 llÇÕES DE ARQUITETURA 
• 
~ 
• 
1. Dormitório para as pais 
2. Altar . 
3. Templo familiar 
4. Áreo de estar/ convidados 
5. Dormitório 
6. Cozinha 
7. Depósito de arroz 
8. Eira 
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dema 
Muitos ruas em Bali constituem o território de uma família 
extenso. Nessas ruas estão situadas as casas das diversas 
unidades familiares, que juntas compõem a família extensa. 
Essas ruas têm um portão de entrada, que é muitas vezes 
· provido de uma pequena cerca de bambu encarregada de 
manter as crianças e os animais do lado de dentro, e, 
embora sejam basicamente acessíveis a qualquer um, 
tendemos a nos sentir como intrusos ou, no máximo, como 
visitantes. 
Além das diversas nuances nas demarcações territoriais, os 
bolineses fazem uma distinção dentro do espaço público: a 
área do templo, que compreende uma série de recintos 
sucessivos com entradas claramente marcadas, aberturas 
nos cercas ou portões de pedra (conhecidos como fiandi 
bentor). Esta área do templo serve como rua e como 
p/oyground para as crianças. Para o visitante também é 
acessível como rua - pelo menos quando não estão 
acontecendo manifestações religio$as -, mas, mesmo assim, 
o visitante sente certa relutância. Como alguém estranho ao 
lugar, sente-se honrado por ter permissão de entrar. 
No mundo inteiro encontramos gradações de 
demarcações territoriais, acompanhadas pela sensação 
de acesso. Às vezes o grau de acesso é uma questão 
de legislação, mos, em geral, é exclusivamente uma 
questão de convenção, que é respeitada por todos. 
EDIFÍCIOS PÚBLICOS 
Os chamados edifícios públicos, tais como o ha/1 do correio 
central ou uma estação ferroviária, podem !pelo menos 
durante as horas em que ficam abertos) ser vistos como um 
espaço de rua no sentido territorial. Outros exemplos de 
graus diferenciados de acesso ao público estão listados 
abaixo, mas a lista, naturalmente, pode ser ampliada para 
incluir outras experiências pessoais: 
• os pátios quadrangulares das universidades na Inglaterra, 
como em Oxford e Cambridge; são acessíveis a todos pelos 
pórticos, formando uma espécie de subsistema de caminhos 
para pedestres que atravessa todo o centro da cidade. 
• edifícios públicos, como, por exemplo, o ha/1 do correio, 
a estação ferroviária, etc. 
• os pátios de blocos de moradia em Paris, onde a 
concierge em geral reina suprema. 
• ruas •fechadas" , encontradas em grande variedade por 
todo o mundo, às vezes patrulhadas por guardas de 
segurança privada. 
DOMINIO PÚBllCO JS 
Estação Central, 
Haarlem, Holanda 
"'""' ...... 
6 7 
10 11 
Rua holandesa, 
século XIX 
ALDEIA DE MóRBISCH, ÁUSTRIA (6·8) 
As ruas na aldeia austríaca de Mõrbisch, perto da fronteira 
húngara (publicado em Forum 9· 1959), têm portões largos, 
como os que dão acesso a fazendas - mas aqui dão acesso 
a ruas laterais ao longo das quais se situam residências, 
estábulos, celeiros e hortas. 
Estes exemplos mostram como são inadequados os 
termos público e privado, enquanto os áreas 
chamados semiprivodos ou semipúblicos, que muitos 
vezes estão espremidos no zona intermediário, são 
equívocos demais poro acomodaros sutilezas que 
devem ser levados em conto ao projetor cada espaço 
e cada área. 
• Onde quer que indivíduos ou grupos tenham o 
oportunidade de usar portes do espaço público poro 
seus próprios interesses, e apenas indiretamente no 
interesse dos outros, o caráter público do espaço é 
temporária ou permanentemente colocado em questão 
por meio do uso. Exemplos desse tipo podem ser 
encontrados em qualquer porte do mundo. 
Em Bali - mais uma vez usada como exemplo - o arroz é 
espalhado para secar em amplas áreas dos caminhos 
16 l lÇÓES OE ARQUITETURA 
públicos e até mesmo no meio-fio das estradas de 
macadame, onde permanece intocodo pelos veículos e 
pelos pedestres, pois todos estão conscientes da 
importância da contribuição de cada membro do 
comunidade paro a colheita de arroz. 19) 
Um outro exemplo de mistura do público com o privado é o 
roupa pendurada para secar nas ruas estreitas de cidades 
do sul da Europa: uma expressão coletiva de simpatia pelo 
lavagem de roupa de cada família, que fica pendurada 
numa rede de cabos que atravessa o rua de uma casa a 
outra. 
Nápoles 
u 
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Bl 
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o 
Outros exemplos são as redes e navios senda reparados 
nos cais de aldeias e portos pesqueiros, e o Dogon: a lã 
estirada na praça da aldeia. 
O uso do espaço público por residentes, como se fosse 
"privado", fortalece a demarcação por parte do 
usuário desta área aos olhos dos outros. A dimensão 
extra dado ao espaço público por essa demarcação 
sob a forma de uso paro objetivos privados será 
discutida detalhadamente mais adiante, mos antes 
devemos procurar saber quais os conseqüências que 
traz para o arquiteto. 
BIBllOTECA NACIONAL, PARIS, 1862-1868 / H. lABROUSTE 11 21 
No principal sala de leitura da Biblioteca Nacional em 
Paris, os espaços de trabalho individual, dispostos um em 
frente ao outro, são separados por uma "zona" média mais 
elevada; as lâmpadas no centro dessa prancha fornecem 
luz para as quatro superfícies de trabalho diretamente 
odiocentes. Esta zona central é mais acessível do que os 
espaços de trabalho individual, mais baixos, e tem como 
cloro objetivo o uso compartilhado por aqueles que se 
sentam de ambos os lados. 
EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER (13-191 
Há muitos anos, antes de se estabelecer a moda de 
"escrivaninha lisa", as escrivaninhas dos escritórios eram 
providas de pranchas que, quando as escrivaninhas eram 
colocadas uma contra a outra, formavam uma zona central 
semelhante às que dividem as mesas de leitura da 
Biblioteca Nacional em Paris. Por meio dessa articulação, 
reserva-se um lugar para os objetos compartilhados por 
diversos usuários, tais como telefones e vasos. O espaço 
sob as pranchas cria uma área maior de armazenamento 
privado para cada usuário individual. A articulação em 
termos de maior ou menor acesso (pública) também pode 
revelar sua utilidade nos detalhes. 
tN.H'O LATE-. E TMH'O TAASEIIIO J 
13 
12 U 
DOM ÍNIO PÚBllCO 17 
IJ 16 
17 18 
19 
)8 LIÇÕES DE ARQU ITETUR A 
Portas de vidro entre espoços igualmente públicos e Que 
portanto igualmente acessíveis, por exemplo, proporcionam con 
ampla visibilidade de ambos os lados, de modo que as terr 
colisões podem ser facilmente evitadas. Portas sem painéis poli 
transparentes têm de dar acesso a espaços mais privados, pod 
menos acessíveis. Quando um código desse tipo é adotado de l 
coerentemente em todo o edifício, é entendido racional ou ord4 
intuitivamente por todos os usuários do prédio e assim pode vez, 
contribuir para esclarecer os conceitos subjacentes à visil 
organização do acesso. Uma classificação adicional pode por 
ser obtida mediante a forma dos painéis de vidro, a tipo do acei 
vidro empregado: semitransparente ou opaco, ou a pad 
meia-porta. arq, 
detE 
por 
>rc1onam 
e as 
painéis 
ívadas, 
adotada 
onal ou 
~~m pode 
ai pode 
o tipa da 
Quando, ao projetar cada espaço e segmento, temos 
consciência do grou de relevância da demarcação 
territorial e das formas concomitantes dos 
possibilidades de "acesso" aos espaços vizinhos, 
podemos expressar essas diferenças pelo articulação 
de forma, material, luz e cor, e introduzir certo 
ordenamento no projeto como um todo. Isto, por suo 
vez, pode aumentar o consciência dos moradores e 
visitantes quanto à composição do edifício, formado 
por ambientes diferentes no que diz respeito ao 
acesso. O grou de acesso de espaços e lugares fornece 
padrões para o projeto. A escolha de motivos 
arquitetônicos, suo articulação, formo e material são 
determinados, em porte, pelo grau de acesso exigido 
par um espaço. 
DOMÍNIO PÚSIICO 19 
20 
21 22 23 
24 
3 DIFERENCIACÃO 
TERRITORIAL 
20 llÇÕES DE ARQU ITE TURA 
~. -. - l J!ºSU!'I 
Escola Montessori, De/ft 
Hotel Solvay, Bruxelas, 1896/V. Horta 
{ver também página 84) 
Ao marcar as gradações de acesso público às 
diferentes áreas e partes de um edifício em uma 
planta, obtemos uma espécie de mapa mostrando a 
"diferenciação territorial". Este mapa mostrará 
claramente que aspectos de acesso existem na 
arquitetura, quais são as demarcações de áreas 
específicas e a quem se destinam, e que espécie de 
divisão de responsabilidades pode ser esperada no 
que diz respeito aos cuidados e à manutenção dos 
diferentes espoços, de modo que essas forças possam 
ser intensificadas (ou atenuadas) na elaboração 
posterior da planta. 
DOhÍN IO PÚS llCO 21 
25 26 
27 28 
29 
4 ZONEAMENTO 
TERRITORIAL 
30 
22 llÇÕES DE ARQU ITE TURA 
O caráter de ceda área dependerá em grande parte 
de quem determina o guarnecimento e o ordenamento 
do espaço, de quem está encarregado, de quem zela e 
de quem é ou se sente responsável por ele. 
arte 
rnento 
zela e 
EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS (ENTRAAL BEHEER (3D, 31) 
Os efeitos surpreendentes obtidos pelos funcionários do 
Centraal Beheer na maneira como ordenaram e 
personalizaram o espaço de seus escritórios com cores de sua 
escolha, vasas e objetos de estimação, não são apenas a 
conseqüência lógica do fato de o acabamento dos interiores 
ter sido deliberadamente entregue aos usuários do edifício. 
Embora a nudez do interior severo e cinzento seja um convite 
DOM ÍNIO PÚB LI CO 23 
31 
32 
33 
óbvio para que os usuários dêem os toques de acabamento 
ao espaço de acordo com seus gostos pessoais, isto, por si só, 
não é garantia de que irão fazê·lo. 
É preciso algo mais para que isso aconteça: para começar, a 
própria forma do espaço deve oferecer as oportunidades, 
incluindo as acessórios básicos, etc., para que os usuários 
preencham os espaços de acordo com suas necessidades e 
desejos pessoais. Mas, além disso, é essencial que a 
liberdade de tomar iniciativas pessoais esteja presente na 
estrutura organizacional da instituição, e este aspecto tem 
24 llÇÕES DE AIQU IE1UIA 
conseqüências muito maiores do que se pode pensar à 
primeira vista. Pois a questão fundamental é saber quanta 
responsabilidade a alta direção está disposta a delegar, isto 
é, quanta responsabilidade será dada aos usuários 
individuais dos escalões mais baixos. 
É importante ter em mente que, neste caso, um empenho tão 
excepcional para investir amor e cuidado no ambiente de 
trabalho só se tornou possível porque a responsabilidade de 
ordenamento e acabamento dos espaços foi deixada aos 
usuários, de maneira muito explícito. Foi graças a isso que as 
oportunidades oferecidas pelo arquiteto foram efetivamente 
aproveitodas, gerando um resultado de êxito surpreendente. 
Mas, se este edifício foi originalmente construído como uma 
expressão espacial da necessidade de um ambiente mais 
humano (embora muitos suspeitassem que isso teria sido 
motivado por considerações relativas ao recrutamento de 
pessoal!, há no momento uma tendência para a 
desumanização, em grande parte decorrente de cortes nos 
custos, que afetam particularmente a quadro de funcionários. 
Mas pelo menos pode·se dizer que o edifício oferece uma 
resistêncialouvável a essa tendência, e que, com um pouco 
de sorte, conseguirão conservar o seu estilo. O que desaponta 
é que o que pensávamos ser um passo inicial rumo a uma 
responsabilidade maior para com os usuários revelou ser 
apenas o último passo que pode ser dado no momento. 
Hoje, isto é, em 1990, restou muito pouco da decoração 
expressiva e colorida dos ambientes de trabalho. O apogeu 
da expressividade pessoal da década de 1970 deu lugar à 
limpeza e à ordem. Parece que o impulso de expressão 
pessoal desapareceu e que neste momento as pessoas tendem 
mais ao conformismo. Talvez em razão do medo diante do 
crescente desemprego da década de 1980, considera·se mais 
sensato assumir uma posição menos extrovertida, e os efeitos 
dessa situação já podem ser vistos na atmosfera fria e 
impessoal da maioria dos escritórios de hoje. 
FACULDADE DE ARQUl'ETURA DO MIT, CAMBRIDGE, USA 
OFICINA DE TRABALHO 1967 (32, 33) 
O grau de influência que os usuários podem exercer, em 
casos extremos, sobre seu ambiente de trabalho ou de 
moradia é claramente demonstrado nos ajustes feitos à 
arquitetura existente pelos estudantes de arquitetura do MIT. 
Os estudantes opuseram-se a ter de trabalhar em 
pranchetas de desenho arrumadas em filas longas e 
rígidas, todas voltadas na mesma direção. Usando restos de 
material de construção, eles construíram o tipo de espaço 
que queriam - no qual podiam trabalhar, comer, dormir e 
receber seus orientadores. 
Seria de esperar que cada novo grupo de estudantes 
desejasse fazer seu próprio ajuste, mas a situação evoluiu 
de outra maneira. O resultado da feroz disputa com as 
autoridades locais de prevenção a incêndios foi que todas 
as estruturas teriam de ser derrubadas, a menos que um 
sistema completo de sprinklers fosse instalado. Depois que 
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essa providência foi tomada, a situação tornou-se 
permanente, e o ambiente, se é que ainda existe, pode ser 
visto como um monumento ao entusiasmo de um grupo de 
esludantes de arquitetura. Mas não devemos nos 
surpreender se tudo já não foi eliminado (ou venha a sê-lo) 
- o burocracia da administração centralizadora voltou a 
msumir o controle. 
A influência dos usuários pode ser estimulada, pelo 
as menos nos lugares certos, i.e., onde se pode esperar o 
envolvimento necessário; e como isto depende do grau 
de acesso, das demarcações territoriais, da 
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organização da manutenção e do divisão de 
responsabilidades, é essencial que o projetista esteja 
plenamente consciente desses fatores nas suas 
gradações adequadas. Nos casos em que a estrutura 
organizacional impede os usuários de exercerem 
qualquer influência pessoal em seu ambiente, ou 
quando a natureza de determinado espaço é tão 
pública que ninguém se sente inclinado a exercerem 
influência nele, não há motivo para que o arquiteto 
tente fazer uma contribuição nesse sentido. 
No entanto, o arquiteto ainda assim pode tirar 
vantagem da reorganização que o ato de ocupar um 
novo edifício sempre requer e tentar exercer alguma 
influência na reavaliação da divisão de 
responsabilidades, pelo menos no que diz respeito ao 
ambiente físico. Uma coisa pode levar à outra. Pelo 
simples fato de apresentar argumentos capazes de 
assegurar à alta direção de que delegar 
responsabilidades pelo ambiente aos usuários não 
resulta necessariamente em caos, o arquiteto coloca-se 
em posição de contribuir para melhorar as coisas, e 
certamente é seu dever fazer pelo menos uma tentativa 
nesse sentido. 
ESCOLA MONTESSORI, ÜELFT (34, 35) 
Uma prancha de madeira acima da porta, com uma 
largura extra para que sobre ela possam ser colocados 
objetos - como neste caso entre a sala de aula e o ha/1-, 
presta-se mais a ser usada se for acessível pelo lado 
adequado, i.e., pelo lado de dentro da sala de aula. A 
estante acima pode criar um efeito estético agradável se a 
vidraça for recuada, mas é improvável que seja usada. 
EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAL BEHEER (36-391 
Embora o cuidado pelos espaços dos escritórios no edifício 
Centraal Beheer, nos quais cada funcionário tem sua 
própria ilha particular para trabalhar, seja da 
responsabilidade dos usuários, nenhum membro do quadro 
de funcionários sente-se diretamente responsável pelo 
espaço central do edifício. A área verde neste espaço 
central é mantida por uma equipe especial (cf. Obras 
DOMÍNIO PÚBLICO 25 
34 35 
36 37 
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38 
39 40 
Públicas), e os quadros nas paredes são colocados por uma 
equipe de profissionais. 
Estes empregados também fazem seu trabalho com grande 
dedicação e cuidado, mas há uma diferença de atmosfera 
marcante entre a área comunitária e os espaços individuais 
de trabalho com toda a sua diversidade. 
Nos balcões de lanches deste espaço central, o serviço é 
feito pela mesmo moça todo dia; o serviço de lanches foi 
organizado de tal modo que cada garçonete foi alocada 
num balcão específico. Ela se sentia responsável por aquele 
balcão e, com o tempo, acabou por considerá-lo seu 
26 LIÇÕES OE ARQUITETURA 
domínio, dando-lhe um taque pessoal. Estes balcões de café 
já foram removidos, e bancos e máquinas de café foram 
instalados em seu lugar. Todo o edifício está passando por 
uma renovação e uma limpeza, e durante este processo um 
grande número de ajustes será feito para atender aos 
requisitos de um local de trabalho contemporâneo. 
CENTRO MUSICAL VREDENBURG 140) 
A idéia subjacente que teve êxito no Centraal Beheer não 
se aplica aos balcões de lanches do Centro Musical em 
Utrecht. Ali a situação varia consideravelmente de um 
concerto paro outro, com diferentes balcões e diferentes 
balconistas servindo o público. Já que, no caso, não se 
esperava uma afinidade especial entre os empregados e os 
espaços específicos de trabalho, havia motivo suficiente 
para que as áreas de lanches fossem completadas e 
inteiramente mobiliadas pelo arquiteto. 
Em ambos os edifícios - no Centraal Beheer e no Centro 
Musical - as paredes dos fundos são providas de espelhos. 
No primeiro, porém, eles foram instalados pelos 
funcionários e no segundo foram escolhidos pelo arquiteto 
de acordo com os mesmos princípios gerais que regem todo 
o edifício. Os espelhos da parede dos fundos permitem que 
se possa ver quem está à frente, atrás e perto de nós. 
Eles evocam as pinturas de teatro de Manel 141), que usou 
espelhos para desenhar o espaço dentro do plano do 
quadro e, assim, definir o espaço mostrando as pessoas e 
como estão agrupadas. 
O Centro Musical tem um quadro de funcionários 
competente e dedicado que cuida do lugar. 
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O mesmo não pode ser dito, por exemplo, dos vagões de 
refeição das ferrovias holandesas: os garçons 
constantemente trocam de trem. Seu único compromisso 
consiste em deixar o vagão limpo e asseado para o turno 
seguinte. Imagine como as coisas seriam diferentes se o 
mesmo garçom trabalhasse sempre no mesmo trem. Embora 
o vagão-restaurante tenho desaparecido - dos trens 
holandeses pelo menos-, uma novo forma de serviço 
surgiu nas viagens aéreas. Mas os refeições servidas nos 
aviões são mais uma imposição ao passageiro do que um 
serviço; são servidos em horas que convêm mais à 
companhia do que ao passageiro (além de serem muito 
caras, pois erlão incluídos no preço já bastante oito da 
passagem). 
Do Lufthansa 
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DO.IÍNIO PÚ Bl lCO 27 
S DE USUÁRIO 
A MORADOR 
A tradução dos conceitos de "público" e "privado" à 
luz de responsabilidades diferenciadas torna mais fácil 
para o arquiteto decidir onde devem ser tomadas 
medidas para que os usuários/habitantes possam dar 
suas contribuições ao projeto do ambiente e onde isto 
é menos relevante. Na organização de um projeto em 
função de plantas-baixas e de cortes, e tambémde 
acordo com o princípio dos instalações, podem-se criar 
os condições poro um maior senso de responsabilidade 
e, conseqüentemente, também um maior envolvimento 
no arranjo e no mobiliamento de uma área. Deste 
modo os usuários tornam-se moradores. 
ESCOLA MONTESSORI, DELFT 144-47) 
As solos de aula desta escalo são concebidas como unidades 
autônomas, pequenos lares, por assim dizer, já que todas 
estão situadas ao longo do ha/1 da escola, como uma ruo 
comunitário. A professoro, o "tio", de cada caso decide, junto 
com os crianças, que aparência terá o lugar e, portanto, qual 
será o seu tipo de atmosfera. 
Cada saio de aula também tem seu pequeno vestíbulo, em vez 
do usual espaço comunitário paro todo a escola, que em 
geral significa o ocupação total do espaço por filos de 
cabides e sua inutilização poro qualquer outro fim. E, se cada 
sola de aula tivesse seu próprio banheiro, isto também 
28 llÇÔES DE ARQU ITETURA 
contribuiria poro aprimorar o sentido de responsabilidade da 
criança (a proposto foi rejeitado pelas autoridades 
educacionais sob o pretexto de que seriam necessários 
banheiros separados paro meninos e meninos - como se fosse 
assim na coso deles-, o que exigiria o dobro de banheiros). 
É perfeitamente concebível que os crianças de cada solo 
mantenham seu "lar" limpo, como os pássaros fazem com seu 
ninho, dando deste modo expressão à ligação emocional com 
seu ambiente diário. 
A idéia Montessori, na verdade, compreende os chamados 
deveres domésticos como parte do programa diário paro 
todos as crianças. Assim, dá-se muita ênfase ao cuidado com 
o ambiente, fortalecendo com isso a afinidade emocional das 
crianças com o espaço à suo volta. 
Cada criança também pode trazer sua própria planto paro a 
sala de aula e cuidar dela. (A consciência do ambiente e o 
necessidade de cuidar dele ocupam um lugar proeminente no 
conceito de Montessori. Exemplos típicos são o tradição de 
trabalhar no assoalho sobre tapetes especiais - pequenas 
áreas temporárias de trabalha que são respeitados pelos 
outros - e a importância atribuído ao hábito de arrumar as 
coisos em armários abertos.) Um passo à frente, no sentido de 
uma abordagem mais pessoal poro os espaços que circundam 
diariamente os crianças, incluiria a possibilidade de regular o 
aquecimento central de cada saio. Isso aumentaria a 
consciência dos crianças quanto ao fenômeno do calor e ao 
cuidado que temos de tomar paro nas mantermos aquecidos, 
ao mesmo tempo em que os tornaria mais conscientes dos 
usos da energia. 
Um "ninho seguro" - um espaço conhecido à nosso 
volto, onde sabemos que nossos coisas estão seguras e 
onde podemos nos concentrar sem sermos perturbados 
pelos outros - é algo de que cada indivíduo precisa 
tonto quanto o grupo. 
Sem isso, não pode haver colaboração com os outros. 
Se você não tem um lugar que possa chamar seu, você 
não sabe onde está! 
Não pode haver aventuro sem uma base paro onde 
retornar: todo mundo precisa de alguma espécie de 
ninho poro pousar. 
O domínio de um grupo particular de pessoas deveria ser 
respeitado tanto quanto possível pelos "estranhos". Por esta 
razão, há certos riscos ligados ao chamado uso 
multifuncional. Vamos tomar como exemplo uma solo de 
aula: se é usada poro outros finalidades foro do horário 
escolar, por exemplo, para atividades da vizinhança, todo 
o mobília tem de ser deslocado temporariamente e, claro, 
nem sempre é colocoda de volto o seu lugar adequado. Em 
tais circunstâncias, figuras de borro modelado deixadas 
paro secar, por exemplo, podem ser quebrados 
"acidentalmente" com facilidade, ou então o apontador de 
lápis de alguém pode desaparecer. 
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É importante que os crianças possam exibir os coisas que 
fizeram, digamos, na ouia de trabalhos manuais, sem medo 
de que possam ser destruídas, e que possam também deixar 
trabalhos inacabados sem que haja o perigo de serem 
retirados ou "arrumados" por "estranhos". Afinal de contas, 
uma faxina completa feita por outra pessoa pode fazer 
30 LIÇÕES DE ARQU ITETURA 
alguém sentir-se perdido em seu próprio espaço na manhã 
seguinte. 
Uma sala de aula, concebida como o domínio de um 
grupo, pode mostrar sua própria identidade ao resto da 
escola se lhe for dada a oportunidade de fazer uma 
exposição das coisas com as quais o grupo está 
especialmente envolvido (coisas que as crianças fizeram 
dentro ou fora da sala de aula). Isto pode ser executado de 
modo informal usando-se a divisória entre o ha/1 e a sala 
de aula como espaço de exposição e abrindo-se muitas 
janelas com peitoris generosos na divisória. 
Um pequeno mostruário (neste caso, até iluminado) é um 
desafio para o grupo apresentar-se de maneira mais 
formal. O exterior da sala de aula pode então funcionar 
como uma espécie de "vitrine" que mostra o que o grupo 
tem a "oferecer". 
Desse modo, cada turma pode apresentar uma imagem com 
que os outros podem se relacionar e que marca a transição 
entre cada sala de aula e o espaço comunitário do ha/1. 
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ESCOLAS APOLLO 148-50) 
Se o espaço entre os solos de aula foi usado poro criar 
áreas semelhantes o alpendres, como no escola Montessori 
de Amsterdom, essas áreas podem servir como lugares de 
lrabalho adequados onde se pode estudar sozinho, i.e., 
sem estar no solo de aula mos também sem ficar isolado 
desta. Esses lugares consistem numa superfície de trabalho 
com iluminação próprio e num banco encostado o uma 
porede baixo. Paro regular o contato entre o solo de aula e 
o ha/1 da maneira mais sutil possível, foram instalados 
meias·portos, cujo ombigüidade pode gerar o grau 
adequado de abertura poro o ha/1 e, ao mesmo tempo, 
oferecer o isolamento necessário o cada situação. 
Aqui encontramos mais uma vez !como no escola de Delft) 
o mostruário de vidro contendo o museu-miniaturo e o 
e~osição da solo de aula. 
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6 O "INTERVALO" 
O significado mais amplo do conceito de intervalo foi 
introduzido em Forum 7, 1959 (La plus grande réalité 
du seuil) e em Forum 8, 1959 (Das Gestalt gewordene 
Zwischen: the concretization of the in-between) 
A soleira fornece a chave para a transição e a conexão 
entre áreos com demarcações territoriais divergentes e, 
na qualidade de um lugar por direito próprio, constitui, 
essencialmente, a condição espacial para o encontro e 
o diálogo entre áreas de ordens diferentes. 
32 LIÇÕES DE ~ROUIIETUIA 
O valor deste conceito é mais explícito na soleira par 
exce//ence, a entrada de uma casa. Estamos lidando 
aqui com a encontro e a reconciliação entre a rua, de 
um lado, e o domínio privado, de outro. 
A criança sentada no degrau em frente à sua casa está 
suficientemente longe da mãe para se sentir independente, 
para sentir a excitação e a aventura do grande 
desconhecido. 
Mas, ao mesmo tempo, sentada ali no degrau, que é parte 
da rua assim como da casa, ela se sente segura, pois sabe 
que sua mãe está por perto. A criança se sente em casa e 
ao mesmo tempo no mundo exterior. Esta dualidade existe 
graças à qualidade espacial da soleira como uma 
plataforma, um lugar em que os dois mundos se superpõem 
em vez de estarem rigidamente demarcados. 
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ESCOLA MONTESSORI, DELFT 152-56) 
A entrado de uma escola primária devia ser mais do que 
uma mero abertura através da qual as crianças são 
engolidos quando as aulas começam e expelidos quando 
dos terminam. Deveria ser um lugar que oferecesse algum 
tipo de conforto poro as crianças que chegam cedo e poro 
os alunos que não querem ir logo poro casa depois dasaulas. 
As crianças também têm seus encontros e compromissos. 
Muros baixos em que se possa sentar são o mínimo a se 
oferecer; um conto bem obrigado é melhor, mos o melhor 
mesmo seria uma área coberto poro quando chove. 
A entrado de um jardim-de-infância é freqüentada pelos 
pois - ali eles se despedem de seus filhos e esperam por 
~es quando as aulas terminam. Os pois que esperam os 
fillios têm assim uma bela oportunidade poro se conhecer e 
poro combinar visitas das crianças às casos dos colegas. 
Em sumo, este pequeno espaço público, como local de 
encontro paro pessoas com interesses comuns, cumpre uma 
importante função social. Como resultado da mais recente 
lronsformoção, em 1981 (56), esta entrada não mais existe. 
DOMINIO PÚSL CO 33 
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DE ÜVERLOOP, LAR PARA IDOSOS 157, 581 
Uma área coberta na porta da frente, o começo da 
"soleira", é o lugar em que dizemos olá ou adeus aos 
visitantes, limpamos a neve das botas e penduramos o 
guarda-chuva. 
As entradas cobertas para os apartamentos do abrigo De 
Overloop, em Almere, são equipadas com bancos perto das 
portas da frente. As portas da frente estão dispostas de 
duas em duas para formar um alpendre combinado, o qual, 
porém, é dividido em entradas separadas por uma divisória 
vertical que se projeta a partir da fachada. As meias-portas 
permitem a quem esteja sentado do lado de fora manter 
contato com o interior do apartamento, de modo que se 
pode pelo menos ouvir o telefone tocar. Esta zona de 
entrada é vista como uma extensão da casa, como se pode 
perceber pelos capachos colocados do lado de fora. 
34 l l ÇOES Dl ARQU ITETURA 
Graças à saliência da cobertura, ninguém precisa esperar 
na chuva até que a porta seja aberta, enquanto a 
atmosfera hospitaleira do lugar dá a quem chega a 
sensação de que já está quase dentro da casa. 
Pode-se dizer que o banco na porta da frente é um motivo 
tipicamente holandês - pode ser visto em muitas pinturas 
antigas, mas, no nosso século, Rietveld, por exemplo, criou 
o mesmo arranjo, completado por uma meia-porta, em sua 
famosa casa Schrõder. Utrecht, 1924 1591 
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DE ÜRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS (60) 
Em situações nas quais possa ser necessário um contato 
entre o interior e o exterior - num lar para idases, por 
exemplo, alguns dos moradores passam boa parte de seu 
tempo na solidão de seus próprios quartos por causa da 
mobilidade reduzida, esperando que alguém vá visitá-los, 
enquanto outros moradores que ficam do lado de fora 
também gostariam de algum contato -, em tais situações, 
uma boa idéia é instalar portas com duas seções, de 
maneira que a porte de cimo posso ser mantido aberta e o 
parte de baixo fechada. Essas "meio-portos" constituem um 
claro gesto de convite: o porta está aberta e fechada ao 
mesmo tempo, i.e., suficientemente fechada para evitar que 
as intenções dos que estão lá dentro fiquem 
demasiadamente explícitas, mas aberta o bastante para 
facilitar a conversa casual com quem está passando, o que 
pode levar a um contato mais íntimo. 
A concretização da soleira como intervalo significa, em 
primeiro lugar e acima de tudo, criar um espaço para 
as boas-vindas e as despedidas, e, portanto, é a 
tradução em termos arquitetônicos da hospitalidade_ 
Além disso, a soleira é tão importante para o contato 
social quanto as paredes grossas para a privacidade. 
Condições para a privacidade e condições para manter 
os contatos sociais com os outros são igualmente 
necessárias. Entradas, alpendres e muitas outras 
formas de espciços de intervalo fornecem uma 
oportunidade pcira a "acomodação" entre mundos 
contíguos. Esta espécie de dispositivo dá margem a 
certa articulação do edifício em foco, o que requer 
espaço e dinheiro, sem que sua função possa ser 
facilmente demonstrável - e ainda menos quantificável -, 
e, por esse motivo, torna-se muitas vezes difícil de 
realizar, exigindo esforço e trabalho de persuasão 
constante durante a fase de planejamento. 
RESIDÊNCIAS DOCUMENTA URBANA (61 -70) 
O edifício em forma de meandro, denominado "serpente", 
é composto de segmentos, cada um deles projetado por 
arquitetos diferentes. As escadas comunitárias foram 
colocadas numa situação de ampla luminosidade, bem 
maior que o do espaço residual costumeiro, em geral de 
pouca luminosidade. 
Numa residência para várias famílias, a ênfase não deve 
recair exclusivamente sobre medidas arquitetônicas 
destinadas a prevenir o barulho excessivo e a 
inconveniência dos vizinhos; uma atenção especial deve ser 
dado em particular à disposição espacial, que pode 
conduzir aos contatos sociais esperados entre os vários 
ocupantes de um mesmo edifício. Por conseguinte, 
atribuímos às escadas mais importância do que de costume. 
As escadas comunitárias não devem ser apenas uma fonte 
de aborrecimento no que diz respeito ao acúmulo de 
sujeira e à limpeza - devem servir também, por exemplo, 
como um playground para os crianças de famílias vizinhos. 
Por este motivo, foram projetados com o máximo de luz e 
abertura, como ruas com telhado de vidro, e podem ser 
avistados dos cozinhas. Os alpendres de entrado abertos, 
com duas portos, uma após o outro, expõem ao território 
comunitário um pouco mais de seus moradores do que os 
portos fechados tradicionais. 
Embora, naturalmente, tenha-se tomado cuidado poro 
assegurar o privacidade adequado nos terraços, as famílias 
vizinhos não estão de todo isolados umas dos outros. 
Procuramos projetar os espaças exteriores de tal modo que 
a vedação necessária roube o mínimo possível dos 
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36 l lÇÔES DE ARQUITETURA 
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condições espaciais para contatas entre os vizinhos. Tal 
expansão do espaço mínimo requerido para "finalidades de 
circulação" mostrou-se capaz não apenas de atrair as 
crianças - serve também como um lugar em que os vizinhos 
podem se sentar e conversar. Neste caso os moradores 
lambém providenciaram os equipamentos. 
Edifício ó direito: O. Steidle, arquiteta. DOM ÍNIO PÚ BLICO 37 
68 
69 
70 
Além da tradicional poria da frente, as moradias têm uma 
segunda porta de vidro que também pode ser trancada e 
que conduz à escada, obtendo-se assim um espaço de 
entrada aberto. Uma vez que esse espaço intermediário 
entre a escada e a poria da frente é interpretado de 
maneira diferente por pessoas diferentes - i.e., não apenas 
como parte das escadas mas também como uma extensão 
da casa -, é usado por alguns como um ha/1 aberto, no 
qual a atmosfera da casa pode penetrar. Deste modo, 
dependendo de qual das duas portas é considerada como a 
verdadeira porta da frente, os moradores podem expor sua 
38 LIÇ ÕE S DE ARQU ITETURA 
individualidade, em geral restrita à intimidade do lar, ao 
mesmo tempo em que a escadaria perde algo de sua 
característica de terra-de-ninguém e pode até adquirir u111-0 
atmosfera autenticamente comunitária. O princípio do 
caminho vertical para o pedestre, tal como aplicado no 
projeto habitacional de Kassel, foi posteriormente 
elaborado no conjunto habitacional LiMa em Berlim. 
As escadas desse conjunto conduzem a terraços 
comunitários nos telhados. No final, decidiu-se que não 
seria necessário incorporar as varandas para lazer 
previstas no projeto de Kassel, já que o pátio isolado 
oferecia o espaço de lazer adequado, especialmente para 
as crianças mais novas. 
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Grt NAPOlÉON, PARIS, 1849 / M. H. VEUGNY 171-74) 
A Cité Napoléon, em Paris, foi uma dos primeiros 
tentativas, e certamente o mais notável, de solução razoável 
para a problema do distância entre o ruo e o porta da 
frente num prédio residencial de muitos andares. Este 
espaço interior, com suas escadas e passarelas,evoco os 
edificações de vários andores de uma aldeia nas 
montanhas. Uma razoável quantidade de luz alcanço os 
andares mais altos através do telhado de vidro. 
Os moradores dos andores de cimo obrem suas janelos 
para este espaço interior, e o presença de vasos de plantas 
mostra, pelo menos, que as pessoas dão valor a esse 
detalhe. Embora não tenha sido possível - em que pesem as 
boas intenções dos construtores - transformar esse espaço 
interior (fechado como é em relação à rua ló fora) numa 
ruo interna verdadeiramente funcional segundo nossos 
padrões, não há dúvida de que este exemplo se desloco de 
maneira brilhante, sobretudo quando se penso em todas 
aquelas sombrios escadarias construídas desde 1849. 
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7 DEMARCACOES PRIVADAS 
I 
NO ESPACO PÚBLICO 
I 
O conceito de intervolo é a chove para eliminar a 
divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações 
territoriais. A questão está, portanto, em criar espaços 
intermediários que, embora do ponto de vista 
administrativo possam pertencer quer ao domínio 
público quer ao privado, sejam igualmente acessíveis 
para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente 
aceitável, para ambos os lados, que o "outro" também 
possa usá-lo. 
DE DRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS (75-77) 
Os corredores servem como ruos num edifício que deve 
funcionar como uma cidade para seus moradores, afetados 
por sérias limitações, já que o maior porte deles é incapaz 
de deixar a área sem ajuda. As unidades de habitação 
situados ao longo desta "ruo" têm, aos pores, áreas 
semelhantes o alpendres, que, por um lado, pertencem às 
habitações, mos, por outro, também fazem parte do "ruo". 
Os moradores colocam suas coisos ali, cuidam deste espaço 
e com freqüência criam plantas e flores ali, como se este 
fosse porte de suo próprio coso, uma espécie de varando 
no nível da ruo. Embora o área do alpendre seja 
completamente acessível aos transeuntes, permanece como 
porte da ruo. 
É extremamente difícil reservar os poucos metros quadrados 
necessários a um objetivo como esse dentro do infinito rede 
de regulamentos e normas que se referem às dimensões 
mínimas e máximos que governam cada um dos aspectos 
do projeto arquitetônico. 
No coso dos abrigos sociais, esse aspecto é considerado, 
40 LI ÇÕES DE ARQU:IEIURA 
do ponto de vista administrativo, como uma redução 
indevido do tamanho do unidade domiciliar, ou como uma 
expansão indevido do corredor: o funcionalidade de cada 
metro quadrado é, afinal, medido de acordo com o 
utilidade quantificável. O amor e o cuidado que os 
moradores investem neste espaço, que, estritamente, não é 
porte do apartamento, dependem de um detalhe 
aparentemente menor, ou seja, o janelo que lhes permite 
vigiar os objetos que foram colocados lá fora, não só como 
uma precaução contra o roubo, mos simplesmente porque é 
agradável poder ver os próprios coisos ou verificar como as 
plantas vão indo. O arquiteto preciso de uma dose 
incomum de engenhosidade poro que esta idéia consigo 
passar pela vigilância cuidadoso dos autoridades 
responsáveis pelo prevenção de incêndios. 
Os quadros de luz no "De Drie Hoven" perto dos portos do 
frente foram instalados em pequenos muretas salientes, de 
tal modo que se pode colocar facilmente um topete ao lado. 
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Usando pedaços de tapete, os moradores se apropriam do 
pequeno espaço assim criado e o equipam, estendendo desta 
maneira os limites de suo cosa além da parta da frente. 
Se incorporamos as sugestões espaciais adequadas em 
nosso projeto, os moradores sentem-se mais inclinados 
a expandir sua esfera de influência em direção à área 
público. Até mesmo um pequeno ajustamento, no 
forma de uma articulação espacial da entrada, pode 
ser o bostante poro estimular o expansão da esfera de 
influência pessoal, e, deste modo, a qualidade do 
espaço público será consideravelmente aprimorada no 
interesse comum. 
RESIDÊNCIAS DIAGOON (78-83) 
O que poderia ser feito com as calçadas nos II ruas 
residenciais", se coubesse aos moradores a 
responsabilidade pelo espaço, pode ser imaginado com 
base na experiência com as calçados em frente às 
residências Diagoon, em Delft. A área em frente às 
moradias não foi projetada como jardim; foi simplesmente 
pavimentada como uma calçado comum e, 
conseqüentemente, como parte do domínio público, 
embora, de modo estrito, não o seja. 
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k. áreas pertencentes às diversas casas não foram 
demarcadas, e o layout não contém nenhuma sugestão de 
demarcação privada. A pavimentação foi feito com blocos de 
concreto comum, o que desperto automaticamente associações 
com uma ruo pública porque os calçadas em geral são 
pavimentadas com o mesmo material. Os moradores então 
começaram a remover alguns dos blocos de concreto para 
colocar plantas no lugar. 11Dessous les povés la plage. 11 
O resto dos blocos foi deixado intacto para proporcionar um 
caminho até a porta ou um espaço para estacionar o corro 
do família perto da casa. Cada morador usa a área em frente 
à sua casa de acordo com suas necessidades e desejos, 
incorporando a parte da área de que necessito e deixando o 
resto acessível para o uso público. 
Se o layout tivesse partido da idéia de áreas separadas, 
privadas, então sem dúvida todos iriam usá-las ao máximo 
em seu pró.prio benefício, mos surgiria uma divisão 
irreversivelmente abrupto entre o espaço público e o 
privado, em vez da zona intermediária que foi criada, uma 
fusão do território estritamente privado das cosas e da área 
pública da rua. Nesta área de intervalo, entre o público e o 
privado, demarcações individuais e coletivas podem 
superpor-se e os conflitos resultantes devem ser resolvidos 
mediante um acordo entre as partes. É aqui que cada 
morador desempenho o papel que revelo o tipo de pessoa 
que quer ser e, por conseguinte, como desejo que os outros 
o vejam. Aqui se decide também o que o indivíduo e a 
coletividade podem oferecer um ao outro. 
DOMÍNIO PÚBLI CO 41 
78 
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81 81 
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85 86 
MORADIAS LIMA 184-89) 
O conjunto de moradias LiMa está localizado na ponta de 
uma área triangular, cuja esquina é ocupada por uma 
igreja. Os volumes desta igreja não se relacionam 
claramente com o alinhamento arquitetônico geral. 
42 l lÇÕES DE AR,)U IT ETURA 
Construir nesta ilha triangular implica manter a igreja à 
parte como uma estrutura destacada e autônoma. O pátio é 
bastante diferente do tradicional e muitas vezes deprimente 
pátio berlinense, e sua concepção é a de um espaço 
público com seis caminhos de acesso para os pedestres, 
incluindo conexões com a rua e com o pátio vizinho. Estes 
caminhos para pedestres constituem parte das escadarias 
comunitários. No centro do pálio há um amplo Ianque de 
areia dividido em segmentos, cujas laterais foram 
decoradas com mosaicos pelas próprias famílias dos 
moradores. 
Não foi difícil despertar o entusiasmo dos moradores - os 
quais já estavam profundamente interessados no projeto do 
pátio - especialmente depois que eles viram as fotografias 
do parque de Gaudí e as Torres Watt. A ajuda técnica e 
organizacional foi fornecida por Akelei Hertzberger, que 
empreendeu vários projetos semelhantes no passado com 
resultados igualmente bem-sucedidos. 
No começa, foram principalmente as crianças que 
contribuíram com seus "ladrilhos", mas logo em seguida os 
adultos aderiram, trazendo qualquer pedaço de cerâmica 
que pudessem obter. 
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Nenhum arquiteto hoje seria capaz de dedicar tanta 
atenção a um tanque de areia, nem isto seria necessário, 
porque é algo quepode ser deixado para os próprios 
moradores. É difícil imaginar uma maneira melhor de 
responder ao incentivo oferecido. Mas ainda mais 
importante é o fato de que o tanque de areia se tornou 
algo que pertencia a eles e um objeto de seus cuidados: se 
um fragmento do mosaico cai ou revela ser pontudo 
demai1, por exemplo, algo será feito sem que haja 
ne<essidade de reuniões especiais, cartas oficiais ou 
proces1os contra o arquiteto. 
Uma área de rua com o qual os moradores estão 
envolvidos, onde marcas individuais são criadas por 
eles próprios, é apropriada conjuntamente e 
transformada num espaço comunitário. 
DOMÍNIO PÚBLICO 43 
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