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Haíssa Maria Augusto Soares Hipotermia Terapêutica Neonatal · Asfixia neonatal - redução do fluxo sanguíneo (isquemia) com falta de oxigenação (hipóxia) atribuída a problemas perinatais, afetando todos os órgãos e sistemas; · Encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) - síndrome clínica com disfunções neurológicas ocasionadas pela asfixia cerebral; A asfixia neonatal é uma importante causa de mortalidade e sequelas neurológicas variáveis em recém-nascidos termos e pós-termos. Podendo a levar a casos de encefalopatias. A primeira fase do mecanismo de morte celular neuronal é a falha energética primária (isquemia e hipóxia) que cursa com redução dos níveis da ATP e falha na bomba de sódio e potássio ATPase que leva a uma alteração metabólica com acidose lática, liberação de radicais livres e influxo maior de cálcio nas células e isso tudo leva a uma necrose neuronal. Após essa primeira fase, entramos em um período de latência (primeiras 6 horas após o insulto), no qual podemos agir para evitar progressão. Não podemos reverter o que aconteceu, mas podemos evitar que a injúria aumente. É nessa fase de latência que introduzimos a hipotermia terapêutica. Seguindo o processo, temos a segunda fase desse mecanismo, que é a falha secundária (reperfusão), na qual há uma disfunção mitocondrial irreversível, ativação da micróglia e apoptose neuronal (morte celular programada). A hipotermia iniciada na fase latente do insulto hipóxico-isquêmico atenua a segunda falha energética ao reduzir: · Liberação de glutamato - aminoácido excitatório; · Produção de radicais livres - citotóxico; · Influxo de cálcio para o meio intracelular - sinalização da apoptose neuronal; · Cascata inflamatória; · Apoptose celular; Atualmente a hipotermia terapêutica é o tratamento de escolha em RNs com EHI moderada ou grave ocasionada por insultos agudos como prolapso de cordão ou DPP. A hipotermia reduz a mortalidade e disfunções moderadas e graves até 24 meses. As principais causas de asfixia neonatal são: · DHEG; · Hipotensão materna; · Infecção materna; · Convulsões maternas; · DPP; · Prolapso cordão; · Circular cervical de cordão; · Nó verdadeiro de cordão; · Período expulsivo prolongado; · Refratariedade às manobras de reanimação; · SAM (síndrome de aspiração meconial) grave; · Prematuros; Nos critérios de indicação para hipotermia terapêutica, temos: história de evento agudo perinatal (causas), IG acima de 35 semanas e peso acima de 1800g e dentro das primeiras 6 horas de vida (não deve ser indicado após essas primeiras 6 horas). Ainda temos que ter critérios para asfixia neonatal e para encefalopatia hipóxico-isquêmica moderada a grave: · Asfixia neonatal (necessita de apenas 1): · Gasometria de cordão (sala de parto) com pH abaixo de 7,0 e/ou BE abaixo de -16; · Gasometria na primeira hora de vida com pH abaixo de 7,1 e/ou BE abaixo de -12; · APGAR no 10º minuto abaixo de 5; · Necessidade de suporte ventilatório após o 10º minuto de vida; · Encefalopatia hipóxico-isquêmica: · Moderada - é a que mais se beneficia; · Grave; · Convulsão (clínica ou eletroencefalográfica); Não se indica a hipotermia terapêutica em casos de síndromes genéticas incompatíveis com a vida (síndrome de Patau, síndrome de Edwards), malformações congênitas graves, coagulopatias refratárias (não responde a hemoderivados), hemorragias cerebrais graves (III, IV) e em pacientes moribundos (pré-óbito). A EHI, em crianças a termo, afeta regiões subcorticais e corticais (comprometimento motor ou cognitivo), na criança pré-termo, afeta mais a matriz germinativa e região periventricular. Acredita-se que um cérebro imaturo seria "mais resistente" à asfixia, mas a asfixia aumenta o risco de sangramentos intraventriculares graves e leucomalácia periventricular. A escala de Sarnat-Sarnat modificada é a escala que utilizamos para fazer o diagnóstico de encefalopatias moderadas (estágio II) e graves (estágio III) para indicar a hipotermia terapêutica. Nessa escala avaliamos o nível de consciência, atividade espontânea, postura, tônus, reflexos primitivos e sistema autônomo, assim, temos: · Estágio II (moderada) - o nível de consciência é letárgico ou há embotamento, atividade espontânea é diminuída, há flexão distal moderada ou completa extensão, há hipotonia (focal ou generalizada) ou hipertonia, o reflexo da sucção está fraco ou ausente, o reflexo de Moro está incompleto, pupilas constritas, bradicardia (abaixo de 100bpm) e respiração periódica; · Estágio III (grave) - o nível de consciência é de estupor ou coma, não há atividade espontânea, há descerebração (postura), o tônus é flácido ou rígido, reflexos ausentes, pupilas desviadas, dilatadas e não reativas à luz, FC variável e apneia ou necessitando de ventilação; O procedimento pode ser feito com esfriamento completo do corpo ou seletivo da cabeça, mas, aqui no Brasil, só fazemos o do corpo completo. Há 3 maneiras de conseguir baixar a temperatura da criança: colchão térmico servo-controlado (mais consistente e seguro, mas não tão fácil de adquirir), desligar berço aquecido (já na sala de parto) e gelox. A temperatura alvo deve ser entre 33 e 34°C, aferida por termômetro esofágico ou anal e a criança deve ser mantida nessa situação por 72 horas. Na prescrição geral, temos: · Jejum com sonda aberta; · Cateter umbilicais - venoso (infusão de medicamentos, hemoderivados, soro) e arterial (monitorização invasiva e coleta de exames); · Restrição hídrica - 50ml/kg/dia; · Não se recomenda a reposição de cálcio - apenas se for a causa; · Analgesia com morfina ou fentanil (geralmente quando a criança está intubada) - utilizamos a escala NIPS para avaliar a dor da criança; · Suporte ventilatório adequado para a criança - ar ambiente, ventilação não invasiva ou ventilação mecânica, mas sempre evitar a hipocapnia (aumentar a isquemia); · Fenobarbital - se houver convulsão; A hipotermia terapêutica pode causar: arritmias como bradicardia sinusal (tolerar quando entre 80 e 100bpm, abaixo disso, considerar uso de inotrópico), hipotensão (tratar com inotrópicos), hipertensão pulmonar persistente (tratar com milrinona ou óxido nítrico inalatório), plaquetopenia (transfundir plaquetas), distúrbios da coagulação (fazer vitamina K plasmaférese congelado e crioprecipitado, esse último é indicado quando o fibrinogênio está reduzido), distúrbios hidroeletrolíticos (hiponatremia ou hipercalemia) e distúrbios metabólicos (hipoglicemia é o mais comum). Devemos suspender quando houver casos refratários e graves. É importante saber que cerca de 80% das convulsões neonatais são subclínicas. Por isso, a monitorização neurológica com eletroencefalograma (EEG) é muito importante, podendo ele ser o convencional (diversos eletrodos com traçados mais complexos, necessitando de avaliação por especialista) ou de amplitude (3 ou 4 eletrodos com traçados mais simples). O NIRS cerebral é a espectroscopia no infravermelho próxima, uma outra forma de monitorização neurológica, que avalia o grau de consumo de oxigênio no tecido cerebral pelos neurônios. É importante lembrar que a oxigenação cerebral não reflete a oxigenação arterial sistêmica. O alvo do NIRS cerebral é de 60 a 80%. Quando ele está acima desse valor, pode estar acontecendo uma oxigenação exagerada ou os neurônios não estão consumindo, falando a favor de neurônios deprimidos. Quando abaixo desse valor devemos pensar que ela pode não estar sendo ventilada direito, tem algum problema de débito cardíaco ou tem consumo excessivo (raro - geralmente o consumo está adequado, o problema é a oferta). Após as 72 horas devemos começar o reaquecimento aumentando 0,5°C a cada 1 a 2 horas, levando de 6 a 12 horas para atingir a eutermia (36,5°C). Temos alguns riscos nesse reaquecimento, tais como: · Piora da encefalopatia; · Convulsão; · Instabilidade hemodinâmica e hipotensão; Devemos indicar a ressonância magnética cerebral na primeira semana de vida, entre o 5° e o 7° dia, sendo o exame de imagem de eleição para avaliar EHI (dispendioso - talvez precise de intubação) pois detecta as diferentes lesões causadase acrescenta ao diagnóstico e prognóstico do paciente.
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