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PERSONALIDADE E CAPACIDADE

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Aula 1Personalidade e Capacidade; pessoas e bens 
 
No estudo do Direito Civil, os sujeitos de Direitos são a primeira e mais essencial 
definição do nosso sistema de Direito e estão na base de toda e qualquer relação 
jurídica, porque definem pessoa, estabelecem as suas características e determinam a 
capacidade civil – ou capacidade de interação das pessoas no universo; 
definem bens e patrimônio e fundamentam o mundo econômico e negocial; 
as obrigações e os contratos estabelecem as diretrizes para a segurança dos negócios 
em sociedade e, finalmente, a responsabilidade civil identifica os atos ilícitos civis, os 
danos e as indenizações ou reparações deles decorrentes, garantindo a própria 
perpetuação da vida em sociedade. 
Sujeitos de Direitos, pessoa, personalidade 
Como anteriormente estudamos, os seres humanos organizaram-se socialmente e 
paralelamente a essa organização surgiram as normas e regras de conduta que, 
garantindo a vida em sociedade, compuseram o que hoje denominamos, em sentido 
amplo, como sendo o Direito; seu estabelecimento criou faculdades e normas de ação, 
na medida em que impunham obrigações ou garantiam direitos aos indivíduos nas suas 
inter-relações sociais com os demais, garantindo a sobrevivência do grupo. 
Surgia assim o primeiro dos institutos do Direito: o Sujeito de Direitos, o detentor de 
direitos e de deveres em esfera jurídica e social, o destinatário do conjunto de normas de 
conduta que conhecemos por Direito, aquele de quem se pode exigir determinado 
comportamento conforme a lei ou a quem se pode aplicar determinada sanção pela sua 
inobservância. 
Assim, somente será Sujeito de Direitos (assim considerado como sendo o destinatário 
do Direito) o ser humano; todos os demais organismos, todos os demais seres, todos os 
demais objetos, animados ou inanimados, móveis, imóveis ou semoventes, não serão 
Sujeitos de Direitos, não serão os destinatários das normas jurídicas, não estarão 
subordinados a normas e faculdades de agir, apenas entrando na seara do Direito para 
serem apropriados, para serem utilizados economicamente pelos Sujeitos de Direitos. 
Se a dimensão física do Sujeito de Direitos é o ser humano, a sua dimensão ideal será a 
pessoa: a representação social de sua individualidade, da sua distinção dentre todos os 
demais seres humanos, da apreensão da natureza de ente dotado de direitos e deveres, de 
obrigações e faculdades, de ente que interage em sociedade na forma estabelecida ou 
não proibida por tais normas de conduta. 
 
Assim, temos que o Sujeito de Direitos apresenta uma dimensão biológica – o ser 
humano, que é o indivíduo considerado em si mesmo, o indivíduo, dotado das 
características que o tornam titular de direitos e deveres inerentes à humanidade, e 
uma dimensão social – a pessoa, que é a representação dessa humanidade em planos 
coletivos, no curso da vida em sociedade. 
É o seguinte o teor do artigo 1º de nosso Código Civil: 
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
O termo Pessoa deriva do vocábulo latino persona, que designava as máscaras usadas pelos 
artistas das tragédias em suas encenações teatrais. Faziam, assim, alusão à representação 
exterior, externa, do ser humano em sociedade, distinguindo-a do conteúdo interior, 
personalíssimo, inerente à sua própria humanidade. 
À condição essencial da pessoa no Direito chama-se personalidade. 
Essa será a sua dimensão dinâmica, aquilo de que será dotada a pessoa que legitima o 
exercício dos direitos e deveres em esfera jurídica; é a personalidade que dá ao ser 
humano a interação necessária com seus pares para o exercício de sua condição de 
sujeito de direitos e deveres, possibilitando que viva e interaja com os demais segundo 
as normas de conduta de sua sociedade. 
Assim, personalidade será a medida da aptidão da pessoa para tornar-se titular de 
direitos e de obrigações em planos jurídicos e sociais. 
Temos, portanto, que serão os Sujeitos de Direitos assim estruturados: em sua 
dimensão biológica, de concretude, os seres humanos considerados em si mesmos, com 
seu conjunto de características específicas que os identifica e distingue de todos os 
demais componentes do Universo; em sua dimensão social, abstrata, ideal, as pessoas, a 
cuja representação dinâmica denominamos personalidade – e que é o canal de interação 
com o mundo. 
Objeto de Aprendizagem 
Vejamos agora uma animação que aborda as diferentes esferas da personalidade. 
Sob o critério da dinamicidade, a personalidade (que é esfera de investidura, esfera 
dinâmica, de movimento) será exclusividade da pessoa, que representa idealmente o 
sujeito de Direitos, cuja acepção física se integra ao ser humano – ou seja, a 
personalidade será atributo da pessoa, que corresponde à esfera social do ser humano, a 
personalização do sujeito de direitos e deveres, o destinatário de qualquer norma social. 
As pessoas poderão ter duas formas de existência: 
 Existência natural, física ou concreta 
 Existência ideal ou abstrata 
Essas pessoas serão: a pessoa física, ou pessoa natural, cuja dimensão concreta e externa 
será o próprio ser humano, e a pessoa jurídica, denominação que se empresta 
usualmente à pessoa ideal, à pessoa abstrata, que é uma criação humana, uma ficção a 
que se empresta personalidade permitindo a prática de determinados atos ou negócios e 
que possui vida distinta de seus componentes. 
É certo, então, afirmarmos que existe um tipo de pessoa que não apresenta dimensão 
física, concreta; que não compreende nem é compreendida por um ser humano e, 
principalmente, que não existe por si própria (como as pessoas naturais ou físicas), mas 
sim e tão somente em virtude de uma criação abstrata e ficcional, que parte de uma ou 
mais pessoas físicas, e que, preenchidos certos requisitos determinados por lei, adquire 
personalidade, podendo praticar atos como uma individualidade distinta de seus 
instituidores. 
Exemplos desse tipo de pessoa (da pessoa jurídica) serão todas as empresas, todas as 
companhias, quaisquer que sejam as suas respectivas áreas de atuação e de 
funcionamento; serão pessoas jurídicas os bares, os restaurantes, os bancos, as 
instituições de ensino; a elas se atribui personalidade sob certas condições previstas em 
lei e para a prática de atos predeterminados em seu instrumento de constituição, que via 
de regra é o contrato social; elas poderão contratar entre si e com terceiros, ter 
funcionários, fazer investimentos, agindo por meio de seus representantes – sim, pela 
própria inexistência de sua esfera de concretude, como anteriormente pudemos 
mencionar 
 
Nosso Código Civil enumera a tipologia das pessoas jurídicas de que ora tratamos na 
forma seguinte: 
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 
I. as associações; 
II. as sociedades; 
III. as fundações; 
IV. as organizações religiosas; 
V. os partidos políticos; 
VI. as empresas individuais de responsabilidade limitada. 
§ 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o 
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público 
negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao 
seu funcionamento. 
§ 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente 
às sociedades que são objeto do 
§ 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o 
disposto em lei específica. 
Temos, portanto, que as pessoas poderão ser físicas ou naturais ou jurídicas ou ideais, 
conforme a forma de que se revestirem (a primeira dotada de esfera morfológica, esfera 
física, esfera de concretude, e a segunda dotada apenas de esfera ideal ou abstrata); 
vimos ainda que apenas as pessoas poderão ser Sujeitos de Direitos e Deveres na esfera 
jurídica e social. 
Coisas, Bens 
Chegamos, então, à primeira e à principal distinção que fazemos em Direito e a que 
chegamos por exclusão: aquela que, literalmente, divide todo o Universo em duas 
modalidades, em dois tipos de seres: as pessoas e as coisas– e foi justamente essa 
distinção que permitiu que chegássemos ao atual estágio dos direitos das coisas (direitos 
de propriedade), ao direito comercial, ao direito tributário, entre outros tantos. 
Pessoas já definimos – e sabemos corresponderem, em síntese, aos seres humanos (vale 
dizer, só será pessoa aquele também dotado de humanidade); à definição de coisa 
chegamos por exclusão, fazendo um raciocínio a contrario sensu; portanto, coisa será 
tudo aquilo que não for pessoa. 
Uma vez que as pessoas representam os sujeitos de direitos em sociedade, as coisas 
apenas existem para serem apropriadas e, assim, atenderem à sua finalidade econômica. 
Essa determinação reside na própria dissociação fundamental que fazemos entre pessoa 
e coisa, considerando pessoa como destinatária das normas de direito e coisa como 
objeto a ser apropriado e sobre o qual incidirão as normas de que se fazem titulares as 
pessoas – e aí encontramos outra distinção: entre as coisas que possuem valor 
econômico e aquelas que não o possuem. 
Às coisas que possuem valor econômico – qualquer que seja a sua natureza ou ordem de 
grandeza – denominamos bens; àquelas que não o possuem, denominamos 
simplesmente coisas. Todavia, no mundo atual, o estado de evolução tecnológica 
restringe, de fato, a possibilidade de existência de uma coisa a que ninguém possa 
emprestar valor econômico algum. 
Os velhos e clássicos exemplos para coisas sem valor econômico estão de há muito 
ultrapassados (pela própria evolução social), não mais se prestando para designar coisas 
sem valor a água e o ar atmosférico – que foram, por muito tempo, exemplos frequentes 
de coisas sem medida de valoração, que poderiam, dessa forma, ser apreendidas por 
qualquer um a qualquer tempo sem consequências econômico-jurídicas relevantes. 
 
Ninguém duvidaria, em sã consciência, de que nos dias atuais, a Humanidade não pode 
considerar a água doce potável como objeto desprovido de estimativa econômica, o 
mesmo se dando com o ar atmosférico não poluído. 
O atual estágio de nossa evolução tecnológica levou a um aproveitamento tão 
abrangente dos elementos de qualquer natureza que a cada dia se torna menos crível a 
existência de algo desprovido de qualquer valor (ou algo que não tenha jamais valor 
algum para ninguém). 
Tipologia e classificação dos Bens 
Diferentemente das pessoas, os bens podem revestir-se de características tão distintas 
entre si como um tijolo e um passarinho, razão pela qual são analisados em suas 
subdivisões, a saber: 
a. Bens Móveis - São aqueles que se podem transportar de um ponto a outro sem que 
percam as suas características físicas. Exemplo: uma cadeira. 
b. Imóveis - São aqueles que não se podem transportar de um ponto a outro sem que 
percam as suas características físicas. Exemplo: uma casa 
c. Semoventes - São aqueles que se movem de um ponto a outro por seus próprios meios 
ou forças. Exemplo: um cão. 
d. Fungíveis - São aqueles que se podem substituir por outros de igual quantidade, 
qualidade e forma. Exemplo: dinheiro. 
e. Infungíveis - São aqueles que não se podem substituir por outros de igual quantidade, 
qualidade e forma. Exemplo: uma pintura de determinado autor. 
f. Materiais, corpóreos ou concretos - São os que possuem esfera concreta, 
física. Exemplo: um automóvel. 
g. Imateriais, incorpóreos ou abstratos - São os que não possuem esfera concreta, 
física. Exemplo: o software. 
h. Presentes - Aqueles que já existem no momento do contrato. Exemplo: um animal já 
existente. 
i. Futuros - Aqueles que ainda não existem no momento do contrato, mas têm sua 
existência previsível. Exemplo: um animal ainda em gestação. 
j. Estimáveis- Aqueles cujo valor pode ser estimado. Exemplo: uma escultura que se 
encontre em comércio. 
k. Inestimáveis - Aqueles cujo valor não pode ser estimado. Exemplo: a escultura O 
Pensador, de Rodin. 
l. Bens no comércio - Aqueles que podem ser objeto de apropriação pelas pessoas e 
consequentemente de negócios jurídicos entre elas. Exemplo: um livro. 
m. Fora de comércio - Aqueles que não podem ser objeto de apropriação pelas pessoas e 
consequentemente de negócios jurídicos entre elas. Exemplo: órgãos humanos. 
n. Públicos - Aqueles que ainda não existem no momento do contrato, mas têm sua 
existência previsível. Exemplo: as praias. 
o. Privados - Aqueles que pertencem a indivíduos particulares. Exemplo: um terreno 
particular. 
Mesmo parecendo simples, essa classificação pode encerrar certa dificuldade, em 
hipóteses especiais que, via de regra, atendem a utilidades econômicas. 
Assim, por exemplo, um bem imóvel por sua natureza pode se tornar móvel e vice-
versa, como no caso das árvores destinadas ao corte para venda da madeira (que são 
essencialmente imóveis, mas tornam-se móveis por antecipação, para o Direito, por 
força do contrato de compra e venda) ou o alambique que se encontre no interior de uma 
destilaria (que pode ser movido de um ponto a outro sem perder suas características, 
mas torna-se imóvel por acessão intelectual, já que de sua existência depende a 
exploração econômica do imóvel, a que adere). 
Contextualizando a utilidade dessa classificação para a atividade da gestão, vemos que 
um software é um bem incorpóreo, de valor geralmente estimável (se bem que às vezes 
extremamente considerável), particular (quando de propriedade intelectual de alguém, 
que o licencia, por exemplo), fungível e integra o comércio, diferentemente do DVD em 
que é comercializado, que, por seu turno, será um bem corpóreo, móvel, de valor 
estimável (e imensamente inferior ao valor do software de que é suporte físico). 
 
Início e fim da personalidade 
A personalidade, que permite ao sujeito de direitos interagir socialmente, possui 
delimitação temporal definida; vale dizer, possui início e final; a personalidade humana 
se inicia no momento do nascimento com vida e se extingue no momento da morte. 
Durante esse lapso de tempo – a própria vida – o indivíduo será pessoa, estará apto a 
agir socialmente, apreendendo os bens e se relacionando com os demais. 
 
A determinação destes momentos – nascimento com vida e morte – é do domínio das 
ciências médicas, não cabendo a sua definição ao Direito; no curso da história foram 
empregados técnicas e métodos diversos para aferir a vida ao nascimento e para 
verificar a morte (apenas como exemplo, a morte já foi determinada pela ausência de 
respiração, pela parada cardíaca e atualmente é usado o critério da morte cerebral). 
Segundo nosso Código Civil, em seus artigos 2º e 6º: 
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas 
a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
(...) 
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, 
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão 
definitiva. 
Essa orientação não foi alheia a críticas, havendo significativa corrente doutrinária que 
entende mais correto admitir-se o início da personalidade coincidindo com o da 
concepção, após o que necessariamente o indivíduo teria se apropriado da 
personalidade, ou seja, teria se tornado uma pessoa. Todavia, foi o critério empregado 
pelo nosso primeiro Código Civil, promulgado em 1916, e se manteve no Código Civil 
atual, promulgado em 2002. 
Assim, antes do nascimento e depois da morte não existe personalidade, já que seu 
início ou ainda não se verificou ou já ocorreu a sua cessação. Portanto, o nascituro e 
o cadáver não são pessoas – e, assim, por exclusão, são coisas. 
São, outrossim, coisas de tal forma influenciadas pela personalidade ainda não 
verificada ou já extinta que recebem de nosso Direito tratamento diferenciado – ao 
nascituro se reconhece a expectativa do direito à vida e, como tal, ele pode receber 
heranças e doações sob condição de nascer com vida, ao passo que o cadáver não pode 
ser objeto de negócios jurídicos e o seu vilipêndio consiste em ilícito penal próprio. 
A pessoa jurídica também possui marcos inicial e finalde existência – são eles o 
registro de seu contrato ou de seus atos constitutivos junto ao Órgão competente e a 
formalização e posterior registro de sua dissolução, e isso se dá porque não possui 
esfera concreta ou morfológica, não podendo, como as pessoas de existência real, nascer 
e morrer. 
Tal é o disposto no Código Civil: 
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado 
com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando 
necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no 
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. 
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das 
pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o 
prazo da publicação de sua inscrição no registro. 
(...) 
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização 
para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta 
se conclua. 
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação 
de sua dissolução. 
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que 
couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado. 
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da 
pessoa jurídica. 
Nosso Direito estende às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade, que 
representam o substrato mínimo necessário para a existência da própria pessoa, nos 
termos seguintes: 
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos 
da personalidade. 
 
Para a teoria concepcionista a personalidade se inicia com a concepção e não quando do 
nascimento com vida. Todavia, esta não é a orientação de nosso Código Civil, que adota 
a teoria natalista do início da personalidade. 
Nem sempre o nascimento com vida foi suficiente para a determinação do início da 
personalidade – em algumas sociedades, como na grega, ou na romana, exigia-se, além 
disso, forma humana (aparência exterior de pessoa) e viabilidade (possibilidade de 
manutenção da vida por si só) para a apreensão da personalidade. Caso não preenchesse 
tais requisitos, o recém-nascido não a adquiria. 
A ausência de qualquer um deles – mesmo os de caráter essencialmente subjetivo, como 
forma humana, ou incertos, como viabilidade – impedia que o recém-nascido pudesse 
vir a ser considerado pessoa e geralmente ele era abandonado à própria sorte e acabava 
fenecendo. 
A evolução da própria concepção do ser humano e de sua função no mundo levou a que 
não mais se admitisse a exigibilidade de tais requisitos para a determinação da 
personalidade; alguns autores afirmam que os romanos justificavam a exigibilidade da 
forma humana em sua crença na possibilidade de uma mulher, mantendo 
relacionamento sexual com um animal, gerar um híbrido humano – animal – tal era a 
definição de monstro – como o Minotauro, misto de homem e touro e que, portanto, 
não deveria ser sujeito de direitos e deveres. 
Imagem do 
Minotauro, do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827). 
O requisito da viabilidade é mais sutil, porém não menos insidioso: determina que o 
recém-nascido, para que seja considerado pessoa, precisa ser dotado de condições 
fisiológicas que lhe permitam a manutenção, por si só, da vida extrauterina, ou seja, da 
vida independente do organismo da mãe. Assenta-se num raciocínio eminentemente 
utilitarista: a sociedade não pode ser onerada com a obrigatoriedade de sustento dos 
incapazes de se manterem por si próprios, porque esse ônus deixará, necessariamente, 
de ser empregado em prol de atividades e investimentos que trariam maior retorno aos 
contribuintes, aos integrantes aptos do corpo social. 
Infelizmente esse pensamento encontrou acolhida em diversos momentos históricos e 
ainda hoje se pode perceber sua defesa – mais ou menos tímida conforme a situação – 
em vários segmentos sociais. A cada dia podemos observar o crescimento de teses e 
argumentos de caráter eugenista sendo defendidos em nossa sociedade, talvez por 
desconhecimento do que representaram, para a Humanidade, em momentos como a II 
Guerra Mundial e o regime nazista. 
Importante destacar que a sociedade humana, diferentemente de outros grupamentos 
animais, não se rege apenas e tão somente pelas implacáveis leis naturais, mas sim por 
normas e regras sociais, que são uma abstração concebida e mantida pelos seres humanos. 
Não se pode, portanto, simplesmente desconsiderar o imperativo ético e moral de cuidar 
dos inválidos e dos incapazes, simplesmente porque o homem não pode limitar seu 
olhar sobre o semelhante ao mesmo olhar que deita sobre uma máquina. A mútua 
assistência, o mútuo socorro, a caridade, a bondade e a virtude são condições que, ao 
longo dos séculos de nossa civilização, pretendemos se tenham tornado essenciais à 
manutenção da vida social. 
Capacidade 
O exercício dos direitos e deveres pressupõe não apenas a condição encerrada na 
personalidade, inerente à natureza da pessoa, mas também condições intrínsecas que a 
habilitem à prática dos atos em sociedade de forma adequada à salvaguarda de seus 
interesses e à manutenção de sua própria pessoa e de seus bens. 
A essa condição se denomina capacidade, e consiste em poder a pessoa, por si só e sem 
a participação de quem quer que seja, gerir sua vida e seus bens e praticar livremente 
todos os atos da vida, tais como casar-se, comprar, vender, exercer uma profissão, entre 
inúmeros outros. 
Desta forma, teremos dois graus de restrições à plena capacidade: aqueles decorrentes 
da inexperiência presumida, ou seja, que são empregados à proteção dos menores, e 
aqueles decorrentes da enfermidade ou da má formação, que levam à impossibilidade, 
de fato, do exercício pleno da vida negocial, como na hipótese dos portadores de 
enfermidades ou deficiências mentais. 
Assim dispõe o Código Civil: 
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida 
civil: 
I. os menores de dezesseis anos; 
II. os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário 
discernimento para a prática desses atos; 
III. os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: 
I. os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II. os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, 
tenham o discernimento reduzido; 
III. os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
IV. os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação 
especial. 
A tutela da incapacidade se dá pela representação ou pela assistência: a representação, 
que se dá nas hipóteses da incapacidade absoluta, impõe que os atos da vida civil que 
toquem ao incapaz sejam praticados por seu representante, enquanto que a assistência 
determina que o incapaz praticará o ato que lhe toque, porém não o poderá fazer 
sozinho, sendo assistido por alguém capaz, que supra a sua incapacidade relativa. 
O incapaz, ainda quando o seja absolutamente, pratica atos da vida civil – ele compra, 
vende, aluga, herda, doa, enfim, pratica todos os atos da vida em sociedade – apenas não 
o faz por si próprio, ou sem a participação de seu representante ou assistente. 
Contextualizando, na hipótese da compra de um imóvel pelo incapaz: se a incapacidade 
for absoluta, quem assina a escritura é o seu representante (mas quem pratica o ato é o 
incapaz, em cujo patrimônio se integra o bem adquirido); se a incapacidade for relativa, 
assinam a escritura o próprio incapaz e seu assistente (que, assim, assiste ao incapaz, 
suprindo a sua incapacidade relativa para a prática do ato). 
 
A representação e a assistência são estabelecidas para a defesa dos interesses e do 
patrimônio do incapaz e não como forma de restrição à prática dos atos da vida civil; 
existem para a sua proteção e não para impedir que viva ese relacione economicamente. 
Assim, não podem ser considerados óbices para a realização dos atos, mas sim como 
garantidores da estabilidade das relações jurídicas. 
À representação ou assistência do menor denomina-se tutela; à representação ou 
assistência dos portadores de enfermidade ou deficiência mental denomina-se curatela. 
Portanto, terão tutores os menores e curadores os enfermos ou deficientes mentais. 
Domicílio 
Para a realização de sua vida negocial, a pessoa possui um local que será o de sua 
residência ou o de seu estabelecimento, aquele onde exercerá os atos jurídicos e onde 
demandará e será demandada judicialmente; a esse local se chama domicílio civil, e 
pode coincidir ou não com o endereço residencial ou comercial. 
O Código Civil regulamenta o estabelecimento do domicílio das pessoas na forma 
seguinte: 
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua 
residência com ânimo definitivo. 
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, 
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. 
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações 
concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. 
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um 
deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. 
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência 
habitual, o lugar onde for encontrada. 
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção 
manifesta de o mudar. 
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às 
municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais 
declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a 
acompanharem. 
O domicílio não será sempre voluntário. Algumas pessoas têm seu domicílio 
determinado por lei, portanto terão domicílio necessário. Nos termos do Código Civil: 
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o 
marítimo e o preso. 
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou 
assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente 
suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da 
Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente 
subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o 
lugar em que cumprir a sentença. 
Finalmente, mas não menos importante, existe o domicílio de eleição, que é aquele 
estabelecido pelos contratantes como sendo o foro, o local onde deverão ser dirimidas as 
questões eventualmente suscitadas pelo negócio jurídico. É usualmente empregado nas 
atividades empresariais e o Código Civil o regulamenta na forma seguinte: 
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio 
onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes. 
É de extrema relevância o estabelecimento e a determinação do domicílio, tanto para os 
atos da vida civil como para os atos empresariais; ele determina, como já vimos, onde a 
pessoa será demandada judicialmente em termos espaciais (sendo a medida do alcance 
da lei, como vimos anteriormente), bem como onde será tributada ou onde realizará as 
suas atividades empresariais. 
No tocante às pessoas jurídicas, a disposição é a seguinte: 
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: 
I. da União, o Distrito Federal; 
II. dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; 
III. do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; 
IV. das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias 
e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos 
constitutivos. 
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, 
cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. 
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á 
por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada 
uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela 
corresponder. 
Para aprofundar o conhecimento dessa matéria, estude o tópico 6 do livro Direito Civil: 
Introdução, Pessoas e Bens (RS – EDUCS), de Alexandre Cortez Fernandes. 
Vídeo da Unidade 
Para se aprofundar sobre personalidade, capacidade, coisas e bens, assista ao vídeo da 
unidade. 
Se preferir, faça o download do áudio (mp3 compactado) deste vídeo clicando aqui. 
Atividade 
Tício é um funcionário público com 35 anos de idade que, certo dia, passou a 
apresentar problemas de comportamento que, em constante agravamento, 
levaram à absoluta impossibilidade de trabalhar e de administrar a sua própria 
vida pessoal e econômico-financeira. Submetido a perícia médica, foi 
diagnosticado com enfermidade mental que o tornou absolutamente incapaz, 
devidamente atestada. 
Que providências a sua família deverá tomar para a proteção e a tutela de seus 
interesses em planos legais? 
Digite a sua resposta no espaço abaixo e, quando terminar, clique em Conferir.

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