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PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 81 ISSN 2447-620X ESTAMOS FORMADAS, E AGORA? VIVÊNCIAS E RESSIGNIFICAÇÕES DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM TEMPOS DE PANDEMIA E ISOLAMENTO SOCIAL Adriane Soares adrianesoares95@gmail.com Pedagoga formada pela UFRJ Andrezza Cardoso de Freitas dezzacfreitas@gmail.com Pedagoga formada pela UFRJ Yandra Guimara!es yandraqguimaraes@gmail.com Pedagoga formada pela UFRJ Resumo O presente artigo tem como objetivo apresentar as ressignificaço! es das pra* ticas pedago* gicas na Educaça!o Infantil de tre-s pedagogas rece*m formadas a partir de suas vive-ncias em instituiço! es privadas neste momento de pandemia e isolamento social. Considerando a concepça!o de infa-ncia em que a criança e* vista como sujeito histo* rico e de direitos, ativa em seu processo de aprendizagem e centro do planejamento, buscamos evidenciar as diversas questo! es e angu* stias que emergiram no que tange pensar o nosso eu docente e nossa aça!o pedago* gica no momento atual. De que maneira podemos realizar a manutença!o dos ví*nculos afetivos com as crianças e famí*lias? Como conduzir a relaça!o escola e famí*lia no ambiente virtual? O referencial teo* rico apoiou-se nos estudos de Angela Borba, Daniela Guimara!es, Maria Fernanda Nunes e nos documentos legais que discutem temas concernentes ao desenvolvimento pleno da criança, considerando as interaço! es e as brincadeiras como eixos norteadores da Educaça!o Infantil. Nesse caminhar, o texto discute e pontua a concepça!o de infa-ncia que norteia as pra* ticas pedago* gicas na Educaça!o Infantil e apresenta as vive-ncias das tre-s educadoras em seus contextos de trabalho em instituiço! es privadas nesse momento de ensino remoto emergencial. Concluí*mos o texto sem a pretensa!o de encontrar soluço! es ou respostas para as indagaço! es realizadas, ou de indicar certezas e incoere-ncias no contexto do trabalho pedago* gico, mas sim de evidenciar nosso cotidiano frente ao momento que nos foi imposto, convidando para reflexa!o e renovaça!o do nosso olhar enquanto educadores da Educaça!o Infantil, sem nos afastarmos da concepça!o de infa-ncia que nos norteia. Palavras-Chave: Educaça!o Infantil; Pandemia; Pra* ticas Pedago* gicas; Ressignificaço! es. PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 82 ISSN 2447-620X “Minha infância renasce Nas cores dos dias Nos anos que passam E acolhem o encanto Que vejo em cada canto Onde se esconde a simplicidade.” (André Neves) Introdução O presente artigo tem por objetivo refletir acerca das ressignificaço! es no que tange a9 s pra* ticas vivenciadas no perí*odo de quarentena na Educaça!o Infantil por tre-s pedagogas rece*m-formadas que trabalham no contexto da rede privada. Alicerçado na concepça!o de infa-ncia na qual a criança e* compreendida como sujeito ativo, produtora de cultura, curiosa, que brinca, imagina e se desenvolve na relaça!o com o outro e com o meio e tendo as interaço! es e brincadeiras como eixos norteadores do trabalho pedago* gico na Educaça!o Infantil, nas linhas que se seguira!o, evidenciamos as diversas questo! es e angu* stias que emergiram no que se refere pensar o nosso eu docente e nossa aça!o pedago* gica no decorrer e ainda presente momento de pandemia e isolamento social. Mobilizamo-nos a refletir e ponderar sobre como planejar propostas nesse cena* rio para as crianças de modo que produzam sentidos em seu com cotidiano. De que maneira podemos realizar convites e propostas com as crianças virtualmente tendo como eixos norteadores da pra* tica docente as interaço! es e brincadeiras? Como conduzir a relaça!o escola e famí*lia virtualmente? Como realizar a manutença!o dos ví*nculos afetivos com as crianças e famí*lia no ambiente virtual? Evidenciamos que, sem termos a pretensa!o de encontrarmos resposta defronte a este momento no qual dispomos de mais du* vidas do que soluço! es, fazemos o convite a olharmos e escutarmos de maneira atenta a9 s manifestaço! es e expresso! es das crianças no brincar e nas suas mu* ltiplas linguagens. Ressaltamos a suma importa-ncia da efetivaça!o da parceria escola e famí*lia nesse momento que nos perpassa e tambe*m a acolhida e escuta de todos que compo! e a comunidade escolar. Nessa direça!o, organizamos o artigo em dois momentos. No primeiro momento intitulado “Educaça!o Infantil em tempos de pandemia: ressignificando pra* ticas, consolidando concepço! es” abordamos a concepça!o de infa-ncia que zelamos e PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 83 ISSN 2447-620X dissertamos sobre a Educaça!o Infantil e a pandemia, ressaltando o momento em que vivemos, as movimentaço! es das instituiço! es e a chegada ao ensino remoto emergencial. No segundo momento, em “Ser docente em tempos de pandemia: nossas vive-ncias e experie-ncias”, abordamos nossas vive-ncias neste momento de pandemia e isolamento social nas instituiço! es privadas nas quais atuamos. Buscando reflexo! es no que diz respeito a9 s pra* ticas que a emerge-ncia atual nos defronta, destacando e construindo ponderaço! es acerca do brincar e das mu* ltiplas linguagens infantis. Por u* ltimo, expomos as consideraço! es finais ressaltando a importa-ncia da reflexa!o, renovaça!o e ressignificaça!o do nosso olhar enquanto educadoras da Educaça!o Infantil. Educação Infantil em tempos de pandemia: ressignificando práticas, consolidando concepções. As crianças sa!o sujeitos ativos no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, sendo produtoras de cultura e atrave*s das interaço! es e brincadeiras se desenvolvem, aprendem. A criança reconhecida como sujeito e* recente em nossa histo* ria. (...) a criança, tida como centro do planejamento curricular, e* compreendida como um sujeito histo* rico e de direitos que, por meio das interaço! es, das relaço! es e das pra* ticas cotidianas que vivencia, constro* i sua identidade pessoal e coletiva, assim como constro* i sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. Esse processo de construça!o de sentido para o mundo fí*sico e social ocorre por meio de diversos comportamentos, destacando-se: brincar, imaginar, fantasiar, desejar, aprender, observar, experimentar, narrar, questionar. (FILHO; NUNES, 2013, p.77) A partir da Constituiça!o Federal de 1988, as crianças sa!o reconhecidas legalmente como sujeitos de direitos apo* s grandes lutas de diversos campos sociais. (...) todas as crianças sa!o consideradas como sujeitos de direitos: direito a9 vida, sau* de, alimentaça!o, educaça!o, lazer, cultura, dignidade, respeito, liberdade, convive-ncia familiar e comunita* ria. Esta ampla conquista e* PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 84 ISSN 2447-620X fruto de intensas lutas e discusso! es da sociedade civil organizada, movimentos de mulheres e 11 pesquisadores do campo da infa-ncia e da educaça!o ao longo dos anos 80, especialmente. (GUIMARAG ES, 2008, p.2) Apo* s a Constituiça!o, a Lei de Diretrizes e Bases da Educaça!o Ba* sica nº 9394 de 1996 (LDB) traz em seu texto a Educaça!o Infantil como primeira etapa da Educaça!o Ba* sica. Outro grande marco legal para esta etapa sa!o as Diretrizes Curriculares para Educaça!o Infantil (DCNEIs), resoluça!o n° 5 de 2009, como documento mandato* rio que reafirma a Constituiça!o e a LDB, especificando como deve ser conduzido o currí*culo e trabalho pedago* gico nas creches e pre* -escolas e que as crianças sa!o o centro do planejamento e das pra* ticas cotidianas. Apesar dos avanços legais conquistados ate* os dias atuais, e* noto* rio que a Educaça!o Infantil ainda necessita de um olhar mais atento das polí*ticas pu* blicas, demaneira que contemplem problemas que va!o desde a infraestrutura ate* a formaça!o docente dos profissionais que atuam no dia a dia com as crianças. Diante da pandemia, muitos problemas foram agravados, como a vulnerabilidade das crianças, alimentaça!o, recursos, entre outros, principalmente quando pensamos em como sera* a retomada das atividades. A partir da organizaça!o de contextos, espaços, tempos e materiais que mobilizam o desenvolvimento da expressividade e da linguagem da criança, e* possí*vel falar de uma pedagogia indireta na Educaça!o Infantil. O espaço fí*sico torna-se ambiente de troca, aprendizagem e diversificaça!o de experie-ncias para ale*m do que o professor propo! e de maneira direta. Sendo assim, nesse momento de isolamento social, como pensar em uma Educaça!o Infantil sem o espaço fí*sico da escola de maneira que contribua para o desenvolvimento das crianças? Como pensar em propostas de interaço! es com as crianças sem a relaça!o corporal? O espaço fí*sico das escolas foi fechado em março de 2020 em raza!o da pandemia do Covid-19 que chegou ao Brasil. A princí*pio foi falado em uma simples gripe, pore*m, no decorrer do processo percebemos que a complexa problema* tica da pandemia mundial faria com que as escolas ficassem fechadas por um tempo maior que o pensado inicialmente. Assim, a instituiça!o escolar se deparou com o ine*dito e essa mudança repentina fez emergir reaço! es e movimentos diversos em diferentes escolas. Algumas instituiço! es ofertam folhas de atividades prontas, outras enviam ví*deos dos docentes apresentando atividades para serem realizadas, algumas realizam encontros online com PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 85 ISSN 2447-620X as crianças em dias especí*ficos oferecendo mu* sica, literatura, artes, brincadeiras e outras iniciaram aulas-encontros online as crianças diariamente. As escolas buscaram se reinventar em tempo real, pensando e repensando diariamente como oferecer aos seus educandos uma educaça!o de qualidade em tempos difí*ceis e de isolamento social. Escolas e professores, sem estudos pre*vios para uma educaça!o remota na Educaça!o Infantil e conhecimentos tecnolo* gicos, utilizam o ensino remoto emergencial para manter o ví*nculo afetivo e financeiro (esfera privada) com as crianças e suas famí*lias. EL importante ressaltar a diferença entre ensino remoto e educaça!o a9 dista-ncia (EAD). A EAD e* uma modalidade de ensino estabelecida na lei de diretrizes e bases da educaça!o nacional (LDB) em que professores e estudantes esta!o distantes fisicamente e temporalmente, tendo como principal recurso para aprendizagem as tecnologias de informaça!o e comunicaça!o. Pode ocorrer na educaça!o ba* sica (Educaça!o de Jovens e Adultos, educaça!o profissional e te*cnica) e na educaça!o superior de acordo com o Ministe*rio da Educaça!o. O que as escolas, que optaram por fazer o envio de atividades e propostas, ví*deos e encontros online esta!o realizando e* denominado ensino remoto e emergencial devido a9 impossibilidade de estarmos no espaço fí*sico das instituiço! es e tambe*m pela demanda que causa a necessidade da continuidade no ano letivo, seja pelo ví*nculo financeiro das escolas privadas ou pela cobrança das famí*lias e autoridades governamentais. Assim, nesse cena* rio inso* lito de pandemia, a Educaça!o Infantil foi incorporada. Em nosso contexto de trabalho em instituiço! es privadas começamos a nos reinventar. Telas, ví*deos, ediço! es e tantas questo! es emergiram e nos fizeram ressignificar, recriar e repensar nossas aço! es pedago* gicas acerca do brincar e das mu* ltiplas linguagens infantis, como apresentaremos a seguir. Ser docente em tempos de pandemia: nossas vivências e experiências Conforme ja* apresentado, o isolamento social decorrente desse momento de pandemia mundial fez com que as escolas fossem fechadas a9 s pressas instaurando-se o PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 86 ISSN 2447-620X chamado home office para diversas classes de trabalhadores, incluindo os profissionais de educaça!o. Nesse novo cena*rio, inu* meros questionamentos nos pulsam defronte a uma obrigatoriedade de continuidade do trabalho na Educaça!o Infantil no contexto de instituiça!o privada. Como as escolas podem corroborar nesse perí*odo de modo a apoiar as famí*lias nas trocas com as crianças? Como, enquanto escola, podemos realizar propostas pedago* gicas que buscam ampliar os espaços de brincadeiras, imaginaça!o, criaça!o e a construça!o dos conhecimentos das crianças em suas casas nesse perí*odo distante fisicamente? EL noto* rio que estamos passando por diversas ressignificaço! es das nossas pra* ticas pedago* gicas, contudo, e* importante frisar a necessidade de na!o nos afastarmos dos princí*pios e valores que norteiam a Educaça!o Infantil brasileira. As interaço! es e brincadeiras sa!o eixos norteadores do nosso trabalho pedago* gico. Nessa direça!o, convidamos a9 reflexa!o acerca da elaboraça!o de propostas no a-mbito do ensino remoto para as crianças e famí*lias, evidenciando as problema* ticas de concepço! es enraizadas em pra* ticas que consideram o ideal de Educaça!o Infantil focalizado na aprendizagem de conteu* dos tradicionais. Tais pra* ticas desconsideram a pote-ncia corporal, ativa e imaginativa das crianças, o que na!o cabe nas nossas pra* ticas pedago* gicas presenciais, ta!o pouco na modalidade adaptada para o virtual. Temos em nossa legislaça!o educacional que o currí*culo na Educaça!o Infantil sa!o os conteu* dos da vida cotidiana das crianças, tendo como eixos norteadores das propostas as interaço! es e brincadeiras. Art. 3º O currí*culo da Educaça!o Infantil e* concebido como um conjunto de pra* ticas que buscam articular as experie-ncias e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimo- nio cultural, artí*stico, ambiental, cientí*fico e tecnolo* gico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. (BRASIL, 2009) Assim, observando as miudezas e sutilezas do cotidiano em casa que projetam as crianças a9 imaginaça!o e criaça!o, ponderamos ser relevante evidenciarmos a importa-ncia PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 87 ISSN 2447-620X acerca do acolhimento desse brincar pelas famí*lias. A autora Angela Borba (2009) pontua que: “a experie-ncia social e cultural do brincar e* incorporado na criança atrave*s da relaça!o com o outro. Tais relaço! es na!o sa!o somente reproduzidas pelas crianças, mas tambe*m recriadas, com o seu poder de imaginar, criar, reinventar e produzir cultura” A liberdade do brincar nos possibilita invertermos as nossas lo* gicas, colocarmos o mundo de cabeça para baixo, tornando o impossí*vel em possí*vel, nos distanciando da realidade cotidiana, fazendo-nos pensar e interpretar o mundo de novas formas, embebido de novas possibilidades que nesse momento em particular de pandemia se faz ta!o relevante. Nesse sentido, e* fundamental que o outro adulto dessa relaça!o, adulto que e* refere-ncia para a criança, esteja em sua inteireza e atento nesse momento. Borba (2009) tambe*m coloca que: “EL importante enfatizar que o modo de comunicar pro* prio do brincar na!o se refere a um pensamento ilo* gico, mas a um discurso organizado com lo* gica e caracterí*sticas pro* prias, o qual permite que as crianças transponham espaços e tempos e transitem entre os planos da imaginaça!o e da fantasia, explorando suas contradiço! es e possibilidades.” Dessa maneira, e* importante que as instituiço! es escolares orientem as famí*lias de acordo com as diferentes possibilidadese contextos para o acolhimento e a organizaça!o dos espaços para a ampliaça!o desse brincar. Assim fazemos o convite a9 s famí*lias a pular, gritar, rodar, dançar, correr, desenhar, entrar nas narrativas e enredos, estando em sua plenitude presente na relaça!o construí*da com as crianças. Um convite a vivenciarem as mu* ltiplas linguagens, pois, conforme nos aponta Malaguzzi (2016), as crianças possuem “cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir.”. Ademais, no presente contexto, e* noto* rio que trabalhamos, construí*mos e alimentamos as nossas relaço! es dentro do que nos e* possí*vel. As telas, ví*deos, fotografias e os encontros virtuais sa!o os recursos que temos nesse momento. Sabemos que dentro de um ideal, ha* um real perpassado por inu* meros fatores, contudo, e* PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 88 ISSN 2447-620X importante ponderarmos esse real com zelo e cuidado, pensando nas nossas aço! es e proposiço! es enquanto educadores e instituiço! es, compreendendo a necessidade de buscar constantemente a manutença!o da humanizaça!o da Educaça!o Infantil, valorizando o bem-estar e as quere-ncias das crianças. Nessa direça!o, no cena* rio inimagina*vel de pandemia e isolamento social, deparamo-nos com o desafio de viver uma nova configuraça!o e (re)estruturaça!o de educaça!o estando rece*m-formadas e rece*m-chegadas nas instituiço! es que atuamos. As demandas emergiram abruptamente, muitos educadores acumularam funço! es, transformando-se tambe*m em roteiristas e editores de ví*deo-aulas para as crianças. Diversos caminhos começaram a ser traçados, muitas instituiço! es com o ideal de “mostrar trabalho para garantir a matrí*cula” iniciaram aulas online, ví*deos, folhinhas com exercí*cios e propostas, orientaço! es para as famí*lias, entre outros. Apresentaremos a seguir os caminhos que construí*mos nas tre-s instituiço! es que atuamos, evidenciando as possibilidades das nossas aço! es pedago* gicas no que tange as estrate*gias construí*das para manutença!o do ví*nculo afetivo e financeiro entre escolas, crianças e famí*lias dentro do que compreendemos como importante para Educaça!o Infantil. As instituiço! es que atuamos esta!o localizadas nos municí*pios de Nitero* i e do Rio de Janeiro. Para preservar a identidade das escolas, iremos manter o anonimato. Cada uma das tre-s instituiço! es possui em me*dia 70 crianças matriculadas na Educaça!o Infantil e no atual momento esta!o construindo caminhos semelhantes. As escolas sa!o organizadas em grupos por idade, sendo berça* rio para bebe-s de 6 meses ate* 1 ano, G1 criança de 1 ano ate* o G5 com crianças de 5 anos de idade. As instituiço! es oferecem hora* rio integral, tendo jornada de ate* 12 horas por dia, ou hora* rio parcial, de acordo com a demanda de cada famí*lia. A equipe escolar e* formada por professores regentes, com formaça!o em Pedagogia, auxiliares, estagia* rios, professores de diversas linguagens, como mu* sica, teatro, psicomotricidade, artes, ingle-s, cozinha experimental e por nutricionista, gestores e coordenadores pedago* gicos. Nesse processo de reorganizaça!o das instituiço! es, os primeiros passos construí*dos foram as reunio! es coletivas com todos da equipe escolar para que pude*ssemos discutir, refletir, traçar percursos e de acolhida e escuta entre gesta!o e colaboradores. As reunio! es pedago* gicas foram e sa!o frequentes para que possamos estar constantemente refletindo e estudando sobre o momento vigente e ponderando de PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 89 ISSN 2447-620X que maneira a escola tem afetado, atravessado e mobilizado as crianças e suas famí*lias, buscando na!o perder nessa nova configuraça!o a concepça!o de Educaça!o Infantil que acreditamos e zelamos. Uma educaça!o embasada na concepça!o que compreende as crianças como sujeito histo* rico e de direitos, ativa em seu processo de aprendizagem e centro do planejamento, que tem como eixos norteadores as interaço! es e as brincadeiras, e o currí*culo alicerçado na articulaça!o dos saberes e experie-ncias das crianças com o patrimo- nio cultural, artí*stico, ambiental, cientí*fico e tecnolo* gico, objetivando promover o desenvolvimento integral das crianças, de acordo com os documentos norteadores desta etapa. Nesse caminhar, a partir das discusso! es realizadas, inu* meros questionamentos e demandas foram colocadas: “Como realizar encontros online com crianças da educaça!o infantil? E os bebe-s? Como planejar os ví*deos de maneira que sejam significativos e ampliem o espaço do brincar? E a exposiça!o das crianças a mais tempo em frente a tela? Quais os objetivos dos encontros online e dos ví*deos? Tais questionamentos continuam sendo pensados e analisados pelas educadoras e equipe, de modo que nossos planejamentos va!o sendo reestruturados de acordo com as nossas intencionalidades pedago* gicas e dos retornos e falas das crianças e famí*lias acerca da maneira como nossos convites os mobilizaram. Apo* s esses primeiros passos de construça!o coletiva, questionamentos e de estrate*gias e reflexa!o entre as equipes das instituiço! es para a compreensa!o de todas as questo! es e angu* stias, foi realizado um momento de escuta das famí*lias atrave*s de reunio! es online. Momentos estes repletos de trocas, preocupaço! es, desabafos e principalmente acolhida entre as famí*lias e instituiço! es. As reunio! es ocorreram de maneira coletiva, organizadas por turmas, mas tambe*m foi colocado a9 disposiça!o das famí*lias a possibilidade de encontros individuais para trocas e dia* logos mais especí*ficos e singulares com demandas pro* prias de cada famí*lia e cada criança. Nesse caminhar buscamos proporcionar para famí*lias e crianças, orientaço! es, convites e possibilidades de vive-ncias que poderiam ocorrer em suas casas. Indicaço! es de brincadeiras, literaturas, mu* sica, artes e tambe*m de informaço! es/conhecimentos para compreensa!o da relaça!o das crianças com as brincadeiras e o mundo, ale*m da importa-ncia do brincar para o desenvolvimento pleno da criança. Indo adiante das orientaço! es, foram estabelecidos o envio de ví*deos criados pelos professores (regentes, PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 90 ISSN 2447-620X artes, mu* sica, psicomotricidade, teatro, ingle-s, cozinha experimental) e tambe*m encontros online com as crianças e os docentes regentes. As orientaço! es, indicaço! es, ví*deos e encontros online sa!o disponibilizados para as famí*lias e crianças como possibilidades para que façam suas escolhas de acordo com seus interesses, demandas e rotina, sem cara* ter obrigato* rio, mas sim como convites a9 s experimentaço! es diversas. Sabemos da funça!o de mediaça!o que os responsa*veis acabam exercendo entre as propostas planejadas pedagogicamente, acolhemos as dificuldades apresentadas e narradas por eles, compreendendo a diferença existente entre os pape* is e relaço! es exercidos. Responsa*veis na!o sa!o pedagogos, assim como casas na!o sa!o escolas. EL fundamental ter esclarecidos os lugares de atuaça!o dos diferentes sujeitos de relaça!o com a criança no planejamento das propostas e convites a serem realizados. Nos ví*deos buscamos proporcionar as diferentes linguagens, como a contaça!o de histo* ria utilizando livros de literatura, imagens recortadas, objetos e tambe*m somente o a*udio para as crianças ouvirem. Buscamos explorar os diversos ge-neros textuais como as poesias e os poemas, o cordel, as rimas e as cartas. Os materiais na!o estruturados, abordando propostas de criaça!o de brinquedos, jogos, instrumentosmusicais e tambe*m no uso para plantar sementes. Nas artes abordamos a pintura utilizando diversos materiais que podem ser criados em casa como o gelo colorido, tinta caseira, a pintura com temperos, apresentando os artistas, suas obras e indicaço! es de visitas aos museus virtuais. Na linguagem musical indicamos mu* sicas e artistas, convidamos tambe*m para a dança, momentos de relaxamento, brincadeiras com utensí*lios de cozinha e o som produzido, o nosso corpo e os sons que podemos realizar e sentir. Os ví*deos possibilitam que as crianças e famí*lias assistam no momento e no tempo que desejarem. Os a*udios enviados, em formato de podcast, possibilitam o distanciamento da tela, oportunizando outras experie-ncias de imaginar e criar. Nos encontros online com crianças entre 2 e 5 anos procuramos oferecer um espaço para que as crianças possam falar, compartilhar, ver os amigos e professores. Assim como nos ví*deos, proporcionamos momentos de literatura, poesias, brincadeiras, jogos e mu* sicas (exploramos jogos e brincadeiras que pudessem ser realizados, como brincadeiras cantadas, mí*mica, esta* tua, bingo, adedonha, entre outros). Ressaltamos novamente que os encontros e os ví*deos sa!o convites a experienciar propostas pensadas PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 91 ISSN 2447-620X pedagogicamente e contextualizadas para as crianças permeadas pelos ví*nculos afetivos construí*dos entre educadores, grupos de crianças e famí*lias. A partir dos encontros online, observamos diferentes transbordamentos e atravessamentos que as crianças manifestaram. Percebemos que para muitas crianças os encontros na!o sa!o significativos e elas apresentam desconforto e resiste-ncia em estar de frente para a tela (computador, tablet ou celular) e que estavam ali, pois, seus familiares o colocaram nesse espaço. Para outras, os encontros mostraram ser um momento esperado, com muita euforia e alegria. EL importante ressaltar que estas sa!o possí*veis interpretaço! es que realizamos a partir da nossa observaça!o por meio da tela em um curto tempo e espaço. As nossas observaço! es acerca do trabalho construí*do remotamente tornam importante pontuar o cuidado que devemos ter com as manifestaço! es e transbordamentos emocionais das crianças. EL necessa* rio respeitar o tempo de cada uma e seus desejos a9 medida que conforme nos aponta Guimara!es (2011), no que tange ao contexto educacional deve-se considerar o tempo da humanizaça!o, o tempo do dia* logo com o movimento das crianças e o tempo da escuta de suas manifestaço! es expressivas. Dessa maneira, tais consideraço! es no a-mbito do ensino remoto devem ser ainda mais atentas, diante da dista-ncia fí*sica que impede as interpretaço! es e compreenso! es que passam pela via do toque, do olhar, do corpo presente, tangí*vel, estando as relaço! es atravessadas por interpretaço! es, mediaço! es e tempos de conexo! es diferentes. Desse modo, evidenciamos que as nossas estrate*gias e propostas planejadas perpassam a dimensa!o possí*vel do trabalho pedago* gico realizado no contexto do ensino remoto defronte a9 s demandas estabelecidas pelas instituiço! es e famí*lias. Continuamos repletas de questo! es e du* vidas, sabemos que as interaço! es nesse espaço virtual na!o acontecem efetivamente, pore*m, tambe*m observamos que os encontros online, ví*deos e a*udios enviados esta!o afetando boa parte das nossas crianças de maneira positiva. Compreendemos que o corpo, o toque, o fí*sico, o olho no olho, a segurança de um abraço e de uma ma!o que apoia sa!o primordiais nos processos de descobertas e aprendizagens das crianças pequenas a9 medida que a educaça!o se faz de e com o corpo inteiro, todavia, defronte ao cena* rio que nos foi imposto seguimos ressignificando e ponderando criticamente as nossas pra* ticas pedago* gicas, buscando sempre respeitar e cuidar do bem-estar das crianças, de suas demandas e seus desejos. PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 92 ISSN 2447-620X Considerações finais Conforme o exposto, instaurado o isolamento social e o fechamento de creches e escolas, vimos emergir em muitas instituiço! es privadas o processo de elaboraça!o de uma educaça!o remota, ale*m de uma corrida na produça!o de ví*deo aulas e uso de plataformas digitais. Nesse novo contexto, crianças e adultos esta!o aprendendo novas maneiras de enxergar e explorar o mundo. Muitos educadores esta!o ressignificando suas pra* ticas e apresentando angu* stias e indagaço! es. Diante dos nossos estudos e experie-ncias no campo da Educaça!o Infantil, consideramos ser de singular importa-ncia a efetivaça!o da construça!o e fortalecimento da lo* gica de uma comunidade escolar coesa e integrada sobre a esse-ncia pedago* gica das instituiço! es, fortalecendo a concepça!o de infa-ncia na qual a criança e* sujeito de direitos, ativa no processo de aprendizagem e desenvolvimento, ale*m de ser produtora da cultura. Nossas pra* ticas pedago* gicas devem primeiro acolher e escutar as crianças e famí*lias, contribuindo na medida do possí*vel para a ampliaça!o das experie-ncias e vive-ncias cotidianas e suas ressignificaço! es do mundo. A acolhida e escuta das crianças e famí*lias no contexto especí*fico da educaça!o privada tem um desafio singular defronte a esse perí*odo que nos assola: a necessidade de pensar em produço! es de propostas direcionadas a9 manutença!o do ví*nculo financeiro com as famí*lias e a manutença!o do ví*nculo afetivo com as crianças. Pontuamos enta!o a importa-ncia de momentos de estudos e reflexo! es entre educadores e gesta!o de modo que, tendo em vista a obrigatoriedade expressa na produça!o de atividades, possam consolidar e traçar caminhos para propostas pedago* gicas com as crianças a9 dista-ncia garantindo o espaço das brincadeiras e das mu* ltiplas linguagens, de modo a serem significativas para as crianças, respeitando suas demandas e seus desejos, produzindo sentidos. Para ale*m do que estamos construindo nesse momento com as crianças, se faz necessa* rio tambe*m o ato de se planejar e refletir sobre o retorno das creches e escolas para um novo normal na sociedade, permeado por protocolos te*cnicos de higiene. Contudo, ponderamos ser fundamental na!o nos afastarmos da dimensa!o humana das PRÁTICAS Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 93 ISSN 2447-620X relaço! es, tendo assim, o olhar cuidadoso e afetuoso para a manutença!o de pra* ticas na Educaça!o Infantil que permitam a9 s crianças serem efetivamente crianças. Ademais, convidamos para a necessa* ria reflexa!o e a renovaça!o do nosso olhar enquanto educadores. EL importante pararmos, respirarmos, nos conectarmos com nossos interiores, nos (re)conhecendo entre os tantos no* s (os no* s que estamos sentindo, embolados nessa loucura de isolamento, e o no* s, voltado para o olhar o eu, o nosso interior) que nos habita, de modo a ressignificar e tentar compreender, na medida do possí*vel, as formas que as nossas pra* ticas e proposiço! es podem atingir e mobilizar crianças e famí*lias nesse momento de isolamento. No que tange a9 s vive-ncias e experie-ncias aqui apresentadas, e* importante frisar que as aço! es pedago* gicas narradas sa!o as possibilidades encontradas dentro dos nossos contextos de trabalho na rede privada. Na!o temos a pretensa!o de indicar certezas ou incoere-ncias no contexto do trabalho pedago* gico, mas sim de evidenciar nosso cotidiano frente ao momento que nos foi imposto. Estamos trilhando novos caminhos em diversas esferas sociais e a educaça!o tambe*m se coloca nessa nova construça!o. A ruptura com pra* ticas tradicionais ja* se faz presente em diversas instituiço! es de Educaça!o Infantil, maspontuamos que agora e* ainda mais importante que o olhar para essa etapa da educaça!o ba* sica seja ainda mais atento, respeitoso e acolhedor. Referências Bibliográficas ALMEIDA, A. M. F.; GIOVINE, M. A.; ALVES, M. T. G., & Ziegler, S.. A educação privada na Argentina e no Brasil. Educaça!o e Pesquisa, n°43, 2017, p. 939-956. BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei n° 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Ministe*rio da Educaça!o e do Desporto. Secretaria de Educaça!o Ba* sica. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil / Secretaria de Educaça!o Ba* sica. Brasí*lia: MEC, SEB, 2009. BORBA, AS ngela. O brincar como modo de ser e estar no mundo. BRASIL, MEC. Ensino Fundamental de nove anos: orientaço! es para a inclusa!o da criança de seis anos de idade. Organizaça!o do documento: Jeanete Beauchamp, Sandra Pagel, Arice* lia Nascimento. 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