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OFTALMOLOGIA ANATOMIA E FISIOLOGIA DO OLHO Tendo em vista que a oftalmologia se dedica ao estudo e ao tratamento das doenças que acometem os olhos e seus anexos, é imprescindível que se conheça a estrutura básica de um olho, a fim de que o médico oftalmologista possa realizar, com propriedade e se necessário, cirurgias, tratamentos e correções. Portanto, de início, será estudada a parte externa do olho. A parte externa do olho é constituída de pálpebras, pele e apêndices, conjuntiva, córnea e esclera. As pálpebras desempenham duas principais funções: • Proteção do globo ocular; • Secreção, distribuição e drenagem da lágrima. O espaço que existe entre essas pálpebras é chamado de fissura ou abertura ocular. As fibras do músculo orbicular formam um anel ao redor da abertura palpebral e sua contração leva ao fechamento da mesma. A abertura palpebral é realizada principalmente pelo músculo elevador da pálpebra superior, embora ainda existam túnicas fibrosas que agem na retração da pálpebra inferior. As pálpebras são firmemente aderidas às margens da órbita pelos ligamentos palpebrais medial e lateral. O movimento de piscar distribui a lágrima através da córnea, o que mantém uma superfície lisa, além de promover a retirada de debris (vestígios de células ou de tecidos mortos danificados). O reflexo palpebral do piscar é também um importante fator de proteção. A via nervosa aferente é composta por um ramo do trigêmeo (V par), e a eferente, pelo nervo facial (VII par). Os cílios também desempenham função protetora. Quanto à pele e aos apêndices, tem-se que a pele das pálpebras é fina e frouxamente aderida aos tecidos subjacentes, permitindo, em situações de inflamação e sangramento, a formação de um edema considerável. A placa tarsal é uma faixa de tecido conjuntivo denso e situa-se, posteriormente, à pele e ao músculo orbicular, e anteriormente, à conjuntiva palpebral. Nessa mesma placa tarsal, são encontradas as glândulas de Meibomius, responsáveis pela produção da camada lipídica do filme lacrimal (a camada gordurosa é a camada mais externa da lágrima). Elas estão alinhadas verticalmente na placa tarsal e se abrem junto à margem palpebral, onde se podem notar seus orifícios. As placas tarsais, perifericamente, apresentam continuidade com o septo orbitário (uma fina estrutura divisória entre a pálpebra e a órbita). Ao longo da margem palpebral, são encontrados os cílios, anteriormente (possuindo função protetora) e os orifícios meibomianos posteriormente. Na região dos terços nasais, observam-se aberturas chamadas pontos lacrimais (superior e inferior), sendo responsáveis pela drenagem da lágrima por meio de canalículos lacrimais. Por fim, é importante destacar a linha cinzenta importante estrutura na reparação das lacerações palpebrais, situa-se entre os cílios e os orifícios meibomianos. A inervação sensorial desta região palpebral da parte externa do olho tem origens do nervo trigêmeo (V par craniano), via divisão oftálmica (pálpebra superior) e divisão maxilar (pálpebra inferior). Quanto à inervação motora, temos que esta é realizada pelo nervo facial (VII par craniano), inervando o músculo orbicular, bem como pelo nervo oculomotor (III par craniano), que inerva o músculo levantador da pálpebra superior. Uma paralisia desse nervo leva a uma queda da pálpebra superior denominada “ptose”. Quanto à irrigação vascular, pode-se afirmar que as pálpebras são supridas por uma extensa malha vascular, formando anastomoses entre ramos originados da artéria carótida externa (pela face) e da artéria carótida interna (pela órbita). Dessa forma, o pós-trauma desta região apresenta excelente recuperação. Por sua vez, quanto à drenagem linfática, o fluido linfático das pálpebras superiores é drenado para linfonodos pré-auriculares e das pálpebras inferiores para os linfonodos submandibulares. Linfadenopatia é um sinal comum de infecção das pálpebras e das conjuntivas, principalmente por vírus. Outrossim, a conjuntiva está presente e é uma membrana mucosa que reveste, posteriormente, as pálpebras e cobre a superfície anterior do olho até a córnea. Superiormente e inferiormente, entre o globo ocular e as pálpebras, a conjuntiva forma um “fundo de saco” denominado fórnice conjuntival. A conjuntiva é fortemente aderida às pálpebras (conjuntiva palpebral), pouco aderida ao globo ocular (conjuntiva bulbar) e livre na região do fórnice, de modo que inflamações podem levar a edemas nas duas últimas regiões. Do que é composta a conjuntiva? Ela é formada por uma camada epitelial (possuindo células caliciformes, que secretam mucina, importante substância do filme lacrimal) e um estroma subjacente. Há outras glândulas que contribuem para a formação das camadas lipídica e aquosa do filme lacrimal. A importância da conjuntiva está em facilitar a livre movimentação do globo ocular, além de promover uma superfície lisa para que as pálpebras deslizem sobre a córnea. A inervação sensorial da conjuntiva é permitida pela divisão oftálmica do nervo trigêmeo. A vascularização da conjuntiva é predominantemente originada de ramos orbitários com presença de anastomoses do sistema facial. Por fim, é importante dizer que a conjuntiva tem um importante papel na proteção do olho contra micro-organismos. Juntas, a córnea e a esclera formam uma superfície esférica que compõe a parede externa do globo ocular. Embora as duas sejam muito similares, a estrutura corneana (da córnea) é unicamente modificada para transmitir e refratar a luz. A união entre córnea e esclera chama- se limbo. Quanto à sua composição, a esclera é formada, predominantemente, por fibras colágenas. Relativamente acelular, é avascular, mesmo contendo vasos em sua superfície. Apesar de ser fina, é a esclera o ponto de inserção dos músculos extraoculares. Posteriormente, a esclera é perfurada pelo nervo óptico, vasos e nervos (sensoriais e motores) ao longo do globo ocular. Por outro lado, a córnea é formada por CINCO CAMADAS: epitélio, camada de Bowman, estroma (mais espessa), membrana de Descemet e endotélio (camada única de células hexagonais). Em contraste com a esclera, a córnea é extremamente sensível ao toque por conter as fibras nervosas originadas da divisão oftálmica do nervo trigêmeo (V par craniano). Por exemplo, na desepitelização, ou seja, na quebra do epitélio da córnea, o nervo fica exposto, causando grande dor. Da mesma maneira que a esclera, a córnea é avascular. Dessa forma, ela é nutrida pelo humor aquoso, pelo filme lacrimal e pela difusão de vasos presentes no limbo. Qual a consequência de uma isquemia no limbo? Afilamento corneano periférico (melting). E qual problema pode ocorrer devido ao uso de lentes de contato? Ulceração corneana, em virtude da restrição de oxigenação através do filme lacrimal. E quais são as funções da córnea? Proteção contra invasão de micro-organismos e transmissão e refração da luz. A refração da luz ocorre porque a superfície de curvatura corneana possui índice refracional maior que o do ar. A superfície da córnea é transparente devido ao especializado arranjo das fibras de colágeno presentes no estroma, as quais devem se manter em um estado de relativa desidratação. Isso é conseguido através de uma bomba de íons encontrada no endotélio (a direção do fluxo é do estroma para a câmara anterior). A perda severa de células endoteliais (e a conseqüente perda da bomba iônica) leva a uma hidratação excessiva (edema) e à perda da transparência corneana. PRODUÇÃO E DRENAGEM LACRIMAL. A glândula lacrimal secreta a maior parte do componente aquoso do filme lacrimal. Ela situa-se na região súpero-temporal da órbita anterior. Esta glândula é inervada por fibras paassimpáticas do nervo facial. A lágrima corre em um menisco na margem palpebral inferior, é espalhada através da superfície ocular pelo movimentodo piscar e é drenada nos pontos lacrimais superior e inferior (situados no canto nasal palpebral). Os canalículos de cada ponto lacrimal se unem para formar o canalículo comum que termina no saco lacrimal. Finalmente, a lágrima passa pelo ducto nasolacrimal e alcança a cavidade nasofaríngea através do meato inferior. Isso explica o desconfortável sabor que se segue após a administração de certos colírios. Ao nascimento, o ducto nasolacrimal pode não estar totalmente desenvolvido, causando lacrimejamento constante (epífora). Na maioria dos casos, o seu completo desenvolvimento se dá em um ano de vida. Já a obstrução adquirida do ducto nasolacrimal é uma causa importante de epífora em adultos. Pode ser causada por uma infecção aguda do saco lacrimal, a qual se manifesta por edema da região medial palpebral. Todas as estruturas vistas acima referem-se à parte externa do olho. Agora, a parte interna do olho possui estruturas oculares internas cuja função, basicamente, é a de refinar a imagem vinda da córnea e converter a energia luminosa em energia elétrica para formação da imagem no cérebro. Compondo a parte interna do olho, podemos citar: a úvea (composta de íris, corpo ciliar, ambos anteriormente, e coroide, posteriormente), além do cristalino, humor aquoso, vítreo, retina, nervo óptico, órbita e os nervos ópticos, músculos extraoculares, músculo levantador da pálpebra e vias ópticas. A íris, da mesma forma que o corpo ciliar, compõe anteriormente a úvea. A íris consiste em tecido conjuntivo contendo fibras musculares, vasos sangüíneos e células pigmentares. Sua superfície posterior é determinada por uma camada de células pigmentares. Em seu centro há uma abertura, a pupila. Sua função principal é a de controlar a entrada de luz na retina e reduzir a lesão intraocular causada pela luminosidade. A dilatação da pupila é causada por contrações de fibras musculares lisas radiais inervadas pelo sistema nervoso simpático. A contração pupilar ocorre quando um anel de fibras musculares lisas em torno da pupila se contrai. Esse anel é inervado pelo sistema nervoso parassimpático. IMPORTANTE: a pigmentação da íris reduz a lesão intraocular mediada pela luz. A quantidade de pigmento iriano determina a “cor dos olhos” (olhos azuis contêm menos quantidade de pigmento do que olhos marrons). O corpo ciliar, da mesma forma que a íris, compõe a úvea anteriormente. É uma estrutura especializada que une a íris com a coroide. O corpo ciliar é responsável pela produção de humor aquoso. Além disso, o corpo ciliar conecta-se ao cristalino pela zônula. Anteriormente, a superfície interna é transformada em processos ciliares, os quais são responsáveis pela produção do humor aquoso. A contração de fibras musculares presentes no músculo ciliar causa uma redução em sua circunferência; isso reduz a tensão na zônula, fazendo com que a elasticidade natural do cristalino gere um aumento em sua convexidade, propiciando um melhor foco para a visão de perto. Esse fenômeno é chamado “acomodação”, o qual é controlado por fibras parassimpáticas do nervo oculomotor (III par craniano). O relaxamento das fibras é um processo passivo, aumentando a tensão na zônula, de forma que aplaina o cristalino, gerando melhor visão para longe. A região posterior do corpo ciliar une-se à retina através da ora serrata. Por fim, compondo posteriormente a úvea, está a coróide, consistindo em vasos sanguíneos, tecido conectivo e células pigmentares. A coróide está localizada entre a retina (camada interna) e a esclera (camada externa). Sua função é dar o aporte de nutrição e de oxigênio às camadas mais externas da retina. Vale destacar que existe um espaço virtual entre a esclera e a coróide, que pode acumular sangue ou líquido seroso em algumas patologias oculares. O cristalino possui formato discóide e é compreendido por uma massa de células alongadas, denominadas fibras cristalinianas. No centro, essas fibras cristalinianas estão compactadas em um núcleo duro envolto por uma densidade menor de fibras, o córtex. Toda essa estrutura está envolvida por uma cápsula elástica e é capaz de se deformar para realizar a acomodação. A perda da elasticidade da cápsula e o enrijecimento do cristalino, por conta da idade (presbiopia) deterioram a acomodação do cristalino. Entre as características do cristalino, pode-se afirmar que o cristalino é relativamente desidratado e suas fibras contêm proteínas especiais que garantem a transparência do cristalino. Relembrando, a opacidade do cristalino, seja adquirida ou congênita, consiste na catarata. O humor aquoso preenche as câmeras anterior e posterior. O espaço entre a córnea e a íria corresponde à câmara anterior, já a câmara posterior situa-se atrás da íris e anteriormente ao cristalino. Existe uma comunicação entre a câmara anterior e a câmara posterior, a pupila. O humor aquoso, também conhecido como aquoso somente, é produzido pelo corpo ciliar através de ultrafiltração e secreção ativa. Sua composição é estritamente regulada para excluir proteínas de alto peso molecular e células, mas contém glicose, oxigênio e aminoácidos para a córnea e o cristalino. Como mostrado nas imagens acima, o aquoso, ou humor aquoso, circula da câmara posterior para a câmara anterior pela pupila, deixando o olho pela malha trabecular. Esta, por sua vez, é um tecido especializado, localizado no ângulo da câmara anterior, entre a íris e a córnea, parecida com uma peneira. Por meio da malha trabecular, o aquoso é coletado pelo Canal de Schlemm, o qual circunda o olho no limbo corneoescleral, drenando-se, então, para as veias episclerais. A produção e a drenagem do aquoso são controladas para manter uma pressão intraocular adequada. Já o vítreo, também conhecido por humor vítreo ou corpo vítreo, é composto por 99% de água, mas também, vitalmente, apresenta fibras de colágeno e de ácido hialurônico, garantindo uma consistência gelatinosa e coesão. Com o avançar da idade, o humor vítreo sofre liquefação progressiva, degenerando-se (podendo causar tração e descolamento da retina). O vítreo é aderido à retina em pontos específicos: como o nervo óptico e a ora serrata. Funções do humor vítreo: auxiliar no amortecimento do globo ocular e tem um menor papel como fonte de metabólitos. A retina, por sua vez, converte a imagem luminosa em impulsos nervosos. É compreendida pela retina neurossensorial e pelo epitélio pigmentar retiniano (EPR). O raio luminoso tem que passar através da retina interna para alcançar os fotorreceptores (cones e bastonetes), os quais convertem a energia luminosa em elétrica. A retina então tem que ser transparente. Neurônios conectores (interneurônios) modificam e passam o impulso elétrico para as células ganglionares, cujos axônios correm ao longo da superfície retiniana e entram no nervo óptico. 1 Uma região da mácula é responsável pela visão central. Em seu centro existe uma área altamente especializada denominada “fóvea”, a qual é responsável pela visão de alta qualidade. O restante da retina é responsável pela visão periférica. Os cones estão concentrados na mácula e constituem-se de seis a sete milhões. Eles são responsáveis pela acuidade visual e pela apreciação de cores, além da visão no claro. Os bastonetes estão relacionados com a visão em baixos níveis de luminosidade e com a detecção de movimento, estando distribuídos por toda a retina (ou seja, concentrados na periferia da retina). O número de bastonetes é superior a cem milhões, mais precisamente entre 110 e 130 milhões. Os fotorreceptores contêm pigmentos visuais, como o retinol (vitamina A), ligados à proteína (opsina). A absorção luminosa causa uma mudança estrutural e química que resulta na hiperpolarização elétrica do fotorreceptor. Externamente à retina neurossensorial, encontra- se o EPR, uma camada única de células pigmentadasque são essenciais na fisiologia dos fotorreceptores. As células do EPR reciclam a vitamina A para formação do fotopigmento, transportam água e metabólitos, renovam os fotorreceptores e ajudam na redução do dano luminoso. Prejuízo na função do EPR, que pode ocorrer com a idade e em muitos estados patológicos, pode levar a uma perda da função retiniana e, consequentemente, da visão. O suprimento sangüíneo da retina é derivado da artéria central da retina e da coróide. Ambos os sistemas são necessários para o funcionamento normal da mesma. Os vasos retinianos entram e saem do olho através do nervo óptico e correm sob a camada de fibras nervosas. Um ramo calibroso de artéria e veia forma uma “arcada”, a qual nutre cada quadrante da retina. A barreira hematorretiniana, que consiste nas tight junctions entre as células endoteliais dos vasos retinianos e as células do EPR, isola a retina da circulação sistêmica. A quebra dessa barreira, que ocorre na retinopatia diabética, por exemplo, leva a um edema retiniano e a acúmulo de proteínas e de lipídeos, causando perda da transparência retiniana e diminuição da acuidade visual. Anatomia & fisiologia Quanto ao nervo óptico, os axônios das células ganglionares presentes na camada de fibras nervosas da retina chegam ao nervo óptico através do disco óptico. Este não possui fotorreceptores e corresponde, portanto, a uma mancha cega fisiológica. A maioria dos discos ópticos tem uma cavidade central, denominada “escavação”, a qual é pálida em comparação com a coloração rósea das fibras nervosas que a circundam. A perda das fibras nervosas, que ocorre no glaucoma e em outras patologias, resulta em um aumento dessa escavação. Há, aproximadamente, um milhão de axônios no nervo óptico. Atrás do globo ocular, esses axônios tornam-se mielinizados e o nervo óptico é revestido pelo fluido cerebroespinhal do espaço subaracnóideo, sendo protegido por uma bainha contínua com as meninges cerebrais. Cada olho repousa dentro de uma cavidade óssea (a órbita), que o protege em todas as direções, com exceção da sua parte anterior. Os músculos que movem o olho unem-se no ápice orbitário formando o cone muscular. Dentro da órbita ainda encontramos os nervos motores, sensoriais e autonômicos do olho e de estruturas associadas. O espaço orbitário é preenchido por gordura e por uma complexa malha de tecido conjuntivo que ajuda na sustentação do globo ocular e na interação com os músculos extra-oculares. O campo e a qualidade de visão são gerados pelos dois olhos conjuntamente. Os nervos ópticos de cada olho são coordenados e conectados a outras áreas em nível cortical cerebral; disso resulta a visão. Determinados centros motores, núcleos cranianos e conexões interligam os dois olhos (como as rodas da frente de um carro) para manter a visão binocular sem diplopia. A órbita tem paredes ósseas (dos ossos frontal, zigomático, lacrimal, maxilar, esfenoidal e etmoidal) que constituem uma estrutura piramidal, cuja parede medial e assoalho são estruturas finas. Na ocorrência de traumas sobre a órbita, sua descompressão, proporcionada pelas fraturas do assoalho ou pela parede medial, auxilia a reduzir os danos ao globo ocular. Porém, é importante considerar que infecções nos seios maxilares e etmoidais podem acometer, posteriormente, a órbita. No ápice orbitário, o forame orbitário leva o nervo óptico, posteriormente, para o quiasma óptico intracraniano, e a artéria oftálmica, anteriormente, para a órbita. Lateralmente, ao forame, existem duas fissuras: a fissura orbital superior e a fissura orbital inferior. Pela fissura orbital superior, passam os nervos lacrimal, frontal e nasociliar (todos originados da divisão oftálmica do nervo trigêmeo, o V par craniano), além dos nervos troclear (IV par craniano), abducente (VI par craniano) e oculomotor (III par craniano) e a veia oftálmica superior. Por fim, pela fissura orbital inferior, permite-se a saída da veia oftálmica inferior e a entrada da divisão maxilar do V par craniano, o nervo trigêmeo. Os quatro músculos retos extra-oculares (medial, superior, lateral e inferior) deixam o ápice da órbita para se inserir no globo ocular de 5 a 7 mm atrás da junção córneo-escleral. Eles formam um cone, cujo interior possui nervos sensoriais e autonômicos, artérias do globo ocular, nervo óptico e nervos motores para todos os músculos extra-oculares, com exceção do músculo oblíquo superior. Portanto, a compressão do ápice orbitário por um tumor, por exemplo, pode resultar na perda da sensibilidade corneana, na redução dos movimentos oculares e no prejuízo da função visual, assim como num deslocamento anterior do globo ocular (proptose). A completa anestesia ocular, por injeção local, requer que o anestésico seja injetado ou difundido para esse espaço intraconal. Quanto aos músculos extraoculares, vale considerar que os quatro músculos retos (superior, inferior, medial e lateral) têm uma adesão posterior comum no anel de tecido conjuntivo (ânulo de Zinn ou anel tendíneo comum) que circunda o canal óptico e que divide a fissura orbitária superior em dois compartimentos. • Reto lateral: é inervado pelo VI par craniano (abducente). Sua contração move o olho lateralmente e, portanto, sua paralisia gera um desvio para dentro (convergente). • Reto medial: é inervado pelo III par craniano (oculomotor). Sua contração move o olho nasalmente (adução). • Reto superior e inferior: esses músculos não só movem o olho para cima e para baixo, respectivamente, mas também têm ações adicionais, ajudando na adução (movimento em direção ao nariz) e na rotação. Eles também são inervados pelo nervo oculomotor. Quanto aos músculos oblíquos, existem dois: o músculo oblíquo inferior e o músculo oblíquo superior. O músculo oblíquo superior se origina na região posterior da órbita, sofre um desvio em um tipo de polia (tróclea) situada atrás da rima orbitária súpero-nasal, e é então direcionado para trás, para se inserir no globo ocular. É inervado pelo IV par craniano (troclear). Age principalmente na rotação do olho, mas também contribui para o movimento lateral (abdução) e para alguma depressão ocular. O músculo oblíquo inferior origina-se na rima orbitária inferior próximo à parede medial e passa lateralmente, e, posteriormente, para se aderir ao globo próximo à topografia da mácula. Como o oblíquo superior, ele roda o olho e ajuda na elevação e na abdução. É inervado pelo nervo oculomotor. Sobre o músculo levantador da pálpebra, inervado pelo nervo oculomotor (III par craniano), projeta-se anteriormente na forma de uma ampla aponeurose, ligando-se na placa tarsal superior e na pele da pálpebra superior. Associadas a ele encontram-se fibras de músculo liso inervadas pelo sistema nervoso simpático. A função do músculo levantador é a de elevar a pálpebra superior. Sobre os nervos da órbita, é importante considerar que, além dos nervos motores dos músculos extraoculares, a órbita contém nervos sensoriais e autonômicos (Figura 6). O principal nervo sensorial é o nervo óptico (II par craniano), envolto por uma membrana contínua com as meninges intracranianas, sendo que o espaço subaracnóideo estende-se até o globo ocular. O suprimento sangüíneo é dado por numerosos vasos derivados da artéria oftálmica. Na porção final dessa artéria (próximo ao globo), não existem anastomoses, de forma que um processo isquêmico, como arteriosclerose ou arterite de células gigantes, tipicamente leva a uma perda visual severa. Ramos da divisão oftálmica do nervo trigêmeo fornecem a inervação sensorial para o globo ocular (especialmente a córnea), para a conjuntiva e para a pele das pálpebras, com extensão para a fronte e o occipício. O nervo nasociliar dirige-se ao globo ocular, mas não termina nele. O nervo passa pela órbita junto à parede medial e emerge ao lado do nariz. O herpeszoster ocular geralmente encontra-se associado a lesões cutâneas nasais. As fibras parassimpáticas do corpo ciliar (acomodação) e do músculo constritor da íris seguem o trajeto do terceiro nervo. Há uma sinapse entre as fibras pré e pós-ganglionares no gânglio ciliar próximo ao nervo óptico. As fibras parassimpáticas da glândula lacrimal possuem um trajeto complexo, passando pelo nervo facial e então seguindo o trajeto da divisão maxilar do trigêmeo. As fibras sensoriais e parassimpáticas chegam ao globo ocular via nervos ciliares curtos e longos, que atravessam a esclera posteriormente. Fibras simpáticas pós-ganglionares emergem do gânglio cervical superior no pescoço, unem-se à artéria carótida interna e percorrem um longo trajeto, entrando no crânio, passando através do seio cavernoso e finalmente chegando à órbita. Além de exercerem vasoconstricção arteriolar, tais fibras inervam o corpo ciliar (produção do aquoso) e o músculo dilatador da pupila. Dilatação pupilar máxima pode ser conseguida pela administração tópica de um inibidor do sistema parassimpático (como a tropicamida e o ciclopentolato) ou de um agonista do sistema simpático (fenilefrina). Sobre as vias ópticas, é importante dizer que os nervos ópticos unem-se no quiasma óptico sobre a sela túrcica do osso esfenóide. A glândula pituitária projeta-se inferiormente atrás do quiasma. As fibras nervosas da retina nasal (campos visuais temporal ou lateral) cruzam para o lado oposto do quiasma, sendo que as fibras pós-quiasmáticas do lado esquerdo representam o campo visual do lado direito de ambos os olhos (e vice-versa). O trato óptico estende-se do quiasma até o corpo geniculado lateral, onde nervos que começaram como fibras na superfície da retina formam sinapses com neurônios, os quais seguem pela radiação óptica para alcançar o córtex visual no lobo occipital. A pressão sobre o quiasma por um tumor hipofisário leva a uma hemianopsia bitemporal. Atrás do quiasma, uma lesão unilateral causa uma hemianopsia no lado oposto. O trato óptico e suas radiações são supridos por ramos da artéria cerebral média, e o córtex visual, pela artéria cerebral posterior. Cada mácula é representada por uma área cortical em ambos os pólos occipitais, e tem um duplo suprimento sangüíneo (artérias cerebrais média e posterior). Como resultado, a oclusão do suprimento arterial do córtex visual causa uma perda de campo bilateral, com preservação da visão central (campo macular).
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