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2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO Coordenação de Ensino a Distância Conteudista Washington Rodrigues Lima – Cel BMDF Jodir Cezar Menezes – TC BMDF Reformulador Pedro Paulo Porto de Sampaio – MAJ PMPR Revisão Pedagógica Ardmon dos Santos Pereira Karla Karoline Pereira Marcio Raphael Nascimento Maia SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Programação e Edição Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos Designer Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Designer Instrucional Anne Caroline Bogarin Manzolli 3 Sumário APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 5 OBJETIVOS DO CURSO............................................................................................ 7 ESTRUTURA DO CURSO .......................................................................................... 8 Módulo 1 - Evolução histórica e fundamentação teórica do planejamento estratégico ................................................................................................................. 9 Apresentação ........................................................................................................... 9 Objetivos do Módulo ................................................................................................ 9 Estrutura do Módulo ................................................................................................ 9 Aula 1 - Razão para se planejar: a importância do pensamento estratégico ......... 11 Aula 2 – Evolução histórica das teorias administrativas e o futuro da Administração ............................................................................................................................... 16 2.1. Administração do Futuro: O que temos pela frente... .................................. 28 Aula 3 – Conceituação de planejamento ............................................................... 32 Aula 4 – Evolução histórica e conceituação de estratégia ..................................... 36 Aula 5 – Conceituação de planejamento estratégico ............................................. 42 Módulo 2 - Metodologias de diagnóstico prévio ao planejamento estratégico . 50 Apresentação ......................................................................................................... 50 Objetivos do Módulo .............................................................................................. 50 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 50 Aula 1 – Estabelecimento da diretriz estratégica e da missão organizacional ....... 51 Aula 2 – Estabelecimento da visão de futuro da organização ............................... 60 Aula 3 – Estabelecimento dos objetivos, indicadores e metas da organização ..... 71 Aula 4 – Análise do ambiente ................................................................................ 80 4.1. Análise do Ambiente Interno (Fatores Intrínsecos – Pontos Fortes e Pontos Fracos) ............................................................................................................... 85 4.2. Análise do Ambiente Externo (Fatores Intrínsecos – Oportunidades e Ameaças) ........................................................................................................... 87 4 4.3. Matriz SWOT ............................................................................................... 90 4.4. Análise PEST .............................................................................................. 95 Módulo 3 – Gestão Estratégica ............................................................................ 102 Apresentação ....................................................................................................... 102 Objetivos do Módulo ............................................................................................ 103 Estrutura do Módulo ............................................................................................ 103 Aula 1 – Formulação da estratégia ...................................................................... 104 1.1 A Formulação da Estratégia no Ministério da Justiça e Segurança Pública 106 1.2 Como formular a estratégia na sua organização: ....................................... 111 Aula 2 – Implementação da estratégia ................................................................ 124 2.1 Alinhamento Organizacional: ..................................................................... 126 2.2 Surgimento da estratégia: .......................................................................... 129 Aula 3 – Execução, avaliação do desempenho e controle da estratégia ............. 132 3.1 Execução da estratégia .............................................................................. 132 3.2 Desafios da estratégia e medidas de enfrentamento: ................................ 137 3.3 Avaliação do desempenho organizacional ................................................. 138 3.4 Balanced Scorecard (BSC) ........................................................................ 139 3.5 Avaliação de impacto em políticas públicas ............................................... 143 3.6 Controle da estratégia ................................................................................ 144 5 APRESENTAÇÃO “Não há nada melhor do que uma boa teoria para resolver um problema prático.” É a partir dessa concepção de Kurt Lewin (CODA et al, 2009; TROMPENAARS; COEBERGH, 2014), que começamos nosso Curso de Planejamento Estratégico e Gestão em Segurança Pública. Atualmente, muito se fala de planejamento, de estratégia, planejamento estratégico e de outros termos como cadeia de valor, carteira de projetos, matriz SWOT, balanced scorecard, entre outros. Por vezes esses conceitos nos parecem muitos vagos e de pouca aplicação prática, gerando assim certa desconfiança quanto à sua real efetividade. Mas afinal, o que significa estratégia, planejamento estratégico, e quais são suas finalidades? De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2020b, online): Estratégia é o conjunto de grandes escolhas que orienta o gerenciamento do presente e a construção do futuro num horizonte de longo prazo e sob condições de incerteza. Por sua vez, "o Planejamento Estratégico estabelece com clareza para toda a organização quais são os objetivos a serem atingidos e como serão alcançados". Nessa perspectiva, sem uma definição de quais são os objetivos de uma organização – pública ou privada – os esforços de seus integrantes acabam por se dissipar, não gerando os produtos e serviços ou as políticas públicas esperadas. 6 Quando pensamos na elaboração do planejamento estratégico no setor público, não podemos nos desatentar acerca da relação íntima entre planejamento e orçamento público, em especial de seus instrumentos básicos de programação (BRASIL, 2020a, online; PARANÁ, 2020, online): • o Plano Plurianual (PPA); • a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e • a Lei Orçamentária Anual (LOA). Será pelo PPA que o poder público estabelecerá suas prioridades de médio e longo prazos, que materializarão políticas públicas na forma de programas e projetos, mediante a definição de diretrizes, objetivos, indicadores e metas. Assim, o planejamento estratégico não se esgota em metodologias de planejamento, em sua maioria oriundas do ambiente corporativo, mas exige conhecimentos multidisciplinares voltados à área de políticas públicas, orçamento público e projetos. Dessa constatação inicialpercebe-se que os problemas da violência, da criminalidade, dos sinistros e desastres, aliados à realidade orçamentária e financeira do Estado – a partir do planejamento – devem se traduzir em estímulo à capacidade de gestão dos órgãos que integram o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Nesse contexto se reforça a necessidade da adoção de posturas proativas e orientadas para o futuro a partir de sólidos fundamentos técnicos, ou seja, “de uma boa teoria". Segundo Born (2014, p. 69), “poucos assuntos dentro da Administração são tão práticos como o planejamento estratégico.” Por outro lado, aponta o autor, “poucos temas dependem tanto de teoria quanto o planejamento estratégico”. Diante disso, nossa proposta é oferecer a você ferramentas capazes de promover uma verdadeira reflexão crítica, voltada à compreensão do planejamento estratégico, em todas as suas nuances, e da incorporação da ideia de pensamento estratégico. Uma organização que não pensa estrategicamente está tendente a ser levada pelos acontecimentos, uma vez que, conforme aponta Maximiano (2018), o futuro é 7 inevitável e incerto, no entanto, poderá ser antevisto, sendo que as escolhas voltadas a lidar com esse futuro são decisões de planejamento. Pensamento estratégico Diz-se haver três tipos de organizações: as que fazem acontecer, as que apenas observam acontecer e as que se surpreendem com o que aconteceu. Uma diferença primordial: Visão de futuro! Assim, a partir de um referencial teórico e de casos práticos, estimamos que ao final do curso você tenha conhecimentos adequados para a aplicação de metodologias de planejamento em seu ambiente de trabalho e, inclusive, tenha condições de colaborar com a construção de planos ou de outras ações estratégicas de sua organização. Portanto, leia com interesse os conteúdos dispostos, pesquise, participe por meio das atividades de aprendizagem criadas e interaja com os demais profissionais que atuam na área de segurança pública e defesa social. Sêneca: "não há ventos favoráveis para barcos sem rumo". OBJETIVOS DO CURSO Ao fim do estudo desse curso, você será capaz de: Ampliar conhecimentos para: • Compreender os motivos para se realizar planejamentos; • Analisar a evolução histórica das teorias administrativas e de concepção estratégica; 8 • Conceituar e definir os termos utilizados nos processos de planejamento, estratégia e planejamento estratégico; • Identificar a correlação entre planejamento estratégico governamental e orçamento público; e • Compreender a importância na elaboração de projetos na formulação de políticas públicas de segurança. Exercitar/desenvolver habilidades para: • Aplicar metodologias de planejamento em atividades profissionais do cotidiano; • Elaborar um plano estratégico; e • Interpretar um plano estratégico. Fortalecer atitudes para: • Reconhecer a importância do planejamento estratégico para uma organização; • Incorporar práticas de gestão e de planejamento em seu ambiente de trabalho; • Integrar uma equipe de desenvolvimento de um planejamento estratégico. ESTRUTURA DO CURSO Este curso compreende os seguintes módulos: Módulo 1 – Evolução histórica e fundamentação teórica do planejamento estratégico. Módulo 2 – Metodologias de diagnóstico prévio ao planejamento estratégico. Módulo 3 – Gestão Estratégica. 9 Módulo 1 - Evolução histórica e fundamentação teórica do planejamento estratégico Apresentação Caro Aluno, Neste primeiro módulo serão descritos e discutidos quais as razões para se planejar e a importância do pensamento estratégico, teorias administrativas e de concepção de estratégia e planejamento, estratégia e planejamento estratégico. Objetivos do Módulo A partir dos conteúdos trabalhados neste módulo, você deverá ser capaz de: • Compreender os motivos para se realizar planejamentos; • Analisar a evolução histórica das teorias administrativas e de concepção estratégica; • Conceituar e definir os termos utilizados nos processos de planejamento, estratégia e planejamento estratégico; e • Reconhecer a importância do planejamento estratégico para uma organização. Estrutura do Módulo O conteúdo deste módulo está dividido em 5 aulas: Aula 1 – Razão para se planejar: a importância do pensamento estratégico. Aula 2 – Evolução histórica das teorias administrativas e o futuro da Administração. 10 Aula 3 – Conceituação de planejamento. Aula 4 – Evolução histórica e conceituação de estratégia. Aula 5 – Conceituação de planejamento estratégico. 11 Aula 1 - Razão para se planejar: a importância do pensamento estratégico Começando a discussão Na apresentação do curso, ao falarmos de pensamento estratégico, fizemos uma primeira provocação, estabelecendo uma diferença entre organizações quanto ao seu posicionamento em relação ao futuro. Como dissemos, o destino de uma organização está ligado às suas escolhas: Figura 1: Escolhas de uma organização Fonte: SCD/EaD/Segen. Nesse sentido, não como há iniciar nosso estudo sem antes tratarmos do pensamento estratégico, que se caracteriza como a arte de criar estratégias com efetividade, dominando o presente e conquistando o futuro (REZENDE, 2018). Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010): “o pensamento estratégico está relacionado a intenções empreendedoras e criativas que observam a organização e seu ambiente, mediante a adoção de comportamentos que pensam em seu futuro.” Chiavenato e Sapiro (2020) retratam o pensamento estratégico – ou intenção estratégica – como uma parte não-analítica da atuação do estrategista, recorte de um trabalho complexo e sofisticado que exige imaginação, discernimento, intuição e impulso para empreender. O pensamento estratégico possibilita a identificação e a localização de 12 oportunidades para o estabelecimento de vantagens competitivas, além de ameaças e riscos, a fim de serem evitados. Nessa perspectiva, nenhum planejamento será sustentável se os gestores de uma organização não incorporarem a ideia do pensamento estratégico, observando as eventuais implicações de suas ações, cujos efeitos alcançam todos os níveis do ambiente que os cercam (OLIVEIRA, 2020). Assim, conforme nos apresenta a literatura, a incorporação do pensamento estratégico é uma mudança cultural e uma condição necessária para se empreender, observando as oportunidades e ameaças, por meio de um processo contínuo e dinâmico, mas que também deve ser flexível. Sem pensamento estratégico, as organizações terão seu futuro pautado pelo acaso, pela sorte, cujas consequências não raras vezes são imprevisíveis. Para refletirmos sobre a importância do planejamento, é fundamental estudar Peter Ferdinand Drucker (1909-2005), reconhecido como o pai da administração moderna. SAIBA MAIS! Em mais de trinta livros e inúmeras produções acadêmicas, o economista austríaco deixou um legado para gerações de estudiosos do tema ao tratar das pessoas, como o principal ativo das organizações; da liderança eficaz, como fator de transformação; e do estímulo ao autogerenciamento, como forma de potencialização de pontos fortes e desenvolvimento de pontos fracos, características essas que definirão o grau de contribuição dos indivíduos para as organizações. Drucker (1986, p. 91) afirmava que "O planejamento não diz respeito às decisões futuras, mas às implicações futuras das decisões presentes". Peter Drucker (1986) relata que as decisões existem apenas no presente, e complementa ao afirmar que a questão central não é o que a sua organização deve fazer amanhã, mas o que deve fazer hoje, para estar preparado para um futuro incerto. "A questão não é o que acontecerá no futuro. 13 A questão é: "Que futuro temos de construir em nosso pensamento e ação presentes, que intervalosde tempo temos que considerar e como usamos essas informações para tomar uma decisão racional agora?" (DRUKER, 1986, p. 91, tradução nossa). Dessa forma, não há como “acontecer algo” sem uma decisão/ação; ou seja, as organizações que “fazem acontecer” se posicionam proativamente, se antecipando em relação ao futuro, por meio de decisões/ações presentes. Ao se posicionar em relação ao futuro, o gestor se projeta mentalmente à frente de seu tempo, o que lhe permite estabelecer um plano de objetivos direcionados a tal posição, atuando assim, desde então, conforme esse plano. Palavra do Especialista! Ao adotar o pensamento estratégico de forma sistemática, esses procedimentos passam a ser constantemente monitorados e avaliados, podendo ser, quando necessário, procedidas as correções de rumo, até que se atinjam os objetivos propostos. Em uma organização, esse processo tem que vencer a inércia típica da resistência a mudanças, sendo necessário o esforço constante de todos os membros e, principalmente, de sua alta administração. No entanto, para que se rompam culturas arraigadas, que veem com ceticismo mudanças organizacionais, a compreensão do pensamento estratégico deve ser inerente não só às estruturas de cúpula, mas aos demais níveis da estrutura, os quais a literatura denomina de burocratas de nível médio (LOTTA; PIRES; OLIVEIRA, 2015) e de burocratas de nível de rua (LIPSKY, 2019), elos essenciais de uma organização, que serão abordados no decorrer deste curso. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) alertam que o pensamento estratégico não pode ser igualado ao planejamento estratégico. Para os autores, o planejamento é a operacionalização do pensamento. 14 Diante disso, qualquer organização que atue sem planejamento pode obter resultados aleatórios, por vezes inesperados e até indesejáveis, tais como: • Aumento de despesas ou falta de recursos para a manutenção de serviços essenciais; • Ausência de objetivos bem definidos, podendo novamente acarretar desperdício de recursos financeiros e dispersão potencial da força de trabalho; • Dilatação de prazos de conclusão de projetos e descumprimento de contratos, gerando multas e desgastes diversos; e • Consequentes perdas de credibilidade e de legitimidade. No caso específico das organizações de segurança pública e defesa social, para que haja resultados significativos e efetivos nos enfrentamentos diários contra os sinistros e desastres, contra o crime e a violência, é necessário se posicionar em direção ao futuro desejado muito bem fundamentado em análises e construções de cenários, estabelecer um criterioso planejamento orientado a essa visão, promover as ações planejadas de forma disciplinada e, em conjunto, manter um sistemático monitoramento e ajuste de todo o processo. Figura 2: Reflexão Fonte: SCD/EaD/Segen. 15 IMPORTANTE! Além disso, procure responder às seguintes questões: • Você percebe claramente em sua corporação o movimento em direção à capacitação dos recursos humanos, para que se capitalize de mentes competentes, reflexivas e inovadoras? • Você percebe a valorização dos profissionais que tenham esse perfil de competência, reflexão e inovação? • Você vê o direcionamento do foco das atividades e recursos da Corporação para a satisfação das necessidades do seu cliente maior, o cidadão? • Você entende que sua corporação procura seriamente aperfeiçoar seus processos administrativos e operacionais de forma sistemática e fundamentada nas melhores práticas gerenciais que existam no momento para organizações afins? • Você acredita que sua corporação esteja promovendo o aperfeiçoamento e a adequação dos diversos sistemas corporativos por meio da tecnologia da informação? • Você percebe a mudança em direção a maior rapidez e qualidade na entrega dos produtos e/ou serviços de sua corporação ao cidadão? Diante desse quadro de rápidas e profundas transformações, reflita sobre o quanto sua Corporação está se preparando para se adaptar na tentativa de acompanhá-las e para se posicionar na visualização de um futuro que começa agora mesmo. 16 Aula 2 – Evolução histórica das teorias administrativas e o futuro da Administração As teorias administrativas tiveram suas primeiras influências advindas das instituições militares. Chiavenato (2020b) aponta que na Antiguidade e na Idade Média os exércitos utilizavam a chamada organização linear, concebida a partir de princípios como a unidade de comando, em que um subordinado só poderia ter um superior, e da escala hierárquica, caracterizada pela relação entre diferentes escalões com distintos níveis de autoridade e de responsabilidade. SAIBA MAIS! Já no século XVIII, na Prússia, com o Imperador Frederico II, "O Grande", surge o modelo de organização linha-staff, com o objetivo de aumentar a eficiência dos exércitos. O modelo se caracterizava pela formação do chamado Estado-Maior (staff), dedicado a assessorar o comando (linha) militar. Segundo nos informa Chiavenato (2020b), os oficiais de Estado-Maior (staff) eram responsáveis pelo planejamento, e os oficiais de linha eram responsáveis pela execução das operações. Havia um intercâmbio entre as funções de linha e de staff, para que os oficiais tivessem a necessária vivência entre as funções de comando operacional e de assessoramento. Chiavenato (2020b, p. 22) destaca que além dessas contribuições, as organizações militares deixaram o legado do princípio da direção. Esse princípio consistia na ideia de que dentro da cadeia hierárquica cada indivíduo deveria saber perfeitamente, a partir de orientações claras do superior hierárquico, o que era esperado dele e aquilo que deveria fazer, uma vez que "a obediência cega jamais leva a uma execução inteligente". Adicionalmente, no século XVIII, com as longas guerras, e de alcance continental, foram exigidos novos princípios de organização como da centralização de comando, e da descentralização de execução das operações, diante da necessidade de se delegar autoridade nos variados níveis hierárquicos (CHIAVENATO, 2020b). 17 Observe que esses princípios oriundos das organizações militares influenciaram as teorias administrativas, adaptando-se ao ambiente corporativo principalmente a partir da década de 50, sendo seguidos até os dias atuais pelos setores público e privado (CAETANO; SAMPAIO, 2016). A estratégia militar foi deslocada para as organizações, a fim de prover perspectivas de abrangência e de horizonte temporal típicas das operações militares e que se faziam necessárias aos cenários cada vez mais instáveis. Os antecedentes do planejamento estratégico surgiram na Segunda Guerra Mundial. Com início na década de 1950, esse processo se consolidou, adaptando-se ao ambiente corporativo, na década de 70. A administração em si se consolidou como ciência, potencializando-se seus estudos após o lançamento das ideias de Peter Drucker, em 1954. Entretanto, desde o início do século XX vários ícones do pensamento contribuíram para o seu desenvolvimento e também das organizações. Nesse início formou-se a “abordagem clássica” do pensamento administrativo: “o bom administrador sabe planejar, organizar e coordenar racionalmente seus passos, e é capaz de comandar e controlar as atividades de seus subordinados.” Veja cada uma das três teorias que formaram a Escola Clássica, a seguir: Figura 3: Teorias administrativas Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 18 Vamos estudá-las: Teoria da Administração Científica O início do século XX foi um período marcado por transformações tecnológicas, econômicas e sociais. SAIBA MAIS! A partir das obras Shop Management [Administração de operações de fábrica] (1903), e The Principles of Scientific Management [Princípios da Administração Científica] (1911) FrederickWinslow Taylor foi o responsável pela introdução do método científico, que se baseava na divisão, especialização e controle da produção (MAXIMIANO, 2018; CHIAVENATO, 2020b). Taylor estudou os tempos e os movimentos dos trabalhadores em busca da otimização da produção. Dividiu o trabalho em tarefas (menor unidade de trabalho), visando a maior produtividade, enquanto buscou a sua execução com o menor esforço e fadiga possível. Definiu ainda a importância da supervisão, da padronização e das adequadas condições de trabalho, essenciais para melhor rendimento da produção. Desse período surge o conceito de homem econômico, consistente na ideia de que "as pessoas buscam maximizar seus interesses materiais e são motivadas unicamente por esse tipo de incentivo" (SOBRAL; PECI, 2014, p. 318), ou seja, "toda pessoa é concebida como influenciada exclusivamente por recompensas salariais, econômicas e materiais” (CHIAVENATO, 2020b, p. 37). A literatura de Taylor dá ênfase às tarefas de produção e racionalização do trabalho no nível operacional, com foco especial à atuação da fábrica (CHIAVENATO, 2020b; RIBEIRO, 2008). Teoria Clássica A Teoria Clássica estabeleceu os princípios gerais da administração, contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento do conhecimento administrativo moderno. De acordo com Chiavenato (2020b), a Teoria Clássica tem o caráter prescritivo e normativo, uma vez que prescreve elementos da administração, por meio de funções do administrador, ao mesmo tempo em que normatiza os princípios gerais da sua atuação. 19 SAIBA MAIS! Henry Fayol foi um dos principais pensadores da Teoria Clássica. A contribuição de Fayol foi a sistematização de vários estudos de sua época, voltando-se a limitar e esclarecer as funções administrativas. Fayol enfatizou a importância da competência administrativa no desempenho organizacional, além de separar o processo complexo de gestão em áreas interdependentes de responsabilidades ou de funções, distinguindo a administração das demais funções como de finanças, produção e de distribuição (MAXIMIANO, 2018). A abordagem clássica baseou-se no trabalho de engenheiros, matemáticos e gestores, período em que o pensamento administrativo passou a ser influenciado pelas ciências exatas. Conceitos mecanizados e rígidos tornaram-se a base das pesquisas, apoiadas na ideia da eficiência na produção, ou seja, na melhor relação custo/benefício e na melhor utilização dos recursos para a produção. Todas as partes envolvidas na produção como departamentos, seções, ou mesmo os indivíduos executores de tarefas deveriam garantir o máximo de eficiência no processo (CHIAVENATO, 2020b; RIBEIRO, 2008). Quando a sociedade começou a apoiar-se nas organizações, e essas começaram a se tornar cada vez mais complexas, o foco na eficiência se mostrou capaz de produzir um efeito real positivo no desenvolvimento e crescimento das nações. Entretanto, também surgiram críticas ao mecanicismo e à motivação exploratória do trabalhador, como se pode observar no filme de Charles Chaplin, “Tempos Modernos” (1936). Nesse contexto, a Teoria Clássica também é conhecida como Teoria da Máquina, uma vez que considera a organização a exemplo do funcionamento mecânico de uma máquina. Teoria da Burocracia Na década de 1940, a partir de críticas à Teoria Clássica, estudiosos buscaram elementos na obra do sociólogo alemão Max Weber – já falecido nesse período. Enquanto em vida, Weber estudou a organização formal e a burocracia racional e estabeleceu regras sistemáticas que ofereceriam estrutura, estabilidade e ordem às organizações, vistas como cada vez mais complexas. A Teoria da Burocracia se vale de uma série de características (WEBER, 1982; CHIAVENATO, 2020b, p. 99-102): 20 • Caráter legal das normas e regulamentos; • Caráter formal das comunicações; • Caráter racional e divisão do trabalho; • Impessoalidade nas relações; • Hierarquia da autoridade; • Rotinas e procedimentos padronizados; • Competência técnica e meritocracia; • Especialização na Administração; • Profissionalização dos participantes; • Completa previsibilidade de funcionamento. Como se observou, o modelo de administração burocrática foi um dos marcos do século XX, ainda fazendo parte do cotidiano de diversas organizações da atualidade. Weber identificou a burocracia como um mecanismo de aperfeiçoamento das Corporações, diante de sua previsibilidade de funcionamento, conferindo assim maior eficiência às suas ações. No entanto, Merton, ao analisar os elementos propostos por Weber, destacou algumas possíveis disfuncionalidades do modelo burocrático, dentre as quais (CHIAVENATO, 2020b): 21 Figura 4: Possíveis disfuncionalidades no modelo burocrático de Weber Fonte: SCD/EaD/Segen. Demais teorias da administração Junto com as críticas, outras correntes de pensamento surgiram, conforme é possível observar a seguir: Figura 5: Teorias administrativas Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Veja mais sobre essas teorias: Teorias Transitivas Em meio à Teoria Clássica e à Teoria das Relações Humanas surgiram estudiosos que, no auge do taylorismo, realizaram trabalhos de reformulação dos fundamentos da teoria administrativa, oferecendo uma transição entre o classicismo e o humanismo na administração (CHIAVENATO, 2020b). 22 Mary Parker Follet foi um dos representantes dessa corrente, tendo estudado o comportamento humano na administração. Follet defendeu a dinâmica de grupo e da liderança integrada, com base nas forças psicológicas e ambientais que influenciam na motivação e no desempenho dos indivíduos. Conforme Sobral e Peci (2014, p. 68), Follet observou "[…] as relações interpessoais dos trabalhadores e analisou seus padrões de comportamento, partindo do pressuposto de que ninguém poderia se realizar como pessoa se não fizesse parte de um grupo". Chester Barnard, inspirado em Follett, estudou as funções do executivo e analisou a estrutura e a aplicação de conceitos sociológicos na administração. Foi um dos pioneiros gestores a enxergar a rede de comunicação informal e propôs um conjunto de soluções para maximizar o desempenho da comunicação, introduzindo a teoria da cooperação na organização (CHIAVENATO, 2020b; SOBRAL; PECI, 2014). Teoria das Relações Humanas De acordo com Chiavenato (2020b), a Teoria das Relações Humanas, também chamada de Escola Humanística da Administração, ou ainda "experimentos de Hawthorne" teve origem nos Estados Unidos, como um movimento de oposição à Teoria Clássica (SOBRAL; PECI, 2014). Nessa teoria, George Elton Mayo pesquisou, em uma das fábricas da Western Electric Company, localizada em Hawthorne, Chicago, o comportamento dos trabalhadores. A pesquisa consistia na verificação dos efeitos da iluminação no local de trabalho, bem como questões relativas à fadiga, acidentes de trabalho, rotatividade de pessoal (turnover), e suas repercussões em termos de produtividade (CHIAVENATO, 2020b; SOBRAL, PECI, 2014). O pesquisador concluiu que a integração social determinava o nível de produção, de forma que, o administrador poderia obter melhores resultados ao compreender a natureza das relações humanas e o papel da organização, a fim de potencializar tais inter-relações (MAXIMIANO, 2018). Mayo estabeleceu que o trabalhador teria satisfação pelo seu desempenho pessoal e pelas suas relações pessoais e sociais, revelando a importância das emoções e das relações humanas no contexto administrativo. Contrapondo-se ao “homem econômico”, surge o 23 conceito de “homem social”, em que os trabalhadores seriam movidos por fatores de ordem social e psicológica, principalmente pela necessidade de reconhecimento, de aprovação social e de participação nas atividades dos grupos sociais (SOBRAL; PECI, 2014). Como crítica à teoria,surge a possibilidade de sutis estratégias de manipulação de grupos, os quais poderiam ser induzidos, por meio de estilos de liderança, a fim de obter deles lealdade, com o foco na obtenção de altos padrões de desempenho e elevado compromisso com a organização. A organização seria um conjunto de grupos informais que nem sempre coincidiriam com a estrutura formal (RIBEIRO, 2008). Na perspectiva da substituição do “homem econômico” pelo “homem social”, a teoria investiga novas explicações para a motivação no trabalho por meio de estudos de Kurt Lewin. Da mesma forma, outros temas como liderança, comunicação, comportamento dos grupos e mudanças começam a ser investigados (CHIAVENATO, 2020b; SOBRAL; PECI, 2014). O pensamento administrativo se torna dialético: de um lado, engenheiros e matemáticos mantinham o foco na eficiência da produção; de outro, psicólogos e sociólogos focavam na satisfação e motivação dos recursos humanos. Essa dicotomia persiste até hoje; entretanto, a integração começou a ser buscada com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando as organizações apresentaram crescimento surpreendente, especialmente pelo movimento de reconstrução do parque industrial europeu, e demandaram teorias mais eficientes e pragmáticas. Houve o florescimento de escolas de administração na América e na Europa e de diversos estudos integradores. No decorrer no caminho, surgem ainda as Teorias Quantitativas, Teoria Comportamental e a Teoria Neoclássica, vamos estudá-las a seguir: Teoria Quantitativa Segundo Sobral e Peci (2014), essa corrente introduziu complexos modelos matemáticos, os quais passaram a ser utilizados para analisar problemas das organizações. As técnicas matemáticas e estatísticas foram largamente utilizadas na Segunda Guerra Mundial, tanto na perspectiva das operações militares quanto das 24 empresas que se situaram na Europa durante o conflito e lá se estabeleceram após o encerramento da Guerra, numa clara estratégia de expansão de mercados. Herbert Simon, um dos principais nomes desse movimento, estudou os processos decisórios e de resolução de problemas com abordagens da administração, da psicologia, da economia, da filosofia e da ciência da computação. Simon usou o computador intensivamente para a simulação do pensamento humano, por meio de sistemas de inteligência artificial. Para Simon (1947) a própria organização seria um complexo sistema de comunicações e de inter- relações existentes em um grupamento humano e o processamento de informações pertinentes requereria tais sistemas computacionais, a fim de que houvesse eficiência no trabalho (SIMON, 1998). Igor Ansoff, conhecido como o pai da gestão estratégica, pesquisou intensamente três áreas específicas: turbulência ambiental, paradigma do sucesso estratégico contingente – o qual foi validado em diversas dissertações de doutoramento – e tecnologia de diagnóstico estratégico. Von Neumann desenvolveu, junto com Oskar Morgenstern, a Teoria dos Jogos. John Forbes Nash Jr. a expandiu para o mundo das ciências sociais, da economia para a sociologia, para a antropologia e para a biologia – o que há de mais moderno nessas e em outras disciplinas deriva da aplicação da Teoria dos Jogos, ou seja, é a matemática explicando o comportamento animal, humano e social. Principais pensadores: Herbert Simon, Igor Ansoff, Johann von Neumann e John Nash Jr. Teoria Comportamental A Teoria Comportamental, também chamada de Teoria Behaviorista, trouxe uma nova abordagem à teoria administrativa, voltada à abordagem de ciências do comportamento. A teoria abandona aspectos prescritivos e normativos da Teoria Clássica, das Relações Humanas e da Burocracia. Nessa nova perspectiva, se dá ênfase às pessoas, mediante posições explicativas e descritivas, no contexto da organização (CHIAVENATO, 2020b). Desse período, podemos citar a atuação de Herbert Simon, que escreve a obra Comportamento Administrativo (1947), em que refuta a abordagem clássica e 25 aceita com restrições a abordagem das relações humanas, marcando o início da chamada “Teoria das Decisões” (CHIAVENATO, 2020b). Herzberg propôs modelo motivacional, denominado Teoria dos Dois Fatores, que aborda fatores extrínsecos (contextuais, ambientais, que evitariam a insatisfação, mas não trariam a satisfação) e intrínsecos (conteúdo do cargo, natureza da ocupação, podem provocar tanto satisfação quanto insatisfação) e a prática do “enriquecimento do trabalho” (job enrichment) (RIBEIRO, 2008). McGregor elaborou dois estilos administrativos opostos e antagônicos: a Teoria X (mecanicista e pragmática) e a Teoria Y (comportamentalista) (CHIAVENATO, 2020b). SAIBA MAIS! Um dos principais pensadores dessa corrente foi Abraham Maslow, responsável pela elaboração da denominada Hierarquia de Necessidades. Essa chamada Teoria da Motivação define que as necessidades humanas estão estruturadas em níveis, segundo uma hierarquia de importância e influência, a partir de estímulos internos (SOBRAL; PECI, 2014). Apesar de Maslow nunca ter realizado uma representação gráfica dessa teoria (TROMPENAARS; COEBERGH, 2014), modernamente ela é materializada por uma pirâmide, que contém cinco etapas progressivas, em que estão na base as necessidades mais elementares, de ordem fisiológica, e, no topo, as necessidades mais elevadas como as de autorrealização. Maslow concebe assim a hierarquia de necessidades (CHIAVENATO, 2020b, RIBEIRO, 2008): 26 Figura 6: Teoria da Motivação de Maslow Fonte: SCD/EaD/Segen. Principais pensadores: Herbert Simon, Kurt Lewin, Abraham Maslow, Frederick Herzberg, Douglas McGregor e David McClelland. Teoria Neoclássica A Teoria Neoclássica surge na década de 1950, com foco voltado à adoção de novas técnicas administrativas para as organizações. Apesar de se revelar um movimento heterogêneo, como pontos centrais tem a ênfase na prática da Administração, a reafirmação relativa dos postulados clássicos, a ênfase nos princípios da Administração, a ênfase nos resultados e objetivo, além do ecletismo (pois agregou contribuições das teorias preexistentes) (RIBEIRO, 2008). A corrente também é chamada de Escola Operacional, Escola do Processo Administrativo ou Abordagem Universalista da Administração, tendo Peter Ferdinand Drucker como um de seus principais pensadores (RIBEIRO, 2008). Em 1954, Ducker lança a obra “A prática da Administração de Empresas”, em que une as principais ideias das correntes anteriores e elimina distorções desses 27 modelos. Esse livro inaugura a administração como verdadeira disciplina acadêmica, humana e vinculada ao seu tempo. Daí em diante, a habilidade dos administradores e a qualidade da administração exercida caminharam lado a lado com o processo de desenvolvimento das organizações. Drucker é considerado “pai da gestão” (Management) e “descobridor” da corporação como coração da sociedade industrial e do Management como vital para a sobrevivência e longevidade daquela. Decretava a morte do mito da gestão “intuitiva” e do gestor “inato”: “A ignorância da gestão é uma das fraquezas mais sérias da sociedade industrial” (DRUCKER, 1972). Segundo Drucker: “o administrador é um elemento dinâmico em uma empresa e um transformador de recursos em resultados; sua presença atuante é a única capaz de prover a uma organização vantagens competitivas no mercado” (SOBRAL; PECI, 2014, p. 47). A partir de Drucker, a ciência administrativa ganhou abrangência temática multidisciplinar, além das abordagens estruturais, produtivas ou relacionais. A organização está inserida em circunstâncias ambientais extremamente variáveis e incertas que exigem capacidade de mudanças aceleradas, de forma que, atualmente, não existe uma única maneira de administrar e organizar. Dessa nova realidade surgiram as visões sistêmicase contingenciais das organizações, conforme é possível observar a seguir. Principais pensadores: Peter Drucker, Willian Newman, Ernest Dale, Ralph C Davis, Louis Allen e Harold Koontz. 28 Demais Teorias da Administração Figura 7: Demais Teorias da Administração Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Amplie seu conhecimento, acesse o material complementar dos títulos abaixo e saiba um pouco mais sobre as teorias acimas citadas. • Teoria Geral dos Sistemas; • Teoria do Desenvolvimento Organizacional; • Teoria da Contingência. 2.1. Administração do Futuro: O que temos pela frente... Recentes estudos indicam que a teoria administrativa passa por uma profunda revisão, acompanhando assim as transformações em curso na sociedade. Relevantes críticas aos modelos anteriores têm impulsionado a renovação de conceitos, a partir do que Chiavenato (2020a) coloca como tendências emergentes para a próxima década. Chiavenato (2020a) aponta que o período atual da Administração sofre influência das teorias do caos (WEINBERGER, 2019) e da complexidade da teoria administrativa, além dos avanços da tecnologia e da inovação. 29 Nesse contexto, desde o ano de 2011 vivemos a chamada 4ª Revolução Industrial ou Revolução 4.0, em que ocorre um reposicionamento industrial em face dos avanços tecnológicos que aumentam a competitividade. Chiavenato e Sapiro (2020) destacam que os impactos desses avanços são uma realidade presente, oriundos da transformação digital e das inovações disruptivas1. Diante dessa nova relação entre os mundos físico e digital, a indústria tradicional passou a conviver com a internet das coisas2, com a Analytics e Big Data3, dentro do que se denomina de Era Digital (CHIAVENATO, 2020b; CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Essa mudança para a Era Digital se iniciou na década de 1990, a partir da chamada Era da Informação, que foi impactada pelo desenvolvimento tecnológico e pela Tecnologia da Informação (TI). Na Era da Informação o capital financeiro deixou de ser o mais importante, ganhando destaque o capital intelectual, baseado no conhecimento, que se tornou o recurso mais valioso para as organizações (CHIAVENATO, 2020b; CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). A gestão do conhecimento, o capital intelectual, juntamente com as organizações de aprendizagem orientam esse processo de revisão da teoria administrativa. Segundo Chiavenato (2020b, p. 341, destaque nosso) conhecimento: “é a informação estruturada que tem valor para uma organização”, enquanto gestão do conhecimento “é um processo integrado destinado a criar, organizar, disseminar, intensificar e aplicar o conhecimento para melhorar o desempenho global da organização”. Por sua vez, as organizações de aprendizagem são aquelas que aprendem por meio de seus membros. São as organizações que compreendem que o conhecimento não pode se limitar a algumas semanas do ano ou mesmo a cursos específicos. Esses cursos devem ser um estímulo a uma mudança conceitual, voltada ao aprendizado organizado e contínuo, envolvendo todos os integrantes da organização. 1 INOVAÇÕES DISRUPTIVAS = São os processos de transformações de produtos e serviços por tecnologias inovadoras. 2 INTERNET DAS COISAS = Trata-se do conjunto de dispositivos digitais do nosso cotidiano que operam entre redes. 3 ANALYTICS E BIG DATA = Dão origem a diversas inovações tecnológicas, permitindo melhores decisões a partir da “coleta, agregação, tratamento, integração, consolidação e análise de dados (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020, p. 21). 30 Assim, a administração e as organizações são os elementos centrais desse processo de modernização. Nas palavras de Chiavenato, na obra Administração nos Novos Tempos (2020b, p. 1, grifo nosso): Figura 8: Conceito da Administração nos Novos Tempos Fonte: SCD/EaD/Segen. A Era Digital está promovendo mudanças nesses modelos organizacionais, nos produtos e serviços, na comunicação e na vida das pessoas. Dados e ideias se movem pelo mundo na velocidade da luz e ao toque de um botão (WIRAEUS; CREELMAN, 2019). O uso de dados e Analytics, as plataformas digitais, Inteligência Artificial, as relações externas entre diversos stakeholders e até mesmo os arranjos internos das Corporações sofrem os impactos da Era Digital (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Para o futuro, estima-se o surgimento da Era Pós-Digital4, em que as pessoas incorporam tecnologias num ritmo cada vez mais acelerado, tornando-se seletivas e mais exigentes, desafiando assim as corporações a trabalhar alinhadas ou se adaptarem às expectativas sociais (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Diante de todo esse desenvolvimento científico e das tendências emergentes, o grande desafio das organizações públicas, especialmente aquelas integrantes do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), é conciliar e compreender esse avanço exponencial, 4 ERA PÓS-DIGITAL = Começam a surgir movimentos que indicam que em breve teremos a 5ª Revolução Industrial, também chamada de Indústria ou Sociedade 5.0. Surgida no Japão, essa corrente aponta que no futuro seremos orientados pela cooperação entre ser humano e máquina. 31 adaptando-se às mudanças com o foco voltado ao aprimoramento dos serviços prestados à população. Figura 9: Reflexão! Fonte: SCD/EaD/Segen. 32 Aula 3 – Conceituação de planejamento Vencida nossa etapa inicial sobre a importância do planejamento e das teorias administrativas – as passadas e as que estão em desenvolvimento – passaremos a tratar da conceituação de planejamento. Oliveira (2020, p. 3) informa que planejamento é: “um processo desenvolvido para o alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela organização”. O autor alerta que planejamento não pode ser confundido com previsão, projeção, plano ou resolução de problemas. Por sua vez, Chiavenato (2020b) afirma que as organizações não atuam com base na improvisação, sendo que quase tudo é planejado de forma antecipada. Para o autor, o planejamento é um processo administrativo em que são estabelecidos os objetivos e os meios para alcançá-los – por meio da definição de planos –, considerando os recursos disponíveis ou possíveis. O autor relata que o planejamento é a primeira das funções administrativas, antecedendo a organização, a direção/liderança e o controle (CHIAVENATO, 2020b). “Planejar é definir os objetivos e escolher antecipadamente o melhor curso de ação para alcançá-los. O planejamento define onde se pretende chegar, o que deve ser feito, quando, como e em que sequência (CHIAVENATO, 2020b, p. 138). A função do planejamento é essencial para o alcance dos objetivos da organização, pois, ainda que sujeito a falhas, minimiza os riscos, e, consequentemente os prejuízos, além de eventuais desgastes durante a condução de processos e projetos. Dentre diversos atributos, o planejamento facilita a alocação de recursos gerenciais, materiais e orçamentários, orienta o processo de tomada de decisão, estabelece um fluxo mais uniforme de informações, possibilita uma maior 33 interação com o ambiente, cria alternativas administrativas para o decisor e incentiva a utilização de modelos organizacionais (OLIVEIRA, 2020, p. 277). O planejamento pode ser classificado em três tipos, de acordo com a abrangência sobre a organização. Essa distinção é amplamente abordada na literatura (MAXIMIANO, 2018; OLIVEIRA, 2020; CRUZ, 2017), entretanto, não raras vezes gera certa incompreensão, principalmente em relação ao seu alcance e operacionalização. Veja mais sobre os chamados planejamento estratégico, planejamento tático e planejamento operacional. Planejamento estratégico Elaboração que envolve toda a organização na busca de definições básicas como a razãoda sua existência, qual é seu negócio e como deve realizá-lo: é “a relação pretendida da organização com seu ambiente”, a qual pode ser mais bem definida por meio de uma série de análises estudadas por muitos autores, como o estudo das vantagens competitivas realizada por Porter (1989) em que assinala como as organizações podem desenvolver e manter vantagens competitivas em um mercado globalizado e altamente competitivo por meio da análise do ambiente externo que a envolve, gerando um melhor desempenho e consequentemente um melhor posicionamento no mercado (MAXIMIANO, 2018). Em síntese, trata-se de um processo que garante sustentação metodológica para definir a melhor direção a ser seguida pela organização, objetivando a melhor interação com fatores externos – não controláveis – de forma inovadora (OLIVEIRA, 2020). Planejamento tático Elaboração que envolve os níveis intermediários da organização: transforma os planos estratégicos em ações especializadas para as unidades organizacionais, ao definir as responsabilidades, os cursos de ação e os objetivos para cada unidade funcional, de forma alinhada ao que foi estabelecido em nível estratégico (MAXIMIANO, 2018). Segundo Oliveira (2020, p. 19, grifo nosso), é uma metodologia que busca otimizar uma área de resultado específica, não alcançando assim toda a organização, trabalhando dessa forma com a “decomposição de objetivos, estratégias, e políticas estabelecidos no planejamento estratégico”. 34 De acordo com Cruz (2017), o planejamento tático é a concretização do planejamento estratégico, e responde a perguntas como: O que fazer? É possível fazer? Vale a pena fazer? Vai funcionar? Quando vamos fazer? Para quem vamos fazer? Planejamento operacional Elaboração que envolve os níveis básicos organizacionais: coordena as atividades individuais realizadas por meio de cronogramas, decisões, orçamentos e, até mesmo, outros planos (subplanos). É um planejamento de curto prazo que pretende assegurar a execução das tarefas e operações de acordo com os procedimentos estabelecidos pela organização, focado na eficiência, melhor alocação dos recursos disponíveis e na eficácia dos resultados (MAXIMIANO, 2018). Para Oliveira (2020, p. 19), é a formalização, principalmente mediante documentos escritos, “das metodologias de desenvolvimento e implementação de resultados específicos a serem alcançados pelas áreas funcionais” da corporação. De acordo com Cruz (2017), embora aparentemente haja uma semelhança entre os planejamentos tático e operacional, ambos são desdobramentos do planejamento estratégico, logo se complementam. O questionamento central do planejamento tático é “o que fazer”, enquanto o planejamento operacional “detalha como fazer”, o que lhe confere uma maior proximidade com o dia a dia das organizações. Uma observação importante é que todos os planos elaborados podem sofrer correções de rumo por uma série de fatores, dentre as quais a dinâmica econômica – com as volatilidades dos mercados –, o surgimento de novas tecnologias da informação, a adoção de novas metodologias de gestão, o puro advento de novas ideias, além da identificação de erros, que provocaram inconformidades em algum ponto desses planejamentos, independentemente se estratégico, tático ou operacional (MAXIMIANO, 2018). 35 Figura 10: Reflexão! Fonte: SCD/EaD/Segen. 36 Aula 4 – Evolução histórica e conceituação de estratégia Evolução histórica da estratégia O estudo da estratégia não é algo recente. Desde quando o homem das cavernas começou a caçar, pescar e lutar, sempre projetou comportamentos para ter êxito nos desafios que lhe eram impostos. Assim, a estratégia sempre esteve associada à ideia de competição e, acima de tudo, à sobrevivência, que pode ser vista nas perspectivas biológica, militar, política, esportiva e empresarial (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020; SOBRAL; PECI, 2014). A estratégia já é estudada desde a Antiguidade, na Grécia, onde era empregada para definir “a arte dos generais”, cujo trabalho era desenvolvido para organizar e aplicar combatentes em guerra e vencer o inimigo. Os movimentos de guerra, caracterizados como uma das mais antigas ocupações humanas, também se utilizaram de elementos da estratégia na China, a partir dos ensinamentos de Sun Tzu e de outros comandantes militares, cujo legado até hoje influencia não só as organizações militares, como as demais organizações públicas e o ambiente corporativo (MAXIMIANO, 2018). Saiba mais sobre a evolução histórica na China e na Grécia clicando logo abaixo: China Os textos canonizados durante a Dinastia Song (960 a 1279) com o nome de “Os sete clássicos militares” incluíam “A arte da guerra”, de Sun Tzu (século VI a.C.), “Seis ensinamentos estratégicos secretos” e “Três estratégias de Huang Shih-Kung”, ambos atribuídos a Jiang Ziya (início do século I a.C.). O estudo dos mesmos era requisito para promoções aos oficiais imperiais. Há muitas antologias com diferentes 37 comentários e análises feitos por estudiosos, ao longo dos séculos até as atuais versões ocidentais, como de Sawyer et al. (1993) e de Van de Ven (2000). Grécia Em Esparta, a própria educação pública estava orientada para a intervenção na guerra e a manutenção da segurança da cidade. Desde os sete anos, tanto meninos quanto meninas eram entregues à orientação do Estado, com professores especializados. Levavam vidas muito austeras (andavam descalços, ficavam expostos às oscilações climáticas, comiam de forma regrada, eram chicoteados em público uma vez por ano etc.), realizavam exercícios com armas, aprendiam táticas de guerra e encarregavam-se de serviços de segurança na cidade. Somente se vivessem até os 30 anos adquiririam plenos direitos políticos. Entre 20 e 60 anos, todos os cidadãos eram obrigados a participar nas guerras. Veja: Ferreira (2004) e Pomeroy et al. (1999). A partir do fim da Segunda Guerra Mundial a pesquisa sobre a estratégia teve maior ênfase e vários conceitos foram surgindo, graças à exigência de novas e dinâmicas abordagens com a finalidade de acompanhar a velocidade das transformações sociais, políticas e econômicas (CAETANO; SAMPAIO, 2016). Conceituação de Estratégia Como já estudado, a estratégia tem se relacionado intimamente à necessidade de sobrevivência. Desde os primórdios da espécie humana vive-se em um ambiente hostil e competitivo entre os próprios seres humanos e com os animais, em busca de alimento e de abrigo, e, segundo biólogos e historiadores, foi graças principalmente às estratégias inovadoras que a espécie sobreviveu (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010). Sun Tzu (“A arte da guerra”, século VI a.C.) já demonstrava a engenhosidade e o valor da estratégia: 38 “Todos os homens podem ver as táticas pelas quais eu conquisto, mas o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas”. Os ensinamentos milenares de Sun Tzu discutem a preparação de planos, a variação de táticas, o tempo, o terreno, os pontos fortes e os pontos fracos do inimigo (BUSHIDÔ, 2007). SAIBA MAIS! Strategos O termo estratégia vem do grego arcaico strategos, e deriva de duas palavras gregas: stratos (exército) e ago (guiar, mudar de direção, liderar). Inicialmente compreendida como uma posição de comando (general de um exército), depois o termo veio a se referir à “arte do general”, refletida no exercício de liderança frente a diferentes agrupamentos, em múltiplas frentes de batalha ao longo do tempo (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2020b, online), “estratégia é o conjunto de grandes escolhas que orienta o gerenciamento do presente e a construção do futuro num horizonte de longo prazo e sob condições de incerteza.” Objetivamente falando:estratégia é a arte de sobreviver. Isso porque invariavelmente as organizações lidam com um quadro limitado de informações, motivo pelo qual quanto maior a incerteza ou a imprevisibilidade, maior a necessidade de estratégia (MAXIMIANO, 2018). 39 A estratégia se revela um dos termos chave do Planejamento Estratégico. Nesse sentido, as estratégias são os meios pelos quais objetivos de longo prazo são alcançados pela organização, seja para a ampliação do espaço geográfico de atuação, a diversificação da atividade, a inserção em mercados, a aquisição e desenvolvimento de produtos, a prestação de novos serviços. Toffler (1985) comenta que uma empresa sem estratégia é como um avião voando em plena tempestade, jogado para cima e para baixo, açoitado pelo vento, perdido entre relâmpagos. Se os relâmpagos ou os ventos não o destruírem, simplesmente ficará sem combustível. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, na obra Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico (2010), realizaram um extenso estudo bibliográfico sobre 40 anos de produção em estratégia empresarial e o resultado foi a classificação em dez escolas teóricas. Para os autores: Figura 11: Conceito de estratégia Fonte: SCD/EaD/Segen. Por isso, organizações devem ter a perspicácia necessária para identificar as tendências inesperadas do mercado e as necessidades de clientes ainda não articuladas. Sendo bem direto: Estratégia é a arte de evoluir. 40 De tudo que discutimos, podemos concluir que um dos grandes desafios das organizações modernas reside justamente na capacidade de formulação de estratégias visando ao crescimento, quando não à mera sobrevivência. A complexidade diante das incertezas e das ambiguidades ambientais exige a excelência nas escolhas. Veja em que consiste cada uma das características das dez escolas teóricas estudadas por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010), no anexo 4, disponível no Material Complementar. Figura 12: Reflexão Fonte: SCD/EaD/Segen. Leia o texto A Estratégia de McCutcheon (anexo 5), disponível no Material Complementar, e reflita sobre como a sua corporação deve se preparar para: - Enfrentar a “concorrência” e o que você entende ser a “concorrência” para a sua corporação, especialmente diante da realidade atualmente enfrentada pelos órgãos do Sistema Único de Segurança Pública. - Atender às demandas atuais da “clientela” e dos demais stakeholders [partes interessadas]; 41 - As novas tendências do “mercado”, no campo da segurança pública. 42 Aula 5 – Conceituação de planejamento estratégico Após estudar os principais conceitos do curso, nosso próximo desafio é alinhar o planejamento à estratégia, por meio do que a literatura denomina de planejamento estratégico. Como estudado anteriormente, é função do planejamento a reflexão sobre o futuro, a partir de respostas a questões atuais, entre as quais: o que fazer, como, quando, quanto, para quem, por quem e onde. Após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, as empresas passaram a se preocupar com questões que até então não compreendiam de grande relevância, especialmente sobre a forma como poderiam aperfeiçoar a produção para melhor atender à demanda por seus produtos. A essa falta de sintonia, entre o que as empresas poderiam produzir e as expectativas frustradas do mercado, denominou-se problema estratégico (CRUZ, 2017). Em 1965, H. Igor Ansoff publicou Estratégia Corporativa, que foi um marco à época, por se tratar do primeiro livro que abordou o assunto de forma acadêmica (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010). Ansoff apresenta sua perspectiva, do processo de formular objetivos e estratégias, a partir da análise de oportunidades do ambiente (MAXIMIANO, 2018, p. 319). Ansoff teve como antecedentes os estudos de Alfred Chandler, que mediante a análise de grandes Corporações dos Estados Unidos como a Sears, a DuPont, a General Motors e a Standard Oil, introduziu a ideia de estratégia como um processo (SOBRAL; PECI, 2014). Segundo Maximiano (2018), os anos 60 foram significativos para esse campo, uma vez que promoveram a transição do conceito, inicialmente de política de negócios, para planejamento de longo prazo, depois para a estratégia corporativa, alcançando então, na década de 1970, o conceito de planejamento estratégico. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) fazem um alerta importante sobre a inexistência de um modelo básico de planejamento estratégico. Informam os autores que 43 existem centenas de modelos de planejamento estratégico, sendo que cada livro-texto aborda o assunto com um modelo próprio, os quais, não raras vezes, resumem esse processo à aplicação da matriz SWOT na organização. Diante disso, é importante ressaltar que quando o planejamento estratégico se apresenta de forma estruturada, os modelos desenvolvidos pela literatura geralmente utilizam elementos comuns, que envolvem a análise de ambiente, fatores internos e externos, a definição de objetivos e metas, além de planos e projetos para a consecução dos fins estimados dentro da visão e da missão da organização. Nesse contexto, a despeito das eventuais peculiaridades, esses elementos são aqueles que orientam as organizações, por meio de um conjunto de escolhas presentes, que se dedicam à construção de cenários futuros, num razoável período de tempo e em um ambiente de imprevisibilidade. No nosso curso, voltado especialmente às instituições integrantes operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), seguiremos a metodologia adotada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), cujos fundamentos derivam da Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018 (BRASIL, 2018b) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/lei/L13675.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20institui%20o,e%20integrada%20dos%20% C3%B3rg%C3%A3os%20de), que instituiu o Susp e criou a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) (BRASIL, 2018c), matéria essa regulamentada, no âmbito da União, pelo Decreto n. 9.489, de 30 de agosto de 2018 (BRASIL, 2018a). SAIBA MAIS! O Susp como compromisso para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas e como prioridade política (BRASIL, 2018c). O Brasil participou de todas as sessões de negociação intergovernamental. Chegou-se a um acordo que contempla 17 Objetivos e 169 metas, entre elas as que dizem respeito à redução da violência, ao fomento de uma nova governança e da transparência dos sistemas de justiça e segurança e, ainda, dizem respeito à repressão qualificada da criminalidade organizada (ODS 5 e 16) (BRASIL, 2018c, online, grifo nosso). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13675.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20institui%20o,e%20integrada%20dos%20%C3%B3rg%C3%A3os%20de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13675.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20institui%20o,e%20integrada%20dos%20%C3%B3rg%C3%A3os%20de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13675.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20institui%20o,e%20integrada%20dos%20%C3%B3rg%C3%A3os%20de 44 A imagem a seguir demonstra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, os quais buscam atingir a Agenda 2030 no Brasil: Figura 13: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. É relevante observar que inúmeras instituições policiais detêm planejamentos próprios, respeitando suas características e os elementos comuns do campo, embora nem sempre adotem a metodologia proposta pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública ou por uma obra específica da área. Feita essa observação, como já abordamos no início do curso, para o Ministério da Justiça e SegurançaPública: “estratégia é o conjunto de grandes escolhas que orienta o gerenciamento do presente e a construção do futuro num horizonte de longo prazo e sob condições de incerteza. Já o Planejamento Estratégico estabelece com clareza para toda a organização quais são os objetivos a serem atingidos e como serão alcançados (BRASIL, 2020b, online). 45 O Planejamento Estratégico do MJSP tem sua metodologia estruturada em um Mapa Estratégico, que materializa a representação visual da estratégia do Ministério, sendo composto por onze objetivos, os quais se dividem em três perspectivas, a saber: Figura 14: As 3 perspectivas do Mapa Estratégico do MJSP Fonte: SCD/EaD/Segen. O Planejamento Estratégico do MJSP ainda é estruturado em indicadores e metas estratégicas, em uma carteira de projetos estratégicos e na sua cadeia de valor. IMPORTANTE Falaremos mais a frente, de forma mais detalhada, do Planejamento Estratégico do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Adicionalmente, e sem prejuízo das lições contemporâneas do ambiente corporativo empresarial, nos valeremos também de conceitos ligados ao Planejamento Estratégico Governamental (DE TONI, 2016), uma vez que esse processo, no âmbito da Administração Pública, exige conhecimentos específicos que 46 nem sempre são peculiares à iniciativa privada. Esse tema será abordado no decorrer do curso. Se quando foi concebido tinha natureza rígida, no mundo moderno o planejamento estratégico toma contornos flexíveis e adaptáveis às intensas e constantes mudanças ambientais. Nessa nova perspectiva, as organizações assimilam tecnologias e técnicas capazes de monitorar e avaliar sua implementação. A partir disso, podem ser realizadas correções de rumo ou mesmo mantidas e criadas vantagens competitivas. O planejamento estratégico contemporâneo requer competências especiais para sua concepção e principalmente para sua implementação. Chiavenato (2020b) indica a gestão do conhecimento como essencial à condução dessas novas formas de trabalho, de comunicação e de interação humana. Para Chiavenato (2020b) e De Toni (2016), nesse contexto se destacam as Learning Organization [Organizações de Aprendizagem], que são aquelas bem- sucedidas, as quais investem no chamado capital intelectual – um verdadeiro ativo intangível – além de conferir a necessária autonomia aos seus integrantes, para que possam desenvolver suas potencialidades. O planejamento estratégico, como um sistema integrado, considera toda a organização e suas relações com o ambiente. Segundo Oliveira (2020), não se trata de um mero instrumento administrativo para resolver os problemas pontuais de uma organização. O planejamento estratégico deve conduzir os gestores à prática da Administração Estratégica, conduta a ser incorporada ao dia a dia da organização, integrando de maneira sistemática e sistêmica os processos decisórios. Chiavenato e Sapiro (2020, p. xii) apontam o planejamento estratégico como um processo essencial na organização, uma vez que estabelece objetivos e diretrizes para a definição de planos de ação para atingi-los, resultando assim em vantagens competitivas e sustentabilidade no longo prazo. Segundo os autores (2020, p. xii, grifo nosso), “o planejamento estratégico identifica recursos potenciais, cria e alinha competências, reconhece forças e fraquezas e 47 estabelece um conjunto de medidas integradas a serem executadas para assegurar o alcance dos resultados planejados.” Para implementar o planejamento estratégico, o gestor deve entender o processo histórico conjuntural e o ambiente que o cerca. O gestor deve conhecer os stakeholders [partes interessadas] para adotar as estratégias que atendam às suas expectativas ou mesmo superá-las. Deve conhecer as vantagens competitivas da sua organização e estar atento a novas oportunidades, sempre focado na visão de futuro. Na análise de ambiente, deve avaliar os riscos envolvidos, compreendendo os impactos da resistência às mudanças. Nos termos do planejamento estratégico do MJSP, o alcance dos objetivos estratégicos será mensurado por indicadores e metas de resultado, por meio dos quais se analisa o sucesso da estratégia (BRASIL, 2020b, online). A partir disso, o gestor deve reconhecer a importância dos projetos – segundo a Carteira de Projetos Estratégicos – como esforços temporários dedicados à entrega formal de um produto ou serviço único; desse modo, os projetos estarão aptos a garantir o sucesso da estratégia (BRASIL, 2020b, online). Saiba mais! Sobre os Projetos Estratégicos do Ministério da Justiça e Segurança Públicas em: https://legado.justica.gov.br/Acesso/governanca/planejamento- estrategico-2020-2023/pdfs-planejamento-estrategico%2020- 23/pe-2020-2023-carteira_projetos_estrategicos_v3.pdf. Acesso em: 3 dez. 2020. https://legado.justica.gov.br/Acesso/governanca/planejamento-estrategico-2020-2023/pdfs-planejamento-estrategico%2020-23/pe-2020-2023-carteira_projetos_estrategicos_v3.pdf https://legado.justica.gov.br/Acesso/governanca/planejamento-estrategico-2020-2023/pdfs-planejamento-estrategico%2020-23/pe-2020-2023-carteira_projetos_estrategicos_v3.pdf https://legado.justica.gov.br/Acesso/governanca/planejamento-estrategico-2020-2023/pdfs-planejamento-estrategico%2020-23/pe-2020-2023-carteira_projetos_estrategicos_v3.pdf 48 Nesse contexto, ao reconhecer todo o processo do planejamento estratégico, o gestor deve: • Priorizar a alocação de recursos gerenciais, materiais e orçamentários. Ele deve capacitar pessoas especificamente para gerenciar projetos e dotá-las da autonomia necessária para conduzi-los; • Definir claramente os métodos de gerenciamento, a fim de aprimorar a condução e a mensuração de seu desenvolvimento, e propiciar o processo de aprendizagem organizacional e da melhoria contínua, por meio de sistemático monitoramento e avaliação; • Formalizar os projetos perante a organização, divulgando-os permanentemente, para que haja a adequada integração às atividades organizacionais e ao Planejamento Estratégico aprovado; • A partir da Carteira de Projetos Estratégicos, promover a adequada metodologia para a seleção e priorização de execução dos projetos, sempre focado no alcance dos objetivos da organização; e • Ter sensibilidade e bom senso quanto à tomada de decisões de cancelamento e suspensão de projetos, o que, muitas vezes, é realizada de forma irrefletida, considerando apenas indicadores quanto ao prazo de execução e de orçamento, sem levar em conta a relevância e os fatores críticos de sucesso do plano como um todo, que se revelam as condições necessárias para o alcance dos objetivos propostos pela organização. Figura 15: Reflexão Fonte: SCD/EaD/Segen. 49 Finalizando... Neste módulo você estudou que: • O pensamento estratégico está relacionado a intenções empreendedoras e criativas que observam a organização e seu ambiente, mediante a adoção de comportamentos que pensam em seu futuro. • Para “se posicionar perante o futuro” são necessárias a tomada de decisão e a ação; caso contrário, apenas se observa ou se surpreende com os acontecimentos que, invariavelmente, não corresponderão ao que se deseja. • O alcance dessa posição futura em uma organização depende de esforço constante de todos os seus membros, principalmente de sua alta administração. • A função do Planejamento é primordial para o alcance do que se deseja, pois, ainda que sujeito a falhas, possibilita minimizar prejuízos e desgastes durante a condução de processos e projetos. • Os impactos dos avanços tecnológicos são uma realidade presente, oriundos da transformação computacional, e das inovações disruptivas. Diante dessa nova relação entre os mundos físico e digital, a indústria tradicional passou a conviver com a internet dascoisas, com a Analytics e Big Data, a partir do que se denomina Era Digital. • Não existe um modelo básico de planejamento estratégico, embora a metodologia abordada em nosso curso será a utilizada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Entretanto, independente do modelo, a estratégia se revela como um dos termos chave do Planejamento Estratégico. • Após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, as empresas passaram a se preocupar em como aperfeiçoar a produção para melhor atender à demanda por seus produtos. O Planejamento Estratégico ganhou maior destaque na década de 70, quando as grandes corporações necessitaram aperfeiçoar seus processos de planejamento e de gerência. • “Estratégia é a arte de sobreviver e de evoluir”. • O Planejamento Estratégico no mundo moderno deve ser flexível e adaptável às intensas e constantes mudanças ambientais a que as diversas organizações estão submetidas, em consequência do paradigma atual, baseado na incerteza. 50 Módulo 2 - Metodologias de diagnóstico prévio ao planejamento estratégico Apresentação Caro Aluno, Neste segundo módulo serão descritos e discutidos o estabelecimento da diretriz organizacional, dos conceitos de missão e visão de futuro, e a análise do ambiente interno e externo da organização. Objetivos do Módulo A partir dos conteúdos trabalhados neste módulo, você deverá ser capaz de: • Reconhecer o papel e atuação do gestor no processo de estabelecimento das diretrizes organizacionais; • Compreender o conceito e intuir a missão da sua corporação; • Compreender o conceito e o processo de formulação da visão de futuro da sua corporação; • Compreender o conceito e intuir os objetivos, indicadores e metas da sua corporação; • Analisar a fundamentação teórica da matriz SWOT e praticar a construção de uma matriz para sua corporação. Estrutura do Módulo O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas: Aula 1 – Estabelecimento da diretriz estratégica e da missão organizacional. Aula 2 – Estabelecimento da visão de futuro organizacional. Aula 3 – Estabelecimento dos objetivos, indicadores e metas da organização. Aula 4 – Análise do ambiente. 51 Aula 1 – Estabelecimento da diretriz estratégica e da missão organizacional Como discutimos no módulo anterior, não existe um modelo básico – padrão – de planejamento estratégico. Ao aprofundar seus estudos, certamente será possível identificar diversos planejamentos estratégicos de instituições públicas e privadas que, apesar de possuírem estruturas distintas, encontram elementos comuns. Nesse sentido, os modelos de planejamento estratégico podem variar de acordo com o livro-texto adotado ou mesmo com a organização que o concebeu. Isso não se revela um verdadeiro obstáculo ao estudioso do assunto, até mesmo porque a multiplicidade de pesquisas e as diferentes concepções construídas pela literatura apenas fazem o campo evoluir a partir do conhecimento acumulado. Diante de um extenso rol de ferramentas, a organização terá melhores condições de estruturar seu planejamento focado nas suas diretrizes estratégicas, missão, visão de futuro, e observando o ambiente que a cerca. Figura 16: Ferramentas para estruturar seu planejamento Fonte: SCD/EaD/Segen. Nesse sentido, a estrutura que seguiremos será a do Ministério da Justiça e Segurança Pública, cujos elementos centrais integram a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), o Plano Nacional de Segurança 52 Pública e Defesa Social (2018-2028), e o Planejamento Estratégico do Ministério da Justiça e Segurança Pública (2020-2023). Sem prejuízo do modelo adotado, faremos uma incursão nos principais autores da atualidade, cujas ferramentas nos auxiliarão a compreender o modelo MJSP, ou mesmo nos guiar e habilitar a conceber planos estratégicos próprios para nossas corporações. Nesse sentido, Rezende (2018) nos indica que o planejamento estratégico das organizações públicas e privadas pode ser iniciado pela definição das diretrizes organizacionais ou das análises organizacionais. As diretrizes organizacionais, também chamadas de diretrizes estratégicas, diretrizes do meio ambiente, diretrizes do negócio (REZENDE, 2018, grifo nosso), ou “intenção estratégica” (CHIAVENATO, SAPIRO, 2020) são as respostas a questões- chave que reconhecem os propósitos da organização, a sua motivação e as suas condições do ambiente (PIDUN, 2019). O Planejamento Estratégico do Ministério da Justiça e Segurança Pública (2020-2023) é alinhado ao Plano Plurianual - PPA 2020-2023, “garantindo maior integração e facilitando o processo de monitoramento” e às diretrizes estratégicas do Ministério (BRASIL, 2020b): São diretrizes estratégicas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2019): I - fortalecimento da segurança pública, intensificando o combate à corrupção, ao crime organizado e ao crime violento, com enfoque na integração de políticas públicas entre os entes federados e no controle de fronteiras, a fim de promover o desestímulo da prática criminosa; II - incentivo à utilização de ferramentas e práticas de gerenciamento, análise e compartilhamento de grandes volumes de dados, visando maior confiabilidade na tomada de decisão; III - otimização da gestão de bens apreendidos oriundos do crime, com foco na alienação; 53 IV - aprimoramento da gestão prisional, com ênfase na ampliação do número de vagas em unidades prisionais por meio de construções, reformas e incentivo às penas alternativas, bem como ações cooperadas com as unidades federativas para o aperfeiçoamento do controle das unidades prisionais, por meio de inteligência, operações e assistências; V - fortalecimento da capacidade de gestão do Ministério, por intermédio da melhoria dos processos organizacionais e riscos envolvidos, visando alcançar os objetivos institucionais e a qualidade dos serviços prestados ao cidadão; VI - aperfeiçoamento de práticas de gestão de pessoas, do conhecimento e de competências, com incentivo ao desenvolvimento e à valorização de talentos, em prol da qualificação pessoal, profissional e organizacional; VII - otimização da integração e da convergência de esforços entre as unidades do Ministério; e VIII - aperfeiçoamento da comunicação interna e externa, com o fortalecimento da transparência. A partir das diretrizes estratégicas (BRASIL, 2019) ou intenções estratégicas (CHIAVENATO; SAPIRO, 2020) podem ser estudadas a missão e a visão de futuro da organização. Vamos lá!! Missão Toda a organização tem um propósito singular que justifica sua existência, a qual deve estar refletida na declaração de sua missão. Segundo Drucker (1994), “uma empresa não se define pelo seu nome, estatuto ou produto que faz; ela se define pela sua missão.” 54 Drucker destaca que raramente as organizações se questionam quanto à sua efetiva missão; quanto ao seu verdadeiro negócio. De acordo com o autor, a falta de reflexão e de engajamento dos seus integrantes pode representar uma das principais causas que levam ao fracasso (DRUCKER, 2010; CHIAVENATO; SAPIRO, 2020). Assim, por missão organizacional compreendemos: Figura 17: Missão Fonte: SCD/EaD/Segen Chiavenato e Sapiro (2020, p. 66) destacam que a missão da organização – e do negócio da organização – deve observar os seguintes aspectos: Figura 18: Aspectos a ser observado para a missão Fonte: SCD/EaD/Segen. 55 Conforme Sobral e Peci (2014, p. 200, grifo nosso): “a missão deve promover o comprometimento de todas as pessoas da empresa e deve ser elaborada de forma a motivá- las, fazendo com que seja encarada como um desafio de toda a organização”. Essa abordagem também é compartilhada por Collins e Porras (1996), os quais descrevem a essência da missão, como a composição do que chamaram