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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 2 ADMINISTRAÇÃO DO ESTRESSE .................................................... 4 2.1 MUDANÇA ORGANIZACIONAL ................................................... 6 3 O MODELO DE ESTRESSE E SUAS CONSEQUÊNCIAS. .............. 11 4 ADMINISTRANDO O ESTRESSE NAS EMPRESAS ........................ 14 5 SAÚDE MENTAL ............................................................................... 17 5.1 A mente adoece .......................................................................... 18 5.2 O custo do estresse .................................................................... 20 5.3 Tabu corporativo ......................................................................... 21 5.4 O tratamento ............................................................................... 23 6 REFERÊNCIAS ................................................................................. 25 7 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................ 27 7.1 O mundo contemporâneo do trabalho e a saúde mental do trabalhador..... .................................................................................................... 27 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 ADMINISTRAÇÃO DO ESTRESSE Google.com.br Nas últimas décadas, a vida dos trabalhadores está cada vez mais exigente e estressante. Nas organizações, além da pressão com relação ao tempo de cumprimento de metas estabelecidas, tanto pela a organização quanto por si próprio e a responsabilidade em atingi-las, existe a necessidade de o profissional estar em busca de contínua atualização. Em virtude destas pressões, o desgaste físico e emocional as quais as pessoas são submetidas nas relações com o ambiente de trabalho é um fator muito significativo na determinação de transtornos de saúde relacionados ao estresse, como é o caso das depressões, ansiedade, transtorno de pânico, fobias e doenças psicogênicas (GOLEMAN, 1997). Geralmente, no ambiente de trabalho das organizações, os estímulos estressantes são muito variados e em grande quantidade. Pode-se experimentar ansiedade significativa diante de descontentamentos com os colegas, diante da sobrecarga de trabalho, da corrida contra o tempo, diante da insatisfação salarial ou da política de recursos humanos da empresa, entre outras, e, dependendo da 5 pessoa, até mesmo com tarefas rotineiras de sua própria função dentro da empresa (SIMGEN, 2007). Muitos fatores emocionais relacionados ao próprio emprego na atualidade contribuem para que as pessoas se mantenham excessivamente estressadas, como por exemplo, a sensação de instabilidade no emprego, a sensação de insuficiência profissional, a pressão para comprovação de eficiência, a impressão continuada de estar cometendo erros profissionais, a falta de visão sobre a relevância social do seu trabalho, a percepção de falta de reconhecimento de seus esforços, entre outros (SIMGEN, 2007). Além disso, preocupações pessoais do funcionário não podem ser eliminadas simplesmente ao entrar no seu posto de trabalho. Toda a história de vida da pessoa está junto a ela em todos os momentos e quando ela está no seu ambiente de trabalho não é diferente. Seus conflitos, suas frustrações, suas desavenças conjugais, a preocupação com seus filhos, seus interesses e necessidades pessoais, todos estes fatores estão presentes. Percebe-se então, que a atividade profissional vem se sobrepondo a todas outras atividades humanas, estabelecendo-se a vida particular do trabalhador que acaba tendo seu tempo de lazer limitado e muitas vezes sua vida familiar e social totalmente prejudicada (SIMGEN, 2007). De acordo com Stoner e Freeman (1999, p.415): “O estresse nas organizações pode ser definido como “a tensão e pressão resultante de quando o indivíduo acha que uma situação apresenta exigências que ameaçam exceder suas capacitações ou seus recursos” De acordo com Certo (2003) há muitas razões válidas para o estudo do estresse, dentre elas a constatação de que o estresse pode ter efeitos psicológicos e fisiológicos nocivos à saúde dos funcionários e a suas contribuições para a eficiência da empresa. Outro ponto reside em que o estresse é a principal causa de falta e afastamento do trabalho, fator este, que pode limitar o potencial de êxito de uma empresa. Outro quesito refere-se ao funcionário estressado poder afetar a segurança de outros trabalhadores ou até mesmo do público. Por fim, o autor 6 destaca que o estresse representa um custo muito significativo para as empresas. Algumas estimativas indicam que o custo de problemas relacionados ao estresse para a economia norte-americana chegou a 150 milhões de dólares por ano. (CERTO, 2003). Robbins (2005), uma pesquisa realizada com funcionários norte- americanos, apresenta dado que comprovam a presença do estresse no ambiente de trabalho, bem como sua administração, tendo em vista que 54% dos entrevistados declararam ter excesso de carga no trabalho; 55% estão subjugados pelo excesso de trabalho; 59% não ter tempo para refletir; 56% não ter tempo para construir suas tarefas e; 45% precisam realizar muitas tarefas diferentes ao mesmo tempo. 2.1 Mudança Organizacional Google.com.br As mudanças estão em toda à parte: na tecnologia, na ciência, na medicina, no ambiente de trabalho, nas estruturas organizacionais, nos valores e costumes 7 sociais, na filosofia e até mesmo na religião. No entanto, há continuamente uma enorme necessidade de adaptação a estas mudanças (SIMGEN, 2007). Segundo Herzog (1991), mudança no contexto organizacional engloba alterações fundamentais no comportamento humano, nos padrões de trabalho e nos valores em resposta a modificações ou antecipando alterações estratégicas, de recursos ou de tecnologia. As necessidades de mudanças podem ser comparadas a um ciclo vicioso em que o momento presente está quase sempre exigindo mudanças e, essas mudanças acabam trazendo novos problemas, e estes problemas, despertam novas soluções, os quais passam a exigir novas mudanças e assim por diante. De acordo com França & Rodrigues (1999, p.106): "a capacidade de gerar riqueza é sinônimo de competência profissional e serve de índice de respeito e consideração que a sociedade emprestará a pessoa". Num modelo de sociedade cujo maior valor é a geração de riqueza econômica, o trabalhador muitas vezes é considerado apenas uma peça de uma engrenagem cruel e quando não funciona bem, é substituído (SIMGEN, 2007). Para Goleman (1998) as constantes mudanças exigem alterações de papeis sociais de forma rápida e muitas vezes,sem o devido período de transição. Segundo França & Rodrigues (1999, p.107), "papel é toda função, acompanhada de um conjunto de condutas próprias para aquela função, que a pessoa desempenha em determinado momento de sua vida" A progressiva exigência de qualidade nos produtos e serviços, juntamente com a necessidade de redução de despesas nas empresas tem induzido as mudanças e acúmulo de papeis, determinadas por diversos fatores como: as mudanças determinadas pela empresa, devida á novas tecnologias, devidas ao mercado e mudanças auto impostas para sobrevivência no mercado de trabalho. Para Maslach (1998), é de muita importância que a pessoa desempenhe um papel adequado e coerente com suas condições pessoais e profissionais, pois isso motiva e facilita o bom desempenho. 8 As mudanças organizacionais podem ser originadas por uma nova chefia ou devido à nova orientação geral da empresa, seja por causa de alguma fusão ou aquisição da empresa. Normalmente esse tipo de mudança gera muita insegurança aumentando o nível de estresse já pré-disposto (SIMGEN, 2007). As mudanças ocorrem continuamente na vida e os organismos devem estar preparados para se adaptar a elas o mais rapidamente possível a fim de garantir a sobrevivência. O estresse funciona como um mecanismo de adaptação, necessário para estimular o organismo e melhorar sua atuação diante de circunstâncias novas (SIMGEN, 2007). Um fator a ser considerado nas empresas ao se pensarem em mudanças, é como as pessoas serão afetadas por esta mudança. Com relação a isto, dois fatores são levados em consideração: a usual resistência dos funcionários a mudança e; de que maneira é possível reduzir esta resistência (CERTO 2003). Estratégias estão sendo utilizadas por empresas, na tentativa de redução da resistência a mudanças, tais como: evitar surpresas; promover compreensão efetiva da mudança; criar um ambiente propício a mudança e; proposta de uma mudança provisória. No entanto, de acordo com Certo (2003 p. 277), “Sempre que a gerência implementar mudanças, deverá se preocupar com o estresse que pode estar gerando. ” Esta questão paira na constatação de que, caso o estresse seja significativo, poderá até mesmo anular as melhorias previstas como resultado das mudanças, podendo o estresse fazer com que a empresa seja menos eficaz do que era entes da tentativa de mudança. O estresse é a alteração global de nosso organismo para adaptar-se a uma situação nova ou às mudanças de um modo geral (DEITOS, 1997). O mal-estar físico que um indivíduo sente ao enfrentar algum fator nocivo do meio é chamado estresse (CERTO, 2003). Estresse é um estado emocional desagradável que ocorre quando as pessoas estão. Inseguras de sua capacidade para enfrentar um desafio percebido em relação a um valor importante (WAGNER III; HOLLENBECK, 2000). 9 Para Chiavenato (1999, p. 377), estresse é “um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa a estímulos ou estressores no ambiente”. De acordo com Robbins (1999, p. 409), estresse “é uma condição dinâmica na qual um indivíduo é confrontado por uma oportunidade, restrição ou exigência relacionada ao que ele deseja e pela qual o resultado é percebido como sendo tanto incerto, quanto importante”. O estresse é um mecanismo normal e necessário ao organismo, pois faz com que o ser humano fique mais ativo e sensível diante de situações do dia-a-dia que exijam respostas ou adaptações, diante do perigo ou de dificuldade. Mesmo situações consideradas positivas e benéficas, como por exemplo, promoções profissionais, casamentos desejados, nascimento de filhos, etc., podem produzir estresse significativo. De fato, o estresse é um mecanismo essencial para o desenvolvimento de nossa sociedade e ele, em si, não é bom nem ruim (DEITOS, 1997; GOLEMAN, 1997). De acordo com França & Rodrigues (1999, p.18), "não existem evidencias cientificas de que as pessoas na atualidade sofram mais com o estresse do que em outras épocas, onde o esforço, para simplesmente manter-se vivo, era seguramente, maior". O estresse sofrido na atualidade é diferente do que foi vivenciado em outras épocas devido à tendência secular de aceleração das mudanças impostas, principalmente, pela globalização da economia e pela decadência cultural resultante do mau uso dos meios de comunicação em massa que acabam modificando os valores e criando necessidades de consumo não existentes em épocas passadas. Isso é novo ao ser humano e perigoso à sua saúde. A velocidade sem precedentes com a qual as mudanças e as exigências que elas propiciam acontecem na vida moderna, é um fator de constante preocupação para as pessoas (SIMGEN, 2007). Nassif e Marasea (2004, p. 6) relatam que o estresse pode ser gerado pelo trabalho, em casa, entre os relacionamentos, como resultado de um conflito emocional interno, pelo ambiente, pela dieta, por doença e pela insegurança financeira, assim como por importantes eventos da vida – desde o nascimento até 10 o luto, casamento ou divórcio. A falta de estímulo pode ser tão estressante quanto o excesso, tornando prejudicial quando não se podem controlar as respostas a ele. Segundo Zakabi (2004), o estresse não é necessariamente negativo, pois o aumento da adrenalina melhora o desempenho físico e intelectual de maneira estrondosa. Quando bem usado, ajuda a superar desafios. No entanto, para se tirar proveito da energia do estresse é preciso aprender a intercalar os períodos de tensão, que são essenciais para o desempenho, com pausas de relaxamento para se recuperar. Portanto, do ponto de vista físico, o estresse é um banho de pura energia, porém, se ocorrer com frequência e por períodos prolongados, torna-se devastador para a saúde e para a qualidade de vida. Chiavenato (1999, p. 378) afirma que “o estresse não é necessariamente disfuncional” e que “um nível modesto de estresse conduz a maior criatividade quando uma situação competitiva conduz a novas ideias e soluções”. Afinal, pequenas pressões não são preocupantes desde que conduzam a resultados positivos. De acordo com Maddi e Kobasa (1984) apud Stoner e Freeman (1999, p. 416), “a capacidade das pessoas de lidar com o estresse resulta do estilo pessoal e da personalidade; de apoio social; de predisposição física e de práticas saudáveis”. Quando uma pessoa está sob tensão constante, a produtividade melhora, mas só até certo ponto, pois a pessoa atinge seu rendimento máximo quando está próxima do seu limite físico e psicológico. Depois que chega ao limite, despenca. O limite só pode ser estabelecido individualmente pelo modo com que cada um responde a situações estressantes (ZAKABI, 2004). 11 3 O MODELO DE ESTRESSE E SUAS CONSEQUÊNCIAS. Google.com.br O estresse ocasionado pelas constantes mudanças organizacionais, representa um grande perigo à saúde das pessoas, saúde aqui entendida como define a Organização Mundial de Saúde, como o mais completo possível estado de bem-estar físico, emocional, social, intelectual e espiritual (SIMGEN, 2007). O estresse relacionado ao trabalho está em crescimento constante, e é por isso que as pessoas têm ideias gerais de que como pode ser um trabalho estressante (difícil, desconfortável, exaustivo e até aterrorizante em certos momentos). De acordo com Certo (2003) as principais consequências são: Fadiga constante; pouca energia; Mudança de temperamento; Aumento de agressividade; Uso excessivo de álcool; Explosões de temperamento; Apetite compulsivo; altos níveis de ansiedade; Preocupação crônica. Robbins (2005) contextualiza sobre as causas do estresse, suas consequências para os funcionários e por que determinadas condições criam estresse para algumas pessoas e parecem não ter nenhum efeito sobre outras. A figura 01 oferece um modelo que tenta ajudar a responder alguns destes contextos.12 Na figura 01 pode-se identificar três conjuntos de fatores, ambientais, organizacionais e individuais, que agem como fontes potenciais de estresse. A concretização do estresse depende de diferenças individuais, como experiência no trabalho e personalidade. Quando uma pessoa passa por situações de estresse, poderá ter sintomas físicos, psicológicos e comportamentais. Compartilhando do mesmo ponto de vista, para Moraes et al (2000, p. 4), “o estresse ocupacional pode ser vinculado ao ambiente de trabalho no qual o indivíduo está inserido”, ou seja, está vinculado às diversas questões relacionadas ao trabalho e à organização, assim como aos aspectos ergonômicos e espaciais. Assim sendo, Robbins (1999) destaca a existência de três fontes potenciais de estresse: Fatores ambientais, como: incerteza econômica, política e tecnológica; Fatores organizacionais: exigências da tarefa, do papel e interpessoais; estrutura e liderança organizacional; ruído ambiental; segurança e tranquilidade no trabalho; insatisfação pessoal e o estágio de vida da organização; Fatores individuais: problemas pessoais, familiares, conjugais, legais e econômicos, além da personalidade do indivíduo. 13 Figura 01: Modelo de Estresse Fonte: ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. São Paulo. Prentice Hall, 2005. p. 440. Outro ponto apresentado no modelo são as fontes potenciais de estresse. Estas fontes são divididas em fatores ambientais, organizacionais e individuais. Como principais consequências do estresse, o modelo resume em três categorias gerais: sintomas físicos, psicológicos e comportamentais. Um fato que não pode ser desprezado é que os fatores de estresse são cumulativos, tendo em vista que o estresse se intensifica e, para avaliar o nível de estresse enfrentado por uma pessoa, tem-se que de somar todos os fatores de oportunidade, de limitações e de demandas (ROBBINS, 2005). Acerca das possíveis consequências causadas pelo estresse, Robbins (1999) tenta dividi-las em duas partes: a primeira fase é do alarme, onde a pessoa identifica a ameaça física ou psicológica através dos mais variados sintomas, tais como: dores de cabeça; pressão alta; dores nos ombros e coluna; doenças cardíacas e distúrbios gástricos; nervosismo; ansiedade; angústia; depressão; irritabilidade acentuada; reclamações e insatisfação no trabalho; abuso de drogas; 14 alienação; redução de relações interpessoais; aumento do absenteísmo e rotatividade; diminuição na produtividade e na qualidade dos produtos e/ou serviços. A segunda fase é da resistência, em que a pessoa se torna “elástica” às pressões criadas pela ameaça inicial. Nessa fase, todos os sintomas anteriores desaparecem (WAGNER III, 2000, p. 124). Sabendo-se que o estresse se faz notar de várias maneiras, compreender como o estresse influencia no desempenho dos funcionários, bem como, no desempenho da própria organização torna-se necessário. É neste sentido que a administração do estresse se torna uma importante ferramenta organizacional (SIMGEN, 2007). 4 ADMINISTRANDO O ESTRESSE NAS EMPRESAS Google.com.br O novo ambiente se trabalho é cada vez mais caracterizado por funcionários que assumem cargas e horários de trabalho maiores, dispõem de menos recursos com que trabalhar, enfrentam mais ambiguidades no dia a dia e menos segurança 15 no emprego, mudanças estas que são uma das causas importantes de estresse para os funcionários. (ROBBINS, 2006). Na concepção de Certo (2003) como estresse está presente na vida de todos os funcionários de uma empresa, os conceitos de administração desse estresse são importantes para todas as empresas. O mesmo autor sugere que a administração nas empresas deve levar em consideração a compreensão de que modo o estresse influencia o desempenho do funcionário; a identificação de quando existe estresse nocivo à saúde na empresa e; a necessidade de ajudar os funcionários a lidar com o estresse. Outro ponto crucial na administração do estresse reside na tentativa de reduzir os fatores estressantes na empresa, tendo em vista que é raro que o estresse diminua sem que os fatores que causam o estresse sejam assimilados de modo satisfatório ou eliminados do ambiente. (CERTO, 2003). Existem coisas que a administração pode fazer para monitorar o impacto negativo do estresse sobre seus funcionários. Algumas delas são: melhor seleção de pessoal, definição realista de metas, treinamento na administração do tempo, redesenho de cargos, maior envolvimento dos funcionários, ampliação das redes de apoio social, melhor comunicação organizacional e criação de programas de bem-estar apoiados pela organização (ROBBINS, 2006). Robbins (2005) divide a administração do estresse em duas abordagens: a individual e a organizacional. A abordagem individual pressupõe que o funcionário pode assumir a responsabilidade de reduzir seu próprio nível de estresse, para isso, utiliza de estratégias individuais eficazes tais como técnicas de administração do tempo, aumento de exercícios, treinamento para o relaxamento e expansão da rede de apoio social. De acordo com Chiavenato (1999), para reduzir o estresse, as pessoas devem utilizar técnicas de administração de tempo (agendando e priorizando as atividades diárias, os objetivos individuais e organizacionais); fazer exercícios físicos (como natação, caminhada, ginástica e andar de bicicleta); treinamento de relaxamento e meditação; uso das técnicas de biofeedback para ajudar as pessoas a aprenderem como detectar e controlar mudanças físicas relacionadas ao estresse; 16 além da expansão da rede de suporte social, ou seja, ter amigos, familiares ou um profissional especializado (psicólogo, terapeuta) que esteja disposto a ouvir e ajudar. No que se refere à abordagem organizacional, parte-se do princípio que diversos causadores do estresse, dentre eles as demandas de tarefas e de papéis, além da estrutura organizacional, são controladas pelos executivos, e podem ser se necessário modificados. Visando a administração do estresse, algumas estratégias mostram-se eficazes neste processo tais como a melhoria do processo de seleção e colocação de pessoal, a fixação de objetivos realistas, o replanejamento do trabalho, o aumento do envolvimento dos funcionários, a melhoria da comunicação organizacional e a implantação de programas corporativos de bem-estar (ROBBINS, 2005). 17 5 SAÚDE MENTAL Google.com.br Nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apresentam sintomas de ansiedade, do grau mais leve ao incapacitante. Metade (47%) sofre de algum nível de depressão, recorrente em 14% dos casos. Os dados são da última pesquisa da Isma-BR, representante local da International Stress Management Association, organização sem fins lucrativos dedicada ao tema (EXAME, 2018). Os transtornos mentais e emocionais são a segunda causa de afastamento do serviço. Nos últimos dez anos, a concessão de auxílio-doença acidentário devido a tais males aumentou em quase em 20 vezes, segundo o Ministério da Previdência Social. Com frequência, os doentes ficam mais de 100 dias longe de suas funções. Em todo o mundo, os gastos relacionados a transtornos emocionais e psicológicos podem chegar a 6 trilhões de dólares até 2030, mais do que a soma dos custos com diabetes, doenças respiratórias e câncer, apontam estimativas do Fórum Econômico Mundial. A previsão pode ser subestimada, já que dois terços dos indivíduos não procuram auxílio médico especializado. A Organização Mundial da 18 Saúde alerta que uma em cada quatro pessoas sofrerá com um transtorno da mente ao longo da vida. Apesar dos números, são raras as empresas que mantêm um programa de saúde psicológica e emocional para seus empregados (EXAME, 2018). A maioria dos casos aindaé tratada como tabu. Chegou a hora de falarmos abertamente sobre o tema (EXAME, 2018). 5.1 A mente adoece Google.com.br Pesquisas ligam os transtornos mentais a diversas fontes. O excesso de estímulos é uma delas. Na era da hiperconectividade, as pessoas são atingidas por uma avalanche de informações na forma de mensagens instantâneas, e-mails, alertas de compromisso, notícias em tempo real e aplicativos de todos os tipos e gêneros. “A informática fez com que tivéssemos mais controle de nossa vida, mas 19 isso implica maior carga cerebral”, diz a neurocientista Carla Tieppo, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (EXAME, 2018). Estamos o tempo todo sendo lembrados do que não fizemos, das tarefas que não cumprimos, das ligações que não atendemos e dos e-mails não respondidos. E a falta de habilidade em lidar com isso pode levar ao estresse e a distúrbios de ansiedade e humor (EXAME, 2018). Embora especialistas indiquem a vida pessoal, não só a profissional, como fator de risco, em todo o mundo, apenas um de cada cinco indivíduos aponta a família e os vizinhos como fonte de preocupação, segundo uma pesquisa realizada com 16 000 pessoas pela Regus, especializada em escritórios flexíveis (EXAME, 2018). Para mais da metade (60%), o trabalho é a causa de se sentirem nervosos, irritados, cansados, tristes ou sem energia. Em tempos de recessão econômica, a cobrança por resultados, o medo de demissão e o enxugamento dos quadros de funcionários tornam as empresas locais ainda mais estressantes (EXAME, 2018). Não à toa, a procura por atendimento no consultório de Porto Alegre da psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR, cresceu 30% nos últimos seis meses. Quase dois terços dos pacientes são executivos. Entre os novos está uma gestora que descobriu, ao voltar de férias, que havia sido demitida. “Essa situação está se tornando cada vez mais comum e causa um grande impacto tanto em quem sai quanto nos que permanecem na organização”, afirma Ana Maria. Os que ficam, diz, convivem com o medo de sair de férias ou de perder o colega que se arrisque a tanto — tendo de arcar com mais trabalho. “É como se as corporações colocassem os trabalhadores em um barco e mandassem jogar os coletes salva-vidas no mar, para reduzir o peso, deixando todo mundo por sua própria sorte”, diz (EXAME, 2018). Um ambiente de trabalho com pouco apoio, excesso de demanda, baixo controle sobre as tarefas, recompensas inadequadas e comprometimento individual excessivo são fatores que aumentam a chance de afastamento. O sentimento de nunca cumprir as tarefas e a dificuldade de se desligar do serviço leva ao burnout — quando o corpo, sobrecarregado, simplesmente desliga (EXAME, 2018). 20 5.2 O custo do estresse Google.com.br No Brasil, os transtornos mentais são a terceira causa de longos afastamentos do trabalho por doença. Em 2011, eles foram responsáveis pelo pagamento de mais de 211 milhões de reais a novos beneficiários, de acordo com um levantamento do médico do trabalho João Silvestre da Silva-Junior, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (EXAME, 2018). O último Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, do Dieese, departamento público de estudos socioeconômicos, revela que o número de pessoas afastadas do emprego e que receberam auxílio do INSS chegou a 16 381, em junho de 2015. Episódios depressivos, transtornos ansiosos, reações ao estresse grave e transtornos de adaptação foram os principais diagnósticos (EXAME, 2018). Nos Estados Unidos, empregados diagnosticados com depressão faltam quase nove dias ao serviço, o dobro da média para trabalhadores saudáveis, segundo o instituto de pesquisa Gallup. O prejuízo com a perda de produtividade supera os 19 bilhões de dólares por ano (EXAME, 2018). 21 Além do estrago financeiro, há o impacto nos colegas que seguram as pontas quando alguém não aparece. Um estudo da sociedade americana de recursos humanos, a SHRM, revela que os supervisores gastam em média mais de quatro horas por semana lidando com as faltas não programadas, o que inclui fazer recolocações, ajustar o fluxo de tarefas e dar treinamento a quem irá assumir a função por aquele dia. Quando cobrem alguém, os superiores ficam 15% menos produtivos e os colegas, 30%. Quase metade das ausências reflete-se em horas extras dos que ficam (EXAME, 2018). Há ainda o custo do presenteísmo — quando o funcionário vai trabalhar, mas está com a cabeça em outro lugar. Segundo Ana Maria Rossi, da Isma-BR, 96% das pessoas que têm burnout se sentem incapacitadas para trabalhar. Mesmo assim, 92% continuam indo para a empresa, com medo de serem demitidas ou de se afastarem e não conseguirem voltar. “Elas vão ao trabalho, as luzes estão acesas, mas não há ninguém em casa”, diz. Esse hábito desencadeia erros, baixo desempenho, aumento dos problemas de saúde e piora na qualidade de vida, afetando mais a produtividade que o próprio absenteísmo (EXAME, 2018). 5.3 Tabu corporativo Os problemas mentais ainda são um assunto velado na sociedade. Um estudo do Dieese, de maio de 2015, mostra que, em 2012, foram realizadas 260 greves com o tema de saúde do trabalhador — três vezes mais do que em 2010. Contudo, nenhuma abordou doenças emocionais e psicológicas. Questões como ritmo de trabalho, lazer, estresse, compromisso com a qualidade de vida e trabalho decente estão fora das pautas de sindicatos e patrões (EXAME, 2018). Os problemas mentais ainda são um assunto velado na sociedade. Um estudo do Dieese, de maio de 2015, mostra que, em 2012, foram realizadas 260 greves com o tema de saúde do trabalhador — três vezes mais do que em 2010. 22 Contudo, nenhuma abordou doenças emocionais e psicológicas. Questões como ritmo de trabalho, lazer, estresse, compromisso com a qualidade de vida e trabalho decente estão fora das pautas de sindicatos e patrões (EXAME, 2018). Para Milene Rosenthal, fundadora da Psicolink, empresa que oferece orientação psicológica online, as corporações não estão preparadas para lidar com os transtornos mentais. “A área de RH possui indicadores e números de mercado, mas faltam profissionais capazes de acompanhar esses dados de forma correta”, diz a executiva. Quando os casos chegam ao departamento de recursos humanos já é tarde demais. “O trabalhador já gritou com alguém ou agrediu outro colega, ou diz que vai se matar”, afirma Milene (EXAME, 2018). Uma vez, ela atendeu um rapaz que ficou 48 horas trabalhando direto para finalizar um projeto. “Ele teve um derrame ocular, o olho começou a sangrar. Ele não só não terminou a tarefa como foi afastado e deixou o time sem uma pessoa estratégica”, diz (EXAME, 2018). O próprio indivíduo pode não perceber seu limite. Fatima Macedo, diretora da Mental Clean, consultoria de bem-estar emocional, explica que os sintomas começam “dissociados e discretos”. A pessoa dorme mal uma noite, mas não chega a ter uma insônia; sente dor ou fica com o estômago inchado; noutro dia, tem uma pequena coceira na pele; depois sente uma angústia ou uma tristeza sem motivos. “O funcionário sente vergonha de estar doente e minimiza os sinais”, diz Fátima. Há casos em que o diagnóstico correto demorou oito anos (EXAME, 2018). A melhor forma de acompanhar o bem-estar psíquico e emocional é preparar a companhia para tratar depressão, estresse e outros transtornos mentais como qualquer outra doença do corpo (EXAME, 2018). 23 5.4 O tratamento Primeiro, a equipe de recursos humanos deve estudar o tema e levantar indicadores internos. Feito isso, é hora de buscar apoio. Para Milene, da Psicolink, o RH vai jogar dinheiro fora se ficar apenas nos grupos de corrida ou nas palestras de consultorias especializadas (EXAME, 2018). “É preciso desenvolver uma cultura corporativa que englobea saúde emocional — e isso significa comprometimento da alta liderança”, diz. Depois, é hora de usar as ferramentas de comunicação disponíveis para alertar sobre o problema (EXAME, 2018). Foi isso o que fez a Abyara Brokers, uma das maiores imobiliárias do país. Em 2013, o time de recursos humanos recebia por mês até cinco funcionários, principalmente corretores de imóveis terceirizados, com sinais de estresse, alcoolismo e abuso de drogas. Na época, eram 1 000 corretores. Fossem CLT ou autônomos, a ausência dessas pessoas afetava a produtividade e o resultado dos negócios. O aumento de casos chamou a atenção da diretoria, que autorizou a criação de um programa de saúde mental (EXAME, 2018). Em 2014, Vanessa Melo, analista de treinamento, mapeou a saúde de 32% do quadro de funcionários. Dos 221, quase 70% responderam que se sentiam estressados “esporadicamente” ou “frequentemente”; 53% estavam acima do peso; e quase metade não praticava exercícios. “Tínhamos pessoas constantemente estressadas, com sobrepeso e sedentárias”, diz Cristiane Zanoelo, gerente de treinamento e desenvolvimento da Abyara (EXAME, 2018). Depois do mapeamento, a companhia ofereceu ajuda para 56 pessoas. Apenas 23 aceitaram — três estavam em nível de “quase exaustão” ou “exaustão”, a um triz de receber afastamento médico. Paralelamente, a Abyara treinou os líderes, a fim de ter um ambiente menos estressante e de abordar corretamente quem apresentasse os sintomas de estresse (EXAME, 2018). Fez palestras e oficinas sobre burnout, desenhadas com o intuito de instruir e vencer o preconceito. Realizou dois plantões de atendimento psicológico, com duração de 40 minutos cada sessão, em um andar específico. Criou um time de 24 “terapia em grupo” e um comitê multidisciplinar de saúde e qualidade de vida. “A ideia era mostrar que a empresa entende que qualquer um pode ter esse problema”, diz Vanessa (EXAME, 2018). As ações foram estendidas aos corretores terceirizados. Em 2015, por causa da crise, dos 215 empregados, restaram 95. Ficou difícil seguir com o mapeamento de estresse, mas, como muitas pessoas procuravam o RH com medo de ser demitidas, a companhia manteve os plantões de atendimento psicológico. “Nesse período, a produtividade caiu e o nível de ansiedade subiu, mas acredito que conseguimos reduzir os afastamentos médicos”, diz Cristiane (EXAME, 2018). A empresa de cartões de benefícios Sodexo passou a mapear a saúde mental dos trabalhadores há dois anos e descobriu três, dos cerca de 600, com problema — sendo que dois se afastaram do serviço. A base de baixo número, acredita Rogerio Bragherolli, diretor de RH, está nos valores corporativos, que vão desde interação social, facilidade e eficiência até reconhecimento e saúde. “Estamos saindo do conceito de ‘work life balance’, de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, para o de ‘life integration’, pois a vida é uma só”, afirma Bragherolli (EXAME, 2018). Reformada recentemente, a sede da Sodexo, em Barueri, Grande São Paulo, é uma manifestação física dessa ideologia: móveis coloridos, espaços abertos, nada de baias, e rotatividade nas mesas de trabalho. Um andar inteiro se destina às práticas de bem-estar, onde os empregados têm à disposição quiropata, cadeiras de massagem, manicures, churrasqueira e até uma horta. Bragherolli garante que o resultado nos negócios e no engajamento dos profissionais foi tão bom que os escritórios da Sodexo na Bélgica e na França planejam copiar as práticas (EXAME, 2018). Ainda cabe um esforço da sociedade (e dos indivíduos) para melhorar o autoconhecimento. As comunidades modernas tendem a abandonar as análises mais profundas e tratar os transtornos mentais com medicação. Mas, do ponto de vista neurológico, o que faz a diferença é o nosso cérebro. Já dizia o filósofo: “Conhece-te a ti mesmo” (EXAME, 2018). 25 6 REFERÊNCIAS CERTO, Samuel C. Administração moderna. São Paulo: Pearson, 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas – O novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. ________ Gerentes em Gestores de Pessoas. São Paulo: Pearson, 2003. DEITOS, F. O mito de Ulisses. Santa Maria: Kaza do Zé, 1997. FRANÇA, A.C.L & Rodrigues, A.L Stress e Trabalho: Guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas. 1997. GOLEMAN, D. Trabalhando com a inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva. 1998. ________ Verdades simples, mentiras essenciais: a psicologia da auto- ilusão. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. HERZOG, R. A concepção de si como sujeito-da-doença. Physis, 1991. MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman, 2001. MASLACH, C. The Truth about Bournout. New York: New Books. 1998. NASSIF, V. M. J.; MARASEA, D. C. C. O uso de estratégias na gestão de pessoas para prevenção do estresse negativo no ambiente de trabalho sob a perspectiva da qualidade de vida no trabalho. Estratégias para o Desenvolvimento e Inserção Global. Itapema: 2004. 26 ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1999. _________Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2005. ROESCH, S. Projetos de Estágio e de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 1999. STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Trad. CALADO A. Rio de Janeiro: LTC, 1999. WAGNER III, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento Organizacional: criando vantagem competitiva. São Paulo: Saraiva, 2000. YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Editora Bookman, 2001. ZAKABI, R. Stress: ninguém está a salvo desse mal moderno: mas é possível aprender a conviver com ele. Revista: VEJA. Rio de Janeiro, v. 1840, n. 11 fev., p. 66-75, 2004. 27 7 LEITURA COMPLEMENTAR 7.1 O mundo contemporâneo do trabalho e a saúde mental do trabalhador Edith Seligmann-Silva, Márcia Hespanhol Bernardo, Maria Maeno, Mina Kato. A globalização financeira e a mundialização da precarização social, juntamente com as inovações tecnológicas e as novas formas de gestão, causaram rápidas transformações no mundo do trabalho. No entanto, o pensamento tradicional das áreas da Medicina do Trabalho, da Saúde Ocupacional e da Psicologia dá pouca atenção para essas mudanças e para o aspecto do trabalho como mediador de integração social, seja pelo valor econômico, seja pelo valor cultural, com importância fundamental na constituição da subjetividade de todas as pessoas. Nas duas primeiras áreas continua a se priorizar os aspectos físicos, mecânicos, químicos e biológicos dos ambientes laborais como fatores de risco à saúde dos trabalhadores, enquanto que, na última, a atenção ainda se concentra nos aspectos intrassubjetivos e, quando muito, estende-se aos intersubjetivos. Os aspectos sociais, econômicos e organizacionais, assim como os processos psicossociais em suas repercussões sobre a subjetividade do trabalhador, são minimizados ou ignorados. A influência das características atuais do trabalho sobre a saúde mental dos trabalhadores pode decorrer de inúmeros fatores e situações, entre os quais, a exposição a agentes tóxicos, a altos níveis de ruído, a situações de risco à integridade física, como, por exemplo, trabalho com compostos explosivos ou sujeitos a assaltos e sequestros, a formas de organização do trabalho e políticas de gerenciamento que desconsideram os limites físicos e psíquicos do trabalhador, impondo-lhe frequentemente a anulação de sua subjetividade para que a produção não seja prejudicada e as metas estabelecidas sejam cumpridas. A separação entre incluídos e excluídos também já não é tão nítida no contexto atual. Como explica o ensaio abrangente de Franco, Druck e Seligmann-Silva, apresentadoneste dossiê, “a precarização é um processo 28 multidimensional que altera a vida dentro e fora do trabalho” (p. 231). Mesmo aqueles que se encontram em uma situação aparentemente privilegiada, com vínculos de trabalho estáveis, experienciam frequentemente a insegurança e a competição, vivendo a precariedade no trabalho sob a forma que Danièle Linhart (2009) denomina como “precariedade subjetiva”. De acordo com a autora, essa é uma das características do trabalho contemporâneo, com modelos de administração que impõem: a todos os assalariados, em nome da autonomia e da responsabilização, gerir inúmeras disfunções de organizações que não lhes proporcionam os recursos necessários para fazer frente às exigências de seu trabalho, ao mesmo tempo em que intensificam de forma espetacular os ritmos de trabalho. (p. 2). Nas empresas, tais situações são propiciadas pela permanente iminência do “não-trabalho” ou do “bico”, que representa a ameaça da “precariedade objetiva”, que pode levar o trabalhador, e junto com ele sua família, a uma situação de perda de poder aquisitivo, muitas vezes de grandes proporções, causando ruptura em suas vidas, perda de identidade profissional e isolamento social. Tal processo pode ser ainda acompanhado de uma incerta assistência do Estado e de um futuro sombrio, considerando um mercado de trabalho para o qual a atividade anterior e os avanços da idade são com frequência fatores depreciativos e excludentes, especialmente quando a atividade for conhecida como geradora de adoecimentos, em particular os do sistema musculoesquelético e os da esfera psíquica (MAENO; WÜNSCH FILHO, 2010; BENOIT-GUILBOT; GALLIE, 1992). A ausência de uma política pública de reabilitação profissional e de reinserção no mercado de trabalho é o ingrediente final para a exclusão profissional e social (LANCMAN; TOLDRÁ; SANTOS, 2010; MAENO; VILELA, 2010). As consequências dessas duas faces da precariedade do trabalho contemporâneo podem ser vistas nas estatísticas de saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os transtornos mentais chamados menores atingem 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos mentais graves, cerca de 5% a 10% (BRASIL, 2001, p. 161). 29 No Brasil, as únicas estatísticas oficiais disponíveis em âmbito nacional são as da Previdência Social, que evidenciaram um aumento de 1157% de benefícios acidentários de 2006 para 2007, quando foi introduzido o critério epidemiológico para estabelecimento de nexo causal entre um agravo à saúde e o trabalho (BRASIL, 2007; BRASIL, 2006). O aumento dos agravos psíquicos relacionados ao trabalho prosseguiu ao longo de 2008, como pode ser visto no Gráfico 1. Esses números referem-se apenas aos segurados do Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT), parte dos trabalhadores do mercado formal, excluídos os funcionários públicos e os domésticos, dentre outros. Além disso, há que se ressaltar a resistência cultural e institucional do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) em reconhecer os casos ocupacionais na esfera psíquica, a despeito das legislações sanitárias (BRASIL, 2004; BRASIL, 1999b) e previdenciária (BRASIL, 2007; BRASIL, 2006; BRASIL, 1999a; BRASIL, 1998) respaldarem esse reconhecimento. Adicionalmente à relevância estatística, há que se considerar que o agravamento dos transtornos mentais dos trabalhadores submetidos a condições penosas é frequente, levando-os ao consumo de drogas, a sofrerem acidentes de trabalho, à incapacidade para o trabalho, ao afastamento do trabalho por tempo prolongado e à exclusão do mercado de trabalho, resultando em grandes custos ao Estado e à sociedade (LANCMAN; TOLDRÁ; SANTOS, 2010; LAX; KLEIN, 2008; DEMBE, 2001; SELIGMANN-SILVA, 1997). 30 Essa situação exige políticas públicas cuja construção requer uma ampla discussão e articulação de vários setores governamentais e instituições da sociedade civil para que ações de prevenção, assistência e reabilitação profissional estejam fundamentadas em mudanças estruturais e organizacionais do mercado de trabalho e das empresas, com superação das formas de gestão que as pesquisas têm evidenciado como adoecedoras. Para embasar esta discussão e articulação entre os vários setores da sociedade, é capital o desenvolvimento de pesquisas que evidenciem a relação entre o adoecimento, o desgaste e o sofrimento mental, por um lado, e o trabalho, a verificação da eficiência e da eficácia de medidas de prevenção propostas e adotadas, bem como de estudos sobre as políticas públicas no campo da Saúde Mental Relacionada ao Trabalho (SMRT) pelo outro. Historicamente, diferentes disciplinas vêm estudando aspectos da saúde mental que podem estar relacionados ao trabalho, tais como a fadiga, o estresse, o embotamento afetivo, os transtornos mentais relacionados ao trabalho – em sua 31 maioria mediados pela dominação, pela alienação e muitas vezes pela exposição à violência nos ambientes de trabalho. Atualmente, é possível identificar a predomínio de estudos que se fundamentam em, basicamente, três correntes de pensamento: (1) aquela que tem suas raízes na teoria do estresse; (2) outra voltada para a utilização do referencial psicanalítico e (3) aquela que se fundamenta no materialismo histórico e adota o conceito de desgaste (SELIGMANN-SILVA, 2007; 1994). Os modelos com origem na teoria do estresse têm o referencial básico vinculado à Fisiologia (GLINA, 2010), estando coerentes com a perspectiva positivista dominante nos estudos da Medicina e com a visão behaviorista. As correntes que se referenciam na Psicanálise concentram-se nos processos subjetivos ou intrapsíquicos, mas também examinam “os intersubjetivos e, por conseguinte, as relações interpessoais” (SELIGMANN-SILVA, no prelo). Essa perspectiva tem sido bastante utilizada em estudos realizados no Brasil, especialmente com a abordagem da Psicodinâmica do Trabalho, desenvolvida a partir do pensamento de Christophe Dejours (DEJOURS; JAYET; ABDOUCHELI, 1993; DEJOURS, 2008), que avança para o estudo de fenômenos de caráter coletivo que têm lugar nos locais de trabalho. A terceira corrente toma como fundamento teórico o materialismo dialético e a perspectiva histórica. Um modelo associado a essa corrente, que vem sendo adotado no Brasil, é o do desgaste mental (SELIGMANN-SILVA, 1994; PAPARELLI, 2009), que tem como base as noções de desgaste e cargas de trabalho desenvolvidas por Laurell (1986) e Laurell e Noriega (1989). Essa concepção está vinculada à ideia de consumo do substrato e das energias vitais do trabalhador pelos processos de trabalho. Outra abordagem que tem vínculos importantes com o materialismo histórico é a da Clínica da Atividade, desenvolvida, especialmente, por Yves Clot. Estudos com essa perspectiva têm crescido consideravelmente no Brasil. Clot propõe analisar os impedimentos à mobilização psíquica, que têm como consequência a desvitalização e a submissão passiva dos trabalhadores (CLOT, 2006; 2008; 2010). Algumas dessas abordagens são desenvolvidas em ensaios deste dossiê. A contribuição da Psicodinâmica do Trabalho é discutida por Bouyer. O ensaio de 32 Franco, Druck e Seligmann-Silva convida a olhar para as questões do trabalho focalizando o desgaste do trabalhador através de uma perspectiva social e histórica, a qual é acompanhada pelo desvelamento dos prejuízos causados pelas contradições entre a modernização e a precarização social e do trabalho. Apresenta, também, uma análise do modelo que preconiza a maximização da competitividade e propicia a discriminação daqueles que não conseguem se acomodar dentro das metas estabelecidas. Esta discriminação é justamente o tema do artigo de Rigotto, Maciel e Borsoi, evidenciando os atos de constrangimento e humilhação exercidos pelos supervisores nas indústrias de calçados no Ceará. Ressaltam as autoras que osatos de violência praticados encontram salvaguarda dentro da organização do trabalho dessas empresas, uma vez que “as políticas determinam quanto e como produzir e, ao mesmo tempo, as relações interpessoais que se estabelecem dentro das fábricas” (p. 217). O relato de experiência de Pintor, por sua vez, indica que essa organização competitiva, massificante e atemorizante causa sofrimento, trazendo conflitos internos e ameaças à identidade dos trabalhadores – e as consequências à saúde se manifestam tanto no âmbito físico, como no mental. A cobrança de metas quantitativas extrapola o universo das empresas que buscam o lucro, atingindo também os agentes comunitários de saúde avaliados por Vilela, Silva e Jackson Filho. Além da pressão oriunda da coordenação, estes trabalhadores vivem a falta de resolutividade de suas ações na comunidade. Os autores deste relato apontam algumas modificações no sentido de implementar “o poder de agir” dos agentes e diminuir o seu sofrimento e, para isso, valem-se do aporte metodológico da Análise Ergonômica do Trabalho. Alvarez e colegas fazem uso não apenas da Ergonomia da Atividade, mas também da Psicodinâmica do Trabalho, numa perspectiva ergológica, para discutir o regime de turnos peculiar dos trabalhadores embarcados em plataforma de petróleo. A questão da precarização é apresentada quando evidenciam a diferença de regimes de turnos para a empresa-mãe e as terceirizadas. E o regime empregado pela empresa-mãe, embora menos penoso, já traz várias consequências físicas e psicoafetivas aos trabalhadores. 33 Outro trabalho perigoso e penoso é apresentado no artigo de Moulin e Moraes, realizado no setor de pedras ornamentais. As autoras coletam dados qualitativos por meio de técnicas do mapa do corpo e do ambiente de trabalho e os analisam de uma perspectiva histórica, apontando a manifestação de sintomas inespecíficos, como cefaléia, insônia e irritabilidade nos trabalhadores, decorrentes das duras condições do ambiente e da organização do trabalho. A pressão para o cumprimento de metas e o ritmo intenso estão também presentes nessa atividade. Nos ensaios de Vieira e de Lima, são apresentadas duas expressões clínicas do sofrimento mental e físico: o burnout e a dependência química. Vieira debate sobre o conceito de burnout e a necessidade de ampliar a visão e a discussão sobre o âmbito subjetivo da síndrome. O ensaio de Lima aborda questões controversas dentro do tema da dependência química e trabalho, lembrando que o alcoolismo e o uso de outras drogas não são uma questão tão somente individual, mas pode decorrer de mudanças no mundo do trabalho que não contemplem o desenvolvimento e a emancipação do sujeito. O dossiê terá ainda continuidade no próximo volume da RBSO. No segundo volume, além dos artigos que evidenciam trabalhadores acometidos de transtornos mentais, serão apresentados ensaios que debatem a questão das políticas públicas em saúde mental do trabalho e as mudanças contínuas na gestão do trabalho e sua relação com as situações penosas dos trabalhadores. É propósito destes dossiês dar visibilidade à saúde mental relacionada ao trabalho àqueles que atuam na área de Saúde do Trabalhador, destacando os desafios impostos pela atual conjuntura às políticas públicas, aos profissionais e ao movimento social e, com isso, estimular discussões e futuras pesquisas que apontem para “um mundo do trabalho não predatório que sirva para construir a sociabilidade e não a destruir” (FRANCO; DRUCK; SELIGMANN-SILVA, p. 244).
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