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Objetivo geral: - Conhecer os fármacos anestésicos e suas aplicações clínicas. Objetivos específicos: 1. Rever os receptores e neurotransmissores envolvidos na anestesia; 2. Conhecer os diferentes locais de ação dos fármacos; 3. Entender a farmacodinâmica dos medicamentos; 4. Associar as diferenças químicas e características farmacocinéticas; 5. Entender o uso clínico. A n e s t é s i c o s G e r a i s O estado neurofisiológico produzido pelos anestésicos gerais caracteriza-se por cinco efeitos principais: ➔ Perda da consciência; ➔ Amnésia; ➔ Analgesia; ➔ Inibição dos reflexos autônomos; ➔ Relaxamento da musculatura esquelética. Nenhum dos anestésicos disponíveis no momento, quando usados isoladamente, são capazes de produzir todos os cinco efeitos desejados. Um agente anestésico, para ser ideal, deve induzir uma perda da consciência rápida e uniforme, ser rapidamente reversível com sua interrupção e apresentar uma ampla margem de segurança. A prática moderna da anestesiologia baseia-se no uso de associação de fármacos intravenosos e inalatórios (técnicas de anestesia balanceada), tirando proveito das propriedades favoráveis de cada agente e minimizando seus efeitos colaterais. A escolha da técnica anestésica é determinada pelo tipo de intervenção diagnóstica, terapêutica ou cirúrgica a realizar. Para procedimentos cirúrgicos mais extensos, a anestesia pode começar com a administração pré-operatória de benzodiazepínicos, ser induzida com anestésico intravenoso (p. ex., tiopental ou propofol) e ser mantida com uma associação de fármacos inalatórios (p. ex., fármacos voláteis, óxido nitroso) ou intravenosos (p. ex., propofol, analgésicos opióides), ou ambos. Mecanismo de ação Os anestésicos afetam os neurônios em vários locais celulares, porém o principal foco tem sido a sinapse. Uma ação pré-sináptica pode alterar a liberação de neurotransmissores, ao passo que um efeito pós-sináptico pode modificar a frequência ou a amplitude dos impulsos que saem da sinapse. Em nível orgânico, os efeitos dos anestésicos podem resultar de uma inibição reforçada ou da diminuição da excitação dentro do SNC. Os canais de cloreto (receptores de ácido γ-aminobutírico A [GABAA] e glicina) e os canais de potássio (canais de K2P, possivelmente KV e KATP) continuam sendo os principais canais iônicos inibitórios considerados candidatos legítimos da ação anestésica. FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) Os canais iônicos excitatórios como alvos incluem aqueles ativados pela acetilcolina (receptores nicotínicos e muscarínicos), pelo glutamato (receptores de ácido amino-3-hidroxi-5-metil-4--isoxazol-propiônico [AMPA], de cainato e N-metil-d-aspartato [NMDA]) ou pela serotonina (receptores de 5-HT2 e 5-HT3). Anestésicos Inalatórios → Anestésicos voláteis ← Os anestésicos voláteis têm baixas pressões de vapor e, portanto, pontos de ebulição elevados, de modo que são líquidos em temperatura ambiente (20oC) e na pressão ao nível do mar. ➔ Halotano ➔ Enflurano ➔ Isoflurano ➔ Desflurano ➔ Sevoflurano Em virtude de suas características especiais, é necessário que os anestésicos voláteis sejam administrados por meio de vaporizadores. → Anestésicos gasosos ← Os anestésicos gasosos possuem altas pressões de vapor e pontos de ebulição baixos, de modo que ocorrem na forma de gases em temperatura ambiente. ➔ Óxido nitroso ➔ Xenônio Farmacocinética Os anestésicos inalatórios, tanto voláteis como gasosos, são captados por meio da troca gasosa nos alvéolos. Sua passagem dos alvéolos para o sangue e distribuição e partição nos compartimentos efetivos constituem importantes determinantes da cinética desses agentes. Conforme assinalado anteriormente, um anestésico, para ser ideal, deve ter início rápido de ação (indução), e seu efeito deve ser rapidamente interrompido. Para obter isso, é necessário que a concentração efetiva no SNC (cérebro e medula espinhal) seja rapidamente modificada. Farmacodinâmica → Efeitos no Sistema Nervoso Os anestésicos inalatórios (bem como os anestésicos intravenosos, diminuem a atividade metabólica do cérebro. A diminuição da taxa metabólica cerebral (TMC) em geral reduz o fluxo sanguíneo no cérebro. O efeito final no fluxo sanguíneo cerebral (aumento, diminuição ou nenhuma alteração) depende da concentração do anestésico administrado. Tradicionalmente, os efeitos anestésicos sobre o cérebro produzem quatro estágios ou níveis de profundidade crescente de depressão do SNC (sinais de Guedel, que se originaram das observações dos efeitos do éter dietílico inalado). 1. Estágio I – analgesia: a princípio, o paciente apresenta analgesia sem amnésia. 2. Estágio II – excitação: durante esse estágio, o paciente parece delirante, podendo emitir sons, porém está totalmente amnésico. 3. Estágio III – anestesia cirúrgica: esse estágio começa com a lentificação da respiração e da frequência cardíaca e estende-se até a cessação completa da respiração espontânea (apneia). 4. Estágio IV – depressão medular: esse estágio profundo de anestesia representa uma grave depressão do SNC, incluindo o centro vasomotor no bulbo e o centro respiratório no tronco encefálico. A morte sobrevém rapidamente se não houver suporte circulatório e respiratório. ➔ Depressão da contratilidade cardíaca ➔ Depressão respiratória FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) ➔ Diminuição da pressão arterial Anestésicos Intravenosos Os anestésicos não opióides intravenosos desempenham uma função essencial na prática da moderna anestesia. Esses anestésicos são amplamente usados para facilitar a rápida indução da anestesia. Entretanto, à semelhança dos agentes inalatórios, os anestésicos intravenosos atualmente disponíveis não são anestésicos ideais no sentido de produzir todos e apenas os cinco efeitos desejados. Por conseguinte, a anestesia balanceada com múltiplos fármacos (anestésicos inalatórios, sedativos-hipnóticos, opioides, fármacos bloqueadores neuromusculares) é geralmente usada para minimizar efeitos colaterais indesejáveis. Os anestésicos intravenosos empregados para indução da anestesia geral são lipofílicos e têm partição preferencial nos tecidos lipofílicos altamente perfundidos (cérebro, medula espinal), o que explica seu rápido início de ação. Propofol o propofol é o fármaco administrado com mais frequência para indução da anestesia Como seu perfil farmacocinético possibilita uma infusão contínua, o propofol também é administrado durante a manutenção da anestesia e constitui uma escolha comum para sedação nos cuidados anestésicos monitorados. Em virtude de sua pouca solubilidade em água, o propofol é formulado como emulsão contendo 10% de óleo de soja, 2,25% de glicerol e 1,2% de lecitina, o principal componente da fração fosfatídea da gema de ovo. Por conseguinte, os pacientes suscetíveis podem apresentar reações alérgicas. Cetamina A cetamina é um derivado da fenciclidina parcialmente hidrossolúvel e altamente lipossolúvel, que difere da maioria dos outros anestésicos intravenosos pela produção de analgesia significativa. O mecanismo de ação da cetamina é complexo, porém o principal efeito observado é produzido provavelmente pela inibição do complexo do receptor de NMDA. Dexmedetomedina A dexmedetomidina é um agonista α2-adrenérgico altamente seletivo. A dexmedetomidina produz seus efeitos α2-agonistas seletivos pela ativação dos receptores α2 do SNC. Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos comumente usados no período perioperatório incluem o midazolam, o lorazepam e, com frequência, o diazepam. Os benzodiazepínicos são singulares entre o grupo de anestésicos intravenosos, uma vez que sua ação pode ser rapidamente interrompida pela administração do antagonista seletivo, o flumazenil. Os efeitos mais desejados consistem em ação ansiolítica e amnésia anterógrada, que são extremamente úteis para pré-medicação. Pode-se observar uma depressão respiratória mais grave quando os benzodiazepínicos são administrados em associação aos opióides. A n e s t é s i c o s L o c a i s Em termos simples,a anestesia local refere-se à perda de sensação em uma região limitada do corpo. É obtida pela interrupção do fluxo neural aferente por meio da inibição da geração ou propagação de impulsos. Esse bloqueio pode produzir outras alterações fisiológicas, como paralisia muscular e supressão dos reflexos somáticos ou viscerais, e esses efeitos podem ser desejáveis ou indesejáveis, dependendo das circunstâncias específicas. Todavia, na maioria dos casos, o principal objetivo é a perda de sensação ou, pelo menos, a obtenção de analgesia localizada. Na anestesia local, o fármaco é administrado diretamente no órgão-alvo, e a circulação sistêmica serve apenas para diminuir ou interromper o seu efeito. A anestesia local também pode ser produzida por vários meios químicos ou físicos. Todavia, na prática clínica de rotina, é obtida com o uso de um espectro bastante estreito de compostos, e a recuperação normalmente é espontânea, previsível e sem quaisquer efeitos residuais. Mecanismo de ação Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio. É provável que exista um segundo mecanismo de ação dos AL, que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática (teoria da expansão da membrana plasmática). FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) Aspectos importantes ➔ Localização ➔ Lipofilicidade Os anestésicos locais menores e mais lipofílicos apresentam uma taxa de interação mais rápida com o receptor do canal de sódio. A potência também exibe uma correlação positiva com a lipossolubilidade. A lidocaína, a procaína e a mepivacaína são mais hidrossolúveis do que a tetracaína, a bupivacaína e a ropivacaína. ➔ Vascularização ➔ Uso com vasoconstritores Vários benefícios podem ser obtidos com a adição de um vasoconstritor a um anestésico local. Em primeiro lugar, ocorre aumento localizado da captação neuronal, devido às concentrações teciduais locais mais altas e sustentadas, que podem corresponder, clinicamente, a um bloqueio de maior duração. Em segundo lugar, os níveis sanguíneos máximos estarão reduzidos, e ocorre uma redução no risco de efeitos tóxicos sistêmicos.
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