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Curso de Sanidade Avícola Fort Dodge, 01 de abril de 2004, Indaituba, SP. Complexo de doenças respiratórias em galináceos (Gallus gallus) Dra. Nair Massako Katayama Ito, PhD1,2 Dr. Claudio Issamu Miyaji, MSc1,2 Dr. Eduardo de Albuquerque Lima, MV2 Dra. Sandra Okabayashi, MV2 1. Universidade Santo Amaro - UNISA 2. SPAVE - Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda Rua: Alvarenga Peixoto, 466, Lapa São Paulo - SP Cep. 05095 - 010 Fone/ Fax: (011) 3831-2984/ 3836-6398 e-mail: spave@uol.com.br Introdução Desde que haja risco de desafio, são vários os agentes infecciosos que podem causar doenças respiratórias nos galináceos, independente de serem frangos de corte ou poedeiras comerciais. Podemos dizer que as infecções respiratórias podem ser divididas em três categorias segundo a expressão clínica e anatomo patológica da doença: 1. Muito grave ou severa: independente do tipo de ave e idade, uma ave sem imunidade passiva (anticorpos maternos) ou adquirida através de vacinações, quando infectada por um vírus velogênico da doença de Newcastle (Vv-DN) ou vírus altamente patogênico da influenza aviária (Vap-IA - H5 e H7) nem chega a apresentar sintoma ou lesão no trato respiratório, porque ela morre em fase virêmica (hemorragia) em curto período de tempo (24-48 horas) após apresentar conjuntivite ou edema periocular e há mortalidade elevada no lote. A cólera aguda ou crônica causada pela Pasteurella multocida pode ocorrer igualmente em poedeiras como frangos de corte. 2. Variável conforme tipo de ave e idade: alguns patógenos respiratórios causam sintomas e lesões de repercussão clínica e econômica diferentes em frangos de corte, reprodutoras pesadas e poedeiras comerciais, por exemplo: � Frangos de corte e reprodutoras pesadas adultas podem estar infectados com patógenos como o vírus da bronquite infecciosa das galinhas (VBIG), micoplasmas (M. gallisepticum = Mg, M. synoviae = Ms), pneumovírus (PV), vírus do tipo mesogênico da doença de Newcastle (Vm-DN), e vírus de baixa patogenicidade da influenza aviária do tipo A (Vbp-IA), do mesmo modo que p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 2 de 17 2 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. poedeiras jovens ou adultas ou reprodutoras pesadas em recria. No entanto, a doença é clinicamente mais severa em frangos de corte e reprodutoras pesadas adultas do que nas poedeiras e reprodutoras em recria. � Poedeiras comerciais na fase final de recria e adultas, e reprodutoras pesadas adultas como frangos de corte, podem estar infectados com o vírus da laringotraqueíte infecciosa (VLTI), mas os quadros são mais atenuados em aves jovens de quaisquer tipo ou finalidade. � Vírus lentogênicos da doença de Newcastle (Vl-DN), vírus pouco atenuados da bronquite infecciosa das galinhas (Vpa-BIG-H52) e Cryptosporidium sp causam sinais respiratórios mais graves em frangos de corte e reprodutoras pesadas adultas do que em poedeiras de qualquer idade. � Salmonella Pullorum, Salmonella Enteritidis e S. typhimurium transmitidos verticalmente podem causar pneumonia em pintos de poedeiras como de corte, à semelhança do Aspergillus sp e E. coli introduzido por contaminação ambiental do incubatório ou via sepilho ou cama. 3. Variável conforme tipo de criação e ambiência: o exemplo típico de doença influenciada pelos sistema de criação (idade múltipla), sem normas mínimas de biossegurança e condições climáticas, é a coriza infecciosa das galinhas (CIG) causada pelo Haemophyllus paragallinarum. Por esta razão, esta doença ocorre de forma mais severa em poedeiras comerciais, durante em regiões quentes e com umidade relativa elevada e alta densidade populacional de aves. Infecções por Mg, Ms, VBIG, PV, Vm - e Vl-DN, Vbp-IA, são mais severos em aves criadas em cama do que em gaiolas ou em galpões fechados com má renovação de ar do que bem ventilados ou abertos porque estas condições favorecem ocorrência de infecções secundárias por bactérias normalmente encontrados no meio ambiente, por exemplo E. coli e Staphylococcus sp. Qualquer que seja a categoria da doença respiratória, é muito importante que um técnico em avicultura saiba diagnosticar a presença do agente infeccioso primário, independente de se observar sintomas ou lesões no trato respiratório, porque a maioria dos microorganismos que infectam o sistema respiratório podem precipitar a ocorrência de infecções secundárias (por exemplo por E. coli e Staphylococcus aureus) ou deixar seqüelas funcionais e dar origem a distúrbios metabólicos como hipoventilação, alcalose respiratória e metabólica e queda de produção. Neste texto efetuaremos uma abordagem sobre as diferentes doenças respiratórias, com o intuito de fornecer ao técnico de campo, ferramentas para um diagnóstico correto p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 3 de 17 3 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. preciso ou menos riscos de erro. Segundo Thrushield (1995), para prevenir e controlar uma doença que possa causar um prejuízo econômico, é importante efetuar um diagnóstico exato do agente primário e efetuar o diagnóstico diferencial ou complementar para patógenos secundários e determinantes secundários. Determinantes secundários são características etiológicas que têm relação com fatores predisponentes, facilitadores e agravantes que favorecem a emergência da doença. Determinante intrínsecos ou endógeno do hospedeiro Determinante extrínseco ou exógeno em relação ao hospedeiro • Constituíção genética (sexo, espécie, linhagem) • Idade • Tamanho e conformação, finalidade (frango, poedeira, reprodução) • Condição hormonal – maturidade sexual • Condição nutricional – dietas e deficiências • Condição imunológica – anticorpos maternos, imunodeficiência • Condição funcional (reprodução, eclosão) • Comportamento • Localização, localidade • Clima, umidade relativa, [O2] (hipóxia) • Manejo (instalações, dieta, manejo básico) • Trauma (debicagem, seleção) • Doenças concurrentes. • Condição de imunização (vacinas, cepas, programas, vias) • Estressores Como já citado, nas diferentes categorias de infecções respiratórias, exceto para Vv-DN e Vap- IA, existem diferenças de expressão da doença, e isto se deve à presença de determinantes secundários que favorecem a emergência de um quadro mais grave ou severo devido o favorecimento da disseminação do patógeno ou de infecções secundárias em poedeiras e frangos de corte. Um diagnóstico preciso é aquele em que reconhecemos ou detectamos os seguintes parâmetros: � a causa específica primária ou determinante primário de uma doença, ou seja aquele que tem o papel principal na indução da doença. � os determinantes secundários endógenos do hospedeiro e extrínsecos ou exógenos ao hospedeiro que favorecem a emergência de um quadro mais grave. � lesões ou funções comprometidas devido infecção e intercorrência com determinantes secundários. � sinais e sintomas próprios ou patognômicos de cada enfermidade. Quando somos capazes de reconhecer todos os fatores ou parâmetros que induzem uma doença, estaremos habilitados a adotar medidas preventivas e curativas adequadas que resultarão em excelente desempenho zootécnico do lote com um custo baixo. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 4 de 17 4 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. DOENÇAS RESPIRATÓRIAS MAIS FREQÜENTES De um modo geral aceitamos que as doenças respiratórias que acometem os frangos de corte são diferentes daquelas vistas nas poedeiras. Estamos equivocados quando assim pensamos, porque qualquer ave susceptível, exposta a um patógeno virulento fica infectada, e o que induz o técnico a pensar que a ave não adoeceu, se deve na maioria das vezes, aos seguintes fatores: � a expressão dos sinais e sintomas são diferentes: frangos de corte espirrame roncam escandalosamente em função de serem pesadas, e ainda podemos detectar os sinais, porque elas são mais calmas. As poedeiras também espirram, roncam e emitem cacarejos anormais que não podem ser ouvidos, porque elas são muito agitadas ou estressadas – por esta razão, para auscultar os sons anormais, temos que ficar parados no galpão por um tempo longo e ainda efetuar ronda noturna. � a repercussão econômica de uma doença respiratória em frangos de corte é prontamente sinalizada porque eles deixam de ganhar peso e aumenta a condenação de carcaças no abatedouro. Nas poedeiras em recria, os técnicos tratam a ave, tem tempo para recuperar as aves, mas não consideram que haverá perda de uniformidade, portanto aumento de casos de prolapso e falsas poedeiras ou que, quando a doença ocorre na fase de produção, teremos queda de produção, perda da qualidade dos ovos e outros efeitos metabólicos. � a morbidade, ou seja a quantidade de aves doentes, geralmente é mais elevada nos frangos de corte em função dos determinantes extrínsecos envolvidos, mas em muitas empresas de poedeiras comerciais, em que as aves são alojadas em galpões fechados, podemos ter uma morbidade mais elevada. � a mortalidade de um modo geral é mais elevada nos frangos de corte porque na maioria das vezes são incluídos na contagem, as aves sacrificadas porque estão refugadas, que é uma prática não adotada com poedeiras. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 5 de 17 5 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. Tabela 1: Ocorrência de doenças respiratórias em galináceos (Gallus gallus) segundo idade das aves. Idade Doença Pintos 6-7 semanas Recria Produção Viral • IA, DN Raro BIG, Pneumovírus Clínico para frangos e poedeiras de qualquer idade. • LTI Raro Subclínico Clínico Fungos • Apergilose Clínico Clínico para aves criadas em cama. Bactérias • Salmonelas Clínico Redução de riscos para SE e ST em aves criadas em gaiolas e galpões ventilados. • Pasteurella multocida • Coriza infecciosa Baixo risco Risco relacionado com nível de biossegurança para ave de qualquer idade. • urubus, aves selvagens • destino de carcaças • ambiência • Micoplasma sp Clínico Latência quebrada na dependência do fator estressor. Protozoário • Cryptosporidium sp Não observado Subdiagnosticado porque não é rotina efetuar exame parasitológico ou histológico. Cryptosporidiose em frangos tem sido detectado após 30 dias de idade. Ácaros • Cytodites nudus INFECÇÃO PRIMÁRIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO E SÍTIOS DE COLONIZAÇÃO Todas infecções respiratórias ocorrem por transmissão horizontal do agente infeccioso e principalmente por inalação ou contato conjuntival com aerossóis ou secreções contaminadas. Somente os micoplasmas e as salmonelas, podem ser transmitidas horizontal e verticalmente. Quando ocorre a transmissão horizontal, de acordo com a patogenicidade e virulência do microorganismo, poderemos observar diferentes sinais e sintomas ou lesões mais graves ou menos severas, de acordo com a região e extensão do sistema respiratório infectado ou lesado ou habilidade do agente infeccioso cair na circulação sangüínea e induzir septicemia ou lesões em outros órgãos. É importante lembrar que, independente da idade e tipo de ave (frango ou poedeira), uma vez que a ave teve contato com um agente patogênico, teremos a infecção de uma célula de um determinado tecido ou órgão (sítio primário de infecção) e que a emergência dos sinais, sintomas e lesões depende da habilidade do microorganismo induzir: p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 6 de 17 6 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. � uma alteração funcional local como conseqüência de sua multiplicação, por exemplo em ordem crescente de gravidade. • secreção de muco nas vias aéreas superiores • ciliostase ou parada dos batimentos dos cílios ou perda de cílios na traquéia, brônquios e bronquíolos • comprometimento da troca gasosa (paleopulmão) porque os parabrônquios foram lesados ou os bronquíolos estão obstruídos . � uma injúria local que pode resultar em perda da defesa local (cílios) e favorecimento de colonização bacteriana pela presença de muco por E. coli ou Pasteurella sp ou Ornithobacterium rhinotracheales ou Staphylococcus sp ou Enterococcus sp ou Streptococcus sp encontrados no meio ambiente. � em frangos de corte ou reprodutoras pesadas, fatores ambientais como calor (distresse calórico) ou frio excessivo ou redução de oxigênio disponível causando hipóxia, podem ser condições pré-existentes predisponentes para ocorrência de aerossaculite e pneumonias severas. Má ventilação e aumento de amônia volatilizada em galpões fechados também contribuem para o agravamento da lesão no trato respiratório. � quando o agente é virulento ele dissemina pela circulação sangüínea para outros tecidos ou órgãos e aparecem sintomas e lesões à distância ou viremia com mortalidade elevada (DN, IA). Com base na tabela 2, de distribuição dos diferentes patógenos nas diferentes regiões do sistema respiratório, podemos observar lesões específicas que podem ser detectadas ao exame histopatológico de tecidos coletados ao início da doença, fixados em formol 10%. Bactérias e vírus podem ser isolados de tecidos e órgãos congelados ou detectados ao PCR neste mesmo período. Não se recomenda coletar órgãos para análise histológica ou virológica ou para isolamento bacteriano, de aves com complicação secundária por bactérias como E. coli, Staphylococcus sp, Pasteurella sp, etc ou de aves com mais de uma semana de curso clínico quando o objetivo é descobrir qual é o agente primário porque: p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 7 de 17 7 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. • os vírus são eliminados do organismo e não se detecta alterações celulares típicas. • contaminantes como E. coli dificultam isolamento de micoplasmas (Mg, Ms), Pasteurella multocida, Haemophyllus paragallinarum e Ornithobacterium sp quando eles são agentes primários. • alterações celulares e tissulares para BIG e Mg podem estar mascaradas pela presença de contaminantes secundários ou os tecidos já estão necrosados e/ou descamados em caso de LTI e não se detectam sincícios. Tabela 2: Sítios de infecção dos principais patógenos primários respiratórios das galinhas (Gallus gallus) e grau de comprometimento. Local Patógeno Conjuntiva Seios nasais Traquéia e Brônquios Sacos aéreos Pulmão Viremia � Bactérias • Mg +++ +++ ++++ ++++ ++++ (bronquíolos) Sistema reprodutor. • Ms ++ +++ + + + Sistema reprodutor e articulação • Salmonella sp + - - - ++++ Fígado, sistema reprodutor, coração e articulações. • Coriza - +++ - - - Toxinas. • P. multocida +++ +++ + (laringe) + (crônico) + (crônico) Fígado, edema na barbela e/ou região submandibular, toxinas. � Vírus - • VDN - velogênico e VIA - patogênico +++ +++ - - ++++ hemorragia Mortalidade elevada devido à sua presença nos vasos causando hemorragia visceral e cutânea. • VDN mesogênico ++ ++ ++ - + Sistema nervoso central. • VBIG ++ +++ ++++ - ++++ bronquíolos Rim e oviduto. • VLTI + ++ ++++ - +++ bronquíolos Nervo trigêmeo. • Pneumovírus + +++ ++ - + Não relatado. � Protozoário • Cryptosporidium sp ± ± +++ - - Bolsa de Fabrícius - ceco � Fungo • Aspergillus sp ++ - + - ++++ Cérebro, peritôneo. � Ácaros • Cytodites nudus - - + - + Não relatado. � Verme • Syngamus trachea (galinha caipira) - - +++ - - Não relatado p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 8 de 17 8 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. SINAIS E SINTOMAS DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS Os patógenos que infectam o sistema respiratórioinduzem sinais clínicos patognômicos da doença na fase aguda ou inicial da doença, e quando ocorre a associação de fatores ambientais ou de agentes microbianos, observamos sintomas múltiplos ou síndromes de difícil conclusão diagnóstica. Os sinais ou sintomas patognômicos de uma determinada doença respiratória pode estar relacionado com os efeitos locais (porta de entrada e colonização primária) e sistêmicos (viremia) induzidos pelo patógeno (Tabela 3). Efeitos locais: Os efeitos locais de uma infecção respiratória se expressam em termos de sintomas, de acordo com a localização do agente patogênico em diferentes partes do sistema respiratório (Tabela 2). Em assim sendo observaremos: � quando a infecção ocorre nos seios nasais, as aves espirram, apresentam corrimento nasal e sinusite ou “cabeça inchada” e podem ser vistos em associação com lacrimejamento, conjuntivite e edema periocular. Exemplo típico é a infecção causada pelo pneumovírus, Haemophillus paragallinarum (coriza) e bronquite infecciosa. � infecções restritas à traquéia, por exemplo como na bronquite infecciosa, geralmente causam estertores traqueais ou roncados e eventualmente engasgo ou pescoço esticado como visto na LTI. No geral, não havendo associação de fatores exógenos, o processo se resolve rapidamente. � agentes que infectam concomitantemente os brônquios e o neopulmão geralmente desenvolvem doença crônica respiratória (DCR), perihepatite, peritonites e pericardite, por exemplo Mg. � os patógenos mais virulentos e invasivos infectam o epitélio dos bronquíolos primários e secundários (Vv-LTI) e causam doenças agudas mais severas e mortalidade elevada. Vírus do tipo Vv-ND e Vap-AI (H7 e H5) que lisam vasos sangüíneos, são capazes de induzir hemorragia pulmonar e morte superaguda. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 9 de 17 9 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. Tabela 3: Localização do patógeno respiratório e sintomas locais. Sistema respiratório e anexos Sinais locais Principais agentes infecciosos Quadro complicado Fatores complicantes exógenos mais comuns Seios nasais e Seio infraorbitário • corrimento nasal • espirros BIG, Pneumovírus, In- fluenza, LTI, Mg, Ms, Coriza, DN Sinusite ou “cara inchada” ou “cabeça inchada” • Staphylococcus aureus • Pasteurella sp (P. gallinarum P. hemolytica) • E. coli • poeira em suspensão, calor moderado, UR baixa • gases tóxicos Ducto naso-lacrimal e conjuntiva • conjuntivite • lacrimejamento • blefarite • prurido Aspergillus sp Salmonella sp DN, BIG, Influenza, LTI, Mg Edema periocular • amônia volatizada • desinfetantes em suspensão • “engasgo” ou tosse LTI e Bouba diftérica Laringe, traquéia • roncado ou estertor úmido ou respiração ruidosa qualquer vacina viral respiratória, BIG, DN, pneumovírus, Influenza, Mg, Criptosporidium sp, ácaros Dispnéia e cianose da crista e barbela • E. coli, Pasteurella sp • “gullar flutter” • poeiras ou gases tóxicos • umidade elevada Sacos aéreos (SA) • SA cranial (clavi- cular, cervical e to- rácico anterior • estertor pulmonar • expiração alterada Mg, Ms, BIG Influenza • pericardite por conti- güidade • alcalose respiratória • aerossaculite caseosa • E. coli, Salmonella sp, Staphylococcus aureus • hipóxia • alcalose e acidose metabólica • SA caudal (torá- cico posterior e abdominal) • ruído pulmonar • inspiração e expi- ração lenta (↓ fre- qüência respiratória) Mg, Influenza Aspergilose BIG • peritonite • ovo peritonite • E. coli, Ornithobacterium sp, Pasteurella sp • pós em suspensão • ofego (calor) • atresia folicular fisiológica (ovário policistico) • ovo impactado, prolapso Pulmão • Brônquios e neo- pulmão (reservatório de ar) • balanceio de cauda • respiração dificul- tosa • dispnéia LTI, Mg, BIG e asper- gilose • pleurisia • hipóxia • alcalose respiratória • E. coli, Staphylococcus aureus, Ornithobacterium sp • ofego por calor • Paleopulmão (área de troca gasosa e de calor) • bradpnéia (respi- ração lenta e difícil) • hipocapnéia (pes- coço largado) e en- terrado no chão • morte por coma DN velogênico e meso- gênico, Influenza, asper- gilose, salmonelose • acidose respiratória • hemorragia • ascite • E. coli, Satphylococcus aureus • ofego por calor p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 10 de 17 10 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. Efeitos sistêmicos: Os patógenos respiratórios que são virulentos são capazes de induzir viremia e se multiplicar em outros órgãos ou tecidos que não pertencem ao sistema respiratório ou liberar toxinas que caem na circulação e atuam à distância. De todos os agentes já citados podemos citar: � os agentes virulentos ou mais invasivos como os vírus da doença de Newcastle e da influenza aviária são os que mais causam efeitos sistêmicos superagudos porque lesam os vasos e tem distribuição pantrópica – por esta razão há predomínio de lesões hemorrágicas viscerais e morte aguda e elevada ou severa queda de produção devido ao processo febril. � bactérias Gram positivas como o Staphylococcus aureus e Gram negativas como a Pasteurella multocida e Haemophyllus paragallinarum podem induzir efeitos sistêmicos à distância devido à liberação de exotoxinas e endotoxinas e causar sobrecarga hepato-renal e degeneração dos folículos ovarianos. � os vírus da bronquite infecciosa, da doença de Newcastle e da influenza aviária e micoplasmas podem infectar as células epiteliais do oviduto e induzirem alterações de coloração e da qualidade da casca e da albumina. � o vírus da bronquite infecciosa pode estar presente no rim, lesar o rim causando nefrite nefrose ou deixando seqüelas renais que favorecem a ocorrência de desequilíbrio ácido básico, de eletrólitos, azotemia, urolitíase e gota úrica. � o processo febril é desencadeado pelos patógenos respiratórios porque o processo inflamatório local estimula a liberação de citocinas. A febre é responsável pelo encontro de óvulos e ovário hemorrágico e subseqüente queda de produção. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 11 de 17 11 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. EFEITOS DAS SEQÜELAS PRESENTES NOS ÓRGÃOS RESPIRATÓRIOS As enfermidades que comprometem a função pulmonar são as que mais podem causar distúrbios metabólicos em frangos de corte e reprodutoras adultas porque: � seqüelas no pulmão induzem sobrecarga cardiovascular e esclarecem hidropericárdio, ascite e miodegeneração (miopatia peitoral) que por sua vez influenciam na função renal (filtração glomerular e maior retenção de substâncias nitrogenadas no sangue causando azotemia). � o comprometimento da respiração induz o desequilíbrio ácido-básico (acidose e alcalose respiratória) e assim pode emergir a discondroplasia tibial em frangos de corte e em poedeiras, a produção de ovos de casca fina. LESÕES MACROSCÓPICAS Como não se pode chegar ao diagnóstico etiológico de uma doença respiratória baseado na observação dos sinais e sintomas, temos que considerar que é muito importante efetuar uma análise meticulosa, macro e microscópica dos tecidos e órgãos afetados. O exame anátomo patológico é muito importante porque quando bem feito, gera informações importantes relativas a: � natureza da infecção: discreta, moderada ou severa. � curso de doença: início, convalescente, complicado ou associado com determinantes secundários. � complementa suspeita clínica e possibilita a escolha de provas diagnósticas complementares que são específicas, como a virologia, PCR e sorologia. � é útil para detectar fungos, protozoários, ácaros e patógenos pouco conhecidos ou estudados ou de diagnóstico limitado, por exemplo Chlamydia sp. � é útil para efetuar o diagnóstico diferencialde doenças como o Vv-DN e Vap-IA que causam mortalidade elevada ou queda de produção, por exemplo de intoxicações. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 12 de 17 12 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. Necrópsia e lesões macroscópicas: Alterações ou lesões macroscópicas geralmente são detectadas à necropsia, quando a ave apresenta sintoma e/ou quando a doença já esta complicada (Tabela 3). De um modo geral, o melhor material para exame microscópico ou etiológico passa desapercebido e não é laboratorialmente analisado em função da: � subjetividade da observação. � a fase inicial do processo que é caracterizada pela presença de edema, por exemplo da traquéia e brônquios, são muito discretas. Por esta razão, se uma ave tem sinal clínico, o material deve ser analisado microscopicamente. � sob o ponto de vista macroscópico, todas as alterações são iguais, portanto a distribuição das lesões nas diferentes partes do sistema respiratório ou no pulmão e sacos aéreos pode ser útil para efetuar uma triagem clínica ou um diagnóstico presuntivo. Análise das alterações: � Lesões nas passagens aéreas (seios nasais, traquéia e brônquios). • o aumento da secreção de muco é visto em caso de pneumovírus, calor/ofego, irritantes locais, Mg e Ms. • hiperemia e edema: é visto em todas doenças respiratórias, no entanto em caso de BIG, pneumovírus, Ms e Criptosporidiose não há evolução do quadro e de modo geral, após 4 a 6 dias, a traquéia fica discretamente adelgaçada. • hemorragia: é uma característica para Mg, LTI, DN e IA. • descamação e/ou exsudato no lúmen: visto em Mg, LTI, BIG, Criptosporidiose, principalmente nos brônquios e bronquíolos e mais raramente na traquéia. • pontos brancos (mais visíveis na traquéia) são ninhos linfóides (BALT) e tem relação com convalescença para Mg, BIG, LTI e vírus vacinais muito imunogênicos. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 13 de 17 13 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. � Sacos aéreos: em condições de infecção natural, a presença de lesões nos sacos aéreos deve ser feita pela análise dos sacos aéreos craniais e caudais: sacos aéreos craniais estão alterados em casos de micoplasmose e mais raramente na BIG. Sacos aéreos abdominais ficam alterados quando a pneumonia está presente ou quando há complicações secundárias e intercorrências com fatores ambientais (introdução aerógena). • opacidade e hiperemia dos sacos aéreos: observado em caso de Ms, Mg, IA, cólera aviária e criptosporidiose. • exsudato serofibrinoso e cáseo: principalmente para Mg e menos com Ms (aerossaculite silenciosa dos frangos de corte). Salmonella sp e Aspergillus sp podem induzir este tipo de alteração. • nódulos: aspergilose. � Pulmão: deve-se analisar o pulmão D (maior) e o esquerdo (menor) em relação a: � consistência: • aumentado e “fôfo” significa enfisema por sobrecarga em caso de pneumonia unilateral. • aumentado, com resistência discreta e crepitação (sinal de godet) tem relação com edema intersticial. • pequeno e consistente tem relação com insuficiência pulmonar ou fibrose pulmonar. � cor: o normal é róseo claro na parte ventral (parte aérea) e vermelho escuro na parte dorsal (troca gasosa). • excesso de coágulos = obstrução do parabrônquio ou trombose. • aéreas vermelho acinzentadas = fibrose ou necrose. • áreas branco amareladas = necrose purulenta. � localização das lesões: observar se as lesões estão no neopulmão ou paleopulmão ou região peribronquial cranial ou caudal. As lesões podem ser nodulares ou difusas ou puntiformes, de cor branca ou vermelha. Após a avaliação da localização e distribuição das lesões vistas à necropsia, recomenda-se efetuar exame histopatológico dos órgãos alterados, e independente de não ter sido detectado alterações na traquéia, ela deve ser examinada em qualquer caso de doença respiratória. Os exames histopatológicos são recomendamos para avaliar ou dar um prognóstico em relação à presença de seqüelas de difícil resolução e interações com determinantes extrínsecos ao p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 14 de 17 14 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. hospedeiro (ambientais e outros patógenos). Por exemplo, associações de patógenos como Mg, Ms com VBIG e/ou com pneumovírus e/ou com Cryptosporidium sp podem ser reconhecidos através da histopatologia. IMUNIDADE NO TRATO RESPIRATÓRIO Quando uma ave sofre uma infecção respiratória ou quando é exposta pela primeira vez à uma vacina é importante ponderar que: � quanto mais invasivo ou virulento fôr o agente, a resposta imune local e sistêmica será mais intensa. � a resposta imune é desencadeada por dois mecanismos: � captação passiva de antígenos ou substâncias estranhas por macrófagos residentes da laringe, glândula de Harder e parabrônquios (equivalente a macrófago alveolar): é a condição comumente vista para vacinas atenuadas e para inúmeros microorganismos não patogênicos que são inalados. � porque o agente se multiplica no tecido e induz o afluxo de monócitos e macrófagos ou causa inflamação. Por exemplo vírus vacinais vivos tendem a se multiplicar mais na zona do sistema respiratório em que ela atingiu e induzir uma resposta imune mais sólida nestas zonas, por exemplo: • ocular � glândula de Harder, epitélio conjuntival e dos ductos lacrimais e seio infraorbitário. • nasal � seio nasal e seio infraorbitário. • spray � inalação favorece replicação nos seios nasais na laringe, na traquéia, nos brônquios e na mucosa dos bronquíolos e dos sacos aéreos. A conjuntiva em contato com aerossóis também exibe resposta. • oral � na laringe, faringe e tonsilas esofagianas e cecais e por contato, seios nasais. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 15 de 17 15 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. Do mesmo modo, a resposta imune é mais intensa e completa para os diferentes patógenos, de acordo com a região em que ela se replica ou de sua capacidade de invadir tecidos à distância. O exemplo típico de resposta imune local restrito ao sistema respiratório superior, é aquele observado com pneumovírus que infecta predominantemente o seio nasal. Como se expressa a imunidade? Quando uma ave tem contato com um microorganimo, de acordo com o tipo de antígeno que ela expõe e sua virulência, é esclarecida uma: � Resposta local: • secreção de interferon por macrófagos. • proliferação linfóide local (BALT). • imunidade celular mediada por células T. • secreção de IgA pelos plasmócitos. � Resposta sistêmica: • resposta no baço (esplenomegalia, polpa branca reativa). • células T no sangue circulante. • anticorpos circulantes (IgG e IgM). A amplitude da resposta imune celular é mais acentuada do que a humoral para bactérias do que para os vírus essencialmente epiteliotrópicos, exceto em caso de Mg e Ms. A reexposição ou reforço aumenta o nível de resposta humoral nos casos de vacinação e em uma ave vacinada que sofre exposição ao agente homólogo, também observamos um aumento de resposta imune. Diagnóstico da doença respiratória através da avaliação da imunidade Existem diferentes métodos para avaliar a imunidade local e sistêmica, mas na prática e de rotina, quando há disponibilidade de antígenos específicos para realização das provas de soroaglutinação rápida, imunodifusão em ágar gel ou soroneutralização ou de kits ELISA, realiza-se somente os exames sorológicos. As provas de detecção de IgA, imunidade celular (função da célula T e macrófagos) não são práticas e fáceis de serem realizadas porque envolvem colheitas de secreções ou de sangue fresco. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 16 de 17 16 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. Provas sorológicas (anticorpos circulantes) ouno soro O diagnóstico sorológico é conclusivo quando detectamos a presença de anticorpos específicos nos soros coletados após 10 a 15 dias do início dos primeiros sintomas de aves não vacinadas ou que tiveram contato prévio com o agente. Se o lote tiver sido vacinado, deve se coletar soro ao início do quadro respiratório (melhor é antes do início) e após 10 a 15 dias do início do problema. O técnico deve ter em mente que: � o exame sorológico é uma prova complementar específica porém não conclusiva por exemplo para lotes vacinados ou granjas que vacinam contra Mg, BIG, DN, pneumovírus, LTI, etc. Para lotes vacinados deve-se analisar um mínimo de 15 a 20 amostras de soro. Para um lote não vacinado, mesmo que seja uma amostra de soro, se a amostra fôr analisada durante o período de infecção, convalescença e cura total, a presença de anticorpos significa que a ave teve infecção. � doenças respiratórias podem ser multifatoriais, por exemplo micoplasmas geralmente exacerbam respostas de vírus vacinais e vírus vacinais exacerbam os efeitos deletério, do Mg à semelhança de associações com bactérias ubíquas na natureza, pneumovírus e vírus da BIG. � o uso de cepas vacinais com diferentes graus de atenuação numa mesma granja, dificulta a interpretação dos resultados sorológicos (reciclagem do vírus vacinal ou transmissão horizontal) durante um episódio de doença respiratória. � quando o agente é ubiquo na natureza e induz resposta sorológica cruzada, por exemplo bactérias como a Pasteurella sp e o Ornithobacterium sp, o resultado sorológico não é conclusivo para fechar o diagnóstico. � a sorologia não é um método de escolha, por exemplo para coriza infecciosa, porque os Haemophyllus paragallinarum que causam doença clínica podem ser de sorotipos variados. � a sorologia não é indicada para concluir diagnóstico para doenças exóticas (IA) ou para doenças que antígenos ou provas não estão disponíveis (LTI e IA) . � para lotes vacinados é importante considerar o programa de vacinação no lote e na granja. � é importante lembrar que para vírus como o VLTI que causa latência, o resultado sorológico é complementar ou presuntivo. p-doenças resp. em galináceos (Fort Dodge04) Página 17 de 17 17 SPAVE Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. � os resultados sorológicos podem variar segundo sexo, linhagem e tipo de ave (poedeira, frango, reprodutora) para doenças como BIG e pneumovírus. � a interpretação dos resultados sorológicos deve ser baseada em tipo, especificidade e sensibilidade da prova. Sensibilização imune, humoral e celular O exame histológico efetuado em diferentes segmentos do sistema respiratório e no baço de aves normais e enfermas é útil para estimar a proliferação de tecido linfóide (BALT e polpa branca) e inferir o estágio da doença (convalescença), nível de sensibilização e/ou virulência do patógeno. Um exame histopatológico do sistema respiratório e do baço permite inferir: � qual é a distribuição dos sítios de replicação, portanto inferir o tipo de agente e sua invasividade, patogenicidade, virulência e imunogenicidade. � que o animal é convalescente ou seja foi imunologicamente sensibilizado com uma resposta local ou sistêmica (baço). Imunidade e desafio: A imunidade celular e humoral induz resistência ao desafio experimental com o patógeno homólogo, portanto uma ave convalescente, quando desafiada não expressará doença, enquanto que, aves sentinelas ou controles ficarão doentes. CONTROLE E PREVENÇÃO A adoção de medidas de biossegurança são eficientes para controlar as doenças respiratórias causadas por bactérias, no entanto são poucos eficientes para vírus que são transmitidos por via aerógena e são de transmissibilidade rápida pelo vento e o ar a longas distâncias, para vírus que são ubíquas na natureza (eg BIG, pneumovírus), que induzem latência (eg LTI) ou que podem estar disseminadas entre as aves selvagens e caipiras (eg DN, IA?). É por esta razão que, em casos de doenças não sujeitas à erradicação compulsória como o Vv – DN e Vap-IA, e que causam prejuízos econômicos severos, se preconiza o uso de vacinas. Em caso em que o patógeno não é invasivo ou virulento, portanto se restringe à uma infecção localizada, é muito importante dar atenção aos fatores ambientais que agravam o quadro.
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