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Termorregulação Introdução A temperatura é a medida da intensidade da energia cinética média dos átomos e moléculas. Ela influencia as interações químicas que afetam a estrutura das macromoléculas e as reações bioquímicas, portanto possui um efeito importante em todos os processos fisiológicos. Nossa temperatura corpórea normal está entre 36 a 37°C. É importante mantê-la estável, havendo apenas uma variação de 1 a 2°C, porque nosso organismo possui uma grande quantidade de enzimas que catalisam reações químicas e essas enzimas possuem uma atividade enzimática ótima dependente da temperatura. Além disso, pode haver a desnaturação de proteínas – conformação tridimensional perdida. Já temperaturas mais baixas não causam distúrbios na atividade enzimática, mas até ajudam a preservar a conformação tridimensional de proteínas. Entretanto, as temperaturas baixas podem impedir o transporte de substâncias entre membranas plasmáticas nas células excitáveis – músculos estriado, cardíaco e liso e sistema nervoso central – fazendo com que elas percam sua capacidade excitatória. Temperatura corporal A temperatura central do corpo, nas vísceras da porção central do abdome, e no encéfalo, a temperatura permanece estável em 36,5 a 38°C, sem ser considerado estado febril, sendo 0,6°C mais alta quando medida por via retal. A temperatura periférica, que inclui os membros, pode ser extremamente variada, dependendo se o ambiente está frio ou quente. Ao longo de um dia, nossa temperatura corporal varia, sendo menor durante a manhã, já que nosso metabolismo é baixo nesse período. No decorrer do dia, a temperatura aumenta e o metabolismo também. Ao contrário, para quem dorme de dia, o maior pico de temperatura é a noite. Às seis horas da tarde, temos um pico de temperatura corporal. A temperatura corporal se eleva durante o exercício e varia com as temperaturas extremas do ambiente, porque os mecanismos regulatórios da temperatura não são perfeitos. Quando calor excessivo é produzido no corpo pelo exercício vigoroso, a temperatura pode se elevar, temporariamente para até 38,3 a 40°C. De forma inversa, quando o corpo é exposto a frio extremo, a temperatura, em geral, pode cair até valores abaixo de 36,6°C. Variação normal estimada pela temperatura “central” As consequências da mudança de temperatura do corpo humano são: Temperatura Consequência 40-44 Choque térmico com falência múltipla de órgãos e lesões cerebrais 38-40 Hipertermia (resultante da febre ou de exercício) 36-38 Intervalo considerado normal 34-36 Hipotermia leve 30-34 Desajuste da regulação da temperatura 27-29 Fibrilação atrial A manutenção da temperatura ao longo do dia é realizada por um mecanismo de equilíbrio fisiológico. Esses equilíbrios são dinâmicos, ou seja, não significa que não estão ocorrendo variações, mas as variações que estão ocorrendo não são extremas a ponto de sair da homeostase (ponto de equilíbrio). Variações na temperatura do ambiente externo podem influenciar na produção de calor ou na perda de calor do corpo. Assim, sempre que necessário, podemos produzir mais calor ou perder mais calor. Homeostase da temperatura A manutenção da temperatura corporal ocorre através de um balanço entre a perda e o ganho de calor. A homeotermia possibilita que o organismo mantenha sua atividade em temperaturas ambientais bastante diferentes. Seres humanos, portanto, são endotérmicos. É importante ressaltar que crianças e idosos possuem menor capacidade de manutenção da temperatura – crianças porque o sistema nervoso central ainda está em maturação e, com isso, elas ainda não conseguem captar e responder rapidamente os estímulos dos termo receptores; idosos porque as glândulas sudoríparas deles não respondem da mesma maneira que em jovens, além da perda de termo receptores periféricos, consequentemente diminuindo a capacidade de informar o SNC rapidamente sobre a necessidade de se produzir ou perder calor de acordo com a temperatura ambiente. Quando a intensidade/velocidade da produção de calor no corpo é superior à da perda de calor, o calor se acumula no corpo e a temperatura corporal se eleva. Inversamente, quando a perda de calor é maior, tanto o calor corporal como a temperatura corporal diminuem. Uma característica básica do equilíbrio térmico é que o controle da temperatura corporal obedece aos controles homeostáticos (equilíbrio dinâmico que propicia a vida livre e independente). Ou seja, o equilíbrio térmico é todo realizado na base do feedback negativo. O mecanismo de regulação funciona agindo contra a variação, seja para cima, seja para baixo. Efeito das temperaturas atmosféricas altas e baixas de várias horas de duração sobre a temperatura corporal “central”. A temperatura corporal interna permanece estável a despeito de amplas alterações na temperatura atmosférica. Assim, se a temperatura corporal estiver normal, nada é feito. Porém, se a temperatura está fora da faixa desejada, temos sensores (termo receptor periférico na derme) que captam essa informação e enviam um sinal para um centro integrador – que fica no hipotálamo. Assim, o centro integrador altera esse sinal e o envia para um efetor – glândulas sudoríparas e plexos vasculares cutâneos. Sensores térmicos na pele e no interior do organismo respondem às mudanças na temperatura local. Os termos receptores da pele são as aferências – terminações nervosas livres (que trafegam essas informações sobre a temperatura do ambiente pela via espinotalâmica). A medula espinal recebe as informações e as encaminha de forma lateral e anterior pelos tratos medulares até chegar nos centros nervosos mais importantes – tálamo, córtex e hipotálamo. O hipotálamo faz os ajustes reflexos que são feitos antes mesmo que tenhamos consciência dessa variação de temperatura. Produção de calor Perda de calor Suor/ofegação ↓ Isolamento Evaporação Termogênese sem tremor ↑ Isolamento Produção basal de calor Termo receptores internos estão presentes na medula espinhal, no SNC, inseridos nas fáscias dos músculos esqueléticos e dentro dos grandes vasos sanguíneos do core do organismo. Vasoconstrição está associada a retenção de calor. Vasodilatação está relacionada a dissipação de calor. BAT: tecido adiposo marrom. Hipotálamo O hipotálamo está em um local estratégico, acima do tronco encefálico e recebendo todas as influências de todos os tratos superiores do encéfalo. Possui pontos vazados sem barreira hematoencefálica que permitem o livre acesso do conteúdo da corrente sanguínea para pontos estratégicos do hipotálamo. É, portanto, um grande centro integrador. A área hipotalâmica anterior pré-óptica contém grande número de neurônios sensíveis ao calor, bem como cerca de um terço de neurônios sensíveis ao frio. Acredita-se que esses neurônios atuem como sensores de temperatura para o controle da temperatura corporal. Os neurônios sensíveis ao calor aumentam sua atividade por duas e 10 vezes, em resposta a aumento de 10°C da temperatura corporal. Os neurônios sensíveis ao frio, por sua vez, aumentam sua atividade quando a temperatura corporal cai. Quando a área pré-óptica é aquecida, a pele de todo o corpo imediatamente produz sudorese profusa, enquanto os vasos sanguíneos da pele de todo o corpo ficam muito dilatados. Essa resposta é uma reação imediata que causa perda de calor, ajudando a temperatura corporal a retornar aos níveis normais. Além disso, qualquer excesso de produção de calor pelo corpo é inibido. Portanto, está claro que a área hipotalâmica anterior pré-óptica tem a capacidade de funcionar como centro de controle termostático da temperatura corporal. A área do hipotálamo que os sinais perfiéricos estimulam está localizada bilateralmente no hipotálamo posterior, aproximadamente no nível dos corposmamilares. Os sinais sensoriais de temperatura da área hipotalâmica anterior pré-óptica também são transmitidos para essa área no hipotálamo posterior. Aí, os sinais da área pré-óptica e os sinais de outros locais do corpo são combinados e integrados para controlar as reações de produção e de conservação de calor do corpo. No hipotálamo, temos neurônios chamados de pré-autonomios; é do hipotálamo que sai o comando de neurônios que fará a atividade do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático. Resumindo, no hipotálamo, temos duas regiões muito importantes que recebem informações de termo receptores cutâneos e internos. Sempre que necessárias respostas de perda de calor (perder calor), o hipotálamo anterior (POAH) é ativado. Sempre que necessárias respostas de produção e retenção de calor (ganho de calor) o hipotálamo posterior é ativado. A formação reticular do tronco cerebral é importante para despertar o indivíduo, deixando-o mais alerta. Produção de calor A produção de calor é chamada de termogênese. Pode-se ter dois grandes tipos de termogênese: Termogênese sem tremor (química): produção metabólica de calor. A adrenalina pode favorecer as ações do hormônio da tireoide, tiroxina, e também favorecer o desacoplamento de moléculas de fosfato. O alimento ingerido é quebrado para gerar ATP e para que ele seja quebrado para produzir calor. A liberação de hormônio tireoestimulante (TSH) pela adenohipófise é aumentada na corrente sanguínea, fazendo com que a tireóide libere mais tiroxina no sangue. Esse aumento de tiroxina favorece o aumento do metabolismo intracelular. Termogênese com tremor: calor liberado durante a contração muscular. Sinais hipotalâmicos iniciam os tremores por ativação de grupamentos musculares. Ativação de áreas comportamentais para a geração de atividade muscular. Os mecanismos de conservação de calor, com relação à vasoconstrição, são feitos pelo Sistema Nervoso Autônomo Simpático. Os vasos sanguíneos são inervados exclusivamente pelo Sistema Nervoso Simpático. Assim, uma vez que ativado, o SNAS libera, através de neurônios simpáticos, o neurotransmissor noradrenalina, que se ligará aos receptores do subtipo 𝛼 dos vasos sanguíneos. (A noradrenalina será liberada em menor quantidade pela medula da adrenal, que libera adrenalina diretamente na corrente sanguínea). O aumento da liberação de noradrenalina e adrenalina ativam os receptores dos vasos e fazem com que a musculatura lisa da parede desses vasos se contraia. Consequentemente, diminui-se a área disponível para a passagem do sangue, diminuindo a possibilidade de dissipar calor desse sangue para o meio externo. Detecção da temperatura por receptores na pele A pele apresenta taxa metabólica pequena, e a circulação da pele é considerada uma circulação especial. Ela apresenta pequenos vasos sanguíneos chamados de anastomoses artériovenulares, que podem determinar uma palidez ou rubor, dependendo de sua ativação ou inibição. Essa menor taxa de metabolismo da pele permite que hajam variados fluxos sanguíneos nela que não são necessariamente danosos. A pele é dotada de receptores para o frio e para o calor. A pele apresenta muito mais receptores para o frio do que para o calor — de fato, 10 vezes mais, em várias partes da pele. Portanto, a detecção periférica da temperatura diz respeito principalmente à detecção de temperaturas mais frias, ao invés das temperaturas quentes. Embora os mecanismos moleculares para detectar mudanças na temperatura não sejam bem compreendidos, os estudos experimentais sugerem que a família de receptores de potencial transitório de canais catiônicos, presentes Termo receptores cutâneos e internos Formação reticular do Tronco Cerebral Área pré óptica do Hipotálamo anterior nos neurônios somatossensoriais e nas células epidérmicas, pode mediar na sensação térmica em um amplo intervalo de temperaturas cutâneas. Quando a pele é resfriada em todo o corpo, efeitos reflexos imediatos são evocados e começam a aumentar a temperatura corporal de várias formas: 1. Gerando forte estímulo para causar calafrios com aumento resultante da produção de calor corporal; 2. Pela inibição do processo da sudorese, se este estiver ocorrendo; 3. Promovendo a vasoconstrição da pele para diminuir a perda de calor corporal pela pele. A condução de calor para a pele pelo sangue é controlada pelo grau de vasoconstrição das arteríolas e das anastomoses arteriovenosas que suprem sangue para os plexos venosos da pele. Essa vasoconstrição é controlada quase completamente pelo sistema nervoso simpático, em resposta às alterações da temperatura central do corpo e alterações da temperatura ambiente. Quando captada a diminuição da temperatura na pele, ocorre a atuação do SNAS nos vasos da pele – há o fechamento ou vasoconstrição deles de tal forma que seja impedido o fluxo de sangue na rede capilar e seja feito um desvio de sangue de arteríolas para as vênulas. Assim, o sangue passa pela pele sem passar pela superfície desta. A pele também é capaz de fazer o inverso. Pode usar os capilares sem a ativação do SNAS diretamente para os vasos (apenas para gls. Sudoríparas) em uma situação de calor. Permite-se que haja o fluxo de sangue na superfície da pele, havendo troca de calor com o ambiente externo e consequente resfriamento. Detecção da temperatura por receptores internos Os receptores corporais profundos são encontrados principalmente na medula espinal, nas vísceras abdominais e dentro ou ao redor das grandes veias na região superior do abdome e do tórax. Esses receptores profundos atuam diferentemente dos receptores da pele, pois eles são expostos à temperatura central do corpo, em vez da temperatura da superfície corporal. Além disso, como os receptores de temperatura da pele, eles detectam, em sua maior parte, o frio ao invés do calor. É provável que tanto os receptores da pele como os -receptores profundos do corpo se destinem à prevenção da hipotermia, ou seja, impedir a baixa temperatura corporal. Respostas ao frio Vasoconstrição – para reter calor. Aumento da glicemia e consumo de glicose para produzir calor (aumenta a taxa metabólica). Aumento a atividade intracelular de proteínas desacopladoras de moléculas capazes de fornecer energia (ATP). Tremor muscular (devido aumento do tônus muscular no músculo estriado esquelético). Piloereção. Liberação de TRH (hormônio liberador de tireotrofina), aumenta a tiroxina, que favorece a produção de ATP e calor. Resposta comportamental de se encolher e se proteger do frio. Perda de calor Em uma situação em que o corpo está recebendo muito calor externo e ficando quente, o organismo têm de se preparar para perder calor. Grande parte do calor produzido pelo corpo é gerada nos órgãos profundos, especialmente no fígado, no cérebro e no coração, bem como nos músculos esqueléticos durante o exercício. A seguir, esse calor é transferido dos órgãos e tecidos profundos para a pele, onde ele é perdido para o ar e para o meio ambiente. Portanto, a velocidade da perda de calor é determinada quase completamente por dois fatores: 1. a velocidade de condução do calor de onde ele é produzido no centro do corpo até a pele; e 2. a velocidade de transferência do calor entre a pele e o meio ambiente. Para que o organismo perca o calor, ele deve: 1. Aumentar a sudorese. 2. ↑Circulação sanguínea. 3. Comportamento, como procurar se refrescar. Glândulas sudoríparas As glândulas sudoríparas écrinas contribuem para a regulação da temperatura através da liberação do suor. Possuem maior densidade nas palmas, plantas, axilas e fronte da face. A produção do suor é uma resposta adaptativa ao estímulo térmico. As glândulas sudoríparas apócrinas são localizadas nas axilas, regiões ano-genitais e mamilos. A secreção apócrinaalterada à superfície da pele pela presença de microrganismos torna-se odorífera. A glândula écrina apresenta uma porção secretora que absorve íons e água dos vasos sanguíneos presentes na derme. A porção secretora favorece de forma ativa a secreção precursosa de uma solução de Na+ e Cl- diluída semelhante ao plasma sanguíneo, com baixa concentração de K+. À medida que a solução passa pelo ducto excretor da glândula, são reabsorvidos boa parte do Na+, Cl- e H2O. A glândula écrina possui uma inervação exclusiva de Sistema Nervoso Autônomo Simpático, com uma particularidade: o a inervação simpática para glândulas sudoríparas libera como neurotransmissor a acetilcolina. A acetilcolina, uma vez em volta da porção secretora favorecem uma maior produção de suor (água e cloreto de sódio). Assim, o hipotálamo, ao receber a informação de calor pelos termo receptores cutâneos e interiores, integra essa informação e aciona o SNAS. Se a exposição ao calor for continuada (aclimatação ao calor), para que não seja perdido o sódio e o cloreto do organismo progressivamente, é secretada uma quantidade maior do hormônio mineralocorticoide aldosterona pelas glândulas suprarrenais. Isso ocorre com o intuito de conservar Na+ e ajudar a diminuir o volume total do suor, para evitar desidratação. A acetilcolina liberada na região das glândulas écinas pode se dispersar e provocar a vasodilatação da rede de capilares subjacente à epiderme, aumentando o fluxo sanguíneo naquela região. Em situações de calor, procuramos molhar o corpo, pois a água tem um grande poder de condutibilidade térmica, conseguindo absorver calor e resfriar o organismo através da evaporação dela. Colocar uma camiseta de plástico para correr ajuda a perder calorias? Não! Praticamente todo o calor liberado pelo organismo deve sair pela superfície da pele. A transpiração regula a temperatura do corpo e não determina gasto calórico. A evaporação do suor favorece a dissipação do calor gerado durante o exercício físico. A dissipação da carga térmica é essencial para o prolongamento do exercício. Exposição excessiva ao calor pode levar a exaustão térmica. Dentre as causas da exaustão térmica: 1. Desidratação = perda de água para o ambiente. 2. Hipovolemia = redução do fluxo de sangue. Respostas ao calor Vasodilatação – fluxo de sangue abaixo da epiderme é favorecido. Glândulas sudoríparas écrinas são estimuladas, A estimulação dá área pré- óptica-hipotalâmica anterior do cérebro provoca sudorese tanto eletricamente como por excesso de calor. Os impulsos neurais oriundos dessa área que causam sudorese são transmitidos por vias autônomas para a medula espinal e, depois, pelo simpático para a pele em todas as partes do corpo. Taquipneia (aumento da FR para troca de vapor pela respiração, a fim de dissipar o calor). Ou seja, quando o corpo fica superaquecido, o hipotálamo emite sinais neurogênicos para diminuir a temperatura corporal. Um desses sinais desencadeia a respiração ofegante. O arquejo, de fato, é controlado pelo centro do arquejo, associado ao centro respiratório pneumotáxico, localizado na ponte. Comportamento de procurar se refrescar. As roupas reduzem a perda de calor por condução e por convecção: As roupas aprisionam o ar próximo à pele nas fibras dos tecidos, aumentando a espessura da chamada zona privada de ar adjacente à pele e diminuindo o fluxo das correntes de convecção do ar. Consequentemente, a velocidade da perda de calor do corpo, por condução e convecção, diminui bastante. A eficiência da roupa na manutenção da temperatura corporal é quase completamente perdida quando fica úmida, porque a alta condutividade da água aumenta a velocidade de transmissão do calor através das roupas por 20 vezes ou mais. A evaporação é um mecanismo de resfriamento necessário em temperaturas muito altas do ar: Sempre que a temperatura da pele é superior à temperatura do ambiente, o calor pode ser eliminado por radiação e condução. Entretanto, quando a temperatura do ambiente é superior à da pele, ao invés de perder calor, o corpo ganha calor, tanto por radiação como por condução. Nessas circunstâncias, o único meio do corpo perder calor é pela evaporação. Portanto, qualquer coisa que impeça a evaporação adequada, quando a temperatura do ambiente é maior do que a da pele, elevará a temperatura interna. O corpo humano irradia os raios de calor em todas as direções. Os raios de calor também são irradiados pelas paredes e por outros objetos na sala, na direção do corpo. Se a temperatura do corpo é maior do que a temperatura do ambiente, maior quantidade de calor é irradiada pelo corpo do que a que é irradiada para o corpo. Controle comportamental da temperatura corporal Além dos mecanismos subconscientes para o controle da temperatura corporal, o corpo tem outro mecanismo de controle da temperatura ainda mais potente: o controle comportamental da temperatura. Quando a temperatura corporal interna se eleva em excesso, sinais oriundos das áreas de controle da temperatura no cérebro dão à pessoa sensação física de hiperaquecimento. Inversamente, sempre que o corpo se esfria, sinais da pele e, provavelmente, também de receptores corporais profundos desencadeiam a sensação de desconforto pelo frio. Portanto, a pessoa faz os ajustes ambientais apropriados para restabelecer o conforto, como sair de ambiente quente ou o uso de roupas bem isoladas em tempos frios. O controle comportamental da temperatura é um sistema muito mais poderoso para o controle da temperatura corporal do que qualquer outro sistema conhecido pelos fisiologistas no passado. Na verdade, esse é o único mecanismo realmente eficaz para manter o calor corporal em ambientes extremamente frios. Febre Febre, que significa temperatura corporal acima da faixa normal de variação, pode ser provocada por anormalidades no cérebro ou por substâncias tóxicas que afetam os centros reguladores da temperatura. Elas incluem doenças bacterianas ou víricas, tumores cerebrais e condições ambientais que podem resultar em uma intermação. Ponto de ajuste A temperatura corporal central crítica é de, aproximadamente, 37,1°C. Esse nível crítico de temperatura é chamado “ponto de ajuste” (ou ponto fixo) do mecanismo de controle da temperatura, isto é, todos os mecanismos de controle da temperatura tentam continuamente trazer a temperatura corporal para o nível desse ponto crítico de ajuste. 1. Em temperaturas acima desse nível, o índice de perda de calor é mais elevado que o da produção de calor, de modo que a temperatura do corpo cai e se aproxima do nível de 37,1°C. 2. Em temperaturas abaixo desse nível, a produção de calor é maior que a de perda de calor, de modo que a temperatura se eleva novamente e se aproxima dos 37,1°C. O ponto de ajuste da temperatura no hipotálamo, acima do qual a sudorese se inicia e abaixo do qual são desencadeados os calafrios, é determinado principalmente pelo grau de atividade dos receptores de calor na área hipotalâmica anterior pré-óptica. Entretanto, os sinais de temperatura das áreas periféricas do corpo, especialmente da pele e de certos tecidos corporais profundos (medula espinal e vísceras abdominais), também contribuem de modo discreto para a regulação da temperatura corporal. Mas como eles contribuem? A resposta é que eles alteram o ponto de ajuste do centro de controle da temperatura no hipotálamo. Efeito de diferentes temperaturas da pele sobre o ponto de ajuste para a sudorese, demonstrando que esse ponto crítico aumenta conforme a temperatura diminui. Assim, para a pessoa representada nessa figura, o ponto de ajuste hipotalâmico se elevou de 36,7°C, quando a temperatura da pele era superior a 33°C, para o ponto de ajuste de 37,4°C, quando a temperatura da pele caiu para 29°C. Portanto, assim que a temperatura da pele estava alta,a sudorese começou em temperatura hipotalâmica mais baixa do que no momento em que a temperatura da pele estava baixa. Pode-se compreender pron-tamente o valor desse sistema, pois é importante que a sudorese seja inibida quando a temperatura da pele é baixa; caso contrário, o efeito combinado da baixa temperatura da pele e da sudorese pode causar perda ainda maior de calor. Quando a pele fica fria, ela estimula os centros hipotalâmicos para o limiar dos calafrios, mesmo que a temperatura hipotalâmica permaneça no lado quente da normalidade. Aqui novamente se pode compreender o valor do sistema de controle, pois a temperatura fria da pele logo levaria à depressão profunda da temperatura, a menos que a produção de calor se elevasse. Assim, a temperatura fria da pele na verdade “antecipa” a queda na temperatura interna e impede a queda real da temperatura. A febre faz com que, mesmo com a temperatura corporal alta, tenhamos o ímpeto de nos cobrir, além de haver tremor corporal. Isso ocorre porque o corpo entende que a temperatura alta deve ser mantida, pois a febre ativa a produção de linfócitos T, células natural-Killer e anticorpos (favorece sistema imune). Muitas proteínas, produtos da degradação das proteínas e algumas outras substâncias, especialmente toxinas de lipossacarídeos oriundas das membranas celulares de bactérias, podem fazer com que o ponto de ajuste do termostato hipotalâmico se eleve. As substâncias que causam esse efeito são chamadas pirogênios. Os pirogênios liberados por bactérias tóxicas ou os liberados por tecidos corporais em degeneração, causam febre durante condições patológicas. Como dito anteriormente, quando o ponto de ajuste do centro de regulação hipotalâmico da temperatura se eleva acima do normal, todos os mecanismos para a elevação da temperatura corporal começam a atuar, incluindo a conservação de calor e o aumento da produção de calor. Em algumas horas, após a elevação do ponto de ajuste, a temperatura corporal se aproxima desse nível, Quando as bactérias ou os produtos da degradação das bactérias estão nos tecidos ou no sangue, eles são fagocitados pelos leucócitos do sangue, pelos macrófagos teciduais e pelos grandes linfócitos “killers” granulares. Todas essas células digerem os produtos bacterianos e, em seguida, liberam citocinas, grupo diferenciado de moléculas peptídicas de sinalização, participantes das respostas imunes e adaptativas. Uma das mais importantes dessas citocinas para causar febre é a interleucina 1 (IL-1), também chamada pirogênio leuco-citário ou pirogênio endógeno. A IL-1 é liberada pelos macrófagos para os líquidos corporais e, ao chegar ao hipotálamo, quase imediatamente ativa os processos produtores de febre aumentando, por vezes, a temperatura corporal, por valor significativo em apenas 8 a 10 minutos. A quantidade de IL-1 que é formada em resposta ao lipossacarídeo do patógeno suficiente para causar febre é de apenas alguns nanogramas O endotélio dos vasos sanguíneos do hipotálamo, ao entrar em contato com essas citocinas, faz uma cascata de reações de produção das prostaglandinas (produto ou agente inflamatório). As prostaglandinas, liberadas localmente no hipotálamo, fazem com que o “ponto de ajuste” dele se mude para uma temperatura maior, passando a entender que o corpo está em uma situação de frio. A febre pode ser um alerta de que o corpo está sendo invadido por patógenos e contribui de certa forma para o melhor desempenho do sistema imunológico. Alguns fatores podem interferir no hipotálamo, além dos pirogênicos (citocinas, interleucinas, fator de necrose tumoral), como fatores endógenos: 1. Osmolaridade: uma pessoa muito desidratada pode apresentar febre. 2. Glicose: 3. Estrógeno: em um pico estrogênico, o hipotálamo pode entender que é necessário aumentar a temperatura. 4. Progesterona: na gravidez, muitas grávidas sentem calor intenso. 5. Testosterona: a testosterona faz com que o hipotálamo entenda que é necessário aumentar a temperatura corporal. Sintomas da febre: Quando o ponto de ajuste do centro de controle de temperatura no hipotálamo é subitamente alterado do nível normal para um nível mais alto do que o normal (como resultado da destruição tecidual, substâncias pirogênicas ou desidratação), a temperatura corporal geralmente leva várias horas para atingir o novo ponto de ajuste da temperatura. Como a temperatura do sangue agora é menor do que o ponto de ajuste do controlador hipotalâmico da temperatura, ocorrem as respostas usuais que causam a elevação da temperatura. Durante esse período, a pessoa experimenta calafrios e sente frio intenso, mesmo que sua temperatura já esteja acima do normal. Além disso, a pele fica fria devido à vasoconstrição e a pessoa treme. Os calafrios continuam até que a temperatura corporal chegue ao ponto de ajuste hipotalâmico de 39,4°C. A partir desse ponto, a pessoa não apresenta mais calafrios e não sente frio ou calor. Enquanto o fator que causa elevação do ponto de ajuste do controlador da temperatura hipotalâmico estiver presente, a temperatura do corpo é regulada quase da mesma forma, mas em nível de ponto de ajuste mais alto. Choque Térmico O limite superior da temperatura do ar que a pessoa pode suportar depende em grande parte de se o ar é seco ou úmido. Se o ar está seco e correntes de ar de convecção suficientes estão fluindo para promover a rápida evaporação do corpo, a pessoa pode resistir durante várias horas na temperatura do ar de 54,4°C. Inversamente, se o ar está com 100% de umidade ou se o corpo está imerso na água, a temperatura corporal começa a se elevar sempre que a temperatura ambiental estiver acima de 34,4°C. Se a pessoa está realizando trabalho braçal, a temperatura ambiental crítica acima da qual provavelmente ocorrerá intermação pode ser de 29,4 a 32,2°C. Quando a temperatura corporal se eleva além de temperatura crítica, na variação entre 40,5 e 42,2°C, a pessoa provavelmente desenvolverá uma intermação. Os sintomas incluem desorientação, desconforto abdominal, algumas vezes acompanhado por vômitos, às vezes, delírios, com eventual perda da consciência se a temperatura corporal não for rapidamente diminuída. Esses sintomas em geral são exacerbados por grau de choque circulatório ou pela excessiva perda de líquidos e eletrólitos pelo suor. A hiperpirexia também é extremamente prejudicial para os tecidos corporais, especialmente para o cérebro, sendo responsável por muitos desses efeitos. De fato, mesmo poucos minutos em temperatura corporal muito alta algumas vezes pode ser fatal.
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