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ECONOMIA POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO: 
um debate teórico 
 
 Coleção: Governança e Desenvolvimento 
 Organizadora: Vera Alves Cepêda 
 Joelson Gonçalves de Carvalho 
 
 
Autor: Joelson Gonçalves de Carvalho 
Organização: Vera Alves Cepêda 
 
 
 
 
 
ECONOMIA POLÍTICA E 
DESENVOLVIMENTO: 
UM DEBATE TEÓRICO 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição, 2015. 
Revisto e ampliado em 2017. 
 
© Grupo de Pesquisa Ideias, Intelectuais e Instituições, UFSCar 
ISBN 978-85-6917205-5 
Qualquer parte dessa publicação somete poderá ser reproduzida, 
desde que citada a fonte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Apresentação da Coleção Governança e Desenvolvimento................. 05 
 
Prefácio................................................................................................. 09 
 
Introdução............................................................................................ 13 
 
1. Desenvolvimento: perguntas fundamentais e problemas 
essenciais........................................................................................ 
 
15 
1.1 – Como medir o crescimento?.................................................................... 17 
1.2 – Como medir o desenvolvimento?............................................................ 19 
1.3 – O porquê do desenvolvimento!............................................................... 23 
 
2. Desenvolvimento econômico em perspectiva histórica: 
contribuições da economia política................................................ 
 
26 
 
3. A tortuosa busca pelo desenvolvimento: do neoliberalismo ao 
novo-desenvolvimentismo............................................................. 
 
35 
3.1 – Neoliberalismo: do Consenso ao fracasso............................................... 37 
3.2 – Um novo-desenvolvimentismo para um velho capitalismo..................... 40 
 
4. O desenvolvimento local: panaceias e possibilidades.................... 46 
4.1.–.Panaceias contemporâneas sobre o desenvolvimento........................... 42 
4.2 – Possibilidades: o papel das escalas e dos sujeitos sociais......................... 51 
 
Considerações finais............................................................................. 54 
 
Referências........................................................................................... 56 
 
 
Apresentação da Coleção Governança e 
Desenvolvimento 
 
 
Em 2014 um conjunto de pesquisadores, docentes e estudantes 
de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de São Carlos 
iniciaram a execução de um projeto de extensão intitulado Governança 
local de desenvolvimento: novas ferramentas de gestão pública para 
inclusão, inovação e cidadania. Financiado com recursos do Edital 
PROEXT/MEC, o grupo abrigava docentes, pesquisadores e alunos 
ligados ao campo da ciência política, economia, sociologia, gestão 
pública, em uma proposta multidisciplinar, misto de extensão, pesquisa 
e formação, cujos eixos centrais incidiam sobre a questão do 
desenvolvimento e o papel das instituições universitárias como 
dinamizadoras do desenvolvimento local. 
 O ponto de partida da proposta do “Governança” apoiou-se em 
quatro premissas: desenvolvimento, capacidades estatais, capitais 
sociais e papel estratégico da universidade. A primeira delas, apoiou-se 
em amplo movimento nacional e internacional que ressignificou a ideia 
de desenvolvimento, ultrapassando a perspectiva economicista de 
crescimento e avançando para a concepção de bem-estar social. Neste 
sentido, as referências teóricas mais fortes são a defesa de 
desenvolvimento com ampliação das bases de aumento geral da 
qualidade de vida de uma sociedade, defendidas desde os anos de 1950 
por Celso Furtado e mais recentemente pela lapidar obra de Amartya 
Sen (Desenvolvimento como liberdade), mas que são encontradas em 
documentos e posições públicas da CEPAL, do PNUD, entre outras 
instituições. Esta concepção tem algumas características ímpares e 
valiosas: 
 1) é multidisciplinar por princípio, conectando todas as facetas 
da vida social em um único sistema; economia, cultura, direitos sociais, 
instituições democráticas e republicanas, políticas públicas, equidade, 
somadas à necessária expansão da produção da riqueza econômica; 
 
6 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
 2) a economia tem papel de destaque, por ser a base da vitalidade 
e promoção de recursos necessários para a realização de políticas e 
serviços públicos, mas aparece também com significado modificado, 
ajustado à ideia de sustentabilidade e de equilíbrio distributivo. A 
mudança problematiza a velha forma do desenvolvimento e da 
modernização das décadas de 1950/1980, geradoras de muita riqueza e 
também de brutal desigualdade social; 
 3) contextos socioeconômicos de menor porte, formas 
alternativas de produção, aceitação de capacidades institucionais 
complementares do desenvolvimento (como aparelhagem e serviços 
ligados aos direitos sociais). 
 A segunda premissa retoma um dos motes centrais da gestão 
pública e da ciência política: a de que as instituições contam. Trata-se 
de lidar com a concepção do papel estratégico do Estado, via 
diagnósticos claros sobre déficits socioeconômicos, elaboração de 
estudos e sistematização de dados que resultem em políticas de 
planejamento, investimentos, legislação e regulação política. A 
literatura recente tem intitulado a valorização da ação pública como 
fonte de desenvolvimento de capacidades estatais. Neste caso, a 
performance do Estado e de sua aparelhagem (legal, funcional, material 
e humana) contam muito para superação de entraves do 
desenvolvimento ou de sua qualidade e alcance - lembrando que 
crescimento não significa aumento do bem-estar ou elevação geral das 
capacidades e potência social. 
 A terceira premissa é a dos capitais sociais, entendidos como 
elementos do conjunto dos atores em uma dada sociedade e que podem 
alavancar ou represar a dinâmica do Desenvolvimento. Se Estado 
conta, sociedade conta muito também. A cultura política, a estima 
identitária e histórica, o perfil de acesso a bens estratégicos – tanto 
produtivos stricto senso quanto de direitos sociais –, a existência de 
aparelhagem de serviços públicos, a organização e participação da 
sociedade civil são fatores relevantes quando pensamos em um 
desenvolvimento que se pretende inclusivo, sustentável e 
ambientalmente viável. 
 
 
7 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Por último, destacamos o papel estratégico da universidade 
nesse processo. Como um tipo singular de instituição pública, voltada 
para inovação, formação e reflexão sobre os problemas de toda ordem, 
as universidades possuem capitais e expertise que podem, em interação 
com seu entorno social, alavancar e acelerar a dinâmica do 
desenvolvimento. Em período recente esta função de diálogo e 
responsabilidade com a sociedade denominou-se função social da 
universidade. 
 Somadas estas quatro balizas, norteadoras da proposta e da ação 
do “Governança”, as mesmas foram aplicadas no contexto dos 
pequenos municípios do entorno da Universidade Federal de São 
Carlos. Foram selecionados quatro municípios e campus da UFSCar: o 
eixo do campus São Carlos, atuando nos municípios de Ribeirão Bonito 
e Dourado, e o eixo do campus Lagoa do Sino, atuando nos municípios 
de Campina do Monte Alegre e Buri. A escolha dos municípios de ação 
deveu-se à presença de duas características: ser de pequeno porte e 
possuir indicadores de alta vulnerabilidade social. A ideia central era 
pensar o potencial que a ação dialógica dessas cidades com uma equipe 
multidisciplinar de pesquisadores que mirasse o desenvolvimento local 
alcançaria. 
 Foram inúmeras ações, incluindo os eixos de cultura, educação, 
políticas públicas, organização societal ea produção de diagnósticos 
socioeconômicos dessas cidades. O projeto deu frutos e poderia ter dado 
mais, e como última etapa de sua realização o grupo de pesquisadores 
e alunos organizou-se para a publicação de um conjunto de textos que 
procurasse sintetizar a experiência prática do projeto e sua influência 
no marco teórico original. Nasce aqui a Coleção Governança e 
Desenvolvimento, publicada pelo selo editorial Ideias, Intelectuais e 
Instituições (UFSCar), com os seguintes títulos: Ciclo de Políticas 
Públicas e Governança para o Desenvolvimento; Cultura e 
Desenvolvimento; Educação e Desenvolvimento; Economia Política e 
Desenvolvimento (este último em dois volumes: Um Debate Teórico e 
Novos Arranjos Institucionais). 
 E, partilhando os valores democráticos e inclusivos do 
PROEXT e da UFSCar, a coleção é publicada em formato de livro 
digital com acesso aberto e circulação gratuita. 
 
8 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
 Termino agradecendo enormemente ao conjunto de docentes, 
pesquisadores, alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência 
Política (PPGPol) e da graduação da UFSCar, aos técnicos 
administrativos colaboradores na proposta, bem como aos inúmeros 
parceiros externos com quem desenvolvemos as atividades, a 
oportunidade de realização deste trabalho. Às prefeituras, gestores, 
diretores e secretários, alunos e voluntários dos municípios de Ribeirão 
Bonito, Dourado, Campina do Monte e Alegre e Buri, externo o nosso 
mais profundo agradecimento pela chance de aprendermos com vocês 
e pela possibilidade de experimentarmos a construção coletiva e social 
do conhecimento. 
 
 
 
 
Vera Alves Cepêda 
 Coordenadora do projeto Governança local de 
desenvolvimento: novas ferramentas de gestão pública para inclusão, 
inovação e cidadania 
 
 
9 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
 
Prefácio 
 
Ao tentar pôr em evidência os elementos fundantes da economia 
política clássica enquanto abordagem científica, Coutinho demonstra 
que o objeto de pesquisa da nova disciplina que nasceu das Ciências 
Humanas e Sociais assenta-se no tratamento dado à compreensão “das 
relações entre os homens, na reprodução da vida material” 1. Significa, 
entre outras coisas, que a análise pretensamente científica que trata das 
humanidades e da sociedade deve se policiar para não naturalizar 
relações sociais construídas historicamente através de uma forma 
específica de interação entre indivíduos. O que implica, portanto, em 
não naturalização de resultados desta interação, como crescimento e 
desenvolvimento desiguais entre países e regiões, ou as desigualdades 
econômicas e sociais gritantes entre seres humanos, a existência de um 
número considerável de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza 
– seja lá o que isso signifique –, ou a manutenção, perene, de um volume 
de pessoas que têm capacidade e força para trabalhar, desejam 
trabalhar, mas não lhes é permitido exercer suas atividades, assim como 
a presença de desproporcionalidades gigantescas nos acessos à saúde, à 
moradia, à educação, ao lazer etc. 
Influenciaram no surgimento da economia política tanto o 
pulular dos temas que se disseminavam, concernentes à própria 
formação e consolidação do capitalismo; quanto a emergência e inter-
relação entre o surgimento e fortalecimento do liberalismo econômico; 
e o aspecto preponderante do olhar filosófico estruturado no 
racionalismo jusnaturalista da contraposição entre estado e sociedade 
civil. A conjunção dos dois últimos elementos é crucial para 
compreendermos os rumos da economia e, em grande parte, também a 
forma como cientistas sociais explicam a realidade socioeconômica. 
 
1 Livro “Lições de Economia Política Clássica”, de Maurício Chalfin Coutinho, de 
1993, editado pela Editora Hucitec, São Paulo. 
 
10 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
Quer dizer, por exemplo, que o andar da carruagem do capitalismo está 
condicionado, por um lado, pelos avanços na capacidade de acumulação 
e, por outro, pela forma como a sociedade e a política respaldam e 
ajudam a construir a processualidade e o resultado desses avanços. 
Assim, a ciência econômica que visa contribuir, ainda que 
criticamente, para a elaboração de proposições de medidas voltadas ao 
desenvolvimento precisa levar em consideração: primeiro, que os 
avanços dependem de estímulos às iniciativas de investimento, 
respaldadas, sempre, por condicionantes impostos pelo mercado, sob as 
mais variegadas dimensões; segundo, o debate teórico amplamente 
difundido sob a ótica da falsa dicotomia entre os benefícios e os 
malefícios da maior ou menor intervenção do estado na economia, seja 
para estimular os avanços ou para minorar problemas advindos dos 
desdobramentos e resultados desses avanços. 
Quando observamos a evolução das Ciências Humanas e 
Sociais, fica claro que estas percepções estão longe de ser unanimidade 
entre intelectuais, pesquisadores e estudiosos. Ao contrário, destaca-se 
entre grandes obras as teses que procuram nas relações sociais e 
econômicas leis parecidas com aquelas possíveis de serem encontradas 
quando se observa a natureza. Dessa forma, ganharam destaque grandes 
defensores do livre mercado e a confusão da assimilação de que o 
crescimento econômico, por si só, conduz ao desenvolvimento de um 
país ou região, e as atenções centraram-se, nas últimas décadas, na 
estabilização e no equilíbrio fiscal. Mas, a tradicional teoria do 
crescimento é bem mais antiga, como a tentativa de Solow, nos anos 
1950, de construir um modelo com base na teoria neoclássica, ou as 
teorias do crescimento com progresso técnico endógeno, do capital 
humano, também com pés (de barro) atolados na neoclássica, visíveis 
já nos anos 1960, mas que ganharam notoriedade com Romer, Lucas e 
Harrod nos idos de 1980. Nas últimas décadas, as teses que 
influenciaram as políticas de industrialização do Brasil, assim como a 
crítica à forma de implantação, foram relegadas ao ostracismo, como se 
fizessem parte de um passado anacrônico e não compusessem o quadro 
da teoria econômica. 
 
 
11 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Apesar de o debate sobre a possibilidade ou impossibilidade de 
implementação de políticas voltadas para o desenvolvimento 
econômico ter ganhado relevância nos últimos anos no Brasil, grande 
parte das teses dos economistas, de cientistas sociais e políticos que 
ganham os corações e as mentes daqueles que conduzem políticas de 
desenvolvimento, ou mesmo daqueles pesquisadores que se tornam 
expertos publicadores em revistas de alta qualificação, segue um roteiro 
em que são mantidas bases e/ou técnicas próximas daquelas utilizadas 
nos modelos tradicionais. Tentativas de resgate do desenvolvimentismo 
no Brasil nesse século caracterizaram-se pelo desprezo a iniciativas de 
reversão de problemas estruturais, penalizando, inclusive, possíveis 
momentos favoráveis, e mantendo inabalável a tradição conservadora 
de conduzir políticas macroeconômicas pela interação política fiscal, 
monetária e cambial. 
Felizmente, as perspectivas do projeto que levou à elaboração 
deste livro parecem colocar-se bem distante desta linha de raciocínio. 
Ao ler as páginas que seguem, fica claro que a orientação que o 
professor Joelson pretendeu construir ao longo desta obra está ancorada 
em pilares estruturados na criticidade, na transversalidade e na 
multidisciplinaridade, em teses estruturalistas cepalinas, em 
construções furtadianas e nas dimensões do desenvolvimento pensadas 
por Sen. Uma das contribuições do livro, ainda que curto, é permitir ao 
leitor um roteiro claramente pensado dentro de uma perspectiva 
históricasobre os significados teóricos do pensamento acerca do 
desenvolvimento. Por isso o resgate do tema a partir de autores da 
economia política clássica, a apresentação crítica da leitura etapista do 
processo de desenvolvimento – quando o debate sobre o tema ganha 
evidência, seja pelas mãos de Prebisch, ou mesmo de Rostow, Nurske, 
Hirschman e Myrdal –, passando por uma interpretação do chamado 
neoliberalismo e apresentando o novo-desenvolvimentismo a partir de 
interpretações de Bresser-Pereira e da crítica de Gonçalves às 
limitações do modelo, ou daquilo que Joelson designou como 
“promessa”, e, principalmente, da não inserção de medidas que 
visassem transformações estruturais. 
 
 
12 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
O livro é finalizado com um capítulo específico a um tema caro 
ao autor e aos estudiosos do desenvolvimento, a questão regional e a 
crítica aos localismos endogenistas. A nos lembrar, primeiro, o quão 
pernicioso são as teses ancoradas na autossuficiência das 
administrações públicas gerenciais capazes, por si só, de atrair e gerar 
crescimento e desenvolvimento, segundo, o quanto as Ciências Sociais, 
particularmente, a ciência econômica, ainda são influenciadas pelas 
teses equilibristas walrasianas, e, terceiro, que a redução das 
disparidades regionais só encontram respaldo quando pensadas em 
termos sistêmicos. 
Que mais projetos de extensão e de pesquisa desta magnitude e 
com esta perspectiva encontrem espaço nas universidades brasileiras e 
que possam dar frutos e favorecer o pluralismo científico. 
 
 
Sebastião Ferreira da Cunha 
Professor e pesquisador do Departamento de Ciências Econômicas e Exatas, 
Instituto Três Rios, UFRRJ e pós-doutorando no Instituto de Economia da UFU 
 
Uberlândia, 4 de outubro de 2016. Sob nebuloso ambiente político 
nacional. 
 
 
13 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
 
Introdução 
 
 Esse trabalho surgiu, como ressaltado na apresentação, de um 
projeto de extensão denominado Governança local e 
desenvolvimento: novas ferramentas de gestão pública para inclusão, 
inovação e cidadania. Nosso primeiro movimento foi o de apresentar 
um repertório mínimo para o estávamos chamando de 
desenvolvimento. Assim, a partir da organização de eventos com o 
intuito de dialogar com as equipes de trabalho sobre as reflexões mais 
gerais acerca da temática, percebemos a necessidade de enfrentar 
questões que, mesmo presentes há bastante tempo no debate acadêmico, 
não apresentavam uma convergência teórica necessária para se avançar 
nas análises propostas no projeto. 
Desse modo, primando pela didática, para cumprir os objetivos 
propostos, dividimos o trabalho em quatro breves capítulos. No 
primeiro, apresentamos as distinções – infelizmente não tão obvias – 
entre desenvolvimento e crescimento, para, no segundo, buscar, na 
história do pensamento econômico, a dimensão política do 
desenvolvimento, visando descontruir a ideia do desenvolvimento 
enquanto possibilidade e trajetória natural para todos os países. 
No terceiro capítulo nos ocupamos, de maneira crítica, de 
algumas escolas e modismos do pensamento econômico e seus vieses 
distintos ao pensar o desenvolvimento. Já, no quarto capítulo, nossas 
provocações recaem na teoria do desenvolvimento local, em especial, a 
partir, de sua vertente endogenista, com especial destaque às panaceias 
teóricas mais contemporâneas e, nem por isso, menos desconectadas da 
realidade, como poderá perceber o próprio leitor. 
Em tempo, não queremos negar o desenvolvimento local 
enquanto possibilidade empírica. Acreditamos que os sujeitos sociais 
podem fazer a diferença. Todavia, isso só será possível quando 
avançarmos em uma concepção de democracia que não se encerre em 
si mesmo e que, portanto, não negue a luta de classes como um 
 
14 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
instrumento positivo e necessário na desorganização dos interesses e 
dos poderes das elites locais. 
É nosso dever adiantar que as reflexões apresentadas aqui não 
são novas. O leitor perceberá que os alicerces que sustentam a nossa 
crítica, que não está isenta de erros e equívocos de interpretação, são as 
leituras de brasileiros como Celso Furtado, Wilson Cano, Carlos 
Brandão, Tania Bacelar e, entre outros, Carlos Vainer, autores imbuídos 
de espírito crítico e sentido republicano, que estão há anos, enfrentando 
o “bom combate” na luta por um verdadeiro desenvolvimento, ajustado 
aos interesses nacionais e pautados em um projeto de nação. Sendo 
assim, nosso modesto objetivo foi o de recolocar mais uma vez no 
debate público, preocupações macroestruturais e micro-organizacionais 
que não podem ser obscurecidas pela lógica economicista curtoprazista 
que tem dominado a ciência econômica. 
Por fim, cabe esclarecer que uma primeira versão desse texto 
circulou, de maneira mais restrita, no ano de 2015. Depois de uma 
revisão, a ideia era fazer uma versão mais acabada para ampla 
circulação. Todavia, muito em função da instabilidade política e 
econômica nacional, que surpreendeu a todos nós, acabou atrasando 
nosso cronograma. 
O Brasil, em 2016, passou por um golpe contra o Estado 
democrático de direito que casou o impeachment da presidenta eleita, 
Dilma Rousseff, seguido de um conjunto de medidas que, dentre outros 
disparates, busca “executar uma política de desenvolvimento centrada 
na iniciativa privada”. Assim, se por um lado, o atraso causado pelo 
golpe trouxe uma desconexão entre esse trabalho e o projeto que o 
gerou, por outro, contribuiu para reforçar que ainda não temos a tão 
aludida consolidação das instituições democráticas, quiçá, da 
democracia. 
 
 
 
 
 
15 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
1. Desenvolvimento: perguntas 
fundamentais e problemas essenciais 
 
 
É comum nos deparamos com mais de uma definição de 
desenvolvimento na vasta literatura disponível sobre o tema. Em linhas 
gerais, o objetivo de se definir o desenvolvimento (ou qualquer outro 
termo) é poder buscar, em um repertório normativo, uma precisão 
inerente para poder dizer o que é e o que não é algo. Em sentido oposto, 
ressaltamos que o desenvolvimento precisa ser entendido como um 
processo. Devemos buscar o seu sentido partindo da premissa que existe 
um grau elevado de complexidade que, ao mesmo tempo em que exige 
um rigor científico maior, exige também o abandono de réguas 
cartesianas que se proponham a medir esta complexidade. 
Antes de refletirmos sobre os sentidos do desenvolvimento, 
precisamos deixar claro que a construção de qualquer argumentação 
teórica que tenha como foco temas complexos requer antes o alerta da 
emergência de tensões oriundas das diversas controvérsias e 
interpretações que se chocam entre si. Notadamente, para o que nos 
propomos refletir, esta tensão “(...) deriva de sua polissemia conceitual 
ao atravessar inúmeras áreas, diversos momentos históricos e por 
aninhar-se no coração de algumas das mais complexas correntes 
teóricas produzidas em mais de quatro séculos de pensamento 
ocidental” (Cepêda, 2012, p. 77). Esta dimensão polissêmica do termo, 
apresentada por Cepêda, ganha contornos mais densos na medida em 
que consideramos que “Desenvolvimento, evolução e progresso são 
temas caros ao pensamento moderno, quer seja na reflexão filosófica, 
no debate histórico, quer nas teses originais da economia” (Cepêda, 
2012, p. 77). 
Buscando apresentar um enfoque interdisciplinar, Celso Furtado 
(1980) foi preciso ao dizer que o conceito de desenvolvimento tem sido 
utilizado em dois sentidos distintos, mas que, mais 
contemporaneamente tem se imbricado, a saber: 
 
 
 
16 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de CarvalhoO primeiro diz respeito à evolução de um sistema social 
de produção na medida em que este, mediante a 
acumulação e progresso das técnicas, torna-se mais 
eficaz, ou seja, eleva a produtividade do conjunto de sua 
força de trabalho. (...) O segundo sentido relaciona-se 
com o grau de satisfação das necessidades humanas. A 
ambiguidade neste caso aumenta (Furtado, 1980, p. 15-
16). 
 
Dito isso, é importante frisamos os objetivos e limites que nos 
propomos neste capítulo. Buscaremos, no escopo da análise econômica, 
refletir sobre o desenvolvimento e seu descolamento da ideia estrita de 
progresso material, ou crescimento, para uma lógica mais ampla, na 
qual dimensões mais sociais tais como saúde e educação ganham 
relevo. 
A partir da breve introdução feita anteriormente, fica explicitado 
o porquê de o conceito mais usual ser, ao mesmo tempo, o mais simples: 
desenvolvimento econômico pode ser entendido como crescimento 
econômico associado ao aumento da qualidade de vida das pessoas. Ou 
seja, os processos de desenvolvimento e crescimento são processos 
distintos que devem ser combinados para a melhoria da reprodução 
social em condições materiais mais avançadas, ou ainda, em uma 
abordagem mais recente, que amplie oportunidades diminuindo 
privações, sejam elas individuais, coletivas ou sociais. 
Abrimos assim uma importante chave de análise para 
aprofundarmos a reflexão: crescimento. O crescimento, entendido 
como o aumento da riqueza material de uma sociedade, é então, 
condição fundamental, mas não suficiente, para a concretude do 
desenvolvimento, isto é, não elimina a necessidade premente da 
melhora, de maneira ampla, do padrão de vida da coletividade. 
 
 
 
17 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
1.1 – Como medir o crescimento? 
 
Quando se mede a riqueza e o crescimento de um país o que se 
busca, em tese, é quantificar e avaliar o desempenho da economia na 
satisfação das necessidades da sociedade. Esta contabilização é bastante 
técnica e carrega em si certo grau de discricionariedade. Senão vejamos: 
a escolha de um período determinado de tempo de referência, 
geralmente de um ano, é arbitrária, entretanto, necessária, dada a 
importância de períodos de referência que sejam homogêneos, 
permitindo fazer comparações entre tempos e economias distintos. 
Arbitrária também é a escolha do recorte territorial, sendo a escala 
“país” a usualmente mais usada, pois nada impede de se calcular, com 
as devidas alterações metodológicas necessárias, o crescimento e a 
riqueza dos estados, municípios, ou mesmo, continentes. Ademais, esse 
processo de contabilização pode ser feito de diversas maneiras, 
entretanto, a forma mais utilizada é o cálculo do Produto2. 
Calculamos o produto de um país computando o valor 
adicionado total das transações feitas durante certo período de tempo. 
Usa-se frequentemente o Produto Interno Bruto (PIB) para se cumprir 
este objetivo, isto é, o produto dentro de um dado território, sem 
considerar as depreciações no período. Em que pese o grau de 
tecnicidade do que é ou não contabilizado, devemos ter em mente que 
o PIB representa toda a riqueza gerada em um determinado território 
em um dado período. O quadro abaixo apresenta o ranking dos países 
com maiores PIBs do Mundo nos anos de 2013 a 20153. 
 
 
2 Não é foco aqui o aprofundamento técnico do cálculo do produto, mas cabe dizer 
que existem três óticas para isto: as óticas do produto, do dispêndio e da renda. 
Contudo, os valores finais devem ser iguais, ou seja, consideram-se idênticos o 
produto, a despesa e a renda. 
3 Os dados disponíveis no quadro estão disponíveis para consulta na database do FMI 
no site http://www.imf.org/external/index.htm. Os valores são em dólares correntes e 
alguns ainda se apresentavam como estimativas na data da busca. 
http://www.imf.org/external/index.htm
 
18 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
 
 
Quadro 1 – Ranking das maiores economias do mundo segundo o Produto Interno Bruto 
(Dólares em valores correntes) 
Ranking 
2015 
País PIB em 2015 
 
PIB em 2014 
 
PIB em 2013 
 
1º Estados 
Unidos 
17.946.996.000.000,0 17.348.071.500.000,0 16.663.160.000.000,0 
2º China 10.866.443.998.394,2 10.351.111.762.216,4 9.490.602.600.148,5 
3º Japão 4.123.257.609.614,7 4.596.156.556.721,9 4.908.862.837.290,5 
4º Alemanha 3.355.772.429.854,7 3.868.291.231.823,8 3.745.317.149.399,1 
5º Reino Unido 2.848.755.449.421,0 2.990.201.431.078,2 2.712.296.271.990,0 
6 º França 2.421.682.377.731,0 2.829.192.039.171,8 2.808.511.203.185,4 
7º Índia 2.073.542.978.208,8 2.042.438.591.334,0 1.863.208.343.557,0 
8 º Itália 1.814.762.858.045,9 2.138.540.909.211,1 2.130.330.362.918,4 
9º Brasil 1.774.724.818.900,5 2.417.046.323.841,9 2.465.773.850.934,6 
10 º Coreia do Sul 1.377.873.107.856,3 1.411.333.926.201,2 1.305.604.981.271,9 
11º Rússia 1.326.015.096.948,2 2.030.972.571.014,3 2.230.628.042.254,4 
12º México 1.144.331.343.172,5 1.297.845.522.512,7 1.261.832.901.816,5 
13º Indonésia 861.933.968.740,3 890.487.074.596,0 912.524.136.718,0 
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Banco Mundial e cotejados com dados do FMI 
(2016) 
 
Um olhar rápido nos países listados no quadro 1 deixa evidente 
que entre as maiores economias globais, segundo valores expressos em 
PIB, encontram-se países com níveis de desenvolvimento bastante 
distintos, o que nos ajuda a comprovar que o produto de um país pode 
não ser a medida indicada para mensurar a qualidade de vida de sua 
população. Assim, se aceitarmos, como ponto pacífico, a incapacidade 
do crescimento em ser medida de qualidade de vida, um quantum 
significativo de crescimento de riqueza em uma dada economia não 
significa um país sem pobreza, desnutrição e ausência de serviços 
básicos de saúde e educação, pois não há uma passagem automática 
entre o crescimento econômico e a melhora das condições objetivas da 
vida das pessoas. 
 
 
 
 
19 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
 
1.2 – Como medir o desenvolvimento? 
 
Até o momento, temos claro que, em economia, crescimento de 
um país é uma elevação da sua produção, enquanto desenvolvimento é 
a melhoria do bem-estar de sua população. Contudo, mesmo diante 
desta assertiva, uma questão ainda fica em aberto: como medir o grau 
de desenvolvimento de uma nação? Esta pergunta ainda não encontrou 
uma resposta adequada, contudo, das que foram dadas, a contribuição 
mais conhecida e reconhecida é a do prêmio Nobel de Economia, o 
economista indiano Amartya Sen. 
A reflexão de Sen está ancorada, segundo Costa Lima (2001, p. 
163) “em uma tradição de pensamento na qual a ética e a economia são 
indissociáveis e, portanto, distantes de uma perspectiva instrumental 
moderna e mecânica que caracteriza o paradigma econômico dominante 
em nossos dias”. A preocupação elencada por Sen é basilar: podemos 
assistir a um crescimento significativo sem que a vida das pessoas, em 
termos gerais, melhore. Nesta abordagem, para pensar o 
desenvolvimento humano, passa a ser central a ideia de ampliação de 
liberdades, capacidades e oportunidades em prol do aumento da 
autonomia do indivíduo. Nas palavras do autor: 
 
 
O desenvolvimento requer que se removam as principais 
fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, 
carência de oportunidades econômicas e destituição 
social sistemática, negligência dos serviços públicos e 
intolerância ou interferência excessiva de Estados 
repressivos. A despeito de aumentos sem precedentes na 
opulência global, o mundo atual nega liberdades 
elementares a um grande número de pessoas – talvez até 
mesmo à maioria (Sen, 2000, p. 18). 
 
 
 
 
 
 
20 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico –Joelson Gonçalves de Carvalho 
Na busca por ter um indicador mais real e sensível a este tipo de 
situação em que os aspectos econômicos e os rendimentos de uma 
pequena parcela da população podem causar uma falsa sensação de 
melhora é que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi pensado 
e popularizado, em função de sua busca em medir o grau de 
desenvolvimento das nações, a partir de variáveis não exclusivamente 
econômicas. O IDH foi criado pelo economista paquistanês Mahbub ul 
Haq com a ajuda do economista indiano Amartya Sen. 
Fazendo uma breve digressão histórica deste índice, ele foi feito, 
pela primeira vez, em 1990 e desde então é calculado anualmente. Um 
dos objetivos era suprir as deficiências do cálculo do PIB per capita, 
que mede apenas o crescimento econômico de um país dividido por sua 
população. 
Mesmo com inovações metodológicas no seu trajeto, gerou uma 
série histórica bastante importante para se ver o movimento dos países 
nestas duas décadas e meia de vida, tendo se tornado uma referência 
mundial na comparação entre as diversas nações e um indicador de 
progresso para as nações4. 
Tecnicamente, ele varia entre zero a um, sendo zero o número 
que indica nenhum desenvolvimento humano e o número um o 
desenvolvimento humano pleno. Em sua metodologia levam-se em 
consideração três dimensões: renda, saúde e educação. De modo mais 
específico, tem-se: 
 
 
4 O IDH passou por revisões metodológicas em 2013 e 2014. As mudanças 
metodológicas inseridas, no entanto, são frutos do aprimoramento do índice em captar 
sinteticamente o grau de desenvolvimento de um país, para além de seu crescimento 
econômico. Explicitar as diferenças metodológicas aqui seria inoportuno, contudo, 
para mais detalhes ver http://www.pnud.org.br. 
http://www.pnud.org.br/
 
21 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
 
➢ Dimensão Educação: esta dimensão é calculada levando-se em 
consideração dois indicadores, a saber: a média de anos de 
estudo e os anos de estudo esperados; 
➢ Dimensão Saúde: esta dimensão é resultado direto da 
longevidade da população, ou seja, é calculada a partir da 
esperança de vida ao nascer; 
➢ Dimensão Renda: esta dimensão é econômica e calculada pela 
Renda Nacional Bruta per capita do país. 
 
 
 
 
Figura 1 - Organograma funcional do IDH 
Fonte: Elaboração própria a partir do Relatório de Desenvolvimento 
Humano (PNUD, 2015). 
 
 
22 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
O quadro abaixo mostra a última classificação disponível no 
Relatório de Desenvolvimento Humano, disponibilizado anualmente 
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)5. 
 
 
Quadro 2 – Índice e grau de desenvolvimento mundial em 2014 
IDH Grau de 
Desenvolvimento 
Alguns exemplos 
0,000 a 0,549 Baixo Paquistão, Quênia, Haiti, Afeganistão, Níger 
0,550 a 0,699 Médio Palestina, Paraguai, Egito, Índia, Iraque 
0,700 a 0,799 Elevado Uruguai, Bahamas, Venezuela, Turquia, Brasil 
0,800 a 1,000 Muito elevado Noruega, Austrália, Suíça, EUA, Argentina 
 Fonte: Elaboração própria a partir do Relatório de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2015). 
 
 
Os exemplos expressos no quadro 2 de países no mesmo grau 
de desenvolvimento trazem desconforto não apenas ao senso comum, 
mas também a especialistas de toda ordem, na medida em que colocam 
no mesmo patamar Brasil e Venezuela ou Estados Unidos e Argentina. 
Aliás, se observamos o ranking de países selecionados por seu IDH, 
teremos: 
 
Quadro 3 – Ranking de países selecionados por seu IDH em 2014 
Ranking País Ranking País 
1º Noruega 29º Grécia 
2º Austrália 40º Argentina 
3º Suíça 43º Portugal 
4º Dinamarca 52º Uruguai 
5º Países Baixos 55º Bahamas 
6º Alemanha 67º Cuba 
6º Irlanda 71º Venezuela 
8º Estados Unidos 75º Brasil 
9º Canadá 130º Índia 
9º Nova Zelândia 188º Níger 
Fonte: Elaboração própria a partir do Relatório de Desenvolvimento Humano (PNUD, 
2015). Nota: o ranking leva em consideração empates até a terceira casa decimal. 
 
 
5 Para mais detalhes ver o site oficial do PNUD, disponível em 
http://www.pnud.org.br/. 
http://www.pnud.org.br/
 
23 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Em resposta a isto, o próprio PNUD, em seu relatório deixa claro 
que o IDH é um indicador sintético que, devido os seus objetivos, não 
é capaz de abarcar dimensões importantes do desenvolvimento, a 
exemplo da democracia, participação popular, sustentabilidade e 
preocupações de uma nação com o meio ambiente, fortalecimento 
institucional, entre tantos outros. O fato é que apesar de “ampliar a 
perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não abrange todos 
os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da 
"felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se 
viver".6 
 
1.3 – O porquê do desenvolvimento! 
 
 
É bem verdade que o conceito de desenvolvimento econômico 
não está pacificado, entretanto, há uma convergência teórica em 
pressupô-lo a partir do: i) crescimento sustentado da economia; ii) 
avanços tecnológicos e aumento da produtividade do trabalho; iii) 
democracia e fortalecimento político e institucional e, entre outros 
fatores, iv) melhora generalizada no padrão de vida da população. Estas 
questões já estavam internalizadas no pensamento de Celso Furtado, 
indubitavelmente um dos intelectuais mais reconhecidos sobre o tema. 
Para este autor o desenvolvimento não é obra do acaso ou consequência 
natural das forças de mercado, antes pelo contrário, é fruto de 
intencionalidade, ou seja, é “(...) um processo de ativação e canalização 
de forças sociais, de avanço na capacidade associativa, de exercício da 
iniciativa e da inventiva. Portanto, se trata de um processo social e 
cultural, e só secundariamente econômico” (Furtado, 1982, p. 149). 
 
6 É obvio que críticas metodológicas ao cálculo do IDH não são novidades. Para tanto 
existem, ao longo de sua trajetória, um conjunto de aperfeiçoamentos que devem ser 
registrados, cabendo destaque a complementações como os Índice de Desigualdade 
de Gênero (IDG), Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) e ao Índice de 
Desenvolvimento Humano Ajustado (IDHAD). Para maiores informações sobre estes 
indicadores complementares de desenvolvimento humano ver: 
http://www.pnud.org.br/IDH/DH.aspx. 
http://www.pnud.org.br/IDH/DH.aspx
 
24 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
A partir das contribuições seminais de Furtado, um ponto sobre 
o processo de desenvolvimento se torna nevrálgico: ele não é uma 
cristalização socioeconômica a-histórica, ele não é linear e nem 
cartesiano ou, em outras palavras, não é obra do acaso. É resultado de 
um longo processo de transformações que, em geral, passa a ser 
analisado a partir da constatação do elevado – e crescente – padrão 
desigual de crescimento internacional, inerente ao capitalismo. Este 
ponto é central: “o processo de desenvolvimento não transborda, não 
espraia, não entorna, não derrama, (em um certo sentido, “não se 
difunde”) ele precisa ser arrancado, tensionado, tirado à força, 
destruindo privilégios e constituindo novas estruturas de poder” 
(Brandão, 2008, p. 38). 
Forças sociais em movimento com iniciativa e intencionalidade 
para romper amarras que impendem seu avanço são, necessariamente, 
um processo conflituoso, mas não reacionário. Para Brandão: 
 
 
Desenvolvimento é tensão. É distorcer a correlação de 
forças, importunar diuturnamente as estruturas e 
coalizões tradicionais de dominação e reprodução do 
poder. É exercer em todas as arenas políticas e esferas de 
poder uma pressão tãopotente quanto o é a pressão das 
forças que perenizam o subdesenvolvimento (2008, p. 
38). 
 
As arenas políticas e esferas de poder citadas por Brandão nos 
remetem à necessidade de pensar o papel do Estado neste processo. É 
fato que o desenvolvimento capitalista, por suas próprias 
especificidades, se dá de modo desigual e combinado no território, o 
que, por seu turno, cria dilemas e en t raves sérios à justiça e à 
equidade social. Para tanto a ação do Estado deve ser estratégica no 
sentido de atuar como arrefecedor das assimetrias decorrentes da lógica 
do capital. A intervenção direta ou indireta do Estado na economia não 
é, portanto, nenhuma excrescência, muito pelo contrário, a ação estatal 
é fundamental no processo de crescimento econômico, sine qua non ao 
desenvolvimento, mas obviamente, não deve ficar restrita a isto. 
 
 
25 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Em síntese, se o desenvolvimento é intencional e não natural, o 
caso brasileiro se torna emblemático. Existe uma já consagrada 
literatura sobre o nacional-desenvolvimentismo brasileiro e, partir dela, 
podemos perceber como se articularam ferramentas e planos 
econômicos que conseguiram iniciar e completar o processo de 
industrialização nacional com notório aumento de produtividade do 
trabalho, mas mantendo um patente desequilíbrio na assimilação dos 
avanços tecnológicos produzidos, gerando uma desarticulação entre os 
processos de produção de bens e serviços, acumulação de capital e 
consumo de massas (Furtado, 1964). Ou seja, logramos uma 
industrialização ao mesmo tempo em que estruturas sociais marcadas 
pela desigualdade que caracterizaram – e caracterizam – nosso 
subdesenvolvimento foram se sedimentando, transformando o Brasil 
em um país moderno, mas não desenvolvido. 
Na busca por compreender mais amplamente as manifestações 
do desenvolvimento econômico, foi se forjando ao longo da história 
perspectivas teóricas de diversas matrizes ideológicas, buscando 
explicar as causas e os mecanismos do aumento da produtividade do 
trabalho e suas repercussões na organização da produção e na 
distribuição do produto social (Furtado, 1983). 
Mesmo que inicialmente as distinções entre progresso, 
crescimento e desenvolvimento não estivessem dadas, pode-se dizer 
que a busca de suas causas explicativas é bastante antiga, anterior 
inclusive ao que se entende por economia como campo específico do 
conhecimento, como buscaremos mostrar a seguir. 
 
 
 
26 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
2. Desenvolvimento econômico em 
perspectiva histórica: contribuições da 
economia política 
 
 
Antes de começarmos a temática propriamente dita deste 
capítulo, uma advertência se faz necessária. Pretendemos aqui apenas 
apontar uma das trajetórias do desenvolvimento na teoria econômica, 
partindo dos clássicos que o identificavam como sinônimo do progresso 
até a teoria da modernização ou, de maneira mais específica, a teoria 
das etapas do crescimento e a crítica a ela, realizada no escopo dos 
estudos da Cepal. O objetivo é demonstrar que, nas entrelinhas do 
pensamento econômico, o subdesenvolvimento, que de início, inexistia 
enquanto preocupação teórica, passa a ser considerado, entretanto, 
como uma etapa ou fase do desenvolvimento para, depois das 
contribuições cepalinas, ser considerado consequência deste.7 Dito isso, 
comecemos com a escola fisiocrata. 
Antes mesmo de existir uma teoria sistematizada que 
pudéssemos chamar de Ciências Econômicas, a fisiocracia francesa, 
pensando os determinantes do crescimento, construiu uma teoria 
antimercantilista, focada na importância da produção agrícola. O 
argumento principal dos fisiocratas era de que apenas a terra (ou a 
natureza) seria capaz de produzir riqueza. Para a economia fisiocrata, 
em síntese, só a agricultura gerava produto líquido – um excedente em 
relação aos custos agrícolas – que, transferido aos proprietários 
fundiários, na forma de renda da terra, seria a causa ou o motor do 
desenvolvimento de uma nação (Quesnay, 1997). 
Mesmo que nos pareça uma teoria simplista, cabe lembrar que 
o mercantilismo hegemonizou a política e economia das potências 
europeias, até pelo menos o século XVIII, se valendo de práticas como 
balança comercial favorável, Estado protecionista, pactos coloniais de 
exclusividade comercial e o acúmulo de metais preciosos como base 
material da riqueza nacional. 
 
7 Para ampliação e aprofundamento da temática ver Furtado (1993). 
 
27 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Disto isso, fica fácil perceber que uma teoria antimercantilista, 
neste contexto, ganha outros contornos, uma vez que, se coloca 
contrária à lógica imperante de protecionismo estatal como mecanismo 
de crescimento econômico. 
Em que pesem as relevantes contribuições de François Quesnay8 
e outros fisiocratas, para os estudos econômicos, será A Riqueza das 
Nações, de Adam Smith9, a obra que inaugura a moderna economia 
política. É nela que encontramos uma contribuição liberal pioneira à 
análise do desenvolvimento, fenômeno este que foi identificado como 
sendo a cristalização do progresso econômico. Adam Smith pôde 
assistir de um lugar privilegiado da história: o da consolidação do 
capitalismo como modo social (e internacional) de produção, em meio 
à Revolução Industrial. 
O modelo explicativo de Smith para o progresso era bastante 
simples. Nele a acumulação de capital era principal fonte de progresso 
econômico e estava diretamente relacionada com a produtividade do 
trabalho que, em última análise, era a fonte da riqueza das nações. 
Alicerçada na lógica dos interesses individuais, a argumentação de 
Smith avança no sentido de demonstrar – com o artifício da mão 
invisível – que quanto maior a divisão do trabalho, maior a 
produtividade, maior as relações comerciais e menor a pobreza. Isto por 
seu turno, retoma a argumentação de que a riqueza ou pobreza de um 
homem (ou uma sociedade) está diretamente relacionada à sua 
capacidade de adquirir bens. Em síntese, a pobreza (ou ausência do 
progresso e, portanto, do desenvolvimento) deriva dos obstáculos ao 
livre mercado. 
O conteúdo liberal do modelo smithiano se expressa na lógica 
não intervencionista do Estado sobre a economia, que através da mão 
invisível do mercado, transformaria os conflitos e tensões decorrentes 
da natureza egoísta do homem em harmonia social. Segundo Smith 
 
8 O francês François Quesnay (1694-1774) foi médico e economista e o principal 
expoente da escola fisiocrata. Dentre suas principais obras destaca-se o Tableau 
Économique, publicada originalmente em 1759. 
9 O escocês Adam Smith (1723-1790) foi filósofo e economista e é considerado o pai 
da economia moderna e um dos principais expoentes do liberalismo econômico. 
Dentre suas principais obras destaca-se Uma Investigação sobre a Natureza e as 
Causas da Riqueza das Nações, publicada originalmente em 1776. 
 
28 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
(1986) quando a política impedia o livre curso dos fenômenos e 
processos sociais e econômicos, ela acabava por gerar desigualdades. 
Em outras palavras, a desigualdade entre países era gerada quando a 
política limitava a concorrência ou, ainda, quando criava obstáculos à 
livre circulação de mão de obra e capital. Interessante observar que um 
dos corolários dessa doutrina, para Furtado (1980, p. 03), era que as 
“(...) economias da Europa, ao forçarem outros povos a integrarem-se 
em suas linhas de comércio, cumpriam uma missão civilizadora, 
contribuindo para liberá-los do peso de tradições obscurantistas”. Em 
resumo, em Smith temosum modelo explicativo que, mesmo 
básico, buscou demonstrar os fatores do crescimento e, por 
consequência, do progresso e o do desenvolvimento, que não deve ser 
descontextualizado e muito menos despido de seu caráter ideológico. 
Outro expoente da economia política e também um dos 
principais representantes do liberalismo econômico foi David 
Ricardo10. À sua época, Ricardo conseguiu identificar contradições do 
sistema econômico que, exacerbadas, levariam a uma crise profunda e 
generalizada. Para ele, o desenvolvimento de uma sociedade estava 
associado à formação da riqueza nacional e à distribuição do produto 
total da terra destinada a cada uma das três classes existentes na 
sociedade: proprietários de terras, que recebiam rendas, os donos do 
capital que recebiam lucros e trabalhadores que recebiam salários. 
Ricardo (1996) buscou demonstrar que, quanto maior o 
crescimento econômico, mais terras cada vez menos férteis seriam 
demandadas e devido à produtividade decrescente da agricultura, 
menores seriam as parcelas de lucros em detrimento do aumento da 
renda apropriada pelos donos da terra. 
Esta é uma simplificação limitada do modelo de evolução da 
renda fundiária de David Ricardo, mas a partir dela pode-se perceber 
que para ele exista um limite ao crescimento econômico que seria dado 
pelos próprios limites da terra e dos recursos naturais. A continuidade 
do processo de produção e desenvolvimento nacional – e o consequente 
 
10 O inglês David Ricardo (1772-1823) é um dos fundadores da Economia Política e 
defensor do liberalismo econômico. Dente suas principais obras podemos destacar 
Princípios da economia política e tributação publicada, em sua primeira versão, em 
1817. 
 
29 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
aumento da população – impeliria o cultivo de terras cada vez menos 
férteis, com custos crescentes ou rendimentos decrescentes de escala, o 
que, por seu turno, impactaria no bem-estar social geral. 
Tanto Smith quanto Ricardo deram à ciência econômica status 
de campo específico do conhecimento, ao mesmo tempo que 
consolidaram a perspectiva do liberalismo na gênese da própria 
economia. Suas obras materializaram a perspectiva liberal, pautada na 
livre concorrência, nos mecanismos de ajuste de mercado e no 
individualismo metodológico. Respeitados estes pressupostos o 
progresso econômico se daria de forma natural e socialmente pré-
determinada, ou seja, o desenvolvimento seria uma meta alcançável por 
qualquer nação. 
A herança mais concreta da interpretação clássica está na 
associação direta entre crescimento, progresso e desenvolvimento que, 
mesmo tendo sido retrabalhada à exaustão, ainda faz escola no 
pensamento econômico. Em última instância, interpretar os 
economistas clássicos contribui para entenderemos as contradições 
intrínsecas a este pensamento, notadamente a negação do 
subdesenvolvimento enquanto resultado inerente do próprio 
capitalismo. 
A falsa ideia de desenvolvimento como fenômeno natural não 
pode obscurecer que a discussão do tema é complexa e envolve 
inúmeros atores, escalas e interesses. Desde a gênese do pensamento 
econômico liberal até a contemporaneidade, não são poucos os que 
veem na ação do Estado um empecilho ao pleno e eficiente 
funcionamento das forças de mercado e, portanto, um obstáculo ao 
desenvolvimento. 
Dentre os conservadores mais caricatos na defesa do 
desenvolvimento, enquanto fenômeno natural, Walt Whitman Rostow 
chama a atenção11. Sua contribuição foi pautada por uma lógica etapista 
 
11 As contribuições de Rostow podem ser consideradas caricatas na medida em que se 
inserem na defesa do desenvolvimento como ideologia. Como policy maker, Rostow 
atuou como conselheiro, na década de 1960, em assuntos de segurança nacional. Sua 
contribuição acadêmica, assim como sua trajetória pessoal foi marcada pelo combate 
as ideias comunistas no contexto da guerra fria. Cabe destacar que em sua obra mais 
conhecida, o livro Etapas do Desenvolvimento Econômico, o subtítulo é: um manifesto 
não comunista. Para mais detalhes ver Gumiero (2011). 
 
30 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
pela qual o processo de desenvolvimento se daria. Para o autor, o 
desenvolvimento era uma meta viável a todos os países do mundo, a 
partir de cinco etapas bem definidas, a saber: 1) A sociedade 
tradicional, caracterizada por estruturas se expandem dentro de funções 
de produção muito limitadas; 2) As precondições para a decolagem, 
visíveis em sociedades em transição que passam a explorar os frutos das 
ciências modernas; 3) A decolagem (ou arranque), sociedades em que 
as forças que contribuem para o processo econômico e que geraram 
surtos de atividade moderna se dilatam; 4) A marcha para a 
maturidade, caracterizada por um longo período de progresso 
continuado e, por fim, 5) A era do consumo em massa, situação em que 
a renda real por pessoa eleva-se a tal ponto que os consumidores 
consomem a além das necessidades mínimas (Rostow, 1961). 
Pressupõe-se que existam desigualdades internacionais 
relevantes e hiatos de renda e riqueza que separam países ricos de países 
pobres e isso é um mérito nas contribuições de Rostow. Entretanto, seu 
modelo de análise é problemático por entender o subdesenvolvimento 
como uma etapa, sendo este último acessível a todos os países que se 
esforçassem por reunir as condições adequadas para isso (Marini, 
1992). 
O foco desta digressão é esclarecer que para Rostow a condição 
macroeconômica para se alcançar o desenvolvimento pode ser expressa 
em dois pontos: ter estoque de capital e estoque de poupança. Todavia, 
diante de condições nacionais endógenas que desfavorecessem o 
acúmulo de tais estoques, o desenvolvimento ainda seria possível, 
bastando para tanto que os países ainda não desenvolvidos pudessem 
contar com investimentos e empréstimos externos de países em fases 
ou etapas superiores. Ou seja, o caminho natural para alguns países 
seria, para Rostow, um crescimento dependente como fórmula. 
O subdesenvolvimento passa a ser não mais negado, passa a ser 
aceito como uma fase do desenvolvimento. Desmistificar esta 
interpretação é um dos maiores méritos na trajetória da Comissão 
Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL)12. 
 
 
12 Sobre as teorias tais quais as de Rostow e o papel da Cepal e de Celso Furtado, 
Roberto Saturnino Braga, escreveu o seguinte: “Durante algum tempo, este foi o 
 
31 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
A visão teórica da Cepal e suas propostas foram bastante 
inovadoras para o período, pois é bom ter em mente que Process of 
Economic Growth é de 1952; Stages of Economic Growth é de 1960; 
Politics and the Stages of Growth é de 1971 e que Origins of the Modern 
Economy é de 1975, todas obras de Rostow que, na mesma linha de 
raciocínio e argumentação demonstrados anteriormente, 
materializavam o pensamento mais conservador sobre o processo e as 
perspectivas do período. Cabe frisar que a Cepal foi estabelecida pela 
resolução 106 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, em 
1948, para, segundo informações oficiais: 
 
(...) monitorar as políticas direcionadas à promoção do 
desenvolvimento econômico da região latino-americana, 
assessorar as ações encaminhadas para sua promoção e 
contribuir para reforçar as relações econômicas dos 
países da área, tanto entre si como com as demais nações 
do mundo13. 
 
A tese do desenvolvimentismo emerge, segundo Cepêda (2012), 
a partir da teoria do atraso produzida pelos pensadores da CEPAL, entre 
eles Celso Furtado e Raúl Prebisch. Eles formularam o argumento geralde que o chamado “atraso”, que é visto como um capitalismo 
incompleto de certas sociedades, faz parte de um sistema econômico 
que se desenvolve de maneira desigual. Desse modo, o que antes era 
denominado como posição de “atraso”, passa a ser considerado como 
uma relação desigual entre pares subdesenvolvidos e desenvolvidos. 
 
pressuposto fundamental do processo de “desenvolvimento econômico”. Com o 
passar do tempo, com as observações, as reflexões e os debates sobre o tema, os 
conceitos se foram alterando e aperfeiçoando, a partir do próprio conceito de 
desenvolvimento, que passou a incorporar outras dimensões (social, cultural, 
política). E uma voz se destacou claramente neste debate internacional. Uma voz da 
Cepal, uma voz brasileira, do economista e pensador Celso Furtado, que só não 
ganhou o Prêmio Nobel de Economia por causa do preconceito forte contra o Brasil, 
visto ainda como país sem seriedade” (Braga, 2015, p. 136). 
13 Disponível em http://www.cepal.org/brasil/. Acesso em janeiro de 2015. 
Lembramos que desde a década de 1980, por meio da resolução 1984/67, Cepal 
passou a aturar também junto aos países caribenhos, tendo incorporando em seus 
objetivos a promoção do desenvolvimento social e sustentável. 
http://www.cepal.org/brasil/
 
32 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
Desenvolvimento, portanto, envolve um projeto de 
transformação social profunda, operada politicamente de maneira 
racional e orientada pelo Estado, vinculando economia e avanço social 
(Cepêda, 2012). 
As principais questões que ocuparam grande esforço intelectual 
da Cepal, em sua gênese, indubitavelmente foram: 
 
➢ O que é desenvolvimento? 
➢ Por que os países latino-americanos não são desenvolvidos? 
➢ Porque existem países com diferentes graus de 
desenvolvimento? 
➢ Por que alguns países conhecem um elevado consumo de massa 
sem uma elevada redução das disparidades entre nações e dentro 
das nações? 
 
Na busca pelas respostas às questões apresentadas, a Cepal 
avançou no entendimento de questões até hoje centrais no pensamento 
latino-americano e na construção de políticas públicas ditas 
desenvolvimentistas, a saber: a deterioração dos termos de troca e a 
relação centro-periferia14 no comércio internacional; importantes 
análises dos processos de industrialização dos países latino-americanos 
e as diferenças entre o desenvolvimento e subdesenvolvimento. 
O pensamento cepalino conseguiu demonstrar que a tomada de 
consciência das reais condições históricas dos países não desenvolvidos 
deveria transcender para um projeto de transformação socioeconômico 
profundo operado politicamente com clara orientação do Estado de 
modo a avançar na imbricação entre avanços econômicos e conquistas 
sociais. 
No que tange à deterioração dos termos de troca e à relação 
centro-periferia, para a Cepal, existia uma tendência estrutural ao 
estrangulamento do comércio exterior que gerava disparidades na 
procura internacional que, por sua vez, passavam às exportações e 
 
14 Primando pela didática, compreende-se, no pensamento cepalino “Centro” como 
economias em que as técnicas capitalistas de produção penetraram primeiro e 
“Periferia” como economias cuja produção permanece inicialmente atrasada, do ponto 
de vista tecnológico e organizativo. 
 
33 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
preços relativos. Em outras palavras, estruturalmente, nas trocas 
internacionais entre países centrais e periféricos, estes últimos 
perderiam, paulatinamente, poder de compra e o resultado final seria o 
aumento do foço que os separavam. 
Para a teoria econômica neoclássica, os países com elevada 
concentração de capital deveriam concentrar-se na indústria, ao passo 
que aqueles abundantes em terra e trabalho deveriam se concentrar na 
agricultura, o que, em linhas gerais era um desdobramento do 
argumento ricardiano das vantagens comparativas. Diante desta 
realidade e observando a deterioração dos termos de troca, os cepalinos 
construíram um importante arcabouço teórico para fazer frente aos 
modelos neoclássicos, que defendiam a especialização dos países 
segundo a dotação de fatores de produção. 
Para Raúl Prebisch e Celso Furtado, a deterioração dos termos 
de troca era uma “debilidade congênita” da condição periférica e 
subdesenvolvida dos países latino-americanos e o fim do 
estrangulamento externo dos países latino-americanos passaria pela 
necessidade imprescindível de alavancar o processo de industrialização. 
Esta seria a única forma de elevar a elasticidade-renda das exportações 
dos países periféricos e, portanto, permitir o crescimento econômico 
sustentável. Ou seja, era uma forma de superar a pobreza e de reverter 
a distância crescente entre a periferia e o centro.15 Sabe-se hoje que a 
industrialização não elimina a heterogeneidade tecnológica e a 
dependência, apenas altera a forma como essas características passam a 
se expressar. Entretanto, o mais importante foi terem levando em conta 
que a inclusão social não está diretamente ligada ao crescimento 
econômico, sendo assim, é necessário foco na redistribuição de renda e 
riqueza, além de controle dos centros de decisão para promover o 
desenvolvimento. 
Para a Cepal, de modo geral, e Celso Furtado, de modo mais 
específico, o subdesenvolvimento é um processo em “si mesmo”, que 
 
15 Os argumentos da Cepal seguiam a lógica do problema empírico do mercado 
internacional que era a da perda de dinamismo da procura de produtos primários, com 
impactos sobre os preços. A origem do fenômeno de desigualdade dos termos de troca 
estava, então, na lentidão com que crescia a procura mundial por produtos primários 
comparada com a de produtos industriais. 
 
34 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
tende a se perpetuar, e não uma simples “etapa de desenvolvimento” 
pela qual passam todos os países, como gostaria, entre outros, Rostow16. 
O subdesenvolvimento, portanto, é uma das linhas históricas de 
projeção do capitalismo industrial cêntrico a nível global: a que se faz 
por meio de empresas capitalistas modernas e transnacionais sobre 
estruturas arcaicas, formando “economias híbridas” (e profundamente 
“heterogêneas”, como no caso do Brasil). O sistema tende à 
concentração de renda e a um grau de injustiça social crescente. Em 
uma perspectiva mais crítica, a dialética do desenvolvimento: 
 
(...) concebe que o subdesenvolvimento de alguns 
países/regiões resulta precisamente do que determina dos 
demais. A lógica de acumulação de capital em escala 
mundial possui características que, ao mesmo tempo, 
produzem o desenvolvimento de determinadas 
econômicas e o subdesenvolvimento de outras 
(Carcanholo, 2008, p. 253). 
 
Importante ter em mente que um moderno padrão de consumo 
não pode ser confundido com desenvolvimento. O subdesenvolvimento 
é um desequilíbrio na assimilação dos avanços tecnológicos 
produzidos. Nele reside, segundo Furtado (1992) uma desarticulação 
entre o processo de produção, acumulação e consumo, portanto, um país 
moderno não é necessariamente desenvolvido. Em função disto que 
países subdesenvolvidos, marcados notadamente por economias 
desprovidas de ações estatais coordenadas que primem por políticas 
econômicas que enfrentem o atraso socioeconômico, se mostram 
ineficientes na alocação de recursos para geração de renda e riqueza 
nacional que possam ser apropriadas amplamente por sua sociedade. 
Desnecessário dizer que o Brasil é um bom exemplo. 
 
 
16 Segundo Furtado, a estrutura ocupacional com oferta ilimitada de mão de obrase 
altera nas economias subdesenvolvidas de forma lenta, porque o progresso técnico, 
capital-intensivo, é inadequado à absorção dos trabalhadores ligados à vasta economia 
de subsistência. 
 
35 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
3. A tortuosa busca pelo 
desenvolvimento: do neoliberalismo ao 
novo-desenvolvimentismo 
 
 
Antes de avançarmos em discussões mais contemporâneas sobre 
o tema que nos propusemos explorar, é importante deixar claro que 
nenhuma discussão que se proponha pensar o desenvolvimento 
econômico, em uma perspectiva histórica, teria lacunas imperdoáveis 
se não apresentasse, mesmo que sucintamente, as contribuições de John 
M. Keynes.17 Como preambulo necessário é interessante observar que, 
na busca pelo desenvolvimento, as ideias teóricas e as ações concretas 
não apenas não caminham no mesmo compasso como também, quando 
imbricadas, dão conformação a estruturas complexas e, muitas vezes, 
idiossincráticas. Neste sentido, como evento paradigmático, a crise de 
1929 pode ser vista como um divisor de águas que emerge do ruir dos 
princípios liberais e da necessidade de se reconfigurar um novo padrão 
de acumulação, este agora sob fortes influências keynesianas18. 
Keynes, desviando-se da rota neoclássica, que insistia em 
estudar as hipotéticas condições de equilíbrio microeconômico, 
restabeleceu a primazia do político sobre o econômico, buscando 
estabelecer uma análise macroeconômica da qual emergiu uma teoria 
que passou a valorizar centros de decisão em escala nacional, com 
destaque preponderante ao papel do Estado (Furtado, 1980).19 
 
17 O britânico John Maynard Keynes (1883-1946) foi, sem dúvida, o economista mais 
influente do século XX, notadamente pelo impacto de seu livro Teoria Geral do 
Emprego, do Juro e da Moeda, publicado em 1936. Entre muitas contribuições 
inovadoras para a época, podemos destacar a defesa ao papel do Estado como agente 
intervencionista na economia, algo execrado pela tradição econômica liberal. 
18 Não é nosso objetivo, e nem seria possível neste trabalho, sintetizar, em poucas 
linhas, as contribuições da obra de Keynes para a economia, mas é importante deixar 
claro que a ênfase à dimensão política dos problemas considerados eminentemente 
econômicos foi (e continua sendo) fundamental para o desenvolvimento e, por 
consequência, para o enfrentamento do subdesenvolvimento 
19 Nos valemos da ideia de que a teoria keynesiana faz apenas um desvio de rota, pois 
concordamos com Bresser-Pereira na medida em que este argumenta que “Keynes foi 
 
36 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
O fato é que, com a crise do modelo keynesiano gerou-se as 
condições necessárias para um momento de acumulação novo pautado 
na financeirização crescente da riqueza e na desregulamentação dos 
mercados com crescente participação do capital privado em setores 
antes notadamente estatais, características estas fundamentais para se 
entender a dinâmica do neoliberalismo. 
Partimos do pressuposto que o neoliberalismo foi a resposta do 
capitalismo à sua própria crise, ocorrida no período imediatamente 
anterior. A crise a que nos referimos é a crise do modelo keynesiano, 
pautado em um regime de acumulação e apropriação privada de lucros 
e excedentes no qual o Estado tinha um papel proeminente de ação e 
intervenção na economia. Para Grasiela Baruco, 
 
Com a crise, a validação das políticas econômicas que 
garantissem a retomada do processo de acumulação de 
capital no bloco de países capitalistas exigia uma 
concepção de desenvolvimento que disputasse a 
hegemonia com o Keynesianismo. A esta nova 
concepção de desenvolvimento, inspirada nas teses 
liberais - a este "novo liberalismo", portanto, 
convencionou-se denominar neoliberalismo (Baruco, 
2005, p. 2) 
 
A gênese do pensamento neoliberal pode ser vista como uma 
resposta às políticas keynesianas que garantiram, em última instância, 
a acumulação de capital na era de ouro do capitalismo, notadamente no 
período que vai do fim da Segunda Guerra até o início dos anos 1970, 
período este marcado pelo sistema de Bretton Woods20. 
 
um economista ortodoxo, que, embora rompendo em alguns pontos importantes com 
a teoria econômica do seu tempo, a ponto de sua contribuição poder, com justiça, ser 
considerada revolucionária, nem por isso deixou de ser fiel às linhas gerais do 
pensamento econômico ortodoxo, marshalliano, em que foi formado” (1976, p. 22-
23). 
20 O acordo de Bretton Woods, derivado das conferências realizadas na cidade norte-
americana homônima ao sistema, em 1944, estabeleceu regras mais incisivas sobre a 
mobilidade de capitais, aumentando suas restrições e, com isso aumentando também 
a capacidade de se fazer de políticas econômicas internas com maior grau de 
autonomia, em especial nos países em desenvolvimento. 
 
37 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Importante destacar que a ideologia geral neoliberal já estava 
expressa desde 1944 na obra Caminhos da Servidão do austríaco 
Friedrich Hayek. Apenas como ilustração, a citação abaixo é, por si só, 
bastante reveladora: 
 
Nossa geração esqueceu que o sistema de propriedade 
privada é a mais importante garantia da liberdade, não só 
para os proprietários, mas também para os que não o são. 
Ninguém dispõe de poder absoluto sobre nós, e, como 
indivíduos, podemos escolher o sentido de nossa vida – 
isso porque o controle dos meios de produção se acha 
dividido entre muitas pessoas que agem de modo 
independente. Se todos os meios de produção 
pertencessem a uma única entidade, fosse ela a 
“sociedade” como um todo ou um ditador, quem 
exercesse esse controle teria poder absoluto sobre nós 
(Hayek, 2010, p.115). 
 
Com a lógica neoliberal de falência do Estado, enquanto agente 
promotor do desenvolvimento nacional, o mercado passaria a ser o 
eficiente condutor deste processo. Assim não apenas o Estado como 
também suas principais atribuições (políticas econômicas, notadamente 
as fiscais e monetárias) passaram a ser questionadas (Batista, 1994). 
 
 
3.1 – Neoliberalismo: do Consenso ao fracasso 
 
Os anos 1980 na América Latina são marcados pela deterioração 
global da situação econômica dos países, muito em função do que se 
convencionou chamar de crise do endividamento externo, característico 
do período no continente. Contudo, especificamente no que se refere ao 
Brasil, à crise da década de 1980, conhecida como perdida, se seguiu 
mais uma que podemos chamar de desperdiçada, ou simplesmente, 
neoliberal, especialmente, a partir do Consenso de Washington.21 
 
21 “Em novembro de 1989, reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionários 
do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados 
- FMI, Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos. O 
objetivo do encontro, (...) era proceder a uma avaliação das reformas econômicas 
 
38 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
No que tange ao Brasil, mais como ilustração do que 
aprofundamento, houve um deslocamento da base produtiva para a 
financeira, enquanto estratégia capitalista para uma maior acumulação, 
eliminando os condicionantes internacionais favoráveis ao crescimento 
brasileiro na década anterior. 
Apesar dos esforços do governo, durante a década de 1980, para 
manter o crescimento, a situação econômica brasileira, mas também em 
grande parte da América Latina, se deteriorou rapidamente dada a 
impossibilidade do concomitante pagamento da dívida externa 
(Carneiro, 2007). É neste contexto que devemos pensar o Consenso deWashington e suas implicações. Assim é interessante recordarmos os 
10 temas que estruturaram o direcionamento técnico-ideológico que o 
balizou: 
 
 
empreendidas nos países da região. (...). Às conclusões dessa reunião é que se daria, 
subsequentemente, a denominação informal de "Consenso de Washington" (Batista, 
1994, p. 5). 
 
 
39 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Quadro 4 – Resumo sinótico do Consenso de Washington 
 
Tema Argumento (O Estado 
deve...) 
Entrelinhas (Entretanto, ...) 
Disciplina 
fiscal 
Orientar o gasto a partir da 
receita, eliminando o déficit 
público em prol do 
equilíbrio fiscal. 
Não faz distinção entre despesas 
correntes e investimentos públicos, 
pregando apenas menos investimentos 
públicos, a partir do eufemismo de 
“disciplina fiscal”. 
Priorização 
dos gastos 
públicos 
Focalizar os gastos em 
setores estratégicos tais 
como saúde, segurança e 
educação. 
Favorece a lógica mercadológica de 
direitos, uma vez que, com a redução 
dos investimentos públicos, setores 
estratégicos passam a ser vendidos. 
Reforma 
tributária 
Ampliar a base tributária 
para distribuir melhor o 
peso dos impostos. 
Agrava a já concentrada estrutura de 
renda em países pobres pois favorece 
impostos regressivos em detrimento 
dos progressivos. 
Liberalização 
financeira 
Reduzir as restrições à livre 
mobilidade de capitais. 
Fragiliza a autonomia nacional em 
relação ao controle de capitais 
especulativos. 
Regime 
cambial 
Taxas competitivas para 
estimular o comércio 
internacional. 
Exclui a concessão de incentivos às 
exportações de países pobres 
notadamente agrário-exportadores. 
Liberalização 
comercial 
Reduzir as barreiras ao 
comércio internacional em 
prol do livre-mercado. 
Desconsidera a heterogeneidade 
estrutural entre os países e os riscos de 
desindustrialização e desemprego nos 
países subdesenvolvidos. 
Investimento 
direto 
estrangeiro 
(IDE) 
Incentivar a entrada de IDE 
como forma de 
complementar a poupança 
nacional e receber 
transferência de tecnologia 
Não menciona o fato dos países ricos 
preferirem exportar bens e não 
tecnologia, além da cobrança por 
proteções adicionais de patentes. 
Privatização Vender empresas estatais 
como forma de tornar mais 
eficiente sua gestão. 
Enfraquece os Estados Nacionais em 
processos de desnacionalização de 
monopólios estratégicos. 
Desregulação Simplificar ou remover 
obstáculos ao livre mercado 
e à eficiência privada. 
Elimina os controles de fluxos de 
capital produtivo e financeiro, 
facilitando processos especulativos e 
aumentando o poder de oligopólios 
transnacionais. 
Propriedade 
intelectual 
Proteger a propriedade 
intelectual como forma de 
aumentar a segurança 
institucional dos 
investimentos. 
Geram verdadeiros monopólios 
inibidores de inversões no exterior não 
contribuindo com a expansão 
econômica dos países mais pobres. 
Fonte: elaboração própria a partir do trabalho de Batista (1994) 
 
40 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
 
A década de 1990 foi marcada pela intensificação do processo 
de globalização e de reestruturação produtiva que, em grande medida, 
alterou as formas anteriores de competição no mercado interno e 
internacional. Datam desse período no Brasil: a abertura econômica, as 
privatizações, a desregulamentação do mercado financeiro e, entre 
outros, a reforma do Estado. Em função da opção neoliberal, ocorreram 
alterações na capacidade de ação estatal e isto, por seu turno, acarretou 
rebatimentos sociais significativos como, entre outros tantos exemplos, 
o aumento do desemprego. 
A adoção indiscriminada das políticas neoliberais agravou os 
problemas estruturais brasileiros, a exemplo da concentração de renda 
e propriedade reduzindo pari passu as possibilidades de ação estatal 
concreta e coordenada para a efetiva superação do atraso social e 
econômico nacional. Não é por outro motivo que o novo-
desenvolvimentismo gerou tamanha expectativa na sociedade de 
maneira geral e na academia de maneira mais específica. 
 
3.2 – Um novo-desenvolvimentismo para um velho capitalismo 
 
O já sepultado novo-desenvolvimentismo é, paradoxalmente um 
tema em aberto e uma seara pantanosa por se enveredar tanto no campo 
econômico quanto no político. Respeitados autores, insistem que existe 
uma clara mudança de prioridade em favor da redistribuição de renda e 
equidade social. Para Cepêda (2012), por exemplo, as “políticas 
públicas mudaram de rumo, redefinindo prioridades e instrumentos a 
ponto de permitir a legítima suposição de um novo pacto social em 
andamento, porém, claro, em termos de um processo e não 
necessariamente em projeto” (Cepêda, 2012, p. 87). Por outro lado, de 
maneira muito mais otimista, Sicsú, Paula e Michel (2007, p. 508) 
acreditam que o novo-desenvolvimentismo pode ser uma “uma 
alternativa de política de desenvolvimento que compatibilize 
crescimento econômico com equidade social, buscando estimular o 
debate em torno da constituição de um programa alternativo ao projeto 
neoliberal”. 
 
41 Coleção Governança e Desenvolvimento – Vera Alves Cepêda (org.) 
Com o objetivo de apresentar o novo-desenvolvimentismo 
comparando-o com a ortodoxia neoliberal e a macroeconomia 
estruturalista do desenvolvimento, Bresser-Pereira (2012), sugeriu que, 
em comparação ao velho desenvolvimentismo, suas características 
principais seriam: 
 
Quadro 5 – Velho e Novo-Desenvolvimentismo 
Velho desenvolvimentismo Novo-Desenvolvimentismo 
1. Industrialização orientada pelo 
Estado e baseada na substituição de 
importações. 
1. Industrialização orientada para as 
exportações, combinada com consumo 
de massas no mercado interno. 
2. Papel central do Estado em obter 
poupança forçada e realizar 
investimentos. 
2. Cabe ao Estado criar oportunidades 
de investimento e reduzir a 
desigualdade econômica. 
3. A política industrial é central. 3. Política industrial é subsidiária, mas 
estratégica. 
4. Ambiguidade em relação aos déficits 
públicos e em conta corrente. 
4. Rejeição aos dois déficits. Se o país 
tiver doença holandesa, deverá 
apresentar superávit fiscal e na conta 
corrente. 
5. Relativa complacência em relação à 
inflação. 
5. Nenhuma complacência em relação à 
inflação. 
Fonte: Bresser-Pereira (2012, p. 19) 
 
Segundo Bresser-Pereira (2012), para o êxito deste projeto 
existe a necessidade de que a taxa de salários não cresça menos do que 
a da produtividade do trabalho, sob pena de redução da demanda, e que 
se evite a tendência de sobreapreciação da taxa de câmbio, sob pena de 
menor inserção nacional em mercados externos. Ou seja, crescimento 
da renda dos trabalhadores, da demanda dos consumidores e maior 
inserção no comércio internacional do país. 
O novo-desenvolvimentismo tem como premissa (ou promessa) 
básica o binômio “crescimento econômico” e “distribuição de renda”. 
Assim, se diferencia do neoliberalismo na medida em que dá, pelo 
menos em termos teóricos, ao Estado maior papel e prestígio no 
cumprimento direto deste binômio. Nas palavras de Sicsú, Paula e 
Michel: 
 
 
42 Economia Política e Desenvolvimento: um debate teórico – Joelson Gonçalves de Carvalho 
A alternativa novo-desenvolvimentista aos males do 
capitalismo é a constituição de um Estado capaz de 
regular a economia — que deve ser constituída por um 
mercado forte e um sistema financeiro funcional — isto 
é, que seja voltado para o financiamento da atividade 
produtiva e não para a atividade especulativa (2007, p. 
512). 
 
Alguns pontos precisam ser melhor avaliados neste modelo, 
projeto ou – o que nos parece mais adequado – promessa, até porque, 
no senso comum, ele foi apropriado e é (ou melhor, era)

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