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RELATÓRIO DE ARTIGO CIENTÍFICO Metabolômica de Plantas: Métodos e Desafios Estagiário: Jorge Luis da Silva Azevedo Orientador: Dr. Guilherme Julião Zocolo Fortaleza-CE 25 de julho de 2020 Metabolômica de Plantas: Métodos e Desafios Link:http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/RV2019-0431.pdf 1 - Introdução A metabolômica pode ser considerada como a ciência que investiga a totalidade da expressão qualitativa e quantitativa do metabolismo primário e secundário dos organismos, assim como estabelece que o seu entendimento ocorre através da análise comparativa de perfis metabólicos entre indivíduos e/ou populações sujeitos às diferentes condições genéticas, ambientais ou patológicas. Em plantas, a maioria dos experimentos em metabolômica são realizados utilizando da combinação de ferramentas analíticas de separação e detecção, conhecidas como abordagens hifenadas ou acopladas. Entretanto, é importante saber que se trata de uma tarefa difícil, devido ao conjunto de metabólitos da planta ter uma alta complexidade. Nesse contexto, dentre as combinações mais utilizadas no estudo metabolômico de plantas, estão as técnicas de separação cromatográfica (cromatografia líquida e gasosa) acopladas a detectores de ultravioleta ou espectrometria de massas, como por exemplo a CLAE-UV-DAD, CLAE-EM ou CG-EM. Somado a isso, a ressonância magnética nuclear (RMN) vem sendo empregada tanto para a elucidação estrutural de moléculas previamente isoladas e purificadas, quanto para o estudo de frações enriquecidas ou mesmo extratos brutos de alta complexidade. As etapas que compõe o estudo metabolômico de plantas são as seguintes: planejamento experimental, pré-processamento, aquisição de dados, identificação de marcadores, análise e interpretação de dados. As comunidades científicas que tratam desse ramo têm-se mobilizado para a criação de protocolos que auxiliem a execução, validação e a troca de informações inter ou intra-laboratoriais. 2- Planejamento Experimental http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/RV2019-0431.pdf Em metabolômica, os planejamentos experimentais devem ser elaborados contextualizando todo o conjunto de etapas do estudo uma vez que cada escolha interfere nos resultados e suas interpretações. De uma forma geral, os PE indicam as condições mais favoráveis para um estudo metabolômico onde serão previamente selecionados o tamanho da amostra a ser estudada, as condições ambientais a qual ela está submetida, o tipo de solvente adequado para ser usado na extração entre outras variáveis. Portanto, os planejamentos experimentais arranjam sistematicamente o conjunto de variáveis dentro de um espaço amostral delimitado, diminuindo o número de experimentos e maximizando a extração de informações, como interações entre variáveis e a distribuição dos efeitos. Sendo de suma importância antes de iniciar um estudo metabolômico. 3- Amostragem No momento de escolhermos nossa população de planta para estudo, devemos estar atentos a forma como será feita a coleta, a secagem e homogeneização e o processo de extração, para não nos depararmos com resultados tendenciosos e consequentemente erros de interpretação. Com base nisso, primeiro precisamos ter uma coleta de amostras bem feita e previamente planejada levando em conta fatores como: condições físicas, químicas, biológicas e geográficas. É muito importante saber se se a planta foi cultivada em casas de vegetação, herbários ou reservas; e tratando-se de coleta de campo, o monitoramento e conhecimento do clima ao qual o organismo foi exposto ao longo do tempo é fundamental. Uma vez coletado o material vegetal, a atividade enzimática deve ser inibida de imediato para garantir a integridade metabólica. Em pequenos órgãos, tecidos dissecados ou até pequenas plantas inteiras, utiliza-se de choques térmicos para a desnaturação de proteínas. A secagem e homogeneização consiste no processo de remoção de água por meio de estufas ou liofilização. Sequencialmente, a etapa de extração determina o intervalo ou cobertura química, considerando aspectos de polaridade e solubilidade dos metabólitos a serem detectados pelas técnicas analíticas. As extrações por solventes orgânicos constituem a melhor escolha em estudos metabolômicos devido a eficiência e compatibilidade com as principais plataformas analíticas, como CLAE-EM, CG-EM e RMN. 4- Pré-tratamento de Amostras e Aquisição de Dados Nessa etapa, é onde escolhemos a seleção do método analítico para empregar nos extratos obtidos. É importante a escolha de uma técnica reprodutível, simples e rápida, permitindo a detecção de analitos em diferentes concentrações. Antes de submeter os extratos aos métodos analíticos, é preciso realizar a remoção de interferentes da amostra através de extração em fase sólida (SPE - solid-phase extraction), assim como remover interferentes dos solventes a serem usados. Por exemplo, para CLAE usamos filtros PTFE hidrofílica de 0,45 e 0,22 micrômetros para filtrar o solvente utilizado. Devido à falta de uma técnica capaz de analisar todo o conteúdo do metaboloma, diversos métodos analíticos vêm sendo empregados complementarmente, com o objetivo de se minimizar as deficiências individuais das ferramentas analíticas, e assim aumentar o nível de separação, detecção, estabilidade, resolução, sensibilidade, velocidade e a amplitude do intervalo dinâmico de detecção. As técnicas abordadas neste relatório serão aquelas presentes no Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais, às quais estamos habituados. ● Cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas (CLAE-EM) Essa é a técnica analítica de separação considerada a mais recente para a aquisição de perfis cromatográficos, podendo ser acoplada a diferentes analisadores e detectores. O processo de separação em CLAE procede através dos diferentes estados de equilíbrio entre analito e as fases móvel (solventes orgânicos e aquosos) e a estacionária (coluna cromatográfica). Nosso equipamento utiliza o analisador do tipo time of flight (ToF), que obtém espectros de alta resolução e determina fórmulas elementares a partir dos valores de massa/carga dos íons detectados, tornando mais eficiente o processo de identificação e quantificação de metabólitos. ● Ressonância Magnética Nuclear (RMN) Nesse método, temos análises qualitativas e quantitativas altamente reprodutível e não seletiva,ou seja, não depende das características químicas dos compostos observados, como polaridade e acidez (pKa). O principal objetivo da RMN é a elucidação estrutural de compostos, tanto de metabólitos primários quanto secundários, assim como a comparação direta das suas concentrações. 5- Pré-processamento e Processamento dos Dados O pré-processamento dos dados é uma etapa intermediária entre a aquisição dos dados obtidos através da metodologia analítica escolhida e a análise estatística. Ela visa melhorar a qualidade dos sinais e reduzir a interferência de ruídos, tornando os dados comparáveis entre si. Algumas funções de pré-processamento são específicas para cada técnica analítica: para os dados cromatográficos e de espectrometria de massas, melhoramos os resultados através da filtração de ruídos no cromatograma (denoisesing), alinhamento de sinais, detecção de picos e normalização. Tudo isso feito através de softwares avançados. Já para os dados de RMN temos o pré-processamento do decaimento indutivo livre (FID), referenciamento e faseamento, correção da linha de base (smoothing), alinhamento, binning/bucketing, deconvolução e normalização. Assim como o pré-processamento dos dados do cromatograma, todas essas etapas para a RMN também podem ser realizadas por programas computacionais. Quanto ao processamento de dados, temos as técnicas de centralização e escalonamento como uma prática comum. A centralização na média, ou seja, procedimento em que a média de um sinal (intensidade de um íon, ou sinal de RMN) obtida a partir de um conjunto de amostras é subtraída de cada sinal das amostras, é realizada a fim de remover a compensação dos dados e focar na variação biológica, como as similaridades e discrepâncias entre as amostras. Os métodos de escalonamento são empregados a fim de extrair adequadamente informações mais precisas, como o auto-escalonamento, onde é dado pesos iguais a todos os sinais da amostra para se ter uma equivalência entre metabólitos majoritários e minoritários e ambos contribuir igualmente para o ajuste. As análises quimiométricas são importantes métodos estatísticos que visam aprimorar as interpretações do estudo metabolômico, podem ser não-supervisionadas - visando o entendimento global dos dados - e supervisionadas - as amostras são associadas a um valor de atributo -. Dentre elas se destacam a Análise de agrupamentos hierárquicos (HCA), uma análise não-supervisionada em que consiste no agrupamento de amostras de acordo com sua similaridade; e a Análise supervisionada, que visa comparação de resultados para atividade biológica. As comunidades científicas têm proposto medidas alternativas e racionais para o processo de anotação molecular, visando flexibilizar o refinamento da anotação de acordo com os tipos e objetivos de cada estudo metabolômico, uma vez que os metabólitos secundários possuem natureza muito diversificada e complexa.
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