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Apostila_de_Pratica_Penal

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“Ser simples é complicado”. 
 Amália Rodrigues 
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REDAÇÃO JURÍDICA 
 
 INTRODUÇÃO 
 
 Foi o tempo em que uma redação prolixa, com palavras difíceis e frases de efeito 
fazia sucesso entre os profissionais destacados no mundo do Direito. 
 
 A Justiça do século XXI terá de buscar caminhos para ser mais eficiente. Um desses 
caminhos passa obrigatoriamente por uma mudança de postura na redação jurídica. 
 
 Escrever corretamente assume no campo do Direito valor maior do que em qualquer 
outro setor. O advogado, que arrazoa ou peticiona, e o juiz, que sentencia ou despacha, têm de 
empregar linguagem escorreita e técnica. A boa linguagem é um dever do operador do direito 
para consigo mesmo. 
 
 A linguagem é um meio de transmissão de ideias. Quanto melhor for o meio, melhor 
será a transmissão. No Direito, a transmissão terá que ser perfeita, a fim de alcançar seus altos 
objetivos. 
 
 A PALAVRA DE ORDEM É: OBJETIVIDADE 
 
 Síntese, clareza e objetividade: quando redigir uma peça jurídica, antes de pensar no 
que se quer escrever, deve-se pensar no que o destinatário daquela peça quer ler. 
 
 Experimente ler uma petição inicial extensa, cheia de citações óbvias, parágrafos 
repetitivos e pouca organização. Você provavelmente vai ler as primeiras palavras de cada 
parágrafo e passará a pular para o parágrafo seguinte, numa tentativa de captar apenas o que 
interessa, mas correndo o risco de pular algo importante. 
 
 A redação perfeita deve pautar-se pela síntese, clareza e objetividade. Síntese para 
dizer o necessário com o mínimo de palavras possíveis. Mas lembre-se sempre, sem ser omisso. 
Clareza, para que essas palavras traduzam tudo que é preciso dizer de uma forma fácil de 
entender. E finalmente objetividade, para que a redação fique restrita a demonstrar o que se 
pretende com aquela peça jurídica. 
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 “O estilo há de ser fácil e muito natural". (Padre Antônio Vieira). 
 
 Devemos evitar a terminologia pernóstica utilizada em textos jurídicos, procurando 
alcançar o conceito de precisão e objetividade na exposição do pensamento, que, 
necessariamente, passa pelo conceito de "boa linguagem", cujos pilares conheceremos a seguir, 
por meio das qualidades da boa linguagem. 
 
 "Quem muito fala, muito erra e muito enfada". 
 
 Se o português é essencial para qualquer área, em relação ao Direito ele é um 
pressuposto. A única arma do bacharel é a linguagem. Do mau conhecimento ou da inadequada 
utilização desse instrumento, poderão derivar vulnerações e mesmo o perecimento de direitos 
alheios, como a liberdade, a honra e o patrimônio das pessoas. 
 
 “O operador do Direito que não consegue ter linguagem correta não consegue 
expressar adequadamente seu pensamento" (Teotônio Negrão). 
 
 Pré-requisitos para o exercício da carreira de advogado: (Jornal do Advogado (OAB), 
8/jun/ 2001, Miguel Reale). 
 
 "Em primeiro lugar, saber dizer o Direito. Nos concursos feitos para a Magistratura, 
para o Ministério Público e assim por diante, a maior parte das reprovações são devidas à forma 
como se escreve. Há uma falha absoluta na capacidade de expressão. Então, o primeiro conselho 
que dou é aprender a Língua Portuguesa. 
 
 Em segundo lugar, pensar o Direito como uma ciência que envolve a 
responsabilidade do advogado por aquilo que diz e defende. 
 
 Em terceiro lugar, vem o preparo adequado, o conhecimento técnico da matéria". 
 
 INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO E CONCLUSÃO: 
 
 Introdução, desenvolvimento e conclusão: Qualquer pela jurídica geralmente está 
estruturada nessas três etapas. 
 
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 A introdução consiste na identificação do fato: aquilo que aconteceu ou que está 
acontecendo e que constitui o motivo de uma providência do Ministério Público ou do pedido de 
tutela jurisdicional. Exemplos de fato são: a ocorrência de um dano ambiental, a prática de um 
crime etc. A identificação do fato e feita na fase denominada relatório. 
 
 Após a descrição do fato, passa-se à fase de desenvolvimento, que é a análise, a 
demonstração de como aquele fato é disciplinado pela lei e dos elementos probatórios que se 
dispõe. Tem-se aí a fase da fundamentação. A partir dos exemplos acima, irá ser indicado como 
a lei disciplina a ocorrência do dano ambiental, ou como aquela conduta se enquadra em 
determinado tipo penal. 
 
 Finalmente, após analisar o fato, é preciso demonstrar como a lei se aplica àquele 
fato. Cuida-se da conclusão, na qual será necessário adotar ou pedir uma providência, para 
aplicação da lei ao caso concreto. Com amparo nos mesmos exemplos, a providência a ser 
adotada no caso de dano ambiental pode ser a instauração de um inquérito civil. Para o crime a 
providência pode ser o pedido de condenação. Em se tratando de atuação perante o Judiciário, a 
providência materializa a fase do pedido. 
 
 REDAÇÃO IMPESSOAL 
 
 É a narrativa que se caracteriza por distanciar o autor do pensamento expresso no 
texto. 
 
 No caso do Ministério Público, que ao se manifestar, age em nome da instituição a 
que pertence, e não em nome próprio. Assim, a redação impessoal reforça a ideia de atuação 
institucional. 
 
 A redação impessoal é obtida pela conjugação do verbo na terceira pessoa do 
singular, e se contrapõe a redação pessoal, na qual o verbo é conjugado na primeira pessoa: 
 
 Exemplo de redação pessoal: 
 Entendo perfeitamente provada a imputação da denúncia, motivo pelo qual requeiro 
a condenação do acusado. (verbo na 1ª pessoa do singular) 
 
 Exemplo de redação impessoal: 
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 O Ministério Público entende perfeitamente provado a imputação da denúncia, 
motivo pelo qual requer a condenação do acusado. (verbo na 3ª pessoa do singular) 
 Ou 
 Estando perfeitamente provada a imputação da denúncia, requer-se a condenação do 
acusado. (verbo na 3ª pessoa do singular) 
 
 DICA: QUALQUER QUE SEJA O ESTILO ESCOLHIDO, O TEXTO DEVE 
ADOTÁ-LO DO INÍCIO AO FIM, NÃO SENDO ADEQUADO MESCLAR ESTILOS. 
 
 COPIAR COLAR 
 Antes da invasão do universo jurídico pelos computadores e editores de texto, nos 
tempos da máquina de escrever, as petições e manifestações eram bem, mas sucintas, diante das 
dificuldades de produção de um texto longo. 
 
 A despeito do inegável avanço trazido pelos editores de texto, não é possível negar 
que o vício do copiar e colar acabou contribuindo para o inchaço nas manifestações, com textos 
longos, repletos de citações doutrinárias e jurisprudenciais que tomam do leitor um tempo que 
via de regra ele não dispõe. E o que é pior: muitas vezes as longas manifestações, adaptadas 
como um modelo, não estão adequadas ao caso concreto e não conduzem ao resultado desejado. 
 
 Por isso, o copiar e colar há de ser um recurso que facilite o trabalho do redator, mas 
também e principalmente, seja útil ao destinatário daquela peça jurídica, ficando restrito aos 
limites da síntese, clareza e objetividade. 
 
 DOUTRINA E JULGADOS 
 
 Quando se escreve um texto dirigido a alguém com a intenção de convencer, informar 
ou requerer, quanto mais o texto estiver adaptado às necessidades e preferências do leitor, 
maiores serão as chances de sucesso. Via de consequência, a inserção de informações óbvias 
tornará o texto cansativo e desinteressante. 
 
 Portanto, a citação doutrinaria e/ou jurisprudencial somente deve abordar o que se 
presume não ser do pleno domínio do leitor, como quando se trata de matéria nova, rara, ou em 
caso de matéria controvertida em que se pretenda defender posição minoritária. 
 
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 EXPRESSÕES INDESEJÁVEIS 
 
 Existem algumas expressões cujo uso, a despeito de eventualmente violarem regras 
gramaticais, torna o texto cansativo. Ex. o mesmo ou este em substituição ao sujeito. 
 
 O acusado deixou o quarto da vítima correndo. Quando o mesmo percebeu que a 
polícia havia chegado, pulouo muro. 
 
 Neste caso, para não repetir a expressão “acusado”, “o mesmo” pode ser substituído 
pelo nome do réu, ou pelo pronome “ele”, mesmo que implícito. A mesma frase poderia ser 
escrita assim: 
 
 O acusado deixou o quarto da vítima correndo. Quando percebeu que a polícia havia 
chegado, pulou o muro. 
 
 ABREVIATURAS 
 A sua utilização deve ser evitada, limitando-se ao emprego daquelas já consagradas 
pelo uso, tais como: 
 
 art. = como incurso no art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. 
 fls. = folhas: o laudo de fls. 32. Pode-se utilizar a expressão a fls. 20 cujo significado 
é a 20 folhas do início. 
 ss. = seguintes: fls. 44 e ss. 
 c.c. = combinado com: como incurso no art. 304, c.c. art. 297. 
 MM. = Meritíssimo (a): MM. Juíza. 
 
 GRAFIA DE DATA E HORA 
 
 Deve-se prestar atenção na grafia correta de data e hora. 
 
 Na data, o dia, mês e ano podem vir separadas por “/” “.” Ou “-“. 
 
 21/04/2016 
 21.04.2016 
 21-04-2016 
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 O primeiro dia do mês deve ser apresentado em número ordinal 1º/04/2016. 
 
 A hora inteira pode ser escrita por extenso 7 horas, 2 horas ou abreviada: 7h, 2h (não 
há “.” Depois do “h”. 
 
 Na hora não inteira, os minutos são assim grafados: 7h30min ou 7h30. 
 
 DICA: No texto jurídico hora não deve ser grafada “:” separando hora e minutos: 
22:51. 
 
 EXPRESSÕES EM LATIM 
 
 Há algumas expressões latinas que já se incorporaram ao vocabulário jurídico de 
maneira que sua tradução para o Português soaria estranha: 
 
 Art. 121, caput e não art. 121, cabeça 
 
 Neste caso, o latim é indispensável. 
 
 As expressões latinas devem ser usadas com certa moderação. O emprego exagerado 
de expressões que fogem àquelas mais usuais tornará o texto cansativo e muitas vezes de difícil 
compreensão. Algumas expressões são consagradas e não há inadequação se forem utilizadas, 
como animus necandi (vontade de matar), animus furandi (desejo de furtar) res furtiva (coisa 
furtada) etc. 
 
 As expressões em latim devem ser grafadas em itálico, e sem aspas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DENÚNCIA 
 
 Conceito: A denúncia é a peça acusatória inicial da ação penal pública 
incondicionada ou condicionada. Consiste em uma exposição escrita do fato caracterizado como 
infração penal. É a petição inicial da ação penal pública (CPP, art. 24). 
 
 É dirigida a autoridade judiciária competente, deve ser elaborada de forma 
objetiva, nela se consignado à imputação de um fato típico àquele que presumidamente, seja o 
responsável pela sua prática. 
 
 Autor da denúncia: somente o Ministério Público tem legitimidade para o seu 
oferecimento (CF, art. 29, inc. I, e CPP, arts. 24 e 257, inc. I) 
 
 Objetivo: instaurar a ação penal, levando ao conhecimento do Poder Judiciário a 
imputação de uma ou mais infrações penais a determinação ou determinadas pessoas físicas ou 
jurídicas, na hipótese de crimes ambientais (CF, art. 225, § 3º, e Lei 9.605/1998, art. 3º). 
 
 Terminologia: a pessoa a quem se atribui o envolvimento (autor, coautor, partícipe 
ou autor mediato) na prática de uma infração penal deve ser referida na denúncia coo 
“denunciado”, “imputado”, são as expressões mais adequadas, alguns autores dizem que pode 
utilizar “indiciado”, “autor do fato”, no caso da lei 9.099/1995. 
 
 As palavras “réu” e “acusado” devem ser utilizadas somente após o recebimento da 
denúncia. 
 
 ATENÇÃO: Não devem ser usadas expressões vulgares como “larápio”, “elemento”, 
“meliante”, etc., muitas vezes utilizados no meio policial. 
 
 Conteúdo: a denúncia deve conter a descrição da conduta típica com todas as 
suas circunstâncias; a qualificação ou individualização do denunciado; a classificação do crime; 
e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 1, do CPP). 
 
 Pode ser rejeitada (art. 395, inc. I, do CPP) se não observar as condições previstas no 
art. 41, do CPP, sendo considerada inepta por não conter os elementos que demonstram sua 
regularidade formal. 
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 IMPORTANTE: deve-se ter em mente que, como a denúncia irá traçar os limites da 
acusação para propiciar a defesa, seu conteúdo deve ser objetivo e claro. 
 
 A denúncia deve responder às seguintes perguntas: 
 
 QUANDO? Dia, mês, ano. 
 ONDE? Indicar o lugar (endereço) com a maior precisão possível. Quando for 
relevante indicar inclusive o cômodo da casa. Não sendo possível saber o lugar, indicar ao menos 
a cidade onde o fato ocorreu. 
 QUEM? A identificação do denunciado com todos os nomes que utiliza, o apelido, 
caso haja necessidade. 
 O QUE? Descrição da conduta. A conduta deve ser descrita, eu um primeiro 
momento, repetindo-se tanto quanto possível o núcleo, as elementares e as circunstâncias do 
tipo. 
 COMO? Descrição dos detalhes e circunstâncias da conduta: o modus operandi: 
 
 Na hipótese de concurso de agentes, na modalidade de coautoria e participação, 
deverá a denúncia fazer menção de cada um. 
 
 Nas situações de concurso de crimes (material, formal e continuado), a regra geral é a 
de que descreva a denúncia e forma circunstanciada e individualmente, cada um dos crimes 
imputados. 
 
 ESTRUTURA DE UMA DENÚNCIA 
 
 Em se tratando de peça objetiva, a denúncia, em regra, pode ser estruturada em cinco 
partes, cada qual com características próprias. 
 
 Primeira parte o DESTINÁTÁRIO: indicar qual o juízo que está sendo endereçado 
a denúncia, está parte tem relação com a competência do juízo. Deve ter muita atenção para 
endereçar a denúncia ao juízo competente. 
 
 Segundo parte: o parágrafo narrativa-imputação, que basicamente conterá todas 
as questões apresentadas acima: QUANDO? ONDE? QUEM? O QUE? 
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 Terceira parte: responderá a questão COMO? É nesta parte que será descrita as 
circunstâncias que o evento ocorreu, materializando o modus operandi da conduta. 
 
 Quarta parte: é a parte conclusiva da denúncia, deve conter a capitulação legal, 
descrita na segunda e terceira parte. O pedido de recebimento da denúncia, o pedido de citação 
do denunciado, o rito processual, o pedido de produção de provas e o finalmente o pedido de 
condenação. 
 
 Quinta parte: nesta parte deverá constar o rol de testemunhas, se for o caso da 
vítima, data e assinatura do Promotor de Justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE UMA BOA DENÚNCIA 
 
 Algumas dicas importantes: 
 
 1. Deve obedecer a uma estética que cause boa impressão. 
 
 2. Mencionar a indicação do juiz ou tribunal a que está sendo endereçada; 
 
 3. Descrever a qualificação do imputado, e a alcunha se importante. 
 
 4. Deve conter uma linguagem simples, evitando-se termos rebuscados ou de 
pouco conhecimento, ter precisão na utilização de termos técnicos, cuidado com a utilização de 
expressões em latim, preferencialmente aquelas de uso comum. 
 
 5. Deve ser evitado parágrafos demasiadamente longos, sendo que primeiro 
parágrafo deve-se dar ênfase a uma narrativa imputação, ou seja, se possível utilizar o núcleo 
verbal do tipo, data da ocorrência do fato, nome da vítima, local onde ocorreu o evento. 
 
 6. Evitar repetição de termos. 
 
 7. Não deve ser utilizado o nomem juris da infração (furto, roubo, etc). 
 
 8. Deve conter todos os elementos do tipo, principalmente o verbo do tipo, 
numa descrição objetiva e concisa. Não se deve confundir, objetividade com omissão. 
 
 9. Descrever as qualificadoras, se presentes. 
 
 10. Se o tipo penal imputado foi na modalidade culposa (imprudência, 
imperícia ou negligência), descrer a modalidade culposa presente, não basta apenas citar que o 
imputado agiu imprudentemente. 
 
 11. Descrever, se possível, a conduta de cada um dos imputados ou partícipes. 
 
 12. Designar o autor da infração penal de “imputado” ou denunciado”. 
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 13. A classificação da infração deve ser abordada na partedispositiva ou 
conclusiva da denúncia, e não na sua parte inicial (parágrafo narrativa-imputação” 
 
 14. Deve conter o pedido de citação e de condenação ou pronúncia, nos casos 
de crimes do Tribunal do Júri. 
 
 15. Mencionar o rito procedimental. 
 
 16. Na parte dispositiva (conclusiva), na classificação do crime, deve ser 
utilizada a expressão “denuncio a Vossa Excelência (nome do imputado) como incurso no 
artigo......) e não a expressão incurso nas penas do artigo....” 
 
 17. A denúncia não deve conter citação doutrinária ou jurisprudencial. 
 
 18. Deve ao final ser datada e assinada. 
 
 19. Deve ser precedida de cota introdutória. 
 
CONCEITOS IMPORTANTES QUE DEVEM SER LEMBRADOS 
 
 Apresento alguns conceitos importantes que devem ser rememorados ao 
elaborar uma denúncia, afinal, está peça processual é muito importante para o processo penal, 
pois vai basilar a defesa, quando for apresentar a resposta escrita, bem como o magistrado 
quando for inquerir as testemunhas, pois o que deverá ficar comprovado foi o que está descrito 
na denúncia, bem como no momento da prolação da sentença pelo juiz sentenciante. 
 
 Princípio da correlação e princípio da consubstanciação - Mutatio libelli e 
Emendatio libelli. 
 
 O princípio da correlação ou da congruência traduz-se como a necessidade de que 
a sentença se amolde ao fato descrito na denúncia ou na queixa. Em síntese, não poderá o juiz, ao 
decidir, ir além da narrativa inserta à inicial acusatória, sob pena, de estar julgando ultra petita 
ou extra petita, e, com isso, gerando a nulidade de seu pronunciamento. Em verdade, a 
correlação é o liame que conecta os termos da acusação e aquilo que será enfrentado pelo juiz na 
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prolação da sentença. No processo penal, o limite objetivo da lide para o magistrado está na 
apreciação daquilo que a acusação mencionou quando da provocação da instância penal. 
 
 Tal princípio encontra sua razão de ser em outro, de igual importância, consistente no 
princípio da consubstanciação, segundo o qual o réu defende-se dos fatos descritos na 
denúncia ou na queixa-crime e não da capitulação incorporada à peça acusatória. 
 
 No âmbito do Código de Processo Penal, a adoção do princípio da correlação e do 
princípio da consubstanciação ocorre a partir dos arts. 383 e 384, prevendo respectivamente, os 
institutos da emendatio libelli e da mutatio libelli. 
 
 Esses dois institutos, referem-se às situações nas quais o juiz, ao proferir sentença, 
confere definição jurídica diversa da constante na denúncia ou na queixa ao fato imputado, 
diferenciando-se, contudo, pelo fato de que, no primeiro caso, a nova classificação não decorre 
do reconhecimento de circunstâncias em relação às quais não tenha sido oportunizada defesa ao 
acusado, diferentemente do que acontece no segundo, em que há esse reconhecimento. 
 
 Antes de comentar Emendatio libelli (art. 383 do CPP) vamos relembrar alguns 
conceitos na teoria do tipo. 
 
 RELEMBRANDO ALGUNS CONCEITOS: 
 
 Os tipos penais descrevem as condutas ilícitas e estabelecem assim os seus elementos 
essenciais. Esses fatores que integram a descrição da conduta típica são as chamadas 
ELEMENTARES DO TIPO. Ou seja, ELEMENTARES DO CRIME são dados, fatos, 
elementos e condições que integram determinadas figuras típicas. 
 
 Já CIRCUNSTÂNCIAS, são dados, fatos, elementos ou peculiaridade que apenas 
circundam o fato principal. Não integra a figura típica, podendo, contudo, contribuir para 
aumentar ou diminuir a pena. 
 
 Para distinguir uma ELEMENTAR de uma simples CIRCUNSTÂNCIA do crime 
basta excluí-la, hipoteticamente, se tal raciocínio leva a descaracterização do fato como crime ou 
fizer surgir ouro tipo de crime, estar-se-á diante de uma ELEMENTAR. Se, no entanto, a 
exclusão de determinado requisito não alterar a caracterização do crime, tratar-se á de uma 
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circunstância do crime. Por exemplo, o reconhecimento de uma causa de aumento de pena, neste 
caso o crime continua o mesmo apenas a pena sofrerá alteração. 
 
 CONCLUÍNDO, as ELEMENTARES são componentes do tipo penal, enquanto as 
CIRCUNSTÂNCIAS são moduladores da aplicação da pena, e são acidentais, isto é, podem ou 
não existir na configuração da conduta típica. 
 
 As CIRCUNSTÂNCIAS, que não constituem nem qualificam o crime, são 
conhecidas na doutrina como circunstâncias judiciais, legais, e causa de aumento ou de 
diminuição da pena (Cezar Roberto Bitencourt, p. 662 e 663). 
 
 Emendatio libelli 
 
 Trata-se da hipótese na qual o juiz, ao condenar ou pronunciar o réu, atribui nova 
definição jurídica ao fato descrito, sem, porém, acrescentar a esse mesmo fato qualquer 
circunstância ou elementos que já não estivessem descritos na inicial e da qual o acusado, 
portanto, não se tenha defendido. Relativamente à sentença condenatória, dispõe o art. 383 do 
CPP (redação determinada pela Lei 11.719/2008): 
 
“o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou 
queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em 
consequência, tenha de aplicar pena mais grave” 
 
 Por outro lado, em relação à pronúncia, regra simétrica está incorporada ao art. 418 
do CPP (alterado pela lei 11.689/2008), na qual: 
 
“o juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da 
acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.” 
 
 Como se vê, na emendatio libelli incorrem alterações para mais na decisão judicial 
quanto ao fato descrito na denúncia ou na queixa, mesmo que tenha que aplicar pena mais grave, 
pois não altera a descrição da conduta descrita na denúncia. Por isso mesmo é que facultam os 
arts. 383 e 418 do CPP ao juiz reconhecer na sentença e na pronúncia crime cuja capitulação 
importe em aplicação de pena mais grave independente de qualquer providência prévia 
relacionada, por exemplo, à concessão de novas oportunidades de defesa ao réu. Assim, duas 
formas de emendatio libelli são passíveis de aplicação pelo juiz diante do caso concreto: 
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 a) Emendatio libelli por defeito de capitulação: situação na qual o juiz profere 
sentença condenatória ou decisão de pronúncia em conformidade exata com o fato descrito na 
denúncia ou na queixa. Reconhecendo que tal fato amolda-se a dispositivo penal distinto daquele 
que constou na inicial, quando capitulado pelo Ministério Público. 
 
 b) Emendatio libelli por supressão de circunstância: Neste caso, o magistrado 
atribui nova capitulação ao fato imputado em razão da não-constatação, pelas provas angariadas 
na fase instrutória, de elemento ou circunstância que estejam contidos na inicial. Em suma, há 
aqui, modificação fática, mas não para acrescentar e sim para subtrair circunstâncias do fato 
descrito, importando esta simples supressão na mudança de classificação jurídica (artigo). 
 
 Mutatio libelli (art. 384 do CPP) 
 
 Considerações gerais 
 
 Assim dispõe o artigo 384, do CPP: 
“Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova 
definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos 
autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na 
acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou a queixa, 
no prazo de 5 (cinco) dias se em virtude desta houver sido instaurado o 
processo crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, 
quando feito oralmente”. 
 
 Portanto, durante a instrução criminal, é bem possível que surjam novas provas 
quanto a elementos ou circunstâncias que, embora inerentes ao fato imputado na peça denúncia, 
não estejam contidos na denúncia ou na queixa. Se o reconhecimento desses fatores pelo juiz 
importar em nova definição jurídica do fato, ocorrerá a mutatio libelli, disciplinada no art. 384 
do CPP. Logo, defini-se a mutatio libelli como a 
 
Situação em que o juiz atribui ao fato narrado na denúncia uma nova 
definição jurídica, mediante o acréscimo de circunstânciasou 
elementos antes não referidos, na denúncia ou queixa. 
 
 Considerando que o réu se defende do fato descrito e não de sua capitulação (artigo 
imputado), é evidente que o reconhecimento judicial de circunstanciais ou elementos que não 
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fazem parte da narrativa inserida à inicial acarreta prejuízo concreto à sua defesa. Para evitar esse 
prejuízo é que ao crime originalmente descrito seja formalizado no processo por meio de 
aditamento da peça acusatória. 
 
 Na atualidade, as regras pertinentes à mutatio alcançam também o momento do juízo 
de admissibilidade da acusação no procedimento do júri, conforme dispõe o artigo 411, § 3º, do 
CPP, para fins de pronúncia. 
 
 Isto significa que, não apenas o réu não poderá ser condenado, como também não poderá 
ser pronunciado por crime diverso do que lhe foi expressamente descrito na denúncia ou na 
queixa, quando isto importar em reconhecimento de circunstâncias ou elementos não contidos 
naquela inicial, sem que antes sejam adotadas as medidas contempladas no precitado art. 384 da 
Lei Adjetiva, as quais envolvem não apenas o mencionado aditamento da inicial pelo Ministério 
Público, como a oitiva da defesa quanto aos termos do aditamento ministerial e a realização de 
fase instrutória, com o novo interrogatório do réu e a oitiva de novas testemunhas eventualmente 
arroladas pelas partes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Para cada caso hipotético descrito abaixo elabore um parágrafo NARRATIVA-
IMPUTAÇÃO, e depois escolha qualquer um e faça uma denúncia completa. 
 
1º Caso: 
João da mata, no dia 14/02/2016 na companhia de seu irmão Francisco da Mata, planejaram 
praticar um roubo a uma casa lotérica. Armados com arma de fogo, um revólver, marca Taurus, 
calibre 38, oxidado, n° série 88990-04, às 14h00min, dirigiram-se até a casa lotérica denominada 
Boa Sorte, situada no setor Céu Azul, no município de Goiânia, para colocar o plano em ação. 
Como ficou combinado João entrou no estabelecimento e anunciou o assalto de arma em punho, 
tendo subtraído a importância de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) do caixa e dos clientes 
Tranquilino Má Sorte e Maria da Piedade do Socorro. Foi subtraído seus aparelhos celulares. 
Francisco da Mata ficou do lado de fora aguardando para dar fuga em uma motocicleta, marca 
CG/Honda, de cor vermelha. Após, o assalto na casa lotérica, João e Francisco fugiram do local. 
Policiais Militares foram comunicados do assalto através do COPOM. Três horas depois do 
assalto, policiais militares, que estavam em uma viatura, avistaram a motocicleta com duas 
pessoas com as características dos assaltantes. Iniciaram uma perseguição, logrando êxito, 
fazendo a prisão de João da Mata e Francisco da Mata, e com estes foram encontrados a arma 
utilizada para praticar o assalto municiado com 04 cartuchos. O dinheiro e os pertences das 
vítimas foram encontrados na casa de João da Mata. 
 
 2º Caso: 
Mévio Cupertino da Silveira, no dia 15/02/2016, por volta das 19h00min horas, aproveitando a 
ausência da Sra. Joana Divina dos Anjos, de sua residência, localizada no Jardim dos Milagres, 
município de Goiânia, arrombou uma janela da residência, utilizando um pé de cabra. Subtraiu 
um aparelho de reprodução de DVD, marca Sony, um aparelho de telefone celular, marca LG, 
um relógio de pulso, e a importância de R$ 500,00 (quinhentos reais) que estava guardado no 
armário da cozinha. A vizinha de Joana Divina, chamada Maria Cristina, presenciou quando 
Mévio, saindo da residência da vítima Joana Cristina. Posteriormente, no dia 19/02/2012, parte 
destes objetos, o aparelho de DVD e o aparelho celular foram recuperados com Tício Manoel 
Ferreira, proprietário de um estabelecimento que revende móveis e eletrodomésticos usados, que 
adquiriu os objetos sabendo da origem ilícita daqueles objetos. 
 
3º Caso: 
João Ninguém e Joaquim Silvério da Silva Xavier, conhecidos por praticar pequenos furtos, 
caminhavam pelo Setor Mansões, no município de Goiânia-Go., no dia 03 de agosto de 2016, se 
encontraram e combinaram de fazer um ganha fácil para comprar substância entorpecente, já que 
são usuários. Quando passaram por uma residência perceberam que ela estava sem os seus 
moradores. Ao passarem pela residência da vítima Belarmino Boaventura. Certificaram que a 
casa estava sem os seus moradores, tocando a campainha. A casa não era murada. A porta da 
cozinha estava apenas encostada. João e Joaquim pegaram um televisor de 29 polegadas, um 
aparelho de videocassete, um botijão de gás, diversas roupas, e colocaram em um carrinho de 
mão. Um vizinho percebendo a conduta de João da Cruz e Joaquim acionou a polícia militar, que 
compareceu no local, saíram em diligência, e horas depois s efetuaram a prisão de João e 
Joaquim, que confessaram que estiveram na residência da vítima e João revelou aonde havia 
guardado os objetos subtraídos, próximo a uma mata. Sendo os objetos da vítima localizados e 
devolvidos a vítima 
 
 
 
 
 
 
19 
 
4º Caso: 
No dia 10 de maio de 2016, Fernando Gonçalves Neto resolveu dar uma festa para comemorar o 
seu aniversário, em sua residência localizada no Setor das Perdizes, município de Goiânia para. 
Para a comemoração foi preparado um churrasco, e convidou seus vizinhos e amigos. Por volta 
das 21h30min, iniciou uma discussão entre os convidados estavam Sinfrônio Leonardo de Sá e 
Jeremias da Piedade, por questões de futebol, sendo que os ânimos ficaram acalorados, inclusive, 
chegaram as vias de fato, mas naquele momento a briga foi contida pelos demais convidados. 
Entretanto, Sinfrônio, não se conformando, pois levou a pior na briga, e como estava portando, 
uma arma de fogo, tipo garrucha, de dois canos, calibre 22, aproveitando que Jeremias estava de 
costas, desferiu um certeiro disparo contra, atingido o coração. Jeremias da Piedade foi socorrido 
pelo SAMU, que demorou duas horas para chegar no local, sendo encontrado com vida, recebeu 
os primeiros socorros, e encaminhado para o HUGO – Hospital de Urgências de Goiânia, onde 
foi submetido a uma cirurgia, mas dois dias depois em decorrência de complicações veio a óbito. 
Este evento foi presenciado por várias pessoas que se encontravam na festa. 
 
5º caso 
João Dagoberto Procópio homem caseiro, pacato, de poucas palavras, morava sozinho desde o 
falecimento de sua esposa Margarida Procópio, pouco saia de casa, levando uma vida reclusa. 
No dia 21 de fevereiro de 2016, no período matutino, saiu de casa para ir ao Supermercado Preço 
Baixo, localizado no Setor Campinas, e quando estacionava o seu veículo, um Chevette, de cor 
amarela, ano 1975. Repentinamente Quincas Bacamarte, em um veículo da marca Mercedes, de 
cor prata, ano 2016, adentrou no estacionamento em alta velocidade, vindo a chocar-se com o 
veículo de João Dagoberto este desceu para ver os danos causados ao seu veículo, neste 
momento Juliano também desceu do seu veículo, em visível estado de embriaguez, e de forma 
agressiva passou a proferir xingamentos contra João Dagoberto, ao verificar os danos causados 
em seu veículo. No entanto, João Dagoberto percebendo que os estragos foram de pequena 
monta em seu veículo, não deu atenção para Quincas Bacamarte virando-se, e indo na direção do 
Supermercado. Quincas Bacamarte, inconformado com a reação de João Dagoberto foi até o seu 
veículo, pegou um revólver calibre 38, que sempre trazia consigo, mesmo sem ter autorização 
para portar arma de fogo, sem proferir qualquer palavra desferiu 04 disparos que atingiram João 
Dagoberto nas costas, que faleceu em virtude destes ferimentos, antes da chegado do socorro 
médico. O evento foi presenciado por diversas pessoas. Enquanto isto, Quincas Bacamarte 
adentrou no seu veículo, e evadiu-se do local. Posteriormente, a polícia com as informações 
colhidas no local e também a filmagem do circuito interno de segurança identificou Quincas 
Bacamarte que foi indiciadopelo crime praticado. 
 
6º Caso 
No dia 19 de setembro de 2016, por volta das 7h, Soraia Sortuda conduzia um veículo da marca 
Tucson, de cor preta, ano 2015 quando parou no estacionamento de sua empresa, foi 
surpreendida por duas pessoas, que de arma em punho, deram voz de assalto, exigindo a entrega 
da sua bolsa, como foi pega de surpresa Soraia se assustou deixando as chaves cair no chão, e 
neste momento um dos bandidos, fez um disparo, atingindo Soraia na região torácica, e os 
bandidos pegaram a sua bolsa e evadiram-se do local em uma motocicleta Honda CG/Titan, de 
cor vermelha, placa CVB-8976, de Goiânia, que foi anotada por uma testemunha. A vítima 
Soraia foi socorrida, passando por uma intervenção cirúrgica, vindo a recuperar-se bem. 
Passados dois meses do fato, Soraia estava saindo de uma consulta médica, e reconheceu um dos 
homens que haviam levado a sua bolsa, como sendo Juliano Pimpão e por isso, acionou a polícia 
militar que compareceu no local imediatamente e fez a detenção daquele, e com este foi 
encontrado os cartões de crédito de Soraia e o seu telefone celular, não sendo identificado o 
outro assaltante. Sendo instaurado um inquérito policial para apurar as circunstâncias do fato. 
 
20 
 
 
MODELOS DE DENÚNCIAS 
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia-Go. 
 
 
 
(Deixar um espaço de aproximadamente 12 cm) 
 
 
 
 
 
 O Ministério Público, via de sua representante legal, infra-assinado, vem 
a presença de V. Exa., o oferecer DENÚNCIA em face de. 
WELLINGTON ROSENDO DA SILVA, brasileiro, solteiro, natural 
de ....., nascido na cidade de....,filho de...., residente na Rua..... 
 
 Pelo fato a seguir aduzido: 
 1. Consta do inquérito policial, anexo, que no dia 20/01/2013, por volta 
das 11h20min, o imputado, mediante arrombamento, subtraiu para si, um aparelho de DVD, uma 
batedeira, um liquidificador, entre outras, coisas, conforme o termo de exibição e apreensão 
juntado nas fls. 20, da residência da vítima Franciele Gonçalves de Lima, situada no Residencial 
Cândido de Queiroz, neste município. 
 
 2. (narrar como acorreu o furto, as diligências da polícia, e a prisão do imputado. 
Em quantos parágrafos forem necessários. Utilizar espaço entre linhas 1,5, margem superior 2 cm, margem 
inferior 2 cm, margem direita 2 cm e margem esquerda de 2,5 cm). 
 
 Ante o exposto, incorreu o imputado WELLINGTON ROSENDO DA 
SILVA, na figura típica prevista do art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. O Ministério 
Público requer o recebimento da denúncia, seja determinada a citação do imputado para 
apresentar a defesa escrita, no prazo de 10 (dez) dias, na forma do art. 396, do Código de 
Processo Penal, determinando seu processamento e a designação de instrução e julgamento, na 
forma dos artigos 400 e ss. do Código de Processo Penal, bem como se requer a intimação da 
vítima e das testemunhas arroladas abaixo, prosseguindo-se até final sentença condenatória. 
Rol de testemunhas 
1. 
2. 
 Goiânia, ___/___ /______. 
 
PROMOTOR(A) DE JUSTIÇA 
21 
 
 
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia-Go. 
 
 
 
 
(Deixar um espaço de aproximadamente 12 cm) 
 
 
 O Ministério Público, via de sua representante legal, infra-assinada, vem 
a presença de V. Exa., o oferecer DENÚNCIA em face de. 
 
WESLEY DE PAULA FERNANDES, brasileiro, solteiro, natural de 
....., nascido na cidade de....,filho de...., residente na Rua..... 
 Pelo fato a seguir aduzido: 
 
 1. Consta do inquérito policial, anexo, que no dia 30/01/2013, por volta 
das 22h30min, o imputado utilizando uma arma de fogo, tipo revólver, calibre 38, marca 
Taurus, número de série B12904, desferiu três disparos contra a vítima Zeferino José Macedo, 
não permitindo nenhuma chance de defesa, provocando a sua morte por choque hipovolêmico, 
conforme demonstra o Laudo de Exame Cadavérico, juntado nas fls. 
 
 2. (narrar como acorreu a colisão, principalmente enfatizando o fato de o 
imputado ter ingerido bebida alcoólica, que culminou com o dolo eventual, em quantos parágrafos forem 
necessários. Utilizar espaço entre linhas 1,5, margem superior 2 cm, margem inferior 2 cm, margem 
direita 2 cm e margem esquerda de 2,5 cm). 
 
 Ante o exposto, incorreu o imputado WESLEY DE PAULA 
FERNANDES na conduta típica prevista no art. 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal. O 
Ministério Público requer o recebimento da denúncia. Requer seja determinada a citação do 
imputado para apresentar a defesa escrita, no prazo de 10 (dez) dias, na forma do artigo 406 e ss., 
do Código de Processo Penal, determinando seu processamento, na forma dos artigos 406 e 
seguintes do Código de Processo Penal, intimando as testemunhas arroladas abaixo, enfim, 
pronunciado o imputado, nos termos do artigo 413, do Código de Processo Penal, devendo o 
imputado ser submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri, e afinal condenado. 
Rol de testemunhas 
1. 
2. 
 Goiânia, ___/___ /_____. 
 
PROMOTOR (a) DE JUSTIÇA 
22 
 
RESPOSTA ESCRITA DO ACUSADO (DEFESA PRÉVIA) 
 
 Trata-se a resposta escrita a defesa que o defensor do acusado faz rebatendo os 
termos da denúncia, antes era chamada de defesa prévia (art. 396-A, do CPP). Dito assim a 
resposta escrita é uma espécie de contestação. 
 
 Segundo Eugênio Pacelli, a resposta escrita, cumpre importantes funções, a saber: a 
fixação do prazo para o oferecimento de rol de testemunhas e de prova pericial para o réu, além 
de apresentação das exceções (art. 95, do CPP). 
 
 Ultrapassado tal prazo, ele não poderá requerer validamente a produção de prova 
testemunhal, a não ser para o fim de substituir testemunhas, devidamente arroladas, que não 
tenham sido encontradas. Não se arrolando na defesa escrita, tranca-se lhe tal faculdade 
processual. 
 
 Conteúdo da resposta escrita: na resposta do acusado pode alegar as matérias 
previstas no art. 396-A, ou seja: Arguir preliminares, oferecer documentos
1
, especificar provas 
pretendidas, arrolar testemunhas, e tudo que for de interesse a defesa. Existem dois tipos de 
defesa: a) processual ou de rito; b) de mérito. 
 
 No caso da defesa processual o acusado apresenta argumentos para encerrar a ação 
penal ou então deslocar a competência, não adentrando na acusação propriamente dita contida na 
denúncia. Pode ser alegado: por exemplo: arguir a prescrição, ausência de causa genérica da ação 
ou específica, ausência de pressuposto processual, exceção processual, como litispendência, 
coisa julgada, incompetência do juízo ilegitimidade de parte. 
 
 No caso da defesa de mérito o acusado já adentra no mérito da acusação, podendo 
alegar qualquer matéria que possa conduzir a absolvição sumária (art. 397, CPP)
2
. 
 
 Na resposta escrita devem ser requeridas as provas periciais que se pretende produzir, 
bem como arrolar testemunhas até o número de oito (art. 401 do CPP), esclarecimentos de 
peritos. 
 
1
 “A prova documental, pode ser produzida a qualquer tempo (art. 231, do CPP), com as ressalvas temporais do 
Tribunal do Júri (art. 479, do CPP), as demais provas (testemunhais e periciais, etc.) se submetem à preclusão, 
devendo o acusado requerê-las na defesa escrita”. (Eugênio Pacelli, p. 648). 
2
 Prudente, agora, que a defesa adentre nas matérias de mérito, antecipando ao magistrado toda tese defensiva, 
inclusive porque na etapa seguinte à fase da resposta traz a lei a possibilidade de o juiz absolver sumariamente réu 
em julgamento antecipado do processo (art. 397, do CPP). 
23 
 
MODELO DE RESPOSTA ESCRITA 
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito da ______Vara Criminal da Comarca de Goiânia-
GO. 
 
Processo nº 
 
 
 
 
 
 
 “Y”, qualificado a fls. ______, por seu advogado, nos autos da ação penal que lhe 
move o Ministério Público do Estado de Goiás, vem respeitosamente, à presençade Vossa 
Excelência, nos termos do art. 396-A do Código de Processo Penal, apresentar a 
 
RESPOSTA ESCRITA 
 
 O acusado nega a (as) imputação (ões) descritas na denúncia, sustentando que no 
decorrer da instrução provará a sua inocência, demonstrando que os fatos articulados não 
ocorrerão da forma descrita na peça acusatória. 
 
 Nesta oportunidade, junta os seguintes documentos:____________. Por outro lado, 
oferece, ainda, o seu rol de testemunhas, que deverão ser intimadas para comparecer na 
audiência de instrução e julgamento oportunamente designada por Vossa Excelência. 
 Rol de testemunhas: 
 
 1. 
 2. 
 
 Goiânia, 14 de janeiro de 2017. 
 
.___________________________ 
ADVOGADO (A) 
OAB-GO Nº______ 
 
24 
 
Modelo de Resposta Escrita com enfrentamento do mérito 
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 8ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia-GO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Alcindo Galcindo, por seu advogado que esta subscreve, nos 
termos do art. 396 e 396-A, Todos do Código de Processo Penal, no prazo legal, vem à presença 
de Vossa Excelência para oferecer a RESPOSTA ESCRITA nos autos do processo-crime, que 
lhe é movido pelo Ministério Público por infração ao art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal, 
arguindo preliminar e formulando pedido de absolvição sumária, sem prejuízo dos requerimentos 
abaixo articulados, com apresentação do rol das testemunhas que devem depor durante a 
instrução criminal.. 
 
 I – PRELIMINAR 
 INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO 
 
 Conforme depoimento da vítima João José que esclareceu que 
recuperou a res furtiva no município de Guapó-GO. Neste local, portanto,, se fosse verdadeira a 
acusação é que o reu teve a posse mansa e tranquila dos objetos. 
 
 De fato, conforme ponderou o réu em suas declarações à autoridade 
policial, ao deixar a casa da vítima, foi diretamente para sua residência em Guapó-GO (fls. 16). 
Neste local, pois, se deu a consumação do delito (CPP, art. 69, I). 
 
 Impõe-se, dessa forma, o reconhecimento da incompetência, com a 
remessa dos autos ao juízo competente (CPP, art. 109). 
25 
 
 
 II – MÉRITO 
 
 A bem da verdade, o réu não praticou o delito que lhe foi imputado. 
 
 Alcindo Galcindo e João José, no passado, foram amigos e, nessa 
condição, foram sócios num pequeno comércio, sendo que, terminada a sociedade, Alcindo 
passou a ter um crédito de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com João José, representado 
exatamente pelos objetos descritos na denúncia, que ficaram com a vítima João José. 
 
 O réu Alcindo Galcindo 15 (quinze) dias, depois de muito insistir e 
cobrá-lo com frequência, obteve de João José a promessa de que quitaria a dívida no dia 
15/10/2016, quando recebesse uma dívida proveniente da venda de um veículo.. Chegou a data 
aprazada e a vítima não honrou a promessa e nem se justificou, deixando o acusado em péssima 
situação financeira, pois precisava honrar compromissos financeiros assumidos anteriormente. 
Situação que além de aborrecê-lo, trouxe-lhe a pecha de mau pagador. 
 
 Diante da situação criada pela vítima, o réu não teve outra 
alternativa. No dia do fato, por conta própria, entrou na residência daquela e dela retirou os 
objetos que, por direito, lhe pertenciam. 
 
 O depoimento da esposa do réu é nesse sentido (fls. 121). 
 
 A conduta praticada pelo réu, à evidência, não tipifica o delito que 
se lhe imputou. Não agiu com animus de subtrair. 
 
 Poder-se-ia argumentar que o réu praticou, então, exercício 
arbitrário das próprias razões (CP, art. 345). Esse delito, contudo, só é previsto na modalidade 
culposa e o réu não agiu com dolo, quando muito com culpa, não podendo, portanto, ser 
responsabilizado. No mais, esse delito é de ação penal privada, cujo prazo para oferecimento da 
queixa é de 6 (seis) meses, a contar da data em que a vítima veio saber quem foi autor do delito, 
prazo que há muito se esgotou, uma vez que o fato ocorreu em 05 de janeiro de 2016, e a vítima 
soube da autoria logo em seguida. Assim, ainda que possível fosse a imputação pelo crime 
citado, em relação a ele já teria ocorrido a extinção da punibilidade do réu, pela superveniência 
da decadência, art. 107, IV, 2ª figura, do Código Penal. 
26 
 
 
 Nenhuma das testemunhas ouvida infirmou essa versão apresentada 
pelo réu e por sua esposa. A vítima, por interesses óbvios, não a confirmou. Contudo, sua palavra 
é de ser recebida com cautela, não podendo justificar o processo, com as suas perversas 
consequências ao réu. 
 
 Diante do exposto, a defesa requer a Vossa Excelência: 
 
 a) O acolhimento da preliminar de incompetência do juízo, com a 
autuação da exceção em apartado, se for o caso, conforme art. 396-A. § 1º, do CPP. 
 b) A absolvição sumária do réu, com fundamento no artigo 397, III 
(o fato narrado não constitui crime), ou IV (extinção da punibilidade do agente). 
 
 Não sendo acolhida a preliminar ou o pedido de absolvição 
sumária, a defesa, forma os seguintes requerimentos: 
 
1. Seja requisitada cópia da folha de antecedentes da vítima. 
 2. Sejam juntados, aos autos, os documentos inclusos. 
 3. Sejam intimados a vitima e as testemunhas arroladas do rol 
abaixo, para serem ouvidas na instrução 
 
ROL DE TESTEMUNHAS: 
1. 
2. 
3. 
4. 
 
 Goiânia, 24 de novembro de 2016. 
 
 
___________________________________ 
Advogado – OAB-GO Nº 
 
 
 
27 
 
 
MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS 
 
 Da prisão Provisória e sua posição constitucional 
 
 A prisão provisória sempre foi tratada pela doutrina como uma exceção, devendo ser 
adotada nos estritos limites estabelecidos na legislação. 
 
 A Lei n. 12.403/2011 veio acompanhando as mudanças legislativas a respeito da 
prisão provisória como já procuramos demonstrar linhas acima. Contudo, sua inspiração vem 
justamente da nossa lei maior, nos consagrados dispositivos previstos no art. 5º. Inciso LXII, que 
diz: 
 
 “Ninguém será levado a prisão ou nela mantido quando a lei admitir 
a liberdade provisória, com ou sem fiança”. 
 
 Igual disposição encontra-se no artigo 5°, inciso LXI, que dispõe: 
 
“Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita 
e fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo no caso 
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em 
lei.” 
 
 Sobretudo, devido à constitucionalização do princípio da inocência contida no artigo 
5°, inc. LVII, que dispõe: 
 
 “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da 
sentença condenatória”. 
 
 O mestre Tourinho Filho ao mencionar o fundamento da prisão provisória pontuou: 
 
“Já sabemos que toda e qualquer prisão que anteceda à decisão definitiva 
do Juiz é medida drástica, ou, como dizia Bento Faria, é uma injustiça 
necessária do Estado contra o indivíduo, e, portanto, deve ser reservada 
para casos excepcionais. Embora seja necessária, não é menor a 
necessidade de ser ela restringida, limitando-se aos casos indispensáveis, 
pelo mal irreparável que causa àqueles declarados inocentes no final da 
instrução.” 
28 
 
 
 
 
 Requisitos para aplicação das medidas cautelares. 
 
 Requisitos genéricos para imposição das medidas cautelares 
 As medidas cautelares, sendo verdadeiramente excepcionais, devem ser impostas 
somente quando preenchidos alguns requisitos imprescindíveis à sua decretação, são eles: o 
fumus comissi delicti e o periculum libertatis: 
 
 Fumus comissi delicti 
 A expressão fumus comissi delicti equivale, no âmbito do processo penal, ao fumus 
boni iures (fumaça do bom direito), exigido nas medidas cautelares de natureza cível, embora 
esta associação não mais é aceita pelos doutrinadores. 
 
 Todavia no ramo processual penal, o genérico (fumus boni iures) consiste 
especificamente no juízo apriorístico de viabilidade e probabilidade da ação penal, bem como de 
provável condenação. Em resumo, devem ser constatados os indícios de autoriae a razoável 
suspeita da ocorrência do crime. Ou seja, exige-se a presença de um lastro probatório mínimo 
sobre a existência de crime e do elemento subjetivo dele (dolo). 
 
 Periculum libertatis 
 O periculum libertatis, advindo do periculum in mora presente nas medidas 
cautelares de natureza extrapenal, consiste na demonstração do efetivo risco da liberdade ampla 
e irrestrita do agente, assegurando-lhe o resultado prático do processo. 
 
 Note-se que o periculum libertatis deve ser grave o suficiente para exigir a 
imposição da medida de prisão. No entanto, se demonstrado que a liberdade do agente não é 
empecilho, mas, que, todavia, devem ser impostas algumas restrições ou vedações, é justificável 
a imposição de medidas cautelares. 
 
 Significa que a demonstração do efetivo risco da liberdade irrestrita que possa 
comprometer o resultado do processo. Se o risco for grave para a garantia da ordem pública, 
garantia da ordem econômica, conveniência da instrução criminal, e a garantia da 
29 
 
aplicação da lei penal, neste caso, impõe a prisão preventiva. Contudo, se a liberdade não for 
empecilho, podem ser aplicadas medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, do CPP). 
 
 IMPORTANTE!!! 
 Portanto, a presença do fumus comissi delicti e o periculum libertatis, em tese (deve 
ser observado ainda outros requisitos, previstos no artigo 282, inciso I e II, do CPP, como será 
visto oportunamente), torna possível a imposição da medida cautelar. Frise-se que a existência 
de apenas um dos requisitos não justifica a imposição das medidas, de modo que ambas devem 
estar cumulativamente presentes no caso em tela. 
 
 Pressupostos específicos das medidas cautelares previstos na Lei n. 12.403/2011: 
O chamado “Pressuposto Material” do princípio da proporcionalidade como juízo 
escalonado. 
 
 A partir dos dispositivos previstos no artigo 282, I e II e artigo 312 “caput” e 
parágrafo único, do CPP, toda é qualquer restrição a direitos individuais, além da exigência de 
ordem escrita e fundamentada do juiz, levará em conta a necessidade e a adequação da 
medida, a serem aferidas a partir da: 
 
 a) garantia da aplicação da lei penal; 
 b) conveniência da investigação ou da instrução criminal. 
 
 Eugênio Pacelli de Oliveira adverte: “No que nos interessa mais de perto aqui, o 
juízo de proporcionalidade na aplicação das medidas cautelares deverá também se orientar por 
tais perspectivas, e, de modo mais sensível, naquelas atinentes a proibição de excesso e da 
adequação da medida”. 
 
 A Lei 12.403/2011 previu requisitos específicos para aplicação de qualquer medida 
cautelar, ou em outras palavras, requisitos diretamente mencionados no texto legal. O art. 282, 
caput, do CPP, alterado pela Lei 12.403/2011, prevê três pressupostos que vindo sob a rubrica de 
dois incisos viabilizam a aplicação das medidas cautelares previstas no rol do art. 319, do CPP, 
alterados pela Lei n. 12.403/2011. Estes nada mais são do que sub-requisitos do método de 
interpretação conhecido como princípio da proporcionalidade. 
 
30 
 
 A rigor, o “princípio da proporcionalidade”, constitui-se metodologicamente como 
um “superprincípio” balizador de decisões, ressurgindo, pois, como método interpretativo 
solucionador de impasses criados pela chamada “colisão de direitos” ou de “princípios”. 
 
 Assim, partindo da doutrina e da aceitação jurisprudencial, primeiro ganhou precisão 
legislativa com a atual redação do art. 156, I, do CPP (trata a produção antecipada de provas) e 
agora, literalmente, prevê no art. 282, caput, do CPP, os subprincípios: 
 
 a) Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução 
criminal, e nos casos expressamente previstos para evitar a prática de infrações penais. 
 
 Por força dele, entende-se que, dentre várias medidas restritivas de direitos 
fundamentais idôneos a atingir o fim proposto, deve ser escolher a menos gravosa, ou seja, 
aquela que causa menor interfirência no direito de liberdade e que ainda seja capaz de proteger o 
interesse público para o qual foi instituída. 
 
 b) Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e 
condições pessoais do indiciado ou acusado. 
 Neste caso deve ser observado que deve haver uma relação de meio e fim, devendo se 
questionar se o meio escolhido contribui para obtenção do resultado pretendido. 
 
 Por exemplo, nada justificaria prender alguém preventivamente para garantir a futura 
aplicação da lei penal se, em virtude do crime praticado, sendo que a provável pena a ser imposta 
ao final do processo não seria privativa de liberdade ou, sendo privativa, permaneceria suspensa 
ou substituída por penas restritivas de direitos. O meio, a prisão, não se revelaria adequado ao 
fim a ser objetivado com o processo, pois dele não resultaria privação de liberdade (Renato 
Brasileiro, Nova prisão cautelar). 
 
 Conforme se depreende da análise dos pressupostos, existe um juízo escalonado e 
sucessivo para apreciação das medidas cautelares. Tais medidas pautar-se-ão pelo binômio 
necessidade/adequação, em um primeiro momento, vez que devem ser suficientes para evitar a 
prática de infrações penais e, ao mesmo tempo, assegurar a aplicação da lei penal, bem como 
devem ser adequadas à finalidade para que sejam instituídas. 
 
31 
 
 c) proporcionalidade estrita: Seguidamente ao juízo de adequação deve se 
questionar a respeito da gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do 
indiciado ou acusado, evitando medidas desproporcionais e desarrazoadas. Logo, não se fala 
exatamente em binômio, mas “trinômio” de requisitos. 
 
 Assim, impõe um juízo de ponderação entre o ônus imposto e o benefício trazido, a 
fim de se constatar se se justifica a interferência na esfera dos direitos dos cidadãos. 
 
 É a verificação da relação de custo-benefício da medida, ou seja, da ponderação entre 
os danos causados e os resultados a serem obtidos. 
 
 Assim, por força do princípio da proporcionalidade em sentido estrito, entre os 
valores em conflito, o que demanda a adoção de medida restritiva e o que protege o direito 
individual a ser violado -, deve preponderar o de maior relevância. Há de se indagar, pois se o 
gravame imposto ao titular do direito fundamental guarda relação de proporcionalidade com a 
importância do bem jurídico que se pretende tutelar (Roberto Brasileiro). 
 
 No quadro abaixo está demonstrado da análise do art. 282, inciso I e o art. 312, todos 
do Código Penal que trata do subprincípio da necessidade: 
 
NECESSIDADE 
Art. 282, inciso I Art. 312 
Necessária para aplicação da lei penal Segurança quanto à aplicação da lei penal 
Necessária para a investigação e a 
instrução criminal 
Por conveniência da Instrução criminal 
 Necessária para evitar a prática de 
infrações penais 
Garantia da ordem pública e econômica 
 
 Com relação o subprincípio da adequação prevista no artigo 282, inciso II, do CPP, 
pode ser visto da seguinte forma: 
 
ADEQUAÇÃO 
À gravidade do crime 
À circunstância do fato 
As condições pessoais do indiciado ao acusado 
32 
 
 
 
NECESSIDADE ADEQUAÇÃOPROPORCIONALIDADE
EVENTUAIS 
RISCOS DO 
PROCESSO
GRAVIDADE E 
CIRCUNSTÂNCiAS 
DO FATO
PROIBIÇÃO 
DO EXCESSO
JUÍZO DE 
PONDERAÇÃO
NENHUMA PROVIDÊNCIA CAUTELAR PODE SER 
SUPERIOR AO RESULTADO FINAL DO PROCESSO
REQUISITOS – ART. 282, I E II, DO CPP
 
 
 Isso significa que a medida cautelar não pode ser mais gravosa que a pena a ser 
aplicada ao final do processo. Como a prisão cautelar é um instrumento para tutelar o resultado 
final do processo, seria um contrassenso que, ao final, se aplicasse medida não privativa de 
liberdade. Se isto ocorresse, não haveria qualquer equilíbrio entre a medida cautelar e o resultado 
final do processo. A medida cautelar teria sido mais grave que a própria pena final, perdendo o 
seu caráter acessório e instrumental parase transformar em inconstitucional medida autônoma de 
antecipação de pena
3
. 
 
 “Resumidamente, pode-se dizer que uma medida é adequada, se atinge o fim 
almejado, exigível, por causar o menor prejuízo possível e finalmente, proporcional em sentido 
estrito, se as vantagens que trará superam as desvantagens” (Willis Santiago). 
 
 DA PRISÃO PREVENTIVA 
 A prisão preventiva é a prisão cautelar mais típica de nosso ordenamento jurídico. A 
prisão preventiva é estabelecida, com o intuito de tutelar valor relacionados à persecução penal 
(intraprocessual) e assim como interesses da sociedade (metaprocessuais), que poderiam sofrer 
risco caso o autor do delito permanecesse em liberdade. 
 
3
 Andrey Borges de Mendonça, Prisão e outras medidas cautelares, pág. 233. 
33 
 
 
 Conceito: Prisão Preventiva é uma modalidade de “prisão cautelar de natureza 
processual decretada pelo juiz durante o inquérito policial ou processo formal, antes do 
trânsito em julgado, sempre que estiverem preenchidos os requisitos legais e ocorrerem os 
motivos autorizadores” (Capez, pág 277). 
 
 Consoante o conceito acima, quando se diz „prisão cautelar” significa que esta tem a 
finalidade de garantir o êxito do processo. E quando menciona a “natureza processual” significa 
que a medida visa garantir o bom andamento do processo. Eis as razões de sua aplicação. 
 
 Natureza Jurídica: Trata-se de uma espécie de prisão provisória, possuindo 
natureza tipicamente cautelar. É uma medida excepcional devendo ser aplicada quando 
necessária, e presentes o periculum libertatis e o fumus comissi delicti. 
 
 Momento para decretação da prisão preventiva: 
 A prisão preventiva visa proteger a persecução penal (persecutio criminis). 
Justamente por isso, a preventiva pode ser decretada durante qualquer dos momentos daquela, ou 
seja, desde a suposta prática do delito até o trânsito em julgado da sentença condenatória. Nesse 
sentido, o artigo 311, do CPP, menciona que a prisão preventiva pode ser decretada em qualquer 
fase da investigação policial ou do processo penal. 
 
 Mas, em verdade, mesmo sem investigação policial é possível à decretação da prisão 
preventiva, desde que existam outros elementos que permita comprovar seus pressupostos e 
fundamentos. Assim, se o Promotor de Justiça recebe representação de determinado órgão 
noticiando a prática de um delito grave e estando presentes os fundamentos da prisão preventiva, 
nada impede que o juiz decrete a preventiva anda que sem inquérito policial a pedido do 
Ministério Público. 
 
 Pressupostos da prisão preventiva: podem ser identificados também como 
requisitos. O fumus comissi delicti, são eles: 
 
 a) Prova da existência do crime (prova da materialidade); 
 b) indícios suficientes de autoria
4
. 
 
4
 Note-se que, nessa fase, não se exige prova plena, bastando meros indícios, isto é, que se demonstre a 
probabilidade do réu ou indiciado ter sido o autor do fato delituoso. A dúvida, portanto, milita em favor da 
34 
 
 
 E o periculum libertatis: significa que a demora nas investigações ou do processo 
poderá comprometer o resultado final do processo, são as hipóteses previstas no artigo 312, do 
CPP. 
 
 Hipóteses em que pode ser decretada a prisão preventiva. São as hipóteses 
alinhadas no art. 312, do CPP. São elas: 
 
 a) Garantia da ordem pública: Esta hipótese para determinar a decretação da prisão 
preventiva é duramente criticada pela doutrina, com exemple Aury Lopes Junior que diz, no seu 
livro Prisões Cautelares: 
 
“Garantia da ordem pública por ser um conceito vago, indeterminado, presta-
se a qualquer senhor, diante de uma maleabilidade conceitual.....Não sem 
razão, por sua vagueza e abertura, é o fundamento preferido, até porque 
ninguém sabe ao certo o que quer dizer... Nessa linha, é recorrente a definição 
de risco para a ordem pública como sinônimo de “clamor público”, de crime 
que gera abalo social, uma comoção na comunidade, que perturba a sua 
“tranquilidade”. 
 
 De igual modo Tourinho Filho lança a seguinte crítica: 
 
 “Ordem pública é expressão por demais fluída, a tranqüilidade no meio 
social. Assim, se o indiciado ou réu estiver cometendo novas infrações penais, 
sem que se consiga surpreendê-lo em estado de flagrância; e se estiver fazendo 
apologia de crime, ou incitando crime, ou se reunindo em quadrilha ou bando, 
haverá perturbação da ordem pública” (Manual de Processo Penal, pág. 572). 
 
Por fim, conceitua-se a Garantia da ordem pública da seguinte maneira: 
 
 “Entende-se justificável a prisão preventiva para a garantia da ordem pública 
quando a permanência do acusado em liberdade, pela sua elevada 
periculosidade, importar em intranqüilidade social em razão do justificado 
receio de que volte a delinqüir”. (Norberto Avena, pág. 804). 
 
 
sociedade, e não do réu (princípio in dúbio pro societate). (Capez, pág. 279). Nesse sentido: “Não se pode exigir 
para a prisão preventiva a mesma certeza que se exige para a condenação. O in dúbio por reo vale ao ter o juiz que 
absolver ou condenar o réu. Não, porém, ao decidir se decreta ou não a custodia provisória. ” (RT 554/386) 
35 
 
 b) Garantia da ordem econômica
5
: “Fundamenta a prisão preventiva em delitos 
perpetrados em detrimento do patrimônio de instituições financeiras ou de órgãos públicos, 
mormente naquelas hipóteses de desvios de vultosas quantias” (Norberto Avena, pág. 806). 
 c) Conveniência da instrução criminal: “Trata-se de prisão preventiva 
decretada para impedir que o agente, em liberdade, venha a aliciar testemunhas, forjar ou 
deturpar provas, destruir elementos que possam servir de base à futura condenação, visando, 
assim, furtar-se à responsabilização criminal pelo fato objeto da investigação ou do 
processo”.(Norberto Avena, pág. 806). 
 
 d) Segurança quanto à aplicação da lei penal: é baseada no receio justificado de 
que venha o investigado, indiciado ou réu a evadir-se do distrito da culpa, impedindo, caso venha 
a ser condenado, inviabilizar futura execução da pena. 
 
 UMA QUESTÃO QUE CAUSA MUITA DÚVIDA: 
 
 As condições pessoais do investigado, indiciado ou acusado interferem na 
decretação da prisão cautelar? 
 
 Em relação às condições pessoais do indivíduo, as de caráter favorável ao indiciado 
ou acusado – tais como: primariedade, bons antecedentes, residência fixa, etc., não significa 
qualquer impedimento para a decretação ou manutenção da prisão preventiva, desde é claro, 
presentes as hipóteses, os pressupostos da medida cautelar. 
 
 No entanto, se as condições pessoais forem desfavoráveis, nada impede seja estas 
agregadas aos demais fundamentos da medida constritiva para justificar a sua decretação. 
 
 Hipóteses de admissibilidade para decretar a prisão preventiva (art. 313, do 
CPP). 
 
a) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 
(quatro) anos; 
b) Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em 
julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64, do Código Penal; 
 
5
 A lei Antitruste, Lei nº 8.884/1994, em seu artigo 86, alterou a redação do art. 312, do CPP, para incluir, como 
circunstância autorizadora da prisão preventiva, a garantia da ordem econômica (Tourinho, pág. 674). 
36 
 
c) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra mulher, criança, 
adolescente, idoso ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das 
medidas protetivas de urgência. 
d) Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a 
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientespara 
esclarecê-la, devendo ser o preso colocado em liberdade imediatamente após a 
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida (art. 
313, parágrafo único, do CPP). 
 
 Hipóteses em que é inadmissível para decretação preventiva 
 De acordo com a regra incorporada no CPP, permite chegar à conclusão de não ser 
admitida a decretação judicial da prisão preventiva, nas seguintes hipóteses: 
 
a) nas contravenções penais6; 
 b) nos crimes dolosos punidos com pena igual ou inferior a 04 anos, desde que as 
outras medidas cautelares se mostrem suficientes e adequadas. 
 A Lei n. 9.714/98 alterou radicalmente o âmbito de aplicação das penas alternativas à 
prisão, passando a admitir a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de 
direito para condenações de até quatro anos, no caso de crimes dolosos cometidos sem violência 
ou grave ameaça e sem limite no caso de crimes culposos. Devendo observar mais dois 
requisitos: que o réu não seja reincidente em crime doloso e que as circunstâncias judiciais sejam 
suficientes para prevenir e reprimir a infração penal. 
 
 c) Quando houver evidências ter o agente praticado o fato acobertado pelas 
excludentes da ilicitude (art. 314, do CPP). 
 d) Nos crimes culposos, pois o inciso I do artigo 313 menciona “crimes dolosos”, 
portanto, os crimes culposos seja qual for a pena não pode ser decretada a prisão preventiva 
 Fundamentação – art. 315, CPP. 
 
 Nos termos do art. 315, do CPP c/c art. 93, IX e art. 5º, LXI, da CF/88, o decreto da 
prisão preventiva deve ser fundamentado quanto aos pressupostos ensejadores da medida 
cautelar. Sob pena, de ser atacada por via de habeas corpus. 
 
 
6
 O art. 313, do CPP, menciona “crime” devendo ser interpretado estrito sensu. 
37 
 
 A par disso, os artigos 283, 310, 387, § 1º, art. 413, § 3º, todos do Código de Processo 
penal são enfáticos no sentido da necessidade de fundamentação, motivação do decreto de prisão 
preventiva. Por isso, se conclui pela imprescindibilidade de cuidadosa exposição de motivos pelo 
juiz quando da imposição de medidas cautelares. Oportuna é a manifestação de Aury Lopes Jr., 
quando diz: 
 
“É imprescindível um juízo sério, desapaixonado e, acima de tudo, calcado na 
prova existente nos autos. A decisão que decreta a prisão preventiva deve conter 
um primor de fundamentação, não bastando a invocação genérica dos 
fundamentos legais, Deve o juiz demonstrar, com base na prova trazida aos 
autos, a probabilidade do fumus comissi delicti e do periculum libertatis” (Prisões 
Cautelares, p. 96). 
 
 
Prisão Temporária – Lei 7.960/89 
 Introdução 
 
 A prisão temporária é uma prisão provisória que tem com finalidade nuclear e 
primordial auxiliar a investigação em crimes graves. É uma das três espécies de prisão provisória 
admissível em nosso ordenamento, conforme a nova redação do artigo 283, caput, do CPP. 
 
 A prisão temporária foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela lei nº 
7.960/89. Como o nome indica, implica a detenção do indivíduo pelo prazo previamente 
demarcado na lei que a institui. Com o advento dessa forma de coação, procurou o legislador 
propiciar à polícia, de forma legal, o retorno da chamada prisão para averiguações. 
 
 Portanto, pode ser conceituada como: Medida restritiva da liberdade de locomoção, 
decretada por tempo determinado, destinada a possibilitar as investigações de crimes 
considerados graves, durante o inquérito policial. 
 
 Prisão temporária nos crimes graves 
 
 Por força dos diplomas legislativos, a prisão temporária tem incidência sobre crimes 
que podem ser denominados graves, cujo elenco encontra-se na Lei n. 7.960/89, e sobre os 
crimes hediondos, cujo rol está especificado na Lei n. 8.072/90, alterada pela Lei nº 8.930/94, e 
os equiparados a hediondos, tais como, tráfico de drogas, terrorismo, e crime de tortura. 
 
38 
 
 Assim, temos então: 
 1) Crimes graves: Estão previstos na Lei nº 7.960/1989 
 2) Crimes hediondos: A relação está descrita na Lei nº 8.072/90. 
 3) Crimes equiparados a hediondos: São os previstos como Tráfico de Drogas, na 
Lei nº 11.343/2006; os crimes de terrorismo, regulamentado pela Lei nº 13.260, de 16 de março 
de 2016, e o crime de tortura, previsto na Lei nº 9.544/97. 
 
 Permissivos legais 
 
 Como toda prisão anterior à sentença condenatória acobertada pelo manto da res 
iudicata formal, mesmo que tenha ela caráter predominantemente investigatório ou policial, é 
excepcional por excelência, cumpre à lei que a instituiu estabelecer as situações permissivas de 
sua ordenação. 
 
 Portanto, o legislador, ao dispor da prisão temporária, nos cânones da Lei n. 7.960/89, 
elencou as hipóteses permitidas para sua decretação. Trata-se de numerus clausus. Somente 
naquelas circunstâncias legais e nos delitos previamente fixados, a temporária guarda incidência. 
 
 Por se cuidar de medida coativa da liberdade física individual, não se admite 
aplicação extensiva. Esses permissivos são: 
 
 a) objetivos: A prisão temporária deve ser decretada quando for imprescindível para 
as investigações, devendo ficar demonstrada a sua necessidade, e nós crimes previstos em lei 
(periculum in mora); 
 b) subjetivos: A prisão temporária deve ser decretada quando o investigado não tiver 
residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao estabelecimento da sua identidade 
(fumus boni iures). 
 Sendo que estes requisitos, mencionados acima, devem ser vistos de forma isolada e 
não cumulada, inclusive, a prisão temporária pode ser decretada a quem tenha identidade 
definida e possuir residência fixa, desde que seja imprescindível às investigações. 
 c) A decretação da prisão temporária deve ser baseada em fundadas razões, em 
qualquer prova admitida em direito, probabilidade de autoria ou participação, nos crimes 
elencados na legislação. 
 
 
39 
 
 Imprescindibilidade para as investigações 
 
 O art. 1º, I, da Lei n. 7.960/89 é enfático ao prever decretação da prisão temporária 
quando for ela imprescindível para as investigações. Logo, se não for indispensável, se não for 
absolutamente necessária às investigações, a medida estudada não pode ser empregada, o que 
deve ser rigorosamente demonstrado por quem provocou a adoção dessa medida limitativa da 
liberdade individual. 
 
 Nenhuma prisão temporária será decretada sem que se demonstre sua necessidade à 
elaboração do inquérito policial. Diante disso, antes de ordená-la, o magistrado deve verificar 
sua essencialidade para os fins persecutórios criminais, o que deverá constar na fundamentação 
da decisão que a impuser. 
 
 Assim, podendo a autoridade policial e seus agentes proceder, com sucesso, às 
investigações do inquérito, mesmo estando o autor do delito em liberdade, a prisão temporária 
fica proibida. 
 
 Indiciado sem residência fixa ou que deixe de fornecer elementos necessários ao 
esclarecimento de sua identidade 
 
 Os pressupostos estão previstos no artigo 1º, II, da lei 7.960/89. Do ponto de vista 
exegético, cada permissivo deve ser visto de forma isolada e não cumulativa. Diante disso, 
havendo imprescindibilidade para as investigações, tanto faz, para a decretação da prisão, que o 
indivíduo, denominado pela lei indiciado, tenha residência fixa e possa facilmente ser 
identificado. Isso porque as causas prováveis que conduzem à indispensabilidade das 
investigações, conforme asseverado, tanto podem ser levadas a efeito por quem tenha ou não 
residência fixa, ou possa ou não se identificar. 
 
 Crimes que a comportam e prova de autoria e participação 
 
 O legislador ordinário, de modo criterioso, alinhou os crimes que comportam a prisão 
temporária. A relação apresentada pelo legislador deve ser obedecida de forma rigorosa, o que 
impossibilita a decretação dessa medida que afeta a liberdade corpórea do agente emoutros 
delitos não previstos na lei estudada. Se isso ocorrer, evidente será o constrangimento ilegal, 
40 
 
amparável por writ of habeas corpus, uma vez que faltará justa causa para imposição da medida 
coativa. 
 
 Os crimes, consumados ou tentados, previstos no Código Penal, que admitem a 
prisão temporária, levando-se em consideração a revogação operada primeiramente pela Lei n. 
8.072/90 e, posteriormente, pela Lei n. 8.930/94, nos termos do artigo 1º, III, da Lei n. 7.960/89. 
 
 São considerados crimes graves, previstos na Lei 7.960/89, são: art. 121, caput, art. 
148, caput, art. 157, caput, e § 1º e 2º, art, 158, caput e § 1º. Art. 219 c/c art. 223, art. 288, todos 
do Código Penal. 
 
 Na legislação extravagante, por força da lei abordada, o crime contra o sistema 
financeiro (Lei n. 7.492/86), também integrou o rol daqueles que comportam essa prisão, 
conforme o art. 1º, alínea “0”, da Lei 7.960/89, bem como o envenenamento de água potável. 
 
 São considerados crimes hediondos: Art. 121, § 2º, art, 157, § 3º, art. l58, § 3º, art. 
158, caput, §§ 1º, 2º, 3º, art. 213, art. 217-A, art. 267, § 1º, art, 273, e crime de genocídio. 
 
 Portanto, como já afirmado, não basta somente a ocorrência de algum dos delitos 
precitados, mas deve haver “fundadas razões”, de acordo com qualquer prova admitida na 
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado naqueles eventos típicos. É o que reza o 
artigo 1º, III, da predita Lei. Portanto, a imposição dessa prisão de natureza investigatória exige 
somente a probabilidade suficiente de autoria. 
 
 Por expressa disposição legal, tal probabilidade tem de estar rigorosamente provada 
por intermédio de regulares meios probatórios, como prova testemunhal, documental ou pericial, 
obtida por meios lícitos, já que o legislador, acertadamente, faz menção a “qualquer prova 
admitida em direito”. 
 
 Igualmente, não basta haver prova no sentido da existência das fundadas razões 
quanto à autoria ou participação delitiva para a ordenação da prisão temporária, mas que a ela se 
junte outro atributo: imprescindibilidade para as investigações que serão acondicionadas no 
inquérito policial. 
 
 
41 
 
 Provocação da prisão temporária 
 
 Ao contrário do que acontece com a prisão preventiva, o juiz não pode decretar de 
ofício a prisão temporária. Não existe previsão legal a respeito. 
 
 Somente estão legitimados para provocá-la a autoridade policial e o Ministério 
Público. É o preceituado no art. 2º, caput da Lei 7.960/89. 
 
 Decisão fundamentada e prazo 
 
 A decisão do Juiz deverá ser fundamentada na esteira do normatizado no art. 2º, § 2º, 
da Lei nº 7.960/89. A previsão infraconstitucional é dispensável; pois, a decisão, por força 
constitucional, deve ser motivada, já que pressupõe ordem escrita da autoridade judiciária 
competente (art. 5º LXI), aliada que seja a outro preceito maior ancorado no artigo 93, IX, da 
CF/88, que obriga a fundamentação de todas as decisões provindas dos órgãos do Poder 
Judiciário. Portanto deve conter: 
 
 a) comprovação de indícios suficientes de autoria ou participação; 
 b) comprovação da existência de crime, entre as infrações penais que a medida 
comporta; 
 c) demonstrar a imprescindibilidade para as investigações. 
 d) se o investigado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos para o 
estabelecimento de sua identidade. Nesse caso, não é requisito essencial. 
 
 Da mesma maneira, a decisão deverá embasar-se em provas concretas quando a 
circunstância elementar da decretação recair sobre o indiciado que não tiver residência fixa ou 
não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade. Não basta simples 
afirmação do representado ou requerente
7
. 
 
 O juiz também pode de ofício solicitar informações e esclarecimentos da autoridade 
policial, conforme prevê o artigo 2º § 3º, da Lei telada. 
 
 
7
 Com relação aos requisitos subjetivos como visto alhures, não possuir o indiciado residência fixa o elementos com 
relação a sua identificação, são somados a imprescindibilidade, mas mesmo tendo residência fixa e não havendo 
dúvidas com relação a identidade do acusado, pode ser decretada a prisão temporária. 
42 
 
 O prazo demarcado pela lei para que seja prolatada a decisão é de 24 horas, contado a 
partir da hora do recebimento da representação ou do requerimento, salvo se o magistrado 
entender que deve ser realizada alguma diligência, oportunidade na qual esse espaço temporal 
terá início em sua conclusão. 
 
 Prisão, duração e colocação do preso em liberdade. 
 
 Uma vez decretada a prisão temporária, deverá ser expedido mandado de prisão, 
contendo, no que couber, os requisitos alinhados no art. 285, do CPP. Essa ordem deverá ser 
expedida em duas vias, sendo certo que uma delas deve ser entregue ao preso logo após sua 
prisão, servindo como nota de culpa (art. 2º, § 4º, da Lei n. 7.960/89). 
 
 O objetivo primário da lei determinando que o mandado de prisão sirva de nota de 
culpa é justamente poder propiciar ao preso o uso de meios de defesa quanto a sua liberdade 
física, motivo pelo qual a ordem deve ser bastante clara ao apontar o motivo de sua prisão 
temporária. 
 
 A duração da prisão temporária nos crimes graves é de cinco dias, contados da data 
em que se verificou a detenção do indiciado. Esse prazo poderá ser prorrogável
8
 por igual 
período em caso de extrema e comprovada necessidade para as investigações (art. 2º, § 7º, da lei 
n. 7.960/89). 
 
 Ainda, a Lei extravagante objeto de considerações doutrinárias, determinou o 
acréscimo do art. 4º, I da Lei n. 4.898/65, que tipifica as condutas alusivas ao crime de abuso de 
autoridade, ameaçando de pena a autoridade policial que “prolongar a execução de prisão 
temporária..” 
 
 Igualmente, a colocação em liberdade somente verificar-se-á caso não tenha sido 
decretada a prisão preventiva. Se isso acontecer, a nova prisão do indiciado deve ser formalizada 
conforme os requisitos legais e mediante apresentação de mandado específico. 
 
 Prisão temporária nos crimes hediondos e naqueles a eles equiparados 
 
 
8
 A prorrogação deve ser através de nova decisão da autoridade judiciária. 
43 
 
 A vigente Constituição Federal estabeleceu, no artigo 5º, XLIII, os crimes hediondos, 
cabendo ao legislador infraconstitucional regulamentá-la, sendo editada a Lei n. 8.072/90, 
dispondo sobre os delitos dessa natureza no art. 1º e seu parágrafo único, da Lei n. 8.072/90, 
elencou as figuras típicas como hediondas. Posteriormente, foi promulgada a Lei n. 8.930/94 
dando nova redação do Diploma por último citado, estabelecendo um novo rol de crimes tido 
como hediondos, no artigo 1º. 
 
 Na legislação especial, o crime de genocídio consumado ou tentado, previsto nos arts. 
1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889/56, também é considerado hediondo. 
 
 São crimes hediondos por equiparação: I - a prática de tortura; II – o tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins e III – terrorismo. 
 
 Nestes casos, para a decretação da prisão temporária deve serem observados, além do 
crime os requisitos já estudados. 
 
 Prisão temporária nos crimes hediondos e sua duração 
 
 O prazo para o cumprimento da prisão temporário no caso de crimes hediondos ou os 
crimes a ele equiparados a lei que instituiu estabeleceu um prazo mais dilatado para a prisão 
temporária: trinta dias, prorrogável por idêntico período (art. 2°, § 4º). 
 
 A exemplo da prorrogação da prisão temporária nos crimes elencados na Lei n. 
7.960/89, nos delitos que estão sendo alvo de estudo, deve haver também a demonstração da 
extrema e comprovada necessidade da dilatação da detenção sob pena de ficar caracterizada sua 
ilegalidade. A prisão não pode ultrapassar os sessenta dias, pois pode acarretar constrangimento 
ilegal, devendo o indiciado

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