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MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. tradução Lívio Xavier - [32. ed.] - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. (cap. XV - cap XXI). CAP. XV. Ao longo do capítulo XV, Maquiavel apresenta as razões que fazem de um príncipe ou de um homem um ser louvado ou odiado. Através de antagonismos, ele faz comparações acerca de como são vistos em sociedade os homens, de acordo com suas “qualidades que lhes acarretam reprovação ou louvor”(p.92). Ainda, uma importante reflexão feita neste capítulo refere-se a diferença entre o modo como se vive e como se deveria viver - em outras palavras, traz a ideia de que os ideais nem sempre conseguem ser seguidos pois a vida se apresenta a sua maneira, e ficar preso à eles só pode levar-te à ruína. “(...) Quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar; e um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus.” (p.92). Ele ainda levanta a ideia de que os príncipes devem saber abraçar os seus defeitos, pois a condição humana não permite apenas qualidades boas. Assim, é necessária prudência por parte do príncipe - um príncipe que souber dosar seus defeitos, e não somente escondê-los, mas saber usá-los, será mais bem sucedido do que um príncipe de somente “virtudes”. “E ainda não lhe importe incorrer na fama de ter certos defeitos, defeitos estes sem os quais dificilmente poderia salvar o governo”. (p.93). Fica clara a intenção de Maquiavel de expor análises que objetivam o sucesso do governo de um príncipe, além dos meios para alcançar um bom resultado. O príncipe, como o homem, não de todo bom, como não é de todo mau. Conhecer seus próprios pontos de sabotagem pode ser o caminho para não tê-los. CAP. XVI. Fica nítida a intenção de Maquiavel neste texto em expor os diferentes tipos de principados, oferecendo recomendações para o bom governo de um príncipe, além de uma visão da natureza humana como um todo. Neste capítulo, especificamente, é abordado a questão do homem liberal e como este é visto por outros. Maquiavel associa o homem liberal principalmente a riqueza - é o homem que ostenta toda sua fortuna para manter sua fama entre os homens. No entanto, aponta o risco - para manter-se os luxos, o homem liberal fará tudo por dinheiro e assim se tornará odiado entre os súditos e impopular em seu governo. A visão, portanto, do homem liberal é a de uma virtude que gera danos próprios. Ainda, Maquiavel retrata que o Príncipe deve, ainda que julgado como um avaro, desprezar este título e preservar-se através de sua parcimônia, ou seja, saber poupar suas riquezas, pois com o tempo, aqueles que o julgavam verão como ele soube utilizar suas riquezas para fins necessários, como defender-se de uma guerra. A parcimônia é importante para ser liberal sem que afete os seus súditos - assim, consegue realizar seus desejos sem que seja julgado pelos outros. Ele cita também o exemplo do Papa Júlio II, que demonstrou-se liberal para chegar ao poder, mas depois, agiu com parcimônia, para então declarar guerra ao Rei da França e assim não precisar onerar os seus, e arcar com qualquer despesa supérflua que aparecesse. Assim, Maquiavel defende que “um príncipe deve gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível” (p.96-97). Concluí-se que: para chegar ao poder, é preciso ser liberal. Mas para manter-se, sem parcimônia alcançará a ruína de tudo que foi conquistado. CAP. XVII. É melhor ser piedoso ou cruel? Maquiavel diz que é melhor ao príncipe ser visto como piedoso, mas sabendo utilizar sua piedade de maneira conveniente. O que não quer dizer que ser cruel também é algo ruim para o príncipe - pois ser piedoso demais por muitas vezes gera apenas desordem, surgindo assassinos e ladrões, uma vez que estes serão perdoados pelos piedosos. O príncipe, portanto, deve agir equilibradamente, “com prudência e humanidade, de modo que a confiança demasiada não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável” (p.100). É melhor ser amado ou temido? Maquiavel diz “é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das duas” (p. 100). Ele explica que a ingratidão e os males da natureza do homem o tornam um ser sem escrúpulos, que visa o seu benefício próprio. Assim, enquanto você estiver por cima, estarão com você. Quando você cair, estarão do outro lado. Cabe ao príncipe olhar com desconfiança e tomar sempre precauções para não ser pego de surpresa e se arruinar. Ele explica que o temor gera o sentimento de castigo, que é permanente, enquanto o amor é um sentimento que se rompe, pois o homem é um ser corrompido. Assim, nessas condições, é mais seguro escolher por ser temido do que amado. Ainda, é importante que o príncipe saiba ser temido e não odiado, prezando por agir com “respeito” aos seus cidadãos e súditos, e agindo com justificativas convenientes para suas decisões. Maquiavel ressalta a importância da fama de cruel para momentos de campanha do príncipe, em que precisa de exército, e assim esta mantém a união e disposição do último. É importante aliar sua crueldade com suas virtudes, retomando o capítulo XV, que expõe os defeitos como parte a se saber compor um governo bem sucedido de um príncipe. “(...) Um príncipe sábio, amando os homens como eles querem, e sendo temido como ele quer, deve basear-se sobre o que é seu e não sobre o que é dos outros” (p.103). CAP. XIII. “Ao príncipe, torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem.” (p.105). É preciso haver o equilíbrio das leis e da força, do homem e do animal, e uma sem a outra é onde se instala a instabilidade. Também é preciso que o príncipe seja o “leão e a raposa”, pois sendo a natureza do homem digna de desconfiança, o príncipe deve estar sempre atento e saber valer-se das qualidades e disfarçá-las quando necessário. Maquiavel exemplifica Alexandre VI como um homem de grande segurança que enganava os homens através de seus juramentos e confiança extrema, como um grande conhecedor de suas qualidades de persuadir. O príncipe não precisa possuir todas as qualidades - apenas parecer possuí-las. É preciso aparentar ter todas as qualidades, como benevolência, caridade, solenidade, religiosidade, mas estar atento para as maleficências humanas. “(...) o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos consumados, e o mundo é constituído pelo vulgo, e não haverá lugar para a minoria se a maioria não tem no que se apoiar.” (p.108). CAP. XIX. Deve o príncipe evitar tudo o que pode fazê-lo ser odiado, principalmente usurpar-se dos bens ou mulheres de seus súditos. Desde que não faça isso, os homens vivem bem, acomodados, e poucos são os que teriam a ambição de questionar o príncipe, e isso pode ser combatido facilmente. É preciso evitar o ser volúvel, leviano, efeminado e buscar ações que reconheçam grandeza, coragem e fortaleza. A boa reputação é parte importante pois dificilmente se conspira contra. O príncipe deve possuir somente dois receios: seus súditos e os poderosos de fora. Para as forças externas, é bom contar com armas e aliados, e as forças internas estarão alinhadas. Para combater as foças externas, é preciso que as internas estejam estabilizadas. O príncipe não deve nunca se tornar odiado para não virar alvo de revoltas e conspirações que botem em risco seu governo e sua vida. O príncipe possui o Estado ao seu lado para defendê-lo e protegê-lo; havendo ainda o apoio popular, uma revolta ou conspiração não será motivo de tormenta. “(...)A um príncipe, pouco devem se importar com as conspirações se é amado pelo povo, mas quando este é seu inimigo e o odeia, deve temer tudo e a todos”. (p.112). Para um bom governo, os penares, diz Maquiavel, devem ser uma delegação de outrem. No entanto, os atos de graça, devem ser tidos só como do Rei. Ao longo do capítulo, Maquiaveltranscorre por diversos principados da história, evidenciando o porquê de suas ruínas. Em suma, a grande maioria era virtuosa demais, assim havendo conspirações, pois não havia nenhuma qualidade “animal” (força, crueldade) que assegurasse seus governos. Além disso, ele pontua o fato de tornar-se odioso mais uma vez - seja por assassinar parte da população, por roubar do povo, ou por ser impopular com seus soldados. Ele pontua que a conquista do principado é complicada pois, além de conquistar a posição, é preciso conquistar o povo e o exército. Apenas havendo equilíbrio e estando todos os lados felizes, haveria a consistência do poder. CAP. XX Neste capítulo, Maquiavel conta as diversas maneiras que príncipes ao logo da história se valeram para conquistar e manter a confiança dos súditos nos Estados. É levantado a questão de que, um príncipe novo num estado novo, se tem uma população desarmada, deve armá-la, pois isso trará a confiança dos súditos e eles se tornarão seus auxiliares. Numa terra dominada pelo seu principado, no entanto, é preciso convencê-los a se desarmarem, e garantir que todas as armas estejam nas mãos do seu exército, para manter o controle daquele Estado. “Os príncipes se tornam grandes, sem dúvida, quando superam as dificuldades e oposição que se lhes movem”(p.125). Em suma, os capítulos lidos discutem objetivamente o que é necessário para o sucesso de um principado, quais são as características necessárias a um príncipe (ou não) e como usá-las, além de exemplos de príncipes e principados que foram arruinados ao longo da história, os motivos, e também os que obtiveram êxito. Todas as discussões nos capítulos lidos giram muito em torno das relações que o príncipe deve manter com seus súditos, seu exército, e com os poderosos de fora. Através de exemplos históricos, como Alexandre, Maximino, Severo, dentre outros, Maquiavel analisa diversos casos de ruína e sucesso dos Estados, evidenciando as tendências e as similaridades que levaram aos acontecimentos em cada caso. Algumas perguntas são levantadas ao longo do texto, e evidencia-se muito a luta entre a virtude e não virtude do homem - o homem é bom? é mau? é de todo um só? Questiona-se a natureza do homem, apesar da tendência perceptiva de Maquiavel a enxergar o homem como um ser mais vil do que bom. Um ser que possui uma natureza da qual se deve desconfiar e nunca depositar confiança (ou ao menos toda a sua confiança). É interessante, ainda perceber a maneira como o texto de Maquiavel se mantém atual ao longo do tempo, e como os exemplos se repetem mesmo nos dias de hoje - governos mais rigorosos que se tornam impopulares, governos que são tão sociais que se tornam odiados, governos que perdem o poderio militar por revoltas, dentre outros. Poucos são os que ainda hoje conseguem manter a “malandragem” que o Estado de um Príncipe deve ter para se alcançar êxito quase que absoluto.
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