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ESPECIAL ALCOOLISMO - A Insuficiencia da Postura Proibicionista e a Necessidade de uma Pr´tica Preventiva Diferencial - REVISTA PSICOLOGIA, N 032

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50 
Lucas Fr^ 
• -9 
CIA 
>STURA PROIBICIONISTA 
ECESSIDADE 
A PRAT CA 
PREVENTIVA DIFERENCIAL 
É FUNDAMENTAL PROPICIAR QUE 
AS PESSOAS, EM ESPECIAL OS 
JOVENS, POSSAM REFLETIR SOBRE 
SEU PRÓPRIO AUTOCUIDADO, 
PREVENINDO, PORTANTO, QUE ELE 
POSSA SOFRER DANOS EVITÁVEIS E 
COLOCAR-SE EM RISCO AO BEBER 
TA L V E Z S E J A F Á C I L F A L A R E M P R E V E N Ç Ã O RELACIONANDO-A AO N Ã O USO ( A B S T I N Ê N C I A ) E A 
P R Á T I C A S PROIBITIVAS. O DIGA NÃO 
ÀSDROGASPODE P A R E C E R BASTANTE 
SENSATO PARA PAIS PREOCUPADOS E 
B E M INTENCIONADOS. P E D I R QUE OS 
FILHOS JAMAIS E N T R E M E M CONTA-
TO COM DETERMINADA S U B S T Â N C I A É 
MAIS DO QUE O DISCURSO MAIS A C E S -
S Í V E L , É T A M B É M O MAIS APLICADO 
E M GRANDE P A R T E DAS F A M Í L I A S E 
ESCOLAS, L U G A R E S CENTRAIS ONDE A 
P R E V E N Ç Ã O PRIMARIA S E D Á . No entan 
to, tal modelo preventivo baseado na postura proibi-
tiva alcança certos limites ao lidar com substâncias 
e comportamentos altamente tolerados e difundidos, 
tais como o uso de álcool e tabaco, que muitas ve-
zes sequer é visto como droga. Como prevenir o uso 
de bebidas se muitas vezes nós, adultos, professores, 
psicólogos, médicos ou qualquer outra referência de 
comportamento não damos o exemplo de temperança 
e abstinência? Será que o discurso preventivo do não 
use drogas consegue ter alguma efetividade no uso 
do álcool, uma vez que existe uma ampla e poderosa 
publicidade destinada aos jovens que incessantemente 
associa a bebida ao esporte e ao sexo? Será que a 
ALTERNATIVA - A NECESSIDADE DE UMA 
PRÁTICA PREVENTIVA 
postura proibicionista que busca a abstinência do 
público alvo é bem sucedida se pensarmos o uso de 
álcool e de outras substâncias toleradas, legalizadas 
e com uso difundido, tal como álcool, tabaco e medi-
camentos vendidos em drogarias? 
O álcool é uma droga depressora, seu uso 
acarreta uma desaceleração do funcionamento do 
sistema nervoso central. Amplamente utilizada não 
apenas em âmbito nacional, mas mundial, é uma das 
drogas mais utilizadas em diversas culturas e et-
nias. Como aponta Seibel (2010), o alcoolismo deve 
hoje ser considerado uma das mais graves questões 
de saúde pública, já que traz impactos significati-
vamente negativos nas esferas psíquica e física dos 
indivíduos, acarretando profundas repercussões na 
sociedade, podendose citar a perda da liberdade i n -
dividual, inexorável desmantelamento da estrutura 
familiar, atos de violência, aumento considerável dos 
acidentes de trânsito, absenteísmo ao trabalho, en-
tre outras. Anthony (2009) complementa ainda que 
a cada ano 2 bilhões de pessoas consomem bebidas 
alcoólicas, o que corresponde a aproximadamente 
40X da população mundial acima de 15 anos, sendo 
uma consequência nociva a morte anual de 2 a 2,5 
milhões de pessoas, na qual as causas podem variar: 
intoxicações agudas, cirrose hepática, violência e co-
lisões de automóveis com vítimas fatais. 
Considerando este quadro atual, é inegável que 
o uso do álcool pode trazer sérias consequências ne-
gativas, considerando desde dependência até um uso 
episódico isolado: os danos do uso do álcool podem 
variar do usuário pesado crónico até o adolescente 
que ainda sequer passou de uma fase experimental: 
basta beber e dirigir uma vez para se acidentar. Sem-
pre há algum risco envolvido. Atualmente, o quadro 
é preocupante: ao mesmo tempo que temos a nossa 
atenção voltada de forma predominante às drogas 
ilícitas, tais como crack, cocaína e maconha, o álcool, 
uma droga lícita, amplamente comercializada e con-
sumida, acaba acarretando muito mais prejuízos à 
sociedade do que as drogas ilícitas. O fato de existir 
uma intensa propaganda do álcool e de seu uso ser 
socialmente aceito em inúmeras ocasiões recreativas 
não o torna menos nocivo, mas apenas faz com que 
esqueçamos que o álcool é uma droga e, pior, que é 
umas das drogas que mais causa danos à sociedade. 
Isto nos traz sérias questões que exigem um 
alto grau de reflexão: a prevenção se dá contra o 
que, efetivamente? É possível almejar a abstinência 
de álcool de toda a população? 
Quando pensamos em prevenção, imediata-
mente pensamos em ações que impeçam algo de 
acontecer. Na prevenção da disseminação do vírus 
da Aids, distribuímos camisinha e seringas descar-
táveis visando que a pessoa jamais entre em con-
tato com o vírus. Quando pensamos em prevenção 
ao suicídio, pensamos em atos que possibilitem efe-
tividade para que a pessoa não tire a sua própria 
"O álcool é uma droga depressora, seu uso 
acarreta uma desaceleração do funcionamento 
do sistema nervoso central." 
vida. No entanto, quando pensamos em prevenção 
no uso de álcool, o objetivo não deve ser apenas 
impedir com que a pessoa simplesmente não use ál-
cool em nenhum momento de sua vida. Tal ato seria 
por demais simplificador e hipócrita. Muitas pessoas 
utilizam álcool de uma maneira indevida, trazendo 
danos não apenas a si próprio, mas também à socie-
dade. Sim, isto é inegável. Mas todas as pessoas que 
utilizam álcool o fazem desta maneira? E mais, são 
estas pessoas a maioria? 
A prevenção ao uso do álcool deve conside-
rar que há inúmeros usos possíveis da substância, 
não apenas os usos problemáticos, mas usos que se 
restringem a alguma esfera específica, tal como o 
uso médico, o uso social e o uso religioso. Há al-
guns medicamentos que possuem o álcool em sua 
fórmula. Há alguns eventos sociais, tais como festas 
de fim de ano, nos quais o uso de álcool é utiliza-
do socialmente para celebrar a união e os votos de 
tempos melhores. Há ainda o uso religioso, citando, 
por exemplo, o uso de álcool circunscrito à esfera 
cristã, na qual o vinho simboliza o sangue de Cristo. 
Quando pensamos na prevenção ao uso do álcool, 
englobamos não apenas aquele beber problemático, 
nocivo e danoso, mas englobamos todo e qualquer 
uso de álcool, do recreativo ao religioso, do médico 
ao social. Prevenção ao uso de álcool nivela todo 
contato com substâncias alcoólicas como negativas, 
havendo necessidade de evitálas. Há a premissa 
de que o uso de álcool é ruim em si, não havendo 
alguma possibilidade positiva no uso do álcool. Isto é 
mais do que ingénuo, é obtuso. 
Mais uma vez: prevenção do que exatamente? 
Se o objetivo for efetuar uma prevenção ao uso do 
álcool, todo e qualquer uso será condenado, do uso 
cristão ao uso recreativo. Mas podemos circunscre-
ver a prevenção a um âmbito mais específico: da 
quele uso que coloca o usuário em risco, que pode 
trazer consequências nocivas a curto ou médio pra-
zo. Considerando o uso de álcool, precisamos pensar 
um tipo de prevenção que não foque indiscrimina-
damente todo uso de álcool, que não considere de 
forma absolutamente ampla que o álcool deva ser 
evitado e prevenido de toda e qualquer forma para 
todas as pessoas, como se o álcool devesse ser forte-
mente combatido e retirado da sociedade. A proibi-
ção do álcool' nos EUA na década de 20, que possuía 
esta premissa intolerante e proibicionista, obteve um 
estrondoso fracasso, inclusive com um aumento do 
uso de álcool, que passou a ser realizado em condi-
ções precárias e clandestinas, além de um aumento 
vertiginoso de contrabandistas e surgimento de um 
mercado negro (tráfico) de álcool. 
Devemos pensar, portanto, em uma prevenção 
ao uso nocivo, evitando ao máximo um uso que es-
teja propenso a produzir e gerar danos dos mais 
diversos, sejam pessoais ou coletivos. Podemos pre-
venir um coma alcoólico e todos os seus possíveis 
desdobramentos, do estupro à morte por overdose. 
Podemos prevenir a dependência, diagnosticando os 
elementos que fazem com que alguém use a bebida 
como esquiva, buscando com que o usuário possa 
retomar a liberdade/independência perante a droga. 
Podemos pensar em campanhas que incentivem o 
beber seguro, incentivando dosagens menores, in-
gestão de água ao longo do uso e que se vá de taxi, 
e não de carro para o bar. Estes são apenas alguns 
exemplos de um modelo preventivo que suspende a 
utopia proibicionistae lida com mundo real, tal como 
é; e com a liberdade de decisão e escolha dos outros 
indivíduos, ainda que os possamos estimular a pen-
sar e a aumentar o autocuidado consigo mesmo e 
com as pessoas com quem convive. 
Devemos pensar em um modelo preventivo que 
não foque apenas a interrupção do hábito de beber, 
uma vez que são possíveis usos com riscos mínimos 
e aceitáveis. Uma pessoa que toma uma taça de vinho 
junto com alguma refeição ou um casal que come-
mora a virada do ano com um brinde utilizando um 
espumante não deve ser condenado da mesma forma 
que um motorista que dirige embriagado ou do ado-
lescente que ultrapassa seu ponto e desmaia em locais 
públicos, colocando-se em riscos dos mais diversos. A 
prevenção ruma da proibição plena (que visa a absti-
nência) e passa a ocupar um lugar que pensa e busca 
usos mais saudáveis, minimizando ao máximos os 
riscos. Isto exige maturidade para lidar com o outro 
enquanto alguém que possui diferenças, estimulando 
sua autonomia e resgatando a possibilidade de que 
ele reflita o lugar que o álcool ocupa em sua vida. 
Como ressalta Sodelli (2010), nesta ótica a prevenção é 
menos impositiva e mais reflexiva; é menos ditatorial 
e terrorista, mas assume uma postura dialógica que 
pensa junto as possibilidades disponíveis. 
O uso do álcool não deve ser prevenido em si. 
Seria ingénuo e moralista pressupor que qualquer 
uso de álcool é nocivo e negativo, devendo ser inter-
rompido e evitado. Uma prevenção ao uso do álcool 
abrange inevitavelmente o vinho do padre e o brin-
de de champanhe presente em cada comemoração. 
Nem todo uso de drogas acarreta danos e prejuízos à 
sociedade, e nem todo uso de bebida deve ser proibi-
do e prevenido. Não há droga ruim em si, e sim rela-
ções problemáticas com a droga. Devemos, portanto, 
nos atentar a determinados usos que podem gerar 
prejuízos não apenas para a pessoa, mas à sociedade 
como um todo. 
Para uma prática preventiva coerente e não 
moralista, que visa algo possível e estimula a res-
ponsabilidade, devemos prevenir não o uso de be-
bidas alcoólicas em si, mas determinados usos. Há a 
dependência de álcool, que deve ser prevenida, mas 
não apenas ela. Há o uso nocivo, um beber pesado 
episódico que pode se dar em uma única situação 
no ano, mas que acarreta inúmeros riscos ou da-
nos àquele que abusa, tais como dirigir embriagado 
e ter relações sexuais sem a devida proteção. São 
estes os usos que devemos prevenir, são estas as 
"Seria ingénuo e moralista pressupor que qualquer 
uso de álcool é nocivo e negativo, devendo ser inter-
rompido e evitado. Uma prevenção ao uso do álcool 
abrange inevitavelmente o vinho do padre e o brinde 
de champanhe presente em cada comemoração." 
1- Lei seca; proibiu a fabricação, transporte, venda e consumo de álcool nos EUA entre 1920 e 1933. 53 
"Podemos prevenir um uso precoce de álcool com trabalhos preventivos que lidem com o sentido de beber 
para estudantes de colégio." 
modalidades de uso que fazem com que a bebida 
possa ser vista como ameaçadora e temida. Se mui 
tas vezes há desejo de prevenir impondo abstinên-
cia, é exatamente porque estas possibilidades ne-
gativamente citadas são generalizadas e niveladas 
enquanto únicas possíveis. A proibição plena parte 
de uma generalização, toma a parte como o todo. A 
prática preventiva aqui proposta aprende a distin-
guir os mais diversos usos possíveis de drogas, e a 
identificar quais são de fato mais problemáticos, e 
quais devem ser mais prevenidos. 
Como, no entanto, podemos identificar se há 
um uso nocivo em questão? E como preveni-lo? 
A resposta não é simples, e por mais que o foco 
seja o uso de bebidas alcoólicas, deve se ultrapassar 
exatamente este foco inicial para refletirmos qual 
o cenário mais amplo no qual ele ocorre. Devemos 
pensar o uso de bebidas sempre no interior da vida 
do usuário. Se a vida como um todo está boa, o uso 
de bebidas alcoólica será um; se a vida está desor-
denada, o uso de bebidas será outro. Devemos nos 
atentar à vida do usuário de uma forma ampla, e ver 
quais as questões que levam a pessoa a beber. Focar 
apenas no uso de drogas, ainda que possa ser bas-
tante nocivo e alarmante, é desprezar exatamente 
aquilo que é mais central. 
Podemos prevenir um uso precoce de álcool 
com trabalhos preventivos que lidem com o senti-
do de beber para estudantes de colégio. Possível 
mente ali não encontraremos bebedores crónicos, 
mas experimentadores, e já há um risco envolvi-
do. Se há um uso esporádico, ainda que através de 
experimentações, por mais que não exista ainda de-
pendência, já há a possibilidade de um adolescente 
beber até perder os sentidos, ficando extremamente 
vulnerável a um abuso sexual ou a algum tipo de 
furto, entre outros riscos. Precisamos pensar exa-
tamente no sentido do uso da bebida: se há uma 
necessidade de ser aceito pela turma em um inces-
sante sentimento de exclusão; se há a vontade de 
parecer ser mais velho, em atos que tipicamente as-
sociamos a adultos, tais como beber e fumar; etc. Se 
diagnosticarmos que o uso e abuso de álcool se dá 
visando maior aceitabilidade do grupo, é exatamente 
este o foco do trabalho preventivo, seja ele terapêu-
tico ou educacional. 
Focar e debater apenas a bebida pode deixar o 
jovem vulnerável para as questões que o conduzem 
inevitavelmente à bebida. Identificar e trabalhar as 
questões anteriores que conduzem ao uso de álcool 
é o mais fundamental para que possamos fazer um 
trabalho efetivo e amplo. Para isto, é necessário um 
diagnóstico preciso do contexto total no qual o uso 
da bebida está imerso. 
Nesta lógica preventiva, podemos inclusive pre 
venir não apenas adolescentes, mas também adultos 
de terem um comportamento de risco relativo ao uso 
de álcool. Se formos prevenir especificamente o uso 
do álcool, o público alvo da prevenção é exatamente 
aqueles que nunca experimentaram alguma bebida 
alcoólica. Mas se a prevenção não é contra o uso de 
álcool em si, mas sim ao uso nocivo, podemos ex-
pandir o modelo preventivo a toda pessoa que tenha 
acesso ao álcool uma vez que uma pessoa pode ter 
54 
um uso controlado, sem muitos riscos, e em determi-
nado momento da vida ter o uso do álcool intensifi-
cado por algum motivo específico. No caso, o modelo 
preventivo é o mesmo, identificar o sentido do uso do 
álcool para determinada pessoa, como, por exemplo, 
lidar com o estresse de um trabalho extenuante. Se 
este for o caso, o foco do trabalho preventivo é exa-
tamente repensar as condições centrais que originam 
o abuso de álcool, ou seja, a relação com o trabalho, 
e não simplesmente ter como objetivo a simples in-
terrupção do uso de bebidas alcoólicas. É como, ao 
surgimento da febre, lutar com todas as forças para 
que a febre passe a qualquer custo, não considerando 
exatamente as condições para seu aparecimento, ou 
seja, aquilo que é mais decisivo. A prevenção, quando 
é efetiva, ruma à origem. 
Precisamos pensar de forma ampla e abrangen-
te para prevenir o uso nocivo de bebidas alcoólicas. 
Focar apenas o álcool desarticula o uso dos elementos 
mais decisivos que fazem alguém passar a abusar do 
álcool em alguma situação específica. Devese, para 
prevenir o álcool, desfocar o álcool e abranger a vida 
da pessoa como um todo, possibilitando visualizar 
porque o abuso de álcool ali faz algum sentido. 
Vivemos uma época de compulsões e tampo-
namentos. Tentamos alcançar soluções práticas nas 
mais diversas esferas. Tentase dissimular a dor do 
existir e o tédio que inevitavelmente desperta em 
momentos imprevisíveis. E isto não necessariamente 
com drogas, pode ser com compras, com diversões 
das mais diversas, com séries televisivas, com sexo 
"Tentase dissimular a dor do existir e o tédio que 
inevitavelmente desperta em momentos imprevisí-
veis. E isto núo necessariamente com drogas, pode 
ser com compras, com diversões das mais diversas, 
com séries televisivas, com sexo ou pornografia.' 
ou pornografia. Cada vez mais a humanidade fica 
vulnerável com aquiloque lhe é mais constitutiva, e 
cada vez mais buscamos meios de dissimular a frá-
gil transitoriedade da condição humana. A tendência 
ao abuso e à compulsão, portanto, já está em nosso 
período histórico antes de estar em cada um de nós 
(Ong, 2016). 
Hoje lida-se com o álcool também deste modo, 
tentando repelir o tédio, dissimulando alguma dor 
ou simplesmente tentando ser aceito. Conseguindo 
identificar os elementos decisivos que fazem com 
que alguém passe a abusar do álcool permite aos 
poucos tratar cada uma destas questões, efetuando 
um gradativo desinteresse pelo abuso de álcool. Para 
prevenir o abuso de bebidas, é necessário desfocar 
o abuso e olhar para o cenário que possibilita com 
determinada pessoa esteja mais vulnerável a ele. 
Concluindo, assim como o uso de internet, in 
gestão de comida ou prática sexual, o uso de álcool 
não deve ser simplesmente banido, impondose abs-
tinência indiscriminada, mas sim incentivar que o 
usuário, que pode ser do jovem ao adulto, reflita o 
lugar que a bebida ocupa em sua vida, possibilitando, 
com isso, uma remodulação do uso. 
Após o jovem alcançar sua maioridade e estar 
legalmente apto a beber, o fundamental é propiciar 
que ele possa refletir sobre seu próprio autocuidado, 
prevenindo, portanto, que ele possa sofrer danos evi-
táveis e colocar se em risco ao beber. Ao identificar 
mos um hábito de abuso ou compulsão pela bebida, 
é fundamental diagnosticar exatamente aquilo que é 
dissimulado sob o efeito da bebida. É necessário per-
ceber precisamente o que permanece velado sob o 
efeito depressor do álcool, seja ela um luto, o tédio 
que incessantemente busca diversões sociais ou até 
mesmo timidez e vontade de inclusão. Ao nos situar-
mos amplamente no contexto da vida, e não apenas 
no do uso do álcool, é possível lidar com os elementos 
originários e decisivos da compulsão. É exatamente 
desfocando o uso do álcool que se dá a prevenção, 
e não porque o uso do álcool é pouco relevante, mas 
apenas por ele ser o último elo de uma cadeia com-
plexa. É apenas na visualização do contexto total que 
a prevenção pode se dar de uma maneira efetiva, 
compreendendo o uso de álcool não como o todo, mas 
como o último elo de uma cadeia de vários elementos. 
* Lucas Francis e Silva Ong é formado em psicologia (2010) e mestre 
em psicologia clínica (2015) pela Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo (PUC-SP). É psicólogo clínico, atende crianças, jovens e 
adultos e ministra grupos de estudo de fenomenologia hermenêutica. 
Frente à inefetividade de modelos preventivos pautados em palestras 
meramente informativas, conduz projetos de prevenção em escolas e 
outras instituições educacionais de crianças e adolescentes através de 
um modelo de educação continuada. É autor do livro O uso de drogas 
na consumação da Modernidade, lançado em 2016 pela editora Via 
Vérita. Endereço profissional: Av. Pompeia, 2280 - São Paulo, SP 
Telefone: (11) 2501-2113 Email: lucasong@outlook,com 
ESPECIAL ALCOOLISMO 
VICIO ACEITO 
S E SILENCIOSO 
§ O uso excessivo de álcool é 
I - socialmente tolerado e até 
y j estimulado, o que o torna 
perigoso e incontrolável 
TRATAMENTO 
E APOIO FAMILIAR 
O alcoólatra precisa de constante 
apoio dos amigos e parentes para 
evitar a recaída, pois ele nunca 
deixará de ser um adicto 
TE 
^ É IMft)RTANTá' 
< o tratamento da dependência quír 
g exige uma abordagem terapêutiêS 
o nas questões do paciente e em SL 
cQ interação com a sociedade^^ 
Entender as origens do 
problema ajuda a evitar que ele 
se agrave e também auxilia na 
busca por um caminho de 
recuperação e reabilitação

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