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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 3 – ABERTURA: DOENÇA MISTA DO TECIDO CONJUNTIVO: A doença mista do tecido conjuntivo (DMTC) corresponde a um distúrbio mediado pela elevação de anticorpos anti-U1 RNP, causando uma síndrome com características semelhantes ao lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica e polimiosite. Sua ocorrência é mais comum em mulheres, com uma proporção que varia de 3 a 16:1. A etiopatogenia desse quadro ainda é muito pouco conhecida, porém observa-se a presença de infiltrados inflamatórios com células T citotóxicas nas fibras musculares de pacientes afetados QUADRO CLÍNICO: Os sintomas iniciais do quadro são inespecíficos, como mal-estar, febre baixa e artralgia ou mialgia. Com a progressão da doença, praticamente todo sistema orgânico pode ser afetado pela DMTC, porém, de forma a não confundir esse quadro com outros acometimentos generalizados do tecido conjuntivo, 4 aspectos podem ser observados: Fenômeno de Raynaud ou inchaço nas mãos e dedos; Fenômeno de Raynaud o Se identificado junto à presença de fatores antinucleares, o quadro tem relação com o tecido conjuntivo, porém não é possível especificá-lo. Inexistência de doenças graves no sistema excretor ou no SNC; Hipertensão pulmonar insidiosa sem fibrose; Presença de autoanticorpos anti-U1 RNP As principais manifestações clínicas são: Alterações na pele: é um dos primeiros órgãos a serem afetados em pacientes com DMTC, tendo como principal acometimento o fenômeno de Raynaud. Também é comum o edema de dígitos (ou de toda a mão, ocasionalmente) e a ocorrência de vasculites, acrosclerose (rigidez dos dedos) e calcinose cutânea (acúmulo de cálcio na pele). A presença de lesões cutâneas em placas ou em rash malar é indistinguível do lúpus. Pode haver autoamputação em casos graves do fenômeno de Raynaud. Edema difuso nas mãos e dedos Artrite: as lesões articulares são mais frequentes na DMTC do que no lúpus eritematoso sistêmico, havendo deformidades em pescoço de cisne e erosões ósseas; Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Deformidade osteoarticular em paciente com DMTC Erosão óssea (seta branca) em radiografia de paciente com DMTC Miosites: a mialgia é um sintoma comum em pacientes com DMTC, porém a maior parte desses indivíduos não apresenta perda de força ou alterações em eletroneuromiografia. Por vezes o quadro é histologicamente semelhante à miosite inflamatória idiopática, mesmo que, clinicamente, não seja possível classificar adequadamente o quadro; Doenças cardíacas: correspondem a cerca de 20% da mortalidade por DMTC, sendo a pericardite a apresentação clínica mais comum. O eletrocardiograma anormal é um achado comum, podendo apresentar bloqueios de ramo ou alterações atrioventriculares. Derrames pericárdicos e prolapso da válvula mitral podem ser encontrados por ecografia em até ¼ dos portadores; Envolvimento pulmonar: o acometimento respiratório pode estar presente em até 75% dos pacientes com DMTC, ocorrendo numa série de possíveis manifestações: o Derrame pleural; o Doença pulmonar intersticial; o Hipertensão pulmonar: é uma das principais causas de morte entre pacientes com DMTC, causada por proliferação e hipertrofia de arteríolas pulmonares, afetando a capacidade respiratória e produzindo múltiplos achados radiográficos (relacionados tanto aos pulmões quanto ao coração); o Doenças tromboembólicas; o Disfunções no diafragma; o Pneumonites/pneumonias; o Infecções pulmonares; o Doença obstrutiva de vias aéreas. Distúrbios renais: não são muito frequentes, porém pode haver nefropatia por membrana; Acometimento gastrintestinal: o acometimento mais comum é a disfunção de motilidade no TGI superior, com atrofia e perda de células musculares no esôfago, processo seguido por acúmulo de proteínas do sistema complemento e imunoglobulinas nos tecidos; Doenças do SNC: quadros graves não são frequentes, porém cerca de 25% dos pacientes com DMTC apresentam alguma forma branda de doenças a esse sistema. A manifestação mais frequente é a neuropatia do trigêmeo, que pode causar cefaleia e alterações auditivas; Anormalidades hematológicas: a anemia de baixo grau é bastante comum nesses pacientes, assim como a leucopenia (de forma semelhante ao lúpus). A presença de hipergamaglobulinemia e de fator reumatoide positivo também é observada. DIAGNÓSTICO: A estipulação diagnóstica adequada para a DMTC é de difícil realização, pois o quadro Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO clínico apresenta múltiplas sobreposições com outras doenças reumatológicas. Atualmente, são empregados dois conjuntos de parâmetros para laudar a ocorrência dessa doença, os critérios de Alarcon- Segova e de Kahn. Eles se fundamentam principalmente na presença de autoanticorpos específicos e em sintomas típicos, dentre os quais se destaca o fenômeno de Raynaud. Principais critérios utilizados para o diagnóstico da DMTC TRATAMENTO: O tratamento da doença mista do tecido conjuntivo irá incorporar características terapêuticas das doenças sobrepostas, como o uso de glicocorticoides para manejo das manifestações musculares e articulares da DMTC e a realização de procedimentos intervencionistas para liberação articular. Para minimizar os riscos de osteoporose induzida por esteroides, todo paciente com DMTC deve ser suplementado com cálcio e vitamina D. De forma a evitar prognósticos nefastos resultantes da hipertensão arterial, sua detecção precoce é preconizada, utilizando para tal fim endocardiografias de rotina, que não devem acusar pressão sistólica pulmonar > 36mmHg. Para o controle dos casos detectados, recomenda-se o uso de bloqueadores dos canais de cálcio, elementos anticoagulantes, inibidores da enzima de conversão da angiotensina e métodos de imunossupressão prolongada.
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