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Julia Paris Malaco – UCT13 SP5 – DOR Dor oncológica As síndromes dolorosas podem ser agudas ou crônicas, nociceptivas, neuropáticas, psicogênicas e/ou mistas. A dor no câncer tem as características da dor crônica ou persistente, sendo decorrente de processo patológico crônico, podendo envolver estruturas somáticas ou viscerais, bem como estruturas nervosas periféricas e/ou centrais, isoladas ou em associações, cursando com dor contínua ou recorrente por meses ou anos. A natureza da dor nociceptiva somática é descrita como dolorosa, latejante, pulsátil ou opressiva. A dor visceral é do tipo cãibra ou cólica, aperto ou latejante. A dor no câncer geralmente é mista, podendo estar presente os dois mecanismos básicos de produção da dor: Excesso de nocicepção (dor nociceptiva) Desaferentação (dor neuropática). A dor nociceptiva é a mais comum no câncer. É causada por estímulos aferentes de grande intensidade, nocivos ou lesivos, produzidos por processo inflamatórios ou infiltração de tecidos pelo tumor, capazes de atingir o alto limiar de excitabilidade do nociceptor e gerar a dor. A dor nociceptiva ocorre como resultado da ativação e sensibilização dos nociceptores em tecidos cutâneos e profundos, localizados preferencialmente na pele, músculo, tecido conjuntivo, osso e víscera torácica ou abdominal. A dor neuropática é mantida por processos somatossensoriais anormais no sistema nervoso periférico (SNP) ou central (SNC). Ela surge quando há disfunção do SNP e/ou do SNC, por invasão tumoral ou pelo tratamento do câncer (cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia). A dor neuropática é uma das duas principais manifestações dolorosas crônicas, não havendo, geralmente nenhum dano tecidual. O que ocorre é uma disfunção das vias que transmitem dor, levando a uma transmissão crônica dos sinais dolorosos. A injúria neural, que produz dor neuropática, pode ser óbvia ou oculta, podendo ocorrer em qualquer nível das vias nociceptivas periféricas ou centrais. O diagnóstico da dor neuropática é baseado na descrição verbal de dor do paciente, no exame físico e na suspeita de lesão nervosa. A dor é descrita pelos pacientes como ardor, formigamento ou choque elétrico. A dor pode ser definida como psicogênica se houver evidência positiva de que os fatores psicológicos predominam na manutenção do sintoma sem nenhuma evidência de causa orgânica. Fisiopatologia O tumor ativa os nociceptores por pressão, isquemia e secreção de substâncias álgicas como prostaglandinas e fator de ativação de osteoclastos. A dor tem sempre componente neuropático e se manifesta principalmente por plexopatia, radiculopatia e neuropatias periféricas. Resposta inflamatória local e sistêmica: com produção de citocinas pró-inflamatórias, que facilitam a transmissão da dor. Dor diretamente relacionada ao tumor: as células cancerosas podem causar a invasão de tecidos sensíveis a estímulo mecânico (por exemplo, dor visceral) ou encarceramento ou lesão de nervos (por exemplo, dor neuropática). Os tumores contêm células do sistema imune que liberam fatores tais como a endotelina, as prostaglandinas e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que excitam ou sensibilizam aferentes primários nociceptivos periféricos. Os tumores liberam prótons, causando acidez local, com efeitos similares. A dor contínua induz e pode parcialmente ser mantida por um estado de sensibilização central. As enzimas proteolíticas produzidas por células do tumor podem danificar as fibras neurais sensoriais e simpáticas, causando dor neuropática. Dor óssea induzida por câncer metastático: lesão ou infiltração dos neurônios sensitivos que inervam a medula óssea causa dor. As alterações no metabolismo normal do osso ocorrem, com perda de mecanismos que regulam normalmente o equilíbrio entre a atividade osteoclástica e osteoblástica. Com doença avançada, o osso perde a força mecânica e é sujeito a osteólise, fratura Julia Paris Malaco – UCT13 patológica, e microfraturas. A distorção mecânica do periósteo pode ser uma fonte principal de dor. Neuropatia: a neuropatia associada à quimioterapia surge devido a diferentes mecanismos, incluindo a ruptura da função tubulínica por agentes quimioterápicos, com liberação das citocinas, tendo por resultado a degeneração dos neurônios sensitivos e a sensibilização dos aferentes nociceptivos primários. A radioterapia pode causar fibrose de tecido com compressão de nervo e obstrução microvascular do nervo. A compressão ou a lesão do tecido nervoso contribui para a sensibilização central. Podem existir várias fontes para a dor oncológica Dor causada pelo tumor Infiltração óssea: causa mais comum de dor no câncer, pode se manifestar localmente ou a distância, pelo mecanismo de dor referida. As metástases osseas mais comuns são provenientes do câncer de mama, porstata e pulmão. A dor óssea é comum em pacientes com mieloma múltiplo, ela ocorre por conta da estimulação nociva nos nociceptores do periósteo. O crescimento tumoral ou as fraturas secundarias podem ocasionar lesão, com pressão, tração ou lecraçao das estruturas nervosas, ocasionando dor isquêmica, dor neuropática, periférica ou dor mielopatica. A dor óssea se manifesta com sensação de dolorimento constante, profundo, as vezes continuo e surge com movimentos (dor incidental). Compressao ou infiltração de nervos perifericos: a infiltração ou compressão dos troncos, plexox ou raízes nervosas pelo tumor, linfonodo ou fraturas ósseas metastáticas pode determinar dor aguda de forte intensidade, resultando em plexopatia, radiculopatia ou neuropatia, ou seja, dor na distribuição da estrutura nervosa acometida, com apresentação de dor em queimação, continua, hiperestesia, distesia e perda progressiva da sensibilidade. Infiltração do neuroeixo (SNC): pode ocorrer dor por invasão tumoral na medula espinal no encéfalo e em suas meninges. A dor radicular surge por compressão ou infiltração da medula espinal, com alteração motora, sensitiva e autonômica distais ao local da lesão. Além da dor radicular pode-se observar a primeira manifestação de comprometimento raquimedular, a dor mielopatica localizada e a dor fantasma. Infiltração e oclusão de vasos sanguíneos e linfáticos: as células tumorais podem causar vasoespasmo, linfangite e possível irritação dos nervos aferentes parivasculares. O crescimento tumoral nas proximidades dos vasos leva a oclusão dos mesmos parcial ou totalmente, produzindo estase venosa ou isquemia arterial. A isquêmica causa dor de claudicação. A estase venosa produz edema nas estruturas supridas por esses vasos, determinando distensão dos compartimentos faciais e de outras estrutura nociceptivas. A oclusão arterial produz isquemia e hipóxia com destruição celular. Esses mecanismos causam dor normalmente difusa, cuja intensidade aumenta com a progressão do processo. Infiltração das vísceras ocas ou invasão de sistemas ductais de vísceras solidas: a oclusão de órgãos do sistema digestório, urinário e reprodutivo, produz obstrução do esvaziamento visceral e determina contratura da musculatura lisa, espasmo muscular e isquemia, produzindo dor visceral difusa (tipo cólica) constante, com sensação de peso pobremente localizada, referida nas áreas de inervação da víscera comprometida. Órgãos como linfonodos, fígado, pâncreas e suprarrenais podem vir a apresentar dor devido a isquemia ou distinção de suas capsulas. Essas vísceras solidas podem apresentar quadro álgico por obstrução de seus sistemas ductais. Dor Causada pelo Tratamento do Câncer Dor pós-cirúrgica: Determinadas intervenções cirúrgicas têm alta incidência para o desenvolvimento de doraguda e crônica. Na fase aguda, a dor decorre do processo inflamatório traumático de cirurgias, como toracotomias, esternotomias, amputações em astectomias. Na fase crônica, a dor ocorre devido ao câncer recidivado localmente. O trauma ocasionado em estruturas nervosas, durante o procedimento cirúrgico, resulta, comumente, em dor persistente além do normal, chamada neuralgia pós-cirúrgica; tem origem traumática na sua grande maioria e, em um menor número de casos, decorre de fibrose cicatricial ou com pressões. As dores incisionais e cicatriciais são frequentes após toracotomias, laparatomias e amputações de membros, de reto e de mama. O tratamento intenso da dor aguda pós -operatória, tanto no procedimento anestésico-cirúrgico, como no pós-operatório imediato, faz diferença para a dor cr ônica pós-cirúrgica. A dor fantasma ocorre geralmente após amputação de um membro ou em outra estrutura somática do corpo que foi amputada, surgindo em menos de 5% dos casos de amputação. Julia Paris Malaco – UCT13 Dor pós-radioterapia: A dor pós-radioterapia apresenta-se como exacerbação aguda de dor crônica relacionada ao posicionamento para a terapia, queimaduras cutâneas, neuropatia actínica, mielopatia actínica, mucosite bucal, esofagite, produção de tumores primários de nervos periféricos secundários à radiação, obstrução intestinal parcial e infarto ou isquemia intestinal. Após a radioterapia, pode ocorrer fibrose de forma lenta e progressiva, ocasionando lesão nas adjacências dos nervos, com dor em queimação e disfunção do sistema somatossensorial. Dor pós- quimioterapia: A dor pode ocorrer por polineuropatias periféricas, causadas por drogas imunossupressoras (oxaliplatina, paclitaxel, doxorrubicina...), podendo ser de caráter transitório ou definitivo. Existem as mucosites (oral, faríngea, gastroduodenal e nasal) induzidas por leucopenia ou irradiação. Também podem ocorrer espasmos vesicais e a necrose asséptica da cabeça do fêmur, causados por corticoides. Os quimioterápicos causam dor pelos mecanismos: mucosite, inflamação e lesão nervosa. Dor Não-relacionada ao Câncer ou ao seu Tratamento Osteomielite, migrânea, cefaleia tensional, osteoartrite, os teoporose, neuropatia diabética, pós-alcoolismo, hérnia discal, entre outras, sem relação com a dor ocasionada pelo câncer Dor Aguda X Dor Crônica Dor aguda: A dor aguda geralmente é causada por procedimentos invasivos, como intervenções diagnósticas ou cirúrgicas, ou pelos efeitos da quimioterapia e dos outros tratamentos, inclusive mucosite ou suscetibilidade a dor óssea depois do tratamento hormonal. A abordagem terapêutica é semelhante as técnicas utilizadas para atenuar a dor aguda dos pacientes que tem doenças benignas. Dor crônica: As síndromes dolorosas crônicas geralmente tem envolvimento dos ossos, dos tecidos moles, das vísceras e do sistema nervoso. As metástases ósseas são as causas mais comuns de dor nos pacientes com câncer de mama, pulmão ou próstata e tem evolução crônica. A dor visceral descrita como espasmódica, mal localizada e difusa pode originar-se da invasao tumoral do figado, dos intestinos, dos rins, do peritonio, da bexiga ou de outros orgaos. A dor neuropatica pode ter várias causas, pode ser difícil de descrever para o paciente e geralmente tem tratamento complexo. Por fim, muitos pacientes com câncer apresentam síndromes que não estão relacionadas com o câncer ou seu tratamento (por exemplo, osteoartrite). Dor Nociceptiva X Neuropática Dor nociceptiva: A dor nociceptiva pode ser somática ou visceral, geralmente é descrita como dolorida ou em pontadas e na maioria dos casos é causada pelas complicações musculoesqueléticas do câncer. Exemplos de dor nociceptiva são as metástases ósseas e a invasão dos tecidos moles pelo tumor. A hipersensibilidade a dor depois da terapia hormonal também tem origem nociceptiva. A dor abdominal em aperto, corrosiva ou espasmódica pode ser causada pela compressão das capsulas dos órgãos ou pelo estiramento do mesentério ou de outras estruturas viscerais. A dor visceral pode ser referida, como se observa quando um tumor hepático causa estriamento da capsula que circunda o orgao e causa dor no quadrante superior direito e, geralmente, tambem no ombro direito. Dor neuropática: A dor neuropática descrita como latejante, em queimação, em choque ou em ferroadas sugere lesão das estruturas centrais ou periféricas do sistema nervoso. Exemplos desse tipo de dor são as neuropatias periféricas causadas pela quimioterapia e a dor radicular secundaria as metástases vertebrais com compressão das raízes nervosas. Exacerbação da dor Os três tipos gerais de exacerbação são os seguintes: dor incidente, dor espontânea e dor ao final do efeito da ultima dose. Dor incidente: a dor incidente está associada a atividades especificas como tossir ou caminhar. Em um estudo com pacientes portadores de câncer terminal, 93% tinham exacerbação da dor e 72% dos episódios Julia Paris Malaco – UCT13 estavam relacionados com os movimentos ou com a sustentação de peso. Os pacientes devem ser orientados a utilizar analgésicos de ação rápida e duração curta antes de realizarem as atividades ou os eventos que provocam dor. Quando possível, pode ser usado o mesmo fármaco que o paciente já utiliza para aliviar a dor basal (p. ex., morfina de ação prolongada e morfina de liberação imediata). A dose do analgésico utilizado para tratar a exacerbação da dor deve ser ajustada e titulada com base na intensidade da dor esperada ou da gravidade e na duração do evento desencadeante. Dor espontanea: a dor espontânea ocorre de modo imprevisível e não está relacionada temporalmente com qualquer atividade ou evento. Essa dor é mais difícil de controlar. A utilização dos analgésicos coadjuvantes para a dor neuropática pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade desse tipo de dor. Por outro lado, deve-se administrar tratamento imediato com um analgésico opióide potente de início rápido. Dor ao final do efeito da última dose: essa queixa refere-se a dor que ocorre perto do final do intervalo habitual entre as doses de um analgésico administrado regularmente. Nesse caso, o paciente que utiliza um opióide oral de ação prolongada sempre refere dor várias horas antes da dose seguinte (ou, no caso do adesivo de fentanila, o paciente queixa-se de dor no dia anterior ao da substituição do adesivo). Isso é atribuído a diminuição dos níveis sanguíneos do analgésico de ação prolongada, pouco antes da administração ou da captação da próxima dose programada. Os diários da dor e as perguntas sobre o início da dor ajudam a estabelecer o diagnostico imediato desse tipo de dor. As intervenções terapêuticas incluem aumento da dose do fármaco administrado ao longo do dia, ou diminuição do intervalo entre as doses para incidir no início desse tipo de exacerbação da dor. Por exemplo, o paciente que utiliza morfina de liberação controlada a cada 12h, cuja dor “exacerba” depois de cerca de 8 a 10 h, tem dor ao final do efeito da última dose. A dose deve ser aumentada em 25 a 50%, caso haja tolerância, ou o intervalo entre as doses deve ser reduzido para 8h Progressão da dor A dor oncológica crônica tem dois subtipos Dor persistente: é a dor que não vai embora, mas geralmente pode ser controlada com medicamentos administrados em intervalos regulares Dor disruptiva: é a dor que não é controlada pelas doses regulares de analgésicos. Tem esse nome porque rompe o alivio da dor com uso de analgésicos. Aparece de forma rápida, dura entorno de uma hora e a sensação é muito parecida com ador persistente, exceto que é mais intensa e pode ocorrer várias vezes ao dia. Manifestações clinicas A dor óssea se manifesta com sensação de dolorimento constante, profundo, às vezes contínuo, e surge com os movimentos (dor incidental). Dor na distribuição da estrutura nervosa acometida, com apresentação de dor em queimação, contínua, hiperestesia, disestesia e perda progressiva da sensibilidade. Tratamento Anti-inflamatórios, opióides, antidepressivos, anticonvulsivantes, benzodiazepínicos, corticoides, betabloqueadores, vasoconstritores dentre outros. Mesmo com a utilização dos fármacos e terapias complementares, nem sempre há sucesso na supressão da dor. Esta é o produto final de um processo complexo que pode envolver aspecto emocional, componentes espirituais, cognitivos e sensoriais. Esquema de controle da dor Tomar o analgésico em horários regulares mesmo que na esteja sentindo dor Não pular o horário do medicamento No caso de dor disrutiva, tomar o medicamento de ação rápida. Não espere a dor ficar mais intensa Certifique-se de que apenas um medico prescreva seus medicamentos contra a dor Não evite tomar o medicamento Não tomar medicamentos de outra pessoa Tratamentos para bloquear os impulsos nervosos Cirurgia. A dor não pode ser sentida se as vias nervosas que conduzem os impulsos dolorosos até o cérebro são interrompidas. Para bloquear estas vias, um neurocirurgião pode seccionar os nervos, geralmente próximos à medula espinhal. Bloqueio nervoso. O bloqueio nervoso é um processo em que um anestésico local, muitas vezes combinado com um esteroide, é injetado diretamente no nervo ou ao seu Julia Paris Malaco – UCT13 redor, ou no espaço em torno da medula espinal com o objetivo de bloquear a dor. Analgesia espinhal. Baixas doses de medicamento contra dor podem ser injetadas no fluido da medula espinhal (injeção intratecal). Neuroablação. A neuroablação pode ser útil para alguns tipos de dor. Ela usa terapia de calor (por radiofrequência ou ultrassom) ou terapia de frio (crioterapia) para diminuir a dor. Estimulação nervosa. Estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS); Estimulação da medula espinhal; Estimulação do nervo periférico. Técnicas usadas contra a dor oncológica: Acunpuntura; Biofeedback; Distração; Apoio emocional e aconselhamento; Hipnose; Técnicas de imagens; Relaxamento; Estimulação cutânea; Massagem; Pressão; Vibração; Frio ou calor; Mentol. Escala da dor - OMS Uma diretriz utilizada é a Escada Analgésica, elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1986, que recomenda, com base na severidade da dor e da eficácia dos analgésicos, a adoção dos seguintes passos: Degrau 1 - Leve: Usar analgésicos não opiáceos (acetaminofeno ou drogas anti- inflamatórias não esteroidais, AINH), que, em geral, podem ser comprados sem receita médica; Degrau 2 – Moderada: Se a droga não opiácea, dada na dose e freqüência recomendada não proporciona alívio, se introduz um opióide fraco (codeína ou tramadol); Degrau 3 - Intensa: Se o tratamento com os analgésicos do passo 2 for ineficiente, devem ser prescritos medicamentos opióides fortes (morfina, hidromorfina, oxicodona, fentanil ou metadona). Segundo a OMS, o padrão ouro para o tratamento da dor no câncer é a morfina, pois é um medicamento barato e acessível. Os analgésicos devem ser administrados de preferência pela via oral. Intervalos Fixos: Os analgésicos devem ser administrados a intervalos regulares de tempo. A dose subsequente precisa ser administrada antes que o efeito da dose anterior tenha terminado. A dose do analgésico precisa ser condicionada à dor do paciente, ou seja, inicia-se com doses pequenas, sendo progressivamente aumentada até que ele receba alívio completo, ou seja, titulação da dose opióide. Individualização: A dose correta dos opióides é a que causa alívio da dor com o mínimo de efeitos adversos. Se a analgesia é insuficiente, o paciente deve ser reavaliado e deve-se subir um degrau da escada analgésica e não prescrever medicamento da mesma categoria. Analgésicos não opióides: este grupo de analgésicos é representado por salicilatos, paracetamol, dipirona e anti-inflamatórios não esteroidais. Suas desvantagens estão relacionadas, em especial, aos seus efeitos colaterais, como doença péptica, insuficiência renal, disfunção plaquetária e interação medicamentosa. Possuem como vantagens mecanismo de ação e toxicidade diferentes dos opioides e, portanto, podem ser associados a eles. Não há desenvolvimento de tolerância; Analgésicos opióides: este grupo age principalmente em receptores mu, delta e kappa no sistema nervoso central. Podem ser subdivididos segundo sua potência em fracos e fortes. Os opióides fracos correspondem ao segundo degrau da escada analgésica e são representados por codeína e tramadol. O uso de opióides fortes corresponde ao terceiro degrau, representado por morfina, metadona, oxicodona, fentanil e outros derivados. Recomendam-se utilizar analgésicos opioides Julia Paris Malaco – UCT13 agonistas puros como primeira opção terapêutica; Adjuvantes: este grupo heterogêneo de medicamentos contribui para o alívio da dor, trata os efeitos adversos dos analgésicos e melhora distúrbios psicológicos associados ao quadro álgico; Antidepressivos tricíclicos: bloqueiam a reabsorção de monoaminas e aumentam a atividade das vias de modulação da dor. A dose analgésica é frequentemente menor do que a antidepressiva. Os medicamentos mais indicados são amitriptilina, nortriptilina e imipramina. A dose inicial de amitriptilina é de 12,5 mg ao dia, com aumento gradativo até atingir 50 a 75 mg. Analgesia é usualmente obtida em sete dias. Os efeitos colaterais mais frequentes são sonolência, boca seca, hipo- tensão ortostática e retenção urinária. Os antidepressivos duais como a venlafaxina e duloxetina também possuem efeitos de analgesia; Anticonvulsivantes: reduzem a hiperexcitabilidade neuronal e impedem as descargas paroxísticas da atividade elétrica ligada à neuropatia. São indicados nos casos de dor neuropática lancinante e paroxística. Podem ocorrer confusão mental, sedação, alteração de função hepática e, raramente, leucopenia e trombocitopenia. Os medicamentos mais indicados são carbamazepina, oxcarbazepina, gabapentina e pregabalina; Corticosteroides: inibem a produção de prostaglandinas com redução da inflamação e do edema. São indicados em aumento da pressão intracraniana, compressão nervosa e infiltração de partes moles. As doses são individualizadas e não há consenso na literatura quanto à melhor droga e dose; Bifosfonados: são análogos do pirofosfato inorgânico e inibem a atividade osteoclástica, sendo, portanto, usados como adjuvantes na dor por metástases ósseas generalizadas. Os bifosfonados mais utilizados são pamidronato, ácido zoledrômico e samário (radiofár-maco ligado a um bifosfonado); Neurolépticos: os fenotiazínicos e as butirofenonas são os neurolépticos mais utilizados para analgesia e produzem suas ações antagonizando a dopamina. Apresentam efeito antiemético desejado, prevenindo a ocorrência de vômitos quando associados aos analgésicos opioides. Para dores agudas: usar a escada de forma descendente, ou seja, usar o terceiro ou segundo degrau nos primeiros dias de hospitalização ou após cirurgias/procedimentos dolorosos de acordo e as escalas de mensuração de dor e associados a técnicas de analgesia ou anestesia regional em princípios de analgesia multimodal. Nos dias subsequentes ao trauma tecidual, descera escada analgésica da OMS. Para dores crônicas: Inicia-se pelo primeiro degrau para dores fracas. Quando não ocorre alívio da dor, adiciona-se um opióide fraco para a dor de intensidade leve a moderada (segundo degrau). Quando esta combinação é insuficiente deve -se substituir este opioide fraco por um opioide forte. Somente um medicamento de cada categoria deve ser usado por vez. Os medicamentos adjuvantes devem ser associados em todos os degraus da escada, de acordo com as indicações específicas (antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, bifosfonados, corticosteróides, etc.) Opióides Existem diversas classificações para os opióides: Tradicional: baseada na potência analgésica. O grupo mais potente é composto por agonistas opióides puros, enquanto o grupo intermediário é composto por agonistas parciais. Agonistas opióides puros: (morfina, diamorfina, petidina, fentanil) apresentam alta afinidade com os receptores opióides e elevada atividade intrínseca a nível celular. Agonistas parciais: (buprenorfina, pentazocina) ao ligarem-se aos receptores opióides produzem efeito submáximo quando comparados aos agonistas puros. Antagonistas opióides: (naloxone, naltrexone) possuem afinidade com os receptores, porém nenhuma atividade intrínseca. Origem da droga: quanto à etiologia natural ou sintética. Funcional: quanto à ação no receptor opióide. Julia Paris Malaco – UCT13 Mecanismo de ação Os opióides atuam a nível celular ligando-se aos receptores opióides presentes em todo sistema nervoso central (SNC), especialmente no núcleo do trato solitário, área cinzenta periaquedutal, córtex cerebral, tálamo e substância gelatinosa da medula espinhal. Receptores opióides podem também estar presentes em terminações nervosas aferentes periféricas e em diversos outros órgãos. A eficácia de opióides administrados diretamente ao compartimento central é evidente, porém em caso de administração periférica em situações de pós-trauma ou estado inflamatório sua eficácia não é tão confiável. Os receptores opióides são ligados às proteínas G inibitórias. A ativação dessa proteína desencadeia uma cascata de eventos: Fechamento de canais de cálcio voltagem dependentes ↓ Redução na produção de monofosfato de adenosina cíclico (AMPs) e estímulo ao efluxo de potássio ↓ Resultando em hiperpolarização celular ↓ Tendo como efeito final a redução da excitabilidade neuronal ↓ Resultando em redução da neurotransmissão de impulsos nociceptivos. Os opiáceos atuam sobre receptores específicos em muitos locais situados dentro do SNC para alterar os processos que afetam: percepção da dor e resposta emocional à dor, interferindo diretamente no surgimento do estímulo álgico. A morfina é o protótipo clássico dos opioides. Existem três tipos de receptores opioides: mi (μ), delta (δ) e kappa (κ). Os receptores μ são os mais significativos na ação analgésica, mas os δ e κ (este, mais presente em nível medular) partilham de algumas funções. Cada tipo de receptor é ligeiramente diferente do outro e, apesar de alguns opioides ativarem todos de forma indiscriminada, alguns já foram desenvolvidos a ativar apenas um subtipo. Desta forma, temos: Receptores μ: principais receptores para a morfina, estão envolvidos tanto na percepção da dor quanto com o lado emocional da dor Receptores κ: presentes com maior predominância em nível medular, recebendo toda a aferência álgica que neste nível chega. Receptores δ: estão envolvidos com receptores inibidores dos centros da tosse, respiração, TGI, etc. Os opioides, através de seus receptores acoplados à proteína G, inibem a adenilato ciclase, reduzindo assim o conteúdo intracelular de AMPc. Desse modo, há uma diminuição do Ca2+ citosólico, inibindo a transmissão do impulso doloroso. O grande problema é sua ação indiscriminada em vários receptores, resultando em ações e/ou efeitos colaterais. O receptor μ é responsável pela analgesia, mas também leva à sedação, à depressão do sistema respiratório, do SNC. Ação Espinhal: Os agonistas opioides inibem a liberação de transmissores excitatórios a partir dos nervos aferentes primários e inibem diretamente o neurônio transmissor de dor do corno dorsal. Por conseguinte, os opioides exercem um poderoso efeito analgésico diretamente na medula espinhal. Ação Supra-Espinhal: Atua nas vias descendentes de modulação da dor. Os locais de ligação de opióides nas vias descendentes moduladoras da dor são de importância particular, incluindo o núcleo magno da rafe, o lócus cerúleus e a área da substânciacinzenta periaquedutal do mesencéfalo. Julia Paris Malaco – UCT13 Ação Periférica Local: A injeção de morfina na articulação do joelho após cirurgia produz analgesia eficaz, abalando o antigo princípio de que analgesia é exclusivamente um fenômeno central. Essa hipótese é sustentada pela identificação de receptores “mu" funcionais nas terminações periféricas de neurônios sensitivos. Além disso, a ativação desses receptores periféricos resulta em diminuição da atividade dos neurônios sensitivos e da liberação de transmissor. Portanto, os opioides se ligam aos seus receptores e com isso causam analgesia por inibir a transmissão da via aferente no corno dorsal, por ativar as vias descendentes da dor, e por inibir a excitação das terminações nervosas sensoria is na periferia. Além disso, podem interferir na interpretação afetiva da dor, devido sua ação ao nível do sistema límbico Principais agonistas e antagonistas A morfina é um agonista parcial nos receptores opioides μ e em doses elevadas pode provocar a morte por depressão respiratória, Outros fármacos opioides, como a codeína e o dextropropoxifeno, podem ser chamados de agonistas fracos, pois seus efeitos máximos, analgésicos e adversos, são menores que os da morfina. A buprenorfina é um agonista parcial que se dissocia lentamente dos receptores opioides. Ela causa menor depressão respiratória que outros opioides. A pentazocina possui uma atividade combinada de agonista κ e antagonista μ (ou agonista parcial fraco). Os fármacos com agonista κ normalmente causam disforia em vez de euforia. A naloxona (ação curta) e naltrexona (ação longa) são antagonistas puros e bloqueiam os receptores μ, δ e κ. Os antagonistas seletivos estão disponíveis como instrumentos experimentais. Quando são administrados isoladamente a indivíduos saudáveis produzem muito pouco efeito, contudo pioram a dor crônica e bloqueiam os efeitos dos opioides. Para bloquear as náuseas, os vômitos e a constipação induzidos pelos opioides pode-se utilizar o alvimopan que é um antagonista do receptor μ que não atravessa a barreira hematoencefálica. Alguns fármacos, como a pentazocina, provocam mistura de efeitos κ-agonistas e μ- antagonistas. A naloxona bloqueia a analgesia induzida pelo estresse e pode piorar a dor clínica, porém normalmente o limiar da dor não é afetado. Além disso, atua rapidamente revertendo a analgesia induzida pelos opioides e a depressão respiratória, sendo usado principalmente para tratar superdosagem de opioides ou para melhorar a respiração em bebês recém-nascidos afetados por opioides que foram administrados à mãe. Efeitos farmacológicos e efeitos colaterais SNC: Analgesia (μ); Euforia; Sedação (hipnose); Emético; Antitussígeno (morfina e codeína); Depressão respiratória (baixa sensibilização para PCO2); Miose Efeitos periféricos: Constipação (reduz motilidade e aumento do tônus); Contração das vias biliares e do esfíncter oddi (pode piorardor biliar no cálculo na vesícula); Liberação de histamina. µ1: analgesia supramedular, miose, euforia µ2: analgesia medular, depressão respiratória, redução do trânsito intestinal k1: disforia, analgesia k2: efeitos desconhecidos k3: analgesia supramedular, sedação Delta(δ): analgesia medular e supramedular Analgesia: A morfina exerce efeito na maioria dos tipos de dores agudas e crônicas, porém é importante saber que os opioides normalmente são menos eficazes na dor neuropática do que na Julia Paris Malaco – UCT13 dor associada à lesão tecidual, inflamação ou crescimento tumoral. A morfina é antinociceptiva e também reduz o componente afetivo da dor. Outros fármacos como a pentazocina compartilham as ações antinociceptivas da morfina, porém têm muito menos efeitos sobre a resposta psicológica à dor. Hiperalgesia: O uso prolongado de opioides pode paradoxalmente provocar hiperalgesia, que pode evidenciada pela redução da resposta analgésica à determinada dose de opioides, contudo não deve ser confundida com tolerância que é a redução da responsividade, causada normalmente por dessensibilização do receptor μ. Euforia: Outro efeito importante da morfina é sua capacidade de causar potente sensação de contentamento e bem-estar. No entanto, esta euforia depende de algumas características. Por exemplo, em pacientes angustiados a euforia é pronunciada, porém em pacientes acostumados a dor crônica, o medicamento vai causar analgesia com mínima ou nenhuma euforia. Além disso, em alguns pacientes pode ocorrer agitação ao invés da euforia. Os receptores μ são responsáveis pela euforia, enquanto a ativação dos receptores κ produz disforia e alucinações. De modo que, diferentes opioides variam muito no grau de euforia que produzem. Depressão respiratória: Este efeito é mediado por receptores μ e provoca o aumento da PCO2 arterial, mesmo em doses normais de analgesia, contudo o grau de depressão respiratória possa ser menor em pacientes com dor grave. A depressão respiratória ocorre pela diminuição da sensibilidade do centro respiratório à PCO2 arterial e à inibição da geração do ritmo respiratório. Depressão do reflexo da tosse: O mecanismo deste efeito a nível dos receptores ainda não está claro. Geralmente, substituições no grupo hidroxila fenólico da morfina aumentam a atividade antitussígena em relação à atividade analgésica. Náuseas e vômitos: Esta ação é muito comum em pacientes que usam morfina e ocorre devido a atividade na área postrema que é uma região do bulbo na qual diversos tipos de estímulos podem induzir vômitos. Estes sintomas, normalmente são passageiros e desaparecem com a repetição da administração, contudo, em alguns pacientes possam persistir e afetar a adesão ao tratamento. Constrição pupilar (miose): Este efeito é mediado pelos receptores μ e κ pela estimulação do núcleo do nervo oculomotor. A constrição pupilar é uma característica importantes para diagnóstico na intoxicação por opioides. Ela também é notada em usuários dependentes de opioides por longo período de tempo. Efeitos no trato gastrointestinal: Os opioides podem provocar constipação, isso ocorre devido ao aumento do tônus e redução da motilidade em muitas partes do sistema gastrointestinal. Devido a isso, os opioides devem ser evitados em pacientes que sofrem de cólicas biliares devido a cálculos, nos quais a dor pode ser aumentada em vez de aliviada. Outras ações dos opioides: A morfina provoca liberação de histamina dos mastócitos, causando urticária e prurido localmente (no local da injeção) ou efeitos sistêmicos como broncoconstrição e hipotensão. Este efeito não ocorre com a petidina e a fentanila Devido ao efeito broncoconstritor, os asmáticos não devem utilizar morfina, pois podem ocorrer sérias consequências. Em doses elevadas o paciente pode apresentar hipotensão e bradicardia devido à ação sobre a medula. Além disso, a liberação de histamina pode contribuir para a hipotensão. Retenção urinária: Os opioides causam aumento do tono esfincteriano e vesical, resultando em urgência e retenção. É mais comum quando a via no neuroeixo é utilizada, sendo pouco comum em outras vias. Sedação Sintoma comum na fase inicial do tratamento, porém a tolerância é rapidamente desenvolvida. A terapia combinada com outros medicamentos depressores do SNC pode exacerbar esse sintoma. Na vigência de sedação persistente, a diminuição da dose ou a rotação de medicamento é uma alternativa. Prurido Sensação desagradável mais comum na aplicação no neuroeixo. O meca-nismo ainda é pouco conhecido, acreditando-se que ocorre em decorrência da ativação do receptor no corno dorsal da medula espinal e que, pela via sistêmica, seja pela liberação de histamina. Alucinação e delírio: A alucinação está associada aos casos de câncer, nos quais são observadas alucinações táteis e visuais, e está relacionada a fatores evolutivos e próprios da doença em associação à terapia opioide e a outros medicamentos. O delírio, em associação com Julia Paris Malaco – UCT13 alteração cognitiva, distúrbio do sono, alteração do nível de consciência e distúrbios motores, pode estar presente e deve-se à complexidade das manifestações clínicas, bem como a diferentes fatores etiológicos. É pouco diagnosticado e, geralmente, subtratado. Tramadol O Tramadol (Dorless®, Sineol®, Tramal®) é um opiáceo que é usado principalmente como analgésico de ação central que alivia a dor atuando sobre células nervosas específicas da medula espinhal e do cérebro. Possui um mecanismo de ação mais complexo que os opioides clássicos, modulando as vias monoaminérgicas. O tramadol se combina com os receptores opiáceos do cérebro e bloqueia a transmissão de estímulos de dor. É indicado para o tratamento de dores de intensidade moderada a severa. É estruturalmente relacionado à codeína e à morfina, possuindo dois enantiômeros que contribuem para o seu efeito analgésico. Aumenta a liberação de serotonina e inibe a recaptação de noradrenalina. Não classificado como opioide por alguns por causa de suas características e mecanismos de ação. Causa menos constipação intestinal, depressão respiratória e dependência do que outros opioides em doses analgésicas equipotentes. A absorção do tramadol é rápida e completa após administração oral, com biodisponibilidade de 90%. Possui meia-vida plasmática de 6-7 horas. Excreção é quase totalmente feita pelos rins (90%). Não provoca imunossupressão e o risco de dependência é baixo. Sua potência analgésica é 1/6 a 1/10 da morfina. O tramadol é indicado para dor pós- operatória, traumática, cólica biliar ou renal, trabalho de parto e dor crônica oncológica ou não oncológica, particularmente a dor do tipo neuropática. A dose usual é de 50 a 100mg, de 4/4 ou 6/6 horas ou de 100 a 200mg a cada 12 horas para o tramadol de liberação prolongada. A dose diária máxima recomendada é até 400mg. Codeína A Codeína (Codein®, Paco®, Tylex®) é um fármaco alcaloide do grupo dos opioides, que é usado no tratamento da dor moderada e como antitussígeno. Grande parte da codeína utilizada com finalidades médicas é preparada através da metilação da morfina. Doze vezes de menor potência que a morfina, utiliza-se também em combinação com outros analgésicos da classe dos não opioides, como ácido acetilsalicílico e paracetamol. Cerca de 10% da população caucasoide não consegue converter a codeína em morfina no fígado, por defeitos genéticos. É o opioide de escolha em dor leve a moderada, não controlada com antiinflamatórios. Possui baixa afinidade com os receptoresopioides. É utilizada sob a forma pura em doses de 30 a 60mg, de 4/4 horas ou em associações em intervalos mais prolongados, com dose máxima diária de até 360mg. Acima desta dose, deve-se avaliar a indicação da morfina, para evitar efeitos adversos com doses mais altas de codeína. Sua biodisponibilidade é de 40% a 60%. É metabolizada no fígado e pela desmetilação forma norcodeína e morfina. Aproximadamente, 10% da codeína é transformada em morfina, que é responsável pela sua ação analgésica. Sua potência analgésica é 1/10 em relação à morfina. Porque cerca de 10% da população não possui a isoforma da enzima hepática citocromo P-450 necessária para o seu metabolismo, muitos pacientes não têm ou têm uma analgesia fraca com a codeína. O efeito analgésico ocorre em 20 minutos após administração oral, com efeito máximo em 1-2 horas. Tem bom efeito antitussígeno, semelhante à morfina. Não é recomendada por via venosa, pelo efeito de apneia e hipotensão arterial intensa pela liberação de histamina. Constipação, náuseas e vômitos, tontura e sonolência são seus principais efeitos colaterais. A constipação é mais prevalente com codeína do que com outros opióides. Morfina Há muito tempo, a Morfina (Dimorf®, Morfenil®) é considerada a droga de escolha para sedação e analgesia dos pacientes internados em UTI, especialmente devido à sua boa relação custo- benefício (por ser a droga mais barata). Age em nível dos receptores μ. Por isso, a Morfina é o opiáceo mais utilizado. Além disso, podemos destacar suas principais características, que seguem: Julia Paris Malaco – UCT13 Efeito de pico atrasado (30min) em relação ao Fentanil (por ser 40x mais lipossolúvel que a morfina, o Fentanil tem maior facilidade de entrar no neurônio e, por isso, apresenta um tempo de ação em torno de 4 minutos e um efeito mais forte). Dessa forma, a quantidade de Fentanil que se administra deve ser menor do que a Morfina, para que seja atingido um determinado efeito no paciente. Simpatólise e efeitos diretos no nó sinusal: a morfina tem a capacidade de diminuir a ação do SN simpático, e provoca bradicardia. Propensão a depressão respiratória, como toda droga opiácea; Náusea, íleo e espasmo do esfíncter de Oddi: devido a esta última característica (isto é, levar ao espasmo do esfíncter de Oddi, que consiste na abertura da vesícula biliar), a Morfina está contraindicada para a sedação de pacientes com patologias das vias biliares. Liberação de histamina - promove, desta forma, hipotensão e prurido. Meia vida de eliminação de 4 horas: como foi visto, a Morfina é uma droga que tem um efeito de pico atrasado e uma meia vida de eliminação relativamente longa – características que fazem desta droga, o opiáceo ideal quando se quer obter uma analgesia intermitente (a cada 4 a 6 horas). Metabólito ativo: morfina-6-glicuronídeo. Morfina é o fármaco de escolha para dor intensa. A dose analgésica varia de 5mg até mais de 200mg, a cada 4 horas. Na maioria dos casos, a dor é controlada com doses de 10 a 30mg, de 4/4 horas. A dose adequada é a dose que alivia a dor com mínimos efeitos adversos. O uso da morfina deve ser decidido com base na avaliação da dor do paciente. Deve ser usada de 4/4 horas. Atualmente é disponível a morfina de eliminação prolongada, que pode ser utilizada, após sua titulação com a morfina simples, num intervalo de 12/12 horas. Após administração oral, o pico de concentração plasmática é atingido em aproximadamente 60 minutos. A alimentação não altera a biodisponibilidade da morfina. A morfina é metabolizada formando: morfina-3- glicuronídeo e morfina-6- glicuronídeo, tendo o último ação analgésica significativa. O primeiro é inativo, mas liga-se aos receptores, impedindo a ligação da morfina. Os metabólitos se acumulam em pacientes com insuficiência renal. É bem tolerada em pacientes com hepatopatias, sendo que, nestes pacientes, a sua meia-vida pode aumentar e a dose deve ser espaçada para três a quatro vezes ao dia. Na maioria dos casos, a dor é controlada com doses de 10mg a 30mg, de 4/4 horas, devendo ser aumentada gradativamente, sendo que a dose noturna pode ser dobrada a fim de evitar dor ao despertar. A morfina é um fármaco narcótico e protótipo do grupo dos opioides, que é usado no tratamento sintomático da dor. Ela está presente no ópio e apresenta as seguintes propriedades: Analgesia Euforia e sedação Depressão respiratória Náusea e vômito Constrição pupilar (pupila puntiforme) Redução da motilidade gastrintestinal Liberação de histamina Tolerância e dependência Uso clínico Dor crônica: é a primeira escolha no tratamento da dor crônica pós-operativa, no cancro e outras situações. Tem vindo a ser substituída como primeira escolha pelo fentanil. Dor aguda forte: em trauma, dor de cabeça (cefaleia), ou no parto. Não se devem usar nas cólicas biliares (lítiase biliar ou pedra na vesícula) porque provocam espasmos que podem aumentar ainda mais a dor. Não é primeira escolha na dor inflamatória (são usados AINEs). Na anestesia geral é utilizado como adjuvante a gás anestésico principal. Contraindicações Hipertensão craniana como na meningite: pois os opioides acentuam ainda mais esta hipertensão, aumentando a volemia desta região; Gravidez: deve-se evitar opioides durante a gestação pois muitos deles atingem o feto, podendo realizar a depressão respiratória da criança ao nascer; Insuficiência renal; Insuficiência hepática; Patologias das vias biliares; Hipotensão; Infarto de ventrículo direito (justamente por induzir a hipotensão); Juntamente com outros depressores do SNC, como álcool, benzodiazepinas e barbitúricos, antipsicóticos ou antidepressivos. Oxicodona É um agonista mu, com atividade como agonista kappa. Por sua ação nos receptores kappa, tem vantagens na dor de origem visceral como na Julia Paris Malaco – UCT13 cólica biliar ou doenças do pâncreas. É um derivado da tebaína. Biodisponibilidade oral de 60% a 87%, duas vezes maior do que a morfina (20% a 25%). É metabolizada no fígado. É mais potente que a morfina por via oral e a relação da sua dose com a morfina varia entre 1:2 e 3:4. Dos seus metabólitos, apenas a oximorfona tem demonstrado atividade opioide agonista significativa em humanos, com potência estimada em quatro vezes a da oxicodona. Devido à sua baixa concentração plasmática, a oximorfona promove pequeno ou nenhum efeito analgésico. A noroxicodona é o principal metabólito circulante, com atividade analgésica mais fraca que a oxicodona (1/100) e não contribui para o seu efeito. A oxicodona de liberação cronogramada é caracterizada por mecanismo de absorção bifásico, isto é, inicialmente o princípio ativo é rapidamente liberado e absorvido, seguido de uma fase de liberação prolongada apresentando meia-vida de absorção de aproximadamente 0,6 hora na primeira fase (38% da dose disponível) e 6,9 horas na segunda fase (62% da dose disponível). Atua, então, com rápido início de ação e duração prolongada, permitindo a administração a cada 12 horas. O perfil farmacodinâmico é previsível e o alívio da dor ocorre após uma hora, persistindo por cerca de 12 horas na formulação de liberação cronogramada. Os efeitos adversos são os mesmos dos outros opioides. Metadona Opióide forte com alto potencial analgésico, boa absorção e biodisponibilidade oral (75%). Utilizado principalmente como substituto de opióides, como a diamorfina (heroína), nos casos de abuso, pois sua alta latência e duração prolongada reduzem a incidência dos sintomas de abstinência. Pode causar dependência. Agonista Mu BloqueadorNMDA Inibe recaptação de serotonina Padrão para tratamento de adicção Eficaz em dores neuropática Longa meia vida e duração de ação Menos dependência, menos euforia e menos sedação Qualquer via de administração Biodisponibilidade de 50% Injetável é pouco mais potente que a morfina Via SC deve ser evitada por toxicidade cutânea O uso repetido torna 3 vezes mais potente que a morfina Duração da analgesia 2 vezes maior (6 a 12 h) Acúmulo (meia vida de 12 a 18 h) Biotransformação hepática Eliminação biliar e renal Comprometimento renal e hepática não aumenta a meia vida Abstinência mais tardia e mais branda Representante: Mytedon 5 e 10 mg (comp) Posologia: Injetável 10 mg/ml. Em crianças 0,1 a 0,2 mg/kg A metadona, opióide sintético de meia-vida longa, deve ser administrada inicialmente em doses de 15-30 mg/dia, podendo ser aumentada conforme presença de sintomas de abstinência. A dose pode ser reduzida em aproximadamente 10% por dia, levando em conta sintomas de abstinência. Por vezes esta redução pode ser mais lenta. Para tratar pacientes com dor crônica e dependência de opioide geralmente é feita a troca por metadona ou buprenorfina. Além disso, o paciente deve receber tratamento multidisciplinar para a dependência de opioides e dor crônica, que incluem psicoterapias, grupos de autoajuda mútua, e terapia cognitivo comportamental. A metadona é usada para evitar a síndrome de abstinência e bloquear os efeitos de euforia do consumo de opioides. Entretanto, pode causar arritmia ventricular e aumento de morte associada a esse opioide, com controvérsias quanto a seu uso. Uso da metadona no tratamento da dependência A Metadona é uma droga utilizada para tentar substituir a morfina (e amenizar os seus efeitos de dependência), pois ela age de maneira fraca (agonista fraca), mas prolongada, nos receptores μ, podendo promover um “desmame” de pacientes intoxicados com morfina. Metadona é um opióide sintético. Atua em receptores opióide e NMDA (inibição), tendo indicação na dor somática e também na dor neuropática. Pode ser indicada para tratamento da dor crônica não oncológica e para o tratamento de pacientes com narcodependência. Droga utilizada para desmame pois é um agonista fraco, prolongado nos receptores mi Julia Paris Malaco – UCT13 - possui boa biodisponibilidade oral, uma longa meia vida que permite sua dosagem única diária e em doses suficientes produz tanto a supressão dos sintomas de abstinência de opióides como bloqueio dos efeitos de outros opióides. Meia vida da metadona com doses menores. A dependência é adquirida de forma mais lenta. Tolerância, dependência e abstinência Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: Necessidade de quantidades muito maiores da substância para que haja intoxicação ou o efeito desejado. Acentuada redução do efeito com o uso contínuo da mesma quantidade de substância. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: A síndrome de abstinência característica para a substância (definida pelos critérios da APA para abstinência de uma substância específica). A mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Tolerância Refere-se à diminuição do efeito de uma droga com o uso contínuo. A tolerância ocorre quando a administração repetida de uma droga provoca um desvio da curva de dose-resposta para a direita, de modo que seja necessária uma maior dose (concentração) da droga para produzir o mesmo efeito. Uma droga pode causar tolerância por diversos mecanismos. A primeira administração de uma droga produz uma curva de dose resposta característica; após administração repetida da mesma droga, porém, a curva de dose resposta desvia-se para a direita, pois são necessárias doses maiores para produzir a mesma resposta. O efeito oposto, denominado sensibilização (também chamado de tolerância inversa), refere- se a um desvio da curva de dose-resposta para a esquerda, de modo que a administração repetida de uma droga provoca um maior efeito de determinada dose ou há necessidade de uma dose menor para obter o mesmo efeito. É interessante notar que pode haver tolerância e sensibilidade simultâneas a uma droga. A tolerância inata refere-se a variações individuais na sensibilidade à droga que estão presentes desde sua primeira administração. A tolerância que se desenvolve com o passar do tempo é denominada tolerância adquirida. Três classes de mecanismos determinam o desenvolvimento da tolerância adquirida: farmacocinética, farmacodinâmica e aprendida. A tolerância farmacocinética surge quando há aumento da capacidade de metabolizar ou excretar a droga ao longo do tempo. Na maioria das vezes, o aumento do metabolismo é atribuível à síntese induzida de enzimas metabólicas como o citocromo P450. Nesses casos, a tolerância farmacocinética resulta em menor concentração plasmática da droga em qualquer dose. A tolerância farmacodinâmica, o mecanismo mais importante de tolerância, é causada por alterações na interação droga receptor. Essas alterações podem incluir a diminuição do número de receptores ou uma modificação na via de transdução do sinal. Outra forma de tolerância é a denominada tolerância aprendida. Na tolerância aprendida, uma droga produz alta ocorre quando indícios ambientais associados à exposição a uma droga induzem alterações compensatórias preventivas, Julia Paris Malaco – UCT13 chamadas de resposta de oposição condicionada. Esse mecanismo de condicionamento é um fenômeno inconsciente. Por exemplo, a visão dos acessórios associados ao uso de uma droga como a cocaína (que causa taquicardia) pode provocar uma bradicardia preventiva. Abstinência A abstinência dos opióides é desconfortável, mas não letal. Os sintomas podem surgir logo em quatro horas depois da interrupção do uso do opióide e, em geral, alcançam seu ponto máximo depois de 48 a 72 horas. Normalmente, esses sintomas desaparecem depois de cerca de uma semana, embora esse período possa variar consideravelmente, dependendo de qual opioide é usado. Cada opioide é eliminado do corpo a uma taxa diferente, o que altera a rapidez com que a abstinência progride e para. Os sintomas de abstinência são piores nas pessoas que usaram doses altas por um longo tempo: Primeiro, a pessoa se sente ansiosa e anseia pela droga. A respiração se torna rápida, normalmente acompanhada de bocejo, transpiração, olhos lacrimejantes, corrimento nasal, pupilas dilatadas e cólicas estomacais. Depois, a pessoa pode ficar hiperativa e agitada e ter seu estado de alerta aumentado. Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Outros sintomas de abstinência incluem: Pele arrepiada; Tremores; Espasmos musculares; Febre e calafrios; Dores musculares; Perda de apetite; Náusea e vômito; Diarreia A Metadona é uma droga utilizada para tentar substituir a morfina (e amenizar os seus efeitos de dependência), pois ela age de maneira fraca (agonista fraca), mas prolongada, nos receptores μ, podendo promover um “desmame” de pacientes intoxicados com morfina. Dependência Dependência Física: é a necessidade da droga para manter o funcionamento normal. Na ausência da droga, revelam-se as adaptações que produziram a tolerância. A característica da dependência física é a manifestação de sintomas de abstinência na ausência da droga. A tolerância e a dependência física são provocadas por mecanismos semelhantes; no entanto,como é possível haver dependência sem tolerância e vice-versa, fica claro que nossa compreensão desses fenômenos é incompleta. Dependência Psicológica: Os sintomas mais comuns são ansiedade, sensação de vazio, dificuldade de concentração, mas que podem variar de pessoa para pessoa. Radioterapia Os tumores podem causar sintomas em seu sítio primário, ou seja, no local onde se originou, bem como a distância (metástases). Os principais sintomas causados pela doença são dor, compressão e sangramento. Nestas situações a radioterapia pode ser utilizada com objetivo antiálgico (para aliviar a dor), descompressivo e hemostático respectivamente, proporcionando qualidade de vida para os pacientes oncológicos. A radioterapia paliativa pode ser subdividida em três grupos: radioterapia antálgica, cito-redutora e descompressiva visa o alívio da dor e/ou redução da massa tumoral infiltrativa, desconfortável, orgânica ou ulcerados, massas tumorais inestéticas (por exemplo, metástases cerebrais, metástases ósseas, mamas com tumores volumosos e dolorosos, volumosos e não passíveis de tratamento curativo). A radioterapia profilática refere-se à consolidação óssea, numa forma de prevenir as fraturas patológicas e eventuais fenómenos compressivos que poderão suscitar compressões medulares (por exemplo, metástases ósseas localizadas em ossos de suporte como o fémur, ou na coluna pelo risco de fratura). Por último, a radioterapia hemostática é utilizada no controlo de hemorragias incontroláveis (por exemplo, hemorragias ginecológicas, hematúrias, mama ulcerada e sangrante). Casos como a síndrome da veia cava superior, a compressão medular e as hemorragias constituem as emergências em radioterapia. A radioterapia paliativa pode ter um importante papel no alívio deste tipo de dor, quando as lesões estão bem localizadas e não são universais. A radioterapia é considerada o tratamento standard para doentes oncológicos que tenham metástases ósseas sintomáticas. O alívio da dor em metástases ósseas corresponde a cerca de 20% de todos os tratamentos de radioterapia aplicados. Julia Paris Malaco – UCT13 Radioterapia paliativa Os procedimentos radioterápicos, onde sabidamente não há intenção curativa, estão indicados quando esta for a melhor forma, ou eventualmente a única, de paliar sintomas significativos não passíveis de intervenção por outros métodos terapêuticos mais simples. O objetivo do tratamento radioterápico paliativo é o controle de sinais ou sintomas devidos ao crescimento tumoral. Pode incluir todo ou apenas parte do volume tumoral macroscópico como no caso da irradiação de uma metástase vertebral em um doente com disseminação óssea profusa. Considerando a necessidade de alívio rápido dos sintomas e as eventuais dificuldades para locomoção até o serviço de radioterapia, dar-se preferência aos esquemas mais simples de tratamento, com menos frações, desde que essa escolha não prejudique a eficácia do tratamento. Indicação: Metástases ósseas: A metástase óssea é a principal é a mais frequente indicação de radioterapia paliativa. Sua indicação é limitada pelo volume total de medula óssea a ser irradiado, ou seja, pelo histograma dose-volume (HDV) das estruturas críticas. Fratura patológica: Na fratura patológica a radioterapia tem papel de atuação em conjunto com a cirurgia ortopédica paliativa. Compressão medular: A radioterapia pode ser utilizada em detrimento da laminectomia em duas circunstâncias: Tumores de alta sensibilidade à radioterapia como os germinomas e os linfomas onde a resposta ao tratamento pode ser rápida, com recuperação da função neurológica e sem os eventuais contratempos do procedimento cirúrgico; Doentes com contraindicação clínica para procedimentos cirúrgicos de porte moderado. Metástases cerebrais (hipertensão intracraniana) A radioterapia está indicada como coadjuvante ao tratamento com corticoides e anticonvulsivantes, que deve ser instituído imediatamente ao diagnóstico da hipertensão intracraniana. A indicação de radioterapia, nessas circunstâncias, visa limitar o crescimento tumoral, eventualmente reduzir o volume das metástases, permitindo um melhor controle sintomático do quadro. Inibidores de atividade Osteoclástica: Dentre os fármacos com ação antirreabsortiva estão os bifosfonatos, a calcitonina, os estrogênios e os moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (SERMs). Bifosfonatos: são análogos do pirofosfato inorgânico e inibem a atividade osteoclástica, sendo, portanto, usados como adjuvantes na dor por metástases ósseas generalizadas. Os bifosfonados mais utilizados são pamidronato, ácido zoledrômico e samário (radiofármaco ligado a um bifosfonado); Mecanismo de ação baseia-se a partir da inibição do fator de ativação de osteoclastos, o qual é um ativador álgico e também proporciona ativação dos osteoclastos para degradação da matriz óssea. Esta classe caracteriza-se como potentes inibidores da reabsorção óssea, sendo, por isso, denominados agentes antirreabsortivos, e são compostos capazes de aumentar a densidade do osso bem como reduzir o risco de fraturas no quadril, na coluna vertebral e em outros ossos. Os compostos de primeira geração são menos potentes e, em geral, causam desmineralização óssea, como é o caso do etidronato. Com o avanço do conhecimento clínico, foi possível perceber que o processo de inibição da mineralização óssea realizado pelo etidronato apresentava-se como uma desvantagem, visto que se este fármaco fosse utilizado de maneira contínua poderia levar ao surgimento da osteomalácia, um distúrbio do metabolismo ósseo caracterizado por uma mineralização deficiente da matriz osteoide do osso com acúmulo deste tecido pouco mineralizado. Por isso, houve a necessidade de se desenvolver novos compostos que minimizassem este efeito, passando a surgir os compostos de segunda e terceira geração. Os compostos de segunda geração, os aminobifosfonatos, como o alendronato e pamidronato apresentam uma potência 10 a 100 vezes maior que os compostos de primeira geração. Os compostos de terceira geração, como o risedronato e zoledronato, além de possuírem ação mais potente que os da primeira geração, têm a vantagem de poderem ser utilizados de maneira contínua, uma vez que a dose Julia Paris Malaco – UCT13 antirreabsortiva é muito inferior à dose que provoca alterações na mineralização. Esses compostos permitem uma redução do processo de reabsorção óssea de maneira dose- dependente e atuam principalmente por meio da inibição do recrutamento de osteoclastos e pela promoção da apoptose dessas células, além de agir por meio da inibição da liberação de interleucinas e outras substâncias que promovem o processo de reabsorção óssea. Os bifosfonatos atuam sobre os osteoclastos por meio de mecanismos diferentes: Os compostos desprovidos de nitrogênio como o etidronato, clorodronato e tiludronato são metabolizados a um análogo tóxico de adenosina trifosfato (ATP) que se acumula na célula, comprometendo sua função e viabilidade, levando à morte celular. Já os aminobifosfonatos, como o alendronato, risedronato, ibandronato e zoledronato não sofrem metabolismo, mas atuam interferindo na ação enzimática da via 3-hidroxi-3-metil- glutaril Coenzima A redutase, inibindo, assim, diversas etapas da via do mevalonato que leva à formação de colesterol e lipídios isoprenoides necessários na prenilação de diversas proteínas importantes para o funcionamento adequado dos osteoclastos. Assim, o efeito global da interferência destes compostos nesta via é inibir o recrutamento dos osteoclastos na superfície óssea e a atividade destascélulas e, por fim, induzir a apoptose ou morte celular, encurtando o ciclo de vida dos osteoclastos. Os bifosfonatos também atuam sobre os osteoblastos, de maneira indireta, promovendo a estimulação da atividade destas células e, consequentemente, aumentando a formação óssea.5,37 O resultado da ação desses compostos é a inibição da reabsorção osteoclástica do osso, tornando possível a formação de um novo osso durante a remodelagem, o que pode levar ao ganho na densidade óssea. Os bifosfonatos podem ser usados para prevenção ou tratamento da osteoporose induzida por glicorticoides e da osteoporose pós- menopausa, sendo utilizados, neste caso, em associação aos estrogênios ou como substitutos destes. O alendronato foi o primeiro bisfosfonato oral aprovado para o tratamento e prevenção da osteoporose pós-menopausa e da osteoporose associada ao uso de glicocorticoides. O etidronato, alendronato e risedronato, além de apresentarem aumento da massa óssea na coluna e no fêmur, reduzem o risco de fraturas vertebrais em cerca de 30 a 50%, enquanto o alendronato e risedronato reduzem o risco de fraturas não vertebrais em mulheres com osteoporose.15,36 O pamidronato também proporciona proteção ao esqueleto e pode ser utilizado em pacientes que apresentem desconforto esofágico grave causado pelos bifosfonatos orais, sendo este fármaco administrado por via intravenosa. Os bifosfonatos são pouco absorvidos no intestino após administração oral e possuem uma biodisponibilidade oral muito baixa. Cerca de 20 a 60% do total absorvido vai para os ossos, podendo permanecer durante meses ou anos nos locais de mineralização óssea, dependendo do processo de renovação do osso. Já o restante do fármaco livre é rapidamente excretado na urina. A meia-vida dos bifosfonatos circulantes é curta, principalmente pela sua rápida entrada na estrutura óssea. Com exceção do etidronato e do pamidronato por via intravenosa, todos os bifosfonatos podem causar irritação gástrica, distúrbios intestinais graves e, em alguns casos, dor óssea. O alendronato pode causar esofagite, enquanto o etidronato dissódico pode elevar o risco de fraturas em consequência da calcificação reduzida do osso.37 Esses medicamentos são contraindicados para pacientes que apresentem quadro de insuficiência renal, distúrbios de motilidade do esôfago e presença de úlcera péptica. Zometa É um medicamento usado para tratar metástases ósseas e para reduzir a quantidade de cálcio no sangue de pacientes com hipercalcemia induzida por tumor (HIT). Também é usado para prevenir complicações relacionadas ao esqueleto (como por exemplo, fraturas patológicas) em pacientes com tumor maligno avançado com metástases ósseas. Também é indicado para prevenção da perda óssea decorrente do tratamento antineoplásico à base de hormônios em pacientes com câncer de próstata ou câncer de mama. Mecanismo de ação O princípio ativo do Zometa é o ácido zoledrônico. Ele pertence a um grupo de medicamentos denominado bisfosfonatos, altamente potentes que atuam especificamente no osso. É um dos mais potentes inibidores da reabsorção óssea osteoclástica conhecida até o momento. Julia Paris Malaco – UCT13 A ação seletiva dos bisfosfonatos no osso é baseada na sua elevada afinidade por osso mineralizado, mas o mecanismo molecular preciso que conduz à inibição da atividade osteoclástica é ainda desconhecido. Inibe a reabsorção óssea sem afetar adversamente a formação, mineralização ou propriedades mecânicas do osso. O ácido zoledrônico age ligando-se ao osso e diminuindo a taxa de reabsorção óssea. É usado para reduzir a quantidade de cálcio no sangue nos casos em que esta quantidade é muito alta devido à presença de um tumor. Os tumores podem acelerar a reabsorção óssea normal de modo que a liberação de cálcio do osso fique aumentada. Esta condição é conhecida como hipercalcemia induzida por tumor (HIT). É administrado como uma infusão na veia. Cuidados paliativos Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais. Os cuidados paliativos devem incluir as investigações necessárias para o melhor entendimento e manejo de complicações e sintomas estressantes tanto relacionados ao tratamento quanto à evolução da doença. Apesar da conotação negativa ou passiva do termo, a abordagem e o tratamento paliativo devem ser eminentemente ativos, principalmente em pacientes portadores de câncer em fase avançada, onde algumas modalidades de tratamento cirúrgico e radioterápico são essenciais para o alcance do controle de sintomas. Considerando a carga devastadora de sintomas físicos, emocionais e psicológicos que se avolumam no paciente com doença terminal, faz- se necessária a adoção precoce de condutas terapêuticas dinâmicas e ativas, respeitando-se os limites do próprio paciente frente a sua situação de incurabilidade. A abordagem dos Cuidados Paliativos: Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispnéia e outras emergências oncológicas. Reafirmar vida e a morte como processos naturais. Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente. Não apressar ou adiar a morte. Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente. Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. Controle da Dor: ajudar o paciente a se sentir mais confortável, permitindo que fique no controle para que possa desfrutar mais de sua vida. Home Care e Internação do Paciente: Embora os cuidados paliativos estejam focados no tratamento de home care, em alguns momentos pode ser necessária uma internação hospitalar ou em um hospice. A equipe de cuidados paliativos acompanhará a internação e estará envolvida nos cuidados dos pacientes e de seus familiares. Em caso de alta, o paciente voltará a receber cuidados de home care junto com seus familiares em casa. Substituição Temporária: Para pacientes que recebem cuidados em casa, pode ser oferecida a substituição temporária para permitir que amigos e familiares possam ficar por um tempo afastados dos cuidados ao paciente. A substituição temporária pode ser feita em períodos de até 5 dias, quando o paciente passa a receber os cuidados paliativos em uma casa de repouso ou hospital. As famílias podem planejar uns dias para relaxar, ir a algum evento ou simplesmente descansar em casa. Cuidado Espiritual: está configurado para atender as necessidades específicas de cada paciente. Isso inclui ajudar o paciente a encontrar o significado da finitude, permitindo que ele se despeça ou ainda realize algum ritual ou cerimônia religiosa. Reuniões e Encontros Familiares: são conduzidas muitas vezes por uma enfermeira ou assistente social mantêm os familiares do paciente informados sobre sua condição e o que esperar. As reuniões familiares possibilitam o compartilhamento dos sentimentos, a oportunidade de falar sobre o que está Julia Paris Malaco – UCT13 acontecendo e das necessidades em aprender a lidar com a finitude e o processo da morte. Os membros de uma família podem encontrar apoioe um grande alívio nesses encontros. Coordenação dos Cuidados: A equipe interdisciplinar de cuidados paliativos coordena e supervisiona todos os aspectos do cuidado do paciente, 7 dias por semana, 24 horas por dia. Esta equipe é responsável por certificar-se de que todos os envolvidos compartilham as informações sobre o paciente. Isso pode incluir a internação, o home care, o médico e outros profissionais da comunidade, como farmacêuticos, clero e pessoal do serviço funerário. O paciente e seus cuidadores são incentivados a entrar em contato com sua equipe de cuidados paliativos, de imediato, caso ocorra algum problema, a qualquer hora do dia ou da noite. Há sempre alguém de plantão para ajudar em tudo o que possa eventualmente acontecer. Os cuidados paliativos asseguram ao paciente e seus familiares que não estão sozinhos e que a ajuda da equipe pode ser obtida a qualquer momento. Profissionais envolvidos em oferecer os Cuidados Paliativos: A abordagem ao paciente e família é feita por uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos e farmacêuticos, em atividades diretamente ligadas às necessidades biopsicossociais. Entretanto, administrativos, motoristas, capelães, voluntários e cuidadores também acompanham e apoiam os membros da família e da equipe em prol do bem-estar do paciente. Luto: Luto é o momento após uma perda. A equipe de cuidados paliativos trabalha com familiares e cuidadores para ajudá-los durante o processo de luto. Um voluntário treinado, um membro do clero ou conselheiro profissional pode dar o suporte por meio de visitas, telefonemas ou outro contato, bem como através de grupos de apoio. Caso necessário , a equipe de cuidados paliativos pode indicar aos familiares e amigos outro profissional. Muitas vezes os cuidados com o luto podem se estender por um ano após a morte do paciente. Fases da assistência paliativa 1ª fase (Morte não provável): maior chance de recuperação - indicado o tratamento curativo/restaurativo pleno com o tratamento paliativo enfocado no controle dos sintomas e na boa comunicação. A ênfase assistencial está focada na sustentação dos sistemas vitais e na recuperação da pessoa (mas não é sinônimo de cura), sem que sejam descuidados os cuidados de conforto psicoemocional do binômio pessoa doente-família. 2ª fase (Morte prevista para meses ou poucos anos): Evolução para irreversibilidade da doença – priorização da qualidade da vida, com instituição de tratamento curativo/restaurativo quando considerado proporcional 3ª fase (Morte prevista para dias ou meses): Doença irreversível e morte iminente - A ênfase assistencial está focada no oferecimento e na manutenção do conjunto de cuidados para conforto físico e psicoemocional do binômio pessoa doente/família Fases do luto: negação raiva barganha depressão aceitação Tratamento multimodal O tratamento da dor, tanto crônica quanto aguda, hoje se dá de forma multimodal. O conceito de analgesia multimodal foi desenvolvido em torno da dor pós-operatória. Essa técnica considera o emprego da associação de substâncias que atuam em diferentes locais da transmissão dolorosa no sistema nervoso periférico e central, de forma a proporcionar analgesia de boa qualidade e evitar efeitos colaterais. Isso por conta da redução da dose individual dos fármacos, por efeito aditivo ou sinérgico. Exames de imagem Ressonância magnética funcional: A imagem por ressonância magnética funcional (RMF) é uma técnica específica de uso da imagem por ressonância magnética (MRI, do inglês Magnetic Julia Paris Malaco – UCT13 Resonance Imaging) capaz de detectar variações no fluxo sanguíneo em resposta à atividade neural. Apesar de as vias sensitivas serem bem estabelecidas, o processamento cerebral da dor ainda e ́ obscuro. Por meio da RMF, neurocientistas inicialmente buscaram localizar as áreas encefálicas correlacionadas com a dor. Os achados desses estudos em indivíduos normais motivaram a investigação de doentes com dor crônica com o objetivo de compreender a sua fisiopatologia para, posteriormente, buscar formas mais adequadas de tratamento. Os estudos de neuroimagem funcional demonstram que várias áreas do encéfalo estão relacionadas ao processamento dos estímulos dolorosos. Essas áreas formam uma rede de processamento complexa, cujas interações não são totalmente conhecidas. A estimulação álgica visceral ou somática em indivíduos saudáveis ativa as seguintes áreas (em ordem decrescente, de acordo com os estudos conduzidos até o momento): Córtex insular: Os estudos de neuroimagem funcional revelam ativação da insula em tarefas relacionadas ao componente afetivo dos estímulos sensitivos, com aumento da sua atividade quando é ultrapassado o limite álgico. Cíngulo anterior e córtex pré-frontal medial: O cíngulo anterior pode ser visto como área integrativa responsável pelo processamento de vários eixos (afeto, atenção sustentada, orientação e antecipação), que estão representados em diversas regiões do cíngulo anterior. A cingulotomia em doentes com dor crônica reduz a ação da dor (principalmente seu componente emocional). Tálamo: A ativação talâmica frequentemente é bilateral, reflete reação de alerta a dor. Portanto a ativação talâmica deve ser considerada parte da rede discriminativa e atencional relacionada ao processamento da dor. Área somestésica primária: Alguns estudos conseguiram correlacionar a intensidade do estimulo doloroso com o aumento da ativação da área somestésica primária (SI). Do ponto de vista prático, quanto maior a área (e, provavelmente, quanto maior a duração do estimulo), maior a probabilidade de haver ativação da área SI Córtex pre ́-frontal e parietal posterior: Há ativação do córtex pré-frontal dorsolateral e, em menor extensão, do córtex parietal posterior também nos estudos sobre dor. Substancia cinzenta periaquedutal: A atividade do tronco encefálico no processamento doloroso ocorre predominantemente na substancia cinzenta periaquedutal mesencefálica. Entretanto a inspeção cuidadosa dos achados mostra que normalmente a atividade estende-se pela formação reticular, o que pode refletir a ativação de circuitos relacionados à reação de alerta, ao controle da dor ou a ambos. Alguns autores denominaram esse conjunto de a ́reas como “matriz da dor” (pain matrix) e o melhor conhecimento dessa rede pode revelar novos alvos terapêuticos ou até mesmo novos procedimentos para o tratamento neurocirúrgico funcional da dor. Os estudos com RMF ainda mostram claramente que a dor possui modulação afetiva, de forma que estados negativos do humor, tais como medo ou tristeza, foram associados à piora na percepção dolorosa, e também modulação pela atenção, de tal forma que o aumento da demanda cognitiva ou o engajamento e necessidade de desempenhar uma tarefa específica, parece levar a uma atenuac ̧a ̃o da sua percepção.
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