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Página 1 de 99 Página 2 de 99 Este livro é uma versão apenas para arquivo e impressão. Você precisa realizar a leitura do livro didático na versão digital completa (passando por todos os capítulos, referências e ficha técnica) para que sua presença seja corretamente contabilizada pelo sistema nesta unidade curricular. Ou seja, sua presença somente é reconhecida pelo sistema, se for realizada no AVEA para acompanhamento do professor. Veja o link do livro digital completo no AVEA aqui: https://moodle.ead.ifsc.edu.br/course/view.php?id=2302 https://moodle.ead.ifsc.edu.br/course/view.php?id=2302 Página 3 de 99 Sumário Apresentação......................................................................................................... 5 1. Introdução à Educação Profissional e Tecnológica .................................... 6 1.1 Os primeiros passos da Educação Profissional e Tecnológica ........... 7 1.2 A oferta da Educação Profissional no Brasil ............................................. 9 1.3 Implicações para gestão das organizações públicas ............................. 12 2. Introdução à Gestão Pública na Educação Profissional e Tecnológica .. 15 2.1 Tipos históricos de Estado .................................................................... 24 3. Organizações Públicas ................................................................................ 27 3.1 Estruturas organizacionais na Gestão Pública ................................... 32 4. As organizações públicas de Educação Profissional e Tecnológica ........ 40 4.1 As organizações públicas de Educação Profissional: um universo a descobrir .......................................................................................................... 42 4.2 Conceitos e contextos da Educação Profissional e Tecnológica ....... 44 5. As funções administrativas no contexto da Gestão Pública na Educação Profissional e Tecnológica .................................................................................. 50 5.1 Planejamento ......................................................................................... 53 5.2 Organização ........................................................................................... 62 5.3 Direção ................................................................................................... 69 5.4 Controle .................................................................................................. 75 6. Desafios atuais à Gestão Pública ............................................................... 81 6.1 O desafio do gestor na Nova Gestão Pública ..................................... 83 6.2 A gestão por competência como forma de inovação e flexibilidade organizacional.................................................................................................. 85 6.3 Gestão do Conhecimento na Gestão Pública ..................................... 88 Página 4 de 99 Considerações finais ....................................................................................... 91 Referências .......................................................................................................... 94 Ficha Técnica ....................................................................................................... 99 Página 5 de 99 Apresentação Neste livro de Gestão Pública na Educação Profissional e Tecnológica serão apresentados os conceitos básicos sobre o que é uma organização pública, sua estrutura e seu papel no contexto em que está inserida. Você conhecerá os processos e as funções que norteiam a gestão pública. Serão abordados também princípios de planejamento, organização, direção e controle, para que você possa identificar problemas, propor e executar soluções. Por fim, vamos conhecer e analisar alguns desafios e inovações para os gestores no período da nova gestão pública. Acompanhe! Página 6 de 99 1. Introdução à Educação Profissional e Tecnológica "A educação profissional e tecnológica (EPT) é uma modalidade educacional prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) com a finalidade precípua de preparar “para o exercício de profissões”, contribuindo para que o cidadão possa se inserir e atuar no mundo do trabalho e na vida em sociedade". "Para tanto, abrange cursos de qualificação, habilitação técnica e tecnológica, e de pós-graduação, organizados de forma a propiciar o aproveitamento contínuo e articulado dos estudos". Fonte: MEC (Acesso em: http://portal.mec.gov.br/educacao-profissional-e- tecnologica-ept) http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.htm http://portal.mec.gov.br/educacao-profissional-e-tecnologica-ept http://portal.mec.gov.br/educacao-profissional-e-tecnologica-ept Página 7 de 99 1.1 Os primeiros passos da Educação Profissional e Tecnológica A criação das Escolas de Aprendizes e Artífices, em 1909, já no período republicano da história do Brasil, deve ser considerada o marco inicial de uma Educação Profissional articulada em âmbito federal. Como você estudou até aqui, outras instituições de ensino profissional já existiam no país. O Decreto de Nilo Peçanha promoveu uma reorganização das instituições existentes e a criação de Escolas de Aprendizes e Artífices. Esta nova Instituição produziu uma nova concepção de ensino profissional. Para iniciar esta etapa do estudo e compreender o significado das mudanças provocadas, convidamos você a ler o Decreto expedido por Nilo Peçanha em 1909, quando assumiu a presidência, após a morte de Afonso Pena. Página 8 de 99 Saiba mais: Para ler o Decreto expedido por Nilo Peçanha em 1909, quando assumiu a presidência, clique na sequência. Decreto 1909: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf Souza (2010) coloca uma diferença fundamental entre as Escolas de Aprendizes e Artífices (EAA) e as instituições de ensino profissional que já existiam. Na nova Instituição Federal, buscava-se uma relação ensino- trabalho mais racionalizada, uma formação menos empírica para os aprendizes. O caráter de rede federal organizada, em si, já configurava uma intencionalidade na direção da racionalização da Educação Profissional. Este processo torna-se mais evidente com as reformas pelas quais as EAAs passarão nas décadas posteriores à sua criação. Na segunda década do Século XX, as mudanças propostas para as EAAs conjugam aspectos de diferentes modelos, buscando formar o técnico capaz de projetar sua atuação por meio do desenho, como aquele que atua numa indústria mais moderna. O mesmo autor lembra que as EAAs nascem num momento de aumento da população urbana e crescimento das cidades. Neste cenário, os filhos dos desfavorecidos, que constituem uma parcela crescente da sociedade, ganham um espaço de formação na legislação federal pela primeira vez. http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf Página 9 de 99 1.2 A oferta da Educação Profissional no Brasil Após várias modificações na legislação. O Decreto Nº 4.127/1942, transforma os Liceus Industriais (substitutos dos EAAs) em Escolas Industriais ou Escolas Técnicas, passando a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do secundário, incluída também a formação docente para a Educação Profissional, no caso de escola técnica. Somente 1959 as Escolas Industriais e Técnicas são transformadas em autarquias com o nome de Escolas Técnicas Federais, com autonomia didática e de gestão. Pela Lei Nº 11.195/2005, institui-se a expansão da oferta da Educação Profissional, preferencialmente em parceria com Estados, Municípios e Distrito Federal, setor produtivo ou organizações não governamentais. Lançada a primeira fase do Plano de Expansãoda Rede Federal, com a construção de 60 novas unidades de ensino pelo Governo Federal. O Cefet Paraná passa a ser Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. A Lei 11.892/2008, cria a Rede Federal e os Institutos Federais, ampliando ainda mais a implantação de campi dos 38 IF por todo o país, a meta são Página 10 de 99 600 unidades. Atualmente a rede federal de EPT está com 111 anos de existência. A oferta de Educação Profissional no Brasil é feita por um grande conjunto de instituições públicas e particulares: Rede Federal, Redes Estaduais, Escolas Municipais, Serviços Nacionais de Aprendizagem, Escolas Particulares, Associações e Instituições Filantrópicas. Todas ofertam seus cursos dentro das seguintes possibilidades: Certificação A Certificação é o reconhecimento social de que técnicas e saberes podem ser adquiridos fora da escola, no mundo laboral e na vida, seja em cursos informais, seja no aprendizado como outros profissionais pela convivência e prática. O Programa CERTIFIC é um exemplo dessa atividade. Curso de Qualificação Trata-se da formação inicial ou continuada (FIC) de trabalhadores para o desempenho de um conjunto de atividades no mundo do trabalho. Curso Técnico Equivalente ao ensino médio, mas distinto ao mesmo tempo, educa para o domínio de técnicas e a aplicação de conhecimentos básicos aos processos, desenvolvendo habilidades e valores. Curso Superior de Tecnologia Curso de nível superior, equivalente aos bacharelados e licenciaturas, educa para o aprofundamento de saberes relacionados diretamente aos processos produtivos e de gestão. Página 11 de 99 Pós-Graduação Profissional Cursos de Especialização Tecnológica, Mestrado Profissional e Doutorado Profissional, equivalentes às demais ofertas de pós-graduação. Curso de Licenciatura Assim como os programas especiais de formação pedagógica, os cursos de licenciatura têm como objetivo a formação de professores para a educação básica, especialmente para as disciplinas do segundo segmento do ensino fundamental e para o ensino médio, também para a Educação Profissional. Aos diplomados concede-se o grau de licenciado. Curso de Bacharelado Configuram-se como cursos superiores generalistas, de formação científica e humanística, que conferem, ao diplomado, competências em determinado campo do saber para o exercício de atividade acadêmica, profissional ou cultural. Os diplomados recebem o grau de bacharel. Página 12 de 99 1.3 Implicações para gestão das organizações públicas A partir das reflexões apresentadas até aqui cabe ressaltar as implicações destas definições da Educação Profissional para gestores desta modalidade educacional. Assim, as ideias de trabalho como princípio educativo, da especificidade dos saberes técnico-profissionais e suas múltiplas relações com outros campos do conhecimento, do trabalho como exercício social da técnica e da tecnologia como ciência da técnica levam a apontar caminhos para o gestor. As necessidades de fortes interações Escola - Mundo do Trabalho - Comunidades quase sempre dependem da atuação dos gestores para obter êxito em diversos aspectos, em especial o incentivo, a organização e a formalização de: Página 13 de 99 As demandas de formação para o trabalho também são mediadas pelos gestores: Página 14 de 99 A atividade do gestor público pode ser vista, à luz de tudo que foi abordado, como atividade técnica, de intervenção qualificada no mundo, com uma tecnologia própria, que ganha especificidades na Educação Profissional e que envolve a cultura de comunidades de práticas, os aspectos citados acima e os demais estudados no curso. É importante a valorização desta epistemologia do trabalho e da técnica também para a atividade do gestor, para a formação de gestores, mas também para que esta atividade possa incorporar os valores e o poder transformador da Educação Profissional. As ações dos gestores da EPT estão intimamente ligas às funções administrativas no contexto da Gestão Pública na Educação Profissional e Tecnológica (veja mais adiante no Capítulo 5 desta unidade curricular), ou seja, o gestor público necessita estar atento as funções para que possa alcançar com êxito os objetivos da organização. Página 15 de 99 2. Introdução à Gestão Pública na Educação Profissional e Tecnológica Você sabia que a gestão pública está diretamente relacionada às organizações? Sua principal missão é atender às necessidades da sociedade por intermédio de agentes públicos. Antes de iniciarmos os estudos sobre as organizações, as funções administrativas e a aplicação destes na gestão de instituições de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), vamos conhecer os conceitos de Administração Pública e Gestão Pública. Administração Pública Segundo Santos (2014) é a parte da ciência da Administração que se refere ao governo e, principalmente, ao Poder Executivo. O autor detalha, ainda, algumas definições conforme dimensões específicas a seguir. Página 16 de 99 Na Constituição Federal de 1988 (BRASIL) é importante todo gestor público conhecer os art. 37 ao 43 que tratam da Administração Pública no país, em especial dos princípios constitucionais administrativos da: Sentido Institucional • É o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do governo. Sentido Funcional • É o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral. Sentido Operacional • É o desempenho perene e sistemático, legal e técnico dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Página 17 de 99 Além disso, Santos (2014) indica também quais são os princípios administrativos implícitos mais reconhecidos na prática administrativa e no ordenamento jurídico nacional, a saber: Supremacia do interesse público Indisponibilidade dos bens públicos Autotutela Continuidade dos serviços públicos Segurança jurídica Motivação Razoabilidade Proporcionalidade Já o conceito de GESTÃO PÚBLICA remete às funções administrativas aplicadas à administração pública, ou seja, é o planejamento, a organização, a direção e o controle dos bens, serviços e interesses públicos, agindo de acordo com os princípios administrativos, visando ao bem comum por meio de seus modelos delimitados no tempo e espaço. (SANTOS, 2014). Além disso, o mesmo autor também ressalta que a gestão pública leva em consideração os conhecimentos das várias áreas da ciência que se agregam e rompem espaços da especificidade, bem como aproveitam-se de espaços racionais para a construção de alternativas de respostas às contingências do setor público, dentre as quais destaca: Página 18 de 99 Filosofia Ser humano, ética e valores morais Matemática Quantidade, medidas, espaços, estruturas e variações Psicologia Ser humano, corpo e mente Sociologia Grupos Política Coordenação das relações Economia Recursos escassos e necessidades Direito Público e administrativo Ecologia e sustentabilidade Preservação e otimização dos recursos Informática Dados e informações Administração Arte e ciência Gestão Modelos delimitados no espaço e no tempo. Podemos, ainda, brevemente destacar as diferenças básicas entre Gestão Pública X Gestão Privada: Página 19 de 99 Gestão Pública X Gestão Privada. GESTÃO PÚBLICA GESTÃO PRIVADA Aspecto Político Funcionamento e resultados, bons ou maus, tem impacto político. Há autonomia decisória. O processo decisório sofre fortes ingerências políticas. Há autonomia decisória. Orientada para o bem-estar social. Orientada parao lucro. Output (resultados/produção) em grande parte não mensurável. Output mensurável. Aspecto Econômico Organizações não competitivas no mercado. Organização competitiva. Rentabilidade dispensável (custo-benefício). Rentabilidade vital para o crescimento e sobrevivência. Muito afetada e/ou dirigida por forças externas. Tem controle mais amplo sobre ela mesma. Objetivos econômicos e sociais. Objetivos predominantemente econômicos. Aspecto Organizacional Alto grau de interdependência entre as organizações. Maior autonomia em relação a outras organizações. Órgãos com funções múltiplas e concomitantes. Órgãos com funcionalidade específica e bem discriminada. Carência de banco de dados. Existência frequente de banco de dados. Gerência com grande rotatividade. Gerências mais estáveis. Gerentes não assumem riscos. Há risco de emprego de capital se houver insucesso. Fonte: Freitas (1980) apud Santos (2014). Página 20 de 99 Para refletir Embora o quadro acima trazido pelo autor seja de 1980, você considera que as diferenças ainda permanecem as mesmas? Para entender a administração pública e suas estruturas, é preciso conhecer mais sobre a origem do Estado e suas ramificações. O artigo 1º da Constituição Federal trata da formação do Estado Brasileiro e apregoa que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissociável dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se dos seguintes fundamentos (BRASIL,1988): Para que esses fundamentos possam ser efetivados, o Estado precisa estar estruturado em organizações (instituições públicas) e pessoas (agentes públicos), com o objetivo de atender às necessidades da sociedade. Portanto, para termos um Estado democrático de direito, devemos obedecer às regras, normas e procedimentos estabelecidos por meio de um conjunto de Página 21 de 99 instituições e “postos de comandos que estruturam a vida social (política, econômica, cultural, entre outros de um país” (LINO, 2008, p. 22). Assim, o Estado é uma instância politicamente organizada, com poderes para exercer a autoridade soberana sobre a sociedade, com o propósito de organizar e garantir as relações sociais e políticas em um determinado espaço físico. De forma mais ampla, Teixeira (2012,) apregoa que: O Estado, na sua concepção moderna e democrática, pode ser interpretado como uma autoridade soberana que nasceu simultaneamente aos processos de organização da sociedade e se destina a garantir que as relações sociais sejam baseadas em regras preestabelecidas, independentemente de qualquer força, física ou econômica, origem étnica ou crença religiosa. Nesse conceito, o Estado é caracterizado como uma Instituição ou organização que busca administrar as necessidades dos cidadãos, visando ao bem-estar social. O Estado passa a ser uma organização/Instituição social com poderes e autoridade para permitir a convivência coletiva de forma ordenada dos seus governados. Para que se possa pôr em prática as características encontradas na definição e origem de Estado, uma estrutura mínima é necessária, conforme detalhado por Giddens (2005, apud Borba, 2007, p. 22), quando descreve que o Estado: (…) existe onde há um mecanismo político de governo (instituição como um parlamento ou congresso, além de servidores públicos) controlando determinado território, cuja autoridade conta com um amparo de um sistema legal e da capacidade de utilizar a força militar para se implementar suas políticas. Página 22 de 99 Assim, entende-se que o Estado é composto pelos poderes: executivo, legislativo e judiciário (funções do Estado), e estruturado em níveis administrativos, ou seja, União, Estados e Municípios, para que possa atender às necessidades de seus cidadãos. "As funções do Estado, isto é, a executiva - traduzir num ato de vontade individualizado a exteriorização abstrata da norma, a legislativa - estabelecer normas gerais e abstratas que regem a vida em sociedade, e a judiciária - dirimir possíveis controvérsias que possam surgir por ocasião da aplicação da lei - são funções fundamentais para estabelecer o estado democrático de direito e para garantir o respeito às liberdades civis, direitos humanos e garantias fundamentais descritas na Constituição" (BASTOS, 2004, p. 180-181). O Estado democrático de direito possui alguns elementos básicos que o constituem, são eles: Página 23 de 99 Entre os três elementos citados, a soberania é a mais importante, pois sem ela não há Estado. A evolução ou desenvolvimento do Estado, segundo Teixeira (2012, p.11), foi se adequando “às transformações sociais e econômicas; às mudanças de regime político e à universalização de direitos fundamentais dos cidadãos, como direitos civis, sociais e políticos”. Assim, conforme o mundo se transforma, as necessidades da sociedade mudam. Consequentemente, o Estado deve acompanhar essa evolução por intermédio da gestão pública. Página 24 de 99 2.1 Tipos históricos de Estado O quadro a seguir apresenta os tipos históricos de Estado e seus respectivos gerenciamentos, demonstrando efetivamente a evolução do Estado no decorrer do tempo. Página 25 de 99 Evolução do Estado no decorrer do tempo. Fonte: Adaptado de Bresser–Pereira (2009, p. 35 apud Teixeira 2012, p.11). Página 26 de 99 Na visão de Teixeira (2012, p. 11), esta linha do tempo permite observar a modificação do Estado ao longo do tempo e a influência de fatores sociais e econômicos, assim como a ampliação dos direitos de cidadania impostos pela modernidade. Portanto, percebe-se que a evolução do Estado é, consequentemente, a evolução da gestão pública (referência no Estado social-liberal republicano). Dessa forma, a gestão pública torna-se fundamental para estabelecer e executar com eficiência e eficácia as ações necessárias ao desenvolvimento de um país. Assim, por intermédio do governo, a gestão pública se faz presente nas organizações, que irão mobilizar esforços para fazer cumprir as obrigações administrativas, sociais e políticas do Estado. Nesse sentido, essas organizações devem estar estruturadas e capazes de fazer funcionar o aparelho do Estado por intermédio de seus agentes. Página 27 de 99 3. Organizações Públicas Conceito de organização Organização é uma estrutura composta por sistemas administrativos, processos, tecnologias e pessoas que buscam desenvolver produtos e serviços. Assim, a organização faz parte da sociedade, ou seja, estamos fortemente dependentes das organizações, sejam elas públicas, privadas ou do terceiro setor como as agrícolas, industriais, comerciais ou de serviços. De acordo com a abordagem contingencial em gestão que se baseia na pesquisa realizada na década de 1960 por Pau Lawrence e Jay Lorsch, o confronto entre as organizações e o ambiente ou as condições ambientais onde a organização está inserida podem causar transformações internas ou externas. As organizações, por si só, já constituem um processo de evolução da sociedade, pois é em torno das organizações que a sociedade se desenvolve, como, por exemplo de áreas industriais, comerciais ou de Página 28 de 99 serviços. Assim, as organizações contribuem para o crescimento tanto da sociedade como de si mesmas, representando modernidade e prosperidade. As ações da organização afetam o ambiente onde ela está inserida - comunidade, meio ambiente, serviços, comércio, Estado - também são afetados por esse contexto. Conforme Araújo (2007), haverá sempre alternativas diferentes para o direcionamento de estudos, processos, problemas e demandas oriundos da organização. Nesse sentido, quando se trata do contexto das organizações, Paradela e Costa (2013,p. 9) expõem que, “em uma definição simplificada as organizações são vistas como entidades criadas para atender às necessidades da sociedade, constituindo-se em sistemas voltados para o alcance de determinados objetivos.” São as necessidades da sociedade que possibilitam também a evolução das organizações. A tecnologia, os recursos, as pessoas são componentes importantes das organizações, oriundos da sociedade que os fornece e também os consome ao mesmo tempo. Página 29 de 99 As organizações públicas Cada organização tem uma missão a cumprir na sociedade. Todas as organizações, independentemente do seu tamanho, área de atuação, do fato de ser pública, privada ou do terceiro setor, só vão alcançar seus objetivos se souberem se posicionar corretamente como prestadoras de serviços ou fornecedoras de produtos úteis e necessários à sociedade e se o fizerem de forma competitiva. Para atender às demandas sociais, existem as organizações públicas, que são estabelecidas para estruturar as necessidades do Estado, de forma que ele consiga exercer suas funções. No contexto das organizações, as organizações públicas necessitam de uma boa gestão, muito mais do que as organizações privadas. Para Paradela e Costa (2013, p. 9): Enquanto as empresas privadas possuem um número limitado de clientes, que são mais diretamente atingidos por sua ação, as organizações públicas impactam a sociedade como um todo. A abrangência se dá pela necessidade de se atingir um maior número de pessoas. As organizações públicas representam os interesses coletivos na busca efetiva de um objetivo comum. No entanto, são interesses que irão depender das necessidades de cada esfera do Estado, bem como das ações de seu corpo gestor. Em relação à missão da organização, outra questão importante é o foco em seus objetivos. Estabelecer um planejamento estratégico, tático e operacional adequado é fundamental. As organizações que não conseguem focar corretamente em seu planejamento deparam-se constantemente com dificuldades organizacionais estratégicas que podem comprometer seu Página 30 de 99 desempenho diante de um ambiente externo cada vez mais competitivo (PARADELA E COSTA, 2013). Na área pública, a missão das organizações se expande, já que são constituídas para atender a uma demanda social e cumprir funções básicas do Estado: executivas, legislativas e judiciárias. Aqui podemos verificar, por exemplo, no contexto da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) a missão, visão e valores do IFSC e IFC - duas instituições públicas federais de EPT: Visão e valores do IFSC e IFC (duas instituições públicas federais de EPT). Missão e valores IFSC: https://www.ifsc.edu.br/missao-visao-e-valores Missão e valores IFC: https://ifc.edu.br/missao-e-visao/ Esses dois Institutos Federais de Educação Profissional e Tecnológica exemplificadas acima são exemplos de organizações públicas que, juridicamente, adotam a forma de AUTARQUIAS PÚBLICAS: Para Di Pietro (2018), é uma entidade da administração pública “pessoa jurídica de direito público, criada por lei, com capacidade de autoadministração, para o desempenho de serviço público descentralizado, mediante controle administrativo exercido nos limites da lei”. Tem como principais características: Personalidade de direito público – sendo pessoa jurídica de direito público, a autarquia submete-se ao regime jurídico publicístico quanto à criação, extinção, poderes, prerrogativas, restrições e privilégios. Pode-se afirmar que as autarquias têm praticamente as mesmas prerrogativas, privilégios e restrições que as pessoas políticas. https://www.ifsc.edu.br/missao-visao-e-valores https://www.ifsc.edu.br/missao-visao-e-valores https://ifc.edu.br/missao-e-visao/ https://ifc.edu.br/missao-e-visao/ Página 31 de 99 Desempenho de atividade típica do Estado (as autarquias não podem desenvolver atividade comercial ou industrial. Normalmente, os entes autárquicos prestam serviço público ou exercem atividade de polícia administrativa, atuações tipicamente públicas). Capacidade de autoadministração. Capacidade administrativa específica Sujeição a controle ou tutela. Os Institutos Federais (IF), de acordo com a Lei n.º 11.892/2008, são autarquias da rede de Educação Profissional e Tecnológica, vinculadas ao Ministério da Educação, com autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Oferecem educação básica, profissional e superior em estrutura multicampus, com forte inserção na área de pesquisa e extensão. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11892.htm Página 32 de 99 3.1 Estruturas organizacionais na Gestão Pública Legenda: Institutos federais são exemplos de organizações públicas. Fonte: IFSC Joinville As organizações públicas são estabelecidas para estruturar as necessidades do Estado, para possibilitá-lo a exercer suas funções, com o intuito de atender à sociedade. Sendo assim, elas necessitam de uma boa gestão, muito mais que uma organização privada. Para Paradela e Costa (2013, p.9): Enquanto as empresas privadas possuem um número limitado de clientes, que são mais diretamente atingidos por sua ação, as organizações públicas impactam a sociedade como um todo. A abrangência se dá pela necessidade de se atingir um maior número de pessoas. As organizações públicas representam os interesses coletivos na busca efetiva de um objetivo comum. Para alcançar esse objetivo, as organizações precisam de estruturas organizacionais bem definidas, de forma a dinamizar ações, fluir processos e gerenciar pessoas com eficiência e eficácia. Página 33 de 99 A estruturação ou departamentalização é uma técnica usada para que, de forma eficiente e lógica, a rede de fluxos interativos entre seus diversos departamentos e níveis hierárquicos alcance os objetivos propostos (LLATAS, 2012). Independentemente do tipo de organização, seja ela pública ou privada, o que prevalece em termos de estrutura é um modelo que atenda às necessidades de cada organização. Consequentemente, não deve ser realizada uma configuração aleatória, do jeito que os agentes públicos acharem mais conveniente. Muito pelo contrário, essa configuração precisa estar em perfeita sintonia com os objetivos estratégicos da Instituição. Portanto, antes de delinear a estrutura organizacional, é fundamental que se tenha clareza sobre os objetivos da organização. Resumindo, as organizações públicas são: Sistemas construídos com a finalidade de alcançar determinados objetivos que, como todo sistema, precisam possuir uma estrutura e adotar processos compatíveis com os recursos, características e finalidades (PARADELA; COSTA, 2013, p. 15). Página 34 de 99 Os recursos, características e finalidades das organizações públicas são específicos para atender às necessidades da sociedade. Conforme Paludo (2015), a organização da Administração Pública compreende: Organizar a Administração significa organizar todo o seu aparato: estrutura e recursos; órgão e agentes; serviços e atividades; e competências. A estrutura organizacional corresponde ao modo pelo qual a autoridade é distribuída, as atividades são divididas e organizadas, e o sistema de comunicação é estabelecido. A representação da estrutura é realizada por intermédio de organogramas. Página 35 de 99 3.2 Componentes essenciais da estrutura organizacional Os componentes essenciais da estrutura organizacional pública são, segundo Paludo (2015): Página 36 de 99 Os Quadros a seguir explicitam melhor o conceito, funções e dimensões dos componentes da estrutura organizacional pública. Sistema de autoridade Conceito Funções Dimensões Poder concedido pela organização aos seus agentes para que possamdesempenhar suas funções. Delegação do poder de tomar decisões, dar ordens e comandar. Amplitude hierárquica; delegação de autoridade; descentralização da autoridade a níveis hierárquicos. Sistema de atividade Conceito Aspectos considerados Consiste na distribuição de atividades entre os membros da organização de todos os níveis. O agrupamento das atividades em departamentos (departamentalização); A definição das atividades de linha e assessoria; A definição do nível de especialização do trabalho da entidade. Sistema de comunicação Conceito Questões Forma pela qual as informações necessárias ao funcionamento da estrutura organizacional são transmitidas a todos os interessados, a qual permite a integração de todos em torno de objetivos comuns. O que comunicar, quem deve comunicar, qual o momento adequado, e qual o meio para comunicar, são questões que precisam ser definidas previamente, a fim de que a comunicação possa ser eficaz. Fonte: Adaptado de Paludo (2015). Página 37 de 99 O processo descrito na tabela n.º X depende da natureza da Instituição, dos serviços que presta, da cultura organizacional e da estratégia escolhida. Esses mesmos sistemas são necessários para consolidação da estrutura organizacional pública da administração direta ou indireta, que, conforme Paludo (2015, p. 28), “dependerá de aprovação legislativa, consoante o expresso no art. 37, XIX, da Constituição Federal”: Art. 37 XIX A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. (BRASIL, 1988). A organização pública é constituída para dar condições à execução dos serviços públicos necessários, de forma direta ou indireta. Para a efetividade da gestão pública, são necessárias condições para estruturar sistemas organizacionais adequadamente integrados e constituídos, com vistas a atender às necessidades da sociedade nas áreas de competência do Estado. Como consequência, as funções administrativas necessárias para que a gestão funcione, bem como seus processos administrativos e operacionais, serão capazes de fazer fluir e estabelecer a qualidade dos serviços tão aguardados pela sociedade. Página 38 de 99 Tradicionalmente, as organizações contavam com uma estrutura baseada em cargos e funções minuciosamente definidos, representados em detalhados organogramas e manuais (PARADELA e COSTA, p. 2013). Em face das dinâmicas das organizações privadas e as prementes necessidades de mais qualidade nos serviços públicos, as organizações precisaram mudar a forma de estruturar suas unidades organizacionais. Não é mais aceitável ter estruturas rígidas e inflexíveis que não atendem aos requisitos de agilidade e adaptação que caracterizam a sociedade contemporânea, sendo, portanto, exigidos novos padrões de arranjos organizacionais, os quais não comportam os mais rígidos limites de competência e autoridade (PARADELA e COSTA, 2013 p. 9). Na administração pública faz-se necessária maior regulamentação dos cargos e funções. O organograma deve ser construído da forma mais flexível e orgânica possível. A adoção de estruturas matriciais e de processos horizontalizados de trabalho, representados, por exemplo, por comitês de ação, são exemplos de soluções que podem ser buscados. É fundamental que exista uma definição clara de papéis, de autoridades, de responsabilidades e da forma como estarão reunidos os recursos e agrupadas as pessoas que compõem a organização. Esse é o centro da estrutura. Fica clara, portanto, a importância de se estudar os cargos e funções para estabelecer adequadamente uma estrutura que seja capaz de dar respostas às necessidades da sociedade. A qualidade esperada pelos cidadãos nos processos administrativos e operacionais, assim como a criação de estruturas organizacionais mais dinâmicas, passa evidentemente pela reorganização de processos, pela eficiência e eficácia na execução dos recursos públicos e, por fim, pela responsabilidade fiscal. Agregadas a esses Página 39 de 99 elementos, as funções administrativas da gestão pública são condição sine qua non para alcançar os objetivos propostos. Lembre-se... Estruturas matriciais De acordo com Chiavenato (2010), caracterizam-se por uma combinação de modelos de estruturas em uma matriz. Eficácia É a extensão na qual as atividades planejadas são realizadas e os resultados planejados são alcançados. Eficiência É a relação entre o resultado alcançado e os recursos usados (NBR ISO 9000, 2008, p. 10-11). Efetividade É quando além de os objetivos terem sido alcançados (eficácia) com a otimização dos recursos (eficiência) os resultados são necessários e relevantes para a solução de problemas da coletividade. Página 40 de 99 4. As organizações públicas de Educação Profissional e Tecnológica Após conhecer as estruturas e os componentes principais que são bases das organizações públicas, vamos neste capítulo conhecer um exemplo de organização pública, sua estrutura e gestão. Sabemos que as instituições de educação ou escolas, também são estruturas organizacionais que são geridas e produzem serviços ou produtos (por exemplo, o conhecimento) e podem ser públicas ou privadas. Para exemplificar um modelo organização, vamos explorar a gestão pública na Educação Profissional e Tecnológica. Apresentando os conceitos básico que permeiam a Educação Profissional e a ação da gestão pública na educação. Página 41 de 99 Os conceitos e contextos expostos neste capítulo são fruto do trabalho dos professores Olivier Alain e Paulo Roberto Wollinger (2020), profissionais que estudam profundamente a Educação Profissional e Tecnológica, no curso de especialização em gestão pública, na unidade curricular de Concepções e história da EPT. O IFSC em Santa Catarina representa a Educação Profissional e Tecnológica no estado. A gestão pública nas Instituições de educação é tão necessária e importante quanto em qualquer outra Instituição pública, principalmente de educação. No entanto, é um ambiente amplo, com um contexto diferente da educação formal, ou seja, o trabalho, a técnica e a tecnologia são as bases que fundamentam estes estudos. Na continuidade deste capítulo, vamos entender os conceitos e contextos da Educação Profissional e Tecnológica, para que possamos compreender como a gestão pública atua neste cenário. Página 42 de 99 4.1 As organizações públicas de Educação Profissional: um universo a descobrir A Educação Profissional, também chamada de Educação Profissional e Tecnológica, tem um papel específico na educação e uma importância estratégica para todos os países. Especialmente quando conhecemos os desafios que temos no Brasil, refletidos nas estatísticas educacionais e sociais, extremamente preocupantes quanto à baixa escolaridade da população, às carências de formação profissional e técnica e às grandes diferenças de distribuição de renda (algo que estudaremos nos próximos tópicos desta unidade curricular). Porém, várias questões ficam geralmente ocultas, remetidas ao senso comum, ao que se acredita ser óbvio, ou, infelizmente, enterrado por baixo de muitos preconceitos comuns nos discursos educacionais: O que é Educação Profissional? O que é Educação Tecnológica?São a mesma coisa? O que é formação técnica? É diferente de formação humana? O que significa ser gestor na EP? É diferente de gerenciar outras modalidades educacionais? Página 43 de 99 O trabalho é considerado um “princípio educativo” da EP, mas o que isso significa? Como o trabalho pode ser um “princípio” (além de ser finalidade da formação) e como este princípio pode ser “educativo”? O que isso significa para o gestor? Os saberes e o conhecimento têm a mesma forma, o mesmo papel, os mesmos modos de construção na EP do que em outras ofertas educacionais? São perguntas iniciais, fundamentais, porém ainda muito pouco respondidas na sociedade ou no mundo da educação. Mas não faltam autores, textos, experiências e práticas por parte de atores da EP para trazer respostas, ainda que não definitivas ou fechadas. A EP nos liga àquilo que temos de mais antigo, quando juntamos as mãos para formar uma concha e tomar água, ao presente, quando percebemos que nossa vida é atravessada pelo trabalho dos outros, e ao nosso devir, aberto àquilo que nos tornamos ao fazer o que nos faz. Página 44 de 99 4.2 Conceitos e contextos da Educação Profissional e Tecnológica Vamos começar apresentando alguns conceitos-chave. O que identifica a Educação Profissional e a distingue das outras modalidades educacionais é a formação para o trabalho. (Também falaremos sobre o conceito de profissionalização). O trabalho é o que permite ao ser humano a produção da sua existência, não apenas no sentido econômico, mas em todos os aspectos da vida. É algo que filósofos já dizem há muito tempo, como o fez Engels em seu famoso texto do século XIX: O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muito mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem. (Friedrich Engels, O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem, 1876). Página 45 de 99 O que nos interessa aqui é reconhecer que o ser humano não se converteu de homo para homo sapiens apenas, isto é, pela sua relação com o conhecimento (e, mais tarde, à sua racionalidade), mas sua humanização é também, fundamentalmente, fruto de sua passagem de homo para homo faber. Não só porque passou a fabricar coisas, a fazer coisas como instrumentos e a utilizá-los, mas porque seus saberes, sua consciência, sua cognição e sua relação social se constituíram (e continuam se constituindo) por este fazer (SIGAUT, 2012). Uma bela referência quanto à transformação de homo para homo faber é o livro de François Sigaut, Como homo se tornou faber (2012). Vários outros pensadores (Marx, Bergson, Arendt, Weill, Sennett, entre outros) já se debruçaram sobre esta questão, com ideias que trazem importantes e, por vezes, problemáticas contribuições. Esta produção da existência distingue o ser humano dos outros animais (VIEIRA PINTO, 2005), que não precisam recorrer a instrumentos, ferramentas, métodos e outras formas de saber para viver (embora alguns animais alcancem o que Vieira Pinto chamou de “proto-técnica” e desenvolvam formas de organização social bastante “sofisticadas”, por assim dizer). Cria e utiliza-se de inúmeros recursos materiais e imateriais para produzir o alimento, a indumentária, a habitação, os remédios, mas também tudo aquilo que chamamos de arte e cultura: cinema, literatura, dança, música, etc. Esta capacidade humana de fazer e intervir no mundo para produzir sua existência chama-se técnica. Esta definição, proposta por Álvaro Vieira Pinto em sua obra magistral, O conceito de tecnologia, insiste então no fato de que a técnica é uma propriedade caracteristicamente humana (VIEIRA PINTO, 2005). Entende-se, desta forma, que a técnica deixa de ser um objeto externo ao ser humano e Página 46 de 99 passa a ser uma propriedade sua, uma capacidade, um potencial. Não se confunde com alguns de seus resultados – os produtos da técnica. Por isso, técnica é "adjetivo" do humano, ela qualifica o ser humano (não é "substantivo", não é algo separado da humanidade do ser). A técnica pode ser então definida como capacidade de intervir qualificadamente no mundo para a produção da existência. Estas definições destoam de ideias correntes e do senso comum (inclusive textos e documentos educacionais), que, ao não definir, contentam-se em reproduzir um imaginário da técnica enquanto “mera” atividade mecânica, de reprodução, sem reflexão e pensamento, algo não humano. Ora, com Vieira Pinto (2005) e a dimensão essencial que ele traz da técnica, podemos caracterizar o trabalho como o exercício social da técnica. Nesta definição de exercício social, incorpora-se à técnica suas dimensões laborais que são éticas, estéticas, sociais, econômicas, ambientais, etc. Exemplo Quando um estudante aprende a fazer uma instalação elétrica, ele aprende não apenas alguns conceitos de eletricidade que lhe são úteis e um rol de saberes técnicos relacionados à instalação, mas também, entre outras coisas, que: Se não fizer bem feito, a vida de pessoas será posta em risco. Entre diversas maneiras de fazer a instalação, haverá uma que ele (ou uma comunidade) achará mais bela. Há consequências ambientais e econômicas relacionadas ao tipo de instalação feita. Haverá situações de negociação com clientes, implicando em cobrança de preço justo, em que deverá compor com suas as necessidades e limitações presentes e futuras, em que deverá utilizar palavras menos técnicas, etc.; outros aspectos que você poderá imaginar ou encontrar se analisar com cuidado o trabalho deste profissional. Página 47 de 99 A intervenção que se faz no mundo é sempre situada social e culturalmente, de modo que o trabalhador está inserido em determinadas “comunidades de práticas” (LAVE & WENGER, 1991) ou “coletivos de trabalho” (CARLY & CLOT, 2004). Estas comunidades de práticas possuem uma cultura própria, uma cultura técnica (SIGAUT, 2009), comunicacional, ética, que interage com as outras dimensões da cultura e outros grupos sociais. Por isso, ensinar uma profissão não é apenas ensinar “conteúdos” formalizados ou de alguma ciência, é também introduzir o estudante na cultura destas comunidades de práticas (BARATO, 2002). Por isso também, a técnica deve ser pensada em ligação com o mundo do trabalho (MORAES, 2016). Ela faz parte da cultura humana, sendo ela mesma uma cultura: ela se cultiva, se aprende, se transforma. Um dos maiores problemas em nossa tradição ocidental e brasileira, especialmente na educação, é justamente que, por falta de ser pensada e de ser vista como forma de pensamento e de humanização, a técnica é vista como não pertencente à cultura humana e, pior ainda, a cultura é frequentemente legitimada ou definida como oposição à técnica (SIGAUT, 1987). É o que acontece quando se opõe, por exemplo, “formação técnica” e “formação humana”. Esta visão também é fruto, sem dúvida, de nossa secular cultura de trabalho associado ao trabalho escravo, de repulsa à atividade dita "manual", à atividade técnica. Página 48 de 99 Saiba mais: As pesquisas em antropologia das técnicas oferecem muitas entradas para (re) pensar a relação da técnica com a cultura. Veja o que diz François Sigaut sobre isso no texto no link que segue (este link somente abrirá se você estiver no AVEA): Observações sobre a Técnica e a Tecnologia Finalizando nossa primeira etapa de reflexão e respondendo às questões postas na introdução do tópico (Educação Profissional: um universo a descobrir), podemos concluir que: As expressões “Educação Profissional”, “Educação Tecnológica”,“Educação Profissional e Tecnológica” e “Educação Profissional Tecnológica” são, do ponto de vista epistemológico, equivalentes entre si. Por quê? Porque... Se Educação Profissional for educação para o trabalho e se considerarmos Educação Tecnológica como educação para a Técnica, conforme nossos argumentos, o trabalho sendo o exercício social da técnica e a técnica uma capacidade de intervir qualificadamente no mundo para produzir a existência, não é possível separar os termos. Podemos, então, nos referir ao longo das nossas reflexões apenas à expressão Educação Profissional como suficiente para definir este campo de estudos. Com estas definições, podemos entender melhor o que é formação técnica e tecnológica, sua importância fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos e, consequentemente, da sociedade. https://moodle.ead.ifsc.edu.br/pluginfile.php/332851/mod_resource/content/1/Observa%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20T%C3%A9cnica%20e%20Tecnologia%20-%20tecnhique-tecnhologies.pdf Página 49 de 99 O trabalho como princípio educativo significa diversas coisas, entre elas: Página 50 de 99 5. As funções administrativas no contexto da Gestão Pública na Educação Profissional e Tecnológica A administração pública é uma organização que, de forma ampla, traduz as atividades de gerir a máquina pública; isto é, por intermédio das funções administrativas, cria condições para que as necessidades da sociedade sejam atendidas pelos agentes públicos nas funções do Estado: executiva, legislativa e judiciária. De acordo com Paludo (2012, p.21): A administração pública compreende todo o aparato existente (estrutura e recursos; órgão e agentes; serviços e atividades) à disposição dos governos para realização de seus objetivos políticos e do objetivo maior e primordial do estado: a promoção do bem comum da coletividade. As funções da administração não são novas. No século XIX, Fayol já apregoava estas funções por intermédio do que se chamou POC3. POC3 são as iniciais de planejar, organizar, controlar, coordenar e comandar (por isso 3, porque são 3 Cs). Todo gestor público deve estar ciente de suas funções administrativas básicas, que são as mesmas de qualquer gestor das organizações privadas: Página 51 de 99 Gestão Pública X Gestão Privada. Função Descrição Planejamento Planejamento é o processo de definir objetivos, atividades e recursos. Organização Organização é o processo de definir o trabalho a ser realizado e as responsabilidades pela realização; é também o processo de distribuir os recursos disponíveis segundo algum critério. Execução / Direção Execução é o processo de realizar atividades e utilizar recursos para atingir os objetivos. O processo de execução envolve outros processos, especialmente o processo de direção, para acionar os recursos que realizam as atividades e os objetivos. Controle Controle consiste em tomar decisões e ser um processo que assegura a realização dos objetivos e identifica a necessidade de modificá-los. Fonte: MAXIMIANO (2000, p. 2) apud BÄCHTOL (2008). Página 52 de 99 Como podemos concluir a partir da análise do infográfico anterior, as funções administrativas são ações ou atividades exercidas pelos agentes públicos para cumprir os objetivos e interesses da coletividade. São sujeitas ao controle jurisdicional, que corresponde ao poder que o Estado tem de aplicar o direito. Cada função tem seu peso na gestão pública ou privada, mas o conjunto é que fará com que o administrador exerça com eficiência e eficácia as atividades na organização. Os próximos subcapítulos, além do contexto macro das funções administrativas, iremos abordar como as funções administrativas da gestão pública são desenvolvidas no contexto das Instituições que integram a rede da Educação Profissional e Tecnológica. Assim, você poderá compreender como ocorre a apropriação dos conceitos e práticas referentes ao Planejamento, à Organização, à Direção e ao Controle, por parte destas Instituições. No livro organizado por Eliezer Pacheco abaixo você poderá saber mais sobre a gestão pública sob o contexto da rede EPT. Lembre-se... Leia o livro no link a seguir e conheça como os institutos federais auxiliaram na expansão da Educação Profissional e Tecnológica. (este link somente abrirá se você estiver no AVEA): Institutos Federais: uma revolução na Educação Profissional e Tecnológica https://memoria.ifrn.edu.br/bitstream/handle/1044/1013/Os%20institutos%20federais%20-%20Ebook.pdf?sequence=1&isAllowed=y Página 53 de 99 5.1 Planejamento O planejamento é a função administrativa que institui os objetivos e a forma de alcançá-los. Paludo (2015, p. 21) explica o conceito informando que o planejamento “é um processo que congrega princípios teóricos, procedimentos metodológicos e técnicas que auxiliam as organizações a mudar uma situação com vistas a alcançar algum objetivo futuro”. Segundo Giacomoni (2007, p.59): Um dos instrumentos que mais notoriedade obtiveram nos últimos 30 anos foi o planejamento. Seu emprego sistemático, nos programas militares desde a segunda guerra mundial, contribuiu para aperfeiçoá-lo e desenvolvê-lo sobremaneira, o que estimulou as empresas e outros setores do governo a incorporar as técnicas. Nesse sentido, o autor explica que planejamento, programação e orçamento são processos nos quais os objetivos e recursos, bem como suas inter- relações, tornam-se relevantes para obtenção de um programa de ação coerente e compreensivo para o governo como todo (GIACOMONI, 2007). Página 54 de 99 O planejamento permite ao administrador tomar decisões além do presente, ampliando as condições para estabelecer possibilidades de alcançar seus objetivos com base em projeções. Para atingir adequadamente cada uma das necessidades da organização, o planejamento pode ser estruturado como: Tático Estratégico Operacional No caso do ambiente público, o planejamento é um instrumento que vai além de estabelecer metas e objetivos estratégicos. Avançar no processo orçamentário é fundamental para o alcance das realizações e execução dos interesses públicos, isto é, das necessidades da sociedade. O planejamento orçamentário é composto pelo Plano Plurianual (PPA), Leis de Diretrizes orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA), assunto estudado com mais profundidade na UC de Orçamento Público. O marco mais importante no planejamento público foi o Decreto-Lei n.º 200, que "estabelece o planejamento como um dos princípios fundamentais de orientação da administração federal” (VIGNOLI, 2014, p.14). Todo gestor deve saber... Não é difícil perceber a importância do planejamento para a gestão pública, pois ele tem uma grande importância no desempenho de sua função, tanto como planejamento estratégico (longo prazo), planejamento tático (médio prazo) ou planejamento operacional (curto prazo). Portanto, leia o artigo a seguir para saber mais sobre o assunto segue (este link somente abrirá se você estiver no AVEA): A importância do planejamento para a gestão pública https://moodle.ead.ifsc.edu.br/pluginfile.php/327518/mod_book/chapter/31568/Texto%201%20-%20A%20import%C3%A2ncia%20do%20planejamento%20para%20a%20gest%C3%A3o%20p%C3%BAblica.pdf Página 55 de 99 Para Peter Drucker (1984), o planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes. Não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo. De acordo com Matus (1993), o planejamento está associado à ideia de preparação e controle do futuro a partir do presente, através da reflexão sistemática sobre a realidade a enfrentar e os objetivos a atingir. Assim, os Planos nos ajudam a diminuir o nível de incerteza, agregando mais segurança e transparência às decisões institucionais e contribuempara a implementação de inovações. No tocante à função administrativa Planejamento, considerando as Instituições de Ensino Superior (IES), o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) é um dos principais documentos, enquanto norteador da estratégia e da gestão Institucional. Nesse sentido, ele tem caráter obrigatório considerando os processos regulatórios, tais como avaliação institucional, pedidos de credenciamento, recredenciamento e reconhecimento de cursos. Em que pese a obrigatoriedade de elaboração por Lei, é algo vital e necessário para uma Instituição de ensino. O seu processo de construção, realizado a partir de uma abordagem participativa, possibilita o tempo, o espaço e o local necessários para a reflexão e a inovação institucional. De acordo com definição constante no Manual de Conceitos para as Bases de Dados do Ministério da Educação sobre Educação Superior, anexo à Portaria do MEC de n.º 21, de 21 de dezembro de 2017 (MEC, 2017, p. 32): O PDI consiste num documento em que se definem a missão da Instituição de ensino superior e as estratégias para atingir suas metas e objetivos. Abrangendo um período de cinco anos, deverá contemplar o cronograma e a metodologia de implementação dos objetivos, metas e ações do Plano da IES, observando a coerência e a articulação entre as diversas ações, a manutenção de padrões de qualidade e, quando pertinente, o orçamento. Página 56 de 99 Deverá apresentar, ainda, um quadro-resumo contendo a relação dos principais indicadores de desempenho, que possibilite comparar, para cada um, a situação atual e futura (após a vigência do PDI). Todo gestor deve saber... Clique no link a seguir para saber sobre os itens que devem constar do PDI, de acordo com o artigo 21 do Decreto n.º 9.235, de 15 de dezembro de 2017 (BRASIL, 2017). Decreto n.º 9.235 No contexto da Rede da Educação Profissional e Tecnológica, cabe ressaltar que as instituições integrantes elaboram os seus PDIs e os demais documentos norteadores de gestão utilizando diferentes metodologias. Entre as metodologias utilizadas para a concepção e a elaboração do Planejamento Estratégico das Instituições integrantes da Rede EPT, destaca- se o Balanced Scorecard (BSC). Trata-se de um sistema de medição do desempenho desenvolvido em 1992, por Robert Kaplan e David Norton, para organizações privadas. Saiba mais: A proposição inicial dos autores foi divulgada no artigo publicado na revista Harvard Business Review: "The balanced scorecard – measures that drive perfomance" (KAPLAN e NORTON, 1992). Clique no link a seguir para ler. The balanced scorecard http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9235.htm http://www.geocities.ws/admqualidade/BalancedScoreCardKaplan.pdf Página 57 de 99 Com o passar do tempo, a proposição inicial dos autores foi evoluindo para um sistema de gestão da estratégia, sendo disseminado também para utilização nas instituições públicas, com as devidas adaptações. Em síntese, o BSC organiza os objetivos estratégicos da Instituição, a partir de quatro perspectivas: financeira, cliente, processos internos, aprendizagem e crescimento. Essas perspectivas são interligadas com a Missão, a Visão e a Estratégia da Instituição, em relações de causa e efeito. A estratégia é assim desdobrada em objetivos, indicadores, metas e ações para cada uma das quatro perspectivas do BSC, possibilitando uma visão sistêmica e ação integrada por parte dos diferentes sujeitos que integram a Instituição (KAPLAN e NORTON, 1996, 2000). Cabe observar que as denominações originais das quatro perspectivas podem ser adaptadas (conforme figura a seguir), de acordo com os diferentes contextos organizacionais. Página 58 de 99 Legenda: Perspectivas do BSC Fonte: GRANDO (2011). Para tornar a estratégia mais compreensível, pode ser elaborado o "mapa estratégico" da Instituição, onde é possível visualizar com mais clareza e de forma sintética, a estratégia formulada, bem como a tradução da missão e visão em objetivos estratégicos, agrupados nas diferentes perspectivas. Página 59 de 99 Acesse alguns exemplos de mapas estratégicos elaborados por Instituições da Rede EPT (estes links somente abrirão se você estiver no AVEA): Mapa Estratégico do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Mapa Estratégico do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) Mapa Estratégico do Instituto Federal do Sergipe (2014-2019) Veja na sequência como o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) concebe a correlação entre as dimensões político-pedagógica, estratégica, tática operacional e os planos adotados pela Instituição (IFSC, 2019). Legenda: Hierarquia do Planos da Instituição Fonte: IFSC (2019) https://ifrs.edu.br/alvorada/wp-content/uploads/sites/17/2019/08/MAPA-ESTRAT%C3%89GICO-IFRS.jpg#gallery https://moodle.ead.ifsc.edu.br/pluginfile.php/327518/mod_book/chapter/31568/mapaestrategicoifsc.png http://www.ifs.edu.br/images/prodin/2020/Mapa_Estrat%C3%A9gico_do_IFS.jpg Página 60 de 99 A integração e o alinhamento entre os diferentes Planos da Instituição contribuem para: A qualificação dos processos de gestão A melhoria do desenvolvimento de processos e atividades. O aumento da clareza da importância do fazer de cada integrante da Instituição para a implementação da estratégia delineada. A entrega de resultados efetivos para a sociedade. E você pensa que finaliza aqui o macroprocesso de Planejamento? Engana- se quem pensou que sim. De acordo com Deming (1990), "não se gerencia o que não se mede", o que também é reforçado na afirmação de Kaplan e Norton (1997), “medir é importante: o que não é medido não é gerenciado". Deve ter início então, as etapas de acompanhamento e de avaliação, essenciais para o replanejamento. No cenário atual uma das competências organizacionais mais importantes refere-se à capacidade de análise dos cenários internos e externos à Instituição e a definição da correção dos rumos traçados no planejamento, se necessário, no menor tempo possível e com qualidade. Página 61 de 99 Neste sentido, o planejamento delineado não é um fim em si mesmo, mas um referencial que deve orientar os processos de gestão da Instituição. Portanto, se necessário, ele deve ser ajustado. Na sequência iremos abordar a função Organização e você irá conhecer alguns instrumentos e estratégias importantes que podem contribuir para a gestão Institucional, em especial para a implementação e acompanhamento das estratégias delineadas. Saiba mais: Quer aprender mais? Acesse o conteúdo do ENAP sobre Planejamento Estratégico - Módulo 2: Fundamentos do planejamento estratégico e Módulo 3: Gestão da Estratégia com o uso do BSC. Gestão da estratégia com uso do BSC: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/1144 https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/1144 https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/1144 Página 62 de 99 5.2 Organização A segunda função administrativa é a organização. Essa complementa as ações do planejamento, uma vez que permite a execução dos planos, provendo os recursos necessários para executá-los. Abrange a estrutura organizacional e as ações necessárias para o gestor atingir os objetivos propostos no planejamento. Teixeira (2015, p. 209) esclarece melhor essa função ao dizer que a organização, congrega os diversos recursos e fatores necessários à execução dos planos, após seu estabelecimento. Deve ser estabelecida uma estrutura de organização por meio da qual os diversos executivos e subordinados serão coordenados. Devem ser estabelecidos sistemas de normas para executar os projetos especificados nos planos. Devem ser procurados pessoal, materiais, instrumentos, equipamentos e outros recursos necessários à execução dos planos. Dessamaneira, em certo sentido, a organização é a função de assentar a máquina necessária à operação dos planos. A gestão pública se organiza para atender às necessidades da sociedade por intermédio de seus agentes públicos e de sua estrutura organizacional. Cada órgão público tem estrutura e normas organizacionais específicas, mas todos Página 63 de 99 são dispostos ou estruturados por intermédio da lei, sejam eles no âmbito federal, estadual ou municipal. O Estado, que representa a gestão pública como um todo, necessita estar organizado de forma político-administrativa para que possa alcançar os objetivos institucionais dispostos no seu planejamento estratégico, permitindo a execução de atividades para atender às necessidades da sociedade. É na organização político-administrativa que a função administrativa se destaca, pois uma série de ações é necessária para que os agentes possam atender às necessidades da sociedade. Assim, dividir o trabalho, designar as atividades, agrupar as atividades em órgãos e cargos, definir autoridade e responsabilidade são papéis importantes impostos à gestão pública. Nesse contexto, um exemplo do papel fundamental da organização como função administrativa está na execução das políticas públicas, que visam a estabelecer normativos, ações e procedimentos para pôr em prática as necessidades da sociedade. Página 64 de 99 Assim, como as políticas públicas lidam ou procuram resolver os problemas públicos em vários setores da sociedade por intermédio de um conjunto de ações governamentais, fica clara a necessidade da função administrativa de organização, para que as possíveis soluções possam ser realizadas conforme especificado nos planos de curto, médio ou longo prazo. Saiba mais: A organização do Estado brasileiro está expressa na Constituição Federal de 1988, especificamente no Capítulo I (Da organização político- administrativa) do Título III (Da organização do Estado). Clique no link abaixo e consulte-o para saber mais sobre a organização do Estado. Constituição Federal de 1988 (Cap. I e III): http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Como vimos no capítulo 3, a função Organização se refere ao processo de articular, da maneira mais adequada possível, a utilização de todos os ativos tangíveis e intangíveis da organização, em prol do cumprimento do planejamento delineado, seja ele de curto, médio ou longo prazo. Destaca- se que, a forma como esses ativos são articulados e concebidos, considerando por exemplo, pessoas, sistemas de informação, equipamentos, normativas, estruturas, possibilitará ao final a execução das políticas públicas com qualidade. Ou seja, esta função é essencial para a implementação da estratégia organizacional e para a entrega de resultados efetivos para a sociedade. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Página 65 de 99 Para refletir Você já presenciou a elaboração de um processo de planejamento, onde a pouca ou equivocada consideração a alguns dos elementos relacionados à função Organização contribuiu para problemas na implementação do planejamento delineado? E no contexto das instituições da Educação Profissional e Tecnológica, como ocorre o desenvolvimento dessa importante função? Legenda: Pessoas, processos e Tecnologia Fonte: VEYRAT (2015). Página 66 de 99 Além das normativas de amplitude nacional, existem outras de âmbito local onde a Instituição pode explicitar com mais clareza a sua identidade e especificidades. Esses documentos são geralmente caracterizados como referenciais de gestão. Nesta perspectiva, temos inicialmente o Estatuto, em que são expressos: finalidades, características e objetivos da Instituição; a identificação dos campus; a estrutura básica organizacional; os órgãos colegiados, com sua competência e composição; os critérios para provimento de cargo para Reitor e Diretor de campus; as competências das prós-reitorias; entre outros. O Regimento Geral, por sua vez, disciplina a organização, as competências e o funcionamento das instâncias deliberativas, consultivas, administrativas e acadêmicas da Instituição, com o objetivo de complementar e normatizar as disposições estatutárias, bem como estabelecer a dinâmica das atividades acadêmicas e administrativas e das relações entre os órgãos da Instituição. A partir da observação do Estatuto e do Regimento Geral, a Instituição elabora os Regimentos Internos dos Campus, para disciplinar a organização, as competências e o funcionamento das instâncias deliberativas, consultivas, administrativas e acadêmicas do Campus, com o objetivo de complementar e normatizar as disposições estatutárias. Assim, no Regimento Interno do campus são definidos, por exemplo, a estrutura organizacional, os órgãos colegiados e os critérios para provimento de cargos. Dependendo do modelo de gestão utilizado pela Instituição, o Regimento Geral e os Regimentos Internos poderão adotar os princípios de gestão em rede, em que se busca uma articulação maior entre as estruturas e as competências das Unidades organizacionais da Reitoria, com as Unidades organizacionais dos Campus. Página 67 de 99 Na ótica de um trabalho em rede, e de cunho mais participativo, a Instituição poderá lançar mão da formalização de Comitês, Comissões e de Grupos de Trabalho, para o desenvolvimento de programas, projetos e ações específicos. Por exemplo, um Comitê destinado ao gerenciamento do processo de acompanhamento, avaliação e atualização do PDI, bem como do monitorando da implementação da estratégia institucional. Outro exemplo seria o da formalização de uma Comissão para o gerenciamento de um Programa de Qualidade de Vida Institucional. Ainda na perspectiva de documentos que contribuam para o desenvolvimento dos processos de gestão, destaca-se a possibilidade de emissão de normativas internas específicas, tais como: Políticas, Diretrizes, Instruções Normativas, entre outras. E como organizar melhor a execução das atividades nas diferentes áreas de uma Instituição? Nos capítulos 5.2 e 5.3 vamos abordar a Gestão por Competências e a Gestão do Conhecimento, mas aqui vamos destacar também a importância da Gestão por Processos para a melhoria do desempenho organizacional. Em síntese, os diferentes atores da Instituição desenvolvem um conjunto de tarefas e atividades, que podem ser agrupadas em processos específicos, que por sua vez constituem os grandes macroprocessos institucionais. Uma das formas para representar esse conjunto articulado de fazeres, de forma sintética e didática, pode ser o modelo da Cadeia de Valor. Veja a seguir dois exemplos: Cadeia de Valor da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) Cadeia de Valor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/3540/1/Cadeia%20de%20Valor_2018.pdf https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/3540/1/Cadeia%20de%20Valor_2018.pdf https://linkdigital.ifsc.edu.br/files/cadeia_de_valor.png https://linkdigital.ifsc.edu.br/files/cadeia_de_valor.png Página 68 de 99 Lembrando que toda essa "organização" tem por objetivo coordenar os diferentes esforços da Instituição em prol da melhoria do seu desempenho e da geração de valor para a sociedade. E consequentemente, tornar o fazer de cada integrante da Instituição mais significativo. Essa "organização" pode ser otimizada também com o auxílio de sistemas de informação, onde é possível gerenciar com mais fidedignidade e qualidade dados e informações, de modo a gerar conhecimento estratégico, o qual é um dos subsídios principais para a tomada de decisão. No âmbito da Rede EPT temos alguns sistemas de caráter nacional, tais como os de gestão de dados acadêmicos (Sistece Plataforma Nilo Peçanha) e financeiros (SIAFI), bem como sistemas de amplitude local, onde é possível, por exemplo, gerenciar o processo de planejamento. Para a gestão de processos acadêmicos e administrativos, algumas Instituições da rede têm adotado o SIG (Sistema Integrado de Gestão), sistema este desenvolvido pela Universidade do Rio Grande do Norte. A Plataforma Nilo Peçanha é um ambiente virtual de coleta e disseminação dos dados oficiais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Plataforma Nilo Peçanha http://plataformanilopecanha.mec.gov.br/ Página 69 de 99 5.3 Direção A função administrativa de direção permite a execução dos recursos especificados no planejamento e organizados estruturalmente para atender às necessidades da sociedade. É a função que encaminha as ações para que a organização possa atingir seus objetivos. Em face dos recursos necessários para o funcionamento de uma organização, a direção deve exercer um papel estratégico no processo. As pessoas, a tecnologia e as situações são alguns elementos que compõem a organização e devem ser dirigidos para que alcancem efetivamente o planejado. Fonte: Adaptado de Chiavenatto (2012, p. 271). Página 70 de 99 Para Chiavenato (2001, p. 111), a organização “interpreta os objetivos e os planos para alcançá-los e conduz e orienta as pessoas rumo a eles”. Portanto, dar andamentos às ações organizacionais é função da direção. Além de estabelecer os processos de comunicação, a direção lidera e motiva as pessoas para os esforços de um propósito comum. É importante reforçar que a direção se refere às relações interpessoais dos gestores em todos os níveis, visto que não existem organizações sem pessoas. A direção é uma função complexa, pois envolve elementos como comunicação, orientação, assistência à execução, liderança, motivação, entre outros. Esses elementos permitem aos gestores influenciarem os subordinados para que consigam alcançar os objetivos da organização (CHIAVENATO, 2001). Uma das tarefas mais difíceis da direção é fazer com que as pessoas realizem suas atividades dentro do que foi proposto no planejamento e organização, visto que as pessoas são os “recursos” que mobilizam as ações e as atividades. Conforme Chiavenato (2001, p.271), “as pessoas precisam ser aplicadas em seus cargos e funções, treinadas, guiadas e motivadas para alcançarem os resultados que delas se esperam”. No contexto público, é importante destacar que é a direção que dá andamento ao ritmo dos processos “burocráticos”. Por intermédio das ações dos agentes públicos é que se toca a “máquina pública”. A direção está estrategicamente relacionada com a forma pela qual os objetivos são alcançados, por intermédio de atividades que devem ser realizadas pelos gestores em prol da sociedade (MARQUES, 2015). Página 71 de 99 No mesmo tom, o gestor público usa a função de direção para fazer com que os servidores públicos, dentro dos seus cargos e funções, executem os processos e as atividades de forma adequada, para servir o cidadão em suas necessidades. A função de direção, como visto anteriormente, é extremamente árdua, pois congrega as ações para que o planejamento e a organização possam ser executados. No entanto, deve ser controlada. Para isso, a função controle é uma função administrativa de grande importância da gestão, principalmente da gestão pública. Direção Como já vimos, a função Direção tem como objetivo principal executar as ações e projetos que foram planejados e organizados pelo gestor nas funções "planejamento e controle". Na função de Direção, o gestor público deve trabalhar com as questões de motivação, liderança e definições de metas, procedimentos de comunicação e acompanhamento das ações. Essa função deve ser executada por meio de conversas, reuniões e definições formais junto à(s) equipe(s). É importante que o gestor defina e divulgue formas de atuação junto aos seus colaboradores: reuniões periódicas, relatórios periódicos, outros momentos de compartilhamento e de feedbacks. É por meio desta função que o gestor define como serão dadas as ordens (pessoalmente, por e-mail ou outras formas), delegadas as realizações de algumas ações sob sua responsabilidade e, principalmente, como vai supervisionar e motivar a execução das ações e projetos sob sua responsabilidade. É importante que o gestor conheça e identifique as formas possíveis de tratar e motivar, cobrar e acompanhar cada um dos membros de sua equipe. Página 72 de 99 Nos Institutos Federais, por exemplo, exercem as funções de Direção - desde o nível estratégico até o operacional - o Reitor, os Pró-reitores, os Diretores, Chefes de Departamento, Gerentes e Coordenadores dentre outros (cada instituto varia a nominação de seus cargos de direção - CD - e funções gratificadas - FG) e estas estão dispostas nos Regimentos Gerais e dos Campus definindo suas atribuições e vinculações. Veja a seguir um exemplo que é o organograma da Pró-reitoria de Ensino do IFSC - ele apresenta quais são as unidades organizacionais e sua vinculação e cadeia hierárquica: Página 73 de 99 Fonte: IFSC Página 74 de 99 Na função Direção também está o processo de tomada de decisão que exige análise, reflexão e posicionamento do gestor em relação aos assuntos de sua competência ou àqueles que lhes são trazidos por sua equipe. No caso da gestão participativa deverá o gestor consultar e ouvir as opiniões de seus colaboradores, especialmente a área técnica envolvida e entender, também as instâncias de decisão tais como órgãos colegiados consultivos e deliberativos existentes em sua Instituição. Saiba mais: Caso tenha interesse em conhecer e entender um pouco mais sobre liderança e processo nos Institutos Federais, indicamos os artigos abaixo para leitura (estes links somente abrirão se você estiver no AVEA): Liderança participativa Processo decisório em um campus https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/12598/3/artigo%20lideran%C3%A7a.pdf https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/114698/2013167%20-%20O%20processo%20decis%c3%b3rio%20em%20um%20campus%20de%20uma%20institui%c3%a7%c3%a3o.pdf?sequence=1&isAllowed=y Página 75 de 99 5.4 Controle Os processos oriundos das outras funções administrativas necessitam ser monitorados para avaliar as atividades e se seus objetivos e resultados foram alcançados. Essa é a importância do controle como a quarta função administrativa. Para Chiavenato (2004), existem três conceitos para o controle, sendo eles, no contexto restritivo e coercitivo, como sistema automático de regulação e função administrativa. Para o autor, o controle como função administrativa monitora e avalia as atividades e resultados alcançados para assegurar que o planejamento, organização e direção sejam bem-sucedidos. Para que possa ser exercido efetivamente, a função do controle está em todos os níveis organizacionais, conforme apresenta Chiavenato (2004) a seguir: Página 76 de 99 Nível organizacional Tipo de controle Conteúdo Tempo Amplitude Institucional Estratégico Genérico e sintético Direcionado a longo prazo Macro- orientado. Aborda a organização como um todo Intermediário Tático Menos genérico e mais detalhado Direcionado a médio prazo Aborda cada unidade organizacional em separado Operacional Operacional Detalhado e analítico Direcionado a curto prazo Micro- orientado. Aborda cada operação em separado Fonte: Chiavenato (2004, p.513). O controle é cíclico e repetitivo, ou seja, sistêmico, portanto, necessário para mensurar a execução das transações realizadas e garantir a retroalimentação e eventual correção dos rumos das ações em
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