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Direito das Famílias - Noções Gerais

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DIREITO DAS FAMÍLIAS
1 NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
	O direito de família é de todos os ramos do direito, o mais intimamente ligado à própria vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provêm de um organismo familiar e a ele conservam-se vinculadas durante a sua existência, mesmo que venham a constituir nova família pelo casamento ou pela união estável.
	O direito de família estuda, em síntese, as relações das pessoas unidas pelo matrimônio, bem como daqueles que convivem em uniões sem casamento; dos filhos e das relações destes com os pais, da sua proteção por meio da tutela e da proteção dos incapazes por meio da curatela.
	Segundo Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias, na seara jurídica encontram-se três acepções fundamentais do vocábulo família: a) a amplíssima; b) a ampla e c) a restrita.
a) No sentido AMPLÍSSIMO o termo abrange todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo de consanguinidade ou de afinidade, chegando a incluir estranhos, como no caso do artigo 1412 supramencionado.
b) Na acepção AMPLA, além do cônjuge ou companheiros, e de seus filhos, abrange os parentes da linha reta ou colateral, bem como os afins, como concebe o artigo 1595 do CC.
c) Na significação RESTRITA é a família o conjunto de pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente os cônjuges e a prole, e entidade familiar a comunidade dos pais, que vivem em união estável, ou por qualquer dos pais e descendentes, como prescreve o artigo 226, parágrafos 3º e 4º da CF, independentemente de existir o vínculo conjugal que a originou. 
1.1 DIFERENTES EFEITOS DO TERMO FAMÍLIA
	Pelo critério sucessório a família abrange os indivíduos chamados por lei a herdar uns dos outros. Compreende todos os parentes da linha reta ad infinitum, os cônjuges, os companheiros e os colaterais até o 4º grau (artigo 1829). 
	Para efeitos alimentares consideram-se família os ascendentes, os descendentes e os irmãos (artigos 1694 e 1697).
	Pelo critério da autoridade a família restringe-se a pais e filhos menores, pois nela se manifestam o poder familiar, ou seja, as autoridades paterna e materna, que se fazem sentir na criação e educação dos filhos (artigos 1630 a 1631).
2 PARADIGMAS DAS FAMÍLIAS
OBS.: Família – é um grupo social básico e elementar. É o lugar onde o ser humano nasce e desenvolve sua personalidade.
IMPORTANTE: A concepção de família não é biológica e sim cultural.
2.1 FAMÍLIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 (CC/16)
a. Matrimonializada – toda família era constituída pelo casamento;
b. Patriarcal – o homem era o chefe da família;
c. Hierarquizada – estrutura hierárquica: Pai, mãe e filhos.
d. Necessariamente heteroparental: casamentos + diversidade de sexo;
e. Biológica: ex. – o filho adotivo não tinha direito à herança. A morte do pai adotivo dissolvia a adoção;
f. A família era institucional/indissolúvel.
2.2 FAMÍLIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 (CF/88) E DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 (CC/02)
a. Plural (artigo 226 e 227 da CF). 
OBS.: Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem as Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. 
	O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta para “desigualação” jurídica, observou o ministro, para concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF.
CURIOSIDADE: O Supremo Tribunal Federal – STF começou a discutir se duas pessoas que tinham relacionamento estável simultâneo com um mesmo homem, já falecido, devem dividir a pensão por morte paga pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O julgamento do Recurso Extraordinário 1045.273/SE foi interrompido por um pedido de vista do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, quando o placar estava em 5 a 3 votos a favor da divisão da pensão. Não há prazo definido para que o caso volte à discussão em plenário.
	O caso concreto diz respeito a um homem que, ao menos por doze anos, manteve dois relacionamentos estáveis ao mesmo tempo: um com uma mulher e outro com um homem. Após a morte dele, a mulher obteve o reconhecimento da união estável e passou a receber a pensão por morte. O segundo companheiro passou então a pleitear na Justiça a divisão do benefício, alegando que também tinha união estável paralela com o falecido. O caso tem caráter de repercussão geral e seu desfecho servirá de parâmetro para todos os outros processos do tipo.
a) Democrática;
b) Igualitária (igualdade substancial);
c) Hétero ou homoparental;
d) Biológica ou socioafetiva;
e) A família é instrumental – é o núcleo privilegiado para o desenvolvimento da personalidade humana.
	Os novos valores que inspiram a sociedade contemporânea sobrepujam e rompem, definitivamente, com a concepção tradicional de família. A arquitetura da sociedade moderna impõe um modelo familiar plural, descentralizado, democrático, igualitário, hétero ou homoafetiva, biológica ou socioafetiva e desmatrimonializada.
	Funda-se, portanto, a família pós-moderna, em sua feição jurídica e sociológica, no afeto, na ética, na solidariedade recíproca entre seus membros e na preservação da dignidade deles. Estes os referenciais da família contemporânea.
	Como conclusão lógica e inarredável, à família cumpre modernamente um papel funcionalizado, devendo, efetivamente, servir como ambiente propício para a promoção da dignidade e a realização da personalidade de seus membros, integrando sentimentos, esperanças e valores, servindo como alicerce fundamental para o alcance da felicidade. É a CONCEPÇÃO EUDEMONISTA DA FAMÍLIA, ou seja, concepção atual de família (plural, diversa, ...), onde busca-se à felicidade e do bel-prazer.
3 ELEMENTOS CONTEMPORÂNEOS/CARACTERIZADORES DA FAMÍLIA
a. Afeto;
b. Ética;
c. Dignidade;
d. Solidariedade.
4 CARÁTER INSTRUMENTAL E O DIREITO DE FAMÍLIA MÍNIMO OU INTERVENÇÃO MÍNIMA DO DIREITO DAS FAMÍLIAS
	São grandes as mudanças que a sociedade vem enfrentando, principalmente no que diz respeito ao conceito de família. Atualmente, o afeto é o principal pilar dessa relação, responsável pelas diferentes formas de família existentes.
	Diante das mudanças observadas, cabe ao Direito, como regulador das relações sociais, normatizar tais comportamentos.
	Não obstante, vem sendo entendido pela doutrina recente que tal normatização estatal deve se limitar ao fornecimento de meios adequados para que a família se desenvolva por si só, fundada em suas crenças e ideologias próprias, sob pena de se invadir a esfera da autonomia privada.
	Assim nasce o Princípio da Mínima Intervenção Estatal do Direito de Família, que apesar de não estar expressamente positivado, pode ser inferido principalmente pelo artigo 1.513 do CC em vigor, que aduz ser defeso a qualquer pessoa de direito público ou privado interferir na comunhão de vida instituída pela família.
	Referido princípio defende que, apesar de ser dever do estado intervir no âmbito das relações familiares para garantir a proteção dos indivíduos, em especial de crianças e adolescentes, tal intervenção deve ocorrer de forma moderada, apenas para garantir a vontade dos membros da família sem intervir no âmbito da autonomia privada, ou seja, o estado deve funcionar como garantidor da realização pessoal de seus membros.
	Trata-se, portanto, de mecanismo que visa garantir o direito de autodeterminação e auto-organização da célula familiar, baseado na concepção de que o ser humano, dotado de razão e moral possui discernimento suficiente para estabelecer o melhor para si, desde que tais decisões não invadam a seara do direito alheio.
	
	Exemplos da aplicação da intervenção mínima no ordenamento jurídico brasileiro: 
a. Possibilidade de alteração de regime de bens no casamento;b. Emenda Constitucional 66 de 2010 – facilitação da dissolução do casamento;
c. Divórcio, separação e inventário extrajudiciais.
OBS.: Intervenção Excessiva – Artigo 1641, II do CC (Separação Obrigatória das pessoas com mais de setenta anos).
IMPORTANTE: A intervenção estatal só deve ocorrer para assegurar os direitos e garantias fundamentais (Exemplo: Lei Maria da Penha; Obrigação alimentar ao filho menor).
5 DA INCIDÊNCIA DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA
	Os direitos fundamentais são aplicados ao direito das famílias. As relações privadas devem ser norteadas pelos direitos e garantias fundamentais.
	Exemplos: Súmula 364 do STJ (proteção do bem de família da pessoa solteira/proteção da moradia como direito fundamental).
	Exemplos: Proibição do Enriquecimento sem causa: Separação de fato põe fim ao regime de bens e ao direito sucessório (decisão do STJ).
6 ESTRUTURA E OBJETO DO DIREITO DE FAMÍLIA
6.1 ESTRUTURA DO DIREITO DE FAMÍLIA
	A partir de um conteúdo, visivelmente, facilitado, o Direito de Família organiza-se, em sua estrutura interna, em:
a. direito matrimonial de família (dizendo respeito ao matrimônio e seu regramento efetivo);
b. direito convivencional de família (abrangendo a disciplina jurídica da união estável e das demais entidades não casamentária);
c. direito parental de família (regulamentando as relações decorrentes do parentesco e da filiação, oriunda das mais diversas origens);
d. direito assistencial de família (cuidando das relações de assistência entre os componentes de uma mesma família, como no caso da obrigação alimentar).
6.2 OBJETO DO DIREITO DE FAMÍLIA
	O objeto do Direito de Família, como não poderia ser diferente, é a própria família.
7 NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE FAMÍLIA
	Apesar de inserido topologicamente na engrenagem do Direito Civil, o Direito de Família sofre interseções e limitações de ordem pública, propiciadas pela natureza indisponível e personalíssima de suas normas jurídicas. Como consequência, apresenta-se a norma de direito de família como irrenunciável, intransmissível, inusucapível (imprescritível), inalienável, não decaindo, nem prescrevendo e não admitindo termo ou condição. 
	Em síntese apertada: apesar de encartada, topologicamente, na seara do direito privado, a norma jurídica de Direito de Família é, basicamente, cogente, de ordem pública – apenas as normas que regulamentam interesses patrimoniais de família não se submetem a este caráter cogente, prevalecendo nelas o caráter disponível. (Mútua assistência, dever de fidelidade, etc – inalteráveis, pois são normas de Ordem Pública).
8 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA
	Rege-se o novo Direito de Família pelos seguintes princípios:
· Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros
	No que atina aos seus direitos e deveres, que revolucionou o governo da família organizada sobre a base patriarcal. Com esse princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é substituída por um sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo entre conviventes ou entre marido e mulher, pois os tempos atuais requerem que a mulher e o marido tenham os mesmos direitos e deveres referentes à sociedade conjugal. Há uma equivalência de papéis, de modo que a responsabilidade pela família passa a ser dividida igualmente entre o casal.
	A CF/88, no artigo 226, parágrafo 5º, estabeleceu a igualdade no exercício dos direitos e deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal, que deverá servir de parâmetro à legislação ordinária, que não poderá ser antinômica a esse princípio. Os cônjuges devem exercer conjuntamente os direitos e deveres relativos à sociedade conjugal, não podendo um cercear o exercício do direito do outro.
	De acordo com Maria Helena Diniz essa foi a principal inovação do novo CC, pois, instituiu a completa paridade material entre os cônjuges ou companheiros tanto nas relações pessoais como nas patrimoniais.
· Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos
	Consubstanciado no artigo 227, parágrafo 6º da CF, que assim dispõe:
	“Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
	O dispositivo em apreço estabelece absoluta igualdade entre todos os filhos, não admitindo mais a retrógrada distinção entre filiação legítima ou ilegítima, segundo os pais fossem casados ou não e adotiva, que existia no CC de 1916. Hoje, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constância, mas com igualdade de direitos e qualificações.
· Princípio do pluralismo familiar
	Modificando de forma revolucionária a compreensão do direito de família, o texto constitucional, artigo 226, alargou o conceito de família, permitindo o reconhecimento de entidades familiares não casamentarias, com a mesma proteção jurídica dedicada ao casamento.
	Marco Túlio de Carvalho Rocha (2009, p. 35) descreve que “a jurisprudência tem consagrado o entendimento de que os tipos familiares mencionados no art. 226 da Constituição da República constituem um rol aberto”. Isso porque, a família como meio social abraçado pelos laços de afeto, organizado por regras de culturalmente elaboradas e positivadas pela sociedade, formam modelos de comportamento que são constantemente modificados.
	No mesmo sentido, Paulo Roberto Iotti Vecchiatti (2011, p. 147) ensina que “Assim, tem-se a consagração implícita do princípio da pluralidade das entidades familiares pelo caput do art. 226 da CF/1988, o que significa que o rol de famílias exposto nos seus parágrafos é meramente exemplificativo e não taxativo – donde o não reconhecimento de status jurídico-familiar das uniões homoafetivas é inconstitucional por afronta ao caput do art. 226 da CF/1988, na medida em que a união homoafetiva preenche os requisitos matérias de formação familiar (afetividade, estabilidade e convivência pública, contínua e duradoura, [...], ou seja, o amor que vise a comunhão plena de vida e interesses, de forma pública, contínua e duradoura), razão pela qual a união homoafetiva é uma família constitucionalmente protegida e não pode, portanto, deixar de ser reconhecida pelo Poder Judiciário e, portanto, pelo STF”.
IMPORTANTE: Diferença entre concubinato e união estável;
IMPORTANTE: Famílias ensambladas/recompostas e seus efeitos jurídicos.
· Princípio da liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar 
	Seja pelo casamento, seja pela união estável, sem qualquer imposição ou restrição de pessoa jurídica de direito público ou privado, como dispõe o artigo 1513 do CC. Tal princípio abrange também a livre decisão do casal no planejamento familiar (artigo 1565); a liberdade em optar pelo melhor regime de bens. 
· Princípio do Planejamento Familiar e Paternidade Responsável
	Artigo 226, parágrafo 7º da CF:
	§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
	O propósito do planejamento familiar é, sem dúvida, evitar a formação de núcleos familiares sem condições de sustento e de manutenção.
	
· Princípio da Solidariedade familiar
	A solidariedade é o ato humanitário de responder pelo outro, de preocupar-se e de cuidar de outra pessoa.
Exemplos: 1) Possibilidade de alimentos mesmo após o divórcio; 2) Alimentos após o término do poder familiar.
· Princípio da Não Intervenção ou liberdade
Afeto significa sentimento de afeição ou inclinação para alguém, amizade, paixão ou simpatia, portanto é o elemento essencial para a constituição de uma família nos tempos modernos, pois somente com laços de afeto consegue-se manter a estabilidade de uma família que é independente e igualitária com as pessoas, uma vez que não há mais a necessidade de dependência econômica de uma só pessoa.
Nestesentido, Rodrigo da Cunha Pereira (2011, p. 193) descreve que “A família hoje não tem mais seus alicerces na dependência econômica, mas muito mais na cumplicidade e na solidariedade mútua e no afeto existente entre seus membros. O ambiente familiar tornou-se um centro de realização pessoal, tendo a família essa função em detrimento dos antigos papéis econômico, político, religioso e procriacional anteriormente desempenhados pela instituição.”
	A separação coloca fim aos deveres conjugais, regime de bens e direito sucessórios, porém não é suficiente para colocar fim ao vínculo conjugal. Por outro lado, o divórcio finda tudo.
	A separação de fato tem efeito ex nunc. Durante a separação de fato pode-se viver em união estável.
	O STJ menciona que é enriquecimento ilícito, se o cônjuge tivesse direito após a separação de fato. 
	Utiliza-se qualquer prova lícita, inclusive a prova testemunhal. Salienta-se que não existe mais prazo para configurar à separação de tempo.

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