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ESTRATÉGIAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Érika Madeira E-book 1 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 E-COMMERCE: UMA POSSÍVEL ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA �������������������������������4 Falando de estratégia ���������������������������������������������������������������4 Gestão stratégica ����������������������������������������������������������������������9 Comércio eletrônico ����������������������������������������������������������������20 E-BUSINESS �������������������������������������������������������������42 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS �������������������������������������������������������46 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, aprenderemos a identificar as metas e, a partir delas, aprenderemos a construir estraté- gias de negócio� Nesse sentido, entenderemos de que maneira podemos ter uma gestão estratégica bem-sucedida na área de TI, ou seja, alinhada aos objetivos da organização� Por fim, abordaremos duas possíveis estratégias tecnológicas: o e-commerce e o e-business� A res- peito do e-commerce, conheceremos sua história ao compreender o que é necessário para implementá- -lo� A despeito do e-business, verificaremos de que modo ele afeta a eficácia e a eficiência da empresa, permitindo maior chance de sucesso� 3 E-COMMERCE: UMA POSSÍVEL ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA Falando de estratégia A primeira coisa que precisamos entender em Estratégias de Tecnologia da Informação é o conceito de estratégia� Embora seja uma palavra de uso coti- diano, muitas pessoas, inclusive ocupando altos car- gos corporativos, utilizam-na de forma equivocada, o que pode acabar causando uma grande confusão� Imagine que o senhor Dock tenha um mercadinho de bairro� Há anos que a quantidade de dinheiro que entra se mostra estável� Dessa forma, o proprietário paga seus impostos, os funcionários, as contas do estabelecimento (aluguel do salão, água, luz etc�) e tem um lucro de R$ 2 mil por mês. Porém, ao avaliar esse lucro, o senhor Dock não fica satisfeito. Sente que precisa ativar seu espírito em- preendedor e fazer alguma coisa� Inquieto durante todo o final de semana, assim que seu funcionário chega na segunda-feira de manhã, Dock dispara: — Ei Cris, já bolei uma estratégia! Vai se chamar 40/40: cresceremos 40% nossa base de clientes e, com isso, aumentaremos também em 40% o lucro do mercado� Está decidido! Sendo a principal escolha das pessoas do bairro, o velho Dock aqui terá dias melhores, meu caro� 4 Pela fala do proprietário, percebemos que sua es- tratégia é ganhar mais clientes e aumentar seu lu- cro mensal� No entanto, esses itens são metas, não estratégias� Perceba que é muito fácil cair nessa confusão� Observe o que diz o dicionário: (es.tra.té.gi:a) sf. 1. Mil. Arte militar que consiste em planejar o conjunto das operações de guerra visando o objetivo final, de ataque ou defesa: “Todos os desdobramentos em que a estratégia desencadeia os exércitos.” (Euclides da Cunha, Os sertões). 2. Arte de utilizar os meios de que se dispõe para con- seguir alcançar certos objetivos: “...que estratégia com- plicada para evitar o ramo fatídico.” (Eça de Queiroz, Cartas de Inglaterra)) 3. Planejamento de ações, jogadas, medidas etc. visan- do a um objetivo, e procurando levar em consideração todas as variáveis possíveis: estratégia ofensiva num jogo de xadrez. 4. P.ext. Artifício habilidoso; SUBTERFÚGIO: Não use estratégias, fale com franqueza. Em outras palavras, estratégia é a arte de utilizar planejadamente os recursos de que se dispõe ou de explorar de maneira vantajosa a situação ou as condições favoráveis de que porventura se desfrute, de modo a atingir determinados objetivos� Assim, estratégia é a maneira de se atingir determi- nado objetivo; é o “como fazer” e não “o que se quer”� 5 Nesse caso, o objetivo maior é aumentar o lucro� Foi o baixo faturamento do mercado que inquietou Dock a princípio, certo? Portanto, vamos tirar isso da colu- na estratégia e mover para a coluna meta (Tabela 1): Metas Estratégias Antes +40% lucro +40% base de clientes Depois +40% lucro +40% base de clientes Tabela 1: Metas e Estratégias� Fonte: Elaboração própria� Vamos analisar, então, a outra parte da “estratégia” do Dock� Realmente, uma forma de aumentar o lucro é aumentar a base de clientes, pois com mais gente comprando a tendência é lucrar mais. Mas note que decidir simplesmente que precisamos de 40% a mais de clientes não resolve absolutamente nada� Esses clientes não brotarão no mercadinho só porque o senhor Dock decidiu que eles têm de vir. Então, tampouco é uma estratégia, pois não me diz como executar nada, muito embora seja um norte� Sendo assim, vamos mover esse outro item de lugar e classificá-lo corretamente (Tabela 2): Metas Estratégias Antes +40% lucro +40% base de clientes Depois +40% lucro +40% base de clientes Tabela 2: Metas e Estratégias� Fonte: Elaboração própria� Após entender a definição de estratégia, adequamos a Tabela 2� No entanto, nota-se que temos duas me- 6 tas, mas nenhuma estratégia para atingi-las� Isso ocorre bastante no mundo real� É comum ouvir al- guns executivos dizendo que estão com uma “estra- tégia de aumentar a base de clientes”, quando, na verdade, ganhar clientes é uma meta e, para isso, é preciso ter uma estratégia� Retomando nosso exemplo fictício, com as metas claras, precisamos traçar algumas estratégias� O que poderia atrair mais gente para o mercadinho do senhor Dock? Vamos analisar alguns pontos: ● Disponibilizar produtos diferenciados: talvez a comercialização de itens gourmet, como cogumelos Paris, bandeja de Guioza e vidros de Sardela não sejam facilmente encontrados� ● Delivery gratuito: Durante a quarentena causada pela Covid-19, verificamos a importância de se ofe- recer um serviço de entrega a domicílio. Além disso, essa oferta está, no geral, associada a um valor mí- nimo de compra, o que pode forçar o cliente a gastar um pouco mais do que o necessário� ● Propaganda: talvez, muitas pessoas do bairro não saibam que o senhor Dock tem um mercadinho que é capaz de oferecer produtos diversos� E mostra-se uma boa medida fazer essa informação chegar até elas com folhetos e carro de som� Agora, sabemos exatamente que ações devem ser executadas� Então, é prudente atualizar nossa tabela: 7 Metas Estratégias Antes +40% lucro +40% base de clientes Depois +40% lucro +40% base de clientes Produtos diferenciados� Delivery gratuito� Propaganda� Tabela 3: Metas e Estratégias� Fonte: Elaboração própria� Cris pode, de tempos em tempos, medir a base de clientes do senhor Dock para apurar a evolução das coisas� Se a base de clientes estiver aumentando, teremos um indicador de que a meta (aumento de lucro de 40%) está prestes a se realizar� FIQUE ATENTO Estratégia não é meta� Estratégia é o como fazer, não o que se pretende fazer� Portanto, estratégia é o plano de ações� Em seu Estratégia boa, estratégia ruim, Richard Rumelt (2011) afirma que a estratégia é como uma alavanca que amplia a força� As empresas, normal- mente, ao traçar suas estratégias, observam um pon- to forte específico sobre o qual elas se desenvolvem ou mudam� Conforme podemos verificar, esse conceito é impor- tante não só para o dono ou gestor de empresa, mas independentemente da função, todos precisamos de estratégias para atingir nossos objetivos (profissio- nais ou não)� 8 Gestão stratégica Neste ponto, já discutimos a definição do que é es- tratégia� Então, vamos entrar no mundo da gestão, pois é ela que traça as estratégias� A gestão organizacional está relacionada principal- mente à ideia de direção� Na gestão, uma série de atividades são realizadas com o objetivo de condu- zir algo a algum lugar� É como se a empresa fosse um barco, e o gestor o capitão� Sua missão é usar o leme para desviar de pedras, icebergs e bancos de areias, que nessa analogiaseriam os ataques dos concorrentes e as falhas da própria empresa� Desviar de uma tempestade ou decidir quando e como atravessá-la seria o equivalente a enfrentar as situações de risco do mercado� Por isso, os gestores da empresa estão constante- mente preocupados com as tendências, a concor- rência e as metas, pois os capitães precisam ter no mínimo um mapa, um radar e um destino para onde ir, sabendo aonde querem chegar� REFLITA Na analogia feita há pouco, se a empresa é o barco e o gestor é o capitão, qual seria a estratégia? Nota-se que existem vários níveis de gestores. Analise o organograma a seguir (Figura 1): 9 Figura 1: Organograma� Fonte: Pixabay� Organograma é uma representação gráfica da estru- tura de colaboradores da instituição. Nele é possível observar a hierarquia dos cargos de forma organiza- da e objetiva, isto é, quem responde a quem e como os departamentos estão organizados� Assim, ob- servando o organograma organizacional, é possível perceber que há gestores distribuídos por toda a pirâmide, sendo que cada um em seu nível terá que fazer direcionamentos mais ou menos abstratos� Nesse sentido, analise a pirâmide organizacional (Figura 2): 10 https://pixabay.com/pt/illustrations/silhuetas-hierarquia-humanos-homem-81830/ Missão Objetivos e Planos Estratégicos (Organização como um todo) Objetivos e Planos Táticos (Cada divisão ou unidade do negócio) Objetivos e Planos Operacionais (Cada divisão ou operação) Nível Institucional Decisões planejamentos Estratégicos Nível Intermediário Decisões planejamentos Táticos Nível Operacional Decisões planejamentos Operacionais Figura 2: Pirâmide organizacional. Fonte: Elaboração própria� O topo da pirâmide é formado pelo alto escalão e envolve principalmente o famoso cargo de Chief Executive Officer (CEO). O CEO é o presidente-exe- cutivo ou diretor geral da empresa, e seus braços, cujas nomenclaturas derivam da sigla CXO, são CIO, CFO, CTO, COO, CMO etc� Imagine uma empresa que venda um produto X por canais de teleatendimento� Pode ser uma operadora de telefonia que liga para seus clientes ofertando seus planos� Nessa situação, os operadores de te- lemarketing seriam o nível mais baixo da pirâmide, ou seja, o nível operacional. Não há ninguém abaixo deles� Quando a venda por eles é efetivada ou recu- sada pelo cliente, o ciclo termina� Uma vez identificado quem está no topo e na base da pirâmide, sabemos que o CEO não se senta à mesa 11 na segunda-feira pela manhã e começa a escrever o script dos atendentes de telemarketing para vender um produto novo� Não faz sentido que o colaborador do topo da pirâmide esteja focado em atividades da base� Há um largo caminho entre eles, repleto de colaboradores que são simplesmente “pulados”� Dessa forma, podemos imaginar que o diretor geral trabalha com questões da empresa mais abstrata- mente, ao passo que o nível operacional trabalha mais concretamente, isto é, executando ações� Enquanto o CEO define que a missão da empresa é ser a número 1 em qualidade de atendimento ao cliente, os níveis abaixo dele se preocupam em como exatamente isso será feito� Por exemplo, investindo em URAs inteligentes, que sejam capazes de resolver o problema do cliente sem a necessidade de transferi-lo para um aten- dente; capacitando os colaboradores do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) para que o atendi- mento seja sempre cordial e acolhedor; criando uma equipe de pós-venda, que entre em contato com o cliente para verificar seu nível de satisfação com o plano adquirido; atribuindo ao setor de marketing a incumbência de oferecer um brinde ou promoção na semana do aniversário do cliente etc� Tudo isso faria parte de um plano concreto de como a empresa estaria no mindset dos clientes como sendo a número 1 em termos de qualidade e respeito ao cliente� 12 A partir dessas opções, vamos recapitular os con- ceitos estudados: ● Nível Institucional: tem por missão de ser a nú- mero 1 em qualidade� ● Nível Tático: define as ações concretas para ter qualidade� ● Nível Operacional: executa as ações que garantem a qualidade dos atendimentos� O mais importante é que todas as partes da pirâmide estejam alinhadas sobre aonde querem chegar� Por isso, trataremos do Alinhamento Estratégico� Alinhamento estratégico Visto que nosso curso é de Tecnologia da Informação, vamos focar o processo, ou seja, como a área de Tecnologia da Informação deve atuar de modo ali- nhado com o restante da instituição� Há uma diversidade de ações que o TI realiza nas organizações para sustentar seu papel estratégi- co, agregando valor aos produtos e serviços e, consequentemente, auxiliando na competitividade empresarial� Contudo, para que o TI possa expressar seu valor total, é importante que o Chief Technology Officer (CTO) e o Chief Information Officer (CIO) tracem uma estratégia de como suas áreas farão a diferença ao ajudar a companhia a atingir resultados� 13 É importante lembrar que nem sempre essas po- sições existirão, principalmente em empresas de menor porte� Ainda assim, alguém precisa ter os pés no chão quando traça o rumo da área� Por exemplo, devemos imaginar que, por mais que esteja na moda falar de nuvem, não pode o gestor de TI querer implementar a migração do on premise para o Azure se isso não ajuda absolutamente em nada a realizar a missão da empresa� Não é questão de ser proativo e trazer todo tipo de inovação somente para encher o peito ao dizer que “aqui, usamos tec- nologia de ponta”� Além disso, o ciclo de investimento em TI requer mui- to cuidado� Infelizmente, a área de TI ainda é vista como um custo, não um investimento� Exceto por algumas empresas que estão na vanguarda da tec- nologia, muitas ainda acham o TI um mal necessário e torcem o nariz, por exemplo, quando veem R$ 400 mil sendo destinados para atualizar a versão do ban- co de dados� Realmente, quando colocamos que o investimento é para uma atualização de software, a primeira coisa que vem à mente é: “Mas não dá para ficar nessa versão que está mesmo?” Por isso, é importante falar na linguagem do negócio e esclarecer que esse investimento é para garantir a segurança dos dados dos clientes e para podermos sair na frente da concorrência mapeando perfis de compra. Melhorou, não?! Observe, no entanto, que só se consegue pintar o investimento de forma atraente – e não digo pintar 14 no sentido pejorativo, digo no sentido de realmente traduzir a tecnologia em vantagem de negócio –, se a pessoa estiver a par do que é interessante para a companhia, ou seja, se você estiver alinhado. Trata-se de um ciclo� Depois de conseguir o investi- mento, cobram o resultado prometido� Quanto mais resultados tiver, mais recursos serão viabilizados� E assim sucessivamente� Portanto, investir recursos em TI que não trazem resultados interessantes para a empresa, provavelmente não se consegue mais recursos para absolutamente nada� Além de conhecer as metas da companhia, o TI deve levar em conta outros fatores para estar efetivamente alinhado, entre os quais podemos citar a cultura da empresa, sua postura frente a mudanças e a análise do potencial humano� Imaginemos uma empresa familiar que valoriza a “venda de balcão” para manter a tradição� Os ven- dedores já conhecem as preferências dos clientes, perguntam como vai a família, sendo que seu dife- rencial contra a concorrência é de fato o tête-à-tête. Tentar implementar tecnologias que agilizem as ven- das através de URAs e websites vai totalmente na contramão da cultura da empresa� Pode ser uma implementação sofrível tanto para colaboradores quanto para clientes� Se, de fato, o contato pessoal era uma vantagem de negócio, quando se renuncia a isso com o intuito de inovar, pode-se acabar dando um tiro no próprio pé� 15 Em vez disso, seria mais adequado investir em mi- neração de dados, compra de mailing e estudos es- tatísticos para descobrir ainda mais sobre seus pre-ciosos clientes� Com isso, pode-se agradá-los ainda mais, enviando um brinde na data de seu aniversário e oferecendo, por exemplo, produtos associados ao perfil de compra, que ainda não adquiriu, mas tem grande probabilidade de interessar� Por exemplo, observe a Figura 3: Figura 3: Inteligência com Dados. Fonte: Pixabay� FIQUE ATENTO Há alguns modelos de alinhamento estratégico� O mais conhecido é o de Henderson e Venkatraman (1993/1999), que se baseia não só em fatores in- ternos da empresa, mas também em fatores exter- 16 https://pixabay.com/pt/photos/compra-venda-loja-mulher-dentro-3090836/ nos que compreendem o mercado e as decisões envolvidas para atendê-lo. Agora que estamos alinhados com as estratégias da empresa e a par de todos os fatores implicados em sua atuação, podemos traçar uma estratégia de TI e partir para a sua implementação� Controle e avaliação No dia a dia, com a operação de Tecnologia da Informação (TI) rodando segundo uma estratégia, mostra-se essencial a etapa de controle e avalia- ção, mas isso no geral acaba ficando de lado. Nessa fase, avalia-se de que modo a atuação de TI está impactando as demais áreas ou a empresa como um todo� Será que estamos caminhando para a situação desejada? Nas palavras de Maximiano (2006), o monitoramento consiste em acompanhar e avaliar a execução da estratégia, sendo assim, deve ser realizado com base nos mesmos indicadores utilizados na elaboração do planejamento estratégico� Essa função envolve os seguintes processos: ● Avaliação de desempenho; ● Comparação do desempenho real com o desejado; ● Implementação de ações corretivas; ● Acompanhamento do resultado das ações corretivas; ● Retroalimentação do processo� 17 Obviamente, é preciso que a relação entre custos e benefícios do controle seja adequada, visando tanto à justificativa quanto à viabilização da etapa. Imagine que você implementou uma funcionalidade no we- bsite da empresa que oferta produtos relacionados ao que seu cliente está buscando� O cliente pesqui- sa “cerveja”, nisso, são sugeridos alguns petiscos e copos de diferentes formatos� Para saber se a nova funcionalidade do site está im- pactando as interações do cliente, deve-se alocar um colaborador para fazer os levantamentos do tráfego em tempo real� Porém, enquanto seu funcionário se ocupa dessa verificação, deixa de executar sua função convencional, não percebendo um gargalo no sistema que faz com que os clientes não consigam finalizar suas compras. Nessa situação, a etapa de controle está saindo caro para a empresa, pois implementar uma função com vistas a aumentar as vendas e, ao mesmo tempo, ter uma etapa de controle bloqueando essas vendas não faz sentido algum� Seria mais indicado correr o risco do não sucesso por algum tempo para observar o desempenho da nova estratégia� Posteriormente, quando o convencional levantamento de receitas fosse feito, daí se chegaria a uma conclusão. Até aqui, estudamos todo o processo que a gestão estratégica na área de TI envolve, ou seja, o enten- dimento dos objetivos da empresa, de que modo sua área pode colaborar para o atingimento desses 18 objetivos, bem como a implementação do plano e o acompanhamento dos resultados� No entanto, salientamos que a atividade de planeja- mento estratégico é complexa em decorrência de sua própria natureza� Primeiro, trata-se de um processo contínuo, composto de várias etapas que decorrem do estabelecimento de um estado futuro desejado� Segundo, funciona de forma não linear, em decorrência de haver variabilidade nas organizações e no mercado� Partimos, assim, do pressuposto de um mundo mais ou menos previsível, mas levamos em consideração que forças externas e pressões internas inesperadas podem dificultar e, às vezes, até mudar o curso dos processos� Por isso, devemos adotar o pensamento do risco calculado, mas nunca abandonar o racional� Você pode perguntar: mas e a minha intuição? Ainda que a intuição possa ser entendida como uma forma de captar informações sem recorrer aos métodos de raciocínio e da lógica, ela não se opõe à razão, apenas se situa fora de seus domínios, podendo ser definida como um resultado da mescla do conhecimento com a experiência (MARTINS; BLECHER, 1997). Portanto, é possível usá-la na gestão inteligente, mas sempre para auxiliar o pilar principal: o planejamento emba- sado em dados e situações concretas� Assim sendo, quando a empresa/área usufrui de uma gestão estratégica, torna-se capaz de eliminar ou reduzir as contingências. Em outras palavras, torna- -se mais eficaz e eficiente, consequentemente, tem maior chance de obter sucesso� 19 Comércio eletrônico Desde que você não trabalhe em uma instituição filantrópica, o maior interesse da sua empresa é o lucro. Uma possível estratégia tecnológica adotada para lucrar mais é sair do cara a cara ou unir a ele a opção de negociar online� Por isso, nosso interesse neste momento é o comércio eletrônico� Quando pensamos em comércio eletrônico, geral- mente temos a imagem das atuais lojas online, onde os produtos podem ser escolhidos com um clique e o pagamento realizado ali mesmo, em poucos segun- dos, com um cartão de crédito� Entretanto, a origem do comércio eletrônico remonta a um passado muito mais distante do que costumamos imaginar� Segundo Leonardo (2018), em 1888 — portanto, mais de um século antes do surgimento da internet —, o norte-americano Richard Sears, funcionário da esta- ção de trem de Minneapolis, começou a vender reló- gios à distância através de um sistema de catálogos. A ideia era simples, mas brilhante: atender regiões mais remotas do país sem abrir lojas físicas ou via- jar com os produtos em si� A população dessas regi- ões geralmente pagava mais caro do que os preços praticados nas grandes cidades, devido à falta de concorrência. Existia uma gigantesca oportunidade de negócios e Sears foi pioneiro e líder desse setor. Os pedidos chegavam por diversos meios, inclusive pelo telé- 20 grafo, motivo pelo qual podemos considerar esse acontecimento o berço do comércio eletrônico� Os produtos eram enviados pelos correios usando a estrutura de ferrovias, que crescia rapidamente� Com o sucesso nas vendas, o catálogo de produtos foi crescendo e, depois de uma década, o famoso Wish Book da Sears (Figura 4) já ultrapassava 700 páginas em cada edição, com gravuras, descrições e preços de milhares de produtos de todos os tipos� A Sears foi a Amazon do século 19� Figura 4: Capa do catálogo da Sears em 1897. Fonte: www. publicdomainpictures.net 21 https://www.publicdomainpictures.net/en/view-image.php?image=304118&picture=sears-roebuck-catalog-1897 https://www.publicdomainpictures.net/en/view-image.php?image=304118&picture=sears-roebuck-catalog-1897 Com o surgimento da internet e a chegada da banda larga, naturalmente o comércio eletrônico se expan- diu até o cenário que temos hoje� Importante notar que o comércio eletrônico surgiu com uma estratégia ainda hoje válida: levar mercadoria a regiões remo- tas sem a necessidade de manter uma estrutura no local� Embora haja o custo do envio, o fato de poder concentrar seus produtos em um só local não apenas facilitar a gestão, como também traz uma grande economia� Por exemplo, imagine que você tenha uma loja física aberta ao público� Essa loja precisa atender mini- mamente a alguns requisitos estéticos, o qual gera custo X. Por outro lado, se você mantiver um galpão de produtos a despachar, o custo gerado cai pela metade� Além disso, você tem a possibilidade de se esta- belecer em zonas francas de comércio, tal qual a de Manaus, capital do Amazonas� Ficando livre de impostos, seu produto custa menos e, consequen- temente, você ganha vantagem competitiva frente a seus concorrentes localizados nos grandes centros comerciais� Por fim, há outro custo envolvido com relação ao mantimento de funcionários. No Brasil, as empre- sas encaram uma alta carga tributária na folha depagamento� Estima-se que cada funcionário custe, em média, o dobro do seu salário à empresa� A mão de obra para administrar um estoque é mais barata do que a que lida com o consumidor final. Tudo isso 22 compõe a principal vantagem do comércio eletrônico: o baixo custo operacional� Em outras palavras, podem-se expandir os negócios atingindo regiões longínquas sem altos investimen- tos� Por isso, muitas companhias adotaram o co- mércio eletrônico como uma estratégia para atingir seus objetivos, tais quais a expansão dos negócios e a diminuição de custos operacionais� REFLITA Quais outras vantagens você consegue imaginar no comércio online? Uma companhia que esteve na vanguarda do co- mércio eletrônico no Brasil foi a Magazine Luiza. A rede nasceu em 1957, com uma loja em Franca (SP) chamada A Cristaleira� Em 1992, já inovava com lojas eletrônicas� Naquela época, as vendas eram realizadas por inter- médio de terminais multimídia, isto é, totens com um vendedor ao lado para orientar os clientes (Figura 5)� Não havia produtos em exposição nem em es- toque, com exceção dos aparelhos celulares� Ainda hoje a empresa utiliza esses pontos de venda, que possuem em média 150m2 e alavancam o retorno sobre o capital investido� 23 Figura 5: PDV Virtual Magazine Luiza. Fonte: www.maga- zineluiza.com.br Com isso, percebemos que, para fazer comércio ele- trônico, não é preciso usar um dispositivo próprio e acessar um website público da empresa� Comumente observamos o uso de totens de autoatendimento que inovam na maneira como o público interage com a empresa� A rede McDonald’s recentemente disponibilizou to- tens dentro de suas lojas em uma tentativa de reduzir filas e aumentar a satisfação do cliente sem contratar mais pessoal. Outra vantagem é que, fora dos perío- dos de pico, você pode direcionar seus colaborado- res para treinamentos ou tarefas mais complexas, aquelas que podem ser realizadas somente por um humano, enquanto os clientes continuam a se servir� Quando falando de comércio eletrônico, focamos tecnologias que possibilitam o processo de compra e venda� No entanto, os totens podem auxiliar os 24 https://ri.magazineluiza.com.br/ShowCanal/Magazine-Luiza---Varejo?=HlYZEc1Ye9FWBV+EeC6XzQ== https://ri.magazineluiza.com.br/ShowCanal/Magazine-Luiza---Varejo?=HlYZEc1Ye9FWBV+EeC6XzQ== negócios em outras frentes além do comércio em si, como emissão de senhas em bancos e repartições públicas, captação de feedback dos clientes (sem constrangimento) e ainda transmissão de conteúdo publicitário/informativo� Em um curso de tecnologia, vale ressaltar alguns aspectos importantes: a maioria das aplicações ro- dando em totens são simples, o que não requer um grande poder de processamento por parte do har- dware que o suporta� No entanto, precisamos nos lembrar de que sua principal função é aumentar a disponibilidade do serviço. Para isso, você precisa de um computador confiável. Uma preocupação é com a resistência da estrutura e da tela, já que é feito para estar em local público, nem sempre para o uso de pessoas capacitadas, o que eventualmente pode irritar essas pessoas, ao não conseguirem o que esperam� Nesse sentido, o aço é o material mais empregado, uma vez que não se deve utilizar madeira em contato com materiais elétricos� Alguns periféricos podem compor o terminal: impres- sora, leitor de código de barras ou QR Code, Leitor de cartão de crédito, Pinpad, POS ou TEF� Na hora de fazer as especificações do totem, não se esqueça da internet. A internet cabeada é a mais confiável, embora ter acesso ao Wi-Fi facilite na instalação ou em um momento em que seja preciso mover o terminal de lugar� 25 É claro que outros recursos, como câmeras fotográ- ficas e fones de ouvido, podem ser utilizados. Tudo depende da necessidade do usuário final. Por isso, primeiro defina como será sua aplicação; depois, verifique os recursos necessários para atendê-la. Quanto ao software, o sistema operacional mais usa- do nesse cenário é o Windows 10� Como é muito popular, fica mais fácil o suporte e desenvolvimento. Além disso, essa versão do Windows pode ser usada no modo quiosque de app único, que executa um único aplicativo acima da tela de bloqueio� Assim, a pessoa que usa o quiosque/totem não pode fazer nada no dispositivo fora do aplicativo quios- que� Em soluções que exijam baixo custo ou cujo aplicativo exija outro sistema, opções Linux, Android e Chrome OS pode sem utilizadas� Se você for desenvolver a aplicação do totem, não se esqueça de que ele não existe isolado do mundo ou da empresa� Então, precisa integrar-se minimamente ao sistema de Enterprise Resource Planning (ERP), ou Sistema Integrado de Gestão Empresarial, que a companhia utiliza� A forma mais fácil de desenvolver uma interface para o terminal é usando HTML. Alguns browsers como Firefox, Chrome e Internet Explorer também oferecem o modo quiosque, para que o usuário não possa abrir outra aba e acessar o Facebook, por exemplo� É im- portante que tudo rode em modo protegido! 26 REFLITA Em que tipo de comércio você gostaria de utilizar um totem de autoatendimento? Neste ponto, devemos nos lembrar de que o comér- cio eletrônico é algo mais abrangente do que loja virtual e que pode ser feito até sem o uso da internet� Tampouco é necessário recorrer a um dispositivo próprio para acessar informações de terceiros, pois o próprio vendedor pode fornecer um meio� Finalmente, o comércio eletrônico não está restrito a situações que envolvam longas distâncias entre as partes ne- gociantes: você pode estar dentro da loja e ainda assim comprar eletronicamente� Categorias de negócio Vamos nos atentar a algumas categorias de negócio que o e-commerce pode compreender: ● Business-to-business (B2B): engloba todas as transações eletrônicas efetuadas entre empresas� Visa sobretudo à troca comercial entre parceiros com interesses comuns, mas também abrange ser- viços oferecidos em larga escala que só podem ser consumidos por uma outra empresa� Por exemplo, imagine uma fábrica de recipientes que produza latas de alumínio e garrafas PET. Seus possíveis clientes são outras empresas que vendem refrigerantes ou produtos de limpeza. As produtoras do líquido inter- no, ao comprarem os recipientes para envasar seus produtos, estão realizando uma transação B2B. 27 ● Business-to-consumer (B2C): estabelece a tran- sação entre a empresa e o consumidor final. Esse tipo de relação pode ser frequente e dinâmico ou esporádico e pontual� Pode ser direta ou indireta- mente, ou seja, com intermediários� O mais comum são as compras e vendas de produtos, mas outro bom exemplo seria a contratação de serviços, como ocorre com as apólices de seguro� Atualmente, é possível contratar os serviços de uma seguradora de forma 100% eletrônica, sem qualquer contato pes- soal. Embora o termo envolva uma pessoa jurídica e uma física, geralmente há intermediação de uma corretora� ● Business-to-government (B2G): menos conhecida que as anteriores, é a modalidade de negócios que cobre as transações online realizadas entre as em- presas e a Administração Pública� Envolve produtos e serviços específicos da área fiscal, da segurança social, dos registos e notariado� Já que o governo é também uma empresa, você pode estar se pergun- tando por que as vendas para ele não estão com- preendidas na categoria B2B. Acontece que existem diversas regulamentações e especificidades quando se trata de governo� Por exemplo, é comum que, ao ser um cliente usual ou comprar acima de tal valor, o cliente pessoa física receba algum brinde. Com o governo, isso pode caracterizar conduta improba, corrupção. Além disso, o B2G não se aplica tanto às relações comerciais tradicionais, mas sim à aquisi- ção de soluções que proporcionem impacto social mensurável. Por exemplo, a Nova Zelândia comprou 28 soluções que diminuíram e simplificaram o proce- dimento para abertura e registro de empresa. Lá épossível fazer tudo virtualmente e em até 3 horas. SAIBA MAIS O BrazilLAB é um hub de inovação que acelera soluções e conecta empreendedores com o Poder Público. Seu objetivo é estimular, no Brasil, uma cultura voltada à inovação no setor público� Saiba mais acessando brazillab.org.br. Para apresentar o último modelo de negócios, fala- remos mais especificamente das lojas virtuais, que dentro desse guarda-chuva do comércio eletrônico são a forma mais usual de e-commerce� O ano de 1995 foi marcado pelo nascimento da Amazon e do eBay, dois gigantes do e-commerce, que em pouco tempo revolucionaram as vendas na internet� No caso do eBay, Stephanie Kohn (2012) afirma que Pierre Omidyars (formado em Ciências da Computação) dedicou um final de semana para co- meçar a empreender e esboçou um script que criava um mecanismo simples de leilão online� O código permitia que se colocasse um item à venda com um título, descrição e preço inicial. As pessoas podiam visualizar os itens listados e, eventualmente, dar seu lance� 29 https://brazillab.org.br/ Um dos primeiros itens vendidos no site foi uma ca- neta a laser quebrada que custou US$ 14,83. Pierre ficou tão impressionado com a venda que chegou a contatar o comprador para se certificar de que ele sabia que o produto estava quebrado� Para sua sur- presa, o usuário não só sabia como disse ser um colecionador de canetas lasers quebradas� O fato foi um divisor de águas, pois o ex-programador percebeu que qualquer coisa postada no site teria chances de vendas� Obviamente, ele poderia faturar com isso. Em pouco tempo, o eBay reuniu uma série de produtos estranhos, caros, exclusivos, quebrados, da moda, enfim, tudo o que se pudesse imaginar e conectou compradores e vendedores dispostos a fazer negócios pela web� Em 1996, Pierre teve a ideia de criar o relatório de feedback, no qual os compradores davam opinião sobre as transações e essa foi a chave do sucesso� De acordo com Pierre, com a chegada do recurso, os usuários puderam entender que também é pos- sível confiar em pessoas desconhecidas, o que deu o empurrão que faltava para o negócio� Veja que, nesse caso, deparamo-nos com um modelo de negócio fora do que havíamos estudado. Trata- se do Consumer-to-Consumer (C2C), que envolve a negociação entre duas pessoas físicas além do fornecedor de tecnologia, que é um intermediador� Portanto, o primeiro passo para realizar o e-com- merce é identificar em qual categoria o negócio se enquadra, pois tal decisão direciona algumas frentes, 30 desde o planejamento das estratégias até o layout da interface com os clientes� Se você trabalha para uma empresa, a categoria na qual ela opera deve ser facilmente identificada, ain- da assim vale lembrar que antes de implementar o e-commerce, é preciso estar alinhado sobre uma possível mudança na estratégia de operações da empresa, que pode estar cogitando atingir um novo tipo de clientes, por exemplo� Por outro lado, se você está pensando em abrir um negócio próprio e, para isso, usará a estratégia de vendas online, tenha clareza ao responder: quem é meu público-alvo? Interface com o cliente Nesta disciplina, o intuito não é aprender a programar a interface, mas sim esclarecer o que nela é crucial para o sucesso ou a falha da sua estratégia de e- -commerce� Assim, um dos primeiros cuidados ao fazer o levantamento de requisitos sobre as funcio- nalidades que o site vai oferecer é que se tenha em mente o que o público-alvo precisa ter à disposição e o que provavelmente gostaria de ter, para que a experiência de navegação fosse simplesmente o máximo� No quesito must have (tem que ter), deve-se garantir o básico bem-feito� Diz respeito ao que é indispen- sável à loja virtual e que, acredite, às vezes passa batido. Você já se dirigiu a um balcão de informa- ções e disseram: “Essa informação eu não posso 31 dar senhor”? Pois é exatamente isso que não pode acontecer� Estudos mostram que 76% dos clientes consideram a navegação intuitiva como principal característica de uma loja virtual� A expressão “user-friendly” é lar- gamente utilizada nesse contexto� Tenha em mente que coisas que parecem óbvias para quem é de TI podem ser extremamente complexas para um leigo� Além do mais, ninguém vai fazer um curso para poder comprar no website que você desenvolveu. Portanto, deve ser fácil achar o que se procura ou enviar a informação solicitada� Um mecanismo com caixa de busca simples () é essencial� Mantendo-se na simplicidade e com um bom design, não será sacrificante atender a esse requisito� Etapas de teste (com um usuário real) e a colheita de feedback pós-implantação são extrema- mente importantes para manter a interface amigável� Outras características must have para e-commerce são: ● Mobile-friendly (amigável para dispositivos móveis): de acordo com a pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas (CNDL) de 2018, o celular é o principal dispositivo usado para compras online� Dessa forma, é importante que o cliente tenha uma boa experiência ao acessar a loja com o smartpho- ne� O termo “navegação responsiva” é largamente utilizado nesse cenário� Além disso, o celular oferece outras facilidades quanto à forma de pagamento, que 32 pode ser via aplicativo de internet banking do banco do cliente, via SMS ou USSD – serviço oferecido por algumas operadoras e até via QR code, modalidade ainda pouco explorada no Brasil. ● Fotos e vídeos em boa resolução: o tempo de apresentar seu produto/ serviço com apenas uma foto e alguns detalhes já passou� As imagens são cruciais para quem não pode ter contato físico com o que está comprando� E atenção: de nada adianta ter uma interface que apresenta mil imagens que não carregam, heim?! ● Feedback de outros clientes: lembre-se da história de sucesso do ebay� Mais sincera do que a descrição de quem quer vender algo, é a descrição de quem já comprou e usou� Não se preocupe (tanto) com co- mentários negativos sobre o produto� Estudos mos- tram que, na verdade, eles têm um impacto positivo, pois produtos sem nenhuma reclamação são vistos pelos compradores como farsa� Talvez, habilitar essa ferramenta deixando mais evidentes os elogios seja uma boa estratégia� Há outros itens relevantes, como espalhar infor- mações de contato da empresa por todo lado, mas vamos nos ater às características que demandam desenvolvimento no front-end da loja virtual, e não a parte de design� No quesito Nice to Have (Desejável), recomenda-se checar o que a concorrência oferece. Atualmente, as pessoas compram tudo pela internet, mas uma coisa que ainda é complicado adquirir online, prin- 33 cipalmente para as mulheres, é vestuário� Há peças que você precisa experimentar. Algumas redes, além de apresentar a peça em um modelo, o que facilita bastante para saber o caimento, criaram um vestiário virtual� O usuário é questionado sobre sua altura, peso, ida- de e tipo de corpo: mais busto, barriga ou quadril� Após poucos cliques, surge um perfil de manequim e o site sugere se o P, M ou G seria mais adequado àquele cliente� Em vez de simplesmente soltar a criatividade para surpreender o cliente, algumas empresas recorrem a agências de pesquisa para entender melhor os de- sejos do público-alvo. Assim, fica mais fácil definir que mecanismo precisa ser criado em seu site para alavancar as vendas� Estrategicamente falando, features Nice to Have podem ser desenvolvidas e incluídas em etapas pos- teriores do produto, depois de seu amadurecimento e validação� Com a interface definida, é preciso focar no que lhe dará suporte: o back-end� Back-end e as propriedades ACID Fazer login ou navegar em um site por meio de seus menus, filtros e links só é viável devido ao trabalho feito nos “bastidores” do projeto, ou seja, no back- -end� A união de um front-end, um banco de dados e um servidor é o que possibilita o pleno funciona- mento de qualquerpágina da internet� 34 Por isso, além da preocupação com as funcionalida- des disponíveis ao cliente, a experiência de navega- ção será altamente afetada conforme a qualidade do que está por trás do site� Fazendo uma analogia entre o desenvolvimento da plataforma e-commerce e um prédio em construção, o que corresponderia à etapa de fundação e estrutu- ração de vigas de um edifício? É o Back-end. O Front- end corresponderia ao acabamento, como pintura, paisagismo, decoração e mecanismos úteis, que são superficiais, como a caixa de correspondência dos apartamentos� Neste momento, focaremos o banco de dados, o responsável por todo o processamento da loja vir- tual, pois é ele que torna os sites dinâmicos. Toda vez que alguém faz uma busca em um site, o banco de dados encontra e apresenta o que foi solicitado� Podemos dizer então que esse centro de informa- ções é acessado de maneira indireta pelo usuário, a partir de uma aplicação externa� Cada vez que o usuário interage na loja virtual e gera uma transação, esta última precisa ser assegurada por um rol de quatro propriedades fundamentais, que se denominam ACID� ACID significa Atomicity, Consistency, Isolation e Durability (em português: Atomicidade, Consistência, Isolamento e Durabilidade); diz respeito a um con- junto de propriedades fundamentais nas transações de bancos de dados que garantem a integridade dos dados mesmo em cenários de erro� 35 Silberschatz, Korth e Sudarshan (2010) informam o significado de cada uma dessas propriedades: ● Atomicidade: em geral, as transações são com- postas de várias declarações (comandos / opera- ções)� A atomicidade é a propriedade que garante cada transação ser tratada como uma entidade única, a qual deve ser executada por completo ou falhar completamente� Dessa forma, todas as operações da transação devem ser executadas com sucesso para que a transação tenha sucesso� Se uma única ope- ração que seja de o bloco da transação falhar, toda a transação deverá ser cancelada – as transações são aplicadas no “tudo ou nada”� Caso haja falha em qualquer operação da transação, o banco de dados retorna ao estado anterior ao início da transação. Esse retorno chama-se estado de Rollback (“tran- sação desfeita”)� Caso a transação tenha sucesso, o banco de dados é alterado permanentemente, em um processo chamado Commit (“efetivação”)� ● Consistência: permite assegurar que uma transa- ção leve somente o banco de dados de um estado válido a outro, mantendo a estabilidade do banco� Os dados gravados devem sempre ser válidos, de acordo com as regras definidas, e isso inclui qualquer operação considerada, como triggers, constraints (restrições), procedimentos armazenados ou ou- tras que determinem a validade dos dados inseridos� Dessa forma, evita-se a corrupção do banco de da- dos, que pode ser causada por uma transação ilegal� Por exemplo, é feita uma tentativa de inserir o registro da venda de um perfume na tabela de vendas� No 36 entanto, o perfume é um item que não consta na tabela de produtos da empresa� Assim, a transação dessa venda falhará� ● Isolamento: é muito comum que as transações sejam executadas de modo concorrente, ou seja, de modo que várias tabelas sejam lidas ou alteradas por vários usuários simultaneamente� Com a proprieda- de do isolamento, a execução concorrente permite deixar o banco de dados no mesmo estado em que estaria caso as transações fossem executadas em sequência. Por exemplo, imagine dois clientes ten- tando comprar o último par de sapatos em estoque simultaneamente. O primeiro a finalizar a compra fará com que a transação do outro seja interrompida, sofrendo rollback� ● Durabilidade: garante que a transação, uma vez executada (efetivada), permaneça nesse estado mes- mo que haja um problema grave no sistema, como falta de energia elétrica no servidor� Para isso, as transações finalizadas são gravadas em dispositivos de memória permanente (não volátil), como discos rígidos, de modo que os dados estejam sempre dis- poníveis, mesmo que a instância do banco de dados seja reiniciada� Além das propriedades fundamentais menciona- das, há outras três questões relacionadas ao banco de dados que suporta o e-commerce e que temos que considerar: Estrutura de Dados, Performance e Segurança� 37 Em uma loja online convencional, provavelmente teremos que apresentar as fotos dos produtos� Em cenários mais complexos, mas atualmente comuns, podemos ter que apresentar vídeos ou áudios, tal qual é o caso das plataformas de streaming como Netflix ou Spotify. É um comércio eletrônico de mí- dias. Note que fotos, filmes e músicas são dados não estruturados, o que pode demandar um banco de dados (e profissionais) com características especiais, como é o caso do Hadoop� Da mesma forma, com relação à performance do banco, é preciso escolher um mecanismo adequado� Embora os procedimentos de tunning tragam melho- rias, existem opções de appliances (hardware com software embarcado) e bancos de dados fazendo processamento in-memory, com vistas a extrair o máximo do seu servidor e, com isso, oferecer inte- rações adequadas ao usuário. Afinal, o desempenho do site é crucial na estratégia de vendas� Nesse tocante, relatórios mostram que, para cada segundo de demora no tempo de carregamento ou processamento de alguma operação no site, exis- te uma redução de 7% nas conversões de venda (CRYPTOID, 2019)� Quanto à segurança, as plataformas de dados do mercado investem dia após dia em funcionalidades para proteger tanto o cliente quanto a empresa� 38 SAIBA MAIS O Gartner é uma instituição de pesquisa e acon- selhamento para líderes corporativos que divulga relatórios comparando os bancos de dados de mercado� Assim, podemos analisar vários requisi- tos e, inclusive, saber quais são os mais seguros, acompanhando sua evolução ano a ano� Saiba mais consultando www.gartner.com Não restrita ao que compete ao banco de dados, a segurança da loja virtual também é atestada pelo pro- tocolo HTTPS� Um navegador que sinaliza uma cone- xão insegura pode assustar seus clientes e impedir a compra� Se a plataforma de e-commerce já existe, migrar para HTTPs pode ser um desafio, mesmo para as grandes empresas de comércio eletrônico, mas é algo que se precisa analisar� Figura 6: Fonte: www.publicdomainpictures.net 39 https://www.gartner.com/pt-br/conferences/la/data-analytics-brazil https://www.publicdomainpictures.net/en/view-image.php?image=285145&picture=risk-management Até o momento, falamos de plataformas e-commerce proprietárias, ou seja, desenvolvidas pela Tecnologia da Informação (TI) da própria empresa que venderá o produto. Mas note que é possível implementar a estratégia de e-commerce sem ter que começar do zero, usando uma plataforma pronta que será apenas adaptada e mantida pela área de TI� Existem basicamente três possibilidades: ● Open Source: plataformas de código aberto são gratuitas e, por isso, o investimento inicial de im- plantá-las é baixo� Também costumam ter alto poder de integração com plug-ins, APIs, entre outros� No entanto, o maior risco é que não há certeza da evo- lução do código e de como e com qual frequência serão feitas as aplicações de melhorias, já que tudo depende da dedicação da comunidade defensora do código aberto� ● Plataformas alugadas: modelo mais comum hoje� No aluguel de licença de uso, um sistema padrão é desenvolvido pelo fornecedor da plataforma de e- -commerce, que comercializa sua licença� Há diversas opções no mercado com modelos de cobrança bem diversificados, por exemplo, pageviews (número de visitas nas páginas), volume de pedidos, percentual de faturamento etc� Um ponto negativo da modalida- de: pelo fato de o código-fonte ser fechado, há baixo poder de personalização, o que limita a capacidade de a empresa oferecer uma experiência inovadora e muito diferente da concorrência. ● Comprar a plataforma: há muitas empresas ope- rando como fábricade software� Assim, a empresa 40 pode solicitar um projeto de acordo com sua neces- sidade e adquirir a plataforma por um preço fixo. A equipe de TI cuidará apenas da manutenção e adap- tação do código, que se torna próprio, conforme for necessário� Manter uma estratégia de e-commerce envolve mui- to mais do que o processo de desenvolvimento da plataforma em si� Envolve as comunicações inter- nas da empresa, as transações com fornecedores, o marketing, a entrega, o atendimento, pagamento etc� Algumas empresas já utilizam meios eletrônicos em todos esses processos do entorno da loja virtual, o chamado e-business� 41 E-BUSINESS O e-business (acrônimo em inglês para electronic business, ou negócios eletrônicos) é empregado em sentido amplo para definir toda a estrutura das em- presas que usam sistemas de informação eletrônicos para facilitar os processos de negócio� Observe que as vendas online são apenas uma pequena fração do e-business� Segundo Neil Patel (s. d.), é como se o e-commerce fosse a ponta do iceberg, ficando visível na superfície do oceano, e o e-business fosse todo o iceberg� Assim, todo e- -commerce é um exemplo de e-business, mas nem todo e-business é um e-commerce, pois não se limita às vendas por meio da rede online� Fazem parte do e-business, além do e-commerce: ● e-BI: vem de Business Intelligence (Inteligência de Negócios) e envolve a coleta, organização e análise de dados para gerar insights para o negócio� ● e-Procurement: sistema que facilita o contato da empresa com seus fornecedores e vice-versa� Com base em plataformas de e-Procurement, a or- ganização pode otimizar e automatizar o processo de compras, incluindo a avaliação de fornecedores, preços e produtos� ● e-SCM: é o sistema que garante a administração da cadeia de suprimentos de uma empresa no meio online� Como funciona para melhorar a comunicação 42 entre a equipe responsável pela cadeia de suprimen- tos, faz com que se integre com mais eficácia. ● e-ERP: quer dizer Enterprise Resource Planning (Planejamento de Recursos da Empresa)� Acrescida da letra “e”, refere-se ao software que vai facilitar o gerenciamento de operações diárias da empresa, o que inclui desde as contas a pagar, fluxo de caixa e inventário de estoque até o faturamento e as folhas de pagamento� ● e-CRM: com um software de e-CRM, o atendi- mento ao cliente pode ser personalizado a partir de informações armazenadas sobre eles� Por que fazer e-business? Essa pergunta foi respon- dida pela agência de publicidade britânica Ogilvy & Mather em 1997, quando criou uma campanha para a IBM, associando o termo e-business às novas oportunidades em negócios conectados� Fazer ne- gócios usando meios eletrônicos é uma vantagem mesmo para empresas que não têm loja virtual, pois essa forma de operar torna a comunicação mais rápida, reduz custos, aumenta a integração entre áreas e processos, traz agilidade para a tomada de decisão, além de aumentar o grau de transparência da empresa� REFLITA Escolha uma empresa preexistente cuja ativida- de principal não seja online� Imagine que tipos de desafios ela pode enfrentar. A partir disso, esboce 43 uma estratégia organizacional com duas metas bem definidas. Em seguida, defina se o e-commer- ce faria sentido nesse cenário e de que outros pro- cessos online a companhia poderia usufruir para ser qualificada como fazendo e-business. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, estudamos o que é estratégia e como adotar uma quando se têm metas bem definidas. Verificamos que, para a Tecnologia de Informação lograr sucesso, é importante estar alinhada à estra- tégia organizacional, contribuindo para o atingimento de seus objetivos macro� Abordamos uma possível estratégia tecnológica, a instituição do e-commerce, e todos os demais proces- sos em seu entorno que, se feitos também de forma eletrônica, podem trazer uma série de benefícios que se transformam em vantagem competitiva frente à concorrência. 45 Referências Bibliográficas & Consultadas AQUA� Guia prático dos totens de autoatendimento (Versão 2020). 20 ago. 2020. Disponível em: https:// www.aqua.com.br/blog/totens-de-autoatendimento� Acesso em: 02 set� 2020� BULGACOV, S. 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