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Julia Paris Malaco Ambulatório – anestesio Anestesia Etimologicamente, anestesia significa ausência de dor. Porém, conceitualmente, sua definição e ́ mais ampla. A anestesia geral refere-se a um estado de inconsciência reversível, obtido pela administração de fármacos específicos e acompanhado de imobilidade, analgesia e bloqueio dos reflexos autonômicos. Os quatro componentes da anestesia geral são: Hipnose Analgesia Relaxamento muscular Bloqueio neurovegetativo Anestesia é a sensação de dor é interrompida, impede que os sinais/estímulos de dor cheguem ao cérebro. A dor e outros estímulos viajam pelo SN como impulsos elétricos, a anestesia (local) funciona armando uma barreira elétrica, ela se liga a proteínas nas membrandas celulares dos neurônios que deixam partículas carregadas entrar e sair e impedem partículas de carga positiva entrar. Normalmente os sinais elétricos do cérebro são agitados/misturados o que mantem a pessoa em alerta. Quando anestesiado esses sinais ficam calmos e organizados sugerindo que diferentes partes do cérebro não estão mais se comunicando. Os receptores GABA-A mantem as passagem abertas permitindo que partículas de carga negativa entrem na célula, essa carga negativa se acumula e age como uma barreira evitando que o neurônio transmita sinais elétricos. Anestesia geral implica na perda reversível e controlada da consciência, o que significa que o paciente não consegue sentir, ouvir ou lembrar de nada. Algumas funções fisiológicas essenciais são suspensas, como a respiração, por exemplo, e têm de ser mantidas artificialmente. Paralelamente, o paciente recebe drogas que desfazem o tônus muscular e paralisam os movimentos. No final da anestesia geral, as drogas que a induzem e a mantêm são interrompidas e os pacientes recebem agentes para reverter todos os seus efeitos. A anestesia geral é usada em cirurgias de grande porte, sobretudo naquelas que envolvem abertura da cavidade torácica ou abdominal. Anestesia regional torna uma região do corpo incapaz de sentir dor, sem abolir a consciência. É o que acontece na anestesia raquidiana ou peridural, em que a pessoa fica anestesiada da cintura para baixo. Esse tipo de anestesia pode ser empregado em intervenções na metade inferior do corpo, como partos, por exemplo. Outros exemplos são os bloqueios anestésicos de troncos nervosos, usados para possibilitar procedimentos cirúrgicos nas extremidades ou para aliviar dores intratáveis. Anestesia local torna uma pequena área focal incapaz de sentir dor. É utilizada, por exemplo, em pequenas cirurgias, como retirada de um cisto dérmico, pequenas suturas ou extração de dentes. Apenas os anestésicos inalatórios permitem, em uso isolado, a obtenção dos quatro componentes da anestesia geral. Na maioria das vezes, utiliza-se a associação de agentes anestésicos via inalatória e via venosa, em técnica conhecida como anestesia balanceada. O anestésico ideal deve ser de baixo custo e fácil administração, ter estabilidade química, ação previsível, indução e recuperação rápidas, não ter efeitos adversos, não ser inflamável, ter biotransformação mínima ou ausente e ser de possível monitoração da concentração plasmática. Durante a anestesia geral é necessário assistência ventilatória, visto que os opioides deprimem o centro respiratório e os bloqueadores neuromusculares paralisam os músculos respiratórios. Após a indução anestésica, segue-se a manutenção da anestesia, obtida pela administração de agentes anestésicos venosos ou inalatórios. Anestésicos inalatórios A anestesia inalatória e ́ realizada por meio da administração de agentes voláteis, como halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano e desflurano ou de gases, como o óxido nitroso e o xenônio. https://www.rodrigopaez.com.br/publicacoes/o-que-preciso-saber-sobre-a-anestesia-geral/ Julia Paris Malaco Além disso, ela é normalmente combinada com agentes intravenosos e bloqueadores neuromusculares. Os anestésicos inalatórios são administrados e eliminados pelos pulmões, o que e ́ uma grande vantagem em relação aos anestésicos venosos, pois e ́ possível ter um controle maior e uma modificação rápida da profundidade anestésica. Eles tem ação principalmente no SNC, no qual ha ́ inibição da percepção da dor. Concentração alveolar mínima (CAM) O conhecimento da CAM dos anestésicos inalatórios é essencial para o planejamento da anestesia. Ela é definida experimentalmente, sendo a concentração alveolar em que 50% dos indivíduos expostos permanecem imóveis, quando estimulados cirurgicamente, e expressa a potência dos anestésicos inalatórios, permitindo prever o comportamento de misturas anestésicas. A concentração alveolar em que 95% dos indivíduos permanecem irresponsivos a incisão cirúrgica é denominada dose eficaz (DE95). A DE95 equivale a 1,3 a 1,5 da CAM. A concentração alveolar mínima é afetada pela idade, temperatura corporal, ritmo circadiano, função tireóidea e uso concomitante de outros fármacos, principalmente opioides. Farmacocinética A ação do anestésico inalatório ocorre pela tensão exercida no sangue. E ́ importante entender a relação entre fração inspirada (FI) e fração alveolar (FA), pois ela determina a absorção dos anestésicos inalatórios. A relação FA/FI depende da capacidade residual funcional (CRF) e da ventilação alveolar (VA). Assim, quanto maior a ventilação, mais rápido o equilíbrio entre a concentração alveolar e a concentração de anestésico inspirada sera ́ atingido. E ́ importante ressaltar também que a retirada do anestésico dos alvéolos pelo sangue que os perfunde retarda o equilíbrio entre FA e FI; portanto, a captação do anestésico antagoniza o efeito da ventilação. Quanto maiores forem a solubilidade do anestésico no sangue e seu fluxo sanguíneo pulmonar, maior será captação. Consequentemente, quanto maior a solubilidade, maior a captação nos pulmões e mais lentamente o equilíbrio entre FA e FI será alcançado. Como a captação do anestésico também depende do fluxo sanguíneo pulmonar, o aumento do débito cardíaco facilita a captação e retarda o equilíbrio FA e FI. Logo, um agente muito solúvel no sangue leva um tempo maior para atingir a saturação alveolar e consequentemente produz indução e recuperação lentas. Ele também é depositado no tecido adiposo, o que retarda o tempo de recuperação anestesia, podendo produzir ressaca prolongada quando utilizado em cirurgia demorada (p. ex., o halotano). O anestésico inalado é absorvido nos capilares pulmonares e transportado até ́ a barreira hematoencefa ́lica, que e ́ livremente permeável a esses fármacos, com rápida ação cerebral. Uma das propriedades mais importantes de um agente anestésico é a rápida indução e a recuperação do efeito da anestesia, que são determinadas pela solubilidade no sangue e lipossolubilidade. Os anestésicos inalatórios mais utilizados são óxido nitroso, isoflurano, sevoflurano e desflurano. Oxido nitroso: Não e ́ muito potente e não produz anestesia cirúrgica, sendo utilizado como coadjuvante de outros anestésicos. Isoflurano: Anestésico volátil amplamente utilizado, especialmente em procedimentos cirúrgicos de longa duração. A indução e a recuperação da anestesia ocorrem rapidamente. Sevoflurano: O sevoflurano promove indução anestésica com perda de consciência rápida e suave. E ́ agente potente e pouco solúvel. Possui baixa toxicidade e garante boa estabilidade hemodinâmica. Desflurano: A solubilidade no sangue e na gordura e ́ a mais baixa entre os halogenados. Com indução e recuperação rápidas, o Julia Paris Malacodesflurano é muito utilizado para cirurgias ambulatoriais. Anestésicos venosos Os anestésicos venosos agem rapidamente, produzindo inconsciência em cerca de 20 segundos, tão logo o fármaco alcance o cérebro, sendo utilizados para indução e manutenção da anestesia. Agentes hipnóticos Propofol: Atua potencializando a ligação do ácido alfa-aminobuti ́rico aos receptores do sistema nervoso central. O início de ação e ́ menor que 60 segundos. Apesar de uma meia-vida terminal de 13 a 44 horas, a duração de seus efeitos é de aproximadamente 10 horas. Não possui propriedades analgésicas. São efeitos colaterais desse agente: isquemia do miocárdio, hipotensão, bradicardia, diminuição do débito cardíaco, hipertensão arterial (principalmente em crianças), hipotonia, alucinações, neuropatia, rash cutâneo, hiperemia conjuntival, nistagmo, hiperlipidemia, apneia, tosse, acidose respiratória durante o desmame, astenia, ardor, coceira ou dor no local da injeção e febre. Benzodiazepínicos: Os benzodiazepínicos atuam ligando-se a um local regulador especifico no receptor GABAa, intensificando assim o efeito inibitório de GABA. Existem subtipos do receptor GABAa em diferentes regiões do cérebro e que diferem em seus efeitos funcionais. Midazolam: O midalozam é um benzodiazepínico hidrossolúvel, que atua difusamente no SNC, sobretudo, na formação reticular e no sistema límbico, provavelmente aumentando a ação do GABA, sendo três vezes mais potente que o diazepam. A sedação em pacientes adultos e pediátricos e ́ alcançada dentro de 3 a 5 minutos após a injeção intravenosa (IV). Esse fármaco potencializa a ação de opioides ou anestésicos inalatórios, podendo ser associado a eles para manutenção de anestesia. Também pode ser utilizado na sedação pré-cirúrgica ou antes de procedimentos diagnósticos curtos (broncoscopia, gastroscopia, citoscopia, cateterismo cardi ́aco) e como coadjuvante da anestesia geral. Muitas vezes é usado durante procedimentos como a endoscopia, em que a anestesia completa não e ́ necessária. Cetamina: Administrada por via intravenosa, a cetamina age mais lentamente (2 a 5 minu- tos) que o tiopental e produz efeito diferente, conhecido como anestesia dissociativa, no qual ha ́ significativa perda sensorial e anestesia, bem como amne ́sia e paralisia dos movimentos, sem perda real da conscie ̂ncia16. Seus efeitos colaterais sa ̃o: efeitos psicotomime ́ticos depois da recuperac ̧a ̃o; na ́useas, vo ̂mitos e salivac ̧a ̃o pós-operatórios; aumento da pressa ̃o intracraniana; e aumento da pressa ̃o sangui ́nea e da freque ̂ncia respirato ́ria Opioides: Os opioides são analgésicos potentes. Eles exercem sua ação ocupando e estimulando receptores específicos, resultando em diferentes efeitos funcionais. Existem três tipos de receptores denominados delta, mu e kappa, divididos em subtipos Fentanil: Tem efeito hipnótico discreto e mesmo em altíssimas doses pode não garantir hipnose completa durante a anestesia geral. Pode ser utilizado como único analgésico na anestesia geral ou associado a anestésicos inalatórios, potencializando a ação deles. E ́ potente depressor respiratório, podendo causar apneia e rigidez da musculatura torácica. Produz discreta bradicardia e diminuição da pressão arterial Sedação A sedação, que consiste na diminuição do estado alerta ou vigília, apresenta amplo espectro, desde ansio ́lise até́ o estado de anestesia geral e pode ser empregada tanto no ato cirúrgico quanto em uma variedade de situações clinicas que vão desde controle de ansiedade e transtornos ansiosos, distúrbios motores, aumento do conforto e cooperação, crises convulsivas e controle de dor Julia Paris Malaco até trauma agudo com instabilidade cardiovascular, respiratória ou neurológica. A sedação é a depressão também controlada da consciência, que torna o paciente um pouco menos consciente de si mesmo e do ambiente. Nesse estado, os pacientes podem estar sonolentos, mas não inconscientes. Não sentirão a dor, mas estarão cientes, embora confusamente, do que está acontecendo ao seu redor. A resposta do paciente aos estímulos externos se torna limitada. Popularmente conhecidos como calmantes, os medicamentos sedativos possuem a propriedade de reduzir a ansiedade sem afetar, ou afetando pouco, as funções motoras e mentais dos pacientes. A sedação pode ser mínima, moderada ou profunda: A sedação mínima é usada apenas para aliviar a ansiedade do paciente, que precede algumas intervenções médicas, com nenhum ou muito pouco efeito sobre a consciência do paciente. A sedação moderada deprime um pouco a consciência, mas deixa o paciente capaz de responder a estímulos externos, táteis ou verbais. Na sedação profunda, o paciente responde apenas a estímulos dolorosos fortes ou repetidos. Se a sedação for levada longe demais, o paciente pode ficar inconsciente. Existe sedação em procedimentos e sedação em UTI, que são diferentes Pilares da sedação – hipnose e analgesia A sedação também possui indicações para procedimentos diagnósticos e terapêuticos em associação com anestesia local, também sendo indicada como adjuvante no cuidado paliativo. Os benzodiazepínicos, principalmente o midazolam, ainda são os agentes mais empregados para sedação em terapia intensiva, pois podem ajudar no controle da agitação e diminuir a necessidade de analgésicos sem causar instabilidade cardiorrespiratória, embora haja uma enorme variabilidade individual na relação dose- efeito, o que exige cuidado na sua administração e desenvolvimento de tolerância a seus efeitos após exposição prolongada. O propofol, por outro lado, permite rápida recuperação e tem perfil de toxicidade favorável, porém deve sempre haver suplementação de O2, já ́ que mesmo pequenas doses podem levar a ̀ depressão respiratória. Outra opção é combinar o uso de pequenas doses de midazolam administradas pouco antes da infusão de propofol, ou completar a sedação com opioides. A morfina e o fentanil, podem potencializar o efeito sedativo de outros agentes. O remifentanil sozinho ou combinado com baixa dose de propofol ou midazolam pode ser usado para sedação consciente. A cetamina produz sedação intensa, podendo levar a um estado de catalepsia. Seu início de ação é rápido, mas pode resultar em um aumento das secreções salivares e respiratórias e da pressão arterial, intraocular e intracraniana. Relaxantes musculares: Os relaxantes musculares são fármacos coadjuvantes da anestesia, utilizados para facilitar a intubação traqueal e fornecer o relaxamento muscular necessário para a cirurgia. Eles são capazes de bloquear a transmissão neuromuscular, agindo ou na região pré-sináptica, inibindo a síntese ou a liberação de ACh (acetilcolina), ou na região pós-sináptica, nos receptores de ACh. Julia Paris Malaco Manejo da sedação Durante a sedação, o uso de escalas favorece a obtenção da titulação adequada dos fármacos utilizados na sedação, evitando a sedação excessiva e o uso desnecessário de doses maiores. As escalas mais utilizadas são de Ramsay, SAS e RASS. RASS: mais utilizada hoje em dia) Ramsey: idealmente manter o paciente entre os níveis 3 e 4. Em casos de sedação profunda entre 5 e 6. SAS: entre 3 ou 4 Despertar diário O despertar diário é uma intervenção na qual o paciente tem a infusão de sedativos suspensae mantida até que acordem e possam receber comandos simples, ou até ficarem agitados e desconfortáveis. Nesse momento a sedação é religada iniciando-se com metade da dose anterior e titulando-a até atingir i nível de sedação necessário. O uso dessa pratica se associou a redução do tempo de ventilação mecânica e a internação hospitalar em UTI Suspender a infusão de sedativos à 6 horas; Caso necessário, reiniciar a infusão com metade da dose, para manter RASS entre 0 e - 1; A sedação excessiva do paciente crítico causa efeitos deletérios como aumento do tempo de ventilação mecânica, a ocorrência de delirium e maior mortalidade. A adequação da analgesia e sedação do paciente crítico sob ventilação mecânica priorizando o controle da dor e utilizando níveis mais leves de sedação–alvo e a interrupção diária da infusão de sedativos reduz essas complicações. Para tanto, utilizam-se protocolos de sedação a fim de alcançar níveis mais leves de sedação-alvo e promover interrupção diária da sedação (despertar diário), objetivando: Busca/correção de causas reversíveis (hipoxemia, hipoglicemia, hipotensão, dor, hipercarbia, uremia, distúrbios hidroeletrolíticos, acidose, infecção, desconforto respiratório, delirium, privação de sono, imobilização, abstinência de álcool ou drogas) e controle do ambiente (ruídos, luminosidade, temperatura); Utilizar a menor dose possível dos medicamentos para reduzir tolerância e dependência; Julia Paris Malaco A sedação-alvo deve ser individualizada; A necessidade de manutenção e dosagem das drogas deve ser reavaliada diariamente; Monitorizar o nível de sedação através da escala de agitação-sedação de Richmond (RASS); Se houver necessidade de reinício da sedação conforme indicação clínica, utilizar metade da dose prévia e titular como for conveniente; A avaliação dos pacientes é individualizada e diária, através de instrumentos para mensuração de dor e nível de sedação, a saber: Escala Comportamental de Dor (paciente sedado e/ou em ventilação mecânica); Escala Visual de Dor (paciente consciente); Escala de Agitação-Sedação de Richmond (RASS). Deve-se proceder avaliação diária da sedação- alvo (RASS 0 a -1) e aplicação do protocolo de despertar diário: suspensão matinal da analgosedação em todos os pacientes que não apresentem contraindicações (hipertensão intracraniana, status epiléptico, PEEP >15cmH2O ou FiO2 >70%, agitação psicomotora não- controlada, uso de bloqueador neuromuscular, condições cirúrgicas que exijam imobilização estrita) Medicamentos utilizados Sedação: 1. Benzodiazepínicos – midazolam e diazepam – diazepam não é bom para sedação, mas é o mais viável para ser utilizado em convulsões 2. Propofol: usado só em ambiente hospitalar com suporte de oxigênio, pois tem risco alto de apneia. É um cardiodepressor – baixa a frequência e força 3. Cetamina 4. Precedex Analgesia: 1. Cetamina 2. Fentanil Pacientes podem desenvolver tolerância e dependência aos medicamentos utilizados Anestésicos no SNC Excitabilidade Neuronal: Os anestésicos podem hiperpolarizar (criar um potencial de membrana em repouso mais negativo) os neurônios motores espinais e os neurônios corticais, sendo essa capacidade de hiperpolarização correlacionada com a potência anestesia. Embora os dados atuais ainda concordem com a visão prevalente de que a excitabilidade neuronal e ́ apenas discretamente afetada pelos anestésicos gerais, esse pequeno efeito pode, mesmo assim, contribuir de forma significativa para a ação clinica dos anestésicos voláteis. Transmissão Sináptica: A transmissão sináptica é considerada o sítio subcelular mais provável da ação dos anestésicos gerais. A neurotransmissa ̃o através de sinapses tanto excitatórias (nem todas as sinapses excitatórias são igualmente sensíveis aos anestésicos) quanto inibitórias e ́ bastante alterada pelos anestésicos gerais. Efeitos Pré-Sinápticos: A liberação do neurotransmissor de sinapses glutamatérgicas é inibida por concentrações clinicas de anestésicos voláteis. Efeitos Pós-sinápticos: Os anestésicos alteram a resposta pós-sináptica aos neurotransmissores liberados em uma grande variedade de sinapses. Efeitos anestésicos sobre canais iônicos voltagem- dependentes: Uma grande variedade de canais iônicos tem capacidade de captar alterações no potencial de membrana e de apresentar respostas abrindo ou fechando os poros. Julia Paris Malaco A função dos canais de cálcio voltagem- dependentes e ́ acoplar a atividade elétrica a funções celulares especificas (resposta ao potencial de ação ao abrir). A abertura permite a entrada de cálcio na célula e ativa a secreção dependente de cálcio dos neurotransmissores na fenda sináptica. Os canais de potássio são os canais iônicos mais diversificados e incluem os canais voltagem-dependentes (canais de fundo ou de vazamento) que se abrem em uma ampla gama de voltagens. Efeitos anestésicos sobre canais controlados por ligantes: As ações dos canais iônicos controlados por ligantes medeiam a neurotransmissa ̃o excitatória e inibitória rápida. A liberação sináptica de glutamato ou de ácido gama- aminobuti ́rico (GABA) se difunde ao longo da fenda sináptica ligando-se aos canais proteicos que se abrem em consequência da liberação pelo neurotransmissor. Os canais iônicos controlados por ligantes produzem um alvo lógico para a ação anestésica porque os efeitos seletivos sobre esses canais inibem a transmissão sináptica excitatória rápida ou facilitam a transmissão sináptica inibitória rápida. Os canais iônicos ativados por glutamato incluem receptores do AMPA (ácido alfa- amino-3-hidróxi-5-metil-4-isoxazole propiônico), receptores de cainato e receptores do N-metil-d-aspartato (NMDA). o Os receptores de AMPA e cainato são canais catiônicos mono- valentes relativamente seletivos envolvidos na transmissão sináptica excitatória rápida. o Além de serem condutores de Na1 e K1, os canais de NMDA conduzem também Ca11 e estão envolvidos na modulação a longo prazo de respostas sinápticas (potencialização de longo prazo). Aparentemente, as correntes ativadas pelo NMDA também são sensíveis a um subgrupo de anestésicos. o A cetamina é um inibidor potente e seletivo de correntes ativa- das pelo receptor NMDA. A cetamina inibe as correntes geradas de forma estereosseletiva, ligando-se ao sítio de fenciclidina que se localiza na proteína do receptor NMDA. o Os receptores NMDA podem também ser um alvo importante para o óxido nitroso e o xenônio. Canais Iônicos Ativados pelo GABA: O GABA é o neurotransmissor inibitório mais importante no SNC dos mamíferos. Os canais iônicos ativados pelo GABA (receptores GABAA) medeiam respostas pós- sinápticas, permitindo, de forma seletiva, a penetração de íons cloreto com a consequente hiperpolarização dos neurônios. Os receptores GABAA são proteínas de multissubunidades consistindo em várias combinações de subunidades a, b, d e «, sendo que cada uma dessas subunidades possui vários subtipos. A função dos receptores GABAA e ́ modulada por uma ampla variedade de agentes farmacológicos, como convulsivantes, anticonvulsivantes, sedativos, ansiolíticos e anestésicos. Barbitúricos, anestésicos esteroides, benzodiazepínicos, propofol, etomidato e os anestésicos voláteis modulam a função dos receptores GABAA (potencialização, controle direto e inibição). Apesar da semelhança dos efeitos de vários anestésicos sobre a função do receptor GABAA, diferentes anestésicos agem sobre subtipos distintos desses receptores (a sensibilidade aos benzodiazepínicosexige a presença do subtipo da subunidade g2; a sensibilidade ao etomidato exige a presença do subtipo da subunidade b2 ou b3). Locais de ação dos anestésicos Imobilidade: As evidências indicam que a medula espinal e ́ o principal sítio de ação dos anestésicos para inibir os movimentos em resposta a um estimulo tóxico. Este e ́ o desfecho final utilizado na maior parte das mensurações da potência anestésica. Os valores da CAM para os anestésicos voláteis não chegam a ser afetados em ratos por descerebração ou por transecção cervical da medula espinal. Controle Autono ̂mico: A anestesia exerce efeitos profundos sobre os mecanismos homeostáticos por meio de efeitos nos centros autonômicos do tronco encefálico. As alterações cardiovasculares também são parcialmente mediadas nos centros autonômicos. Os anestésicos também interferem com a termorregulação hipotalâmica. Amnesia: Embora os mecanismos neurobiológicos subjacentes ao aprendizado, a ̀ consolidação da memória e a ̀ capacidade de armazenamento da memória ainda permaneçam obscuros, o hipocampo e as amígdalas são alvos anestésicos plausíveis para suprimir a formação de memória. Inconscie ̂ncia: Do ponto de vista operacional, consciência e ́ um estado complexo que pode ser dividido em dois componentes (excitação e de- Julia Paris Malaco pressão) e bloqueado individualmente por anestésicos. Sistema de ativação reticular e centros excitatórios: O sistema de ativação reticular (RAS, reticular activating system) e ́ um grupo difuso de neurônios do tronco encefálico que fazem a mediação da excitação. A estimulação elétrica do RAS induz a excitação em animais anestesiados. Tálamo: O tálamo e ́ um alvo provável da ablação anestésica da consciência, embora seus mecanismos exatos sejam desconhecidos. Córtex Cerebral: O córtex cerebral e ́ o sítio principal de integração, armazenamento e recuperação de informações para a geração da consciência do ambiente externo. A interrupção das conexões de feedback pelos anestésicos pode contribuir para alterações na consciência, atenuando a integração de informações distribuídas entre as regiões corticais. Os efeitos dos anestésicos sobre a atividade cortical basal e sobre os potenciais de ação provavelmente contribuam para a perda da consciência limitando a diversidade de informações que podem ser representadas e a integração das informações neurais. Os anestésicos alteram a topologia de conexões frontais, parietais e temporais facilitando a atenção e processos cognitivos superiores com base nos padrões de atividades correlatas. Os anestésicos enfraquecem a atividade cortical oscilatória sincronizada de alta frequência que, normalmente, e ́ importante para a integração de informações ao longo das áreas corticais.
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