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Curares e quinas APRESENTAÇÃO O curare é uma substância antiga utilizada pelos nativos da América do Sul. Essa substância é amplamente conhecida, e há relatos de que os povos indígenas utilizavam-na para a caça. No Brasil, os índios da Região Amazônica utilizavam nas flechas o curare obtido a partir de cascas de espécies de cipós das famílias Menispermaceae e Loginaceae. O motivo para isso é que o curare tem grande potencial de envenenamento, e sua utilização pode provocar paralisia da musculatura. Sabe-se também que os alcaloides presentes no curare apresentam benefícios, e ele foi o primeiro fármaco utilizado na anestesiologia em cirurgias e tratamento do tétano. Já a quinina é um alcaloide usado pelos incas no Peru. Essa substância ficou conhecida devido a uma lenda espanhola durante a invasão no Peru, quando se teve conhecimento de uma árvore empregada para o tratamento da febre da malária. Relata-se que um soldado espanhol, que tinha sido contaminado pelo vírus da malária, bebeu uma água de cor amarronzada na qual essas árvores haviam caído. Após uma noite de sono, quando acordou, observou que a febre havia desaparecido. A quinina é empregada para o tratamento e o desenvolvimento de novos fármacos antimaláricos, isolados do gênero Cinchona, e aplicada como aditivo amargo na produção de alimentos e bebidas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a química e a biologia dessas substâncias, os métodos de extração, sua caracterização, doseamento e propriedades farmacológicas, além de entender como o farmacêutico desempenha um papel importante na segurança e na utilização dos produtos naturais. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir, quimicamente, plantas que contenham curares e quinas.• Relacionar aspectos farmacológicos de plantas que contenham curares e quinas.• Descrever, de forma prática, a identificação desses compostos e a sua correlação com espécies brasileiras. • DESAFIO A malária é uma doença infecciosa que atinge regiões tropicais, causada pelo protozoário do gênero Plasmodium. Os principais sintomas são febre alta, calafrios, suores e cefaleia que ocorre ao longo do ciclo da doença, e o vetor da doença é o P. falcipaum. O Ministério da Saúde no Brasil, por muitos anos, instituiu um protocolo que preconiza o uso da quinina como fármaco de primeira escolha. A quinina é obtida a partir das cascas da quina do gênero da Cinchona. Essa extração ocorre em meio aquoso e ácido, e várias outras substâncias são extraídas concomitantemente. Então, Marcos começa a questionar como deverá ser a extração e o doseamento. Você faz parte da equipe de Marcos no laboratório de pesquisa em produtos naturais, e ele precisa que você o ajude a resolver esse problema. Com a finalidade de compreender o procedimento de extração e doseamento, analise: a) Qual a melhor forma de extração a ser feita e qual o melhor solvente para o processo? Quais outros processos de extração são aceitáveis? b) Quais testes são aplicáveis para identificação e doseamento da quinina? INFOGRÁFICO A quinina é um composto da classe dos alcaloides e derivado do triptofano. Ela apresenta um núcleo quinolítico, responsável por diferentes efeitos farmacológicos. Esse grupo de alcaloides pertence à espécie da Cinchona e tem sido utilizado no tratamento de malária, neuralgia, espasmos musculares, fibrilação cardíaca, além de ser utilizado na indústria alimentícia como flavorizante. A quinina está presente nas cascas da quina, encontrada em árvores nativas da América do Sul. Neste Infográfico, veja como ocorre a formação da quinina e o processo de extração e identificação dos alcaloides. CONTEÚDO DO LIVRO O curare foi utilizado por muito tempo nas florestas tropicais da América do Sul como um veneno extremamente forte, sendo empregado em flechas. A mistura do curare era fervida em água por cerca de dois dias e, então, evaporava para se tornar uma pasta escura e espessa com gosto amargo. A morte por curare é causada por asfixia, uma vez que os músculos esqueléticos ficam relaxados e paralisados. O curare começou a ser utilizado como anestésico em 1943, quatro anos depois que a substância tubocurarina foi isolada, sendo empregada em processos cirúrgicos. A quinina é um alcaloide que apresenta gosto amargo, tendo várias funções farmacológicas (antiarrítmicos, antimaláricos e analgésicos) e sendo utilizada como flavorizante na indústria alimentícia. A descoberta da quinina ocorreu durante a conquista do Império Inca pelos espanhóis na região do Peru (século XVI). Os invasores tomaram conhecimento dessa árvore, que era utilizada para tratamento da malária. A fama da quinina se espalhou pelo mundo, e seus benefícios para diversos tratamentos farmacológicos foram apresentados. Existem alguns testes que ajudam na identificação e na quantificação da quinina. No capítulo Curares e quinas, da obra Farmacognosia aplicada, você irá estudar quimicamente e biologicamente essas substâncias, os métodos de extração, caracterização e doseamento e suas propriedades farmacológicas. Boa leitura. FARMACOGNOSIA APLICADA Carlos Ananias Aparecido Resende Curares e quinas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir, quimicamente, plantas que contenham curares e quinas. � Relacionar aspectos farmacológicos de plantas que contenham curares e quinas. � Descrever, de forma prática, a identificação desses compostos e sua correlação com as espécies brasileiras. Introdução O curare é um extrato aquoso obtido do cipó. O termo vem da palavra “veneno”, que era preparado pelos índios da região amazônica e utilizado em flechas. O curare é considerado minimamente venenoso quando absorvido pelo trato gastrointestinal, mas, quando em contato direto com o sangue, é letal. A preparação do curare pelos indígenas obedecia um padrão de calor, partes utilizadas e concentração, que era verificada provando-se o curare. Os diversos alcaloides presentes no curare não são mais utilizados como paralisante muscular em cirurgias (SÁ, 2012; SOENTGEN; HILBERT, 2016). A quinina é um alcaloide utilizado para o tratamento de malária, neuralgia, espasmos musculares e fibrilação cardíaca. É utilizada na in- dústria alimentícia como flavorizante. Diferentes métodos são aplicados na sua extração e controle de qualidade, para garantir a otimização e confiabilidade dos fármacos que estarão disponíveis no mercado (SILVA; ARAGÃO, 2009). Neste capítulo, você irá estudar essas substâncias do ponto de vista químico e biológico. Também vai ver quais são seus métodos de extração, sua caracterização, seu doseamento e suas propriedades farmacológicas. 1 Conhecendo química e biologicamente o curare e a quinina Curare Curare é um termo que descreve uma combinação de extratos. Essa substân- cia apresenta o alcaloide tubocurarina, e é utilizada por indígenas como um poderoso veneno (SÁ, 2012). Os indígenas classificam o curare em três tipos, estabelecidos em função de seu armazenamento, forma de preparo e recipiente utilizado, que são os seguintes (SIMÕES et al., 2017): � Curare de tubo de bambu: extrato de menispermáceas. � Curare de cabaça (casca dos frutos de espécies de Cucurbitaceae): extrato da espécie loganiáceas. � Curare de pote de barro: extrato de espécies de duas famílias. A tubocurarina, cuja estrutura química você pode ver na Figura 1, é um dos princípios ativos encontrado no curare, presente na Chondrodendron tomentosum, uma trepadeira nativa da América do Sul. A tubocurarina é um composto heterocíclico, com a presença de núcleo isoquinolínico, tendo como precursor a fenilamina e a tirosina, um sal quaternário que apresenta cadeias do grupo metil, solúveis em água (BARREIRO; FRAGA, 2015; MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015). A origem biossintética dos alcaloides se inicia pela rotado ácido chi- químico a partir dos carboidratos. O ácido chiquímico é responsável pela formação dos aminoácidos aromáticos L-fenilamina e L-tirosina, precursores dos alcaloides isoquinolínicos (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015). Acompanhe na Figura 2 a biossíntese dos alcaloides isoquinolínicos. Curares e quinas2 Figura 1. Estrutura química da tubocurarina. Fonte: Adaptada de Simões et al. (2017). Alcaloide quaternário Figura 2. Biossíntese dos alcaloides isoquinolínicos. Fonte: Adaptada de Simões et al. (2017). +Eritrose-4-fosfato Fosfoenolpiruvato Ácido chiquímico CorismatoPrefenatoTirosina Alcaloides isoquinolínicos Condensação de dois metabólitos para a formação do ácido chiquímico A formação do corismato acontece com a junção do fosfoenolpiruvato Na tubocurarina, os dois átomos de nitrogênio estão separados por 10 átomos de hidrogênio, apresentando centros carregados positivamente. A distância interatômica (1,4 nm em tubocurarina) é muito dependente da estrutura e estereoquímica, uma vez que os átomos estão separados do centro (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015). Veja o processo de formação da tubocurarina na Figura 3. 3Curares e quinas Figura 3. Processo de formação da tubocurarina. Fonte: Adaptada de Melorose, Perroy e Careas (2015). HO NMe MeO HO H HO NMe MeO HO H O2 NADPH O MeN OMe O H O NMe MeO H O O NMe MeO H MeN H O OH OMe OH SAM O2 NADPH O NMe MeO H Me2N H O OH OMe OH Oxidação eletrônica de grupos fenóis produz radicais estabilizados por ressonância Acoplamento radical: é provável que seja um processo gradual Tubocurarina (S)-N-metil-coclaurina (S)-N-metil-coclaurina O acoplamento oxidativo fenólico é um fator crucial para a modificação da benziltetrahidroisoquinolina, que é o esqueleto básico para muitos outros tipos de alcaloides. A tubocurarina representa o acoplamento de duas moléculas de benziltetrahidroisoquinolina por pontes de éter, mas esse acoplamento é menos frequente do que o de carbono–carbono, uma ligação intramolecular entre anéis aromáticos (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015). Ao longo da história, algumas plantas foram utilizadas para a preparação do curare, e elas apresentam propriedades farmacológicas, como as listadas a seguir (SIMÕES et al., 2017; KING, 1945; RAGHAVENDRA, 2002; SPIROVA et al., 2019; VIRTUOSO et al., 2005): � Noz-vômica (Strychnos nux-vomica L.): a parte da planta utilizada para o preparo são as sementes. Era utilizada no passado para o tratamento de transtornos gastrointestinais. � Uva-do-mato (Chondrodendron tomentosum): é um potente relaxante muscular, utilizado como adjuvante em cirurgias e no tratamento de crises convulsivas. � Corticeira (Erythrina velutina): uma espécie da flora brasileira que apresenta atividade sob o músculo esquelético, provocando paralisia muscular. A parte da planta utilizada é a casca. Curares e quinas4 Quinina A quinina é extraída das cascas da quina. Foi isolada pela primeira vez em 11 de setembro de 1980 na França, pelos químicos Pierre Joseph Pelletier e Joseph Bienaimé Caventou. Registros históricos relatam que índios começaram a observar que animais doentes obtiveram melhoras após ingerir água de uma lagoa onde havia cascas de quina (ALMEIDA et al., 2009). A quinina é um alcaloide quinolínico e apresenta em sua estrutura quí- mica, que você pode ver na Figura 4, um núcleo quinolínico, responsável por diferentes efeitos farmacológicos. Utilizada na indústria farmacêutica para o desenvolvimento de fármacos antimaláricos e no tratamento de distúrbios digestivos, a quinina vem sendo empregada na indústria de alimentos como aditivo de amargura (SIMÕES et al., 2017). Figura 4. Estrutura química da quinina. Fonte: Adaptada de Simões et al. (2017). Álcool Éter Amina Alcaloide terciário Amina A água tônica é considera um refrigerante e apresenta, em sua constituição, 82mg/L de quinina. A quinina, inicialmente, era utilizada como um composto com benefícios antimaláricos, mas a indústria de alimentos a utilizou para conferir o gosto amargo, uma característica sensorial marcante. A água tônica também é utilizada em bebidas como mistura para coquetéis feitos com gin (MINIM et al., 2009). 5Curares e quinas A biossíntese da quinina, ilustrada na Figura 5, é semelhante à de outros alcaloides indólicos, de acordo com Simões et al. (2017, documento on-line): O triptofano (1), um aminoácido de núcleo indólico, forma, por descarboxila- ção, a triptamina (2), a qual, mediante condensação de Pictet-Spengler com o monoterpeno secologanina (3), forma a estrictosidina (4). A incorporação do intermediário corinanteal (5) sugere que o grupo metóxi-carbonilíco se perde em estágios anteriores, formando duas isoformas. A partir do corinanteal (5), os caminhos divergem completamente, e a formação do esqueleto quinolíni- co requer um rearranjo não apenas da porção monoterpênica, mas também do núcleo indólico, formando intermediários como 6, 7 e 8, para formar os alcaloides quinina (9), cinchonidina quinidina e cinchonina. Figura 5. Rota biossintética da quinina. Fonte: Simões et al. (2017, documento online). Curares e quinas6 Os alcaloides quinolínicos são encontrados na espécie do gênero da Cinchona L., que são árvores nativas da América do Sul e de outros países. As cascas dessa espécie devem ser utilizadas na faixa de 8 a 12 anos. Apresenta solubilidade em água, sendo um fármaco extremamente básico (BARREIRO; FRAGA, 2015; SIMÕES et al., 2017; OLIVEIRA; SZCZERBOWSKI, 2009; SILVA; ARAGÃO, 2009). Estudos relacionados à estrutura química da quinina levaram ao desenvolvi- mento de análogos sintéticos a partir do grupo farmacofórico o anel quinolínico (cloroquina, primaquina e mefloquina) (BARREIRO; FRAGA, 2015). A transmissão da malária ocorre pelo parasita do gênero Plasmodium, ou seja, é uma doença parasitária transmitida pela picada do mosquito fêmea do gênero Anopheles (RATHORE et al., 2005). A malária apresenta como sintomas febre, calafrios, cefaleia, vômitos, anorexia, diarreia e anemia. Caso não seja tratada adequadamente, pode causar complicações maiores ao paciente, como edema pulmonar, complicações renais, icterícia e obstrução dos vasos sanguíneos cerebrais, situação que poderá levar o paciente a óbito (FRANÇA; DOS SANTOS; FIGUEROA-VILLAR, 2008). O fármaco de primeira escolha para o tratamento da malária é a quinina, presente na constituição química de algumas espécies de plantas, como as lis- tadas a seguir (SIMÕES et al., 2017; POLLITO; TOMAZELLO FILHO, 2006). � Cinchona calisaya (quina amarela): utilizada como um antimalárico e antiparasitário, também auxilia no processo digestivo. As partes utilizadas da planta são as cascas. Nesta droga encontram-se presentes 60% de quinina. � Cinchona amazônica: espécie do gênero Cinchona, chamada popular- mente de árvore da quinina. Sua casca é utilizada para o tratamento da malária. 2 Aspectos farmacológicos de curares e quinas Curare O curare apresenta propriedades paralisantes; essa ação ocorre sobre os receptores nicotínicos da acetilcolina nos músculos. O curare trabalha de forma competitiva com a acetilcolina, sendo um antagonista. Provocando bloqueio neuromuscular e, em seguida, flacidez muscular, a ação da tubocurarina acontece por um período longo (SIMÕES et al., 2017). 7Curares e quinas A neostigmina e a piridostigmina são antagonistas da tubocurarina, ou seja, revertem o efeito de bloqueio neuromuscular promovido pela tubocura- rina. Utilizada também como antídoto no caso de envenenamento por curare, a neostigmina promove o aumento da concentração de acetilcolina no sistema neuromuscular (ARAÚJO; SANTOS; GONSALVES, 2016; MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015). Em 1947, a tubocurarina possibilitou o desenvolvimento de fármacos da classe dos bloqueadores ganglionares e relaxantes musculares utilizados em cirurgias intestinais (BARREIRO; FRAGA, 2015). Alguns efeitos colaterais causados pela tubocurarina são hipertensão,taquiarritmia, apneia, bronco- espasmo, insuficiência respiratória, rubor e salivação. Quinina O mecanismo de ação da quinina ainda não é totalmente elucidado. Ela pode ser usada como um antiarrítmico, sendo indicada na manutenção do ritmo sinusal e da fibrilação atrial, na prevenção recorrente da taquicardia e no tratamento de diferentes linhagens celulares (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015). Alguns estudos relatam que a quinina age sobre os fosfolipídios da mem- brana do vacúolo digestivo. Essa degradação compromete a hemoglobina, levando o parasita à morte (FITCH, 2004). O metabolismo do quinina ocorre no citocromo P450, uma enzima hepá- tica, na qual ocorre a oxidação do fármaco. A excreção da forma inalterada do fármaco ocorre pela urina — 20% da dose administrada é excretada. A 3-hidroxiquinina é o principal metabólito produzido pelo fármaco; em pacientes com deficiência renal pode causar toxicidade (SIMÕES et al., 2017). Existe uma limitação ao uso do quinina, por ter uma janela terapêutica curta; pode ainda haver o desenvolvimento de cardiotoxicidade e o cinchonismo (toxicidade neurológica, cardiovascular e gastrointestinal). A quinina é um dos fármacos que podem ser utilizados no primeiro trimestre da gestação (TAKEM; D’ALESSANDRO, 2013; WHITE, 2007). Indivíduos que apresentam um nível plasmático elevado do fármaco podem ter um aumento da toxicidade — isso ocorre devido à ligação com proteínas plasmáticas. Em pacientes com malária grave, o período de meia-vida da quinina se torna mais longo (SIMÕES et al., 2017). Curares e quinas8 Os antimaláricos foram desenvolvidos como profilaxia e tratamento da malária. O hospedeiro da malária apresenta um ciclo biológico complexo, e deve ser empregado um esquema terapêutico adequado à terapia que será aplicada ao paciente. Existem hoje poucos fármacos para tratamento e, por uso incorreto da população, vêm aumentando os casos de resistência medicamentosa a esses fármacos. Se quiser saber mais a respeito, leia o artigo disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/kiHbP 3 Caracterização, doseamento e extração Curare Existem diversas reações que podem ser empregadas para a identificação de alcaloides, mas algumas drogas necessitam de testes específicos para sua identificação. A metodologia de extração, de modo geral, consiste em tratar o material vegetal na forma de pó com solução aquosa de ácido diluído e, em seguida, neutralizar adicionando um solvente orgânico. Esses alcaloides são precipitados com adição da solução de carbonato de sódio ou amônia (SIMÕES et al., 2017). A caracterização e o doseamento da tubocurarina podem ser feitos com os seguintes métodos (SIMÕES et al., 2017): � Cromatografia em camada delgada (CCD): método utilizado para isolamento e identificação da tubocurarina, alcaloide presente no curare. É empregado o regente iodo platinado na cor marrom para a detecção do alcaloide. � Cromatografia liquida de alta eficiência (CLAE), cromatografia a gás (CG) e volumetria: o doseamento da tubocurarina pode acontecer por um desses três métodos. Pode ser empregando na fase móvel do gradiente do CLAE. 9Curares e quinas Quinina A extração do quinina ocorre por meio do líquido — líquido é o momento em que dois componentes de uma mistura são separados quando entram em contato com o solvente orgânico no qual ocorrerá o processo de dissolução (SIMÕES et al., 2017). Outros autores citam a extração por meio de ultrassom. Essa técnica con- verte as ondas do ultrassom de energia elétrica para energia mecânica, e a propagação dessas ondas no meio líquido provoca uma variação de pressão. A formação de bolhas ocorrem pela alta frequência, quando ocorre a im- pulsão para a formação das bolhas. Durante esse processo ocorre um efeito vibratório na célula, levando a sua ruptura e liberando seu conteúdo (SILVA; ARAGÃO, 2009). A caracterização e o doseamento pode ser feitos pelas seguintes técnicas: � Cromatografia em camada delgada (CCD): método utilizado para o isolamento de alcaloides indólicos. Este método é utilizado para a identificação de compostos conhecidos (BESSEGATO; CARDOSO; ZANONI, 2016). � Cromatografia liquida de alta eficiência (CLAE): método empregado para a quantificação de alcaloides indólicos, que apresentam forte ab- sorção pelo núcleo indólico, que se concentra na região violeta; assim o método se apresenta sensível. Este método trabalha com a CLAE acoplada à detecção de alta florescência (FLD) (CANALES et al., 2020). Existem alguns testes colorimétricos empregados na identificação quinina, listados a seguir: � Teste de eritroquinina: apresenta coloração avermelhada. � Teste de Herapatita: apresenta aspecto metálico. � Ácidos oxigenados: apresenta fluorescência azul na presença de ácido sulfúrico. � Teste de taleioquina: verde esmeralda. Acompanhe no Quadro 1 os testes colorimétricos reativos para a confir- mação de alcaloides. Curares e quinas10 Reativo para alcaloides Composição Cor do precipitado Dragendorff Iodobismutato de potássio Alaranjado Mayer Iodomercurato de potássio Branco Bertrand Ácido sílico-tungstato Branco Bouchardat/Wagner Iodo-iodeto de potássio Marrom Sonnenschein Ácido fosfomolíbdico Ácido tânico Branco Bege Heger Ácido pícrico Amarelo Quadro 1. Testes reativos colorimétricos para confirmação de alcaloides No link a seguir você encontra um site com mais infor- mações sobre os testes utilizados para identificação e extração de alcaloides. https://qrgo.page.link/ZvxQx O conhecimento acerca da utilização dos produtos naturais e a troca de experiências entre os diferentes povos levaram ao desenvolvimento de estudos voltados para compostos químicos naturais responsáveis por diversas atividades biológicas (MONTANARI; BOLZANI, 2001). No desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento de doenças diversas, a natureza tem um papel fundamental (VIEGAS JÚNIOR; BOLZANI; BARREIRO, 2006). 11Curares e quinas ALMEIDA, M. R. et al. Pereirina: O primeiro alcaloide isolado no Brasil? Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 19, nº. 4, out./nov. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2009000600026. Acesso em: 21 fev. 2020. ARAÚJO, C. R. M.; SANTOS, V. L. dos A.; GONSALVES, A. A. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Curares e quinas14 DICA DO PROFESSOR O curare e as quinas representam um avanço na medicina para o desenvolvimento de novos medicamentos. A história da humanidade e a utilização de plantas medicinais por povos que tinham os conhecimentos empíricos foram fundamentais para o desenvolvimento de novos fármacos. Nesta Dica do Professor, você irá compreender mais sobre os aspectos farmacológicos do curare e da quinina. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS A tubocurarina é o principal aditivo encontrado no curare. O curare recebe esse nome por apresentar vários compostos que são considerados venenosos. A tubocurarina tem ação paralisante e é utilizada como relaxante muscular. 1) É possível visualizar, em sua estrutura química, algumas funções orgânicas, entre elas: A) ácido carboxílico. B) álcool. C) anidrido. D) cetona. E) éter. 2) A quantificação dos principais ativos presentes em plantas pode ser feita de diferentes maneiras. Existem alguns métodos que auxiliam na quantificação de princípios ativos, a qual tem um papel importante para o desenvolvimento de novos estudos. J.L.M é pesquisador de uma universidade e necessita realizar uma quantificação de tubocurarina e quininas em seu laboratório. Então, precisa saber qual método empregar para a quantificação da tubocurarina. De acordo com seus conhecimentos, qual método dever ser utilizado para a quantificação da tubocurarina? A) CCD. B) CLAE. C) Dragendroff. D) Teste de taliquimia. E) Mayer. 3) O curare apresenta atividade paralisante quando em contato com o corpo, trabalhando de forma competitiva com a acetilcolina. A tubocurarina, por muito tempo, foi utilizada como relaxante muscular em processos cirúrgicos. A ação da tubocurarina ocorre em quais receptores? A) Receptores muscarínicos. B) Receptores colinesterase. C) Receptores monoamina. D) Receptores adrenérgicos. E) Receptores nicotínicos. 4) Durante o processo de metabolismo da quina, ocorrem algumas transformações no fármaco, chamadas de oxidação. Essa oxidação gera um metabólito secundário, chamado de 3-hidroxiquina. Em qual desses grupos de pacientes deve-se ter atenção redobrada durante a administração de quinina? A) Pacientes renais. B) Pacientes hipertensos. C) Pacientes asmáticos. D) Pacientes com deficiência de cálcio. E) Pacientes em período de menopausa. 5) Durante a aula de Biologia, um professor explicou que os índios nativos da América do Sul utilizavam o curare em flechas para a caça, explicando que o termo era designado para denominar a palavra veneno. O curare é uma mistura de cipós de várias espécies da Amazônia. Então, um aluno da classe levantou a seguinte questão: “Se o curare é um veneno, os índios não poderiam consumir a carne da caça morta com as flechas”. Por que os índios não morriam ao consumirem a carne envenenada? A) O curare apresenta baixa toxicidade e é pouco absorvido pelo trato gastrintestinal. B) O curare apresenta ação farmacológica nula sobre o trato gastrintestinal. C) Os índios realizavam um ritual de preparo para a limpeza da carne, que se tornava própria para o consumo. D) O curare não apresenta ação sobre os bloqueadores neuromusculares. E) O curare apresenta alta toxicidade e é muito absorvido pelo trato gastrintestinal. NA PRÁTICA O uso indiscriminado de plantas medicinais vem se tornandofrequente no mundo moderno, o que vem trazendo alguns problemas de saúde para a população, como possíveis interações medicamentosas que podem comprometer o tratamento. Nesta Na Prática, conheça o caso de Dona Maria e o uso das cascas de quina para o tratamento de distúrbios gastrintestinais. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Extração de alcaloides No link a seguir, você verá como ocorre o processo de extração dos alcaloides. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Estudo do efeito do macerado de flores de mulungú sobre operaria de abelhas africanizadas As plantas do gênero Erythrina são conhecidas por produzirem alcaloides, flavonoides e isoflavonoides. Essas plantas representam a principal fonte de alcaloides tetracíclicos, os quais apresentam atividade semelhante à do curare, causando paralisia muscular. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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