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AULA 1 GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO Prof. Afonso Ricardo Paloma Vicente 2 TEMA 1 – BASES CONCEITUAIS: COMPREENDENDO A INOVAÇÃO Com o passar dos anos, as empresas estão cada vez mais competitivas. Isso se deve, muitas vezes, às transformações que ocorrem no ambiente mercadológico. No intuito de superar essas transformações e gerar vantagem competitiva, as práticas de inovação são imprescindíveis, uma vez que é por intermédio de atitudes inovadoras que as empresas são capazes de expandir, reestruturar e aprimorar as ações nos mais variados tipos de organizações. Nas empresas e indústrias, por exemplo, o ato de inovar permite que determinado negócio seja reinventado, tornando-o mais adequado para o consumidor final e, consequentemente, mais competitivo. No entanto, antes de entrarmos nesse mundo organizacional, é fundamental compreendermos alguns conceitos. 1.1 Conceito de inovação Conceituar inovação não é uma tarefa fácil. Por mais simples que possa parecer, inovar não é simplesmente fazer algo novo. O conceito de inovação sofreu grandes alterações nos últimos anos. O Manual de Oslo, criado em 1990 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresenta diretrizes para coleta e interpretação sobre inovação e tecnologia com o objetivo de orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de estatística e indicadores de pesquisa e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de países industrializados. É nesse manual que é apresentada a evolução do conceito de inovação. Inovação é considerada a prática de explorar novas ideias de forma correta. Dessa forma, a ideia de algo realmente dar certo depende dos objetivos e das pessoas ou organizações envolvidas nesse processo. Um exemplo pode se referir ao incremento do faturamento ao crescimento da margem de lucro, à abertura de novos mercados e ao lançamento de novos produtos ou serviços. Um conceito muito interessante sobre inovação foi dado pelo vice- presidente de varejo da Apple, Ron Johnson: “Inovação é a fantástica intersecção entre a imaginação de alguém e a realidade”. Isso significa que inovar vai além da criatividade, de pensar em coisas novas, ou seja, é transformar uma ideia em produto, serviço ou processo novo ou melhorado. 3 No ambiente empresarial, inovar é o processo que inclui atividades técnicas, concepção, desenvolvimento, gestão e que resulta na comercialização de produtos, ou na primeira utilização de processos. No entanto, a inovação organizacional é definida como um novo método organizacional voltado aos negócios das empresas, à organização do trabalho ou às relações externas. A inovação organizacional aplica-se ao desenvolvimento de novas tecnologias para a criação de novos produtos e serviços, à forma como a organização atua em um mercado em constante mudança, servindo igualmente como forma competitiva. Inovações também podem estar vinculadas a novas modelagens de negócio, a novos mercados, métodos, processos organizacionais e a novos tipos e fontes de suprimentos. Por conta disso, é comum haver uma confusão entre inovação e processos de inovação com o aprimoramento constante de produtos, métodos, serviços, processos, entre outros. É por esse motivo que é importante saber que a inovação gera um impacto significativo para a organização ou para o conjunto de pessoas envolvidas, se considerarmos esse processo como um todo e não apenas em seus aspectos isolados. Até recentemente os processos de inovação não eram suficientemente compreendidos. Um melhor entendimento surgiu em decorrência de vários estudos feitos nos últimos anos. No que diz respeito ao nível macro, é possível encontrar um conjunto de elementos que apontam que a inovação é um dos principais fatores que levam ao crescimento econômico. Já em nível micro, a pesquisa e desenvolvimento é a atividade que mais absorve informações e conhecimento para a empresa. Outros fatores que influenciam a capacidade de inovação das empresas são também vistos como de fundamental importância: facilidade de comunicação, canais eficazes de informação, transmissão de competências e acumulação de conhecimentos dentro das organizações. Além disso, é importante ter uma visão estratégica e determinante para buscar no ambiente externo a organização, elementos que sejam essenciais para o desenvolvimento de novas tecnologias e inovações. Para isso, a empresa precisa desenvolver duas competências principais: Competências estratégicas: diz respeito à visão de longo prazo, capacidade de identificar e até antecipar tendências de mercado, 4 disponibilidade e capacidade de coligir, processar e assimilar informações tecnológicas e econômicas; Competências organizacionais: disposição para o risco e capacidade de gerenciá-lo, cooperação interna entre os vários departamentos operacionais e cooperação externa com consultorias, pesquisas de público, clientes e fornecedores, envolvimento de toda a empresa no processo de mudança e investimento em recursos humanos. Percebe-se, pelos conceitos apresentados, que inovação é algo muito mais amplo dentro dos seus conceitos, bem como é amplo também na forma e nos processos que ocorrem no ambiente organizacional. Inovação envolve uma diversidade de processos e indivíduos que precisam estar atentos às mudanças que acontecem nos mais diferentes ambientes, seja dentro ou fora da organização, para então fazer a melhor escolha, que resulte em desenvolvimento e resultados positivos para as empresas. Além dessa grande quantidade de conceitos sobre um único termo – inovação –, existem também as suas subdivisões, ou aqui, como vamos tratar, os tipos de inovações. Elas se diferem de acordo com o processo e necessidade organizacional. Essa diferença vamos ver no tema seguinte. TEMA 2 – TIPOS DE INOVAÇÃO: OBJETO FOCAL DA INOVAÇÃO As formas de inovação podem ser classificadas de muitas maneiras. Nesse contexto, destaca-se dois modos de classificação propostos pelo Instituto Inovação. O primeiro trata do objeto focal da inovação, e o segundo, do impacto da inovação. Vamos ver cada um separadamente nas sessões seguintes. No que diz espeito à classificação de inovação pelo objeto focal, podemos citar a inovação de produto, a inovação de processo e a inovação do modelo de negócio. Inovação de produto pode assumir duas formar abrangentes: (1) produtos tecnologicamente novos e (2) produtos tecnologicamente aprimorados. Para ficar mais claro, é apresentado a seguir os conceitos e exemplos descritos pela Financiadora de Estudos e Projeto (Finep). Um produto tecnologicamente novo ocorre quando suas características tecnológicas ou usos pretendidos diferem daqueles dos produtos produzidos anteriormente. Tais inovações podem envolver tecnologias radicalmente novas, 5 podem basear-se na combinação de tecnologias existentes em novos usos, ou podem ser derivadas do uso de novo conhecimento. Os primeiros microprocessadores e gravadores de videocassete foram exemplos de produtos tecnologicamente novos do primeiro tipo, utilizando tecnologias radicalmente novas. O primeiro toca-fitas portátil, que combinava as técnicas existentes de fita e minifones de cabeça, foi um produto tecnologicamente novo do segundo tipo, combinando tecnologias existentes em um novo uso. Em cada caso, o produto geral não existia anteriormente. Já um produto tecnologicamente aprimorado é um produto existente cujo desempenho tenha sido significativamente aprimorado ou elevado. Um produto simples pode ser aprimorado (em termos de melhor desempenho ou menor custo) com o uso de componentes ou materiais de desempenho melhor, ou um produto complexo que consista em vários subsistemas técnicos integrados pode ser aprimorado por meio de modificações parciais em umdos subsistemas. Produtos tecnologicamente aprimorados podem ter grandes e pequenos efeitos na empresa. A substituição de metais por plástico nos equipamentos de cozinha ou mobílias é um exemplo de uso de componentes de melhor desempenho. A introdução de freios ABS ou outras melhorias de subsistemas em carros é um exemplo de mudanças parciais em alguns subsistemas técnicos integrados. No que diz respeito à inovação de processo, é a adoção de métodos de produção novos ou significativamente melhorados, incluindo métodos de entrega dos produtos. Tais métodos podem envolver mudanças no equipamento ou na organização da produção, ou uma combinação dessas mudanças, e podem derivar do uso de novo conhecimento. Os métodos podem ter por objetivo produzir ou entregar produtos tecnologicamente novos ou aprimorados, que não possam ser produzidos ou entregues com os métodos convencionais de produção, ou pretender um aumento da produção ou eficiência na entrega de produtos existentes. Um exemplo de inovação em processo pode ser com base em uma empresa de transporte rodoviário, em que a adoção de novos procedimentos melhora o desempenho das atividades, por exemplo: (1) o uso de telefones celulares para redirecionar os motoristas ao longo do dia, que permite aos clientes maior flexibilidade nos destinos das entregas; (2) novo sistema de mapeamento por computador, usado pelos motoristas para descobrir a rota de entrega mais 6 recente (isto é, de um destino para outro). Isso permite oferecer aos clientes entregas mais rápidas; (3) introdução de reboques com oito contêineres em forma de globo, em vez dos quatro habituais. Por fim, inovação de modelo de negócio tem foco na mudança do modelo de negócio da organização, nas motivações e em como os elementos para essa mudança se tornam bem-sucedidos. Os modelos de negócios são decorrentes da inovação tecnológica que ocorre dentro da organização, tecnologia essa que busca atender às necessidades do mercado e também dos clientes não correspondidos. Essa capacidade de mudança da organização de se adaptar às condições faz com que a empresa obtenha um melhor desempenho. Novos modelos de negócios, ou refinamentos para os já existentes, muitas vezes resultam em um custo mais baixo ou o aumento do valor para o consumidor; se não for facilmente replicado por concorrentes, eles podem fornecer uma oportunidade de gerar retornos mais altos para o empresário, pelo menos até que seus novos recursos sejam copiados. Dessa forma, inovação do modelo de negócio se caracteriza por uma mudança que a empresa planeja para atender seus clientes, envolvendo, dessa forma, a mudança da estrutura organizacional com a inclusão de inovações e processos em sua cadeia produtiva. De acordo com o consultor de inovação, Luiz Flávio (2016), podemos distinguir quatro dimensões principais para se inovar no modelo de negócios: Oferta: As ofertas são os produtos e serviços inovadores que levam valor para os consumidores. O IPod, o IPad ou o ITunes, por exemplo, são produtos inovadores. Ainda, podemos ter as inovações nas plataformas e as soluções integradas. A Nissan criou uma plataforma de componentes para criar novas linhas de carros e utilitários. A Disney é outro exemplo de plataforma: com os seus personagens, a empresa cria uma série de novos produtos e serviços. Nas soluções, encontramos as ofertas integradas desde a concepção até a implantação de produtos e serviços. Consumidores: Na dimensão de consumidores, pode-se inovar achando novos segmentos de consumidores ou redefinir as interações existentes em cada ponto de contato para criar novas formas de receitas. Toda a gama de serviços que foi criada para servir ao segmento de baixa renda é um exemplo da criação de novos segmentos de mercado. 7 Processos: Na dimensão de processos, podem-se criar novas linhas de produtos e serviços utilizando as competências centrais da empresa, como a Honda fez com a sua linha de produtos – motosserra, cortador de grama, motocicletas, carros etc. Ou envolver os seus fornecedores na criação de valor como a Boeing ou a Embraer. Canais de entrega: Nos canais de entrega, a empresa pode buscar novas formas de distribuir e interagir com os consumidores criando um relacionamento inteligente e criativo. O e-commerce criou uma gama enorme de novos modelos de negócio. No quadro a seguir, são apresentados os conceitos sintetizados, bem como outros exemplos que permitem uma melhor compreensão dos termos citados. Quadro 1 – Conceitos de inovação e exemplos TIPO DESCRIÇÃO EXEMPLO Inovação de produto Abrange mudanças nas propriedades do produto, alterando-se o modo como os clientes e participantes da cadeia produtiva percebem o produto. Um automóvel com câmbio automático, que se distingue dos modelos convencionais. Inovação de processo Diz respeito a modificações no processo de produção de um produto ou serviço, mas não causa, obrigatoriamente, alterações do produto final. Gera melhorias significativas no processo de produção, como a redução de custos e aumento da produtividade. Um automóvel produzido com auxílio de robôs. Inovação de modelo de negócio Referem-se a alterações que dizem respeito à maneira como o produto ou serviço é apresentado ao mercado. Na maioria das vezes, essa inovação não casa mudanças no produto ou no processo de produção. A possibilidade de um automóvel ser alugado para o consumidor, que passaria a pagar mensalidades para utilizá-lo. Com isso, teria direito a seguro e manutenção. Fonte: Possoli, 2012. TEMA 3 – TIPOS DE INOVAÇÃO: IMPACTO DA INOVAÇÃO No que se refere aos impactos da inovação, pode-se estabelecer dois tipos de inovação: a incremental e a radical. O impacto da inovação diz respeito às consequências mensuráveis do processo inovador, enquanto a classificação anterior destaca a instância específica em que o processo de inovação se concentra. 8 De acordo com o Manual de Oslo (2017), a mudança técnica está longe de ser suave. Novas tecnologias competem com as tecnologias estabelecidas e, em muitos casos, as substituem. Esses processos de difusão tecnológica são frequentemente prolongados e envolvem, via de regra, o aprimoramento incremental, tanto das novas tecnologias, como das já estabelecidas. Na turbulência que se segue, novas empresas substituem as existentes que tenham menos capacidade de ajustar-se. A mudança técnica gera uma redistribuição de recursos, inclusive mão de obra, entre setores e entre empresas. Como observa Schumpeter, a mudança técnica pode significar destruição criativa. Pode também envolver vantagem mútua e apoio entre concorrentes, ou entre fornecedores, produtores e clientes. Inovação incremental poder ser definida como: a inovação que incorpora melhoramentos (características técnicas, utilizações, custos) a produtos e processos preexistentes. Algumas expressões que envolvem o conceito de “qualidade” e “altura” da inovação: radical, incremental, imitação, invenção, disruptive, breakthrough, discontinuity, innovation height, novel, novelty, really new, level of newness, innovativeness. De acordo com Thiengo (2018), um fator que estimula esse tipo de inovação é a incerteza econômica. A inovação incremental, em geral, visa melhorar o desempenho dos produtos e aumentar o seu ciclo de vida (introdução, crescimento, maturidade e declínio). A indústria automobilística apresenta diversos exemplos de inovações incrementais. Nas últimas décadas, os engenheiros que atuam nessa área não pretenderam criar uma espécie de veículo totalmente novo – ao contrário, foram realizadas apenas inovações graduais, tais como a melhoria no sistema de freios, tecnologias para a redução no consumo de combustível, o desenvolvimento de motores para maior potência etc. Sem dúvida, comparando-se os carros atuais com aquelesfabricados décadas atrás, constatam-se grandes diferenças, as quais foram sendo incrementadas de maneira paulatina e gradual. Já a inovação radical consiste na criação de um novo produto, desejando, consequentemente, a geração de um novo mercado. Esse tipo de inovação tende a criar mercados e indústrias totalmente novos. Cita-se, por exemplo, o caso de um cientista da 3M chamado Art Fry, que fazia parte de um coral e usava marcadores em seu livro de canto. Todas as vezes em que ele abria o livro de canto, os marcadores acabavam caindo. Em 1977, Art Fry observou de um outro 9 cientista uma novidade: um adesivo que era capaz de reposicionar. Com isso, para resolver o seu problema, ele teve a ideia de usar esse adesivo coberto com tiras de papel. Assim, Art Fry acabou por desenvolver um novo conceito de bloco, o Post-it. O quadro a seguir apresenta uma simplificação dos conceitos e exemplos dos inovações incrementais e radicais. Quadro 2 – Conceitos de inovação incremental e radical TIPO DESCRIÇÃO EXEMPLO Incremental Gera pequenos aprimoramentos em produtos ou serviços. Isso representa, de maneira geral, um acréscimo progressivo nos benefícios recebidos pelo consumidor. No entanto, o modo do consumo ou do modelo de negócio não é modificado. A evolução do CD normal para o CD duplo, que é capaz de armazenar o dobro de música. Radical Corresponde a uma transformação drástica na maneira como o produto ou serviço é recebido pelo consumidor. Dessa forma, representa um novo padrão dentro do segmento de mercado e modifica o modelo de negócio corrente. O uso de aparelho de MP3 para escutar músicas, em vez de um CD. Fonte: Possoli, 2012. Ainda existem outros tipos de inovação que são importantes ser citado, por exemplo, as inovações de marketing e as inovações organizacionais. A inovação de marketing diz respeito à implementação de uma nova metodologia de marketing nas organizações. Trata-se de um novo planejamento mercadológico que muda expressivamente a concepção do produto, do seu modo de comercialização e sua identidade visual. Tais alterações aumentam as vendas dos produtos, melhoram o atendimento aos clientes e objetivam a abertura de outros mercados. No que diz respeito à inovação organizacional, é a aplicação de métodos organizacionais ainda não utilizados pela empresa a fim de reduzir custos administrativos e de suprimentos. É importante ressaltar que inovações organizacionais possuem um caráter estritamente administrativo, o que envolve a gestão de pessoas e a gestão estratégica. Como exemplo de inovação organizacional, podemos citar: ações de gestão de qualidade; sistemas de produção flexíveis e enxutos; novos procedimentos e rotinas administrativas; 10 conexão de diversos tipos de negócios; centralização ou descentralização de tarefas, entre outros. TEMA 4 – CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Por tudo que vimos até o momento, temos uma ideia de como é difícil conceituar inovação, e essa mesma dificuldade se estende para a definição de criatividade. Criatividade, segundo as definições encontradas nos dicionários, é uma habilidade humana intangível, apesar de suas manifestações evidentes. Além disso, é a qualidade ou estado de ser criativo, ou ainda, a capacidade de criar. Percebe-se que é uma explicação ampla, e por isso existe essa dificuldade em compreender o que de fato é. Contudo, vamos aqui aprofundar um pouco mais esses conceitos. Alguns estudiosos de inovação descrevem a criatividade como a capacidade de desenvolver uma coisa nova com base em uma coisa antiga ou de promover a existência de algo novo, aproveitável, útil e de real e comprovada importância. Além disso, criatividade está mais ligada à capacidade de introspecção do que aos recursos disponíveis. Embora sejam utilizadas em diferentes ocasiões como sinônimos e estejam relacionadas, há uma importante diferença entre criatividade e inovação. Enquanto a criatividade se refere à geração de ideias, a inovação diz respeito à aplicação e ao funcionamento de um novo produto, processo ou serviço. Em outras palavras, a criatividade é crucial para a inovação, no entanto, não é suficiente por si só. No contexto empresarial, é evidente a valorização da criatividade, fenômeno resultante do aumento da competitividade, da velocidade das mudanças e da valorização do empreendedorismo. Como a origem da inovação reside nas ideias criativas dos indivíduos, a criatividade tem recebido uma atenção crescente. Ela tem sido apontada como uma habilidade humana crítica, que deve ser canalizada e fortalecida em favor da organização. São cinco condições propícias para o surgimento do pensamento criativo: O interesse real pelo assunto ou a necessidade de resolver uma questão; O conhecimento específico sobre determinado assunto; A liberdade de pensamento, sem censuras ou restrições; A imaginação; 11 A coragem para enfrentar o medo de se expor. Existem, também, quatro etapas durante o processo criativo. Preparação: diz respeito à delimitação do problema e às possíveis soluções que possam resolvê-lo. Incubação: é um período de gestão do inconsciente, pensamentos, no qual não se procuram respostas elaboradas. A incubação requer tempo. No entanto, caso não haja avanços, esse processo deve ser temporariamente abandonado. Inspiração: refere-se à incidência de uma ideia repentina, que pode ocorrer em momento inusitados. É a base para a solução de determinado problema. Validação: é o momento de avaliar a viabilidade prática da solução encontrada. Vale ressaltar que, por vezes, a validação é frustrante, pois nem todas as ideias são viáveis. Nesse sentido, para desenvolver a criatividade empresarial, são necessárias condições adequadas, por exemplo: (1) seleção de pessoas que se caracterizam por sólida preparação e uso dos processos de pensamento criativo; (2) possibilidades amplas de treinamento voltados para a atualização do conhecimento e habilidades criativas; (3) estabelecimento de metas; (4) encorajamento, discussão e comunicação entre os membros e; (5) premiação das ideias e produtos criativos. Em sumo, empresas que buscam inovação devem buscar um ambiente e uma cultura voltados para a criatividade e o conhecimento, estimulando seus colaboradores a buscar informações que auxiliam no desenvolvimento de novas ideias e futuras inovações que podem resultar em um alto desempenho organizacional. TEMA 5 – POR QUE INOVAR? A sociedade contemporânea, impulsionada pela globalização da economia e pelas tecnologias de informação e comunicação, tem imposto uma competição entre as organizações sem precedentes no mundo dos negócios. O cenário é de incertezas, mudanças e intensa competitividade. Diante disso, para irem de encontro a essa ameaça de manter a sua sustentabilidade, as organizações devem ser capazes de aprender e, ao fazê-lo, desenvolver novos conhecimento, 12 adotá-los na prática, realizar novas tarefas e manter as antigas maneiras mais rápida e eficaz. A conjuntura da interdependência dos mercados, a internacionalização crescente e da denominada terceira revolução tecnológica, caracteriza a globalização no mundo contemporâneo, configurando o que se convencionou chamar de “nova ordem mundial. Assim, a globalização se firma como uma diretriz para a organização econômico-social dos mais diversos países, atingindo todos os setores da sociedade. O processo de globalização é um fenômeno sem precedentes na história. Ainda que tenha existido desde a primeira troca de mercadorias ou objetos culturais entre povos desde a expansão marítima-comercial europeia, como as relações entre colônias e metrópole, há a diferença de que, atualmente, essa relação se intensificou pela maximização da velocidade e da abrangência de novas tecnologias de informação e comunicação. Progressivamente, o mundose transforma em um território de tudo e de todos. Diante desse contexto, é possível identificar com clareza os fatores que contribuíram para que o mundo se tornasse uma aldeia global: A interdependência ente os Estados, pois não existe um extado completamente autossuficiente; A alta tecnologia, sobretudo nos meios de comunicação de massa; Os blocos econômicos, que regionalizaram o mercado de bens e serviços; As organizações internacionais, agentes que impulsionam a integração mundial; As empresas transacionais, “atores” que transpassam fronteiras e se instalam em todas as partes do globo. Assim, podemos definir globalização como a intensificação de relações sociais em escala mundial que ligam localizações distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. Com a utilização da tecnologia da informação na telecomunicação, principalmente por conta do advento da internet, o processo de globalização se intensificou ainda mais, permitindo que as nações se conectassem de maneira rápida e constate. Dessa forma, foi instaurada a possibilidade de os mercados nacionais movimentarem bilhões de dólares em apenas alguns segundos, por 13 meio de um computador. Essa nova ordem de integração das economias nacionais e, sobretudo, a mobilidade da circulação de bens e serviços têm gerado profundas transformações no mercado de trabalho mundial. Entre essas transformações, pode-se citar o aumento da competitividade motivado pela internacionalização da concorrência. Para que possamos inovar em um ambiente globalizado, é primordial a utilização das tecnologias de informação e comunicação de forma a viabilizar ações coletivas de troca de informações, de planejamento e atividades de P&D entre participantes situados em locais distintos do mundo. Com isso, eles podem desenvolver ações de inovação em empresas, institutos de pesquisa, universidades, indústria e também outros tipos de organizações. Assim, é possível afirmar que a globalização traz, enquanto característica estrutural, a revolução tecnológica informacional. A rigor, mercadorias e papéis moeda não são trocados; o que trocamos, de fato, são informações sobre dinheiro e sobre papéis que o representam. Assim, temos uma ideia inicial de por que devemos inovar. Além das questões que envolve a globalização, as empresas devem ter um olhar estratégico com base na inovação. Desde os postulados de Schumpeter, o “pai” do empreendedorismo, empresas que não inovam estão fadadas a perderem espaço no mercado, diminuindo sua vantagem competitiva e desempenho. Inovar é, de fato, o cerne para o desenvolvimento organizacional. E engana-se quem acha que inova é revolucionar em um produto, processo ou serviço. Muitas vezes, o fato de um empreendedor agregar valor ao negócio, em pequenos detalhes na forma de fazer o negócio, já, sem dúvida, fará com que a vantagem competitiva esteja a cima dos concorrentes do mesmo setor que atua. Inovar é criar barreiras para novos entrantes também. A partir do momento em que se cria valor de forma a inovar aquilo que já é existente na organização, empresas concorrentes sentem dificuldades de fazer o mesmo, principalmente diante do custo de aplicação desse valor agregado. Isso faz com que o seu desempenho permaneça por mais tempo, bem como um lucro constante. Outra questão importante para empresas que querem inovar e manter um nível alto e estável é sempre buscar pela renovação e, de novo, não é necessário grandes inovações. Muitas vezes, pequenas ações fazem a diferença para que a empresa consiga alcançar suas metas e lucratividade. 14 Para finalizar esta aula, é importante destacar que inovar nem sempre é fácil, principalmente diante de um mercado acirrado como o que vivemos nos dias atuais. Além disso, as tecnologias estão mudando a todo tempo, por isso, informação e conhecimento são fundamentais. Gestão do conhecimento e informação é imprescindível na cultura organizacional. Em breve vamos estudar um pouco mais sobre esse processo de geração e gestão do conhecimento que é a raiz para toda e qualquer inovação que uma empresa queira desenvolver. 15 REFERÊNCIAS ANDREASSI, T. Gestão da inovação tecnológica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. CANONGIA, C. et al. Foresight, inteligência competitiva e gestão do conhecimento: instrumentos para a gestão da inovação. Gestão & Produção, vol. 11, n. 2, 2004. FIGUEIREDO, P. N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos, 2009. ORGANIZAÇÃO para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Manual de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 2. ed. Paris: OCDE; São Paulo: Finep, 1997. Disponível em: <https://www.mctic.gov.br/mctic/ export/sites/institucional/indicadores/detalhe/Manuais/OCDE-Manual-de-Oslo-2-ed icao-em-portugues.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2019. POSSOLI, G. E. Gestão da inovação e do conhecimento. Curitiba: InterSaberes, 2012. REIS, D. R. dos. Gestão da inovação tecnológica. Barueri, Manole, 2008. REIS, D.; CARVALHO, H. G. R.; CAVALCANTE, M. B. Gestão da inovação. Curitiba: Aymará, 2011. SCHERER, F. O.; CARLOMAGNO, M. S. Gestão da inovação na prática: como aplicar conceitos e ferramentas para alavancar a inovação. São Paulo: Atlas, 2000. SCHMITT, V. G. H.; MORETTO NETO, L. Gestão da Inovação. In: Gestão da inovação. 2008. TAKAHASHI, S.; TAKAHASHI, V. P. Gestão de inovação de produtos: estratégia, processo, organização e conhecimento. São Paulo: Elsevier, 2007. TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação-5. Porto Alegre: Bookman, 2015. TIGRE, P. B. Gestão da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 2006. _____. Gestão da inovação: a economia da tecnologia no Brasil. São Paulo: Elsevier Brasil, 2013. 16 THIENGO, L.C.; BIANCHETTI, L.; DE MARI, C. L. A obsessão pela excelência: universidades de classe mundial no Brasil? Revista Internacional de Educação Superior, v. 4, n. 3, p. 716-745, 2018. AULA 2 GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO Prof. Afonso Ricardo Paloma Vicente 2 TEMA 1 – A RELAÇÃO ENTRE GESTÃO DA INOVAÇÃO E ÁREAS ORGANIZACIONAIS: INOVAÇÃO E RECURSOS HUMANOS Como vimos na aula anterior, inovação é o resultado de uma ideia inicial, que partiu da criatividade e experiência das pessoas inseridas no processo. Dessa forma, o setor de recursos humanos das organizações pode e deve contribuir para uma cultura de aprendizagem e conhecimento dentro da empresa. Compreendemos como recursos humanos os colaboradores de uma empresa, sendo este o capital vivo fundamental para o desenvolvimento da organização. No entanto, é mais comum o uso da expressão recursos humanos para fazer referência ao departamento responsável pela identificação, seleção, contratação, integração, avaliação e demissão de funcionários, bem como pelo treinamento, recrutamento e aperfeiçoamento desses profissionais. As organizações, nos últimos anos, se deram conta da importância das pessoas nas empresas e a maneira como são gerenciadas. No passado, o foco estava na tecnologia do produto ou processo, nos mercados protegidos ou regulamentados, no acesso a recursos financeiros e economias de escala. Uma das finalidades do departamento de recursos humanos de uma empresa é alinhar a gestão de pessoas às estratégias da organização, uma vez que seus profissionais são os responsáveis por sua implementação. Isso significa que, se a organização adotar uma política de favorecimento às inovações em seu planejamento estratégico, por meio da criatividade, gestão do conhecimento e sustentabilidade, o seu departamento de recursos humanos deverá estar alinhado a tais finalidades. Dessa forma, o departamentode recursos humanos desempenha o papel de “selecionar, formar, integrar e aperfeiçoar um grupo de pessoas para trabalhar numa empresa como uma verdadeira equipe, com objetivos definidos, fazendo com que cada membro conheça seu papel, coopere com os demais e vista a camisa para produzir resultados” (Pessole, 2014, p. 36). Para implementar as estratégias da organização, é essencial que a gestão de recursos humanos trabalhe com base em conceitos como comunicação organizacional, liderança, trabalho em equipe, negociação e cultura organizacional. Desse modo, o trabalho de organização em equipes, assim como a escolha, o apoio e a orientação dos gerentes de departamento são algumas das atribuições da gestão de recursos humanos. 3 Além da avaliação, a capacitação dos trabalhadores e o estímulo à geração de ideias devem ser planejados em conjunto com as áreas de negócios da organização, visando desenvolver as competências necessárias. A seguir, conforme descrito por Braga (2016), são apresentados alguns exemplos efetivos de como inovar nos recursos humanos. • Utilizar redes sociais: alguns gestores têm usado as redes sociais para a seleção de candidatos a uma vaga na empresa. Segundo a revista Você RH, 60% da geração “milênio” – jovens de até 30 anos – usam as redes sociais para conseguir um emprego. • Implantar tecnologias: conforme divulgado na revista Exame, o grupo Votorantim, por meio da tecnologia, tem conseguido mapear comunidades online que possuem os valores exigidos pela empresa, e afirmou ainda que esse método é muito mais eficiente que outras formas de seleção. Outra inovação fantástica são as plataformas de recrutamento e seleção que, entre outras funcionalidades, ajudam o gestor de RH a encontrar um profissional ideal para o cargo desejado, além de monitorar o desempenho dos colaboradores para futuras promoções. • Conceder vantagens aos colaboradores: algumas empresas inovam na forma como se relacionam com seus colaboradores, concedendo benefícios como: horário de trabalho flexível, dia de folga para os colaboradores mais produtivos e até sala de entretenimento para a descontração. Outras instituições preferem premiar os colaboradores visando promover um ambiente interno feliz. • Cuidar dos profissionais: os recursos humanos podem inovar na maneira em que cuidam dos trabalhadores. A revista Exame entrevistou a consultora britânica Carolyn Taylor, que citou a empresa Natura como referência em zelar pelo bem-estar de seus colaboradores. A Natura consegue ter colaboradores mais engajados com a cultura organizacional e, como resultado, eles são mais felizes e produtivos. E como é muito bem conhecido, o “bom exemplo vem de cima”. Cabe aos líderes da organização e à área de RH estimular essa cultura e transmitir os valores para que todos os gestores repliquem em suas áreas. • Melhore a comunicação interna: todo profissional de recursos humanos sabe da importância da comunicação interna para a saúde da empresa. Por isso, algumas organizações decidiram implantar um portal corporativo para 4 aproximar o relacionamento entre seus colaboradores. Por meio desse portal, a equipe pode dar sugestões acerca dos processos da empresa. Além disso, todos os envolvidos em um projeto ficam a par do andamento das tarefas e dialogam sobre os meios para atingir as metas estabelecidas. Apesar de serem muito úteis para a comunicação interna, as ferramentas virtuais não devem extinguir a comunicação pessoal entre os colaboradores, uma vez que a interação face a face é elemento fundamental para a integração da equipe interna. Sendo assim, é sábio equilibrar o contato físico com o virtual. TEMA 2 – A RELAÇÃO ENTRE GESTÃO DA INOVAÇÃO E ÁREAS ORGANIZACIONAIS: INOVAÇÃO E MARKETING Marketing pode ser descrito como a disciplina que estuda o comportamento dos mercados e consumidores e analisa a gestão comercial das organizações a fim de reter e fidelizar clientes por meio da satisfação de suas necessidades. Assim, o conceito de marketing descreve uma filosofia de gestão que está orientada no sentido de identificar e satisfazer necessidades e desejos dos clientes, caracterizando uma forma de se obter benefícios a longo prazo. Nesse sentido, as ações de marketing tem como objetivo alcançar um nível de faturamento satisfatório, e, para isso, devem contemplar a identificação, seleção e avaliação das mais diversas oportunidades de negócio, bem como o delineamento das estratégias para alcançar os resultados. Estudiosos de marketing defendem que podem haver diferentes orientações: • Produto: quando a empresa monopoliza a atenção do mercado e é limitada a melhorar o processo de produção; • Vendas: quando há um esforço para se aumentar a participação da empresa no mercado; • Mercado: refere-se a situações em que o produto precisa ser adaptado ao gosto do consumidor. As rápidas mudanças no ambiente e os hábitos e exigências dos consumidores em relação aos produtos mudaram as características do marketing, haja vista o mercado estar atualmente voltado para a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos e serviços, ou seja, para a inovação. 5 Nos últimos anos, algumas tendências de inovação no marketing estão tomando conta das organizações. Podemos citar, como exemplo, as descritas por Digital Marketing (2017): • Gerações X, Y, W, Z e alpha: a geração X são os filhos dos baby- boomers, fruto da explosão populacional com a volta dos soldados da Segunda Guerra Mundial. Essas crianças, nascidas entre 1945 e meados dos anos 1960, eram mais conservadoras e objetivas, e menos consumistas. Geração X: nascidos entre 1960 e 1980, se “rebelaram” contra os pais “certinhos” e buscavam liberdade e direitos civis. Geração Y: nascidos entre 1980 e 2000, também chamados millennials, estão constantemente conectados, têm pressa em realizar o que querem, sendo muito competitivos. Mas, por outro lado, consideram que devemos trabalhar para viver e não viver para trabalhar. Geração W: uma variante dos Y, nascidos no mesmo período, são pessoas mais emotivas e menos competitivas, igualmente conectadas, mas sabendo transitar por todos os círculos de conhecimento, evitando se isolar no mundo virtual, sem deixar de admirá-lo. Geração Z: a geração de 1990 a 2010, que já encontrou o mundo virtual pronto para ser curtido em sua totalidade! Por isso, o encaram com muito mais naturalidade e muitos os consideram os verdadeiros “nativos digitais”, isto é, pessoas que não precisaram se adaptar a um mundo conectado 24 horas por dia. Geração alpha: nascidos depois de 2010 e totalmente imersos no ambiente digital, sem preconceitos ou receios ainda enfrentados por algumas das gerações anteriores. Acredita-se que vão se desenvolver muito mais independentes. Têm a característica de serem muito mais observadores e estão expostos a mais estímulos positivos e educativos que anteriormente. Baseando-se nesses perfis, é possível pensar em inovações de marketing. Que produto ou serviço você poderia desenvolver para as pessoas da geração Z, por exemplo? Uma empresa na Índia resolveu transformá-las em gênios e criou um serviço que promete “promover o desenvolvimento super sensorial nas crianças”. • Produtos premium: inovação de marketing que consiste em oferecer produtos ou serviços de alta qualidade gratuitamente por curto período de tempo ou conseguir dar acesso a eles para pessoas que normalmente não teriam. Um exemplo é usar o serviço premium do LinkedIn por um mês e depois, se gostar, assinar o serviço. O Skype é outro que usa uma tática parecida: para usar Skype como telefone, ligando para outros números, é preciso pagar. Mesmo representando apenas 12% de seus usuários, estes valores são suficientes para que os outros usem o Skype de graça para conversar com outros computadores, sem usar números de telefone. • Coolpon: este trocadilho unifica o velhoconceito do cupom de descontos com uma ação legal, divertida, bacana (cool em inglês). Um exemplo dessa inovação de marketing foi uma ação da Ford chamada “Orgulho Ford”, em que os proprietários desse veículo poderiam trocar gratuitamente o logo da marca, o emblema metálico que fica fixado no carro, por um novo, em melhor estado, se quisesse. Empresas que notificam ofertas em tempo real para seu celular quando você passa perto do ponto de venda com preço especial também são um exemplo da tendência coolpon. • Varejo virtual reativando o ponto de venda real: esta inovação de marketing mostra que o varejo real, com lojas físicas, não vai morrer, mas será potencializado pelo varejo virtual. Algumas lojas já usam dispositivos que dão alertas aos clientes, dentro das lojas, sobre os produtos que eles pesquisaram recentemente na internet. Fazem isso ao verificar seus dados no celular e, em alguns casos, mostram até vídeos e vitrines virtuais indicando a oferta antes mesmo que você peça a um atendente. Um dos dispositivos eletrônicos que permite isso são os chamados ESC – Eletronic Shelf Labels (mais simples) e os NFC – Near Field Communication. 6 Como podemos ver, esses são alguns exemplos de uma infinidade de inovações que o mercado cria a cada dia para conseguir entreter seus consumidores, diante das inúmeras inovações tecnológicas que surgem num curto período de tempo. TEMA 3 – A RELAÇÃO ENTRE GESTÃO DA INOVAÇÃO E ÁREAS ORGANIZACIONAIS: INOVAÇÃO E GESTÃO DA QUALIDADE Dentro do campo da administração, qualidade é um termo em evolução e com múltiplas definições. Na década de 1950, qualidade dizia respeito ao padrão de produção em massa. Nos anos 1960, tal conceito passou a ser relacionado às possibilidades de adequação ao uso levando-se em consideração a necessidade do consumidor. Diante da crise do petróleo na década de 1970, a qualidade passou a estar relacionada à adequação aos custos. Já a partir dos anos 1980, ela volta a se adequar à necessidade latente do mercado. A partir do final da década de 1990, a qualidade se relaciona com a adequação à cultura organizacional e ao ambiente global e social. Nesse sentido, de acordo com Toledo (1994, p.107), existem sete dimensões que servem como parâmetro de qualidade, são eles: • Qualidade de características funcionais intrínsecas ao produto: tem como parâmetro o desempenho do produto e a facilidade de uso. • Qualidade de características funcionais temporais: engloba parâmetros relacionados a tempo, por exemplo, durabilidade, disponibilidade, confiabilidade. • Qualidade de conformação: o parâmetro é a conformidade do produto. • Qualidade dos serviços associados ao produto: tem como parâmetros a facilidade de instalação e as relativas orientações, assim como a efetividade da assistência técnica. • Qualidade de interface do produto com o meio: a interface com o consumidor/usuário e o impacto ambiental são os parâmetros. • Qualidade de características subjetivas associadas ao produto: os parâmetros são a aparência estética, o reconhecimento da marca e a qualidade percebida relacionada. 7 • Qualidade referente ao custo do ciclo de vida do produto para o usuário: nesse caso, o parâmetro é o resultado da soma dos custos de aquisição, de operação, de remuneração e de descarte do produto. Essas sete dimensões compõem um todo sistêmico que se pode denominar qualidade total do produto, que representa a qualidade experimentada e avaliada pelo usuário, objetiva e subjetivamente, na etapa de utilização do produto e em todas as suas dimensões, sejam intrínsecas ou associadas a ele. Os diferenciais nos produtos por meio das inovações integradas podem ocorrer em qualquer uma dessas dimensões, diante das exigências e necessidades dos ambientes internos e externos. Os fatores externos seriam as concorrências, inovações tecnológicas, leis e o próprio mercado como um todo. Já os fatores internos dizem respeito às estratégias empresariais, tecnologias adotadas, ao mercado e também ao produto. Esse processo de alteração de produtos tem como meta garantir a qualidade, a qual é interligada a quatro etapas (Toledo, 1994, p. 107): • Identificação da necessidade ou oportunidade da mudança; • Concepção da mudança a ser desenvolvida; • Desenvolvimento da mudança; • Implantação da mudança. Um exemplo de inovação e gestão na qualidade empresarial são as normatizações, nos anos 1990, por meio das ISSO 9000. Essas normas tinham como função cooperar com as organizações na gestão da qualidade e competitividade. Ao utilizar esse sistema, as empresas facilitam o processo de entrada e saída de produtos inovadores, e oportunizam uma série de outras inovações relacionadas aos oito princípios da qualidade (Clube Sebrae, 2017): • Foco no cliente; • Liderança; • Abordagem de processo; • Abordagem sistêmica de gestão; • Envolvimento de pessoas; • Melhoria contínua; • Abordagem factual para tomada de decisões; • Benefícios mútuos nas relações com os fornecedores. 8 Assim, inovação vai muito além de adquirir novas tecnologias. A inovação organizacional deve incluir estratégias inovadoras que permeiam toda a organização e auxiliam nos objetivos e metas traçados pela gestão. Neste contexto, alguns enfoques evidenciam o contexto inovador nas organizações (Clube Sebrae, 2017): • Comunicação eficaz em toda a organização; • Conhecimento do contexto (mercado, concorrência, organização); • Envolvimento da alta diretoria; • Orientação a riscos; • Valorização e desenvolvimento do capital intelectual; • Envolvimento e desenvolvimento de parcerias com clientes e fornecedores; • Valorização e desenvolvimento do capital intelectual; • Existência de estruturas, procedimentos e métodos sistemáticos conducentes para criação contínua de conhecimento; • Gestão e liderança eficaz dos recursos humanos. TEMA 4 – A RELAÇÃO ENTRE GESTÃO DA INOVAÇÃO E ÁREAS ORGANIZACIONAIS: INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE Se inovar tornou-se algo imprescindível para as organizações, fazê-lo com responsabilidade socioambiental é uma necessidade global. Num contexto em que produtos e serviços são oferecidos mundialmente e tecnologias estão sendo aperfeiçoadas rapidamente, surge a preocupação com as consequências sociais e ambientais da chamada sociedade de consumo. O termo sustentabilidade ambiental diz respeito aos meios organizados de gestão a partir das ações humanas, em diferentes escalas, que devem compreender a harmonia entre os diversos ambientes e ecossistemas. A resiliência de um ecossistema consiste em sua capacidade de tolerar uma atividade que o perturba sem perder irreversivelmente seu equilíbrio. Já capital natural define os recursos não renováveis, que, conjuntamente com a capacidade sistêmica do ambiente de reproduzir recursos renováveis, devem ser levados em conta como um todo. Já sustentabilidade social diz respeito às condições sistêmicas por meio das quais, em nível mundial ou regional, as ações da sociedade não contrariam 9 os valores da justiça e da responsabilidade pelo futuro, tendo como base a distribuição atual e a disponibilidade futura do espaço ambiental. Transformar uma organização inovadora em sustentável ou vice-versa pode ser um grande desafio, posto que inovação e sustentabilidade nem sempre andam juntas. Nesse sentido, de acordo com Barboza (2015), “uma organização inovadora sustentável não é que introduz novidades de qualquer tipo, mas novidades que atendam as múltiplas dimensões da sustentabilidade em bases sistemáticas e colham resultados positivos para ela, para a sociedade e o meio ambiente.” Nesse sentido, a organização é inovadora e sustentável quando se preocupa com as seguintes dimensões da sustentabilidade: • Social: impactos sociais (desemprego, pobreza, exclusão etc.); • Ambiental: impactos ambientais (emissão de poluentes, usoindiscriminado de recursos naturais etc.); • Econômica: obtenção de lucro e vantagens competitivas. Assim, percebe-se diversas formas de inovar de forma sustentável nas organizações. Empresas que optam por essa filosofia de inovação conseguem alcançar resultados e consumidores diferenciados, elevando o nível de competitividade e criando barreiras, muitas vezes, difíceis de serem imitadas. Para facilitar o processo de desenvolvimento sustentável voltado para a inovação, é possível seguir algumas tendências, por exemplo: reutilização de materiais; cooperação com comunidades carentes e que possam ser integradas às atividades empresariais; troca entre países e empresas parceiras com objetivo em comum; alterações nas abordagem e metodologias de produção, optando por métodos econômicos e com uso de materiais que geram baixa impacto ambiental. De acordo com Somers e Szekely (2017): A inovação para a sustentabilidade é mais dinâmica do que a inovação em si, pois exige bastante flexibilidade das pessoas para dar conta dos inúmeros fatores chave em jogo. Por exemplo, precisam pensar em longo prazo: basta lembrar a história dos CFCs – considerados uma solução tecnológica altamente inovadora quando introduzida na década de 1920, cientistas descobriram, décadas depois, que prejudicam a camada de ozônio. O problema foi resolvido ao substituí-los por HFCs – que, agora sabemos, são gases de efeito estufa que também têm efeito poderoso sobre o clima terrestre. A empresa do amanhã terá de pensar muito à frente quando tratar de assuntos no curto prazo, e, cada vez mais, soluções futuras terão de sustentar os três pilares do desenvolvimento sustentável: ambiental, social e econômico. 10 A abordagem que envolve inovação e sustentabilidade tem sofrido modificações nos últimos anos, sendo considerada um conceito popular, e não mais uma forma de fazer negócio. . As empresas que já estão implementando a inovação estratégica para a sustentabilidade relatam que há uma série de elementos que podem ajudar a melhorar esta área (Somers; Szekely, 2017): • Valorizar o papel da liderança, junto com prioridades claras e uma estratégia corporativa alinhada; • Certificar-se que o caso de negócio para a inovação é apoiado por uma análise detalhada e planejamento de possíveis cenários; • Focar nas necessidades do cliente, aproveitar a tecnologia aplicada e compartilhar conhecimento por meio de uma abordagem transparente para pesquisa e desenvolvimento dentro da empresa; • Certificar-se que a estratégia e o desempenho da sustentabilidade estejam incorporados nos principais processos da empresa, em que possam impulsionar a mudança, e não ser apenas algo aglomerado; • Engajar os funcionários por meio de uma estratégia clara, treinamento em toda a empresa e comunicação eficaz das melhores práticas; • Apoiar o desenvolvimento e a implementação da estratégia ao incentivar uma cultura empresarial inovadora e interativa. TEMA 5 – IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL Compreendendo a ideia inicial de que as inovações são responsáveis para o desenvolvimento das organizações, bem como dos países, é interessante que essas instituições façam isso de forma sustentável, agregando valor aos seus produtos e serviços, o que a tornará diferenciada no ambiente mercadológico. Diante desse contexto, o Instituto Inovação (2017) aponta que: inovar é ainda mais importante em mercados comoditizados, ou seja, com alto nível de competição e cujos produtos são praticamente equivalente entre os ofertantes. Assim, organizações inovadoras obtêm uma colocação vantajosa sobre as demais, independentemente do tipo de inovação praticada (incremental ou radical, de produto, processo ou modelo de negócio). Dessa forma, entende-se que inovar gera conhecimento para as organizações, de maneira que este conhecimento fica disponível aos atores internos e externos às empresas. Além disso, esse conhecimento difundido fora 11 da organização acaba por gerar um desenvolvimento das comunidades e nações como um todo. Para auxiliar os processos de inovação nas organizações, uma forma vem ganhando força no ambiente organizacional, o open innovation, no qual as empresas buscam fora da organização conceitos e novas maneira de desenvolver a inovação. Esse método de inovação é normalmente representado pelo momento onde a organização percebe que não é eficiente nem eficaz utilizar apenas em seus próprios conhecimentos, fontes e recursos internos (como sua própria equipe de P&D, por exemplo) para inovar no mercado, seja nos produtos, serviços, modelos de negócios, processos internos, logística, vendas, dentre outros. (Silva, 2018) Grandes empresas, mesmo que tenham espaços mais estruturados para o desenvolvimento de inovações, também buscam por fontes externas, com o objetivo de impulsionar aquilo que vem sendo desenvolvido. Dessa forma, a inovação aberta pode ser classificada em dois grupos principais: inovação aberta de entrada e inovação aberta de saída. Inovação de entrada diz respeito às fontes de conhecimento necessárias para o desenvolvimento de um produto, processo ou serviço inovador. Essas informações são coletadas e refinadas para serem utilizadas em seus processos. Já a inovação de saída é o processo inverso, no qual a captura ocorre no ambiente organizacional, por meio das atividades já realizadas e a experiência adquirida. Agora que abordamos o conceito de inovação aberta e suas duas principais categorizações, cinco exemplos, citados pela DisruptBox (2018), apontam como isso ocorre na prática. • Liga ventures: aceleradora de startups brasileira totalmente dedicada a conectar startups e grandes empresas, utilizando práticas de inovação aberta e corporate ventures. O método é basicamente composto em identificar as melhores startups, aproximá-las de corporações consolidadas e alavancá-las com um programa de aceleração personalizado para solucionar os desafios das grandes empresas. Todos ganham nesse processo: as startups conseguem maior alcance no mercado, mais recursos, aumentam sua rede de contatos e dão um passo importante em ganho de escala. As grandes corporações conseguem inovar mais rápido, 12 gerar novas oportunidades de negócio e aprender com a cultura empreendedora da startup. • Cubo: é um dos mais relevantes centros de empreendedorismo tecnológico de toda a América Latina. Essa iniciativa foi fundada pelo famoso Itaú Unibanco, em parceria com a Redpoint Eventures. O objetivo com essa iniciativa é conectar em um espaço unificado agentes do ecossistema de inovação como: empreendedores, grandes empresas, investidores, universidades, incubadoras e aceleradoras. • Oxigênio aceleradora: A Oxigênio é uma aceleradora de startups voltada a identificar startups com soluções inovadoras e que tenham sinergia com a Porto Seguro e seus setores de atuação. As startups, por sua vez, recebem investimento direto de pelo menos US$ 50.000,00 e ainda são aceleradas por três meses no Centro de Inovação da Oxigênio, que fica em São Paulo, e mais três meses na sede da Plug and Play, no Vale do Silício. • Fast Dating: é um método simples e eficiente para que a Tecnisa possa conhecer ótimas startups no mercado e descobrir grandes oportunidades no setor. São rápidos encontros periódicos entre startups e tomadores de decisão internos. Ao todo, são disponibilizados 10 minutos de apresentação para cada startup, incluindo um tempo para tirar dúvidas. • Wayra: aceleradora de startup corporativa de iniciativa do Telefónica Open Future, programa de inovação aberta e apoio ao empreendedorismo do Grupo Telefónica (no Brasil representado pela Vivo). A aceleradora investe em startups que atuam nos segmentos: internet das coisas; soluções digitais em telecomunicações; Fintech; Agtech; SaaS (Software as a Service); Big Data; machine learning; inteligência artificial;E2E (end to end); Edutech; segurança; mídia; comunicação; games. Nesse sentido, inovar dentro das organizações é fundamental para que a proposta de valor aos clientes se mantenha válida e ativa independentemente das mudanças que ocorrem no mercado. Mas a forma e a estratégia podem ser decisivas para o sucesso ou fracasso dos projetos. 13 REFERÊNCIAS ANDREASSI, T. Gestão da inovação tecnológica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. CANONGIA, C. et al. Foresight, inteligência competitiva e gestão do conhecimento: instrumentos para a gestão da inovação. Gestão & Produção, v. 11, n. 2, 2004. CARVALHO, H. G. de; REIS, D. R. dos; CAVALCANTE, M. B. Gestão da inovação. Curitiba: Aymará, 2011. DIGITAL MARKETING. Inovação de marketing: 4 tendências que você precisa conhecer. 2017. Disponível em: <http://www.cldigital.com.br/blog/inovacao-de- marketing-4-tendencias-que-voce-precisa-conhecer-2/>. Acesso em: 23 out. 2018. REIAS, D. R. dos. Gestão da inovação tecnológica. Barueri, SP: Manole, 2008. FIGUEIREDO, P., N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2009. POSSOLI, G. E. Gestão da inovação e do conhecimento. Curitiba: InterSaberes, 2012. SCHERER, F. O.; CARLOMAGNO, M. S. Gestão da inovação na prática: como aplicar conceitos e ferramentas para alavancar a inovação. São Paulo: Atlas, 2000. SCHMITT, V. G. H.; MORETTO NETO, L. Gestão da inovação. Florianópolis, 2008. TAKAHASHI, S.; TAKAHASHI, V. P. Gestão de inovação de produtos: estratégia, processo, organização e conhecimento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação. São Paulo: Bookman, 2015. TIGRE, P. B. Gestão da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 2006. _____. Gestão da inovação: a economia da tecnologia no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. AULA 3 GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO Prof. Afonso Ricardo Paloma Vicente 2 TEMA 1 – COMPREENDENDO O CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL PARA INOVAÇÃO Para que possamos entender a abrangência, as implicações e a importância do conhecimento organizacional em instituições de diversas naturezas, é necessário diferenciar duas concepções, que envolvem o conhecimento organizacional como objeto e como processo. Na prática, tal distinção é fundamental para aferir a natureza das ações e o tratamento dado ao conhecimento nas empresas, que findam pendendo para uma das duas concepções. “Ao examinarmos a literatura, observamos que uma parte dos estudos trata o conhecimento como um objeto a ser produzido, adquirido, usufruído, ou seja, como se fosse um equipamento ou uma ferramenta de produção” (Possoli, 2012, p. 94). Ao analisarmos o conhecimento organizacional como processo, a gestão do conhecimento pode ser entendida como um conjunto de ações que sistematizam uma base de saberes, em operação por iniciativas de aprendizagem organizacional. Dessa forma, a construção do conhecimento organizacional abarca inputs científicos, assim como envolve construções sociais. Assim, por intermédio desses inputs científicos e de construções sociais, acontecem a disseminação e a aplicação do conhecimento apropriado pela organização. A função fundamental da construção do conhecimento no processo de gestão deve conter a interface entre o paradigma científico e o paradigma social para a efetivação desse processo. Por meio de diversos estudos organizacionais, é possível perceber que as organizações são incapazes de funcionar com base na informação e no conhecimento, pois falham em tentar descobrir informações e conhecimentos de que necessitam, além de não saberem administrá-los. O que acontece é que as organizações afirmam praticar a gestão do conhecimento, quando, na verdade, praticam a gestão estratégica da informação. Isso se deve ao fato de existir uma controvérsia acerca da terminologia da área de gestão do conhecimento. Nonaka e Takeuchi (2013), em seus estudos sobre conhecimento organizacional, descrevem que a criação desse conhecimento ocorre em uma espécie de espiral, de modo que seu início está nos sujeitos e percorre um caminho até chegar nos grupos que integram as suas principais comunidades de 3 interação. Assim, essas comunidades acabam por extrapolar as diversas fronteiras organizacionais, até atingir nível superior da interorganização. Segundo os autores, nesse modelo, o conhecimento é convertido de quatro formas: 1. Socialização: processo de conversão de novos conhecimentos tácitos por meio de experiências compartilhadas em interações sociais e técnicas. 2. Externalização: processo-chave na criação do conhecimento, à medida que converte conhecimento tácito em explícito. 3. Combinação: conversão do conhecimento tácito em explícito para a sistematização de conceitos com um sistema de conceitos, gerando novos significados. 4. Internalização: processo de conversão do conhecimento explícito em tácito, expandindo o escopo da experiência por meio do aprender fazendo. Nota-se que o processo de aquisição do conhecimento é longo e sistemático, e, por conta disso, necessita de uma boa gestão para que informações desnecessárias não venham a atrapalhar os processos organizacionais. É fundamental filtrar as informações para que o conhecimento seja realmente necessário para a organização. Vejamos, na sessão seguinte, como fazer uma boa gestão do conhecimento que reflita em um alto desempenho organizacional. TEMA 2 – GESTÃO DO CONHECIMENTO PARA A INOVAÇÃO Para conceituar a gestão do conhecimento e suas inter-relações com a inovação, é necessária uma reflexão sobre os conceitos de dados, informação e conhecimento, já que o conhecimento deriva da informação, assim como esta, dos dados. No meio empresarial, o conhecimento é descrito como a combinação de dados e informações carregados de expertise, habilidades e experiências para a valorização dos ativos de apoio ao processo decisório. Assim, conhecimento envolve um conjunto de elementos que o tornam algo complexo. Para isso, sugere-se que o seu processo de desenvolvimento seja organizado, fazendo com que os resultados sejam de mais fácil compreensão. De forma genérica, dado é um tipo de informação em seu estágio inicial, bruto, algo exato e que não traz um significado em seu primeiro momento, mas que, após análise, é fundamental para a construção da informação e do 4 conhecimento. A informação, por outro lado, pode ser entendida como uma mensagem que contém dados significativos, a qual pode ser audível ou visível, em que há um emissor e um receptor. Dessa maneira, informações podem, potencialmente, gerar conhecimento. É imprescindível, portanto, que as organizações adotem alguns conceitos básicos e determinantes, por mais que eles sejam complexos. Exemplos disso são justamente os conceitos de dado, informação e conhecimento: Dado: engloba simples observações sobre o estado do mundo; Informação: dado dotado de relevância e propósito; Conhecimento: informação valiosa da mente humana; engloba reflexão, síntese e contexto. Por mais que essa discussão de cunho filosófico seja interessante e necessária, as organizações e demais estudos não chegaram a elaborar quaisquer distinções amplamente aceitas e válidas sobre dado, informação e conhecimento. Tais questões têm sido debatidas sem consenso desde a época dos filósofos pré-socráticos até os dias atuais. No entanto, é imprescindível que a discussão terminológica se transforme em uma discussão conceitual, que resulte em um entendimento amplo sobre a área, suas fronteiras e sua abrangência. Conhecimento pode ser classificado de inúmeras maneiras. No âmbito empresarial, podemos destacar dois tipos: 1. Conhecimento explícito: conhecimento transmitido, codificado, sistematizado e formalizado mais facilmente entre os sujeitos, já que podeser verbalizado, descrito, especificado em manuais ou em expressões. 2. Conhecimento tácito: conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e que envolve fatores intangíveis, como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas, sistemas de valor, intuições, emoções, habilidades (Nonaka; Takeuchi, 2013). É considerado uma fonte importante de competitividade entre as organizações. A criação do conhecimento no contexto da empresa é resultado da interação e da complementariedade entre os conhecimentos tácito e explícito. Levando em consideração essa interação, a gestão do conhecimento pode ser definida como “processo sistemático de identificação, criação, renovação e a aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma organização” (Corsatto; Hoffman, 2011, p. 24). 5 Gerir o conhecimento é administrar os ativos do conhecimento das organizações, ou seja, a gestão do conhecimento permite à organização saber o que ela sabe. Podemos ainda definir gestão do conhecimento como a gestão de atividades e processos, de modo a elevar os níveis de competitividade organizacional, levando ao desenvolvimento de novos conhecimentos essenciais para a criatividade desenvolvida pelas pessoas nas empresas. A gestão do conhecimento pode indicar a forma como os processos desenvolvidos pelas organizações ocorrem, bem como auxiliar no processo de tomada de decisão, gerando, assim, uma prática positiva que agrega valor a todos os âmbitos organizacionais. Para que isso ocorra, são necessárias práticas de gestão que criem um ambiente para o desenvolvimento de processos criativos e favoreçam o aprendizado individual e coletivo. É por isso que a gestão do conhecimento é um processo corporativo, focado na estratégia empresarial e que envolve a gestão das competências, a gestão do capital intelectual, a aprendizagem organizacional, a inteligência empresarial e a educação corporativa. Vamos compreender cada um desses itens separadamente: Gestão das competências: compreendida como uma estratégia de gestão de pessoas baseada em competências essenciais para o exercício das atividades requeridas. Capital intelectual: é o somatório do conhecimento de todos os agentes envolvidos em uma organização, de forma a proporcionar vantagens competitivas, criado pelas inter-relações das seguintes categorias: capital humano, capital estrutural, capital de clientes, capital organizacional, capital de inovação e capital de processo. Aprendizagem organizacional: capacidade dos indivíduos de uma organização de absorver e utilizar conhecimentos disponíveis no ambiente organizacional. Inteligência empresarial: modificação de informações importantes em conhecimento estratégico, preciso e útil para a empresa. Consiste na criação de informações do ambiente externo das organizações para permitir que a empresa se antecipe em relação às tendências do mercado. Educação corporativa: processos de ensino constante desenvolvidos pelas grandes corporações com o objetivo de atualização de seu pessoal. 6 Como visto, muitas são as ações que uma empresa inovadora deve tomar, e criar um ambiente propício para que esse processo ocorra é fundamental. Vamos compreender como o conhecimento e a aprendizagem gerados na organização corroboram a inovação das empresas. TEMA 3 – CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Buscar inovação contínua, por intermédio do desenvolvimento de novos processos e produtos, da implementação de tecnologias avançadas, da gestão da qualidade, da diferenciação perante a concorrência, do posicionamento da marca, entre outras formas, é uma atitude que visa garantir altos níveis de eficácia, competitividade e produtividade nas organizações. Tal ação implica a constante criação de conhecimentos e a habilitação tecnológica, que são efetivadas por meio de práticas de aprendizagem organizacional. Essa aprendizagem, por sua vez, é entendida como o processo mais significativo para a inovação tecnológica. A aprendizagem organizacional pode ser compreendida como uma maneira de mudar as ações já estabelecidas pela empresa, processo este resultante da prática ou experiência anterior. Aprender no ambiente organizacional significa compreender os eventos e princípios, aprimorar-se com as situações passadas e discuti-las, visando guiar as ações futuras, em um processo constante de ação-reflexão. A aprendizagem organizacional tem a inovação como principal objetivo, na qual as pessoas aprimoram continuamente suas capacidades, trabalhando em conjunto na busca por soluções dos mais diversos níveis de complexidade. Nesse contexto, organizações que aprendem ou organizações de aprendizagem são aquelas que praticam a aprendizagem organizacional. Elas desenvolvem a capacidade de construir, obter e repassar conhecimento, além de alterar comportamentos. Organizações de aprendizagem desenvolvem habilidades para agir em cinco atividades básicas: 1. resolução sistemática de problemas; 2. experimentação de novas abordagens; 3. aprendizagem com base na própria experiência e história passada; 4. aprendizagem por meio de experiências e melhores práticas de outros; e 5. transferência do conhecimento de forma rápida e eficiente por toda a organização (Possoli, 2012). 7 Além disso, essas empresas têm dentro de si o embrião da aprendizagem e da inovação. Nelas: i. aprende-se coletivamente; ii. lapida-se e extrai-se o que há de mais valioso em cada indivíduo; iii. compartilham-se conhecimentos e experiências com todo o grupo. Isso faz com que as organizações que aprendem sejam reflexivas e questionadoras, proporcionando um terreno fértil para a inovação. Uma organização de aprendizagem apresenta critérios especiais no que diz respeito à equipe de trabalho. Ela é formada por colaboradores que buscam e constroem soluções para problemas, anseiam por novidades e desejam integrar setores da empresa em que trabalham (Possoli, 2012). Esses atributos são essenciais para a inovação, e se materializam em cinco disciplinas (domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizado em equipe e pensamento sistêmico), que constituem um aporte de práticas de aprendizagem. Essas práticas, por sua vez, possibilitam as mudanças pessoais e a aquisição de novas habilidades e conhecimentos, assim como novas vivências e estágios de consciência. Organizações estruturadas para a aprendizagem adotam práticas de capacitação e aprimoramento de seus colaboradores e, dessa forma, elevam sua capacidade de inovar e mudar. Essas empresas não são criadas rapidamente, afinal, é o pensamento sistêmico que irá organizar o processo de inovação, sendo necessário ressaltar como processos essenciais para a aprendizagem organizacional a transmissão e a propagação de saberes, informação e habilidades. De acordo com o Manual de Oslo (OECD, 2015), devemos considerar os aspectos humanos, culturais e sociais como decisivos para que a inovação aconteça eficientemente nas organizações. Isso porque tais aspectos interferem expressivamente no aprendizado organizacional, no que diz respeito à fluidez da comunicação interna, às interações informais no ambiente de trabalho, à colaboração e aos meios de transferência de habilidades e informações, e, assim, a aptidão para inovar está sujeita às estratégias de aprendizagem, que se concretizam por meio da troca e da construção de conhecimento dentro e fora da empresa. Diante desse contexto, deve-se considerar a atualidade e relevância dos modelos organizacionais em rede como mais apropriado [sic] para uma aprendizagem integrada, que visa à construção de conhecimento e inovações. As estruturas em rede são mecanismos indispensáveis para: (1) a otimização de recursos organizacionais; (2) o incremento do 8 potencial tecnológico na criação de inovação; e (3) o aumento da capacitaçãode incorporação de know-how. (Van Aken; Weggeman, 2000) Dessa maneira, a estrutura organizacional como ambiente em rede, em diversos graus e aplicações, auxilia na flexibilização das relações interpessoais, potencializa a partilha e a construção coletiva de saberes entre pessoas e empresas, favorecendo, dessa maneira, a geração de conhecimento e inovações tecnológicas. TEMA 4 – GESTÃO DE FONTES EXTERNAS DE INFORMAÇÃO PARA INOVAÇÃO O desenvolvimento de uma estratégia de inovação deve compreender os objetivos que se pretende alcançar, quais são os recursos disponíveis para esses processos e o resultado do produto em si. Para isso, é imprescindível que a organização saiba quais são suas fontes de recursos, internos e externos, pois é essa busca que delineará as estratégias de decisão para que os objetivos sejam alcançados. Sugere-se, então, uma gestão integrada ao processo de inovação para que haja melhores chances de alcançar o sucesso e o desenvolvimento no nível esperado, resultado este de uma empresa inovadora e com um modelo de negócio com poder de alcançar novos mercados. Com o passar dos anos, a busca por tecnologias externas está aumentando, principalmente nas empresas com um setor dedicado a pesquisa e desenvolvimento, o que leva as organizações a criarem uma rede de contatos e relacionamento com essas fontes de tecnologias. No entanto, por trás desse processo deve haver uma estratégia bem-delineada para saber exatamente quais as melhores fontes dessas tecnologias e como elas podem, de fato, colaborar para o desenvolvimento organizacional. Na comunidade acadêmica, há muitos trabalhos que tiveram como objetivos as principais fontes de informação e como esta está correlacionada à inovação organizacional. Um exemplo apresentado por Gomes e Kruglianskas (2009) é o setor de telecomunicações, em que foi possível identificar que as fontes mais comumente utilizadas pelas empresas são os departamentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), as universidades, os institutos de pesquisa, bem como a 9 participação em conferências, simpósios, feiras e exposições, fornecedores, entre outros. No entanto, cada um desses elementos apresenta níveis de utilização, sendo os departamentos de P&D os mais utilizados pelas organizações, enquanto os fornecedores são os menos utilizados. Outro exemplo citado pelos autores diz respeito às fontes externas ligadas ao mercado. Esse exemplo cita as atividades de inovação das empresas inglesas, as quais definem as relações com seus fornecedores de acordo com a sua necessidade de inovação, ou seja, escolhem parceiros estratégicos que permitem um processo de inovação mais assertivo. Além desse contato com fornecedores estratégicos, empresas inovadoras optam por buscar informações relevantes a partir da aquisição de tecnologias, ou seja, troca de informações sobre como um produto ou serviço funciona e como esses detalhes podem auxiliar no desenvolvimento organizacional. Isso indica que somente olhar para outras empresas ou parceiros para saber como inovar não é suficiente. É preciso estruturar uma equipe de gestão com uma percepção acurada dos mais simples até os mais complexos artefatos para compreender, em sua totalidade, como funcionam o processo de inovação adotado por essas empresas e as tecnologias utilizadas. Compreende-se, então, que nem toda informação é relevante ou necessária para os objetivos impostos pela empresa que busca esse conhecimento. No entanto, essa capacidade de a empresa expandir o seu escopo de conhecimento a partir de suas fontes e parceiros está diretamente ligada ao seu poder de relacionamento, seja este formal ou informal. Essa relação determina as ações que a empresa deve adotar a partir de práticas exercidas por outras empresas. Porém, poucas são as empresas que têm a capacidade de fazer uma análise de todos os processos adotados e de como aplicá-los no seu contexto atual. De acordo com Gomes e Kruglianskas (2009, p. 175), “dentre as principais vantagens no uso de fontes externas, destacam-se: a criação de novas oportunidades, resultados mais rápidos e eficazes, diminuição dos custos da inovação, maior facilidade na definição de prioridades e estímulo à inovação interna”. Dessa forma, podemos compreender melhor a importância da gestão das fontes de informação externas à organização. Ter boas fontes não é suficiente 10 para inovar: é preciso saber gerir as informações e analisar como elas podem servir como recurso fundamental para o desenvolvimento da empresa. TEMA 5 – AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO INOVADOR Como vimos anteriormente, fontes externas de inovação são fundamentais para o desenvolvimento da empresa que tem a inovação como elemento principal nas suas ações do cotidiano. No entanto, alguns indicadores desenvolvidos por estudiosos da área apontam qual elemento é, de fato, relevante no processo de gestão da inovação. O primeiro ponto a destacar é a disponibilidade das informações, já que esse critério é fundamental para que a empresa possa acessá-las sem grandes problemas. Essa facilidade em adquirir informações faz com que a empresa reduza seus custos da obtenção de recursos, principalmente se ela está inserida em um ambiente de alta tecnologia, no qual estas mudam constantemente. Assim, cria-se um valor a partir do momento em que a empresa acessa informações de forma rápida e contínua. Outro critério diz respeito à capacitação tecnológica da empresa, que pode ser medida pela infraestrutura, à capacitação dos recursos humanos envolvidos em P&D, às fontes externas de aquisição de tecnologia e aos resultados alcançados (Gomes; Kruglianskas, 2009). Um terceiro ponto trata das dificuldades para a análise do comportamento inovador das empresas, a qual consiste na disponibilidade de dados, que podemos entender a partir dos seguintes critérios: a importância dos resultados da inovação em termos de faturamento, os efeitos da inovação no modo de a empresa conduzir o negócio e a proteção dos resultados da inovação (patentes e métodos de proteção similares). O faturamento não é por si só uma medida de sucesso na empresa. Um alto valor de faturamento não implica necessariamente alto desempenho. Porém, não obstante, constitui-se em uma mensuração de resultado. A medida de faturamento pode ser analisada em relação à atividade de inovação das empresas. Os principais efeitos da atividade de inovação, segundo os dados obtidos na pesquisa, são relacionados ao produto. A proporção de empresas com atividade de inovação que consideraram que sua atividade de inovação teve significativo impacto foi mais alta entre as empresas do setor industrial. Os dados evidenciaram, também, alta proporção de empresas com atividade de inovação que solicitaram o registro de pelo menos uma patente para proteger invenções ou inovações. (Gomes; Kruglianskas, 2009, p. 177) Nesse sentido, é uma falácia associar tecnologia e competitividade, pois, para existir uma empresa competitiva por meio da tecnologia, é fundamental, entre esses processos, a inovação, que transforma o potencial da empresa em bens 11 econômicos. Segundo Gomes e Kruglianskas (2009, p. 177), “esse processo fundamental consiste em dominar tecnologias adaptadas, para apoiar a capacidade de inovar e realizar a inovação para construir a competitividade por meio de aplicações que correspondem às necessidades da clientela”. Dessa forma, para organizações inovadoras, é fundamental haver uma orientação estratégica que utilize de suas ações para inovação nas mais diversas áreas das empresas. Havendo essa orientação estratégica, as empresas certamente irão contribuir de forma mais assertiva para os objetivos que estão ancorados na competitividade. 12 REFERÊNCIAS ANDREASSI, T. Gestão da inovação tecnológica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. CANONGIA, C. et al. Foresight,
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